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Tema 2: Educação Para os Direitos Humanos
Descrição
Estudo das perspectivas da Educação para os Direitos Humanos no Brasil e no mundo.
Propósito
Conhecer a fundamentação legal, os conceitos e os desafios da Educação para os Direitos Humanos para uma visão e atuação democrática e inclusiva nos contextos educacional e social.
Objetivos
Módulo 1
Relacionar a Educação com o direito à dignidade e à cidadania
Módulo 2
Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação
Módulo 3
Reconhecer a relevância da Educação para os Direitos Humanos
INTRODUÇÃO
A relação entre a Educação e os Direitos Humanos é complexa e multifacetada. Por essa razão, existem muitos modos de abordar o tema e buscar compreender sua importância na atualidade.
Agora, você terá oportunidade de estudar a Educação para os Direitos Humanos a partir da estreita relação entre o direito à Educação e o direito à cidadania e dignidade. Poderá compreender que o direito à Educação é universal e, por isso mesmo, pode ser entendido como direito humano.
Você também irá conhecer os vários princípios e desafios implicados no ato de educar para os Direitos Humanos, além de refletir sobre a necessidade de experiências educativas voltadas à cidadania, democracia e paz social, nos diferentes níveis de Educação.
Tudo isso com o fim de promover uma sociedade mais justa e democrática, na qual os Direitos Humanos possam ser efetivos para todos, superando a mera intencionalidade de promovê-los no futuro.
MÓDULO 1
Relacionar a Educação com o direito à dignidade e cidadania
Direito à educação em dispositivos legais e documentos
Pensar no direito humano à Educação, atualmente, também é considerar a Educação como direito humano. Isso significa transcender o campo individual do direito constitucional à Educação e adentrar o campo da percepção de que a dignidade humana depende do acesso à Educação básica, necessária para o exercício da cidadania plena.
Na Constituição Federal de 1988 (CF), lê-se, no artigo 6º, que a Educação é um direito social, juntamente com a saúde e segurança, entre outros direitos. Elencar a Educação como direito social insere a formação educacional no rol das obrigações de fazer do Estado. Trata-se de prestações positivas no sentido de oportunizar aos cidadãos, sejam eles quais forem, garantias de direitos cujo objetivo é promover a redução das desigualdades sociais.
A CF reforçou a ideia de cidadão como sujeitos sociais ativos que contribuem para o desenvolvimento de um estado democrático social de direito.
Nesse contexto, o tema dos Direitos Humanos como condição para o exercício da cidadania ganha importância na sociedade brasileira.
Outro documento que marca a importância do tema é o Plano Nacional de Educação (PNE), no qual a Educação se impõe como condição fundamental para o desenvolvimento nacional. O PNE propõe o crescimento cultural da sociedade por meio da Educação, com o objetivo de reduzir os desequilíbrios regionais que hoje existem no País.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), em seu artigo 1º, estabelece a abrangência da Educação. Na mesma LDB, o capítulo 4 reconhece a importância da Educação para criação e difusão da cultura, como forma de desenvolvimento do pensamento reflexivo, além de fazer com que os sujeitos sociais se percebam como cidadãos com um papel a cumprir no seio da sociedade.
Educação, cidadania e dignidade
Vamos, agora falar de cidadania e da dignidade na sua relação com a Educação.
A Constituição Federal de 1988 traz, como princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, em seu artigo 1º inciso II e III, a dignidade da pessoa humana e a cidadania, entre outros. São dois fundamentos de grande importância na formação da sociedade.
Princípio da cidadania
Pelo princípio da cidadania, "toda pessoa tem direito à Educação”. É certo que muitas crianças e jovens não têm ou não tiveram acesso à escola. Por isso, tornam-se essenciais a criação e a manutenção de políticas públicas que se preocupem com a efetivação da “Educação para todos”.
A Educação, sendo um direito inalienável de todo cidadão, é dever do Estado. Nesse sentido, o Estado deve garantir o acesso à Educação e a permanência de todas as pessoas, independentemente de raça, cor, sexo, nacionalidade.
A incorporação dos Direitos Humanos na Educação se torna primordial para a formação dos sujeitos sociais como partícipes de uma sociedade na qual seus direitos estejam assegurados. Desse modo, ao contrário do que afirmam alguns críticos, os Direitos Humanos são para todos, e não devem ser privilégios de parcelas da sociedade.
Pode-se, portanto, afirmar que a indissociabilidade entre a Educação e os Direitos Humanos também inclui a cidadania ativa.
Educação e cidadania
Como direito constitucional fundamental, a Educação é direito do cidadão, além de ser elemento constitutivo do acesso à condição de cidadão pleno – aquele que conhece e exerce seus direitos, reconhecendo, também, os direitos dos demais cidadãos. Nesse sentido, os Direitos Humanos são considerados pilares para organização do próprio Estado.
O Estado Democrático de Direito tem como alguns de seus fundamentos:
Cidadania
Dignidade da pessoa humana
A consolidação da cidadania eleva a condição daquele que vive em sociedade e, ao mesmo tempo, promove a dignidade da pessoa humana. É fundamental que todo cidadão reconheça os seus direitos, visto que este reconhecimento é o que permite a atuação cidadã em busca de melhorias na qualidade de vida.
A cidadania é, pois, um processo em construção, e tem como elemento propulsor a Educação.
Dignidade, cidadania e democracia
A dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania se refere ao social, ao direito de todos.
De qualquer maneira, dignidade e cidadania estão interligadas de tal modo que o indivíduo, ao exercer a cidadania, participa não só da sociedade civil, mas também das atividades do Estado, buscando a melhoria na qualidade de vida individual e coletiva.
Os sujeitos sociais exercem a cidadania ao participarem ativamente na gestão da sociedade e nas necessárias transformações que esta sofre, exercendo seus direitos civis, políticos e sociais.
A democracia é inerente ao exercício da cidadania no que se refere à atuação do ser humano na sociedade na qual está inserido. Do mesmo modo, o exercício da cidadania é fundamental para a dinâmica do Estado.
Ao exercer a cidadania, o cidadão reconhece e exercita seus direitos, em uma luta constante pela sua efetivação em prol de melhorias em seu ambiente social e de seus semelhantes, e principalmente, pela concretização da democracia.
Educação como condição da dignidade humana
Os Direitos Humanos e o exercício da cidadania são pilares para organização do próprio Estado e da sociedade.
É objetivo da Educação formar a pessoa para a cidadania, pelo conhecimento, pela possibilidade de opções ou alternativas de intervenção na sociedade, pela plenitude dos direitos. Consequentemente, também é objetivo da Educação formar para a dignidade da pessoa – princípio fundamental do Estado brasileiro, conforme estabelece o art. 1º da CF.
Uma combinação entre o inciso III do artigo 1º da Constituição Federal e já citado artigo 6º permite afirmar que, para que a pessoa humana possa ter dignidade (CF, art. 1º, III), é necessário assegurar os direitos sociais previstos no art. 6º da mesma Constituição:
· Educação
· Saúde
· Trabalho
· Lazer
· Segurança
· Previdência social
· Proteção à maternidade e infância
· Assistência aos desamparados
O Estado Democrático de Direito tem o princípio da dignidade da pessoa humana como basilar. Também é possível afirmar que a Educação está intimamente ligada ao princípio da dignidade humana. De qualquer forma, a dignidade da pessoa humana, em si, não é um direito fundamental, mas um atributo próprio a todo ser humano.
O direito à Educação, portanto, como direito fundamental do homem, deve ser analisado em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana.
