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Bases da Meditação e Mindfulness Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Camila Vorkapic Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Introdução à Meditação Introdução à Meditação • Introduzir você nos aspectos tradicionais e científicos da meditação; • Fornecer conhecimentos específicos acerca dos efeitos (neuro) fisiológicos da meditação. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Tipos de Meditação; • Anexo I. UNIDADE Introdução à Meditação Contextualização Prezado(a) aluno(a), sugerimos que assista a este vídeo antes de começarmos nossos estudos sobre as práticas contemplativas: Práticas Integrativas e Complementares no SUS – Meditação e Yoga. Disponível em: https://youtu.be/aO4IubMjMWg 8 9 Introdução Criada na Índia há mais de três mil anos, a meditação sempre existiu tanto nas principais religiões quanto nas organizações seculares. Ao longo dos milênios, técnicas meditativas vêm sendo empregadas em diversas tradições e linhagens internas, como o Budismo, Vedanta, Yoga e Taoísmo (SATYANANDA, 1981). Diversos tipos de práticas foram cultivados entre as tradições do extremo oriente, mas a meditação foi a mais va- lorizada, recebendo atenção especial. As primeiras referências conhecidas são encontradas na Índia em registros datando de cerca de 1.500 antes do início da Era Cristã, escritas nos chamados Upanisad, capí- tulos especiais dos Vedas (a mais importante escritura do Hinduísmo). Há registros tam- bém em outros países e sistemas, como no Taoísmo primitivo (MURPHY et al., 1997). No contexto moderno, a partir da década de 1960, observa-se um crescimento expo- nencial de estudos relacionados cujos objetivos são a observação dos efeitos da meditação sobre diversos aspectos da saúde, especialmente da saúde mental. Mais recentemente, a prática baseada na autorregulação emocional e da atenção tem atraído cada vez mais pesquisadores e sido utilizada como aliada complementar eficaz junto ao tratamento de diversas doenças e, principalmente, transtornos mentais, como estresse, ansiedade, de- pressão e transtorno de pânico (FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2010, p. 211). Para conhecer um pouco mais sobre as origens da meditação em diversas tradições, sugeri- mos a leitura dos artigos a seguir: • Reflexões sobre o percurso histórico da meditação até as descobertas de seus benefícios às funções mentais, disponível em: https://bit.ly/2P9DLe9 • A origem e a história da meditação, disponível em: https://bit.ly/3bL5cTc De modo geral, pode-se dizer que a meditação se refere a uma variedade extrema- mente ampla de práticas que têm como objetivo central a alteração voluntária de estados e traços mentais. No entanto, as diferentes maneiras pelas quais se pode alcançar a esse objetivo diferem significativamente e, por isso, não há uma definição clara com plena aceitação universal. A meditação tem sido desenvolvida e praticada por razões diversas, incluindo o cultivo do bem-estar e equilíbrio emocional, assim como para fins religiosos. Dentre as práticas mais comuns, estão a concentração na respiração, a recitação de um mantra, a visualização de imagens especificas, o cultivo do estado de compaixão, entre outras. Do ponto de vista cognitivo, a meditação pode ser conceituada como uma família de práticas regulatórias complexas e emocionais que afetam eventos mentais por meio do engajamento de um conjunto específico de sistemas de atenção. Apesar de algumas tradições afirmarem não haver nenhum propósito ou objetivo específico, elas compartilham características comuns, como a de que cada prática repre- senta uma técnica que precisa ser aprendida ou treinada. Em segundo lugar, presume-se que cada prática induza a um estado reprodutível e distinto, claramente indicado por de- terminadas características físicas ou cognitivas reportáveis pelo praticante. Em terceiro, acredita-se que o estado evocado tenha um efeito previsível sobre a mente e o corpo de modo que, quando induzido repetidamente, possa trazer benefícios relevantes ao 9 UNIDADE Introdução à Meditação praticante e a redução de traços mentais e comportamentais indesejados. No entanto, é importante lembrar que a meditação difere dos processos cognitivos comuns, sendo mais do que somente concentração, contemplação, postura ou relaxamento. São técni- cas ou métodos que permitem melhor regulação das emoções e distrações, permitindo uma percepção mais profunda de nós mesmos e do mundo que nos rodeia (FERREIRA- -VORKAPIC; RANGÉ, 2010, p. 211). Figura 1 Fonte: Adaptado de Getty Images Antigas escrituras de tradições diversas afirmam que o objetivo final é o que chamam de iluminação, um estado de consciência radicalmente novo, que seria caracterizado pela transcendência das ilusões e condições restritivas a que normalmente estamos sub- metidos. Mas, enquanto a iluminação não é plenamente alcançada, podemos aproveitar os efeitos secundários dessa prática milenar: relaxamento, apaziguamento das emoções, melhoras na atenção e concentração, alterações benéficas no funcionamento e morfolo- gia do cérebro e até do sistema imunológico. Um dos objetivos da meditação é induzir um estado alterado e reprodutível durante a prática, com efeitos positivos e duradouros sobre o corpo e a mente. Partindo do pressu- posto de que os diferentes estados mentais são acompanhados por diferentes condições neurofisiológicas, pode-se afirmar que a meditação induz à ocorrência de dois tipos de alterações psicofisiológicas: mudanças no estado (temporárias) e no traço (permanentes). As mais comuns, as chamadas mudanças no estado, são alterações de curto prazo, que ocorrem durante ou imediatamente após a prática de meditação e se referem a alte- rações sensoriais, cognitivas e de autoconsciência. Tais mudanças podem incluir: • Experiências de clareza de percepção e consciência; • Sentimento de calma ou tranquilidade; • Foco de atenção em direção ao objeto de meditação. Algumas dessas modificações podem não estar diretamente relacionadas às mudan- ças induzidas pela prática e, por isso, são consideradas “efeitos colaterais” da meditação. Alguns exemplos incluem (TRAVIS; SHEAR, 2010): • Profundo senso de equanimidade; • Erradicação dos estados negativos; • Maior consciência das percepções sensoriais; • Maior sensação de conforto; • Mudança na experiência de pensamentos, sentimentos e autoconsciência. 