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Objetivos Seção 1 de 5 UNIDADE 2. Funções psíquicas elementares e síndromes psicopatológicas Juliana Zantut Nutti OBJETIVOS DA UNIDADE Conhecer tanto as funções psíquicas elementares quanto as superiores, bem como os conceitos, tipos, alterações quantitativas e qualitativas e a inter-relação entre elas; Entender os conceitos dos transtornos das funções psíquicas elementares e superiores; Estudar as diversas classificações e definições dos transtornos psicopatológicos. TÓPICOS DE ESTUDO Funções psíquicas elementares // Alterações na consciência e na atenção // Alterações na orientação e nas vivências de espaço e tempo // Alterações na memória, na afetividade e na inteligência // Alterações na vontade e no agir Funções psíquicas superiores // Alterações na linguagem // Alterações no pensamento e no juízo de realidade Semiologia médica e psicopatológica // Semiologia médica // Nosologia e semiologia psicopatológica Transtornos psicopatológicos ou psiquiátricos // Descrição dos transtornos psicopatológicos Funções psíquicas elementares De acordo com Dalgalarrondo (2019), o estudo das funções psíquicas elementares e de suas alterações é um procedimento artificial que permite maior aprofundamento nos fatos da vida psíquica normal e patológica, bem como na autonomia dos fenômenos. Estuda-se de forma autônoma as funções psíquicas elementares, como a consciência, a atenção e a memória. Entretanto, não existem funções isoladas nem alterações psicopatológicas compartimentalizadas; a pessoa adoece em sua totalidade. ALTERAÇÕES NA CONSCIÊNCIA E NA ATENÇÃO A palavra consciência vem do latim, cum scientia, que deriva da tradução da palavra grega syneidesis. Cum scientia significa “uma ciência acompanhada de outra ciência, ou uma relação cognoscitiva com” (CHENIAUX, 2015, p. 38). Para Cheniaux (2015), consciência é a capacidade de termos um caráter neurológico, o que nos permite captar informações do ambiente e orientar-nos adequadamente. Em outras palavras, trata-se da lucidez. O autor ainda afirma que podemos considerá-la como o processo de coordenação e síntese de toda a atividade psíquica. A psicologia a define como: a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos (DALGALARRONDO, 2019, p. 88). A consciência nos permite estabelecer contato com a realidade e acessar o conhecimento dos fenômenos internos e externos. Suas alterações fisiológicas normais decorrem do sono, sonho e cansaço físico e mental. Já as alterações patológicas se dividem em quantitativas e qualitativas. Nas alterações quantitativas, tanto o nível de consciência quanto a clareza e a forma como uma pessoa experimenta fenômenos psíquicos variam. Sua linguagem, pensamento e emoções podem se tornar pouco compreensíveis e suas percepções se confundem. Além disso, torna-se difícil se atentar a algo de maneira fixa e duradoura e, ainda, é possível perder a orientação temporal e espacial. As alterações patológicas quantitativas podem ocorrer em quadros neurológicos e psicopatológicos, com diminuição progressiva do nível de consciência e da vigilância. Em casos graves, é possível que a pessoa entre em coma profundo, sem resquício de atividade consciente. consciente. Podemos classificar os graus de rebaixamento da consciência em: Já no caso das alterações qualitativas, Dalgalarrondo (2019) aponta que as variações se relacionam à amplitude do campo de consciência. Em outras palavras, enquanto uma parte está normal, outra se altera. Quadro 1. Alterações qualitativas de consciência. Fonte: DALGALARRONDO, 2019, p. 99. (Adaptado). Cheniaux (2015) define a ideia de atenção como o direcionamento da consciência ou estado de concentração da atividade mental em relação a um determinado objeto ou assunto. Em termos simples, a atenção é a capacidade de se concentrar de forma espontânea ou ativa. Mais detalhadamente, trata-se do processo psicológico elementar, onde a atividade psíquica se concentra sobre um determinado estímulo, seja sensação, percepção, afeto ou desejo, de modo que os conceitos e elaborações das percepções e do pensamento se fixem, definam-se, selecionem-se e representem-se. Existem duas formas básicas de atenção: Voluntária Deriva de um esforço intencional e consciente do indivíduo em relação a um estímulo ou objeto; e Espontânea (passiva ou involuntária) Reação automática, não consciente e não intencional do indivíduo em relação aos estímulos; basicamente, são as características desses estímulos que a determinam. Por exemplo: alguns objetos despertam nossa atenção mais que outros. Essa é a tendência natural da atividade psíquica de se orientar para os estímulos sensoriais e sensitivos do ambiente. O grau de concentração da atenção sobre determinado objeto depende do interesse, estado de ânimo e condições gerais do psiquismo do indivíduo. O interesse e o pensamento dirigem a atenção, bem como a intensidade com a qual a pessoa a emprega. Para Dalgalarrondo (2019), as alterações da atenção interferem no processo de aprendizagem. Entretanto, elas tendem a ser secundárias e decorrem da perturbação de outras funções, das quais o funcionamento normal da atenção depende. Alguns exemplos dessas perturbações são: cansaço; estados tóxicos; e estados patológicos que determinam a incapacidade de concentrar a atenção. No exame psíquico da concentração e da atenção, o profissional de saúde deve: ALTERAÇÕES NA ORIENTAÇÃO E NAS VIVÊNCIAS DE ESPAÇO E TEMPO O conceito de orientação se refere à capacidade do indivíduo de se situar em relação ao ambiente e a si mesmo. Essa função deriva da integração de outras funções psíquicas, como: percepção; atenção; memória; pensamento; inteligência; e afeto. Para Cheniaux (2015), ela resulta da atividade de apreensão (apercepção), que representa a capacidade de inter-relacionamento das percepções em dar sentido às informações perceptivas de um contexto. Por exemplo: quando vemos um extenso gramado na tela da TV com algumas marcações brancas, duas traves, uma bola e homens de uniformes correndo, entendemos que se trata de uma partida de futebol. Existem dois tipos de orientação: Autopsíquica Refere-se à própria pessoa. Consiste em elementos da consciência e do Eu. Permite a pessoa a capacidade de fornecer dados de sua identificação, saber quem é, qual é o seu nome, idade, nacionalidade, profissão, estado civil e outros dados; Alopsíquica Refere-se ao meio externo e se subdivide em: 1. Temporal: permite ao indivíduo saber o dia da semana, do mês e ano em que se encontra. No desenvolvimento infantil, adquirimos esse tipo de orientação alopsíquica depois da espacial; 2. Espacial: possibilita a pessoa saber onde se encontra. Por exemplo: no caso de uma internação, a pessoa sabe se está em um hospital e qual é o seu nome, bem como o nome da rua, do bairro e da cidade; 3. Quanto às pessoas: permite reconhecê-las e identificá-las corretamente; e 4. Situacional: orienta quanto aos motivos pelos quais estamos em determinado lugar e quanto à relação que temos com as pessoas do local. No caso de uma internação, o indivíduo sabe que está num hospital como paciente e que um médico o examinará. Este tipo de orientação se relaciona com os outros e com a orientação autopsíquica. Cheniaux (2015) afirma que os distúrbios de orientação podem ser parciais ou totais. Ainda, os efeitos sobre os diferentes tipos não ocorrem de maneira uniforme, uma vez que um tipo pode se alterar enquanto outro se preserva. Um bom exemplo de um distúrbio parcial se dá na orientação temporal: o paciente sabe dizer qual é o mês e o ano atuais,mas não é capaz de especificar o dia do mês ou da semana. Se o distúrbio fosse total, ele desconheceria todos os dados. A orientação no tempo é mais frágil e se altera mais precocemente do que a espacial, pois exige renovação constante. Também é possível dividir as alterações da orientação alopsíquica em: Para examinar a orientação alopsíquica, basta solicitar ao paciente que diga a data do dia do atendimento ou que identifique o local da entrevista e as pessoas presentes. Se, durante a entrevista, seu comportamento indicar desorientação, não é preciso avaliá-lo. Na orientação temporal, espera-se que o paciente consiga ordenar cronologicamente as informações solicitadas; especialmente, as mais recentes. Um erro de um ou dois dias quanto à data é normal, mas um erro grosseiro ao informar a idade, por exemplo, significa uma desorientação no tempo. Conforme Cheniaux (2015), ao final da entrevista, pode-se pedir ao paciente que faça uma estimativa de quanto tempo se passou desde seu início. A avaliação mais precisa da orientação espacial envolve o questionamento ao paciente sobre o trajeto de casa até o hospital e vice-versa, considerando-se que ele conheça o local onde se encontra. Ressalta-se que uma desorientação espacial dentro da própria casa é mais grave do que em um local desconhecido, como a enfermaria de um hospital. Avalia-se a orientação do paciente sobre a situação e outras pessoas com base em seu comportamento, como, por exemplo, se ele entende o que ocorre ao seu redor, pela observação do seu relacionamento com os familiares e se os reconhece como tais. É importante detalhar as alterações mais comuns da orientação alopsíquica em alguns transtornos mentais: Demência A primeira orientação a se perder é a temporal. Com a progressão do quadro, os outros tipos sofrem gradualmente até que se chegue na autopsíquica. Falsas orientações podem ocorrer devido ao rebaixamento do nível de consciência e de apercepção. Já a desorientação se deve aos déficits intelectuais e de memória; Delirium Desorientação confusional e falsas orientações. A orientação alopsíquica pode se prejudicar, mas é possível que a autopsíquica se preserve; Esquizofrenia Nos quadros de esquizofrenia paranoide, com delírios de perseguição, falsas orientações delirantes podem ocorrer. Ou seja, uma orientação falsa, de natureza delirante, substitui a verdadeira, como no caso de o paciente desconhecer que se encontra no hospital e afirmar que está no céu. Ainda, a falsa orientação pode coexistir com a verdadeira, o que se denomina dupla orientação. Por exemplo: o paciente sabe que está no hospital, mas acredita estar no céu ao mesmo tempo; Depressão O paciente relata que o tempo passa vagarosamente e há desorientação apática; e Intoxicação por alucinógenos O uso de substâncias como o LSD, mescalina e outros alucinógenos pode alterar a sensação da passagem do tempo, que poderá parecer mais acelerada ou mais lenta. ALTERAÇÕES NA MEMÓRIA, NA AFETIVIDADE E NA INTELIGÊNCIA A memória é o processo pelo qual o indivíduo armazena as informações sobre o mundo. Ela produz a aprendizagem e se relaciona às experiências perceptivas e motoras, bem como às vivências internas, isto é, aos pensamentos e às emoções. Dessa maneira, conforme Cheniaux (2015), a preservação da capacidade mnêmica é fundamental tanto para a percepção (gnosia) quanto para a orientação do indivíduo. A fase de fixação, também chamada de aquisição ou codificação, depende da preservação dos níveis de: consciência; atenção; sensopercepção; e capacidade de apreensão ou apercepção. As informações mais facilmente fixadas são as que despertam o interesse e possuem uma maior carga emocional. Elas têm um caráter de novidade, associam-se aos conhecimentos já adquiridos e usam mais de um canal sensorial ao mesmo tempo; por exemplo, a visão e a audição. A fase de conservação, conhecida como retenção ou armazenamento, refere-se à manutenção de informações