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Prof. Dr. Rafael Salgado UNIDADE II Microbiologia e Micologia Básica São conhecidas mais de 100 mil espécies de fungos; no entanto, apenas, cerca de 200 são consideradas patogênicas aos seres humanos e aos animais. Na ultima década, a incidência de infecções fúngicas importantes tem aumentado. Essas infecções estão ocorrendo em unidades de cuidados da saúde e em indivíduos imunocomprometidos. Fungos Os fungos decompõem a matéria vegetal morta. Os seres humanos utilizam os fungos para o consumo (cogumelos), e na produção de alimentos (pão e ácido cítrico) e fármacos (álcool e penicilina). Fonte: https://pixabay.com/images/id-1720886/ Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/uma-maca-podre-coberta-de-mofo-e- bolor-comida-estragada-fungo-e-mofo-destruiu-uma-maca-madura-durante-uma- violacao-de-armazenamento- closeup_12721685.htm#page=1&query=ma%C3%A7a%20fungo&position=14 Os fungos são organismos eucariontes, portanto apresentam uma organização típica destes organismos, compreendida, essencialmente, pela sua organização celular, presença de núcleo e de membrana nuclear envolvendo-o. Fungos foram, durante muito tempo, classificados como integrantes do reino Plantae. Hoje, estão classificados separadamente no chamado reino Fungi. Micologia Geral Núcleo DNA Citoplasma Ribossomos Complexo de Golgi Membrana plasmática Mitocôndria Parede celular São organismos heterotróficos, ou seja, não são capazes de produzir o seu próprio alimento e se alimentam da matéria orgânica; são encontrados em grande proporção no solo colaborando nos ciclos dos elementos. Fonte: Adaptado de: https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/produ caovegetal/everloncidrigobelo3646/micorriza.pdf O estudo dos fungos é chamado de micologia, a partir da descrição das estruturas que permitem a sua identificação, assim como os seus ciclos de vida e as suas necessidades nutricionais. Fungos filamentosos e leveduras. Micologia Geral Fungos Bactérias Tipo de célula Eucarionte Procarionte Membrana celular Esteróis presentes Esteróis ausentes Parede celular Glicanos, mananas e quitinas Peptideoglicano Esporos Esporos reprodutivos Endósporos Metabolismo Heterótrofo Aeróbio Anaeróbio facultativo Heterótrofo Autótrofo Aeróbio Anaeróbio Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 321. O talo (corpo) de um fungo filamentoso consiste em longos filamentos de células conectadas, esses filamentos são chamadas de hifas. As hifas podem crescer até proporções imensas. Na maioria dos bolores, as hifas contêm paredes cruzadas, chamadas de septos, que dividem as hifas em unidades semelhantes às células uninucleadas distintas. Essas hifas são chamadas de hifas septadas. Em algumas poucas classes de fungos, as hifas não contêm septos, e apresentam células longas e contínuas com muitos núcleos, denominadas hifas cenocíticas. Fungos filamentosos Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 321. A porção de uma hifa que obtém nutrientes é chamada de hifa vegetativa; a porção envolvida com a reprodução é a hifa reprodutiva ou aérea, assim chamada porque se projeta acima da superfície do meio no qual o fungo está crescendo. Fungos filamentosos Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 322. Micélio. Hifa aérea Hifa aérea Hifa vegetativa São fungos unicelulares, não filamentosos, geralmente, esféricos ou ovais. Da mesma forma que os fungos filamentosos, as leveduras são amplamente distribuídas na natureza. As leveduras de brotamento, dividem-se de forma desigual. Leveduras Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 323. No brotamento, a célula parental forma uma protuberância (broto) em sua superfície externa. À medida em que o broto se alonga, o núcleo da célula parental divide-se, e um dos núcleos migra para o broto. O material da parede celular é, então, sintetizado entre o broto e a célula parenteral. Célula parental Cicatriz do broto Broto Uma célula de levedura