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ALFABETIZAÇÃO-E-LETRAMENTO

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Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ........................................... 4 
1.1 Os principais métodos de alfabetização ............................................................. 10 
1.2 Reflexão acerca do alfabetizar letrando.............................................................. 22 
1.3 Aspectos cognitivos envolvidos na apropriação da escrita ................................. 25 
2 O AMBIENTE ALFABETIZADOR: POR UMA IMERSÃO NA CULTURA ESCRITA 
DENTRO DA ESCOLA ............................................................................................. 35 
3 O SIGNO LINGUÍSTICO ....................................................................................... 47 
4 AVALIAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO .................................................................... 54 
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 66 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
Antes de dar início às discussões, você deve conhecer o significado da palavra 
alfabetização. Segundo o dicionário Houaiss, alfabetização é o “[...] ato de propagar o 
ensino ou difusão das primeiras letras” (ALFABETIZAÇÃO, 2009). Nesse sentido, se 
pode dizer que a alfabetização seria a ação de ensinar/aprender a ler e escrever. Essa 
ação permitirá que o sujeito crie novos conhecimentos. Maciel e Lúcio (2009, p. 14) 
complementam dizendo: 
A escrita, comparável a um instrumento, é vista capaz de permitir a entrada 
do aprendiz no mundo da informação, seja possibilitando o acesso aos 
conhecimentos históricos e socialmente produzidos, seja criando condições 
diferenciadas para produção de novos conhecimentos. 
Soares (2004) conceitua alfabetização como o “[...] processo de aquisição e 
apropriação do sistema da escrita”. Além disso, ela destaca a alfabetização como um 
“[...] conjunto de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que 
envolvem a língua escrita” (SOARES, 2004, p. 16). 
Em outra obra, Soares (2006) completa dizendo que, para entrar e viver no 
mundo do conhecimento, o indivíduo precisa aperfeiçoar duas habilidades. A primeira 
se relaciona ao domínio da escrita, no qual contempla o sistema alfabético e 
ortográfico. Na etapa alfabética, as crianças fazem as construções transparentes 
entre fonema e grafema, e na etapa ortográfica, os alunos começam a construir, 
através do ensino explícito, as regras, memorizar palavras e fazer relações. Já a 
segunda tem a ver com o domínio das competências e com o uso da escrita em 
diferentes situações e contextos, sendo obtido por meio do letramento. 
Seguindo a mesma linha, Freire (1983) afirma que a alfabetização é um ato 
criador, no qual o sujeito é agente da aprendizagem na medida no qual o mesmo vai 
aprendendo e compreendendo a leitura e a escrita. Segundo o autor, esse processo 
não acontece de forma mecânica ou desvinculada de um universo existencial, ele 
requer uma atitude e uma postura de criação e recriação. Freire (1991) também 
destaca, não basta apenas dominar a escrita, é preciso inserir o sujeito nesse mundo 
para desenvolver uma leitura crítica das relações sociais. 
Se você analisar os dois conceitos, vai notar que ambos caminham para a 
mesma direção. Eles entendem que alfabetizar não é apenas decodificar ou dominar 
https://www.sinonimos.com.br/individuo/
https://www.sinonimos.com.br/aperfeicoar/
 
 
5 
 
a leitura e a escrita. É preciso ir além e se torna fundamental pensar na formação de 
sujeitos capazes de interpretar e transformar a leitura e a escrita utilizando-as em suas 
práticas cotidianas. 
Traçando uma breve trajetória da alfabetização, você pode perceber que até 
meados de 1980 ela era pensada a partir de métodos sintéticos e analíticos 
ocasionando em formas definidas de como o professor deveria ensinar. Nesses 
métodos, em especial no silábico ou no fônico, a criança repetia informações prontas, 
transmitidas por meio de cartilhas, nas quais aprendia a memorizar o nome e o traçado 
das letras, decorando seus sons. A correspondência som-grafia e a memorização das 
famílias silábicas eram utilizadas nas atividades diárias do professor, de forma com 
que a criança era exposta a textos prontos para fixar as letras e sílabas trabalhadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
O trabalho era mecânico e bastava a criança decorar o nome das letras, o som 
e a junção das sílabas para formar palavras. A alfabetização, nesse caso, baseava-
se à cópia e à repetição, sendo vista sob a perspectiva do professor, responsável por 
ensinar. 
Na maioria dos casos, as crianças, por repetirem tantas vezes as informações 
obtidas nas cartilhas, as decoravam. Porém, não compreendiam por qual motivo cada 
letra era utilizada. Além disto, eram privadas de avançar em sua aprendizagem. Isso 
porque os professores acreditavam que a criança só poderia seguir para a leitura se, 
primeiro, passasse por esse processo. O chamado “período preparatório” visava as 
atividades de motricidade e percepção. 
Os trabalhos de Ferreiro e Teberosky (1985) mudaram o foco, pensando em 
como a criança aprende, se desenvolve e se apropria da língua escrita. A partir desses 
trabalhos, esses processos passaram a ser compreendidos como uma construção 
Exemplo 
Observe a frase a seguir. Ela exemplifica o método 
de alfabetização em que eram utilizadas palavras 
com as mesmas famílias silábicas. A criança, por 
meio da leitura repetitiva, deveria fazer a relação 
fonema-grafema. 
IVO VIU A UVA 
https://www.sinonimos.com.br/ocasionando/
 
