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AULA 3 JUSTIÇA DO TRABALHO Prof. Roberto Peixoto 2 CONVERSA INICIAL Vimos na aula anterior de que forma a Justiça do Trabalho se organiza, estudamos os diversos órgãos que a compõem, além das competências dos tribunais para julgamento das lides de matéria trabalhista. Ultrapassada a questão relativa à organização e à competência para julgamento dos conflitos trabalhistas, passamos a debater a legitimidade para atuar no interesse da coletividade por meio dos órgãos responsáveis pela garantia da aplicação e do cumprimento da legislação, o que ocorre mediante a fiscalização e a penalização de quem descumpre os preceitos e os princípios laborais. Entre esses órgãos, destaca-se a atuação do Ministério do Trabalho e Emprego, que por meio das suas Secretarias das Relações de Trabalho e Emprego (antigas Delegacias Regionais do Trabalho – DRT) atua na fiscalização do cumprimento da legislação trabalhistas e, em caso de descumprimento, aplica as penalidades decorrentes. Na defesa dos direitos difusos e coletivos, há a atuação do Ministério Público do Trabalho e dos sindicatos, que exercem papel fundamental tanto na esfera administrativa quanto na judicial. No entanto, os referidos órgãos atuam dentro dos limites das suas competências, isto é, não podem extrapolar o previsto em lei, em regimentos internos ou em normas coletivas, sob pena de ser declarada a sua ilegitimidade – assunto debatido na aula 4. Agora, passaremos a adentrar especificamente os assuntos relativos à competência de cada um desses órgãos, especialmente no que diz respeito à forma de atuação e à legitimidade para atuar judicial e extrajudicialmente. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO O operador do Direito se depara diariamente com a atuação dos mais diversos órgãos quem têm o objetivo de fiscalizar e punir as relações que desobedecem a legislação trabalhistas. Tais órgãos não se limitam à proteção individual do trabalhador, mas sim à defesa dos direitos difusos e coletivos, de uma coletividade de trabalhadores, de modo a garantir o direito dos hipossuficientes. 3 É por tal razão que a lei deu ao Ministério do Trabalho, aos sindicatos e ao Ministério Público do Trabalho a legitimidade na defesa dos interesses coletivos, haja vista o Direito do Trabalho, pela sua condição de Justiça especializada e pelas partes envolvidas na relação, demandar uma maior proteção, notadamente em razão dos seus princípios protetivos norteadores. Assim, na defesa de tais interesses, agem esses órgãos administrativamente ao aplicar punições, celebrar termos de ajustamento de condutas, determinar o cumprimento de obrigação etc., o que será devidamente abordado nesta aula. TEMA 1 – DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO O Ministério Público tem em sua origem em tempos monárquicos, mais precisamente durante o governo francês de Felipe IV, por meio da ordenança de 25 março de 1302, que obrigava os seus procuradores a prestar juramento aos juízes, além de proibir a representação dos interesses de qualquer pessoa que não fossem os do monarca. Inicialmente, tais procuradores – metaforicamente conhecidos como as mãos do rei – não tinham assento ao lado dos magistrados, ficavam na sala de audiência sobre o assoalho, razão do termo parquet, até hoje utilizado para se referir ao Ministério Público. Em relação ao termo Ministério Público, este foi utilizado pela primeira vez em provimentos legislativos do século XVIII, referindo-se ora a funções do próprio ofício, ora a um magistrado específico designado para as funções do referido órgão. Apenas em um segundo momento é que a função executada passou a se relacionar aos interesses do Estado em vez dos do rei, o que contribuiu para a formação do conceito de Ministério Público. No Brasil, o termo foi utilizado pela primeira vez no art. 18 do Regimento das Relações do Império, de 2 de maio de 1847. Nas constituições brasileiras, o órgão era ora vinculado ao Poder Judiciário, ora ao Poder Executivo. Atualmente, na Constituição Federal de 1988, há expressa previsão no texto normativo dispondo sobre o referido órgão em seu capitulo IV, seção I, o que abordaremos no tema a seguir. 