pode produzir mais de 24 células-filhas por brotamento. Algumas leveduras produzem brotos que não se separam uns dos outros; esses brotos formam uma pequena cadeia de células, denominada pseudo-hifa. Candida albicans adere-se às células epiteliais humanas na forma de levedura, mas requer pseudo-hifas para invadir os tecidos profundos. Leveduras Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 597. (a) Candida albicans Clamidoconídios Pseudo-hifas Blastoconídios As leveduras de fissão, dividem-se produzindo duas novas células iguais. Durante a fissão, a célula parental alonga-se, o seu núcleo divide-se e duas células-filhas são produzidas. As leveduras são capazes de realizar crescimento anaeróbio facultativo, o que permite que esses fungos sobrevivam em vários ambientes. Se houver acesso ao oxigênio, as leveduras respiram aerobiamente para metabolizar carboidratos, formando dióxido de carbono e água; na ausência de oxigênio, elas fermentam os carboidratos, e produzem etanol e dióxido de carbono. Essa fermentação é usada na fabricação de cerveja e vinho, e nos processos de panificação. Leveduras Fonte: https://br.freepik.com/fotos- premium/ilustracao-3d-de-divisao-celular- transparente-de-fissao- binaria_8973872.htm#page=1&query=fiss% C3%A3o%20bin%C3%A1ria&position=0 Alguns fungos, particularmente as espécies patogênicas, exibem dimorfismo – duas formas de crescimento. Esses fungos podem crescer tanto na forma de fungos filamentosos quanto na forma de levedura. A forma de fungo filamentoso produz hifas aéreas e vegetativas; a forma de levedura se reproduz por brotamento. Fungos dimórficos O dimorfismo em fungos patogênicos é dependente da temperatura: a 37 ºC, o fungo apresenta forma de levedura, e a 25 ºC, forma de bolor. Variação: concentração de CO2. Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 323. Crescimento leveduriforme Crescimento filamentoso Os fungos, normalmente, crescem melhor em ambientes com pH próximo a 5, que é muito ácido para o crescimento da maioria das bactérias comuns. Quase todos os fungos filamentosos são aeróbios. A maioria das leveduras é anaeróbia facultativa. A maioria dos fungos é mais resistente à pressão osmótica do que as bactérias; muitos, por conseguinte, podem crescer em concentrações relativamente altas de sal ou açúcar. Os fungos podem crescer em substâncias com baixo grau de umidade, geralmente, tão baixo que impede o crescimento de bactérias. Os fungos requerem menos nitrogênio para um crescimento equivalente ao das bactérias. Adaptações nutricionais Os fungos são, frequentemente, capazes de metabolizar carboidratos complexos, como a lignina (componente da madeira). Essas características permitem que os fungos se desenvolvam em substratos improváveis, como paredes de banheiro, couro de sapatos e jornais velhos. Um líquen é a combinação de uma alga verde (ou cianobactéria) com um fungo. Os líquens fazem parte do reino Fungi e são classificados de acordo com o seu parceiro fúngico. Os dois organismos existem em uma relação mutualística. Líquens Os líquens podem ser agrupados em três categorias morfológicas. Os líquens crustosos crescem incrustados no substrato, os líquens foliosos são mais parecidos com folhas, e os líquens fruticosos possuem projeções semelhantes a dedos. A hifa fúngica cresce ao redor das células da alga, e contribui para a fixação e na formação de uma camadaprotetora. Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 332. Os fungos constituem o reino Fungi, no qual se enquadram espécies, como: os cogumelos, os bolores, as orelhas-de-pau e as leveduras. Assinale a alternativa que descreva os fungos corretamente: a) São seres procariontes. b) Os bolores são unicelulares. c) As leveduras são pluricelulares. d) São organismos autótrofos. e) As hifas cenocíticas não apresentam septos. Interatividade Os fungos constituem o reino Fungi, no qual se enquadram espécies, como: os cogumelos, os bolores, as orelhas-de-pau e as leveduras. Assinale a alternativa que descreva os fungos corretamente: a) São seres procariontes. b) Os bolores são unicelulares. c) As leveduras são pluricelulares. d) São organismos autótrofos. e) As hifas cenocíticas não apresentam septos. Resposta Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 321. Os fungos filamentosos podem reproduzir-se assexuadamente pela fragmentação de suas hifas. Além disso, tanto a reprodução sexuada quanto a assexuada em fungos ocorrem pela formação de esporos. Inclusive, os fungos, normalmente, podem ser identificados pelo tipo de esporo. Ciclo de vida Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 321. Os esporos de fungos são completamente diferentes dos endósporos de bactérias, processo não reprodutivo. Entretanto, após um fungo filamentoso formar um esporo, o mesmo se separa da célula parental e germina, originando um fungo filamentoso; ou seja, apresenta crescimento a partir do esporo. Os esporos assexuados são formados pelas hifas de um organismo. Quando esses esporos germinam, tornam-se organismos geneticamente idênticos ao parental. Os esporos sexuados resultam da fusão de núcleos de duas linhagens opostas de cruzamento de uma mesma espécie de fungo, sendo produzidos com menor frequência do que os esporos assexuados. Os organismos que crescem a partir de esporos sexuados apresentarão características genéticas de ambas linhagens parentais. Ciclo de vida Os esporos assexuados são gerados por mitose e pela posterior divisão celular; não há a fusão de núcleos de células. Dois tipos de esporos assexuados são produzidos pelos fungos. Um tipo é o conidiósporo, ou conídio, um esporo unicelular ou multicelular que não é envolvido por uma bolsa. Os conídios são produzidos em cadeias na extremidade do conidióforo. Esses esporos são produzidos por Penicillium e Aspergillus. Ciclo de vida Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 324. Conídio Conidióforo Os conídios formados pela fragmentação de uma hifa septada em células únicas, levemente espessas, são chamadas de artroconídios. Uma espécie que produz esses esporos é o Coccidioides immitis. Ciclo de vida Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 324. O blastoconídio é formado a partir de um broto originado de uma célula parental. Esses esporos são encontrados em algumas leveduras. Artroconídio Pseudo-hifa Blastoconídio Um clamidoconídio é um esporo de paredes espessas, formado pelo seu arredondamento e alargamento no interior de um segmento de hifa. Ciclo de vida Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 324. O outro tipo de esporo assexuado é o esporangiósporo, formado no interior de um esporângio, ou bolsa, na extremidade de uma hifa aérea, chamada de esporangióforo. Clamidoconídio Esporangióforo Esporangiósporos Um esporo sexuado fúngico resulta da reprodução sexuada, que consiste em três etapas: Plasmogamia: um núcleo haploide de uma célula doadora (+) penetra no citoplasma de uma célula receptora (-); Cariogamia: os núcleos (+) e (-) fundem-se formando um núcleo zigótico diploide; Meiose: o núcleo diploide origina um núcleo haploide, esporos sexuados, dos quais alguns podem ser recombinantes genéticos. Ciclo de vida Reprodução sexuada Plasmogamia (fusão do citoplasma) Cariogamia (fusão de núcleos) Meiose (esporos) Germinação Reprodução assexuada Os zigomicetos ou fungos de conjugação, são fungos filamentosos saprofíticos que apresentam hifas cenocíticas. Um exemplo é o Rhizopus stolonifer, o conhecido mofo preto do pão. Esporos sexuados: zigósporos. Fungos de importância médica Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 325. 1 Esporangiósporo Os esporos germinam, produzindo hifas. 3 4 Crescimento do micélio vegetativo. Esporângio Esporangióforo Uma hifa aérea produz um esporângio. O esporângio rompe-se para a liberação dos esporos. 2 Reprodução assexuada Reprodução sexuada 5 Os gametas formam-se na extremidade de uma hifa. Formação do zigósporo. 6 7 8 9 11 Os esporos germinam, produzindo hifas. Os esporos são liberados do esporângio. 