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L ibr as Libras L ibr as Aline Cristina Lofrese Mauricio A lin e C ri st in a Lo fr es e M au ri ci o Aline Cristina Lofrese Mauricio 1ª Ed. / Março / 2013 Impressão em São Paulo - SP EDUCAÇÃO E CURRÍCULO: FUNDAMENTOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 M445e Mauricio, Aline Cristina Lofrese. Educação e currículo : fundamentos e práticas pedagógicas na educação de surdos. / Aline Cristina Lofrese Mauricio. – São Paulo : Know How, 2010. 89 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-63092-28-1 1. Educação. 3. Educação de surdos no Brasil. 3. Libras. 4. Métodos pedagógicos I. Título. CDD – 371.912 Educação e Currículo: Fundamentos e Práticas Pedagógicas na Educação de surdos Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professora Responsável Aline Cristina Lofrese Mauricio Coordenadora Pegagória de Cursos EaD Profª. Me. Maria Rita Trombini Garcia Projeto gráfico e Diagramação Glaucia Ferraro Capa Wagner Boni Revisão Ortográfica Nádia Fátima de Oliveira Marcela Aparecida de Oliveira 1º Edição: Setembro de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Parabéns! Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Educação e Currículo: Fundamentos e Práticas Pedagó- gicas na Educação de Surdos, construído especialmente para este curso, baseado no seu perfil e nas necessidades da sua formação. A finalidade deste livro é disponibilizar aos alunos da EAD conceitos e exercícios referentes às principais temas da Educação e Currículo: Fundamentos e Práticas Pedagógicas na Educação de Surdos. Estamos constantemente atualizando e melho- rando este material, e você pode nos auxiliar, encami- nhando sugestões e apontando melhorias, via monitor, tutor ou professor. Desde já agradecemos a sua ajuda. Lembre-se de que a sua passagem por esta disciplina será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Tupy, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Am- biente Virtual de Aprendizagem. Entre sempre em contato conosco quando surgir alguma dúvida ou dificuldade. Participe dos bate-papos (chats) marcados e envie suas dúvidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para atendê-lo (a). Seu desenvolvimento intelectual e profissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso e tenha bons momen- tos de estudo! Equipe EaD Know How Carta do Professor 01 | Aspectos Históricos da Inclusão de Surdos na Sociedade 02 | Surdez e a Educação de Surdos no Brasil 03 | Noções Básicas da Estrutura Linguística de Libras 04 | A Gramática da Libras 05 | Especificidades da Produção Textual Escrita do Surdo 06 | Contato entre Ouvintes e Surdos 07 11 31 41 51 59 73 Caríssimo (a), Durante séculos foi negada sistematicamente a educação às pessoas com deficiência auditiva, principal- mente aos surdos. Hoje, em pleno século XXI, percebe- mos avanços em relação a inclusão dos surdos na educa- ção formal, porém estes avanços estão muito aquém da real necessidade de acesso à educação que o surdo neces- sita e tem direito. O desconhecimento dos processos cognitivos envolvidos no processamento da língua de sinais foi um dos responsáveis por muitos dos preconceitos que obser- vamos em relação as Línguas de Sinais, e aqui no Brasil a Libras (Língua de Sinais Brasileira). Atualmente com o avanço das pesquisas científicas sobre a aquisição e o processamento das Línguas de Sinais, alguns preconcei- tos tem caído, como o de pessoas que acreditavam que a Língua de Sinais seria mímica ou pantomima e não uma língua de fato. Mas não podemos deixar de observar a realidade brasileira! Os dados são claros e revelam que, o deficiente auditivo e o surdo não têm acesso ao ensino de mesma qualidade que os ouvintes. Além disso, ainda existi muito preconceito e ignorância a respeito de sua diversidade. A surdez é um problema sensorial, portanto os surdos tem um dos seus sentidos prejudicado, mas sua cognição está intacta e pronta para a aprendizagem. Convido você para, juntos, mudarmos essa realidade. Seja bem-vindo! Professora Aline Cristina Lofrese Mauricio C ar ta d o P ro fe ss or A sp ec to s H is tó ri co s d a In cl us ão d e Su rd os na S oc ie d ad e 13 Caro (a) Aluno (a) Nesta unidade, estudaremos os conceitos de aspec- tos históricos da inclusão de surdos na sociedade. Vislum- brará o longo processo histórico dos surdos na luta pelo di- reito de aprenderem através de sua própria Língua. Seja bem-vindo! Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: | Identificar a importância do tema; | Ter conhecimento do processo histórico da inclusão de sur- dos na sociedade; | Perceber a importância da educação do surdo; | Integrar os conhecimentos com a prática educativa. Conteúdos da Unidade | Primeiras concepções históricas sobre a surdez; | Educação de surdos no mundo; | Processo histórico da educação do surdo; | Inclusão do surdo na sociedade. 15 Para que entendamos a educação de surdos nos dias de hoje, precisamos conhecer como o surdo era visto desde a antiguidade até os dias atuais, e, além disso, com- preender de que forma ele estava inserido na sociedade. 17 Na antiguidade os surdos eram considerados seres castigados por Deus. Para Aristóteles (348-322 a.C.), as pes- soas que nasciam surdas eram consideradas também mudas e, assim, não podiam falar nenhuma palavra. Ainda segundo Aristóteles, a consciência humana só poderia ser alcançada através dos sentidos. A ideia de Aristóteles de que os surdos não eram treináveis permaneceu por séculos sem que nin- guém a questionasse. Já os Romanos diziam que os surdos que não falam não possuem direitos legais garantidos e assim necessitariam de um curador. A Igreja católica dizia que a alma do surdo não era imortal por este não ser capaz de professar os sacramentos. No século VI, em Roma, durante o reinado do impe- rador Justiniano, foi formulado o Código Justiniano, que di- ferenciava a surdez da mudez e ordenava que as pessoas que nascessem surdas e mudas não poderiam fazer testamento, nem receber herança. Mas se o surdo tivesse perdido a audi- ção durante a vida após receber a educação formal, possuía seus direitos preservados. 1.1 Educação de Surdos Os surdos congênitos, que não tem estímulo adequa- do, não falam porque nunca ouviram e não porque possuem algum problema no aparelho fonador. 18 Somente no século XIV, a primeira possibilidade de instruir surdos através da língua de sinais e da língua oral foi cogitada pelo escritor Bartollo della Marca d’Ancona. Em meados do século XVI, o médico Girolano Cardano propôs que os surdos poderiam der ensinados, esta proposta partiu de seus estudos sobre o ouvido, o nariz e o cérebro e sua experiência de ensino e convívio com seu filho surdo. Ainda no século XVI, Pedro Ponce de Leon, monge beneditino espanhol, educava crianças surdas, em geral per- tencentes a nobreza, ensinava essas crianças a ler, escrever, fazer contas, orar, confessar-se e assim estas tinham seus di- reitos legais preservados e também poderiam professar sua fé católica. Não se sabe muito a respeito do método que Pe- dro Ponce de Leon utilizava para ensinar surdos, apenas que ele desenvolveu um tipo de alfabeto manual no qual uma determinada configuração da mão representaria uma letra do alfabeto latino. Além disso, em seu método ele engajava os outros sentidos preservados do surdo, principalmente a visão e ao tato. Ele seria considerado o primeiro professor de sur- dos da história. Em 1620, o espanhol Juan Pablo Bonet publicou o li- vro “Reducción de las letras y artes para ensenñar a hablar a los mudos”, que trata da invenção do alfabeto manual, já utilizado porPedro Ponce de Leon. Bonet usava a leitura, o alfabeto manual, a gramática e manipulava os órgãos fonoarticulató- rios (boca, língua, faringe), como formas de ensinar o surdo a 19 pronunciar palavras. Criou também uma língua feita de couro com a qual instruía seus alunos em relação à posição e ao mo- vimento que a língua faz para podermos articular os fonemas corretamente. Bonet é considerado o percussor do Oralismo. Em 1644, foi publicado por John Bulwer o primeiro livro em inglês sobre a Língua de Sinais chamado “Chirolo- gia”, alguns anos depois lançou o livro “Philocopus”, o qual afirmava que a língua de sinais tinha o mesmo valor expres- sivo do que qualquer outra língua. Por volta de 1650, algumas teorias a respeito da aprendizagem da fala e da linguagem chamaram atenção de dois homens para a educação do surdo: enquanto o reveren- do William Holder concentrava seu trabalho no ensino da fala, o reverendo John Wallis utilizava o alfabeto manual, e ao mesmo tempo pronunciava palavras em inglês com a intenção de ensinar a escrita e a fala aos surdos. Wallis é considerado percussor do método escrito. Na segunda metade do século XVII, George