Para muitos juristas e educadores, osdireitos à vida e à Educação, entre outros, aparecem como consequência imediata da dignidade da pessoa humana e, como tal, tornam-se um fundamento da República Federativa do Brasil.
Sentidos da dignidade humana
A concepção e o sentido atual de dignidade humana são determinados pelo contexto pós-guerra, diante da reação ao totalitarismo e seus horrores, por meio de acordos e documentos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ao pontificar que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948), a Declaração nos oferece o conceito de dignidade humana a partir do contexto político e jurídico internacional.
Há duas perspectivas de dignidade mais frequentes nos estudos sobre o tema:
· A perspectiva relacionada à ideia de dignitas romana de posição e função hierárquica;
· A perspectiva relacionada à ideia de igualdade.
As duas perspectivas formam os eixos históricos e filosóficos relacionados à concepção de dignidade humana.
Atualmente, o predomínio do eixo filosófico é perceptível, assumindo-se a centralidade da pessoa humana e sua liberdade como princípios que contribuíram para delimitar e sustentar o sentido contemporâneo de dignidade humana:
O indivíduo tem dignidade, pois possui valor em si mesmo, não tem preço e não se configura como meio à vontade externa/de outros. Essa é a característica peculiar da natureza humana.
(DANTAS, 2018, p. 56).
No artigo 101 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, podemos identificar uma defesa da dignidade humana que assume, atualmente, também um estatuto jurídico por desempenhar papel relevante na proteção dos Direitos Humanos, sobretudo em relação a questões complexas.
Três abordagens jurídicas sobre o conceito de dignidade
No campo jurídico, muitos autores também têm se debruçado sobre o tema da dignidade da pessoa humana. Vejamos, pelo menos, três abordagens sobre o conceito de dignidade:
Clique nas barras para ver as informações.
Dignidade e conceito de pessoa humana
Para Sarmento (2016), dignidade é um princípio que está relacionado com a concepção de pessoa humana, a qual subjaz a Constituição Federal e a moralidade crítica.
A pessoa humana é concebida como possuidora de valor em si mesma, não constituindo mero instrumento a serviço do Estado ou de terceiros. Desse modo, a dignidade da pessoa humana representa o princípio que alimenta e está presente no conteúdo de todos os direitos fundamentais afirmados na Constituição, mesmo que em intensidades diferentes.
Dignidade e direitos
A partir da perspectiva legal, Barcellos (2002) conclui que o princípio da dignidade humana na Constituição brasileira, como consequência de seu valor fundamental, tem como conteúdos os direitos individuais e políticos, bem como os direitos sociais e culturais e econômicos.
A materialidade deste princípio, em relação às condições básicas de existência, ocorre por meio dos direitos sociais definidos no artigo 6º da CF.
Dignidade e as dimensões ontológica e social
Ainda no campo do direito, Sarlet (2007) defende que a dignidade da pessoa humana é caracterizada pela dimensão ontológica e intersubjetiva. O autor compreende que a perspectiva ontológica se assenta no valor intrínseco do indivíduo – como em Sarmento – e é a condição que qualifica cada pessoa como tal.
A dignidade humana, portanto, deve ser sempre respeitada como valor inerente ao indivíduo. Embora possa ser violada, não pode ser suprimida.
Sarlet (2007) ainda defende que a dignidade humana também possui dimensão social, uma vez que os indivíduos, como iguais em dignidade, estão submetidos ao contexto da vida em sociedade e das relações sociais, configurando uma dimensão intersubjetiva.
Limitações no avanço do direito à educação
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra que "toda pessoa tem direito à Educação". Infelizmente, porém, a realidade é ainda bem cruel.
É inegável que, em muitos lugares, o crescimento econômico permitiu financiar a expansão da Educação. No entanto, esse desenvolvimento não é uniforme nem equilibrado. De qualquer forma, muitas conquistas vêm sendo possíveis.
Surgem, a todo momento, muitas e valiosas realizações científicas e culturais que contribuem para melhor qualidade de vida – uma das metas da Educação como direito.
Os avanços, no entanto, não são considerados suficientes, e muitas questões sobre Educação permanecem inconclusas.
Declaração mundial sobre educação para todos
Em 1990, foi realizada a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia. O tema estava relacionado ao fato de que a Educação para todos precisava ser: “um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro” (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990, p. 2).
Apesar de, historicamente, sabermos que a Educação é uma condição necessária para o progresso pessoal e social conquistados até hoje, também sabemos que não é suficiente.
A Educação é um instrumento universalmente válido para criar oportunidades de conquista de uma vida e um mundo melhores, em todos os sentidos: “mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional” (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990).
Embora acreditar nisso seja razoável e essa seja a perspectiva de compreensão mais avançada do direito à Educação, é preciso considerar os problemas enfrentados pela realidade educacional. As condições para esse sucesso não vêm sendo criadas. Ao contrário, são criados problemas e dificuldades para muitos, cujos direitos são desrespeitados e desconsiderados, no processo educacional.
No contexto da busca pela Educação Para Todos, há duas fortes razões para que Educação e escolaridade não sejam igualadas. Em primeiro lugar, muitas escolas ao redor do mundo não conseguem oferecer uma experiência que possa ser chamada efetivamente de Educação [...]. Além de poder não ter quase nenhum significado, a escola pode ser positivamente prejudicial.
(MCCOWAN, 2011, p. 12)
Necessidades básicas de aprendizagem
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos apresenta o objetivo de satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem de todos. Para tanto, propõe, no primeiro artigo, que cada indivíduo – criança, jovem ou adulto –, deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.
Segundo a Declaração, as necessidades básicas de aprendizagem incluem:
Os instrumentos essenciais para a aprendizagem – leitura e escrita, oralidade, cálculo, solução de problemas, por exemplo.
Os conteúdos básicos da aprendizagem – conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, por exemplo.
Os instrumentos essenciais e os conteúdos básicos, por sua vez, são necessários para:
· A sobrevivência dos seres humanos;
· O desenvolvimento pleno de suas potencialidades;
· A vida e o trabalho dignos;
· A participação plena no desenvolvimento;
· A qualidade de vida, a tomada de decisões fundamentadas;
· A aprendizagem continuada (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990).
Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a satisfação dessas necessidades deve conferir, aos membros da sociedade, a possibilidade e a responsabilidade de:
· Promover a Educação de outros.
· Defender a causa da justiça social.
· Proteger o meio ambiente.
· Ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus.
· Assegurar respeito aos valores humanistas e aos Direitos Humanos comumente aceitos.
· Trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo interdependente.
Educação básica
A Declaração segue enunciando os princípios dessa Educação para Todos e defende a Educação básica, que deve ser proporcionada a todos, independentemente da idade e sem qualquer discriminação.
É necessário, para tanto, universalizar a Educação básica e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. A Educação básicase torna fundamento para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes.
Para que a Educação básica se torne universal e igualitária, é necessário oferecer a todos a oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade da aprendizagem, superando obstáculos de qualquer natureza para tal objetivo.
Deve haver a inclusão e a garantia da qualidade da formação das minorias, dos grupos excluídos, dos discriminados e daqueles que possuem alguma necessidade educacional especial.
O processo de Educação não ocorre em situação de isolamento. Ele se dá em um contexto social, político, ambiental. Dessa forma, os cuidados básicos, como aqueles relacionados com a nutrição e a saúde integral, são essenciais.