10 O zigoto produz um esporângio. Cariogamia e meiose. Zigosporângio contendo um zigósporo Esporangiósporo Os ascomicetos incluem fungos com hifas septadas e algumas leveduras. Seus esporos assexuados, normalmente, são conídios. Um ascósporo forma-se com os núcleos de duas células. Estrutura em forma de saco, chamado de asco. Fungos de importância médica Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 327. 1 3 4 2 Uma hifa produzem conidióforos. Os conidióforos são liberados de um conidióforo. O conídio germina, produzindo uma hifa. Crescimento do micélio vegetativo. Reprodução assexuada Reprodução sexuada Conídios 5 6 7 89 Conidióforo Ascósporo Plasmogamia. Cariogamia. Asco Meiose seguida de mitose. O asco abre-se para a liberação dos ascósporos. O ascósporo germina, produzindo uma hifa. Os basidiomicetos ou fungos em clava, também possuem hifas septadas. Os basidiósporos são formados externamente em um pedestal, chamado de basídio. Este filo inclui fungos que produzem cogumelos. Fungos de importância médica Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 327. 1 3 2 Reprodução assexuada Reprodução sexuada 5 6 789 4 Plasmogamia. Desenvolvimento de uma estrutura de frutificação (“cogumelo”). Crescimento do micélio vegetativo. Um fragmento de hifa desprende-se do micélio vegetativo. O fragmento cresce, produzindo um novo micélio. Os basidiósporos germinam, produzindo hifas. Os basidiósporos são liberados. Basidiósporos maduros. Basidiósporos são formados por meiose. Basidium Os microsporídios são eucariotos incomuns, não possuem mitocôndrias e microtúbulos, e são parasitos intracelulares obrigatórios. Reprodução sexuada, provavelmente, acontece no interior da célula. Fungos de importância médica Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 325. 1 3 2 45 6 Reprodução assexuada Os esporos são ingeridos ou inalados. O esporo injeta um tubo polar na célula hospedeira. Célula hospedeira Novos esporos são liberados.Esporos maduros Vacúolo O citoplasma fragmenta-se ao redor dos núcleos formando os esporos. O citoplasma cresce, e o núcleo se reproduz. O citoplasma e o núcleo penetram na célula hospedeira. Os fungos apresentados, até agora, são telemorfos, isto é, eles produzem esporos sexuados e assexuados. Alguns ascomicetos perderam a capacidade de se reproduzir sexuadamente. Essesfungos assexuados são chamados de anamorfos. Historicamente, os fungos cujo ciclo sexuado ainda não havia sido observado, eram colocados em uma “categoria de espera” denominada Deuteromycota. O principal efeito dos deuteromicetos em humanos é a dermatomicose. Fungos de importância médica Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 596. (a) Tinha (Tinea barbae). (b) Pé de atleta (Tinea pedis). Os fungos filamentosos apresentam diferentes tipos de reprodução baseados na formação de esporos. Assinale a alternativa correta: a) Os esporos sexuados geram organismos idênticos às células parentais. b) Os esporos assexuados geram organismos com características de ambas linhagens parentais. c) O esporangiósporo é um tipo de esporo assexuado. d) A plasmogamia é o processo de fusão do citoplasma em esporos assexuados. e) A cariogamia gera um núcleo haploide. Interatividade Os fungos filamentosos apresentam diferentes tipos de reprodução baseados na formação de esporos. Assinale a alternativa correta: c) O esporangiósporo é um tipo de esporo assexuado. Resposta Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 324. Esporangiósporos Esporangióforo Qualquer infecção fúngica é chamada de micose. As micoses, geralmente, são infecções crônicas (de longa duração), uma vez que os fungos apresentam um crescimento lento. As micoses são classificadas em cinco grupos, de acordo com o grau de envolvimento tecidual e o modo de entrada do hospedeiro: sistêmica, subcutânea, cutânea, superficial e oportunista. Micoses sistêmicas são infecções fúngicas profundas no interior do corpo. Não se restringem a nenhuma