4 TEMA 2 – DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Antes da Constituição Federal de 1988 trazer expressas previsões sobre as atividades exercidas pelo Ministério Público, muito se discutia sobre a sua função, havendo até mesmo quem mencionasse se tratar de um quarto poder, pois não integrava o Executivo, o Legislativo ou mesmo o Judiciário. Com o advento da Carta Magna de 1988, foi eliminada qualquer discussão sobre a sua efetiva função, pois o art. 127, caput, foi elucidativo ao reconhecer que esse órgão integrava o Estado de forma permanente, com o objetivo de defender a ordem pública, o regime democrático e os interesses sociais e indisponíveis, nos seguintes termos: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo- lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (Brasil, 1988). Inegável reconhecer que a função exercida por esse órgão vai muito além da mera defesa dos interesses individuais dos cidadãos, haja vista servir à coletividade na proteção dos seus direitos, contribuindo, portanto, para uma sociedade mais justa e igualitária. Pelo exercício da sua função e pelo efetivo interesse público das atividades exercidas pelo parquet, a Constituição Federal prevê garantias semelhantes àquelas destinadas aos magistrados, tais como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídios, sendo vedado o exercício da advocacia no juízo ou no tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou por exoneração. Para complementação do estudo sobre o tema, recomendamos a leitura do art. 128, parágrafo 5º, I da CF/1988, e do art. 18 da Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Ambas dispõem sobre as prerrogativas do Ministério Público da União quanto às questões institucionais e processuais. TEMA 3 – DA FORMA DE ORGANIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO A organização do Ministério Público brasileiro se encontra prevista no art. 128 da Constituição Federal, que assim dispõe: Art. 128. O Ministério Público abrange: 5 I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. (Brasil, 1988) O Ministério Público do Trabalho integra o Ministério Público da União, atuando nas ações de sua competência, notadamente nas de natureza trabalhista. Quem comanda o Ministério Público do Trabalho (MPT) é o Procurador- Geral do Trabalho, cuja nomeação é feita pelo Procurador-Geral da República, dentre os membros do órgão integrantes de lista tríplice, com mais de 35 anos de idade e 5 anos de carreira, mediante voto facultativo e secreto do Colégio de Procuradores, para um mandato de dois anos, com a possibilidade de uma única recondução, seguindo o mesmo procedimento para eleição. Não havendo número de candidatos com mais de cinco anos de carreira, poderão integrar a lista tríplice os Procuradores do Trabalho com mais de dois anos de carreira. Sobre o tema, importante frisar que os arts. 736 e 737 do Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, conhecido como Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não foram recepcionados pela norma constitucional, graças à sua total incompatibilidade com o art. 127 da Carta Magna, sendo as fontes normativas do MPT a própria Constituição Federal, bem como a Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993, isto é, a Lei Orgânica do MinistérioPúblico da União (Lompu), que descreve a forma de organização do Ministério Público do Trabalho, assunto que abordaremos no próximo tema desta aula. Por fim, menciona-se que a Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004, instituiu o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), cujo objetivo é controlar a atuação administrativa e financeira do referido órgão ministerial, bem como observar o cumprimento dos deveres funcionais de seus membros. TEMA 3 – DA ORGANIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO – LEI COMPLEMENTAR N. 75/1993 A organização do Ministério Público do Trabalho encontra-se disposta no art. 85 da Lei Complementar n. 75/1993, que assim dispõe: 6 Art. 85. São órgãos do Ministério Público do Trabalho: I - o Procurador-Geral do Trabalho; II - o Colégio de Procuradores do Trabalho; III - o Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho; IV - a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho; V - a Corregedoria do Ministério Público do Trabalho; VI - os Subprocuradores-Gerais do Trabalho; VII - os Procuradores