Dal- garmo (1626-1687) declarou que os surdos tinham sua fun- ção cognitiva preservada, ou seja, que possuíam o mesmo potencial para a aprendizagem do que qualquer outra pessoa desde que recebessem uma educação adequada. Em 1680, descreveu um sistema primitivo de alfabeto manual o qual denominou datilologia, e defendia que a criança surda deve- ria ser exposta a datilologia o mais cedo possível para desen- volverem uma linguagem similar à das crianças ouvintes. No século, XVIII, houve um aumento do interesse pela educação dos surdos, e diferentes métodos de ensino fo- ram divulgados. Por volta de 1704, o alemão Wilhelm Keger 20 de fendeeu a educação obrigatória para os surdos. Durante suas aulas, usava a escrita, a fala e os gestos para que seus alunos aprendessem. Heinicke, importante pedagogo alemão, professor de surdos, alegava ter passado por tantas dificuldades que não pre- tendia dividir suas conquistas com ninguém. Ele propôs uma filosofia de ensino pra surdos que, mais tarde passou a ser con- siderada o início do que ficaria conhecido como método oral. Heinicke fundou a primeira escola pública alemã para surdos baseada no método oral. Segundo esta metodologia somente a língua oral deveria ser utilizada na educação dos surdos, uma vez que, segundo seus defensores, essa seria a situação ideal para que eles se integrassem na sociedade ouvinte. Famílias nobres e influentes que tinham um filho surdo contratavam os serviços de professores para evitar que ficasse privado da fala e consequentemente dos direitos legais, que eram subtraídos daqueles que não falavam. Esses profes- sores iniciaram o que atualmente denomina-se oralismo e ges- tualismo, embora existisse concordância com relação ao fato de que o surdo deveria aprender a língua falada pelos ouvintes. Os oralistas exigiam que os surdos se reabilitassem, que superassem sua surdez, que falassem e, de certo modo, que se comportassem como ouvintes. Os gestualistas, per- ceberam que os surdos desenvolviam uma linguagem que, embora diferente da oral, era eficaz para a comunicação e lhes propiciava o conhecimento da cultura, incluindo aquele dirigido para a língua oral. A oposição entre oralistas e ges- tualistas perdura desde o final do século XVIII até a atualida- de. O principal representante gestualista foi o abade Charles 21 M. De L'Epée, com seu "método francês" de educação de surdos. Foi o primeiro a estudar uma língua de sinais com atenção para suas características linguísticas. Partindo dessa linguagem gestual, ele desenvolveu um método educacional apoiado na linguagem de sinais das comunidades de surdos, acrescentando a estas, sinais que tornavam sua estrutura mais próxima à do francês. Ele deno- minou esse sistema de "sinais metódicos". Em 1775, fundou uma escola, a primeira em seu gê- nero, com aulas coletivas, onde professores e alunos usavam os sinais metódicos. Em 1776, publicou um livro no qual divulgava suas técnicas. Seus estudantes escreviam bem e a maioria tornou-se professores de outros surdos. Contemporaneamente a De L'Epée, havia peda- gogos oralistas que o criticavam e que desenvolviam outro modo de trabalhar com os surdos, como, por exemplo, Perei- ra, em Portugal, e Heinicke, na Alemanha. Heinicke é consi- derado o fundador do oralismo. Em 1857, o professor francês Hernest Huet (surdo e partidário de I'Epée, que usava o Método Combinado) veio para o Brasil, a convite de D. Pedro II, para fundar a primei- ra escola para meninos surdos do país: o Imperial Instituto de Surdos Mudos, hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), mantido pelo governo federal, e que atende crianças, jovens e adultos surdos. A partir de então, os surdos brasileiros passaram a contar com uma escola especializada para sua educação e, tiveram a oportunidade de desenvolver a Língua de Sinais Brasileira (Libras), mistura da Língua de Sinais Francesa com os sistemas de comunicação já usados 22 pelos surdos de diferentes localidades do Brasil. Em 1878, realizou-se, em Paris, o I Congresso Internacional sobre a Instrução de Surdos, em que foram discutidas algumas expe- riências de trabalho. Os surdos tiveram algumas conquistas, como o direito a assinar documentos. O mais importante defensor do Oralismo nos Esta- dos Unidos foi o escocês Alexander Graham Bell, inventor do telefone, considerado um gênio da tecnologia. A mãe e a esposa de Bell eram surdas, mas