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AULA 5 
JUSTIÇA DO TRABALHO 
Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Os conflitos de natureza humana sempre foram, de alguma forma, 
solucionados pelas partes envolvidas, buscando a reparação do dano ou a 
punição do agressor. 
Historicamente, podemos mencionar antigos ordenamentos, em que já se 
previam punições para aqueles que descumprissem suas regras, como o Código 
de Hamurabi e a Lei das Doze Tábuas. 
As referidas normas tinham como forma de solução de conflitos a 
autotutela, especialmente o Código de Hamurabi, que consagrou o conhecido 
“olho por olho, dente por dente”. 
Com a evolução da sociedade, a autotutela passou a ser pouco utilizada, 
passando, assim, a solução de um litígio para uma forma não agressiva e violenta, 
como a autocomposição, com ou sem o auxílio de terceiros, ou a 
heterocomposição, na qual as partes entregam a um terceiro, geralmente o 
Estado, o poder de decidir sobre a questão sob análise. 
Frisa-se, porém, que a atuação do Estado como juiz deve obedecer às 
formalidades previstas na lei trabalhista e processual civil, no que tange a forma 
em que a jurisdição será realizada. 
Por este fato, foram criadas formas de tramitação processual, conhecidas 
como “ritos”, que buscam, de certa forma, organizar e garantir o acesso à justiça 
e, especialmente, a celeridade processual, garantido, contudo, aos envolvidos, o 
direito à ampla defesa e a contraditório. 
Além do mais, a Justiça do Trabalho, mesmo após a reforma trabalhista, 
continua a prestigiar a solução do litígio mediante a celebração de acordos, 
privilegiando a resolução de conflitos de acordo com a vontade das partes, 
podendo ou não haver participação do Estado. 
A célebre frase de Nelson Mandela diz que “não há futuro sem perdão e 
sem reconciliação”. Certamente, a Justiça do Trabalho a leva muito a sério, 
buscando, como já mencionado, solucionar o conflito mediante a conciliação das 
partes litigantes. 
Ademais, a reforma trabalhista foi inovadora, no sentido de criar uma nova 
forma de conciliação extrajudicial, a chamada “homologação de acordo 
extrajudicial”, que se trata de um procedimento em que as partes se conciliam e 
buscam apenas a tutela do Estado para que o acordo possa ter validade. 
 
 
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Certamente foi um grande avanço na legislação brasileira, tendo em vista 
a possibilidade de que os conflitos sejam resolvidos de forma célere, evitando o 
assoberbamento do Poder Judiciário com novas lides decorrentes ou não de um 
contrato de trabalho. 
Assim, veremos nesta aula as formas de solução de conflitos, bem como 
os ritos processuais para o trâmite das lides perante a Justiça do Trabalho, sejam 
eles individuais ou coletivos. 
TEMA 1 – MÉTODOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS TRABALHITAS 
No direito do trabalho, identificamos três métodos para solução dos 
conflitos trabalhista: a autodefesa, a autocomposição e a heterocomposição. 
A autodefesa, que também pode ser chamada de ato defesa, é entendida 
como um método primitivo para solucionar conflitos, pois se trata de uma 
imposição de uma parte e a submissão da outra de forma não consentida. Seria 
a imposição do interesse do mais forte (fisicamente, economicamente, 
politicamente ou socialmente) contra o do mais fraco. 
Já a autocomposição é uma forma de solução de conflitos na qual os 
litigantes, de comum acordo e sem o uso da força, resolvem o litígio sem que seja 
necessária a intervenção de um terceiro, mediante concessões recíprocas. Como 
exemplo, podemos citar a elaboração de Convenção Coletiva de Trabalho e do 
Acordo Coletivo de Trabalho, uma vez que, nas referidas normas coletivas, as 
partes envolvidas decidem o teor mediante ajuste de vontades. 