10 11 Como, no geral, a meditação envolve uma forma de treino de atenção, a função cog- nitiva que mais pode ser afetada pela prática é exatamente a atenção, de modo que os efeitos neurofisiológicos e neuropsicológicos da meditação sobre seus processos são os mais estudados. A literatura relacionada fornece um grande número de resultados, já que existem diferentes práticas meditativas, metodologias e desenhos experimentais. Entretanto, algumas conclusões podem ser inferidas a partir das evidências já observa- das. Uma delas é que as diversas técnicas de meditação resultam em diferentes efeitos no cérebro. As atenções concentrada e seletiva, cultivadas durante as técnicas de concentra- ção, produzem melhoras significativas em habilidades específicas como a capacidade de ignorar e se desfazer de estímulos desnecessários ou distrações (FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2013, p. 1-113). Outros estilos de meditação cultivam uma atenção mais distri- buída que, por sua vez, promove a habilidade de sustentar por mais tempo um estado de atenção e a flexibilidade de deslocá-la em direção a estímulos inesperados. Meditação, atenção e emoção (em inglês), disponível em: https://bit.ly/3dLhIVD Os resultados de pesquisas com variáveis psicológicas e cognitivas mostram que exis- tem distinções nos mecanismos subjacentes às diversas técnicas de meditação, mesmo que os resultados ainda não sejam absolutamente conclusivos. Entretanto, nota-se que diferentes técnicas parecem ser capazes de atuar na atenção e na regulação emocional, corroborando com a ideia de que, mesmo havendo especificidades em cada prática,todas possuem a autorregulação da atenção e da emoção como processo básico comum – e é essa a razão pela qual as práticas meditativas têm despertado a atenção da área da saúde, especialmente da saúde mental, principalmente nos últimos trinta anos. O baixo custo, a possibilidade de serem ensinadas a grupos de pacientes e a efeti- vidade em uma série de transtornos mentais, ao menos como técnica complementar, pode representar uma importante contribuição para a atenção primária, prevenção e promoção da saúde. Tipos de Meditação Seja a observação de alterações emocionais, atenção ou na neuroanatomia de deter- minadas estruturas, em pesquisa, utilizam-se basicamente duas classes de meditação: a concentração e a chamada mindfulness – no entanto, nas tradições, existem inumerá- veis tipos de meditação. Concentração é mais bem representada na medicina moderna pelo programa de meditação transcendental (MT), que deixou de ser utilizada em pesquisa devido à sua complexidade. Mindfulness, um nome para o qual não há tradução fiel no português (alguns autores usam o termo atenção plena), é definida como uma forma específica de atenção vigilante – concentração no momento atual, de modo intencional e sem julgamento. Significa estar plenamente em contato com a vivência do momento, sem estar absorvido por ela e sem qualquer crítica ou juízo de valor. Esse tipo de meditação é melhor caracterizada em pesquisa pelo Programa de Redu- ção do Estresse Baseado em Mindfulness (Mindfulness-based stress reduction – MBSR) 11 UNIDADE Introdução à Meditação (KABAT-ZINN et al., 1992), formulado originalmente em 1979 por Jon Kabat-Zinn na Universidade de Massachusetts, integrando conhecimentos médicos e ensinamentos recebidos de mestres zen-budistas. O chamado Mindfullness-Based Stress Reduction usa técnicas de meditação e práticas corporais inspiradas no Hatha Yoga. Removendo o arcabouço filosófico-religioso nativo, Kabat-Zinn e colaboradores enfatizam o caráter laico do MBSR, num contexto científico (KABAT-ZINN, 2003). Esse programa é o mais utilizado em pesquisas que envolvem meditação, devido à sua abordagem bem definida, sistemática e centralizada no paciente, e tem se mostrado especialmente eficaz como coadjuvante no tratamento de transtornos de humor e ansiedade. Meditação mindfulness, disponível em: https://bit.ly/3dO3Z09 A maioria dos tratamentos para transtornos mentais inclui algum tipo de tratamento farmacológico. No entanto, os conhecidos efeitos adversos dos medicamentos contri- buem para falhas na conformidade e não aderência ao tratamento (SMITH et al., 2007). A pesquisa e a utilização de estratégias terapêuticas autogerenciáveis, como a medita- ção, devem ser priorizadas de modo a melhorar a qualidade de vida de indivíduos aco- metidos por esses transtornos. Uma quantidade significativa de estudos vem mostrando a eficácia dessas técnicas na manutenção da saúde mental e no tratamento de trans- tornos (SMITH et al., 2007; EVANS et al., 2008; FERREIRA-VORKAPIC-RANGÉ, 2010; KABAT-ZINN, 1992). Esses estudos mostram tanto alterações no funcionamento quanto na forma de estruturas cerebrais, o que sugere valiosa contribuição terapêutica (LAZAR et al., 2005). Em