fixadas, mesmo que elas ainda estejam em estado de latência. Para Cheniaux (2015), as informações conservadas sofrem um processo de desintegração ao longo do tempo, o que leva à sua perda; das recentes para as antigas, das complexas para as simples e das menos organizadas para as mais organizadas. A fase de evocação, denominada rememoração ou recuperação, significa o retorno espontâneo ou voluntário das informações armazenadas na consciência. Os fatores afetivos podem influenciar a evocação, como é o caso da angústia. Por isso, esquecemos o que nos desagrada mais facilmente. Porém, a evocação de uma ideia nunca é idêntica à imagem perceptiva fixada. Afinal, cada vez que evocamos uma imagem, a reconstruímos com alterações. A classificação das memórias se dividem em: Sensorial, icônica, imediata ou de curtíssimo prazo São as que têm mais uma função da atenção do que da memória, pois duram menos de um segundo e permanecem ativas o quanto for necessário, para que a percepção ocorra. Elas são frágeis e possuem capacidade muitíssimo limitada; De curto prazo ou recente São as que possuem capacidade de armazenamento bem limitada e duram o período de segundos a alguns minutos. O conceito de memória “de trabalho” corresponde à memória de curto prazo e se refere ao armazenamento temporário de informações para a realização de tarefas cognitivas. Conforme Cheniaux (2015), esse tipo de memória é essencial para a fixação e evocação. Além disso, é necessária para as atividades cognitivas, como compreensão, raciocínio, tomada de decisões e planejamento de ações; De longo prazo ou remota São as que têm o objetivo de armazenar permanente as informações fixadas há alguns minutos, o que possibilita sua evocação por muitos anos ou, até, pela vida toda. A capacidade de armazenamento dessas memórias é enorme. Dividem-se em: Explícitas: contêm informações sobre o mundo e são acessíveis à consciência. É possível evocá-las voluntariamente e expressá-las em palavras; e Implícitas: referem-se à aprendizagem sobre “como fazer as coisas”. Resultam na melhora do desempenho de uma atividade que precisa de informações de experiências anteriores. São memórias automáticas e reflexas, impossíveis de se expressar em palavras. Além disso, independem da recuperação consciente das experiências que produziram tal aprendizagem. Cheniaux (2015) aponta as alterações quantitativas da memória. São elas: amnésia, hipomnésia e hipermnésia. Respectivamente, elas significam a abolição, a diminuição e o aumento da capacidade de memória. Já as alterações qualitativas resumem-se à alomnésia e à ilusão de memória, que ocorrem quando as recordações de um evento real se deturpam ou se distorcem involuntariamente. Essa alteração ocorre com frequência em casos de: delirium; demência; estados crepusculares; mania; e esquizofrenia. A paramnésia, também chamada de alucinação de memória, é uma recordação de algo que não ocorreu realmente. Ou seja, trata-se de uma falsa lembrança, mesmo que, para o paciente, pareça verdadeira. Em virtude dos processos delirantes, essa alteração é frequente na esquizofrenia. O popular déjà vu (já visto) ocorre quando o indivíduo tem a impressão de já ter vivenciado uma situação inteiramente nova. É o que acontece, por exemplo, quando visitamos um lugar pela primeira vez e temos a sensação de que já estivemos lá. Já no caso do jamais vu (nunca visto), ocorre o oposto: trata-se da ausência da sensação de familiaridade mesmo diante de uma situação vivenciada várias vezes no passado. Um exemplo clássico é o caso de alguém não reconhecer a própria mãe ou pai. Estes dois fenômenos podem ocorrer na epilepsia do lobo temporal, na esquizofrenia, em transtornos de ansiedade e, até mesmo, em pessoas sem transtornos. É possível avaliar a memória do paciente com um diálogo simples e com a coleta dos dados da anamnese. Afinal,essas situações permitem que se estime tanto a capacidade de evocação quanto a precisão de detalhes dos fatos da ordenação cronológica. A forma como o paciente lida com questões do cotidiano indica se há déficit mnêmico. Alguns cenários exemplares são: perda frequente de objetos; repetição de ideias ao longo de diálogos sem senso crítico; dificuldade em localizar o próprio leito na enfermaria ou em lembrar o nome do médico, no caso de pacientes internados; desorientação no tempo e no espaço; e falso reconhecimento de pessoas. É possível, ainda, testar a memória de fixação. Para isso, basta fazer uma apresentação de numerais, palavras ou sílabas desconexas ao paciente, seja de forma verbal ou visual. Ele deve repeti- los duas vezes seguidas. Entre as duas repetições, introduz-se uma atividade interferente, como solicitar a memorização de uma segunda série ou a realização de um teste de concentração. Cheniaux (2015) apresenta outros testes, como o da evocação de dados recentes (“quem é o presidente do Brasil?" ou “o que você comeu ontem no almoço?") ou a de dados remotos, como questões sobre informações autobiográficas, com respostas confirmadas por familiares ou pelos registros do prontuário. Para Dalgalarrondo (2019), a afetividade é um termo amplo que envolve diversas modalidades de vivências afetivas, como o humor, emoções e sentimentos. O autor define o conceito como “a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental” (DALGALARRONDO, 2019, p. 157). Em outras palavras, tratam-se dos componentes emocionais de uma ideia. O termo designa qualquer estado de humor, sentimento ou emoção. O Quadro 3 mostra as alterações psicopatológicas da afetividade mais frequentes nos quadros de transtornos psiquiátricos. Quadro 3. Alterações psicopatológicas da afetividade. Fonte: DALGALORRONDO, 2019, p. 164. (Adaptado). Dalgalarrondo (2019, p. 277) define inteligência como “o conjunto das habilidades cognitivas do indivíduo, a resultante, o vetor final dos diferentes processos intelectivos”. Ela envolve: capacidade de identificar e resolver problemas do cotidiano; reconhecimento adequado das situações vividas; e busca de soluções para responder os desafios da adaptação biológica, social e cultural. As alterações incluem casos de deficiência intelectual, anteriormente denominado retardo mental, que se classificam em nível leve, moderado e grave. Estas alterações dificultam o pensamento abstrato e incapacitam a pessoa de se planejar e prever as consequências das próprias ações. Além disso, falta flexibilidade cognitiva e há dificuldade tanto em aprender com os erros quanto em desenvolver estratégias cognitivas diferentes. Outros transtornos mentais associados à deficiência intelectual são: os de comportamento; de desenvolvimento global; autismo; e epilepsia. ALTERAÇÕES NA VONTADE E NO AGIR O conceito de conação se refere ao conjunto de atividades psíquicas direcionadas para a ação, vontade ou o ato de agir. Ele inclui as funções conativas, os impulsos e a vontade. Os impulsos, chamados de estados motivacionais ou pulsões, representam um estado interno e afetivo. Eles induzem o indivíduo a agir com o objetivo de satisfazer uma necessidade especialmente orgânica ou biológica. Entretanto, não se deve confundi-los com instintos, que consistem em “predisposições inatas à realização de comportamentos complexos e estereotipados, compartilhados pelos animais de uma mesma espécie e que servem à conservação da vida ou à perpetuação da espécie” (CHENIAUX, 2015, p. 155). Por vontade, entende-se o processo psicológico de escolha consciente entre diversas possibilidades de ação. É uma elaboração cognitiva, realizada a partir dos impulsos e influenciada por fatores intelectuais e socioculturais. O processo volitivo ou “da vontade” se divide em quatro fases: 1. Intenção ou propósito Intimamente relacionada aos impulsos, apresenta-se como uma tendência à ação; 2. Deliberação ou análise Ponderação consciente a respeito das alternativas de ação. Nesta fase, o indivíduo analisa os aspectos positivos e negativos de alguma atitude a se tomar, bem como possíveis implicações de cada uma; 3. Decisão Escolha de uma dessas alternativas; 4. Execução Fase referente à atividade psicomotora. As alterações quantitativas da conação ou da vontade são: hipobulia e abulia. Respectivamente, significam a redução e a abolição da atividade conativa. Em ambos os casos, uma sensação de indisposição, desânimo ou falta de energia. Também é possível observar: diminuição ou perda de iniciativa; espontaneidade; interesse pelo mundo externo; dificuldade em transformar decisões em ações (indecisão); e inibição da psicomotricidade. Essas alterações acontecem frequentemente em casos de depressão e esquizofrenia, mas também podem aparecer em alguns cenários de demência ou quando há crônico uso de medicamentos neurolépticos. Alguns impulsos específicos enfraquecem na presença de distúrbios como a anorexia, que diminui ou, até mesmo, acaba com o apetite. Alterações na sede, na libido e no sono (insônia) também são debilitantes e ainda podem causar déficits nas tendências naturais à satisfação das necessidades biológicas. Já a hiperbulia se refere ao sentimento subjetivo de energia e disposição. Ela ocorre principalmente em transtornos maníacos. Nesses casos, a iniciativa, espontaneidade e o interesse do indivíduo em relação ao meio ambiente aumentam consideravelmente. Também é comum observar muita desinibição e um aumento da psicomotricidade do sujeito. Cheniaux (2015) relaciona a intensificação de impulsos específicos a um aumento patológico do apetite. É o caso da bulimia, por exemplo. Relacionada à hiperfagia (ingestão excessiva de alimentos) e à obesidade, essa intensificação é comum em: distúrbios hipotalâmicos; síndrome de abstinência do uso de anfetamina; casos de depressão; e alguns quadros de ansiedade. A hipersonia, também chamada de letargia, diz respeito ao sono excessivo e surge em casos depressão. Além disso, é um efeito colateral de medicamentos benzodiazepínicos, antipsicóticos e antidepressivos. Já o desejo sexual patologicamente aumentado é típico de casos de mania; para homens, chama-se satiríase e para mulheres, ninfomania. Atos impulsivos Para Cheniaux (2015), atos impulsivos são abruptos, incontroláveis e desprovidos de objetivo consciente. Nesses cenários, o indivíduo descarta as etapas de deliberação e decisão do processo volitivo e vai direto para a ação. Os atos ocorrem em função do aumento da impulsividade e do enfraquecimento, seja da inibição ou do refreamento. Não há planejamento de intenção, deliberação e decisão ao realizá-los; tratam-se de impulsos patológicos ou, ainda, de uma incapacidade de tolerar frustração. É importante destacar, aliás, que essas ações se tornam patológicas quando o observador não consegue compreendê-las. Alguns exemplos de comportamentos com essa característica são: heteroagressivos (direcionados a um objeto externo); autoagressivos (direcionado à própria pessoa); atos suicidas; e ataques de hiperingestão alimentar, como no caso de bulimia nervosa. É importante destacar que não se premedita comportamentos heteroagressivos impulsivos. Muitas vezes, não há motivação específica; eles simplesmente acontecem. Os casos mais graves podem resultar em homicídios. Este tipo específico de ato impulsivo é mais frequente em: transtornos de personalidade antissocial, borderline ou explosiva, e em alguns casos de surto esquizofrênico. Atos compulsivos Esses atos se resumem a ações motoras complexas que envolvem outras mais simples ou, ainda, rituais complexos. Existe um sentimento de desconforto subjetivo e uma tentativa de