Por fim, temos a figura da heterocomposição, em que as partes deixam a 
cargo de um terceiro a decisão sobre o litígio, caracterizando como “suprapartes”, 
devendo a decisão sobre o feito ser devidamente cumprida. Exemplo tradicional 
desta forma de composição é o próprio exercício da jurisdição por parte do Estado, 
em que é atribuído ao Poder Judiciário a função de solucionar a lide. 
Discute-se na jurisprudência sobre a arbitragem como forma de solução de 
litígios na esfera trabalhista. Muito embora a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 
1988) permita em seu art. 114, parágrafos 1º e 2º, a possibilidade do uso da 
arbitragem para solução de conflitos, esta é pouco utilizada para solução dos 
conflitos de natureza trabalhista. Isso porque há, na própria lei que instituiu o 
procedimento arbitral, Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, que apenas os 
direitos patrimoniais disponíveis podem ser objeto do uso da arbitragem para 
dirimir o conflito. Vejamos: “Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão 
 
 
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valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais 
disponíveis” (Brasil, 1988). 
A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho não reconhece o uso da 
arbitragem como forma de solução de conflitos, entendendo assim por terem as 
verbas trabalhistas natureza de direito indisponível, irrenunciáveis, portanto. 
Para ilustrar, transcreve-se trecho de acordão sobre o tema: 
A Lei Nº 9.307/96, ao fixar o juízo arbitral como medida extrajudicial de 
solução de conflitos, restringiu, no artigo 1º, o campo de atuação do 
instituto apenas aos litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. 
Por outro lado, quis o legislador constituinte possibilitar a adoção da 
arbitragem apenas para os conflitos coletivos, consoante se observa do 
artigo 114, §§ 1º e 2º, da Constituição da República. Com efeito, em 
razão do princípio protetivo que informa o direito individual do trabalho, 
bem como da falta de equilíbrio entre as partes, são os direitos 
trabalhistas indisponíveis e irrenunciáveis. Portanto, a arbitragem não é 
compatível com o direito individual do trabalho e não há dedução dos 
valores pagos (TST; RR 0001154-66.2012.5.09.0322; Sexta Turma; Relª 
Min. Kátia Magalhães Arruda; DEJT 29/04/2016; Pág. 2115). 
Conclui-se, assim, que a arbitragem, muito embora tenha permissão legal 
para ser utilizada no direito do trabalho como forma de solução de conflitos, ainda 
encontra restrição na Justiça do Trabalho a sua aplicabilidade, não sendo aceita 
como meio de compor as partes. 
Contudo, a reforma trabalhista incluiu o art. 507-A na CLT, que permite nos 
contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o 
limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral da Previdência 
Social que seja pactuada cláusula compromissórias de arbitragem, desde que por 
iniciativa do empregado ou mediante sua concordância expressa. 
TEMA 2 – DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO DO TRABALHO 
Os princípios a partir do advento da Constituição Federal de 1988 
passaram a ter importante papel no direito pátrio, ostentando status de direito 
fundamental. 
Assim, muito mais que uma norma, caracterizam-se os princípios como um 
efetivo rumo que deve ser seguido por todo o sistema, com função informativa, 
interpretativa e normativa. 
A função informativa é destinada ao legislador, com o objetivo de inspirar 
no exercício da atividade legislativa com valor políticos, sociais, éticos e 
econômicos, servindo como sugestão para se adotarem novas regras jurídicas, 
em conformidade com o anseio da população. 
 
 
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Quanto à função interpretativa, decorre da interpretação das normas por 
quem tem o dever de aplicar o direito. Isso importa dizer que, havendo diversos 
métodos de interpretação da lei, podem ser utilizados os princípios para definir a 
forma como o direito será aplicado, levando-se em consideração critérios objetivos 
e subjetivos, o que abordaremos adiante. 
Por fim, quanto à função normativa, esta também é destinada ao aplicador 
do direito, podendo ser aplicada da forma direta, como no uso dos princípios para 
solução do caso concreta, ou mesmo de forma indireta, por meio de integraçãodo sistema em caso de lacuna legislativa. 