região particular, mas podem afetar vários tecidos e órgãos. Normalmente, são causadas por fungos que vivem no solo. Os esporos são transmissíveis por inalação; essas infecções, em geral, iniciam nos pulmões e, em seguida, disseminam-se a outros tecidos. Doenças fúngicas Micoses subcutâneas são infecções fúngicas localizadas abaixo da pele causadas por fungos saprofíticos que vivem no solo e na vegetação. A infecção ocorre por implantação direta dos esporos ou de fragmentos de micélio em uma perfuração na pele. Os fungos que infectam apenas a epiderme, o cabelo e as unhas são chamados de dermatófitos, e as suas infecções são denominadas dermatomicoses ou micoses cutâneas. A infecção é transmissível entre os seres humanos, por contato direto. Os fungos que causam as micoses superficiais estão localizados ao longo dos fios de cabelo e nas células epidérmicas superficiais. Essas infecções são prevalentes em climas tropicais. Em geral, um patógeno oportunista é inofensivo em seu hábitat normal, porém, pode se tornar patogênico em um hospedeiro que se encontra debilitado. Doenças fúngicas Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 596. (a) Tinha (Tinea barbae). (b) Pé de atleta (Tinea pedis). A histoplasmose é caracterizada por lesões pulmonares, porém, os patógenos podem disseminar-se no sangue e na linfa. Os sintomas são mal definidos e subclínicos, como uma infecção respiratória leve. Em alguns casos, se torna uma doença grave e generalizada. Restrição geográfica: acúmulo de fezes de aves e morcegos. Micoses sistêmicas Histoplasma capsulatum. Fungo dimórfico (nos tecidos, forma leveduriforme; no solo, micélio filamentoso). No corpo, é encontrada intracelularmente em macrófagos, onde sobrevive e se multiplica. Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 698. Macroconídios Microconídios Outra doença pulmonar fúngica, bastante restrita geograficamente, é a coccidioidomicose. O agente causador é o Coccidioides immitis, um fungo dimórfico. Em tecidos, o organismo forma um corpo de paredes espessas preenchido por endósporos, chamado de esférula. No solo, forma filamentos que se reproduzem pela formação de artroconídios. Micoses sistêmicas A maioria da infecções não é aparente, e quase todos os pacientes se recuperam em poucas semanas. Os sintomas incluem dor torácica e, talvez, febre, tosse e perda de peso. Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 699. Um artroconídio (cerca de 5 µm de comprimento) germina em uma hifa tubular. 1 Hifa tubular A hifa inicia a sua segmentação em artroconídio. 2 Os artroconídio separam-se da hifa Alguns artroconídios espalham-se pelo ar Um artroconídio veiculado pelo ar é inalado. 3 Alguns artroconídios retornam para o solo Os endósporos liberados disseminam-se nos tecidos – cada um se desenvolvendo em uma nova esférula O artroconídio inalado aumenta de tamanho e se desenvolve em uma esférula. 4 Esférula no tecido (cerca de 30 µm de diâmetro) Endósporos desenvolvem-se dentro da esférula. 5 6 A esférula libera os endósporos. Seres humanos Solo A paracoccidioidomicose, doença causada pela infecção por Paracoccidioides brasiliensis, é uma micose de início pulmonar rápido, porém, pode provocar manifestações na pele, mucosas e gânglios. É uma doença que se estabeleceu de forma predominante na América Latina, sobretudo, no Brasil. O mecanismo de transmissão e penetração no organismo se dá através das vias respiratórias. Apresenta uma variedade infecciosa e outra patológica, a partir de infecção primária ou reativação; os propágulos infectantes chegam à via aérea inferior, com a possível disseminação do fungo por via linfática e hematogênica para outros órgãos. Micoses sistêmicas O paciente pode apresentar diferentes quadros de sinais e sintomas, como lesões cutâneas granulosas, ulcerativas e fibrose na língua, linfadenopatia e ulceração nasal. Fonte: https://www.chegg.com/flashcards/dimorphic- ca314ba0-d308-4e22-a80f-3c4f3fdc8738/deck A blastomicose é a doença