 
6 
 
contínua, desenvolvida simultaneamente dentro e fora da sala de aula, em processo 
interativo ocorrendo desde as primeiras relações da criança com a escrita. Aqui, a 
criança não é mais vista como mero receptor de conhecimento, mas como um sujeito 
imagina a escrita desde muito cedo, buscando compreender como ela funciona. As 
cartilhas são substituídas por atividades e elementos fornecendo indícios para a 
elaboração de atividades desafiadoras, a fim de que as hipóteses construídas pelos 
alunos sejam colocadas em pauta. 
Para perceber o Sistema de Escrita Alfabética (SEA), é preciso que a criança 
compreenda a suas propriedades. Esse sistema envolve um conjunto de hipóteses e, 
sabendo disso, o aluno pode realizar a leitura ou a escrita de novas palavras apenas 
memorizando a relação entre letra e som de forma produtiva. 
O SEA significa muito mais que a aquisição de um código, como propunham as 
teorias tradicionais. Ele é um sistemanotacional de representação da escrita, onde as 
habilidades perceptivas e de motricidade não têm um peso fundamental. Nesse caso, 
atividades reflexivas e desafiadoras auxiliarão a criança a compreender os segmentos 
sonoros da fala e das palavras. 
É preciso tratar a escrita alfabética como um objeto de conhecimento. Assim, o 
professor auxiliará o aluno a descobrir, reconstruir e se apropriar do SEA. Morais 
(2005, p. 45) destaca que para alfabetizar letrando é preciso: 
[...] reconhecer que a escrita alfabética é em si um objeto de conhecimento: 
um sistema notacional. Na esteira desse posicionamento, além de buscarmos 
abandonar o emprego das palavras “código”, “codificar” e “decodificar”, 
parece-nos necessário criar um ensino sistemático que auxilie, dia após dia, 
nossos alunos a refletir conscientemente sobre as palavras, para que venham 
a compreender como esse objeto de conhecimento funciona e possam 
memorizar suas convenções. 
Nesse sentido, quando a criança ingressa na escola, é fundamental que o 
professor crie uma rotina diversificada, com diferentes atividades de reflexão e 
exploração sobre os níveis das palavras, assim como a compreensão do sistema de 
escrita como um todo. Seguindo essa linha, é importante também promover 
habilidades de consciência fonológica, permitindo o sujeito reflita sobre as dimensões 
sonoras das palavras. 
As habilidades de consciência fonológica surgem à medida que a criança 
consegue refletir sobre as palavras na dimensão da sonoridade, percebendo o quanto 
https://www.sinonimos.com.br/simultaneamente/
 
 
7 
 
elas podem ser trabalhadas de diferentes formas. Vale apostar em atividades 
estimulando a criança identificar e compreender o significado de uma palavra, quantas 
sílabas ela possui, quais os fonemas existentes e como são feitas as 
correspondências entre os fonemas e as letras. 
Por isso, você pode utilizar atividades envolvendo separação, contagem e 
comparação quanto ao tamanho ou semelhança sonora. Além disso, pode se valer de 
atividades abrangendo rimas, som inicial e som final, contribuindo para que o aluno 
perceba os sons da fala. Mas, sobretudo, o aluno deve ser incentivado a escrever e a 
elaborar hipóteses, mesmo que ainda não domine o sistema alfabético de escrita. A 
ideia é a criança construir o conceito de língua escrita e caminhe por esse processo 
consideravelmente. Portanto, para aprender a ler e escrever, é necessário que seja 
exposta a situações no qual a desafiem a refletir sobre a língua, transformando as 
informações recebidas em saberes próprios. 
 
Conceito de letramento 
O letramento ocorre muito antes do ingresso na escola. Ele é um processo 
sistemático envolvendo, além dos professores, pais e demais pessoas no qual 
convivem com a criança. Biazioli (2018) destaca que a criança, desde muito pequena, 
está inserida em um contexto letrado, rodeada de situações cotidianas envolvendo a 
leitura e a escrita. Entre essas situações, você pode considerar o uso de livros e 
revistas, as contações de histórias, as músicas e as cantigas de roda como exemplos 
práticos e concretos de como esse processo é rico quando apresentado desde os 
primeiros anos de vida. Quando o adulto apresenta o mundo da cultura à criança, ela 
se apropria, ou seja, ela internaliza, dando sentido àquilo que está vivenciando, 
conhecendo, experimentando. 
Depois desse primeiro contato com os pais e familiares, é importante que as 
práticas sociais de letramento sejam promovidas. Elas devem ter início desde a 
educação infantil, em que a criança tem o seu primeiro convívio coletivo. 
Posteriormente, devem ter continuidade no ensino fundamental, sendo criadas 
situações práticas para que esse processo seja aprimorado e aprofundado. 
É nesse período que a escola e, mais especificamente, o professor assumem 
um papel fundamental na inserção no ambiente letrado. Afinal, é necessário tanto a 
https://www.sinonimos.com.br/consideravelmente/
 