Responsabilidade coletiva e dificuldades
As necessidades básicas de aprendizagem precisam ser contempladas integralmente valendo-se da integração de ações no âmbito de cada país e, até mesmo, por meio da cooperação entre diferentes países. Nesse sentido, a Declaração defende que o atendimento às necessidades básicas de aprendizagem de todas as pessoas é responsabilidade de todas as nações e povos.
Apesar de todas as intenções e propostas da Declaração, o que se vem assistindo no mundo nas últimas décadas é o aprofundamento de desigualdades, a fragilização da Educação básica pública, mesmo em países ricos, e a crescente cassação dos direitos educacionais das populações subalternizadas – exatamente aquelas que mais precisariam de que a proposta funcionasse.
Do ponto de vista dos direitos de todos à Educação, o mundo caminha, hoje, de modo fortemente desfavorável, e algumas mudanças de rumo vêm se tornando cada vez mais urgentes.
Educação, cidadania e dignidade
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosa aborda a relação entre o direito à Educação, o valor da dignidade humana e o direito pleno ao exercício da cidadania.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. Assinale a alternativa, a seguir, que relaciona corretamente a dignidade da pessoa humana com a cidadania:
a) A dignidade da pessoa humana e a cidadania são igualmente direitos civis sem relação com a Educação.
b) Embora interligadas, a dignidade da pessoa humana se vincula ao direito do indivíduo, e a cidadania se relaciona ao direito de todos, ao social.
c) A cidadania se vincula aos sujeitos sociais no exercício de seus direitos, enquanto a dignidade é um direito coletivo, social.
d) O direito à dignidade da pessoa humana depende de como a cidadania é exercida pelas pessoas.
e) A busca da qualidade de vida individual e coletiva está relacionada apenas com a dignidade, e não com a cidadania.
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A dignidade da pessoa humana e a cidadania são fundamentais na formação da sociedade. A dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania se liga ao social, ao direito de todos. Cidadania e dignidade estão interligadas, assim, o exercício da cidadania pelo indivíduo permite que ele participe tanto da sociedade civil quanto das atividades do Estado, em prol de mais qualidade de vida individual e coletiva. Os sujeitos sociais exercitam sua cidadania ao se envolverem na gestão da sociedade e nas transformações pelas quais ela passa. Assim, esses sujeitos exercem seus direitos civis, políticos e sociais.
2. Considere as afirmativas a seguir:
I-A formação para a cidadania é objetivo da educação, assim
como formar para a dignidade da pessoa.
II- A dignidade da pessoa humana deve ser assegurada pelos
direitos sociais, entre eles a educação, estabelecidos
constitucionalmente.
III- Embora a educação seja uma forma de se exercer
cidadania e obter dignidade, a educação não se constitui em
um direito.
Assinale a alternativa correta.
A) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
B) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
C) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
D) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
E) As afirmativas I, II e III são verdadeiras. A dignidade da pessoa .
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A Educação deve ter o objetivo e o compromisso com a formação para a cidadania e para a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, a Educação é tanto um direito assegurado constitucionalmente quanto um meio de também assegurar o direito à cidadania e à dignidade humana. Além disso, em uma inter-relação, o direito à Educação, entre outros direitos, deve ser visto como consequência ou implicação do direito à dignidade da pessoa humana.
Módulo 2
Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação.
Princípios e dimensões dos direitos humanos
Bandeira da ONU.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Organização das Nações das Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948, no contexto do pós-guerra.
O documento reafirma a crença nos direitos do homem, na dignidade e nos valores humanos das pessoas. Sua aprovação e divulgação também foram uma convocação de todos os estados-membros a promoverem o respeito universal, bem como a observância dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
O conceito de Direitos Humanos está ligado à ideia de liberdade de expressão e igualdade perante a lei.
Três princípios dos Direitos Humanos
À luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pode-se dizer que os Direitos Humanos contemporâneos se fundamentam em três princípios:
· Princípio da inviolabilidade da pessoa:
Não se pode impor sacrifícios a um indivíduo sempre que tais sacrifícios resultem em benefício de outra pessoa. A intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis, conforme o inciso X do artigo 5º da CF. O caput deste mesmo artigo estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem qualquer tipo de distinção.
Inciso X do artigo 5º da CF
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
· 
· 
· 
· 
· Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
· Princípio da autonomia da pessoa:
Toda pessoa é livre para a realização de qualquer conduta, desde que seus atos não prejudiquem terceiros. De acordo com o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a liberdade e a igualdade em dignidade e direitos existem desde o nascimento.
· Princípio da dignidade da pessoa
Fonte dos demais direitos e arrolada como princípio fundamental na CF. A dignidade da pessoa humana é um princípio que se caracteriza pela definição de um valor inerente à pessoa, à sua condição de ser humano.
Os direitos têm uma dinamicidade, já que não nascem prontos nem ficam congelados em sua primeira formulação, uma vez que outras necessidades e situações emergem com o tempo. Desse modo, os direitos costumam ser organizados em gerações ou dimensões.
Atualmente, a maior parte dos estudiosos dá preferência ao termo dimensões, em virtude de sua amplitude. As diferentes dimensões se articulam e interpenetram, em uma perspectiva de complementariedade entre elas.
Três dimensões ou gerações de direitos
Em 1979, o jurista tcheco Karel Vasak (1929-2015) criou uma classificação de dimensões ou gerações de direitos, a partir dos princípios da Revolução Francesa. O objetivo era situar as diferentes categorias de Direitos Humanos:
· Liberdade – primeira geração
Referente à ideia de liberdade individual, garantida nos direitos civis e direitos políticos. Os direitos civis ou individuais são universais (alcançam todas as pessoas) e os direitos políticos são restritos ao exercício da cidadania (atingem somente os eleitores, por exemplo).
· Igualdade – segunda geração
Referente à garantia de direito a oportunidades iguais a todas às pessoas, ou seja, obrigação do Estado de assegurar os direitos sociais, econômicos e culturais.
· Fraternidade – terceira geração
Referente aos ideais de fraternidade e solidariedade, que se vinculam aos direitos difusos (não é possível determinar os titulares dos direitos nem mensurar exatamente o númerode beneficiários) e aos direitos coletivos (número definível de titulares que se encontram na mesma condição). O direito ambiental, o direito de comunicação, os direitos do consumidor, entre outros, estão inseridos nos direitos de terceira geração.
Outros direitos vêm sendo considerados fundamentais. Nesse sentido, atualmente, existe uma quarta e, talvez, quinta geração ou dimensão de direitos.
Na quarta dimensão, estariam o direito à democracia, à informação, ao pluralismo e à bioética. Além disso, pensa-se em uma quinta dimensão – a dos direitos à esperança e à paz.
O direito à Educação e à dignidade são, nesse contexto, reconhecidamente interligados. O Estado deve garantir ambos, já que ambos fazem parte das gerações de direito reconhecidos e articulados.
Direitos humanos hoje e problemas globais
Notícias sobre desrespeito à grande parte dos Direitos Humanos chegam a todo momento. A própria situação da Educação traz dúvidas quanto ao nível de respeito ao reconhecimento da formação educacional como direito em muitos países, inclusive o Brasil.
Há um longo caminho a seguir para que os Direitos Humanos se universalizem, dentro e fora do Brasil. Muitas vezes, também em locais diferentes, percebe-se um engatinhar nas garantias mínimas. Em outras circunstâncias, retrocessos são percebidos.
Cabe, portanto, refletir sobre os problemas enfrentados pelo conjunto desses direitos para serem assegurados e, especificamente, cabe uma reflexão sobre o direito humano à Educação.