seguida, estudaremos a neurociência da meditação e as alte- rações fisiológicas no cérebro em decorrência dessa prática. Será que a meditação pode ser praticada por pessoas acometidas por todos os transtornos mentais ou é contraindicada para algum? Lomas, Cartwright, Edginton e Ridge (2015) têm estudado os efeitos da meditação na piora de sintomas de diversos transtornos mentais. Em resumo, os autores observaram que aproximadamente um quarto dos sujeitos entre- vistados apresentam dificuldades substanciais. Segundo os autores, três problemas foram observados: 1) a meditação é uma habilidade difícil de ser aprendida; 2) as pessoas apre- sentavam dificuldade em controlar seus pensamentos e sentimentos; 3) em alguns casos, a meditação foi associada a episódios psicóticos. Para informações mais detalhadas, confira esse e outros trabalhos desses autores no site (em inglês): https://bit.ly/2NG1lip Efeitos Neurofisiológicos Pesquisas recentes vêm demostrando que as técnicas contemplativas têm a capacidade de reduzir a ativação do chamado eixo HPA (hipotalâmico-pituitário-adrenal), no cérebro, e podem ser úteis no tratamento de diversos transtornos mentais ou na manutenção da saúde mental global (SMITH et al., 2007; EVANS, 2008; FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2010; KABAT-ZINN, 1992). O eixo HPA é a principal via de ativação do estresse e produção de cortisol e noradrenalina, como mostrado na Figura do link a seguir. Evidências recentes mos- tram que o maior recurso dessas práticas é a capacidade de induzir uma resposta psicofisio- lógica tão especificamente coordenada, de maneira a funcionar como a antítese da resposta ao estresse, facilitando de modo significativo o relaxamento (KHALSA, 2004, p. 269). 12 13 Essa resposta de relaxamento consiste em uma redução generalizada do nível de excitação somática e cognitiva, alterando a atividade do eixo HPA e do sistema nervoso autônomo (SNA). As práticas meditativas parecem modular o tônus do SNA mediante a redução da atividade simpática, ao mesmo tempo em que ativam os sistemas neuro- musculares antagônicos que podem aumentar a resposta de relaxamento no sistema neuromuscular e estimular o sistema límbico. Além disso, tanto em curto como em longo prazo, a meditação está associada a reduções nos níveis de cortisol basal, na secreção de catecolaminas, taxa metabólica basal e consumo de oxigênio (KHALSA, 2004, p. 269) – todas as reações fisiológicas associadas a uma resposta de relaxamento. Ilustração do eixo HPA e produção do cortisol. A atividade do eixo HPA é governada pela secreção e hormônio liberador de corticotropina (HLC) e vasopressina (AVP) pelo hipotála- mo, os quais, por sua vez, ativam a secreção do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) pela glândula pituitária, que finalmente estimula a secreção de glicocorticóides pelo córtex adrenal. Disponível em: https://bit.ly/3dMsfj9 Você sabe o que acontece com você quando o eixo HPA é ativado com frequência? E qual a relação com a depressão? Para saber mais sobre a fisiologia do estresse e a relação com transtornos mentais, sugerimos a leitura do artigo “O eixo hipotálamo-pituitária-adre- nal, a função dos receptores de glicocorticóides e sua importância na depressão”. Disponível em: https://bit.ly/3pXIaxq A prática frequente dessas técnicas poderia também estar relacionada a uma classe de comportamento que aumenta a influência vagal (nervo vago), apoiando comportamentos de engajamento social espontâneo, reduzindo comportamentos de luta ou fuga (PORGES, 2003, p. 513), deprimindo a ativação do eixo HPA e a consequente liberação de cortisol como resposta ao estresse. Embora não se saiba quais os mecanismos neurofisiológicos exa- tos através dos quais a meditação atua, uma coisa é certa: indivíduos que a praticam pare- cem ser menos predispostos a desenvolver transtornos de ansiedade, estresse e depressão e seus estados mentais proporcionam melhores respostas às emoções negativas quando essas aparecem em suas vidas (FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2010; KABAT-ZINN, 1992). Em Síntese A meditação altera funções fisiológicas que induzem o relaxamento, reduzem o estresse, a ativação do eixo HPA e do sistema nervoso simpático. Do ponto de vista psicológico, a meditação tem sido usada para reduzir os efeitos negativos do estresse, depressão e ansiedade nos estados de humor. Por consequência, o indivíduo não só aumenta sua capacidade em resistir ao estresse, mas em responder ao ambiente de maneira mais adaptativa. A prática da meditação mindfulness pro- move mudanças nos julgamentos e nas avaliações cognitivas, auxiliam na redução da ansiedade e do estresse e promovem uma melhora na habilidade de um indivíduo para lidar de maneira mais eficaz com situações estressantes. Consequentemente, essa nova13 UNIDADE Introdução à Meditação abordagem cognitiva, que fornece um número maior de opções associadas e sentimento de controle pode, pelo menos em parte, ser responsável pelas melhoras psicológicas e físicas de longo prazo observadas com a prática da meditação (KABAT-ZINN, 1992). Desse modo, é possível dizer que a meditação representa uma poderosa ferramenta cognitiva de manipulação, equipando o aparato cognitivo com melhores opções de ge- renciamento do estresse e da ansiedade. Algumas hipóteses já especulavam de fato que é justamente a avaliação cognitivo-emocional das situações que determina o estresse expe- rimentado subsequentemente. Além desses efeitos, a prática meditativa também parece ser uma experiência profunda, com repercussões em diversos âmbitos da vida. Entrevistas abertas indicam que