causada pelo Blastomyces dermatidis cujo reservatório é o solo, e a madeira em decomposição é o agente de uma infecção crônica, granulomatosa purulenta. Acomete o homem, principalmente os trabalhadores de áreas rurais e animais domésticos (cães). A infecção ocorre após a inalação de conídios e/ou por inoculação traumática, podendo causar lesões nos pulmões, pele, mucosas, ossos, articulações e sistema geniturinário. Micoses sistêmicas Fonte: https://pin.it/4ifT9PKFonte: ORTEGA-LOAYZA, A. G.; NGUYEN, T. (2013). Cutaneous blastomycosis: a clue to a systemic disease. Anais Brasileiros de Dermatologia, 88(2), 287-289. Micoses subcutâneas, normalmente, são causadas por fungos que habitam o solo, em especial aqueles ricos em vegetação em decomposição, e podem penetrar na pele por pequenas aberturas, como ferimentos, que permitem a sua entrada no tecido subcutâneo. As micoses subcutâneas são mais graves do que as micoses cutâneas. A doença mais comum desse tipo é a esporotricose, causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenkii. A infecção, frequentemente, forma uma pequena úlcera nas mãos. Micoses subcutâneas Fonte: http://cmqv.org/esporotricose-humana-sintomas- causas-prevencao-diagnostico-e-tratamento/ Fonte: Adaptado de: http://cmqv.org/esporotricose-humana-sintomas-causas- prevencao-diagnostico-e-tratamento/ A lobomicose causada pelo fungo conhecido como Lacazea loboi; evidências sugerem que a infecção ocorra pela inoculação transcutânea das estruturas fúngicas as quais podem ocorrer por transmissão entre humanos, ou entre humanos e animais. Clinicamente identifica-se um período de incubação, variável com o aparecimento subsequente de uma ou várias pápulas com pequenos nódulos de tonalidade variável. As lesões se multiplicam podendoformar placas extensas multilobadas por continuidade ou autoinoculação. As lesões polimórficas ganham características infiltrativas, queloidiformes, gomosas, ulceradas e verrucosas. Leveduras globosas. Micoses subcutâneas Fonte: TALHARI, C.; RABELO, R.; NOGUEIRA, L.; SANTOS, M. In: CHRUSCIAK-TALHARI, A.; TALHARI, S. Lobomicose. An. Bras. Dermatol. 2010;85(2):239-40. A rinosporidiose é uma infecção micótica da camada submucosa, crônica de evolução lenta e granulomatosa, causada pelo agente Rinosporidium seeberi. Normalmente, são encontrados em locais de águas estagnadas, poços e açudes, sendo os banhos de imersão as principais vias de transmissão da doença; a disseminação dos esporos através do vento e da poeira também são consideradas. Micoses subcutâneas A manifestação clínica é caracterizada pela formação de pólipos vegetantes localizados, principalmente, nas mucosas nasal e conjuntival. Os pacientes possuem a impressão da presença de corpo estranho na região acometida por lesões. Fonte: CROSARA, P. F. T. B.; BECKER, C. G.; FREITAS, V. A.; NUNES, F. B.; BECKER, H. M. G.; GUIMARÃES, R. E. S. Nasal Rhinosporidiosis: Differential Diagnosis of Fungal Sinusitis and Inverted Papilloma. Int. Arch. Otorhinolaryngol. 2009;13(1):93-95. O termo “micose” refere-se a qualquer infecção fúngica. Assinale a alternativa correta: a) Fungos saprofíticos não estão relacionados à ocorrência de infecções. b) As micoses sistêmicas, geralmente, são causadas por fungos filamentosos. c) A esporotricose é uma micose subcutânea causada por uma levedura. d) As infecções costumam ser crônicas, já que os fungos apresentam um crescimento lento. e) O contato com a Paracoccidioides brasiliensis determina um quadro patológico. Interatividade O termo “micose” refere-se a qualquer infecção fúngica. Assinale a alternativa correta: a) Fungos saprofíticos não estão relacionados à ocorrência de infecções. b) As micoses sistêmicas, geralmente, são causadas por fungos filamentosos. c) A esporotricose é uma micose subcutânea causada por uma levedura. d) As infecções costumam ser crônicas, já que os fungos apresentam um crescimento lento. e) O contato com a Paracoccidioides brasiliensis determina um quadro patológico. Resposta