Regionais do Trabalho; VIII - os Procuradores do Trabalho. (Brasil, 1993) A carreira no Ministério Público do Trabalho inicia-se com o cargo de Procurador do Trabalho, aprovado por meio de concurso público, conforme disposto no art. 129, parágrafo 3º da Constituição Federal (Brasil, 1988), e finalizada com o cargo de Subprocurador-Geral do Trabalho, ressalvado, como dito anteriormente, a existência do cargo máximo no órgão, que é o de Procurador-Geral do Trabalho. As funções do Procurador-Geral do Trabalho encontram-se descritas nos art. 91 e seguintes da Lompu (Brasil, 1993). Quanto aos Subprocuradores-Gerais do Trabalho, são designados para oficiar no Tribunal Superior do Trabalho e nos ofícios na Câmara de Coordenação e Revisão, lotados na Procuradoria-Geral do Trabalho, conforme redação do art. 107 da Lompu (Brasil, 1993). Hierarquicamente abaixo dos Subprocuradores-Gerais do Trabalho há os Procuradores Regionais do Trabalho, cuja função é oficiar nos Tribunais Regionais do Trabalho, em que estão lotados (Estados ou Distrito Federal), na forma do disposto do art. 110 e do art. 111 da Lompu (Brasil, 1993). Na base da hierarquia funcional do Ministério Público do Trabalho encontram-se os Procuradores do Trabalho, cujas atribuições são de oficiar nas Varas do Trabalho ou no Tribunal Regional do Trabalho, especialmente em demandas que envolvam interesses de menores e incapazes, consoante previsão do caput do art. 112 do mencionado diploma legal. Ressalta-se que muito embora o art. 112 preveja como atribuição dos Procuradores do Trabalho a defesa dos interesses dos menores e incapazes, seu campo de atuação transcende ao descrito, haja vista a possibilidade de proposição de ações civis públicas, por exemplo. Importante ressaltar que apenas os Procuradores do Trabalho estão legitimados a atuar nas Varas do Trabalho, sendo vedada, em regra, a atuação dos Procuradores Regionais do Trabalho e dos Subprocuradores-Gerais do Trabalho, salvo em caso de interesse do serviço, com anuência do designado e 7 com autorização do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, conforme o art. 217, parágrafo único, da Lompu (Brasil, 1993). TEMA 4 – DA ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO: COMPETÊNCIAS E LEGITIMIDADE O Ministério Público do Trabalho tem sua atuação tanto na esfera judicial quanto na extrajudicial. A Constituição Federal de 1988 prevê nos incisos do art. 129 as funções institucionais do Ministério Público, destacando-se a promoção de inquérito civil e a Ação Civil Pública para a defesa de interesses difusos e coletivos, a requisição de diligências investigatórias e a expedição de notificação de procedimentos administrativos de sua competência. A forma de atuação judicial do MPT tem previsão no art. 83 e incisos da Lompu, integralmente transcritos a seguir para uma melhor análise do aluno: Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho: I - promover as ações que lhe sejam atribuídas pela Constituição Federal e pelas leis trabalhistas; II - manifestar-se em qualquer fase do processo trabalhista, acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse público que justifique a intervenção; III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos; IV - propor as ações cabíveis para declaração de nulidade de cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores; V - propor as ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos menores, incapazes e índios, decorrentes das relações de trabalho; VI - recorrer das decisões da Justiça do Trabalho, quando entender necessário, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir revisão dos Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho; VII - funcionar nas sessões dos Tribunais Trabalhistas, manifestando- se verbalmente sobre a matéria em debate, sempre que entender necessário, sendo-lhe assegurado o direito de vista dos processos em julgamento, podendo solicitar as requisições e diligências que julgar convenientes; VIII - instaurar instância em caso de greve, quando a defesa da ordem jurídica ou o interesse público assim o exigir; IX - promover ou participar da instrução e conciliação em dissídios decorrentes da paralisação de serviços de qualquer natureza, oficiando obrigatoriamente nos processos, manifestando sua