Existem no direito brasileiro os princípios fundamentais, os princípios 
comuns ao processo do trabalho e ao processo civil e ainda os específicos do 
processo trabalhista. 
Os princípios fundamentais são também conhecidos como princípios gerais 
do processo. Dentre estes, destacamos o princípio da igualdade, consagrado no 
art. 5º, caput, da Constituição Federal de 1988, que prevê a igualdade de todos 
os cidadãos perante a lei, sem qualquer distinção. 
Citam-se, ainda, como princípios fundamentais, especialmente com 
relação ao processo em si, os princípios da ampla defesa e do contraditório, sendo 
o primeiro a garantia constitucional do exercício do direito de defesa, valendo-se 
de todos os meios considerados lícitos, e o segundo refere-se à bilateralidade do 
processo, ou seja, no direito daqueles que integram a relação processual de se 
manifestarem sobre o feito. 
Tais princípios desaguam inevitavelmente em um princípio-base sobre o 
qual se sustentam, que é o princípio do devido processo legal. 
A CF/1988, de forma expressa, consagra referido princípio em seu texto 
legal, especificamente no art. 5º, inciso LIV, o qual prevê que “ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 
O devido processo legal nada mais é do que uma garantia do estado 
democrático de direito para que todos os cidadãos tenham, antes de privados de 
sua liberdade ou de seus bens, um processo justo, com todas as demais garantias 
constitucionais inerentes ao direito de defesa. 
Há princípios ainda que são comuns ao processo do trabalho e ao processo 
civil, como o princípio da demanda (ou dispositivo), o do impulso oficial, o da 
instrumentalidade, o da preclusão e o da oralidade, os quais, em razão da 
limitação do tema, apenas citaremos para ilustrar. 
 
 
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Importa neste momento discorrer acerca dos princípios específicos 
aplicados ao processo do trabalho. 
O primeiro princípio que demonstraremos é o da proteção processual, cujo 
objetivo é a compensação de uma desigualdade na realidade socioeconômica 
entre as partes que integram a relação trabalhista. 
O referido princípio se apresenta diariamente na Justiça do Trabalho, 
garantindo aos trabalhadores direitos que não se aplicam, em regra, às empresas, 
como a isenção de custas, a assistência judiciária gratuita, entre outras formas de 
proteção ao trabalhador, ressalvadas as alterações sobre o tema trazidas com a 
reforma trabalhista. 
Também pode ser considerada como uma forma de proteção processual a 
obrigatoriedade de recolhimento do depósito recursal para que a empresa possa 
recorrer das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, que, não obstante 
superadas discussões sobre o confronto desta obrigatoriedade com o princípio do 
duplo grau de jurisdição, trata-se de um pressuposto recursal o seu pagamento, 
sob pena de não conhecimento do recurso. 
Com objetivo semelhante ao do princípio da proteção processual, temos o 
princípio da finalidade social do processo. 
Referido princípio se difere do princípio da proteção pois neste, a própria 
lei confere a desigualdade processual, e no princípio da finalidade social do 
processo, é atribuída ao juiz uma atuação de auxílio ao trabalhador em busca de 
uma solução justa, até o momento de proferir sentença. 
Assim, a finalidade social do processo também é uma forma de corrigir uma 
desigualdade, servindo como exceção ao princípio da igualdade consagrado na 
Constituição Federal de 1988 na busca do equilíbrio entre o capital e o trabalho. 
Podemos citar ainda como princípio do direito processual do trabalho o 
princípio da indisponibilidade. Envolvendo o direito trabalhista uma série de 
normas de ordem pública de direito material do trabalho, há interesses sociais que 
transcendem a vontade das partes, considerados como indisponíveis e 
irrenunciáveis. 
Como exemplo, podemos mencionar o que já foi dito no início desta aula, 
especialmente com relação a vedação do uso da arbitragem para solução de um 
litígio trabalhista, posto que apenas direitos disponíveis podem ser objeto de 
transação, o que afastaria a possibilidade de renúncia de direitos pelo trabalhador. 