A desigualdade e o desequilíbrio econômico são ainda elementos inibidores na propagação e implantação dos Direitos Humanos para todos, mas não são as únicas questões que se podem colocar.
Em novos tempos, temos novas dimensões dos Direitos Humanos. No entanto, ainda há velhos problemas e, nem sempre, em função de desigualdades sociais.
Direito à vida
Em relação ao direito à vida, fala-se da pena de morte em alguns países. No entanto, a pena de morte não é a única forma de infração do direito à vida. Os conflitos entre nações, o terrorismo, a criminalidade, os ataques deliberados contra civis ou grupos de refugiados e a violência policial são as novas-velhas formas que ferem o princípio do direito à vida.
Atenção:
Recentemente, a ONU divulgou que o mundo ainda tem mais de quarenta milhões de vítimas da escravidão moderna. Entre essas vítimas, 25% são crianças. Isso pode incluir o tráfico de pessoas, a exploração sexual, o casamento forçado e o recrutamento forçado de crianças para uso em conflitos armados.
Desse modo, há problemas que atingem países e sujeitos diferentes, mas que atentam contra o mais elementar e fundante direito humano – o direito à vida.
A pandemia causada pela covid-19 trouxe outras evidências sobre as dificuldades de assegurar a vida às diferentes populações do mundo. Em alguns países, não houve preocupação maior com a vida e foi necessária a intervenção da comunidade internacional no problema.
Quanto às pesquisas e vacinas, os países mais endinheirados puderam não só fazer e capitanear pesquisas, mas têm podido sair na frente na imunização de seus cidadãos, assegurando-lhes a vida. Se a vida é um direito humano universal, faz-se mister que o direito à vacina seja ampliado para todos os países, para todos os cidadãos.
Uma idosa implorando por dinheiro na rua, Filipinas, 2020.
As questões migratórias, as guerras civis, os muitos refugiados decorrentes desses conflitos, a pobreza extrema de populações ao redor do globo e outros problemas endêmicos que o mundo enfrenta – tudo isso não tem sido pautado com firmeza pela ONU.
A esperança de dias melhores para essas populações soa cada vez mais vã. Apesar do direito à vida ser o princípio de maior relevância para todos e de interesse de todas as nações, resguardá-lo, tanto em nível nacional quanto internacional, é ainda extremamente difícil.
Sete desafios mundiais para a garantia dos direitos humanos
Iremos, agora, refletir sobre duas questões importantes:
· Quais são os principais desafios e as perspectivas para implementação dos Direitos Humanos?
· Quais são as grandes inquietudes e as grandes tensões que afetam a proteção desses direitos?
· Primeiro desafio
O primeiro desafio estaria, hoje, no enfrentamento da tensão entre o universalismo – de um lado – e o relativismo cultural – de outro.
Nesse campo de discussão, o sociólogo e professor português Boaventura de Sousa Santos vem defendendo uma concepção multicultural dos Direitos Humanos inspirada no diálogo entre culturas. O objetivo é compor o que o pensador português chamava de multiculturalismo emancipatório e que, atualmente, formula-se como interculturalidade emancipatória.
A ideia central é a de formulação de um universalismo pluralista, não etnocêntrico. Tal universalismo incluiria, no campo dos Direitos Humanos, perspectivas não individualistas de direito humano, por meio de diálogos entre a cultura dos países europeus e os valores de outras culturas – asiáticas e indígenas.
Seriam reformuladas, nessa perspectiva, algumas compreensões dos direitos individuais, incorporando os direitos mais coletivos, próprios dessas culturas, como elementos dos Direitos Humanos – aí sim, universais.
· Segundo desafio
O segundo desafio é o enfrentamento das diferentes formas de fundamentalismo, religioso ou não. As relações entre Estado e religião ainda são muito problemáticas em muitas nações. Há, porém, outras formas de fundamentalismo – político, econômico e outros – que também comprometem o exercício dos Direitos Humanos.
A Educação é um direito de difícil exercício em algumas culturas e diante de determinados valores. A imposição de uma moral única e de valores baseados nela compromete qualquer projeto de sociedade pluralista aberta e democrática, inclusive porque prejudica as possibilidades de implantação de uma Educação voltada aos Direitos Humanos.
· Terceiro desafio
O terceiro é o desafio do direito ao desenvolvimento perante as desigualdades econômicas e sociais que caracterizam o planeta. Atualmente, os 15% mais ricos do mundo concentram 85% da renda mundial, enquanto os 85% mais pobres concentram tão somente 15%.
A pobreza, acima de qualquer guerra ou somatório das guerras, é a principal causa mortis do mundo. Nesse contexto de desigualdade, a América Latina é a região mais desigual, e o Brasil é o campeão da desigualdade.
Isso não quer dizer que o Brasil seja o mais pobre, incluindo a América Latina, mas que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres é muito acentuada. Tal fato se reflete na Educação, uma vez que, diante dessas desigualdades, o acesso à Educação e a permanência na escola são direitos negados à boa parte da população.
· Quarto desafio
O quarto desafio está relacionado à proteção dos direitos sociais diante dos dilemas da globalização econômica, que têm agravado ainda mais as desigualdades sociais.
A pobreza se torna uma ameaça sistêmica fundamental à estabilidade em um mundo que se globaliza. A fragilização do Estado o torna crescentemente incapaz de cumprir suas responsabilidades de assegurar esses direitos.
· Quinto desafio
O quinto desafio trata do respeito à diversidade, de modo que a intolerância não impeça a vida tranquila de suas vítimas. Nesse caso, as vítimas mais comuns são os pobres, as mulheres, os não brancos, os não heterossexuais, as pessoas com deficiência, os migrantes, entre outros.
O direito à diferença precisa se articular com o direito à igualdade.
· Sexto desafio
O sexto desafio consiste na oposição entre o combate ao terrorismo e a preservação das liberdades públicas. Desde o 11 de setembro de 2001, medidas restritivas ao terrorismo afrontam as liberdades de muitos.
A solução para o problema, nesse caso, estaria em mais investimento no respeito mútuo e na promoção dos Direitos Humanos. Isso pode e deve ser feito por meio de uma Educação para os Direitos Humanos.
· Sétimo desafio
O último desfio diz respeito à exigência ética de fortalecer o Estado de Direito e a construção da paz nas esferas global, regional e local, mediante uma cultura deDireitos Humanos que rompa com o unilateralismo e incentive o multilateralismo.
A construção do Estado Democrático de Direito, com o primado da legalidade e a legitimidade dos acordos entre diferentes por base, é a possibilidade de a sociedade poder assegurar os Direitos Humanos a todos.
Direitos humanos no brasil e direito à educação
Um grande marco para os Direitos Humanos no Brasil foi a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição cidadã. No quesito Direitos Humanos, a CF procura resguardar os direitos básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Embora esses direitos sejam bem formulados e claros, muitos não são exercidos por imensas parcelas da população. Isso torna o caminho em direção à sua efetivação longo e árduo.
Muitos problemas se devem à pobreza ou à falta de condições de acesso aos direitos. No entanto, infelizmente, há problemas internos de violência que nada têm a ver com problemas estruturais e materiais do País. Seu enfrentamento se daria por meio de outra Educação, para os Direitos Humanos e para o reconhecimento da igualdade de direitos, na diferença entre comportamentos, valores, modos de estar no mundo e de compreendê-lo.
O desafio, portanto, de uma Educação para os Direitos Humanos no Brasil vem acompanhado de uma luta mais básica, já que trata dos chamados direitos de primeira dimensão. Tal dimensão envolve o direito à vida e à liberdade, além da dignidade humana em sua expressão mais simples.