muitos meditadores que buscam integrar sua prática ao seu ambiente profissional relatam melhor qualidade de trabalho, maior produtividade, melhor tomada de decisões e melhor qualidade nas relações interpessoais (DUERR, 2004). Além das mudanças neuropsicológicas, também ganhou destaque a investigação dos efeitos anatomofuncionais da meditação, sob a premissa de que estados mentais podem alterar as funções fisiológicas. Foi verificado, então, que algumas características tradicional- mente associadas à meditação, como baixa ansiedade e afetos positivos, poderiam ser expli- cadas por mudanças da atividade elétrica do cérebro. Através do exame de eletroencefalo- grama quantitativo (EEGq), o aumento da produção de ondas alfa nas regiões frontais (lobo frontal) e, em menor quantidade, de ondas Teta foi observado tanto em iniciantes quanto em avançados, sendo a observação de ondas Teta mais comum em meditadores com maior experiência (AFTANAS; GOLOCHEIKINE, 2001, p. 57). As ondas Alfa estão associadas a estados de relaxamento, enquanto que as ondas Teta podem representar aumento na ativi- dade de certas estruturas cerebrais (AFTANAS; GOLOCHEIKINE, 2001, p. 57). Você Sabia? Outro dado que tem sido demonstrado de forma consistente é que o aumento da atividade cerebral está relacionado com a profundidade do estado meditativo, que cresce à medida que a duração da sessão aumenta. Sendo assim, a quantidade de horas de prática e o nível de experiência dos meditadores estão diretamente associados às diferenças na atividade e na anatomia de determinadas estruturas. Isso significa que a meditação é uma técnica que deve ser aprendida e aperfeiçoada ao longo dos anos, assim como aprender a tocar um instrumento musical. As consequências desse exercício são diferenças significativas em di- versas áreas de aquisição de habilidades observadas somente nos cérebros dos meditado- res. Essas diferenças refletem mudanças tanto de traço, resultantes da prática constante de meditação (longo prazo), quanto de estados que ocorrem durante a prática (curto prazo). Atualmente, sabe-se que, além dessas mudanças funcionais, a meditação também pode produzir mudanças estruturais, atuando sobre a plasticidade cerebral. Uma pes- quisa que comparou a espessura do córtex cerebral de meditadores experientes com um grupo controle encontrou uma diferença significativa nas regiões relacionadas à sus- tentação da atenção, onde a espessura era maior nos praticantes experientes (LAZAR et al., 2005). Esse estudo corrobora com a ideia de que a regularidade e a continuidade da prática influenciam a intensidade das respostas e que, portanto, a meditação pode produzir mudanças duradouras. Outro estudo verificou que a prática meditativa se as- sociou à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (DAVIDSON et al., 2003), que está 14 15 relacionado a afetos positivos e à maior resiliência (DAVIDSON, 2004). Além disso, ondas Teta produzidas pela meditação também mostraram correlação positiva com o relato da experiência emocional positiva durante a prática de meditadores experientes, em contraste com iniciantes (AFTANAS; GOLOCHEIKINE, 2001, p. 57). Importante! Embora a meditação funcione como uma poderosa ferramenta cognitiva de manipula- ção, fornecendo melhores opções de gerenciamento de atenção, estresse e ansiedade, ela não é terapia e nem pode ser utilizada como substituta ao tratamento farmacológico e/ou psicoterapêutico. Figura 2 – Córtex Pré-Frontal com áreas de Brodmann relacionadas, em vista lateral. As áreas #8, #9, #10, #11, #44, #45, #46 e #47 estão todas na região pré-frontal do cérebro Fonte: Wikimedia Commons Todas essas alterações anatomofuncionais têm início com mudanças no nível microscó- pico, como as alterações bioquímicas na regulação de diversos neurotransmissores. A me- ditação, assim como os medicamentos antidepressivos chamados inibidores seletivos de recaptação de serotonina, aumenta expressivamente a atividade do neurotransmissor sero- tonina no cérebro. Além do efeito no humor, libido, apetite e sono, a serotonina é capaz de estimular a produção de outro neurotransmissor, a acetilcolina, envolvida em mecanismos de atenção e memória. Estudos com tomografia por emissão de pósitrons (PET) mostraram também um aumento de aproximadamente 65% na produção de outro neurotransmissor, a dopamina, em consequência da meditação. A dopamina regula a sensação de bem-estar e prazer (sistema de recompensa). O aumento nas sínteses de serotonina e dopamina durante a meditação promovem maior sensação de euforia (IVANOVSKI; MAHLI, 2007). Observou-se também um aumento da atividade de outro neurotransmissor, o ácido ga- ma-aminobutírico (GABA), principal inibidor no sistema nervoso central. Esse neurotrans- missor desempenha um papel importante na regulação da excitabilidade neuronal induzin- do à inibição de todo o sistema nervoso central e causando sedação. Além disso, o GABA é diretamente responsável pela regulação do tônus muscular. Um estudo com ressonância magnética espectroscópica comprovou que, no grupo que praticou meditação, os níveis de GABA no cérebro aumentaram quase 30% em comparação ao grupo controle. Os auto- res concluíram que esse pode ser um método não farmacológico eficaz de tratamento da 15 UNIDADE Introdução à Meditação ansiedade e de outros transtornos psiquiátricos. A pesquisa mostrou ainda que, como os níveis de GABA caem na doença de Alzheimer, pode-se aplicar a lógica de que a meditação pode ser benéfica para aqueles que sofrem dessa patologia (ELIAS et al., 2000). A meditação também está associada ao aumento de melatonina plasmática, resul- tando