ele tinha medo de que a comunicação gestual usada pelos surdos os isolasse em pe- quenos grupos e com isso adquirissem muito poder. Com o desejo de integrar os surdos à maioria ouvinte, obrigava-os a falar, Bell tinha como objetivo principal eliminar as línguas de sinais, acabar com os casamentos entre surdos e ensinar a língua majoritária na modalidade oral para os surdos. Por esses motivos foi considerado pelo primeiro presidente da Associação Nacional de Surdos da América o mais temido inimigo dos surdos americanos (Lane, 1984). Em 1880, foi realizado o II Congresso Internacio- nal, em Milão, considerado um marco histórico. O congresso foi preparado por uma maioria oralista, com o firme propó- sito de dar força de lei às suas proposições no que dizia res- peito à surdez e à educação de surdos. Neste Congresso, Bell aproveitou-se de todo seu prestígio em defesa do Oralismo e ajudou na votação sobre qual método deveria ser utilizado na educação dos surdos. Com exceção da delegação ameri- cana (cinco membros) e de um professor britânico, todos os participantes, em sua maioria europeus e ouvintes, votaram por aclamação a aprovação do uso exclusivo e absoluto da metodologia oralista. Nessa época, as Línguas de Sinais ain- 23 da não tinham status de língua. Referiam-se aos sinais como linguagem. proscrição da linguagem de sinais. Acreditava-se que o uso de gestos e sinais desviasse o surdo da aprendiza- gem da língua oral, que era a mais importante do ponto de vista social” (LACERDA, 1998). O Oralismo venceu, sendo o uso da língua de sinais oficialmente proibido. Nesse congresso, os professores sur- dos foram excluídos da votação. Após o evento, a metodolo- gia oral passou a ser utilizada em todas as escolas para sur- dos, destacando-se a prática terapêutica da fala. É importante salientar que os aspectos referentes à escolarização do surdo eram colocados em segundo plano, já que a ênfase recaía so- bre a reabilitação da surdez, com o objetivo de curar o surdo. Segundo Sacks (1998), a única oposição clara feita ao ora- lismo foi apresentada por Gallaudet que, desenvolvendo nos Estados Unidos um trabalho baseado nos sinais metódicos do abade De L'Epée, discordava dos argumentos apresenta- dos, baseando-se em sucessos obtidos por seus educandos. O reverendo Thomas Gallaudet foi o principal responsável pelafundação em 1817, do American Asylum for the Deaf, em Hartford. Ele contou com o auxílo de Mason Cogswell, cirurgião de Hartford e pai de uma menina surda, e de Lau- rent Clerc, surdo francês que foi para os Estados Unidos com Gallaudet e lhe ensinou a língua de sinais francesa, bem como a metodologia utilizada no Institute of Deaf-Mutes, onde Clerc lecionava. O sucesso do Asylum levou ao surgimento de ou- tras escolas, em um processo de intenso desenvolvimento dos surdos, que culminou com a aprovação do Congresso, em 1864, autorizando a Columbia Institution for the Deaf 24 and the Blind, em Washington a transformar-se na primeira instituição de ensino superior específica para surdos. Seu primeiro reitor foi Edward Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet. Essa instituição é atualmente a Gallaudet University, única faculdade de ciências humanas para surdos no mundo (Idem, 1998). A partir do Congresso de Milão, o oralismo foi o referencial assumido e as práticas educacionais vinculadas a ele foram desenvolvidas e divulgadas. Essa metodologia permaneceu inquestionável mesmo com seu insucesso, que ocasionou atrasos no desenvolvimento da maioria dos surdos. No Brasil, surgiram o Instituto Santa Terezinha para meninas surdas (SP), a Escola Concórdia (Porto Alegre - RS), a Escola de Surdos de Vitória, o Centro de Audição e Linguagem “Ludovico Pavoni” - CEAL/LP - em Brasília-DF e várias outras que, assim com o INES e a maioria das esco- las de surdos do mundo, passaram a adotar o método oral. Na década de 1960, começaram a surgir estudos so- bre as línguas de sinais utilizadas pelas comunidades surdas, com as pesquisas de Willian Stokoe. Ao estudar a Língua de Sinais Americana (ASL), Stokoe observou a existência de uma estrutura que se assemelhava à das línguas orais. O descontentamento com o oralismo e as pesqui- sas sobre línguas de sinais deram origem a outras propostas pedagógico-educacionais em relação à educação da pessoa surda. Nos anos 70, iniciou-se a metodologia denominada comunicação total. "A