concordância ou discordância, em eventuais acordos firmados antes da homologação, resguardado o direito de recorrer em caso de violação à lei e à Constituição Federal; 8 X - promover mandado de injunção, quando a competência for da Justiça do Trabalho; XI - atuar como árbitro, se assim for solicitado pelas partes, nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho; XII - requerer as diligências que julgar convenientes para o correto andamento dos processos e para a melhor solução das lides trabalhistas; XIII - intervir obrigatoriamente em todos os feitos nos segundo e terceiro graus de jurisdição da Justiça do Trabalho, quando a parte for pessoa jurídica de Direito Público, Estado estrangeiro ou organismo internacional. (Brasil, 1993) Tais atribuições, contudo, possuem algumas limitações previstas no ordenamento jurídico, como, por exemplo, a vedação aos membros do Ministério Público no que diz respeito à representação judicial e à consultoria jurídica de entidades públicas, conforme previsto no art. 129, IX, da Carta Magna (Brasil, 1988). Ademais, ressalta-se que o impedimento se encontra previsto na Orientação Jurisprudencial n. 237 da Subseção 1, Especializada em Dissídios Individuais (SBDI-1), do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determina que o MPT não tem legitimidade para recorrer na defesa de interesse patrimonial privado, incluindo nessa proibição as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Judicialmente, o MPT poderá exercer suas atribuições na condição de parte ou de custos legis, isto é, de fiscal da lei. Como parte em um processo judicial, o MPT atua, em regra, como autor da demanda, especialmente em Ação Civil Pública, em ação anulatória de acordo ou de convenção coletiva, bem como nos dissídios coletivos em que houver greve em serviços essenciais ou que estejam em confronto com o interesse público. Além disso, poderá interpor recursos ou figurar em caso de substituição processual, quando atuar, por exemplo, em nome dos interesses do menor de 18 anos, conforme o disposto no art. 793,caput, da CLT (Brasil, 1943). Ao atuar como fiscal da ordem jurídica, o parquet laboral exerce suas funções como órgão interveniente, principalmente quando houver interesses de incapazes ou interesses da coletividade envolvidos. Sua atuação é uma forma de garantir a ordem pública e os direitos difusos e coletivos. No que diz respeito à atuação extrajudicial, o art. 84 da Lompu prevê em seus incisos a atuação administrativa do Ministério Púbico do Trabalho. Vejamos: 9 Art. 84. Incumbe ao Ministério Público do Trabalho, no âmbito das suas atribuições, exercer as funções institucionais previstas nos Capítulos I, II, III e IV do Título I, especialmente: I - integrar os órgãos colegiados previstos no § 1º do art. 6º, que lhes sejam pertinentes; II - instaurar inquérito civil e outros procedimentos administrativos, sempre que cabíveis, para assegurar a observância dos direitos sociais dos trabalhadores; III - requisitar à autoridade administrativa federal competente, dos órgãos de proteção ao trabalho, a instauração de procedimentos administrativos, podendo acompanhá-los e produzir provas; IV - ser cientificado pessoalmente das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, nas causas em que o órgão tenha intervido ou emitido parecer escrito; V - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, desde que compatíveis com sua finalidade. (Brasil, 1993) Como vimos nas aulas anteriores, a função do Ministério Público do Trabalho demanda que seu representante mor, o Procurador-Geral do Trabalho, integre os órgãos colegiados, principalmente na área trabalhista, no Tribunal Superior do Trabalho e no Conselho Nacional da Justiça do Trabalho, em consonância com o disposto no inciso I do art. 84 da Lompu (Brasil, 1993). É função privativa do Ministério Público do Trabalho a instauração de inquérito civil, cujo objeto é a busca de provas e de elementos para que esse órgão possa se convencer da existência ou não de lesões perpetradas aos interesses difusos, coletivos ou mesmo aos individuais homogêneos, de modo a promover Ação Civil Pública para defesa de tais interesses. Trata-se de um procedimento previsto na Resolução n. 69, de 12 de dezembro 2007, do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, que