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Patologia das glândulas anexas ARA0976 - Nutrição clínica nas doenças críticas e órgãos anexos Prof. Me. Júlia Canto Nutricionista Órgãos e glândulas anexas ao sistema gastrointestinal Glândulas anexas Vesiculopatias CAVIDADE ORAL: mastigação e liberação de lipase lingual Revisando: digestão de lipídios ESTÔMAGO: ação da lipase lingual e gástrica: início da quebra do triacilglicerol em glicerol e ácido graxo INTESTINO DELGADO: Com a chegada do quimo no duodeno → liberação de colecistocinina (CCK) e secretina. CCK → sais biliares pela vesícula Secretina → enzimas pancreáticas Revisando: digestão de lipídios VESÍCULA BILIAR Localizada abaixo do lobo direito • A bile é formada por sais biliares (61%), ácidos graxos, colesterol, fosfolipídios, proteínas, bilirrubina, dentre outros. • Os sais biliares são produzidos pelo fígado e secretados para serem armazenados, concentrados e excretados pela vesícula biliar. • São liberados no duodeno em resposta à chegada do alimento. Vesícula biliar e sais biliares Vesícula biliar e sais biliares Fígado produz, vesícula armazena • Entre as refeições, a vesícula biliar armazena e concentra os sais biliares extraídos do sangue pelo fígado. • Fatores que regulam a liberação de sais biliares após a refeição: • Contração da vesícula biliar estimulada pela CCK • Relaxamento do esfíncter de Oddi Vesícula biliar e sais biliares Vesícula biliar e sais biliares Os sais biliares possuem uma porção hidrossolúvel e uma lipossolúvel → circunda os lipídios → metade hidrofóbica voltada para o interior e metade hidrofílica voltada para o exterior. Vesícula biliar e sais biliares Os sais biliares atuam como cofatores da lipase pancreática e tornam os lipídios solúveis através da formação de micelas. Vesícula biliar e sais biliares A emulsificação dos lipídios pelos sais biliares facilita a atuação das lipases e continuação da digestão dos lipídios O paciente é capaz de sobreviver sem a vesícula biliar? Bilirrubina • É o principal pigmento biliar, de cor amarela • Produto final do catabolismo do grupo heme da hemoglobina Cerca de 80% da bilirrubina é proveniente da hemocaterese, que é a destruição fisiológica das hemácias velhas ou danificadas (cerca de 120 dias de vida). Hemocaterese → separação do grupo heme e da proteína globina → abre-se o anel porfirínico do heme pela enzima heme oxigenasse → formação de biliverdina (pigmento verde) → rapidamente reduzida para bilirrubina (não conjugada) por ação da enzima biliverdina redutase. Metabolismo da bilirrubina Metabolismo da bilirrubina Bilirrubina não conjugada cai na circulação e é transportada junto com a albumina → Fígado → é conjugada com duas moléculas de ácido glicurônico (glicuronidação) Metabolismo da bilirrubina • Bilirrubina não conjugada: ainda não passou pela glicuronidação → bilirrubina indireta (lipossolúvel) • Bilirrubina conjugada: já passou pela glicuronidação → bilirrubina direta (hidrossolúvel) Metabolismo da bilirrubina • Bilirrubina conjugada é direcionada para os canalículos biliares → Armazenada na vesícula biliar • Alimentação → cai no duodeno → desconjugada pela microbiota em compostos urobilinoides Metabolismo da bilirrubina COMPOSTOS UROBILINOIDES Urobilinogênio → urobilina (cor da urina) → rins Estercobilinogênio → estercobilina (cor das fezes) → fezes Ciclo enterohepático: Uma parte é reabsorvida no intestino grosso e é re-excretada pelo fígado e nos rins. Metabolismo da bilirrubina A diminuição ou ausência de excreção de bilirrubina na luz intestinal provoca alterações na cor das fezes tornando-as mais claras (hipocolia fecal) ou esbranquiçadas (acolia fecal). Metabolismo da bilirrubina Colúria: urina escura com espuma amarelada, devido ao aumento de urobilinogênio no sangue Pigmentos biliares e icterícias • Aumento na produção ou defeito na remoção da bilirrubina da circulação pelo fígado → elevação de seu nível no sangue → hiperbilirrubinemia • Sinal clínico: icterícia → deposição de bilirrubina na pele, esclera e mucosas. • Além disso, aumento na excreção de bilirrubina na bile favorece a formação de cálculos de bilirrubinato de cálcio. Pigmentos biliares e icterícia Icterícia Hiperbilirrubinemia e icterícia podem se originar por: 1. Anemias hemolíticas: aumento da produção de bilirrubina 2. Defeitos genéticos: • redução na captação e no transporte de bilirrubina nos hepatócitos • diminuição na conjugação da bilirrubina (carência de enzimas envolvidas) • baixa excreção celular de bilirrubina 4. Cálculos e tumores: obstrução biliar, intra ou extra-hepática 5. Hepatites e cirrose: lesões Pigmentos biliares e icterícia Aumento isolado de bilirrubina indireta: • Acometimento pré-hepático • Indica dano às hemácias (hemólise) • Hemólise pode ser por processos adquiridos (ex: anemias sideroblástica e megaloblástica) ou hereditários (ex: anemia falciforme, talassemias). • Quadro clínico: • Palidez • Taquicardia • Fadiga • Icterícia leve • Sem colúria ou acolia fecal. Pigmentos biliares e icterícia Pigmentos biliares e icterícia Aumento combinado de bilirrubina direta e indireta: • Acometimento hepático → ambas podem ser encontradas no interior dos hepatócitos Hiperbilirrubinemia direta: • Causada por defeito no transporte da bilirrubina do hepatócito para o ducto biliar. • Ocorre em hepatites (viral, alcoólica) e em síndromes genéticas Principais vesiculopatias Colestase Coledocolitíase Colelitíase Colecistite Colangite Cirrose biliar primária Principais vesiculopatias Colangite • Inflamação do ducto biliar • Ressecção da vesícula → ducto sobrecarregado Colestase • Diminuição ou interrupção do fluxo biliar por obstrução • Ocorre em algum ponto entre os hepatócitos (que produzem bile) e o duodeno. • Sedimentação desenvolvida na vesícula por falta de estímulo na liberação da bile. • Comum em pacientes sem alimentação enteral/oral por tempo prolongado ou NPT. • Quando o fluxo da bile é obstruído, a bilirrubina vai para a corrente sanguínea e se acumula. Colestase - etiologia As causas estão divididas em dois grupos, a depender da origem: Intra-hepática • Hepatite aguda • Doença hepática alcoólica • Cirrose biliar primária com inflamação e fibrose dos dutos biliares • Cirrose devido à hepatite viral B ou C • Medicamentos (amoxicilina, clorpromazina, azatioprina, ACO etc.) • Gestação (colestase da gravidez): efeitos hormonais sobre o fluxo biliar • Câncer com metástase no fígado Extra-hepática • Cálculo no duto biliar • Estenose de um duto biliar • Câncer do duto biliar • Câncer de pâncreas • Pancreatite Colestase – sinais e sintomas • Icterícia: acúmulo de bilirrubina no sangue • Colúria: aumento de urobilinogênio • Fezes acólicas: falta de pigmentos biliares • Esteatorreia: bile não chega no duodeno, gorduras são mal digeridas e absorvidas • Coceira generalizada: acúmulo de produtos da bile na pele • Outros sintomas variam de acordo com a causa: dor abdominal, perda de apetite, vômitos ou febre. Coledocolitíase • Ocorre quando cálculos se deslocam para os ductos biliares, causando obstrução, dor e cólicas. • Interrupção da passagem da bile para o duodeno → pode levar à colecistite aguda ou crônica. • Estase da bile não corrigida pode causar icterícia e dano hepático (cirrose biliar). Colestase impacto nutricional • Má absorção de gorduras • Deficiências: • Vitaminas lipossolúveis (A D E K) • Complexo B • Proteína • Ferro • Colestase grave → distúrbios ósseos e defeitos na coagulação Terapia nutricional na colestase Objetivos: • Retorno da função hepática normal e do fluxo da bile; • Corrigir má absorção, esteatorreia (quando presente) e deficiências; • Prevenir falência hepática; Dietoterapia: • Fase aguda ou dor: dieta hipolipídica • Refeições pequenase lanches são melhor tolerados • Se NPT for a causa → Dieta enteral Colelitíase • Formação de cálculos (litos, pedras) dentro da vesícula biliar. • Ocorrem