Comunicação Total é a prática de usar sinais, lei- 25 tura orofacial, amplificação e alfabeto digital para fornecer inputs linguísticos para estudantes surdos, ao passo que eles podem expressar-se nas modalidades preferidas" (Stewart 1993, p. 118). No que se refere à comunicação total, para LA- CERDA (1998): “Estudos têm apontado que, em relação ao oralismo, alguns aspectos do trabalho educativo foram me- lhorados e que os surdos, no final do processo escolar, con- seguem compreender e se comunicar um pouco melhor. En- tretanto, segundo essas análises avaliativas, eles apresentam ainda sérias dificuldades em expressar sentimentos e ideias e comunicar-se em contextos extra-escolares”. As crianças surdas de diversos países passaram a ser encaminhadas para as escolas regulares. No Brasil, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação passaram a coordenar o ensino para educandos com deficiências e sur- giram as Salas de Recursos e Classes Especiais para surdos, além de algumas Escolas Especiais, com recursos públicos ou privados. Paralelamente ao desenvolvimento das propostas de comunicação total, estudos sobre línguas de sinais foram se tornando cada vez mais estruturados e, com eles, foram surgindo também alternativas educacionais orientadas para uma educação bilíngue. O modelo de educação bilíngue contrapõe-se ao modelo oralista porque considera o canal visual-gestual de fundamental importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. Essa proposta defende a ideia de que a língua de sinais é a língua natural dos surdos, que, mesmo sem ou- 26 vir, podem desenvolver plenamente uma língua. Contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho educa- cional e se opõe a sua ‘mistura’ com uma língua oral. O objetivo da educação bilíngue é que a criança surda tenha um desenvolvimento cognitivo-linguístico equi- valente ao verificado na criança ouvinte, e que desenvolva uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua oral oficial em seu país. A filosofia bilíngue possibilita também que, dada a relação entre o adulto surdo e a criança, esta possa construir uma auto-imagem positiva como sujeito surdo, sem perder a possibilidade de se integrar numa comunidade de ouvintes. A aprendizagem dessa língua oral ocorre apoiada na compe- tência linguística da Língua de Sinais, como fazem os ouvin- tes quando aprendem uma segunda língua, sempre tendo por base sua língua materna. As experiências com educação bilíngue ainda são recentes. Os projetos já realizados em diversas partes do mundo (como Suécia, Estados Unidos, Venezuela e Uruguai) têm princípios filosóficos semelhantes, mas se diferenciam em alguns aspectos metodológicos. Existem países que têm assegurado, por lei, o direi- to das pessoas surdas à língua de sinais. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Língua Ameri- cana de Sinais é bastante conhecida. Em diversos países, como no Brasil, as experiên- cias com educação bilíngue ainda estão restritas a alguns 27 poucos centros, devido à resistência de alguns em reconhe- cer a língua de sinais como uma língua verdadeira ou aceitar sua adequação ao trabalho com as pessoas surdas. Apesar da inexistência de dados oficiais do Brasil, observa-se que a comunicação total ainda é utilizada, en- quanto as práticas oralistas tendem a diminuir. Encontra-se a língua de sinais sendo usada separa- damente da fala; uso do português sinalizado, acompanhan- do a fala numa prática bimodal; fala acompanhada de sinais retirados da língua de sinais como tentativas de representar todos os aspectos do português falado em sinais. Observa-se, então, que, de alguma maneira, as três principais abordagens de educação de surdos (oralista, co- municação total e bilinguismo) coexistem em diferentes re- giões de diversos países. 29 S Síntese da Unidade E Exercício Nesta unidade, você pôde identificar o processo his- tórico de inserção do surdo na sociedade e o longo percurso do surdo até a conquista do direito à educação. Tais conceitos são fundamentais para a sequência do nosso Curso. Fique ligado! Faça um resumo da história da educação do surdo no mundo, destacando os principais educadores que contri- buíram para a efetiva educação do surdo. Tendo em vista a leitura realizada, qual metodologia de ensino para o surdo você acha mais adequada? Qual delas traria mais benefício e maior nível de instrução para o surdo?