dispõe em seu art. 1º sobre os objetivos da instauração do inquérito civil, que, em suma, são os elementos para a preparação do exercício das atribuições inerentes às funções institucionais. Observe-se que tanto o caput do art. 1º quanto o seu parágrafo único dispõem que a instauração do inquérito civil não é conditio sine qua non para a propositura das ações de competência do Ministério Público do Trabalho. Muito embora o art. 1º, caput, mencione como procedimento facultativo o inquérito civil, pois impediria o exercício do contraditório, a análise apurada da Resolução n. 69, de 12 de dezembro 2007, do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, deixa claro em alguns dos seus artigos a possibilidade do exercício do direito de defesa. Vejamos: Art. 5º O membro do Ministério Público do Trabalho, no prazo máximo de trinta dias, indeferirá o pedido de instauração de inquérito civil, em decisão fundamentada, da qual se dará ciência pessoal, por via 10 postal ou correio eletrônico, ao representante e ao representado, nos casos de: § 3º Do recurso serão notificados os interessados para, querendo, oferecer contrarrazões, no prazo de dez (10) dias. [...] Art. 6º A instrução do inquérito civil será presidida por membro do Ministério Público do Trabalho a quem for conferida essa atribuição, nos termos da lei. § 1º Para o esclarecimento do fato objeto de investigação, deverão ser colhidas todas as provas permitidas pelo ordenamento jurídico, com a juntada das peças em ordem cronológica de apresentação, devidamente numeradas em ordem crescente. § 4º Qualquer pessoa poderá, durante a tramitação do inquérito civil, apresentar ao Ministério Público do Trabalho documentos ou subsídios para melhor apuração dos fatos. (Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, 2007) Como visto, não obstante se tratar de um procedimento facultativo por parte do Ministério Público do Trabalho, uma vez instaurado é garantido ao representado (e a qualquer pessoa) a produção de provas com o objetivo de embasar o procedimento, sempre na busca dos esclarecimentos dos fatos. Se não houver nenhuma irregularidade apurada, será determinado o arquivamento dos autos, na forma que dispõem o art. 10 e seguintes da resolução ora estudada. Não obstante, haverá possibilidade de apresentação de recurso pela parte interessada. Por outro lado, se por meio do inquérito for descoberta existência de lesão ao patrimônio jurídico dos representados pelo MPT, poderá o parquet propor as ações de sua competência ou tomar medidas administrativas no próprio órgão, como, por exemplo, a propositura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O TAC é um compromisso firmado entre o Ministério Público e um terceiro em caso de lesão ou ameaça de lesão a direitos difusos e coletivos. Tal termo visa a reparação de um dano ou o cumprimento de exigências impostas pelo MPT. No entanto, a proposição e a formalização do TAC não são de competência exclusiva do Ministério Público, pois o art. 5º e os incisos da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 – Lei da Ação Civil Pública – dispõem sobre os diversos entes que também possuem legitimidade: a Defensoria Pública, as autarquias, as empresas públicas, as fundações ou as sociedades de economia mista. No art. 14, caput, da Resolução n. 69, de 12 de dezembro 2007, do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, é mencionada a 11 possibilidade da formalização do TAC por parte do parquet laboral, visando à reparação do dano, à adequação da conduta às exigências legais ou normativas e, ainda, à compensação e/ou à indenização pelos danos que não podem ser reparados. Ademais, o art. 14-A diz que se for ineficaz para a restauração da ordem jurídica ou se houver fatos novos, poderá ser formulada proposta tanto para retificar o TAC quanto para anulá-lo, situações que ocorrerão mediante despacho fundamentando da Câmara de Coordenação e Revisão. Por fim, não podemos esquecer que a atuação administrativa do Ministério Público do Trabalho de forma extrajudicial vai além da mera instauração de inquérito civil ou da proposição e formalização de TAC. O órgão poderá participar como mediador e árbitro em conflitos trabalhistas; no combate às práticas discriminatórias; na preservação da liberdade