em calma e menor percepção de dor. A melatonina, hormônio sintetizado pela glândula pineal, no cérebro, é responsável pela regulação do sono e tem ainda função antioxidante. O aumento da atividade parassimpática resulta em diminuição da estimu- lação de barorreceptores (receptores que monitoram a pressão hidrostática no sistema circulatório), levando à liberação do hormônio vasopressina, um antidiurético secretado em caso de desidratação. O aumento na produção desse hormônio durante a meditação é responsável por diminuir a autopercepção de fadiga, aumentar os níveis de alerta e ajudar na consolidação de novas memórias e aprendizados. A meditação também induz a uma elevação significativa dos níveis do neurotrans- missor β-endorfina, responsável pela diminuição da sensação dolorosa, facilitação de sensações de relaxamento e bem-estar, como também a estimulação de todo o sistema imunológico (IVANOVSKI; MAHLI; 2007). O aumento da atividade parassimpática, a diminuição da noradrenalina, o aumento da atividade GABA e serotonérgica, a diminuição dos níveis de cortisol e o aumento dos níveis de endorfina; todas essas alterações neuroquímicas produzem um poderoso efeito ansiolítico e, talvez por isso, a meditação esteja se tornando a prática não medica- mentosa mais indicada no tratamento de transtornos mentais. As mudanças de estado experimentadas durante a meditação podem se transformar em traços, levando à con- solidação, no longo prazo, da prevenção de futuros episódios de ansiedade, depressão, estressee doenças psicossomáticas (FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2013, p. 1-113). Figura 3 – Produção e liberação de neurotransmissores entre dois neurônios Fonte: Getty Images Você Sabia? O sistema nervoso central é apenas um dos locais de produção de serotonina, neurotrans- missor que regula comportamentos como humor, sono, libido, apetite e dor. A maior parte da serotonina do nosso corpo (cerca de 90%) é encontrada no trato gastrointestinal, ou seja, fique atento ao que você come e à relação disso com os estados mentais. 16 17 Recentemente, com a criação de uma área da Neurociência chamada Psiconeuroimu- nologia, pesquisadores notaram também que a meditação é capaz de fortalecer o sistema imunológico tanto de indivíduos saudáveis quanto de doentes. Quando pensamos em algo ruim, o pensamento gerado no córtex pré-frontal rapidamente se projeta para o sistema límbico, envolvido no processamento das emoções, e o hipotálamo é então ativado e, pelo eixo HPA, o cortisol (hormônio do estresse) é sintetizado. Se essa condição for recorrente, o sistema imune acaba se enfraquecendo. Contrariamente, se com a prática de meditações específicas esses pensamentos forem substituídos por bons pensamentos, o impacto no sistema imune será evidente. E foi exatamente isso o que os pesquisadores observaram: em um estudo com pacientes HIV positivos, e que obviamente encontravam-se estressados, observou-se que a meditação impediu o declínio de linfócitos CD4+ diminuindo a progres- são da doença. Linfócitos CD4+ são considerados os “maestros” do sistema imunológico, coordenando sua atividade quando o corpo está sob ataque e são as células que atacam o vírus HIV. No entanto, no decorrer da doença, o vírus acaba devorando essas células, enfraquecendo todo o sistema imunológico. O estudo concluiu que, dados os benefícios da redução do estresse pela meditação, tais efeitos protetores podem ser observados não só em pacientes HIV positivos, mas em todos aqueles que sofrem de estresse diariamente. Para saber mais sobre o funcionamento das células do sistema imunológico assista ao vídeo “Imu- nologia: Aula 3 – Células do sistema imune”, disponível em: https://youtu.be/iSLFmacuGS4 Figura 4 – Linfócitos CD4+ ou T são destruídos pelo vírus do HIV, reduzindo as defesas do organismo Fonte: repocursos.unasus.ufma.br Como seus pensamentos mudam suas células e genes, disponível em: https://bit.ly/3uxt0md Após 30 anos de pesquisa, o Departamento de Medicina Alternativa do National Institute of Health, nos Estados Unidos, publicou um documento que conclui que a prá- tica da meditação resulta em: alteração da atividade de ondas cerebrais, redução signifi- cativa do consumo de oxigênio, aumento da atividade do sistema parassimpático, redu- ção produção de cortisol, aumento da síntese de neurotransmissores como serotonina, 17 UNIDADE Introdução à Meditação dopamina e GABA, maior produção de endorfinas e melatonina, aumento da densidade cortical de regiões específicas e da produção de linfócitos e leucócitos. Na verdade, podemos interpretar todas essas mudanças psicofisiológicas, neuroquímicas e anatômicas como modificações expressivas do funcionamento de diversos sistemas no or- ganismo, comparadas, em potência, somente ao uso de determinados medicamentos. Todas essas mudanças acarretam em melhoras significativas da atenção e concentração e conse- quentemente da função cognitiva, aumento da sensação de calma, relaxamento e alegria es- pontânea, maior sociabilidade, melhores estados de humor, melhor sono e função imunológi- ca. As implicações para a Psiquiatria são ainda maiores, já que a meditação pode representar uma prática complementar de baixo custo com pouca ou nenhuma necessidade de atualiza- ção e com técnicas que podem ser incorporadas ao estilo de vida de qualquer indivíduo. Além disso, as mudanças de estado geradas pela prática podem se transformar em traços ou características consolidadas, prevenindo futuros episódios de ansiedade, de- pressão, estresse e doenças psicossomáticas, até mesmo em pessoas saudáveis, e resul- tando m um modelo eficaz