Dentre os fungos causadores de dermatomicoses destacam-se Microsporum canis e Microsporum gypseum. O M. canis é reconhecidamente um dermatófito zoofílico associado clinicamente a epidermofitíases e onicomicoses. Outras complicações, razoavelmente comuns, são as infecções do couro cabeludo, caracterizada por grades placas de alopecia, as quais aparecem fluorescentes sob a ação da lâmpada de Wood. O M. gypseum é também classificado como um dermatófito, no entanto, é geofílico, infectando o homem através do contato com o solo contaminado ou por animais que tenham sido contaminados pelo mesmo. Micoses cutâneas Fonte: https://classconnection.s3.amazonaws.com/95/flashcards/12360 95/jpg/microsporum_gypseum_(lacto-phenol)1339986492296.jpg Fonte: http://www.asm.org/division/c/photo/mcanis1.JPG O Trichophyton mentagrophytes está descrito entre os principais causadores de dermatofitose; e é considerado um agente zoofilíco e antropofílico, causando epidermofitíases, onicomicoses, lesões de couro cabeludo e interdigitoplantares. Micoses cutâneas Ao microscópico observa-se número elevado de microconídios arredondados e agrupados (cacho), e, eventualmente, macroconídios em forma de charuto ligados às hifas hialinas e septadas; é comum observar hifas em espiral e em raquete. Fonte: http://www.tgw1916.net/images/m_Trichophyton_mentagrophytes.jpg O Epidermophyton floccossum é o agente etiológico mais relevante deste grupo e o agente exclusivo de infecções cutâneas denominadas de pele grossa. É reconhecidamente um dermatófito antropofílico. Raramente atinge as regiões interdigitoplantares e as unhas, e não é reportado em infecções de couro cabeludo. Microscopicamente apresenta inúmeros microconídios e macroconídios de aspecto claviforme, arredondados na extremidade distal e agrupados em um único ponto de inserção na hifa, de parede fina, com 2 a 5 septos. Micoses cutâneas Fonte: https://www.chegg.com/flashcards/subcutaneous-and-superficial-visual-ident-67ac6193- dd84-43b0-aa52-9b9ac326827c/deck A pitiríase versicolor é causada pela Malassezia furfur, uma levedura lipofílica, integrante da microbiota normal da pele, especialmente das áreas mais ricas em ácidos graxos como o couro cabeludo. A infecção é favorecida por fatores exógenos como a temperatura e a umidade elevadas, e por fatores endógenos, como: pele gordurosa e sudorese elevada. Clinicamente observam-se lesões maculosas e descamativas de coloração variável que se distribuem com maior frequência nos braços, no tronco e na região da cintura escapular. Micoses superficiais Fonte: OLIVEIRA, J. R. de; MAZOCCO, V. T.; STEINER, D. (2002). Pitiríase Versicolor. Anais Brasileiros de Dermatologia, 77(5), 611-618. Fonte: https://pt.iliveok.com/health/malassezia-furfur- um-agente-causador-de-seborreia_99682i16099.html Tínea nigra: Exophiala werneckii é um fungo dermáceo, causador de uma micose crônica relacionada a climas tropicais e subtropicais, mais frequente em mulheres. Infecção estética, superficial, benigna, não contagiosa, típica de localidades que apresentem altas temperaturas (25 a 30 ºC). Clinicamente apresenta-se como uma mancha acastanhada ou marrom escura, arredondada, não descamativa e com bordas delimitadas. Não há resposta inflamatória. O paciente, portanto, não refere dor, edema ou outro sinal típico desse processo. Micoses superficiais Fonte: GIRALDI, S.; MARINONI, L. P.; BERTOGNA, J.; ABBAGE, K. T.; OLIVEIRA, V. C. de. (2003). Tinea nigra: relato de seis casos no Estado do Paraná. Anais Brasileiros de Dermatologia, 78(5), 593-600. Piedra branca: Trichosporon inkin (pelo pubiano) e Trichosporon ovoides (em cabelo). A infecção por esses agentes não compromete a pele vizinha e é, predominantemente, assintomática, benigna e de pouco contágio. A infecção ocorre com bastante frequência em países de climas tropicais e temperados atingindo, principalmente, adultos jovens, em especial: pelos axilares, pubianos, perianal e da face. Clinicamente é caracterizada por