 
 
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A Justiça do Trabalho tradicionalmente tem buscado a resolução dos 
conflitos pela celebração de acordos entre patrões e empregados. Tanto é que 
antes de entrar em vigor a EC nº 45, de 30 de dezembro de 2004, dando nova 
redação ao art. 114 da CF/1988, o termo utilizado no que diz respeito a 
competência da Justiça do Trabalho era que esta tinha o poder/dever de “conciliar 
e julgar”, o que foi alterado para o uso da expressão “processar e julgar”. 
Não obstante a supressão do termo “conciliar e julgar”, diversos 
dispositivos da própria CLT demonstram que o princípio da conciliação ainda se 
mostra relevante e é um dos objetivos a serem buscados por aqueles que 
integram uma relação processual trabalhista. 
Podemos citar como exemplo o disposto no art. 764, caput, da CLT, que 
prevê que os dissídios individuais e coletivos submetidos à Justiça do Trabalho 
serão sempre sujeitos a conciliação, e ainda o art. 846, caput do mesmo diploma 
legal, que ordena que tão logo a audiência tenha sido aberta, deve ser proposta 
pelo juiz a conciliação. 
Por fim, mas sem esgotar o tema relacionado aos princípios do direito 
processual aplicáveis à Justiça do Trabalho, não podemos esquecer do princípio 
da normatização coletiva. 
A Justiça do Trabalho é a única que tem o poder normativo, possibilitando, 
por meio de uma sentença normativa, a criação de normas e condições com efeito 
ultra partes, que integrarão o contrato individual de trabalho dos empregados que 
fazem parte da categoria profissional representada pelo sindicato que ajuizou o 
dissídio coletivo. 
Ultrapassadas as questões alusivas aos princípios, discorreremos a seguir 
sobre o exercício do direito de ação de forma individual e coletiva. 
TEMA 3 – DO DISSÍDIO INDIVIDUAL E DO DISSÍDIO COLETIVO 
Na Justiça do Trabalho, não obstante a existência de diversos 
procedimentos especiais, inclusive com regras previstas na norma civil por força 
do art. 769, caput, da CLT, há basicamente dois tipos de dissídios: o individual e 
o coletivo. 
O dissídio individual é a forma mais comum de demandar perante a Justiça 
do Trabalho, no qual o empregado ajuíza uma reclamatória trabalhista contra a 
empresa para a qual presta ou prestou serviços, mediante distribuição perante a 
Vara do Trabalho competente para o julgamento do feito. 
 
 
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A competência, como já mencionado nas aulas anteriores, é 
regulamentada pelo art. 651, caput, da CLT e prevê que a competência para 
julgamento é da Vara do Trabalho onde houve a prestação dos serviços, ou, no 
caso de empregado que laborou em diversas localidades, em qualquer uma delas. 
Vale lembrar que a Justiça do Trabalho tem admitido que a demanda seja 
proposta no local onde reside o reclamante, não obstante jamais tenha prestado 
serviço nesta localidade, consagrando o princípio da facilitação do acesso à 
Justiça. 
Isto porque, segundo entendimento jurisprudencial, exigir que o 
trabalhador, hipossuficiente da relação, tenha que se deslocar para localidade por 
vezes distante da sua residência seria uma forma de impedir ou ao menos 
dificultar o seu acesso à Justiça, autorizando que proponha demanda no local da 
sua residência. 
Menciona-se neste ponto que, mesmo ajuizando o trabalhador reclamatória 
trabalhista no local da sua residência, é possível, atualmente, que a reclamada 
conteste este fato, na forma de preliminar de contestação, ante as disposições 
contidas no Código de Processo Civil vigente, que assim dispõe em seu art. 64, 
caput: “Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão 
preliminar de contestação”. 
Sobre a aplicabilidade ao processo do trabalho do referido artigo, remete o 
leitor a análise dos incisosdo art. 2º da Instrução Normativa nº 39/2015 do TST, 
que dispõe sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e 
inaplicáveis ao Processo do Trabalho, de forma não exaustiva. 