de medicina preventiva. Neuroquímica da meditação, disponível em: https://bit.ly/3krQpAW O material didático oferecido ao aluno nesta Unidade permite sugerir o uso da meditação como estratégia complementar ao tratamento terapêutico principal. Desse modo, como você introduziria as técnicas meditativas em uma Unidade Básica de Saúde? E para quem? Quadro 1 – Práticas de Meditação Meditação da pena 1. Sente-se em postura fácil, de pernas cruzadas, com a coluna reta, os olhos fechados e o rosto descontraído. Relaxe as mãos em cima dos joelhos e mantenha a cabeça e os ombros para trás. Pratique a concentração na imobilidade total do corpo por cinco minutos; 2. Faça uma longa e profunda inspiração e encha a barriga e o peito com ar. Ao expirar, tente reproduzir o som “Ahhh” de maneira suave, estendendo ao má- ximo sua expiração sem forçar. Ao final da expiração, use os músculos abdo- minais para empurrar para fora o mínimo de ar que restar dentro dos pulmões. Pause por três segundos e inspire de novo. Repita esse exercício preliminar, es- tabelecendo um padrão para a contagem de um ritmo, da seguinte maneira: • inspire contando quatro segundos; • pause por dois segundos; • expire contando quatro segundos e reproduzindo o som “Ahhh”; • pause por três segundos e inspire de novo. Continue respirando e internalizando esse ritmo até que não precise mais contá-lo; 3. Em seguida, comece a visualizar uma pequena pena branca no chão à sua frente. Ao inspirar, imagine a pena levantando do chão alguns centíme- tros, permanecendo suspensa durante a pausa na contagem do ritmo e descendo durante a expiração. No início, a visualização pode ser difícil, mas não se sinta frustrado ou duro consigo mesmo. Com o tempo e a prá- tica, você será capaz de manter em mente essa imagem por períodos mais longos, adicionar detalhes e até imaginar a pena fazendo uma rotação enquanto estiver suspensa no ar ou quando subir e descer; 4. Pratique o tempo que conseguir, de cinco até 20 minutos. Quando termi- nar, faça uma respiração profunda e abra os olhos. 18 19 Quadro 2 – Práticas de Respiração Respiração do saquinho 1. Deite-se de barriga para cima e relaxe todo o peso do corpo no chão. Fe- che os olhos e respire pelo nariz; 2. Leve sua atenção para a respiração e o movimento respiratório. Visualize o abdome subir e descer a cada respiração. A cada inspiração, ele se ex- pande, e a cada expiração, se contrai. Continue com essa visualização por cinco minutos; 3. Em seguida, coloque um saquinho com arroz ou areia no abdome. Conti- nue a fazer as mesmas respirações abdominais profundas e mantenha a visualização. O peso do saquinho exige que os pulmões se esforcem mais para inspirar profundamente. Ao mesmo tempo, facilita a expiração. Pra- tique por 10 minutos; 4. Quando terminar, sente-se de pernas cruzadas por alguns minutos tente perceber os benefícios dessa prática. 19 UNIDADE Introdução à Meditação Anexo I Glossário • Lobo Frontal: é um dos cinco lobos do cérebro humano ou córtex cerebral. Esten- de-se do polo anterior do cérebro (polo frontal) até ao sulco central; • Córtex cerebral: corresponde à camada mais externa do cérebro dos vertebra- dos, sendo rico em neurônios e o local do processamento neuronal mais sofis- ticado e distinto. O córtex humano tem 2-4 mm de espessura, com uma área de 0,22 m² e desempenha um papel central em funções complexas do cérebro, como na memória, atenção, consciência, linguagem, percepção; • Sistema nervoso autônomo: também chamado sistema neurovegetativo ou siste- ma nervoso visceral é a parte do sistema nervoso que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, circulação do sangue, controle de temperatura e digestão; • Cortisol: hormônio corticosteroide da família dos esteroides, produzido pela par- te superior da glândula suprarrenal (no córtex suprarrenal,porção fasciculada ou média) e diretamente envolvido na resposta ao estresse. Sua forma sintética, cha- mada de hidrocortisona, é um anti-inflamatório. Usado principalmente no combate às alergias, à artrite reumatoide. Tem três ações primárias: estimula a quebra de 1) proteínas; 2) gorduras; e 3) providencia a metabolização da glicose no fígado. Considerado o hormônio do stress, ativa respostas do corpo ante situações de emer- gência para ajudar a resposta física aos problemas, aumentando a pressão arterial e o açúcar no sangue, propiciando energia muscular. Ao mesmo tempo, todas as funções anabólicas de recuperação, renovação e criação de tecidos são paralisadas e o organismo se concentra na sua função catabólica para a obtenção de energia; • Norepinefrina ou Noradrenalina: é uma das monoaminas (também conhecidas como catecolaminas) que mais influencia no humor, ansiedade, sono e alimenta- ção junto com a Serotonina, Dopamina e Adrenalina; • Neurotransmissores: substâncias químicas produzidas pelos neurônios (as cé- lulas nervosas) com a função de biossinalização. Por meio delas, podem enviar informações a outras células. Podem também estimular a continuidade de um im- pulso ou efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo. Os neurotransmissores agem nas sinapses, que são o ponto de junção do neurônio com outra célula; • Serotonina: monoamina neurotransmissora sintetizada nos neurónios serotoni- nérgicos do Sistema Nervoso Central (SNC) e nas células enterocromafins (células de Kulchitsky) do trato gastrointestinal dos animais (entre eles o ser humano). A serotonina também se encontra em vários cogumelos e plantas, incluindo frutas e vegetais. Acredita-se que a serotonina representa um papel importante no sistema nervoso central como neurotransmissor na