Atenção:
Cabe ressaltar, no entanto, que essa Educação não é um “depois” em relação a tais garantias. Trata-se de direitos interligados, e é possível considerar a necessidade de uma Educação para os Direitos Humanos para evitar tantos desperdícios de vidas.
Paralelamente a isso, pode-se fomentar uma maior consciência social em relação à responsabilidade cidadã com o combate às diferentes formas de violência e o investimento em Direitos Humanos para todos.
DIREITOS HUMANOS E A EDUCAÇÃO COMO DIREITO
A Educação como direito humano é entendida de múltiplas formas:
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· É um direito individual de acesso a conhecimentos necessários ao exercício pleno da cidadania e à preparação para o trabalho. Em outras palavras, é uma ferramenta para o crescimento pessoal.
· Também é um direito que envolve a autonomia dos sujeitos sociais.
· Do ponto de vista mais coletivo, o direito à Educação pode operar como um mecanismo de equalização social, de conscientização e de democratização da sociedade, já que também pode ser fator de preparação para o reconhecimento do outro, o respeito aos direitos de todos e o desenvolvimento da capacidade de interação com grupos sociais distintos.
· O status de direito humano da Educação se relaciona estreitamente com a questão da dignidade humana, que requer a possibilidade de autonomia social, o conhecimento formal básico para ampliação da compreensão de mundo e atuação social mais efetiva.
De acordo com Claude (2005, p. 38), a Educação é um direito que tem, pelo menos, três faces: social, econômica e cultural. Vejamos:
Direito social
Promove o desenvolvimento pleno da personalidade humana no contexto da comunidade.
Direito econômico
Promove autossuficiência econômica pelo emprego ou trabalho autônomo.
Direito cultural
Promove a construção de uma cultura universal de Direitos Humanos.
Três objetivos do direito à Educação
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a Educação como um direito e elenca condições e critérios para o que seria sua efetivação.
A Declaração também exibe algumas marcas dos conflitos entre diferentes países na redação do documento, já que alguns valorizavam mais fatores coletivos de formação enquanto outros buscavam assegurar a escolarização formal.
Atenção:
Devemos lembrar que, em 1948, o que se buscava era usar, positivamente e em busca de paz, a triste memória da Segunda Guerra Mundial e seus milhões de mortos.
O artigo 26 vincula o direito à Educação a três objetivos:
(1) pleno desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do respeito aos direitos do ser humano e às liberdades fundamentais; (2) promoção da compreensão, da tolerância e da amizade entre todas as nações e a todos os grupos raciais e religiosos; e (3) incentivo às atividades da ONU para a manutenção da paz (CLAUDE, 2005, p. 39).
Vejamos, a seguir, cada um desses objetivos:
· Primeiro objetivo
Traz uma noção abstrata, mas muito operacional, de “desenvolvimento pleno da personalidade”. Essa noção opera como um fio temático e é encontrada em muitas outras passagens da Declaração, como os artigos 22 e 29, além do já referido artigo 26.
O mais relevante na noção de desenvolvimento pleno da personalidade é o fato do seu forte significado “na consolidação de um conceito holístico da natureza humana – de seres essencialmente livres, social e potencialmente instruídos e capazes de participar de tomadas de decisão fundamentais” (CLAUDE, 2005, p. 40).
· Segundo objetivo
“Promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e os grupos raciais ou religiosos” é um objetivo positivo para que a Educação possa exercer um papel político e social importante na garantia de colocação em prática da Declaração.
· Terceiro objetivo
Aponta para uma forte preocupação da ONU, naquele momento de elaboração da Declaração, com a implementação de iniciativas globais e locais de investimentos na paz, ou seja, na convivência pacífica entre grupos sociais, étnicos e políticos, nos diferentes países e entre diferentes países.
Educação como direito no brasil: das normas à realidade
Embora seja signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e possuidor de uma legislação bastante consistente no que diz respeito ao direito à Educação, o Brasil enfrenta muitas dificuldades nesse campo.
Algumas dessas dificuldades ocorrem por descaso com o compromisso do Estado com a população. Outras muitas dificuldades se dão em virtude das desigualdades sociais imensas que caracterizam o País.
Imensos segmentos populacionais não conseguem exercer seu direito constitucional à Educação de qualidade simplesmente por falta de acesso a escolas distantes ou inacessíveis, pela miséria em que vivem ou pelo desconhecimento completo de seus direitos constitucionais.
Escola improvisada às margens da rodovia BR 101, no município de Eunápolis, Bahia, 2009.
Soma-se a esses problemas o pouco investimento do Estado em Educação. Como consequência, temos a baixa qualidade e pouca quantidade de espaços escolares apropriados às suas necessidades, a péssima remuneração dos docentes, bem como as políticas educacionais confusas e não consolidadas.
Apesar das importantes iniciativas educacionais favoráveis à consolidação da Educação pública, laica, gratuita e de qualidade para todos, temos de encarar o fato de que, no Brasil, ainda não se pode falar de pleno exercício do direito à Educação.
A situação é ainda mais prejudicada por políticas educacionais recentes, que trazem dificuldades à Educação pública no País, por meio da proibição de investimentos, da precarização da escola pública e de políticas curriculares nocivas à efetivação do direito de todos à Educação. Isso ocorre uma vez que tais políticas se voltam à competição meritocrática, à exclusão social que dela emerge e à retração do sistema público de Educação.
Do ponto de vista do acesso, muito tem sido feito, uma vez que a quase totalidade da população em idade escolar está nas escolas – pelo menos, no Ensino Fundamental. No entanto, os problemas de não aprendizagem, evasão, repetência e abandono seguem muito reais para as parcelas mais pobres da população.
Restam, ainda, os milhares de jovens e adultos que seguem buscando uma formação escolar – direito atendido pela noção de Educação ao longo da vida – e o acesso a melhores condições de vida.
Também cabe lembrar os muitos problemas enfrentados pelos estudantes de escolas públicas e privadas de baixa qualidade acadêmica, e a impossibilidade de ascenderem às melhores universidades, aos melhores postos detrabalho e, portanto, à vida digna que o exercício do direito à Educação deveria lhes possibilitar.
Educação e direitos humanos: da norma à atuação
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosa aborda os desafios e as dificuldades para ir além das normas e dos documentos sobre Direitos Humanos e efetivamente atuar no contexto educacional em prol dos Direitos Humanos.
Verificando o aprendizado
1. Analise as afirmativas sobre os três princípios básicos dos Direitos Humanos.
I. Os princípios basilares dos Direitos Humanos na Declaração Universal dos Direitos Humanos são o princípio da inviolabilidade da pessoa, o princípio da autonomia da pessoa e o princípio da dignidade da pessoa.
II. Não há, na Constituição Federal de 1988, qualquer relação ou repercussão dos princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, já que a Declaração é um documento internacional.
III. A igualdade de todos perante a lei e a garantia de que o direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade deve ser inviolável são aspectos do princípio da inviolabilidade da pessoa.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
b) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
c) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
d) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
e) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra os princípios da inviolabilidade da pessoa, da autonomia da pessoa e da dignidade da pessoa como fundamentos dos Direitos Humanos. O primeiro desses três princípios, relacionado com a inviolabilidade da pessoa, implica o reconhecimento de que todos são iguais perante a lei, independentemente de qualquer tipo de distinção. Outro aspecto do princípio da inviolabilidade da pessoa está relacionado com a garantia de que os direitos fundamentais não devem ser violados. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 garante, em seu artigo 5º, a inviolabilidade desses direitos.