Contudo, após a entrada em vigor da Lei nº 13.456, de 26 de junho de 2017, 
novamente a discussão sobre a competência em razão do local será feita por meio 
de exceção de incompetência territorial, na forma do art. 800 e seus parágrafos 
da CLT. 
Ultrapassada a questão referente a competência, devemos escolher, em 
se tratando de dissídio individual, o procedimento que seguirá o processo. 
Há três procedimentos possíveis no processo do trabalho: o procedimento 
sumário, o sumaríssimo e o procedimento ordinário. 
O procedimento sumário foi introduzido pelo no âmbito laboral pela Lei nº 
5.584, de 26 de junho de 1970, com o objetivo de garantir maior celeridade aos 
processos trabalhistas com valor inferior a dois salários mínimos. 
 
 
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Assim, a Lei nº 5.584/1970 instituiu as chamadas “causas de alçada”, que 
nada mais são que uma demanda submetida ao procedimento comum sumário, 
cujas especificidades encontram-se descritas nos parágrafos 3º e 4º do art. 2º da 
citada lei. 
Analisando o teor da lei 5.584/1970, observa-se a efetiva intenção do 
legislador em garantir a celeridade do processo que tramita pelo procedimento 
comum sumário, inclusive dispondo sobre a impossibilidade de recurso das 
sentenças proferidas (art. 2º, parágrafo 4º), a possibilidade de o juiz impulsionar 
de ofício o processo (art. 4º, caput) e a limitação de prazo de oito dias para 
manifestação do parquet (art. 5º, caput). 
Registre-se que há controvérsia sobre a aplicabilidade do processo comum 
sumário em lides envolvendo pessoa jurídica de direito público, justamente em 
razão de a lei limitar o acesso ao duplo grau de jurisdição, obrigatório por força do 
art. 1º, inciso V, do Decreto Lei nº 779, de 21 de agosto de 1969, que dispõe: 
Art. 1º Nos processos perante a Justiça do Trabalho, constituem 
privilégio da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e 
das autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais ou 
municipais que não explorem atividade econômica: 
V - o recurso ordinário "ex officio" das decisões que lhe sejam total ou 
parcialmente contrárias; [...] (Brasil, 1969). 
Logo, havendo a obrigatoriedade do reexame necessário da matéria pela 
instância superior, pode-se defender a tese de que é incabível a adoção do 
procedimento comum sumário em demandas envolvendo pessoas jurídicas de 
direito público. 
Por outro lado, a súmula 303 do TST autoriza a dispensa do reexame 
necessário da matéria quando a condenação for inferior a 60 salários mínimos, o 
que, em tese, permitiria a adoção do procedimento comum sumário em lides 
envolvendo pessoas jurídicas de direito público. 
Sobre o tema, já decidiu o C. Tribunal Superior do Trabalho: 
TST - RECURSO DE REVISTA RR 8181520125150122 (TST) 
Ementa: RECURSO DE REVISTA. REEXAME NECESSÁRIO. 
CONDENAÇÃO INFERIOR A 60 (SESSENTA) SALÁRIOS MÍNIMOS. 
SENTENÇA ILÍQUIDA. SÚMULA 303/I/TST. A jurisprudência desta 
Corte firmou entendimento no sentido de que a sentença ilíquida não se 
sujeita ao reexame necessário quando o valor atribuído à causa pelo 
julgador de origem for inferior a 60 salários mínimos. Precedentes. 
Recurso de revista conhecido e provido. TST - RECURSO DE REVISTA 
RR 8181520125150122 (TST), publicado em 21/08/2015 (TST, 2015). 
Temos ainda o procedimento comum sumaríssimo, que também pode 
ser adotado nos dissídios individuais submetidos à Justiça do Trabalho. 
 
 
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O procedimento comum sumaríssimo foi introduzido em 13 de janeiro de 
2000, por intermédio da lei 9.957, de 12 de janeiro de 2000, acrescentado à CLT 
os arts. 852-A ao 852-I, com entrada em vigor 60 dias após período de vacatio 
legis, na data de 13 de março de 2000. 