resistir à ação, mas um intenso alívio após realizá-la, frequentemente associado a ideias obsessivas. Observando o comportamento do indivíduo,sua iniciativa, esponteinadade, interesse e capacidade de tomar decisões, é possível examinar psiquicamente a conação. O grau de cooperação do paciente na entrevista fornece elementos para que se identifique alterações. Um bom exemplo é o negativismo, isto é, a resistência não deliberada, imotivada ou incompreensível em atender solicitações externas. Funções psíquicas superiores Existem três funções desse tipo: linguagem, pensamento e juízo de realidade. Em sua forma verbal, a linguagem é uma atividade especificamente humana e a mais característica de nossas atribuições mentais. Considerada como o principal instrumento de comunicação dos seres humanos, é fundamental na elaboração e expressão do pensamento. As funções da linguagem são: 1. Função comunicativa Garante a socialização do indivíduo; 2. Suporte ao pensamento Em sua forma evoluída, possibilita o pensamento lógico e abstrato; 3. Instrumento de expressão Expõe os estados emocionais e as vivências tanto internas quanto externas do ser humano; 4. Afirmação do Eu Auxilia na afirmação e instituição das oposições entre o Eu e o mundo, o “tu” ou os outros; e 5. Dimensão artística ou lúdica Ajuda o indivíduo a elaborar e a expressar a estética, o dramático, o sublime e o terrível. Trata-se da linguagem poética e a literatura. A linguagem também é um sistema de signos arbitrários, como o sistema linguístico e as palavras. Estes adquirem significados específicos por conta de um sistema de convenções historicamente determinado. Portanto, linguagem é uma criação social dos indivíduos e dos grupos humanos. O pensamento se forma a partir de elementos sensoriais, os quais fundamentam o processo de pensar. Em outras palavras, tratam-se de imagens perceptivas e de sua representação mental ou ideal. De acordo com Dalgalarrondo (2019), o pensamento se constitui em conceito, juízo e raciocínio. Para o autor, as dimensões do processo de pensar englobam três aspectos do pensamento. São eles: ALTERAÇÕES NA LINGUAGEM Essas alterações se relacionam a transtornos psiquiátricos primários. Logorreia A logorreia aumenta exageradamente a produção da linguagem verbal e a acelera. Essa aceleração se chama taquifasia, que se associa a quadros de mania e leva a um fluxo incessante de palavras e frases, o que pode resultar em perda da lógica no discurso. Já a loquacidade aumenta a fluência verbal, mas sem essa perda. Bradifasia A bradifasia é a alteração oposta à taquifasia. Ela leva o paciente a falar vagarosamente, as palavras seguindo umas às outras lentamente e com dificuldade. Associa-se a quadros graves, estados demenciais e esquizofrenia crônica. Mutismo O mutismo diz respeito à falta de resposta verbal por parte do paciente que, mesmo capaz, não responde ao entrevistador. Existem vários fatores cruciais associados a essa condição, desde os neurobiológicos até os psicogênicos. Nos transtornos psiquiátricos, apresenta-se como uma forma de negativismo verbal. É possível observá-lo em casos de esquizofrenia catatônica e depressão grave. Existe uma vertente dessa alteração, chamada mutismo seletivo. Comum na infância, suas causas geralmente envolvem: dificuldades de relacionamento familiar; conflitos interpessoais; frustrações; medos; ansiedade social; e timidez intensa. CANDO É possível tratar essa condição com terapia cognitiva-comportamental. O mutismo seletivo se refere a um distúrbio de ansiedade na infância, cuja característica principal é a recusa em falar com algumas pessoas. Tanto a perseveração quanto a estereotipia verbal são condições em que há “repetição automática de palavras ou trechos de frases, de modo estereotipado, mecânico e sem sentido” (DALGALARRONDO, 2019, p. 240). Por fim, têm-se a ecolalia: a repetição da última ou das últimas palavras ditas pelas pessoas do ambiente. Por exemplo, frente à pergunta “qual é o seu nome?”, o paciente fala: “nome, nome, nome”. É comum na esquizofrenia catatônica. ALTERAÇÕES NO PENSAMENTO E NO JUÍZO DE REALIDADE O processo de pensamento é a maneira como uma pessoa associa as ideias. Divide-se em modo lógico (coerente) e ilógico (incoerente). Algumas alterações psicopatológicas afetam a forma do pensamento. São elas: “Fuga” de ideias O indivíduo não consegue ter um pensamento lógico por muito tempo; Neologismo Criação de palavras inexistentes na linguagem com o objetivo de se referir às suas próprias ideias; Lentificação ou aceleração do pensamento Opostos relacionados ao ritmo do pensamento; e “Roubo” de pensamento Sensação de que seres ou entidades se apossam das suas ideias. Já as alterações referentes ao conteúdo do pensamento se relacionam às crenças, assuntos, temas, preocupações e obsessões da pessoa; são os chamados delírios. De forma geral, tratam-se de falsos juízos de realidade. Juízo, por sua vez, é a afirmação de uma relação entre dois conceitos. Sua função básica é formular uma relação entre um sujeito e um predicado. Cheniaux (2015) afirma que o delírio nada mais é do que uma alteração do processo de formação de juízos de realidade, pois são eles que nos permitem distinguir o que é real do que é fruto da imaginação. Vale a pena ressaltar que nem todos os juízos falsos são patológicos. É o caso do erro, por exemplo. O que diferencia os juízos dos delírios é a sua origem, seja ela: ignorância; julgamento apressado; ou premissas falsas. É possível corrigir um juízo falso com dados da realidade, mas não um delírio. Este se caracteriza pela certeza subjetiva e absoluta e mesmo fatos não são capazes de modificá-lo. Cheniaux (2015) divide os delírios em: ideias delirantes, que ocorrem na imaginação do indivíduo; e percepções