2. Assinale a alternativa em que é possível identificar uma afirmativa que apresenta, corretamente, um desafio para a garantia dos Direitos Humanos.
a) Entre os fundamentalismos existentes no mundo, o fundamentalismo religioso é o único que ainda representa riscos para a proteção à vida e à garantia dos direitos fundamentais.
b) O universalismo pluralista e não etnocêntrico representa uma ameaça aos Direitos Humanos, assim como o relativismo cultural.
c) As desigualdades sociais e econômicas podem trazer prejuízos ao desenvolvimento dos países, mas não impactam a garantia dos Direitos Humanos ou o risco à vida e aos direitos básicos.
d) As políticas de segurança e o combate às ameaças terroristas acabam, muitas vezes, resultando em limitação ou ofensa ao direito de liberdade de muitos.
e) Não há necessidade de se garantir o Estado Democrático de Direito para que se efetive uma cultura de Direitos Humanos e o multilateralismo.
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A garantia e a efetividade das liberdades públicas e individuais podem ficar comprometidas e entrarem em conflito com medidas de segurança que visem ao combate ao terrorismo. Nessas situações, o desafio se manifesta na tensão entre a restrição à liberdade, diante das medidas restritivas em face da ameaça terrorista ou de alguma escalada da violência, e o direito às liberdades individuais.
MÓDULO 3
Reconhecer a relevância da Educação para os Direitos Humanos
EDUCAR PARA APRENDER
Passados mais de setenta anos desde a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, permanece o desafio de levar às populações do planeta o conhecimento e as possibilidades de luta pelos Direitos Humanos.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no cenário internacional, é a agência responsável pela proposição de contribuir para a consolidação da paz e segurança do mundo, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural por meio da Educação, da ciência, da cultura, da comunicação.
O relatório presidido pelo político francês Jacques Delors e elaborado para a Unesco, intitulado Educação, um tesouro a descobrir (UNESCO, 2010), propõe quatro pilares para a Educação:
I. Aprender a conhecer
II. Aprender a fazer
III. Aprender a conviver
IV. Aprender a ser
A proposta do relatório era a de incentivar uma Educação que fosse além da aprendizagem de conhecimentos específicos. A Educação, na verdade, deveria estar voltada “a ensinar a pensar, saber comunicar-se e pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo; enfim, ser socialmente competente” (PARANÁ, 2021).
Atuação e programas da unesco
Para atingir seus objetivos, a Unesco trabalha com programas de alfabetização, técnicos e de formação de professores, programas científicos internacionais, promoção de mídia independente e liberdade de imprensa, projetos de história regional e cultural, promoção de diversidade cultural, traduções de literatura mundial, acordos de cooperação internacional para garantir o patrimônio cultural e natural mundial, bem como para preservar os Direitos Humanos e tentar superar a atual segregação digital mundial.
A Unesco assume, como uma de suas missões, contribuir para a "construção da paz", reduzindo a pobreza, promovendo o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural, concentrando seus esforços na diminuição da taxa de analfabetismo e na eliminação da desigualdade de gênero no mundo.
A agência vem trabalhando com um conceito ampliado de cidadania, ao propor a noção de cidadania global.
Cidadania global
A cidadania global é uma perspectiva de compreensão na qual o cidadão é colocado como pertencente a uma comunidade mais ampla, que transcende as fronteiras nacionais e enfatiza a nossa humanidade comum.
Para a Unesco, cidadão global é o conjunto de indivíduos que pensa e age para um mundo mais justo, pacífico e sustentável. O incentivo ao uso da interconectividade, que permite unir o local e o global, o nacional e o internacional, é um dos caminhos propostos para que a cidadania global se efetive.
Ao propor que se traga esse conceito para a sala de aula, no trabalho de Educação em e para os Direitos Humanos, a Unesco espera equipar alunos de todas as idades com valores, conhecimentos e habilidades baseados no respeito aos Direitos Humanos e na sua promoção. Desse modo, é possível ampliar a justiça social no mundo, respeitando-se a diversidade de indivíduos, culturas e modos de conhecer o mundo, promovendo a igualdade de gênero e a sustentabilidade ambiental.
A ideia fundante dessa proposta é a de empoderar os alunos para que sejam cidadãos globais responsáveis, ou seja, que busquem um mundo e um futuro melhores para todos por meio de ações efetivas em suas vidas cotidianas.
Atenção:
Apesar dos muitos problemas com as desigualdades sociais e a falta de acesso até mesmo à água e a alimentos básicos de partes significativas das populações do planeta, é necessário fazer avançar, onde for possível, esse tipo de projeto. Essa formação pode formar cidadãos globais aptos a lutar também contra esse estado das coisas.
A Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de Direitos Humanos (1995-2004) permitiu a proposição, por parte da Unesco, do Programa Mundial de Educação para os Direitos Humanos, a Paz e a Democracia.
Programa de Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia
O Programa de Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia da Unesco foi aprovado na assembleia da entidade, realizada em novembro de 1995, em Paris.
O programa traz um conjunto de recomendações para os países. As recomendações vão desde alguns princípios até um conjunto de estratégias e recomendações pontuais que envolvem as condições sugeridas para sua implementação.
O objetivo último do programa é a Educação para a paz, os Direitos Humanos e a democracia.
Programa mundial para Educação em Direitos Humanos
Em 2004, um plano de ação elaborado para buscar assegurar que a Educaçãoem Direitos Humanos avançasse no Planeta, propôs um programa estruturado em três fases. O objetivo desse programa era promover a implementação de programas de Educação sobre Direitos Humanos em todos os setores da sociedade e em diferentes países.
O objetivo maior do programa era o de combater estereótipos e violência, adotando o respeito pela diversidade, e promovendo a tolerância, o diálogo intercultural e inter-religioso e a inclusão social.
· Fase um (2005-2009)
O programa enfatizou a implementação da Educação em Direitos Humanos nos sistemas de ensino fundamental e médio dos diferentes países membros.
· Fase dois (2010-2014)
A exigência era de integrar a Educação em Direitos Humanos no sistema de ensino superior e na formação de profissionais da Educação, servidores públicos e profissionais das forças de segurança pública. A razão para essa ênfase na segunda fase é clara: envolve profissionais que contribuem para a formação ou que têm responsabilidade de resguardar os direitos da população.
· Fase três (2015-2019)
O programa esteve voltado para jornalistas e outros profissionais da mídia, promovendo a formação em Direitos Humanos para os que atuam na área da comunicação.
Além desses programas e atuações, podemos mencionar as ações voltadas para as questões ambientais. Entre elas, sobressai a preocupação com necessidade de se educar para um desenvolvimento sustentável.
EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O documento intitulado Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, da ONU, reflete uma visão integrada e interdependente das soluções para o desenvolvimento sustentável em ligação com a Educação.
Conforme o preâmbulo da Agenda 2030, em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) há temas que dialogam com o cumprimento dos Direitos Humanos. Os ODS, assim como os Direitos Humanos, são integrados e indivisíveis. Por essa razão, sua aplicação exige uma abordagem sistêmica, integrada e que envolve esforços globais.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH)
A abordagem pedagógica com os ODS é uma oportunidade para, a partir da perspectiva da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), discutir os Direitos Humanos no ensino fundamental. No caso brasileiro, tal discussão visa contribuir para a implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e a promoção de uma cultura de paz em um ambiente não discriminatório, de valorização e respeito às diversidades presentes nas escolas.