O procedimento sumaríssimo exclui de forma expressa as demandas em 
que figurem como parte os órgãos da administração pública direta, autárquica ou 
fundacional, na forma do artigo 852-A, parágrafo único da CLT, que prevê: 
Art. 852-A. Os dissídios individuais cujo valor não exceda a quarenta 
vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação 
ficam submetidos ao procedimento sumaríssimo. (Incluído pela Lei nº 
9.957, de 2000) 
Parágrafo único. Estão excluídas do procedimento sumaríssimo as 
demandas em que é parte a Administração Pública direta, autárquica e 
fundacional (Brasil, 2000). 
Não estão excluídos do procedimento sumaríssimo os entes integrantes da 
administração pública indireta, como as empresas públicas e as sociedades de 
economia mista. 
Com o objetivo de garantir maior celeridade aos processos que tramitam 
pelo rito sumaríssimo, a legislação aplicável ao tema possui diversos artigos que 
mostram a busca pela rapidez na solução da lide. 
A demanda submetida ao rito sumaríssimo deverá ser apreciada no prazo 
máximo de 15 dias do seu ajuizamento (art. 852-B, inciso III da CLT), bem como, 
em regra, deverá ser instruída e julgada em audiência UNA, salvo na hipótese do 
parágrafo 1º do art. 852-H da CLT, pelo qual, a critério do juiz, na impossibilidade 
de continuidade da audiência após a apresentação de documentos pela defesa, 
poderá realizar o fracionamento do ato, determinado nova data para 
prosseguimento da instrução. 
Há que se ressaltar que o procedimento sumaríssimo é destinado apenas 
aos dissídios individuais (simples ou plúrimas), desde que o valor da causa seja 
superior a 2 salários mínimos e inferior a 40 salários mínimos. 
Para que uma demanda seja enquadrada no procedimento sumaríssimo, 
deve a petição inicial cumprir os requisitos previstos no art. 852-B da CLT, 
devendo o pedido ser certo e determinado, com indicação do valor 
correspondente, sob pena de extinção do feito sem resolução do mérito. 
Também é vedada no procedimento sumaríssimo a citação editalícia, 
competindo ao trabalhador a correta indicação do endereço do reclamado para 
expedição da notificação. 
 
 
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Diferentemente do que ocorre no rito comum ordinário, que trataremos a 
seguir, o número de testemunhas que podem ser ouvidas no rito sumaríssimo é 
de apenas duas, sendo possível ainda a realização de perícia quando a prova do 
fato assim exigir ou houver obrigação legal, como em demandas que envolvem 
pedido de adicional de insalubridade. 
A sentença também possui regramento próprio no procedimento 
sumaríssimo, dispensando o relatório e garantindo ao julgador maior participação 
processual, assegurando ao magistrado a possibilidade de adotar, na solução do 
caso concreto, a decisão que reputar mais justa, com observância dos fins sociais 
da norma e exigência do bem comum. 
No plano recursal, é possível a interposição de embargos declaratórios (art. 
897-A) e recurso ordinário (art. 895, inciso I da CLT), restringindo, contudo, a 
interposição de recurso de revista apenas “por contrariedade a súmula de 
jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou a súmula vinculante 
do Supremo Tribunal Federal e por violação direta da Constituição Federal”, na 
forma do art. 896, parágrafo 9º da Consolidação das Leis do Trabalho. 
TEMA 4 – DO PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO 
Trata-se do procedimento mais utilizado na Justiça do Trabalho, o que 
importa dizer que se não for o caso de a demanda tramitar sob o rito sumário ou 
sumaríssimo, o procedimento adotado será o ordinário. 
Historicamente, o procedimento comum ordinário era o único existente, fato 
que perdurou até meados de 1970, quando passou a existir o procedimento 
sumário e posteriormente, no início do ano 2000, o procedimento comum 
sumaríssimo. 