e da dignidade do trabalho e do meio ambiente de trabalho, dentre outras atividades relevantes para a garantia da paz social e da ordem pública. TEMA 5 – DO MINISTÉRIO DO TRABALHO Na preservação dos interesses difusos e coletivos no âmbito judicial e extrajudicial, vimos a relevante atuação do Ministério Público do Trabalho. Porém, além desse órgão, há também o Ministério do Trabalho, que possui importante função no que concerne à fiscalização, à autuação e à imposição de multas em caso de descumprimento das normas trabalhistas. Ao analisar a CLT, notamos que em diversos artigos há remissão a esse órgão, principalmente em relação à sua função regulamentadora. No âmbito da fiscalização pelo Ministério do Trabalho, o art. 626 do referido diploma legal é claro em sua redação ao delegar as funções de fiscalização a esse órgão. Vejamos: “Art. 626 - Incumbe às autoridades competentes do Ministério do Trabalho, Indústria e Comercio, ou àquelas que exerçam funções delegadas, a fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho” (Brasil, 1943). Muito embora a função fiscalizatória exercida, por meio da análise do texto legal podemos notar que a mens legis (finalidade da lei) é também de caráter orientativo, o que podemos ver na redação do art. 627, “a” e “b” da CLT, pois prevê a possibilidadeda chamada dupla visita em caso de promulgação 12 de novas normas de proteção ao trabalho ou em caso de realização da primeira inspeção no local recentemente inaugurado. Em relação à função de orientação a ser realizada pelo órgão, cita-se o disposto no art. 627-A, que estabelece que: Art. 627.A - Poderá ser instaurado procedimento especial para a ação fiscal, objetivando a orientação sobre o cumprimento das leis de proteção ao trabalho, bem como a prevenção e o saneamento de infrações à legislação mediante Termo de Compromisso, na forma a ser disciplinada no Regulamento da Inspeção do Trabalho. (Brasil, 1943) Ainda há previsão na Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, especificamente em seu art. 55, caput, que diz que deve ser observado o critério da dupla visita antes da lavratura do auto de infração nas microempresas ou nas empresas de pequeno porte, salvo em caso de falta de registro ou de anotação em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), bem como se houver reincidência, fraude, resistência ou embaraço. Obrigatoriamente deve a empresa manter no estabelecimento o livro de inspeção, em que ficarão registrados os dados referentes à visita do auditor- fiscal do trabalho e as eventuais irregularidades com prazo para serem sanadas, incluindo-se os elementos da sua identificação funcional. Havendo má-fé do agente da inspeção, no que diz respeito à omissão ou à lançamento de qualquer elemento no livro, ele responderá por falta grave no cumprimento do dever, ficando passível de pena de suspensão de até 30 dias, de acordo com o parágrafo terceiro do art. 628 da CLT (Brasil, 1943). Do auto de infração, uma via será entregue para ao infrator, com prazo de 10 dias para apresentação da defesa, conforme previsto no parágrafo terceiro do art. 629 da CLT (Brasil, 1943) e do art. 28, caput, da Portaria n. 854, de 25 de junho de 2015, do Ministério do Trabalho e Emprego, observando-se o disposto do seu art. 24 e seguintes. Se convencido o auditor-fiscal do trabalho quanto ao cometimento de infração, haverá a aplicação de multa para o infrator, garantindo-se a possibilidade de apresentação de recurso à Coordenação Geral de Recurso, no prazo de 10 dias, contados da notificação da decisão, de acordo com o art. 36 da Portaria n. 854, de 25 de junho de 2015, do Ministério do Trabalho e Emprego. Adverte-se, contudo, que é inaplicável o disposto do parágrafo 1º do art. 13 636 da CLT (Brasil, 1943), que determina a necessidade de efetuar o pagamento da multa como pressuposto recursal, haja vista tal comando ter sido considerado inconstitucional pela Súmula Vinculante n. 21, de 10 de novembro de 2009, do Supremo Tribunal Federal (STF). Por fim, se houver pelo infrator a renúncia ao direito de recorrer, a multa aplicada será reduzida em 50%, recolhendo-se esta durante o prazo recursal, como disposto no parágrafo 6º do art. 636 da CLT (Brasil, 1943). Esgotada as vias administrativas, será possível a discussão judicial