delirantes, que são verdadeiras, mas a pessoa as interpreta de forma anormal. O Quadro 4 classifica os delírios de acordo com os temas de seu conteúdo. Semiologia médica e psicopatológica Para Dalgalarrondo (2019), a semiologia, em um sentido geral, é a ciência dos signos e não se restringe apenas à medicina, psiquiatria ou psicologia. O autor a entende como um campo de grande relevância seja para o estudo de: linguagem, no caso da semiótica linguística; música (semiologia musical); artes; e quaisquer outros campos de conhecimento e atividades humanas que estudam a interação e a comunicação entre duas pessoas por meio de um sistema de signos. SEMIOLOGIA MÉDICA Essa vertente da medicina estuda os sintomas e os sinais das enfermidades. Ao dominá-la, o profissional de saúde torna-se capaz de: identificar as alterações físicas e mentais; classificar os fenômenos; e estabelecer diagnósticos e intervenções terapêuticas adequadas a cada caso. A semiologia geral, por outro lado, não se relaciona a essa área, pois o signo transcende a esfera da linguagem. Afinal, ele inclui comportamentos não verbais, como gestos, atitudes e sinais matemáticos ou musicais. O signo é o elemento central da semiologia. Trata-se de um tipo de sinal ou um estímulo emitido pelos objetos do mundo. Portanto, tem significado. A fumaça sinaliza fogo, por exemplo, e as cores vermelho, amarelo e verde nos semáforos, mensagens que regulamentam o trânsito. Figura 3. Semáforo ou farol de trânsito. Fonte: WIKIMEDIA, 2007. Acesso em: 21/08/2021. Voltando à semiologia médica, enquanto a febre pode sinalizar uma infecção, a fala extremamente rápida e fluente pode indicar a aceleração do pensamento em alguns quadros maníacos. Os signos das dimensões médica e psicopatológica da semiologia indicam a existência de sofrimento mental, transtornos e patologias. De acordo com Dalgalarrondo (2019), os sinais comportamentais objetivos são os signos de maior interesse para a psicopatologia e o profissional de saúde pode verificá-los ao observar o paciente diretamente. Além disso, o autor afirma que é possível reconhecer os sintomasdo indivíduo. Para isso, basta se atentar tanto ao que ele vive subjetivamente e relata quanto às suas queixas e narrativas, independente da forma como são experimentadas e comunicadas. Há outra definição de sintomas e sinais. Nesse caso, os objetivos, observados pelo examinador, diferenciam-se dos subjetivos, percebidos somente pelo paciente. Os dados elementares de doenças, provocados pelo examinador, são os sinais. É o caso do reflexo de Babinski no recém-nascido, por exemplo. Nesse exame, o profissional de saúde pressiona o espaço abaixo dos dedos do pé para que o reflexo se manifeste. Já o símbolo é diferente de um signo ou sinal. O elemento significante e o objeto ausente, ou seja, seu significado, distinguem-se em aparência e não possuem relação de contiguidade. Em outras palavras, não há relação direta entre eles. Há, porém, uma relação dada de forma convencional e arbitrária. Um bom exemplo é o conjunto de letras agrupadas “C-A-S-A” e o objeto “casa”: não existe semelhança visual ou qualquer outro tipo de relação além da estabelecida por convenção. O sentido e o valor de um símbolo dependerão somente das relações que ele mantém com elementos de outro sistema simbólico, uma vez que eles dependem da ausência ou presença de outros símbolos, cujos significados se aproximem ou sejam antagônicos ao primeiro. NOSOLOGIA E SEMIOLOGIA PSICOPATOLÓGICA Dado que a psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano, é possível diagnosticar as enfermidades por diversos meios. Segundo Dalgalarrondo (2019), o diagnóstico sindrômico parte da avaliação dos sinais e sintomas e os encaixa em um todo coerente. O objetivo é estabelecer, entre eles, um significado que revelará possíveis causas da doença em questão. Um dos pilares da medicina moderna é a nosologia, que trata das enfermidades em geral e as classifica do ponto de vista explicativo. Já a psicopatologia nosológica fenomenológica se baseia na descrição dos fenômenos psíquicos à medida que são observados e relatados. O principal objetivo da fenomenologia é descrever o que o indivíduo vive e relata sem nenhuma interpretação do profissional. Para Dalgalarrondo (2019), a semiologia psicopatológica estuda os sinais e sintomas dos transtornos mentais e se relaciona intimamente com a linguística. Sintomas médicos e psicopatológicos possuem dupla dimensão, pois atuam como signos. Quando relatados pelo paciente, por seu meio cultural ou pelo médico, passam a ser “símbolos linguísticos”. Ao receber determinado nome, o sintoma “ganha” o status de símbolo. Ou seja, torna-se um signo linguístico arbitrário. Ele faz parte de uma cultura e é preciso compreendê-lo no contexto de um sistema simbólico. EXEMPLIFICANDO É possível compreender a forma com que a psicopatologia interpreta o signo linguístico em universo cultural com base na maneira com que os pacientes descrevem a sensação de angústia. Os sintomas físicos se manifestam pela sensação de mãos geladas, tremores e aperto na garganta, o que indica disfunção do sistema nervoso autônomo. Alguns pacientes podem descrevê-los como uma “gastura”, por exemplo. O sentido e o valor de um símbolo dependerão somente das relações que ele mantém com elementos de outro sistema simbólico, uma vez que eles dependem da ausência ou presença de outros símbolos, cujos significados se aproximem ou sejam antagônicos ao primeiro. Transtornos psicopatológicos ou psiquiátricos Apesar de os sistemas de classificação de doenças, DSM-IV e CID-10, identificarem e descreverem os transtornos mentais específicos de forma clara, Dalgalarrondo (2019) afirma que a perspectiva sindrômica é muito útil para a avaliação