pela incapacidade da vesícula de manter os sais biliares e partículas de colesterol solubilizados na bile. SINAIS E SINTOMAS: • Geralmente assintomática • Pode ocorrer cólica biliar • Os sintomas geralmente só aparecem quando há migração dos litos para o ducto biliar (coledocolitíase) → complicações sérias Tipos de cálculos • Cálculos de colesterol: • 75% dos casos • São amarelados, contém 10% de colesterol e o resto de sais biliares e partículas de cálcio • Cálculos pigmentares: são escuros devido ao acúmulo de sais de cálcio, contém < 20% de colesterol • Pretos: pequenos e firmes, associados à hemólise (anemia falciforme ou cirrose). Geralmente não associados à infecção e estão localizados na vesícula biliar. • Marrons: são moles, contém mais colesterol e menos cálcio. Geralmente associados à infecção por E. coli e estão localizados nos ductos (colédoco). Tipos de cálculos • Cálculos de colesterol: • Cálculos pigmentares: Colelitíase - etiologia FATORES DE RISCO: • Sexo feminino, gravidez (estrogênio e progesterona), uso de AC • Idade avançada (60+) • História familiar, etnia e geografia • Obesidade (hipersecreção de colesterol) • Rápida perda de peso: aumento do depósito biliar → cálculo biliar • Dieta inadequada (pobre em fibras, ritmo intestinal lento, carboidratos refinados → concentração de colesterol biliar) • Ressecção ileal, doença de Crohn • Cirrose (conjugação ineficiente de bilirrubina → excesso de não conjugada) • Dismotilidade vesicular (estase da vesícula) • Infecção por E. coli → desconjugação da bilirrubina → cálculos pigmentares Colelitíase - tratamento • Colecistectomia: remoção cirúrgica da vesícula biliar (único tratamento definitivo) • Dieta - não há tratamento específico para prevenção: • Objetivo: prevenir que a colelitíase ocorra novamente, e que ocorra colecistite com processo inflamatório; • Estudar o histórico alimentar que levou a colelitíase, já que é de natureza multifatorial; • Melhorar os hábitos alimentares, para prevenir que ocorra novamente. Colelitíase – terapia nutricional • Quando necessário, dieta hipocalórica e perda de peso lenta e gradual • Dieta pobre em açúcares simples e gorduras saturadas • NÃO deve excluir gordura → manutenção de contrações vesiculares → evitar estase • Dieta rica em colesterol NÃO aumenta risco para cálculos; • Dieta hipolipídica apenas quando há dor após refeições gordurosas: • Ingestão elevada de gordura por longo período: estímulo constante de produção de colesterol para ressíntese de bile → predisposição à formação de mais cálculos; • Adequar frequência e intervalos entre refeições • Dieta rica em vegetais e fibras → Fibras solúveis reduzem concentração de colesterol na bile • Rica em vegetais, especialmente Vitamina C → associada a quebra de colesterol Colecistectomia • Cirurgia de remoção da vesícula biliar • Indicada para pacientes com dor na vesícula biliar e que tenham história de complicação prévia como pancreatite e colecistite. • O objetivo é diminuir o estímulo à produção de bile, para que evitar que o paciente sinta dor, desconforto, náuseas e outros sintomas. Terapia nutricional após colecistectomia • Após colecistectomia, alimentação oral pode evoluir para dieta normal conforme tolerado. • Dieta é hipolipídica → reduzir o estímulo à produção de bile → começar com 10% LIP e ir evoluindo gradativamente para normolipídica, conforme tolerância. • Sem a vesícula biliar, bile é secretada diretamente no intestino, podendo causar desconfortos gastrointestinais. • Adição de fibras solúveis à dieta pode ser proposta para aliviar sintomas, agindo como “sequestradores” de bile. Colecistite • Inflamação da vesícula biliar • Sintomas mais intensos → dor, edema, isquemia, proliferação bacteriana, necrose e perfuração • Calculosa ou litisiaca (95%): • Causada por colelitíase e coledocolitíase → estase biliar → bile não passa para o duodeno e retorna para a circulação • Acalculosa ou alitisíaca (5%): • Causada