da multa aplicada, tanto para a sua cobrança quanto para sua anulação. FINALIZANDO Muito embora a relação entre empregado e empregador se tratar de uma relação entre particulares, em razão dos princípios que norteiam o Direito do Trabalho, especialmente o da proteção e do reconhecimento da hipossuficiência do trabalhador, há limites quanto à autonomia da vontade das partes. Isso decorre especialmente do fato de que o empregado se encontra subordinado a seu empregador, dependendo economicamente dele, cedendo a sua força de trabalho em troca de uma remuneração. Assim, o direito potestativo do empregador é limitado, não podendo invadir a esfera privado do trabalhador, muito menos praticar atos que contrariem princípios constitucionais inerentes ao cidadão, como o da dignidade da pessoa humana, princípio constitucional basilar insculpido no art. 1º, III, da Constituição Federal de 1988. Na busca de um equilíbrio entre o capital e o trabalho, a Justiça do Trabalho busca uma proteção especial ao trabalhador, seja na interpretação das normas, seja pela própria atuação dos órgãos de interesse na mencionada relação. É nesse cenário que temos a figura do Ministério Púbico do Trabalho, cuja função é a proteção dos interesses difusos e coletivos, além de zelar pela ordem jurídica na condição de custus legis. Na proteção desses caros interesses neoconstitucionais, diversas garantias são destinadas ao representante do parquet, semelhantes àquelas concedidas aos membros da Magistratura, garantindo totais condições para o 14 exercício das suas atividades profissionais. A legislação prevê também o uso de diversas medidas, judiciais e extrajudiciais, que permitem que o Ministério Público do Trabalho exerça a sua função, investigando os fatos que tenham potencial lesivo aos trabalhadores e propondo que medidas sejam tomadas para sanar riscos à coletividade, como o Termo de Ajustamento de Conduta, sem prejuízo das ações judiciais que podem ser propostas, como exemplo a Ação Cível Pública. No campo da proteção dos trabalhadores, o Ministério do Trabalho e Emprego também exerce relevante função na fiscalização, com poderes de investigação por meio dos auditores-fiscais do trabalho, além da aplicação de punições (multas), caso visualizada a existência de infração às normas trabalhistas. LEITURA OBRIGATÓRIA Listamos e comentamos aqui leituras indicadas: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); Constituição Federal de 1988; Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. É a Lei Orgânica do Ministério Público da União; Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Importantíssima, pois instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; Resolução n. 69, de 12 de dezembro de 2007, do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho. Tal resolução disciplina o inquérito civil no âmbito do MPT; Portaria n. 854, de 25 de junho de 2015, do Ministério do Trabalho e Emprego. Esse comando trata de normas para a organização e a tramitação dos processos de multas administrativas. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 31 dez. 2004 _____. Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 mai. 1993. _____. Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 dez. 2006. _____. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 25 jul. 1985. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n. 854, de 25 de junho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 jun. 2015. CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Resolução n. 69, de 12 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2007. GARCIA, G. F. B. CLT Comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. LEITE, C. H. B. Curso de Direito Processual do Trabalho – de acordo com o nono CPC. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. _____. Ministério Público do Trabalho: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. MARTINS, S. P. Comentários às Súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante n. 21, de 10 de novembro de 2009. Diário de Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 10 nov. 2009. TST – TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Orientação Jurisprudencial n. 237, de 27 de junho de 2016. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 30 jun. 2016.