inibição da ira, agressão, temperatura corporal, humor, sono, vômito e apetite. Essas inibições estão diretamente rela- cionadas com os sintomas da depressão. Adicionalmente, a serotonina é também um mediador periférico de sinal. Por exemplo, a serotonina encontra-se abundan- temente no trato gastrointestinal (aproximadamente 90%) e o seu local de armaze- namento principal são as plaquetas na circulação sanguínea; 20 21 • Dopamina: neurotransmissor monoaminérgico, da família das catecolaminas e das feniletilaminas que desempenham vários papéis importantes no cérebro e no corpo. Os receptores de dopamina são subdivididos em D1, D2, D3, D4 e D5, de acordo com a localização no cérebro e a função. O cérebro contém várias vias dopaminérgicas, uma delas desempenha um papel importante no sistema de comportamento motivado a recompensa. A maioria das recompensas aumenta o nível de dopamina no cérebro, e muitas drogas viciantes aumentam a atividade neuronal da dopamina. A dopamina é produzida especialmente pela substância negra e na área tegmental ventral (ATV). A dopamina também está envolvida no controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções, cognição e memória. É precursora natural da adrenalina e da noradrenalina, outras catecolaminas com função estimulante do sistema nervoso central • GABA: ácido gama-aminobutírico também conhecido pela sigla inglesa GABA (Gamma-AminoButyric Acid), como já dito anteriormente, é um ácido aminobutí- rico em que o grupo amina está na extremidade da cadeia carbônica. É o principal neurotransmissor inibidor no sistema nervoso central dos mamíferos. Ele desempe- nha um papel importante na regulação da excitabilidade neuronal ao longo de todo o sistema nervoso. Nos seres humanos, o GABA também é diretamente responsá- vel pela regulação do tônus muscular. Comportamentalmente, a ação inibitória do neurotransmissor GABA, através da ativação do receptor GABA-A, está relaciona- da com o comportamento agressivo e impulsividade em humanos. Em espécies de insetos, o GABA atua apenas em receptores excitatórios nos nervos; • • ββ-endorfina: neurotransmissor endógeno encontrado tanto nos neurônios do sis- tema nervoso central quanto nos do sistema nervoso periférico. A β-endorfina é um peptídeo com o comprimento de 31 aminoácidos. Seus efeitos principais ao ser lançado na corrente sanguínea (o que acontece, por exemplo, como con- sequência imediata de certos traumas físicos e através da atividade física) são a diminuição da sensação dolorosa e a facilitação de sensações de relaxamento e bem-estar. Encontra-se nos neurônios do hipotálamo, bem como na glândula pi- tuitária. Foi descoberta na década de 1970 pelo laboratório de Avram Goldstein e tem efeitos anestésicos e viciantes similares aos da morfina e da codeína, pois tem afinidade bioquímica com o mesmo tipo de neurorreceptor que essas. A β-endorfina também pode estimular o sistema imunológico e matar células cancerosas. Após 30 minutos de atividade física, o organismo começa a liberar esse hormônio, que tem a função de adaptar o corpo ao esforço submetido, causando a sensação de bem-estar e elevando a frequência cardíaca da zona de treino aeróbio. Alguns estudos dizem que a β-endorfina é produzida também du- rante o ato sexual; • Melatonina: hormônio produzida por diversos animais e plantas. Em animais superiores, é o produzido e liberado pela glândula Pineal. Quimicamente, é uma indolamina sintetizada a partir do triptofano (aminoácido essencial encontrado nas proteínas) e, devido ao seu caráter anfifílico, pode atravessar facilmente as membranas celulares por difusão. Em consequência, a melatonina não é arma- zenada no interior do pinealócito e é imediatamente liberada dentro dos capilares sanguíneos que irrigam a glândula pineal após a sua formação; • Eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal: principal via de ativação do estresse; 21 UNIDADE Introdução à Meditação • Hipotálamo: é uma região do encéfalo dos mamíferos (tamanho aproximado ao de uma amêndoa) localizada sob o tálamo, formando uma importante área na região central do diencéfalo, tendo como função regular determinados processos metabólicos e outras atividades autônomas; • Norepinefrina: é uma das monoaminas (também conhecidas como catecolami- nas) que mais influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação junto com a Serotonina, Dopamina e Adrenalina; • Sistema límbico: na superfície medial do cérebro dos mamíferos, o sistema lím- bico é a unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais. É uma região constituída de neurônios, células que formam uma massa cinzenta denomi- nada de lobo límbico; • Pituitária: também denominada glândula hipófise, é uma pequena glândula com cerca de 1 cm de diâmetro alojada na sela túrcica ou fossa hipofisária do osso esfe- noide na base do cérebro. Está localizada abaixo do hipotálamo e posteriormente ao quiasma óptico, sendo ligada ao hipotálamo pela haste pedúnculo hipofisário ou infundíbulo, é envolvida pela dura-máter (exceto o infundíbulo). A hipófise é conside- rada uma glândula mestra, pois secreta hormônios que controlam o funcionamento de outras glândulas, sendo grande parte de suas funções reguladas pelo hipotálamo; • Eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal: principal via de ativação do estresse; • Hormônio liberador de corticotropina (HLC): o hormônio liberador de corti- cotrofina (CRH – Corticotropin-releasing hormone) é um hormônio produzido pelo hipotálamo, responsável pela indução da produção de cortisol pelas glândulas adrenais, nos rins. • Vasopressina (AVP): também conhecida