O procedimento comum ordinário era caracterizado pela concentração dos 
atos, sendo que as audiências sempre eram únicas (unas), conforme previsto no 
art. 843, caput, combinado com art. 845, caput, ambos da CLT. 
A prática na Justiça do Trabalho, e principalmente a elevaçãosignificativa 
do número de ações ajuizadas, passou a fracionar em três a audiência, dando 
origem à figura da audiência inicial (também chamada de inaugural ou de 
conciliação), da instrução e de julgamento. 
Na audiência inicial, as partes devem comparecer independentemente da 
presença de advogados, podendo a empresa ser representada por preposto que 
tenha conhecimento dos fatos, e o empregado, quando comprovadamente 
 
 
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impossibilitado de comparecer por motivo de doença ou outro relevante, poderá, 
excepcionalmente, ser representado por outro empregado que pertença à mesma 
profissão ou pelo sindicato da categoria. 
Ausente o reclamante, a reclamatória trabalhista será arquivada, 
possibilitando a este propor novamente sua demanda em face da reclamada. Há 
que se ressaltar que após o advento da reforma trabalhista, o reclamante, caso 
não compareça sem justificativa à audiência inicial, para propor nova demanda, 
efetuará o pagamento das custas. 
Consequência diversa ocorrerá caso a ausência seja da empresa 
(reclamada), pois, neste caso, a sua ausência será considerada como revel e 
confessa quanto à matéria de fato, presumindo-se verdadeiros os fatos alegados 
na ação trabalhista. 
Aberta a audiência inicial, cabe ao juiz propor a conciliação entre as partes, 
e, caso esta seja alcançada, lavrar-se-á seu termo, consignando valores, prazos 
e condições para pagamento, sanções pelo descumprimento e possibilidade de 
discriminar as verbas de natureza salarial e indenizatória que estão sendo pagas. 
Não obtida a conciliação, será oportunizada ao réu a apresentação de 
defesa oral de 20 minutos. Contudo, dificilmente este prazo é utilizado, haja vista 
que via de regra a defesa escrita com documentos é apresentada antes do horário 
da audiência ou, em determinados casos, é concedido prazo para sua 
apresentação, devendo ser analisado o prazo na notificação recebida pela 
empresa para comparecimento à audiência inicial. 
Caso já apresentada a defesa, será concedido prazo para o reclamante 
apresentar sua impugnação aos documentos, designando-se data para a 
audiência de instrução (art. 849, caput da CLT). 
Na audiência de instrução, as partes deverão comparecer, sob de pena de 
confissão quanto a matéria de fato. Na instrução, diferentemente do que ocorre 
na audiência inicial, a ausência do reclamante não importará no arquivamento da 
reclamatória, mas sim na sua confissão quanto ao mérito da demanda proposta. 
Assim como na audiência inicial, o juiz vai propor a conciliação entre as 
partes antes do início e ao final da audiência de forma obrigatória, sem prejuízo 
de que a qualquer tempo durante a audiência seja feita a composição. 
Prosseguindo na instrução, será colhido o depoimento das partes, primeiro 
do autor e depois do réu, ressaltando-se que podem as partes e o juiz dispensar 
a realização do interrogatório. 
 
 
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Após a oitiva das partes, as testemunhas convidadas são ouvidas, 
iniciando-se pelas testemunhas dos autores, em seguida as do réu, salvo em caso 
de inversão do ônus da prova, quando é permitido que a ordem de produção da 
prova seja invertida. 
Encerrados os depoimentos, e caso não haja questões pendentes (como a 
realização de perícia), as partes podem apresentar suas razões finais no prazo de 
dez minutos, com a possibilidade de as razões finais serem apresentadas por 
memoriais ou mesmo remissivas, designando o juiz a data da publicação da 
sentença. 
A terceira audiência no processo de conhecimento é a audiência de 
julgamento, na qual raramente as partes encontram-se presentes, pois se refere 
à data que o juiz fixou na instrução para a publicação da sentença, que deve 
ocorrer nesta data ou em até 48 horas. 