diagnóstica. Os sinais e sintomas que ocorrem de forma recorrente em um indivíduo se chamam transtornos psicopatológicos. Causados por diversos fatores, é possível observá-los na prática clínica cotidiana. EXPLICANDO Identificar os transtornos psicopatológicos é a primeira etapa para orientar a observação psicopatológica dos sinais e dos sintomas dos pacientes. É necessário organizar e caracterizar os sinais e sintomas em situações clínicas, de modo que se formule hipóteses diagnósticas em relação aos transtornos mentais específicos, de acordo com os sistemas internacionais de diagnóstico e classificação (DSM-IV e CID-10). DESCRIÇÃO DOS TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS Dalgalarrondo (2019) classifica os transtornos psiquiátricos em 11 categorias, cada uma com características e aspectos centrais próprios. // Transtornos ansiosos Dividem-se em dois grandes grupos: 1 Quadros em que a ansiedade é constante e permanente, como na ansiedade generalizada, livre e flutuante; e 2 Quadros em que há cser_educacionals de ansiedade abruptas com variação de intensidade, como as cser_educacionals de pânico. Vale a pena ressaltar que, caso elas ocorram de modo repetitivo, denominam-se “transtorno de pânico”. // Transtornos depressivos O humor triste e a falta de energia mental, conhecida como desânimo, são os sinais e sintomas mais característicos desses transtornos. Entretanto, ainda existe uma multiplicidade de sintomas, relativos tanto à autovaloração quanto à vontade e psicomotricidade envolvidas. Em casos graves de depressão, podem aparecer sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. Ainda, é possível observar alteração psicomotora marcante, como lentificação ou estupor. Estes transtornos são um problema de saúde pública. Afinal, dentre as condições de saúde mental alterada, a depressão é a principal causa de incapacidade. // Transtornos maníacos Na maioria dos casos, as funções psíquicas do paciente se aceleram intensamente, chamados de taquipsiquismos. São eles: falar em excesso ou em velocidade excessivamente rápida; irritabilidade; e euforia. Para Belmaker (2004 apud DALGALARRONDO, 2019), a alegria patológica (euforia) e a expansão do eu (elação) são os sintomas básicos da condição maníaca. Dentro dos transtornos maníacos, os subtipos bipolares apresentam mais distinções em relação aos sintomas. Esses transtornos levam a episódios de mania e depressão durante um certo tempo, mas se alternam com períodos de remissão, sem sintomas mais intensos. Esses subtipos são: Transtorno bipolar tipo I Episódios depressivos que variam de leves a graves, intercalados com fases de remissão e mania; Transtorno bipolar tipo II Episódios depressivos que variam de leves a graves, intercalados com fases de remissão e hipomania; e Transtorno afetivo bipolar de tipo ciclador Episódios depressivos que variam de leves a graves, intercalados com fases de remissão, mania e com períodos de tempo mais curtos entre eles. O paciente deve apresentar, no mínimo, quatro episódios de mania e depressão em um período de 12 meses. // Quadros neuróticos Esses quadros se dividem em transtornos fóbicos, obsessivos, histéricos e de conversão somática. De acordo com Dalgalarrondo (2019), o DSM-IV suprimiu o conceito de neurose e o substituiu por transtornos: de ansiedade generalizada; de pânico; de estresse pós-traumático; fóbicos; obsessivo-compulsivos; dissociativos; conversivos; e de somatização. Na CID-10, por outro lado, o conceito permanece. Para o autor, a angústia se encontra no cerne da neurose e leva à vivência dos conflitos humanos fundamentais de maneira dolorosa e recorrente. // Transtornos de agitação e de estupor e lentificação psicomotora Tratam-se de transtornos de agitação psicomotora e de estupor e lentificação psicomotora. É possível observar: aceleração acentuada da esfera motora; aumento da excitabilidade; e agitação de andar de um lado para outro, gesticular muito ou inquietar-se constantemente. // Transtornos psicóticos A principal forma de psicose é a esquizofrenia. Os sintomas dos quadros do espectro dessa e outras psicoses incluem: alucinações;delírios; pensamento desorganizado; e comportamentos bizarros, como fala e risos imotivados. O sintoma mais comum é a paranoia, como nas ideias delirantes e nas alucinações auditivas de conteúdo persecutório (perseguição). Ao contrário de outros quadros, como demência, delirium ou deficiência mental grave, esses casos apresentam uma profunda desorganização tanto da vida mental quanto do comportamento. // Transtornos relacionados ao consumo de alimentos Transtornos alimentares, como a anorexia nervosa, caracterizam-se pela perda de peso autoinduzida e pela abstenção da ingestão de alimentos que engordam. Ainda, é possível comportamentos específicos, como: autoindução de vômitos; exercícios físicos em excesso; e anorexígenos ou diuréticos. Normalmente, o objetivo consiste em alcançar padrões de magreza e há um medo intenso e patológico de se sentir ou parecer gordo(a). Para Wadden (1995 apud DALGALARRONDO 2019), a distorção da imagem corporal é a principal característica da anorexia nervosa, pois, apesar de a pessoa estar muito magra, percebe-se como muito gorda. Esse transtorno, no caso do subtipo purgativo, envolve a ingestão compulsiva de alimentos, seguidos de vômitos e/ou outros métodos compensatórios. De acordo com o autor, a obesidade é um transtorno complexo, mais frequente em mulheres com baixo nível socioeconômico de sociedades industrializadas e urbanas e em culturas nas quais a atividade física não é predominante. Uma multiplicidade de fatores influencia na instalação e na manutenção dos transtornos alimentares, dos quais os principais são: genéticos; psicológicos; familiares; e