como arginina vasopressina (AVP) ou argipressina, ou hormônio antidiurético (HAD – em inglês, ADH, antidiuretic hormone), é um hormônio humano secretado em casos de desidratação e queda da pressão arterial; fazendo com que os rins conservem a água no corpo, concen- trando e reduzindo o volume da urina. Esse hormônio é chamado de vasopressina, pois aumenta a pressão sanguínea ao induzir uma vasoconstrição moderada sobre as arteríolas do corpo. O ADH atua no néfron, favorecendo a abertura dos canais de água (aquaporinas) nas células do túbulo de conexão e túbulo coletor; • Hormônio adrenocorticotrópico(ACTH): a corticotrofina ou hormônio adre- nocorticotrófico, geralmente abreviado para a sigla ACTH (Adrenocorticotropic hormone, em inglês), é um polipeptídeo com trinta e nove aminoácidos produ- zido pelas células corticotróficas da adeno-hipófise como um dos derivados do propiomelanocortina (POMC). O ACTH atua, principalmente, sobre o córtex su- prarrenal que estimula seu crescimento e a síntese de secreção de corticosteroides. A produção de ACTH está aumentada em período de estresse. Após ligar-se ao receptor, o ACTH inicia a esteroidogênese, tendo o cortisol como produto final. A regulação da secreção de ACTH ocorre por retroalimentação negativa do cortisol livre e pelo hormônio liberador de corticotrofina (CRH) do hipotálamo. Os estímu- los para a liberação de ACTH compreendem a atuação sobre as células da camada cortical da glândula adrenal, estimulando-as a sintetizar e liberar seus hormônios, principalmente o cortisol; 22 23 • Glicocorticoides: classe de hormônios esteroides caracterizada pela habilidade de se ligar com o receptor de cortisol e desencadear efeitos similares. Os glicocor- ticoides são distintos dos mineralocorticoides e esteroides sexuais pelos seus re- ceptores específicos, células alvos e efeitos. Tecnicamente, o termo corticosteroide se refere aos glicocorticoides e aos mineralocorticoides, mas geralmente é utilizado como um sinônimo de glicocorticoide. O cortisol é o glicocorticoide humano mais importante, ele é essencial para a vida e regula ou sustenta uma grande varieda- de de funções cardiovasculares, metabólicas, imunológicas e homeostáticas. Os receptores de glicocorticoides são encontrados nas células de quase todos tecidos de vertebrados; • Nervo vago: o nervo vago ou pneumogástrico constitui, com o homólogo contra- lateral, o décimo (X) par de nervos cranianos. Sai do crânio pelo forame jugular e possui dois gânglios: o gânglio superior (jugular) e o inferior (nodoso). É respon- sável pela inervação parassimpática de praticamente todos os órgãos abaixo do pescoço que recebem inervação parassimpática (pulmão, coração, estômago, intestino delgado, etc.), exceto parte do intestino grosso (a partir do segundo terço do cólon transverso) e órgãos sexuais. O nervo vago (X) atua na secreção de líquidos digestivos; • Linfócitos CD4+: célula T colaboradora, LT helper (LTh) ou LT CD4+ é um leucó- cito que atua ativando e estimulando outros leucócitos a se multiplicarem e atacarem antígenos. Assim, coordenam a resposta imune pela liberação de citocinas. Eles são essenciais na mudança de classe dos anticorpos das células B, na ativação e cresci- mento das células T citotóxicas e na maximização da ação bactericida dos fagócitos. 23 UNIDADE Introdução à Meditação Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Headspace: Meditação e Mindfulness Aplicativo headspace de meditação e atenção plena. https://bit.ly/3dWHXIu Livros A ciência da meditação: como transformar o cérebro, a mente e o corpo DAVIDSON, R.; GOLEMAN, D. A ciência da meditação: como transformar o cérebro, a mente e o corpo. São Paulo: Objetiva, 2017. Mindfulness, meditação, Yoga e técnicas contemplativas: um guia de uso pessoal e profissional VORKAPIC, C.; RANGÉ, B. Mindfulness, meditação, Yoga e técnicas contem- plativas: um guia de uso pessoal e profissional. Rio de Janeiro: Cognitiva, 2013. Vídeos Meditação em 1 minuto – Áudio em português https://youtu.be/YZWgKOSiQHY 24 25 Referências AFTANAS, L. I.; GOLOCHEIKINE, S. A. Human anterior and frontal midline theta and lower alpha reflect emotionally positive state and internalized attention: high-resolution EEG investigation of meditation. Neurosci Lett, 7, v. 310, n. 1, p. 57-60, 2001. CRESWELL, D.; MYERS, H. F.; COLE, S.; IRWIN, M. Mindfulness meditation training effects on CD4+ T lymphocytes in HIV-1 infected adults: a small randomized controlled trial. Brain. Behav Immun, v. 23, n. 2, p. 184-188, 2009. DAVIDSON, R. J.; KABAT-ZINN, J. Alterations in brain and immunefunction produced by mindfulness meditation: Three caveats – Response. Psychosomatic Medicine, v. 66, n. 1, n. 149-152, 2004. DAVIDSON, R. J.; KABAT-ZINN, J.; SCHUMAKER, J.; ROSENKRAZ, M.; MULLER, D.; SANTORELLI, S. F.; URBANOWSKI, F.; HARRINGTON, A.; BONUS, K.; SHERIDAN, J. F. Alterations in brain and immune function produced by mindfulness meditation. Psychosom Med., v. 65, n. 4, p. 564-570, 2003. DUERR, M. A powerful silence: the role of meditation and other contemplative practices in American life and work. 2004. Disponível em: <http://www.contemplati- vemind.org>. ELIAS, A.; GUICH, A.; WILSON, A. Ketosis with enhanced GABAergic tone promotes physiological changes in transcendental meditation. Medical Hypothesis, v. 54, n. 4, p. 60-662, 2000. EVANS, S.; FERRANDO; FINDLER, M.; STOWEL, C.; SMART, C.; HAGLIN, D. Mindfulness-based cognitive therapy for generalized anxiety disorder. Journal of Anxiety Disorders, v. 22, n. 4, p. 716-721, 2008. FERREIRA-VORKAPIC, C.; RANGÉ, B. 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