No documento do MEC em parceria com a Unesco (BRASIL, 2020, p. 5), no qual essa parte da proposta se fundamenta, há uma importante defesa da realização de ações.
Essas ações devem ser contextualizadas com a realidade das escolas, capazes de contribuir para a Agenda 2030 “sair do papel”. Com isso, pode-se ajudar a dar vida e significado às metas no cotidiano das escolas, para todos sem exceção, o que é fundamental para a transformação local no âmbito desse movimento global.
Sendo um tema transversal relacionado a todos os ODS, a Educação se converte em uma estratégia essencial na busca de sua concretização. A Educação em geral e, especialmente, a EDS permitem uma melhor compreensão dos desafios que os ODS representam.
Formação crítica
A EDS também contribui para capacitar os indivíduos a debater e enfrentar os temas contemporâneos, favorecendo uma percepção da interdependência entre os âmbitos local e global, contribuindo para o investimento em mudanças sociais, econômicas e ambientais, buscando solucionar problemas que as afetam (UNESCO, 2016).
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) nasce, conceitualmente, da necessidade de uma Educação capaz de abordar os muitos desafios ambientais que a humanidade enfrenta. Ela é, portanto, uma proposta de Educação que busca contribuir para a formação crítica, capaz de levar os sujeitos a identificarem elementos insustentáveis da vida em sociedade, e agirem em prol de mudanças.
Principais dimensões conceituais e os objetivos da EDS
Ainda de acordo com a EDS, a seguinte tabela apresenta suas principais dimensões conceituais. Vejamos:
· Habilidades cognitivas
Os estudantes adquirem conhecimentos, compreensão e raciocínio crítico sobre questões globais e sobre a interconectividade/interdependência entre países e diferentes populações.
· Habilidades socioemocionais
Os estudantes têm o sentimento de pertencer a uma humanidade comum, ao compartilhar valores e responsabilidade e possuir direitos. Os estudantes demonstram empatia, solidariedade e respeito por diferenças e diversidade.
· Habilidades comportamentais
Os estudantes agem de forma efetiva e responsável nos contextos local, nacional e global, em prol de um mundo mais pacífico e sustentável.
Quadro: Principais dimensões conceituais da EDS.
Extraído de BRASIL, 2020, p.37.
Além disso, sempre no documento orientador da Educação para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil, os objetivos elencados são:
· Fornecer uma visão geral e sistêmica sobre o conjunto dos ODS;
· Incentivar a abordagem integrada dos ODS nos sistemas de Educação;
· Mostrar a importância de se trabalhar a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) nas escolas como parte das políticas públicas de Educação;
· Colaborar com a formação continuada de docentes por meio das temáticas abordadas nos ODS e de ações pedagógicas para o desenvolvimento de conteúdos propostos;
· Estimular os estudantes a pensarem, sentirem e agirem em consonância com o movimento local e global pelo alcance dos ODS;
· Evidenciar o papel da escola na transformação socioambiental, considerando-a em sua relação com a comunidade a que pertence;
· Estabelecer parâmetros para a abordagem dos ODS na escola, integrando currículo, Projetos Político Pedagógicos (PPP), gestão e espaço físico;
· Sensibilizar a comunidade escolar para a importância da realização de ações transformadoras (individuais e coletivas) nos locais onde estão inseridas para o alcance dos ODS e garantia dos Direitos Humanos no Brasil e no mundo (BRASIL, 2020, p. 15).
Dimensões de objetivos
Como último destaque, em relação às escolas, são elencadas três dimensões de objetivos que inscrevem uma escola nos ODS:
· Primeira dimensão
Reconhecendo a promoção de aprendizagens como função social da escola, por meio da construção e do compartilhamento de conhecimentos e pelo convívio social entre diferentes sujeitos e culturas.
· Segunda dimensão
Trata da formação de “valores, habilidades, atitudes e comportamentos fundamentais para o alcance do desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 2020), buscando investir na formação cidadã.
· Terceira dimensão
Diz respeito ao espaço escolar, que pode se tornar um lugar no qual “as crianças e os jovens vivenciam na prática as mudanças culturais em direção à sustentabilidade” (BRASIL, 2020). Também está relacionada com a busca de uma gestão escolar que inspire alterações no espaço físico da escola de modo a contribuir para a efetivação dessas mudanças.
Educação para os direitos humanos no brasil
A discussão acerca de Educação em Direitos Humanos no Brasil surge em meados dos anos 1980, no período imediatamente após a ditadura militar (1964-1985), com o início da redemocratização do País.
Três publicações no período são consideradas decisivas e, por isso, tornaram-se referência em qualquer debate sobre a Educação para os Direitos Humanos no Brasil:
· Constituição Federal de 1988
· Estatuto da Criança e Adolescente em 1990 (Lei 8.069/1190)
· Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996 (Lei 9.394/96)
A partir da Constituição de 1988, novas iniciativas ganham forças. O exercício da cidadania, princípio basilar constitucional, é uma das finalidades reconhecidas da Educação.
A prática educativa “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” está elencada no artigo 2º da LDB.
Experiência locais
Duas experiências locais, nosanos 1990, são emblemáticas por serem iniciativas voltadas a assegurar o direito à Educação – direito humano fundamental e tão desrespeitado em nosso País, quando se trata de atender populações subalternizadas ou classes populares. Vejamos:
· Projeto de escola cidadã, em são paulo (1990):
De acordo com o Instituto Paulo Freire, a Escola Cidadã defende a Educação permanente e tem uma formatação própria para cada realidade local, de modo a respeitar as características histórico-culturais, os ritmos e as conjunturas específicas de cada comunidade, sem perder de vista a dimensão global do mundo em que vivemos (MENEZES, 2001).
· Escola plural, em belo horizonte (1994):
É uma proposta político-pedagógica criada em 1994 pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Segundo tal proposta, o estudante é considerado o centro de todo o processo educativo, o que torna a reformulação dos tempos e espaços escolares um dos seus principais eixos. Propunha-se, ainda, o rompimento com a concepção tradicional de ensino e aprendizagem, buscando incorporar a realidade social ao processo e considerando as questões e os problemas enfrentados pelos sujeitos concretos como objeto de conhecimento.
Ainda no contexto da discussão do texto base da LDB/96, foi criado um curso de pós-graduação lato sensu na Universidade Federal da Paraíba, em 1995, e a cátedra Unesco de Educação para a paz, Direitos Humanos, democracia e tolerância, em 2007.
Planos e diretrizes
· 2006:
É lançado, no Brasil, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). O PNEDH apresenta objetivos bastante detalhados e ambiciosos, reconhecendo “o papel estratégico da Educação em Direitos Humanos para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito” (BRASIL, 2007).
· 2012:
O Ministério da Educação publica as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH), aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em consonância com a Constituição Federal, com a LDB/96 e com o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH).
Essas diretrizes reconhecem a Educação em Direitos Humanos (EDH) como um dos eixos fundamentais do direito à Educação, ao conceituá-la como “o uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas” (BRASIL, 2012).
As Diretrizes estão voltadas para a vida, para a convivência, para a construção de sociedades nas quais a dignidade humana seja garantida e valorizada.
Conforme as DNEDH, o objetivo principal da Educação em Direitos Humanos é “a formação para a vida e para a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e global” (BRASIL, 2012). Nesse sentido, o ambiente educacional deve ser espaço e tempo de promoção dos Direitos Humanos e da Educação para os Direitos Humanos.