pequenas nodosidades aderidas, de coloração branco-amarelada, aspecto fusiforme e consistência mucilaginosa. Micoses superficiais Fonte: MARQUES, S. A.; RICHINI-PEREIRA, V. B.; CAMARGO, R. M. P. de. (2012). White piedra and pediculosis capitis in the same patient. Anais Brasileiros de Dermatologia, 87(5), 786-787. A criptococose é causada pelo fungo Cryptococcus neoformans. Ele forma células esféricas, que se assemelham às leveduras, reproduzem-se por brotamento e produzem cápsulas polissacarídicas extremamente espessas. Esses organismos se encontram em áreas contaminadas por fezes de pássaros (pombos). A doença é transmitida pela inalação de fezes secas contaminadas. Os fungos isolados se multiplicam em indivíduos que apresentam o sistema imune comprometido e se disseminam para o sistema nervoso central (SNC) e causam meningite, que possui uma alta taxa de mortalidade. Infecções oportunistas Fonte: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 627. Cápsula A microbiota bacteriana das membranas mucosas do trato urogenital e da boca, normalmente, suprime o crescimento de fungos, como a Candida albicans. Como pseudo- hifas, são resistentes à fagocitose e aos antibacterianos, podendo crescer excessivamente. Mudanças no pH normal nas mucosas também podem gerar um efeito similar. Esse crescimento excessivo gera a infecção chamada de candidíase. Infecções oportunistas Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 597. Recém-nascidos apresentam uma camada esbranquiçadana cavidade oral, chamada de candidíase oral; também é causa comum de vaginites. (a) Candida albicans. (b) Candidíase oral ou sapinho. Clamidoconídios Pseudo-hifas Blastoconídios O Pneumocystis jirovecii é, muitas vezes, encontrado nos pulmões de pessoas saudáveis. Adultos imunocompetentes apresentam poucos ou nenhum sintoma, mas lactentes recém- infectados, ocasionalmente, apresentam sintomas de uma infecção pulmonar. Pessoas com a imunidade comprometida são as mais suscetíveis à pneumonia. Essa população pode atuar, também, como reservatório do organismo. Infecções oportunistas Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 700. São encontradas no revestimento de alvéolos, onde formam um cisto de paredes espessas, em que os corpos esféricos intracísticos se dividem sucessivamente. Cisto maduro O cisto maduro contém 8 corpos intracísticos. O cisto rompe- se, liberando os corpos. 1 2 3 4 5 Trofozoíto Os trofozoítos dividem-se. Os corpos desenvolvem-se em trofozoítos. Cada trofozoíto desenvolve-se em um cisto maduro. Corpos intracísticos A aspergilose é transmissível pelo ar através de conídios de Aspergillus fumigatus, que são amplamente disseminados em vegetações em decomposição e causam doenças respiratórias. Ocorre, frequentemente, no adubo, nos condutos de ar e no pó do ar. Essencialmente pulmonar, mas pode ser invasiva. Infecções oportunistas A mucormicose (Rhizopus e Mucor) ocorre, principalmente, em pacientes que apresentam diabetes e leucemia. Lesões necróticas aparecem na mucosa nasal, a invasão vascular por hifas provoca a necrose progressiva de tecido. Fonte: https://www.chaetomiumqueen.com/aspergillus-fumigatus-group/ É um exemplo de infecção fúngica oportunista: a) Pitiríase versicolor. b) Candidíase. c) Piedra branca. d) Tínea nigra. e) Dermatomicoses. Interatividade É um exemplo de infecção fúngica oportunista: a) Pitiríase versicolor. b) Candidíase. c) Piedra branca. d) Tínea nigra. e) Dermatomicoses. Resposta Fonte: Adaptado de: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, p. 597. (a) Candida albicans. (b) Candidíase oral ou sapinho. Clamidoconídios Pseudo-hifas Blastoconídios BUTEL, J. S.; MORSE, S. A.; BROOKS, G. F. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014 (Minha Biblioteca). LEVINSON, W. Microbiologia Médica e Imunologia. Porto Alegre: AMGH, 2016 (Minha Biblioteca). TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Porto Alegre: ArtMed, 2017 (Minha Biblioteca). Referências ATÉ A PRÓXIMA!