socioculturais. // Transtornos relacionados a substâncias psicoativas Caracterizados pela relação particular que se desenvolve entre indivíduos e substâncias que agem especificamente sobre o psiquismo e o sistema nervoso central, os quadros desse tipo de transtorno são: Intoxicação Condição específica que altera comportamentos, capacidade mental, nível de consciência e outros aspectos cognitivos. Além disso, substâncias psicoativas causam beligerância, agressividade e instabilidade de humor; Abuso De acordo com a Organização Mundial da Saúde (1993 apud DALGALARRONDO, 2019), o uso nocivo de uma substância psicoativa se refere a um padrão que prejudica a saúde, tanto física, como é o caso da hepatite alcoólica e bronquite por tabagismo, quanto mental, como a depressão associada ao consumo de álcool; e Dependência O termo “fissura” (craving, em inglês) se refere ao desejo incessante e intenso de usar uma substância. “Tolerância” diz respeito à diminuição do efeito dela após o uso repetido devido à necessidade do organismo de ingerir doses cada vez maiores para experimentar o mesmo efeito. Cada substância produz diferentes sinais e sintomas de abstinência. Entretanto, é comum observar: ansiedade; inquietação; náuseas; tremor; sudorese; convulsões; coma; e, em casos extremos, morte. // Parafilias De acordo com Brown (2019), os transtornos parafílicos são considerados como as fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e excitantes sexualmente que levam ao sofrimento ou à incapacitação e que envolvem objetos inanimados, crianças ou outros adultos não consentidores, causando sofrimento e/ou humilhação de si mesmo ou do parceiro, com alto potencial de ocorrência de dano. O padrão de excitação sexual perturbado geralmente apresenta-se muito bem desenvolvido antes da puberdade. Pelo menos três processos estão envolvidos: Entende-se que a ansiedade ou traumas emocionais precoces podem interferir no desenvolvimento psicossexual adequado (BROWN, 2019); O padrão adequado de excitação é substituído por outro e, em alguns casos, por exposição precoce a experiências com alta carga sexual, reforçando experiências de prazer sexual; A excitação sexual adquire elementos simbólicos e condicionados, como no caso do fetiche, que é um objeto de excitação escolhido devido a uma associação à curiosidade, desejo e excitação sexual. Em geral, as parafilias são muito mais comuns entre os homens, sendo as mais comuns: Pedofilia; Voyeurismo; Exibicionismo; Transtorno masoquista sexual; Transtorno sadista sexual. Parafilias como a pedofilia e a necrofilia, além de todas que envolvam o não consentimento da outra parte envolvida, são ilegais e podem levar à prisão (BROWN, 2019). // Transtornos relativos ao sono De acordo com Tavares (2007 apud DALGALARRONDO, 2019), o padrão e a necessidade de sono variam bastante entre os indivíduos. Afinal, alguns se sentem descansados dormindo cinco horas por noite e outros precisam de mais de dez horas de sono para se sentirem ativos durante o dia. A Classificação Internacional dos Transtornos do Sono (ICSD-2) lista mais de 80 transtornos do sono. Entretanto, é possível organizá-los em três eixos: // Transtornos neurocognitivos Os transtornos demenciais, confusionais agudos (delirium) e psico-orgânicos possuem uma etiologia orgânica identificável. É a psicopatologia que as estuda, pois suas manifestações clínicas se constituem, predominantemente, em sintomas mentais e comportamentais. SINTETIZANDO Conforme Dalgalarrondo (2019) demonstra, vimos que a psicopatologia estuda as funções psíquicas elementares e suas alterações a fim de compreender profundamente os processos que fazem parte da vida psíquica, tanto patológica quanto normal, bem como da autonomia e da inter-relação desses fenômenos no comportamento do indivíduo. Entende-se como elementares as seguintes funções psíquicas: consciência; atenção; orientação e vivência de espaço e tempo; e vontade e o ato de agir dos indivíduos, bem como suas respectivas alterações patológicas, isto é, disfuncionais. A fim de organizar a apresentação das funções psíquicas, distinguimos as funções elementares das superiores, as quais incluem linguagem, pensamento e juízo de realidade. Além disso, analisamos detalhadamente suas respectivas alterações patológicas. Também abordamos a semiologia médica e psicopatológica. Com base nos ensinamentos de Dalgalarrondo (2019), definimos semiologia como a ciência que estuda os signos e símbolos. Ela não se restringe apenas à psiquiatria ou à psicologia; na verdade, ela é muito importante na área da linguagem semiótica linguística, nas artes e em qualquer área que estude comunicação por meio de um sistema de signos. Por fim, apresentamos os principais transtornos psicopatológicos ou psiquiátricos, com definições e descrições de cada uma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROWN, G. R. Visão geral dos transtornos parafílicos. Manual MSD, Tennessee, jul. 2019. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos- psiqui%C3%A1tricos/sexualidade-disforia-de-g%C3%AAnero-e-parafilias/vis%C3%A3o-geral-dos- transtornos-paraf%C3%ADlicos>. Acesso em: 28 set. 2021. CHENIAUX, E. Manual de psicopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2019. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/sexualidade-disforia-de-g%C3%AAnero-e-parafilias/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-paraf%C3%ADlicos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/sexualidade-disforia-de-g%C3%AAnero-e-parafilias/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-paraf%C3%ADlicos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/sexualidade-disforia-de-g%C3%AAnero-e-parafilias/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-paraf%C3%ADlicos