Atenção:
Tanto na Educação básica quanto no ensino superior, a Educação para os Direitos Humanos deve acontecer de forma transversal e interdisciplinar. Pode ainda ser trabalhada de outras formas, como conteúdo específico de disciplinas já oferecidas na estrutura curricular ou de maneira mista, integrando a abordagem transversal e disciplinar.
Unesco na educação para os direitos humanos no brasil
Além das iniciativas já elencadas, próprias dos governos brasileiros e de ações locais, a Unesco também segue desenvolvendo diferentes Projetos educativos para os Direitos Humanos no Brasil, além do já citado Ensinar respeito por todos.
A presença da Unesco na Educação para os Direitos Humanos envolve diferentes iniciativas e atores sociais, atuando em diferentes campos e setores na proteção de populações vulneráveis ou necessitadas de maior proteção de seus direitos.
Das políticas para a infância à proteção de vítimas econômicas da pandemia de Covid-19, muitas iniciativas buscam proteger diferentes Direitos Humanos. Alguns desses projetos são:
· Primeira Infância em Primeiro Lugar
Parceria da Petrobrás com a Unesco. Tem como meta aperfeiçoar as políticas públicas e os serviços socioassistenciais para a primeira infância (0 a 6 anos) e para gestantes.
· Gol do Brasil
Ação social da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) voltada para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos em situação de vulnerabilidade. A Unesco no Brasil reforça a ação desse projeto por meio de um acordo de cooperação internacional.
· Mãe Favela
Parceria com a Central Única das Favelas (CUFA). Dá apoio a famílias lideradas por mulheres que tiveram sua renda afetada pelo surto de Covid-19.
· Ação pela Cidadania
Parceria com a ONG Ação pela Cidadania, buscando identificar grupos vulneráveis para oferecer alimentos e artigos de higiene durante a pandemia de Covid-19 no Brasil.
· Educação livre (EduLivre)
Plataforma on-line, lançada pelo Sesi, com conteúdo e recursos com o objetivo de preparar o jovem para vagas de emprego.
· Fundo de Cidadania pela Educação
Parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, voltada para Educação inclusiva, equitativa e de qualidade.
Por fim, cabe lembrar que os programas, os projetos, as ações e a legislação podem contribuir para a construção de uma cultura de paz, de respeito aos Direitos Humanos e de desenvolvimento sustentável.
Também é necessária uma Educação integral e integradora, em e para os Direitos Humanos, que viabilize a formação e a sensibilização dos sujeitos para a garantia e o exercício plenos da dignidade humana, bem como dos demais valores e direitos fundamentais.
Por fim, cabe lembrar que os programas, os projetos, as ações e a legislação podem contribuir para a construção de uma cultura de paz, de respeito aos Direitos Humanos e de desenvolvimento sustentável.
Também é necessária uma Educação integral e integradora, em e para os Direitos Humanos, que viabilize a formação e a sensibilização dos sujeitos para a garantia e o exercício plenos da dignidade humana, bem como dos demais valores e direitos fundamentais.
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosa aborda algumas políticas, programas, projetos e diretrizes ligados à Educação para os Direitos Humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A Educação para os Direitos Humanos é relevante e necessária para a construção:
a) De uma cidadania global.
b) Da política desenvolvimentista do ponto de vista econômico.
c) De leis que protejam os valores nacionalistas.
d) Das riquezas materiais.
e) De currículos padronizados.
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
A cidadania global é um conceito amplo de cidadania e que deve ser trabalhado em sala de aula, considerando a necessidade de desenvolver conhecimentos e habilidades que contribuam para a observância dos Direitos Humanos.
2. A publicação pelo MEC das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH), em 2012, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), evidencia a relevância da Educação para os Direitos Humanos porque:
a) Essas diretrizes obrigam as escolas e universidades a constituírem uma disciplina obrigatória em seus currículos chamada de Direitos Humanos.
b) Essas diretrizes reconhecem a Educação em Direitos Humanos (EDH) como um dos fundamentos do direito à Educação.
c) Fica estabelecida a obrigatoriedade de assistência jurídica, por parte da escola ou da universidade, aos alunos que forem vítimas de violação de seus direitos.
d) As diretrizes têm o mesmo valor e poder normativo que a LDB/96 e o artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
e) Escolas e universidades são o único espaço institucional em que é possível desenvolver projetos e ações de Educação para os Direitos Humanos.
f) Parte inferior do formulário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A relevância e a necessidade da Educação para os Direitos Humanos ficam, de certo modo, evidenciadas com a publicação das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. A apropriação dessesdiretrizes pelo sistema educacional é uma forma de se reconhecer a Educação em Direitos Humanos como um pilar do processo educacional e, até mesmo, do direito à Educação.
Considerações finais
Vimos que a Educação, além de um direito social inalienável, é um pré-requisito para se usufruir dos demais direitos civis, políticos e sociais, emergindo como um componente básico dos Direitos Humanos. Nesse sentido, a Educação tem relação de interdependência com a dignidade humana, a cidadania, a construção de uma cultura de paz e de uma sociedade democrática e plural.
Podemos verificar que o Brasil enfrenta grandes desafios relacionados com a desigualdade social, o preconceito ainda muito forte contra grandes parcelas da população e a exclusão do efetivo exercício do direito à Educação.
Finalmente, é importante registrar a inseparabilidade entre a Educação como direito humano e a Educação para os Direitos Humanos, já que ambas se realimentam e fortalecem uma à outra. Desse modo, somente juntas podem assegurar o cumprimento dos objetivos da Educação para uma cidadania plena, a solidariedade e a democracia.
PODCAST
Escute o podcast com a professora Inês Barbosa resumindo os principais pontos sobre Educação para Direitos Humanos.
REFERÊNCIAS:
BARCELLOS, A. P. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília: Congresso Nacional, 1988.
BRASIL. Ministério de Educação. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: SEDH, MEC/MJ/Unesco, 2007.
BRASIL. MEC/CNE. Resolução 01/2012. Estabelece Diretrizes Nacionais para Educação em Direitos Humanos. Diário Oficial da União. Brasília‐DF, Seção 1, p. 48, 30 mai. 2012. Consultado na internet em: 13 abril 2021.
BRASIL. MEC/UNESCO. Educação para o desenvolvimento sustentável na escola: caderno introdutório. Editado por Tereza Moreira e Rita Silvana Santana dos Santos. Brasília: Unesco, 2020.
CLAUDE, R. P. Direito à Educação e Educação para os Direitos Humanos. Sur, Rev. int. Direitos Humanos. Vol. 2, n. 2, 2005. Consultado na internet em: 13 abril. 2021.
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Organização do trabalho pedagógico: pensadores da Educação – Jacques Delors. Dia a dia Educação, Curitiba, 2021. Consultado na internet em: 20 mar. 2021.
EXPLORE+
· Navegue pelo portal da Unesco no Brasil para acessar e ler os principais instrumentos internacionais legais que tratam dos Direitos Humanos.
· Acesse o portal da USP e leia o principal documento sobre Educação para os Direitos Humanos: Educação para a Paz, os Direitos Humanos e a Democracia.
· Acesse o portal do Ministério de Educação (MEC) e leia o texto integral das Diretrizes nacionais para a Educação em Direitos Humanos e do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.
· Acesse o canal da UNIVESP no Youtube e assista à entrevista, com o professor Francisco Cordão, sobre Direitos Humanos na escola.
CONTEUDISTA
Inês Barbosa de Oliveira
Currículo Lattes
43

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