Caso não seja publicada no prazo, as partes deverão ser intimadas da 
decisão, conforme previsto na súmula 30 do Tribunal Superior do Trabalho. 
TEMA 5 – DO DISSÍDIO COLETIVO 
As entidades de classes que representam os interesses dos trabalhadores 
(sindicato, federações e confederações) e as empresas negociam dentro de 
determinado período as regras que vão nortear a relação entre os envolvidos, 
mediante a elaboração de um documento denominado Convenção Coletiva de 
Trabalho. 
Caso não se chegue a um acordo entre os envolvidos, é proposto um 
dissídio coletivo de trabalho, cujos requisitos para sua instauração são a tentativa 
de negociação ou arbitragem e a aprovação da assembleia da categoria para sua 
instauração. 
A competência originária para processamento e julgamento do dissídio 
coletivo é do Tribunal Regional do Trabalho, conforme art. 678, inciso I da CLT. 
Instaurado um dissídio coletivo, é designada uma audiência para tentativa 
de conciliação entre as partes envolvidas no prazo de 10 dias. Em seguida, é feita 
a audiência, buscando a solução do conflito pela autocomposição. 
Se não for possível, instruir-se-á o feito, proferindo uma decisão que é 
denominada como sentença normativa. 
A sentença normativa tem em seu conteúdo uma norma jurídica, que 
estabelece entre as partes envolvidas as regras que vão dispor sobre as 
 
 
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condições de trabalho que vigorarão para os trabalhadores da categoria 
profissional representada no dissídio, retratando neste caso o poder normativo da 
Justiça do Trabalho. 
A luta pelo direito não deve ser entendida como um incentivo a 
judicialização, pois a pacificação dos conflitos deve ser obtida da forma que resulte 
em menos imposição e mais conciliação. 
A Justiça do Trabalho há muito segue essa linha de ação, pois o princípio 
da conciliação não é apenas uma possibilidade garantida pela lei para solução de 
um conflito de interesse, mas algo incansavelmente buscado por todos aqueles 
que integram uma relação processual trabalhista. Tanto é que diversos 
mecanismos estão à disposição dos cidadãos para este fim, como a câmara de 
conciliação prévia, o termo de ajustamento de conduta – TAC e a possibilidade de 
acordo em qualquer momento durante o processo trabalhista, sem contar os 
incentivos que são oportunizados para que um acordo seja realizado. 
Certamente, no caso de não se obter a conciliação por meio da 
autocomposição entre as partes, deve ser entregue a prestação jurisdicional pelo 
Estado-Juiz, mediante a proposição ou continuação da demanda, com obediência 
aos princípios constitucionais de acesso à Justiça e da ampla defesa e 
contraditório, garantido as partes litigantes a possibilidade de produzirem provas 
visando comprovar o direito que alegam possuir. 
Com isto, nada obstante as questões conciliatórias, caso as partes 
entendam que a melhor solução seria o prosseguimento da demanda, seja de 
forma de dissídio individual ou coletivo, é necessário que os procedimentos legais 
sejam obedecidos, permitindo assim que todo direito tido como violado possa ser 
adequadamente provado, garantindo-se à Justiça do Trabalho a possibilidade de 
um julgamento justo, equânime e em atendimento aos fins sociais da norma, 
buscando a pacificação social. 
LEITURA OBRIGATÓRIA 
Consolidação das Leis do Trabalho. 
Constituição Federal de 1988. 
Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Resolução administrativa n. 1.295, de 9 de maio de 2008. Regimento 
Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Diário da Justiça, Poder Legislativo, 
Brasília, 24 abr. 2008. Disponível em: 
<http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/TST/Reg_Int_TST/Reg_Int.html>. Acesso 
em: 14 dez. 2018. 
GARCIA, G. F. B. CLT Comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método. 
GRECO, L. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. 
3. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2011. 
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 14. ed., de acordo 
com o nono CPC. São Paulo: Saraiva, 2016. 
MARTINS, S. P. Comentários as Súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 
2015.