por: sepse, trauma ou infecção bacteriana Colecistite aguda É repentina e quase sempre calculosa SINTOMAS: • Dor epigástrica ou no quadrante superior direito • Febre baixa • Náusea e vômitos • Anorexia • Icterícia • Flatulência Colecistite aguda manejo clínico e nutricional • Analgesia + Antibioticoterapia + Hidratação venosa • NP Precoce: paciente desnutrido ou sem VO por longo tempo • Crise aguda → jejum (dieta zero) com evolução gradativa da dieta conforme tolerância. • Melhora das crises → inicia dieta hipolipídica (30 – 45 g/dia) com objetivo de diminuir o estímulo da vesícula → evolução para normolipídica conforme tolerância do paciente. • Dieta antifermentativa Colecistite crônica • Inflamação da vesícula biliar durante um longo período • Geralmente acalculosa • Causada por crises leves e repetidas de colecistite aguda → espessamento das paredes da vesícula → tornando-a mais espessa e rígida → dificuldade de se contrair • Longo prazo → má absorção de lipídios e vitaminas lipossolúveis → baixo peso e carências nutricionais. • Mais suscetível em alcoólatras, bariátricos ou com gastrite crônica Colecistite crônica manejo clínico e nutricional • Colecistectomia • Tratamento nutricional: • Controle do peso, calorias e gorduras de forma gradual e à longo prazo → estimular drenagem da vesícula dolorida • Dieta via oral normolipídica (não é necessário restrição de lipídios em pacientes submetidos a colecistectomia) • Evitar alimentos fermentativos e que causem desconforto gastrointestinal • Administração de vitaminas lipossolúveis • Prevenir obstrução da vesícula e novas complicações Cirrose Biliar Primária - CBP • Doença autoimune e inflamatória do fígado. • Caracterizada por destruição autoimune dos ductos biliares intra-hepáticos, levando a colestase e colangite • A colangite pode resultar em sepse e insuficiência hepática. • Progressão lenta → cirrose, hipertensão portal, transplante de fígado ou morte. Quando a doença biliar progride e compromete o funcionamento hepático, o paciente passa a ser acompanhado pelo nutricionista da mesma forma que o paciente com doença hepática crônica. RESUMO: principais vesiculopatias Colestase Coledocolitíase Colelitíase Colecistite Colangite Cirrose biliar primária ✓ Crises agudas – dieta zero ✓ Proteínas – normo a hiperproteica ✓ Carboidratos – normoglicídica ✓ Fibras – normal ✓ Lipídios – hipolipidíca à normolipídica (conforme tolerância) ✓ Vitaminas lipossolúveis – verificar adequação e administrar se deficiência ✓ Antioxidantes ✓ Consistência – pastosa → branda → normal (conforme tolerância) ✓ ↑ Fracionamento e ↓ Volume ✓ Temperatura – Normal RESUMO: terapia nutricional nas vesiculopatias Slide 1: Patologia das glândulas anexas Slide 2 Slide 3 Slide 4: Vesiculopatias Slide 5: Revisando: digestão de lipídios Slide 6: Revisando: digestão de lipídios Slide 7 Slide 8: Vesícula biliar e sais biliares Slide 9 Slide 10: Vesícula biliar e sais biliares Slide 11: Vesícula biliar e sais biliares Slide 12: Vesícula biliar e sais biliares Slide 13 Slide 14: Bilirrubina Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29: Principais vesiculopatias Slide 30: Principais vesiculopatias Slide 31: Colangite Slide 32: Colestase Slide 33: Colestase - etiologia Slide 34: Colestase – sinais e sintomas Slide 35: Coledocolitíase Slide 36: Colestase impacto nutricional Slide 37: Terapia nutricional na colestase Slide 38: Colelitíase Slide 39: Tipos de cálculos Slide 40: Tipos de cálculos Slide 41: Colelitíase - etiologia Slide 42: Colelitíase - tratamento Slide 43: Colelitíase – terapia nutricional Slide 44:Colecistectomia Slide 45: Terapia nutricional após colecistectomia Slide 46: Colecistite Slide 47: Colecistite aguda Slide 48: Colecistite aguda manejo clínico e nutricional Slide 49: Colecistite crônica Slide 50: Colecistite crônica manejo clínico e nutricional Slide 51: Cirrose Biliar Primária - CBP Slide 52: RESUMO: principais vesiculopatias Slide 53