 
8 
 
sala de aula quanto os demais espaços da escola sejam vistos pela criança como 
lugares agradáveis e com múltiplas possibilidades de atividades e aprendizagens. Em 
síntese, é preciso instigar a criança a interagir com as práticas de letramento, 
alimentando seu desejo de estar na escola. Visitas à biblioteca, por exemplo, podem 
proporcionar o contato com diferentes tipos de materiais escritos e possibilitar ainda 
uma experiência fora da sala de aula. 
Quanto mais objetos, instrumentos, linguagens, gêneros e portadores de textos 
de conhecimento da criança forem utilizados, maior será o sentido, o desejo e o 
significado internalizado por ela. Pensar na função social da leitura e da escrita é 
pensar no que os textos representam no dia a dia desses sujeitos dentro e fora da 
sala de aula. Ou seja, à medida que elas compreendem o uso e a função da escrita, 
elas têm as suas intenções de aprendizagem contempladas. 
Nessa perspectiva, você deve considerar utilizar a leitura no seu dia a dia para 
os mais variados propósitos, como localizar endereços, fazer uma receita, ler uma 
bula de remédio, mandar uma mensagem para algum amigo ou familiar, entre tantas 
outras. Essas leituras diversas envolvem o confronto de opiniões e interpretações e a 
exploração mais aprofundada do conteúdo abordado. Deve ser incorporado tais 
conhecimentos na rotina da sala de aula para que os alunos se tornem verdadeiros 
leitores e escritores. 
O ponto de partida para o processo de efetivo aprendizado é a convivência, o 
contato e a experimentação com o mundo da cultura escrita. Os conhecimentos sobre 
a linguagem adquiridos nas mais variadas situações que a criança traz quando chega 
à escola evidenciam que ela está inserida em um contexto comunicativo de produção 
e compreensão das funções da língua escrita. Assim, a ideia é criar nas novas 
gerações a necessidade de utilizar a escrita socialmente, coletivamente, de acordo 
com a função para a qual foi criada. 
Além disso, é possível ampliar a comunicação e a troca de vivências entre os 
alunos, de forma que eles interajam, auxiliem-se e aproximem-se das atividades 
propostas pelo letramento. Esse é o sentido, a significação e a reconstrução proposta 
por diferentes perspectivas de apropriação do sistema de leitura e escrita. 
Essa apropriação da escrita possibilita um avanço no desenvolvimento cultural, 
pois abre possibilidades para um conhecimento mais refinado do mundo e, 
consequentemente, para o raciocínio e o pensamento mais complexos. Por conta 
 
 
9 
 
disso, é importante favorecer o contato dos alunos com diferentes tipos de textos para 
que façam uso dessa tecnologia da escrita nas diferentes situações vivenciadas. 
Nesse sentido, você precisa ter em mente que a criança, como membro da 
sociedade, precisa do convívio com a leitura e a escrita para conhecer o mundo que 
a rodeia. Ela se interessa e busca respostas para suas indagações, tornando o 
processo de aprendizagem mais significativo. É fundamental que a mesma possa 
falar, escutar, escrever e se envolver em situações reais de mediação e interação na 
sociedade, de forma que a sala de aula também se torne um espaço de participação, 
partilha, cooperação recíproca, trocas de opiniões, informações e experiências. 
Segundo Franchi (2012), essa interação social proporciona vastas experiências 
entre as crianças, além de favorecer que o professor observe as dificuldades e 
peculiaridades existentes durante a realização das atividades, na medida em que faz 
os devidos encaminhamentos nos momentos apropriados. 
Esse processo ainda deve levar em consideração os modelos escritos sejam 
contextualizados com uma significação. Ou seja, é fundamental que a criança faça 
relações entre a palavra trabalhada e o objeto apresentado. Para isso, o professor 
deve traçar diferentes estratégias colocando o sujeito em contato com distintas 
situações e informações do cotidiano, levando-o a compreender aquilo que estáescrevendo ou lendo. 
Tais atividades, atreladas a debates e discussões, contribuem para que a 
criança contextualize as palavras, fazendo relações entre som, grafia e interpretando 
o sentido a que está sendo exposta. Além disso, essas atividades se tornam 
significativas quando envolvem os sujeitos na construção do conhecimento e na 
resolução de problemas e desafios. 
Outra questão pertinente que favorece a compreensão e a apropriação do 
sistema de escrita é o uso de atividades orais e espontâneas. O professor deve 
trabalhar tanto a letra, a sílaba e a junção delas na formação de palavras quanto a 
contextualização desse conhecimento reflitindo sobre o processo. A promoção dessas 
situações dialogadas dá oportunidade para que os alunos construam novas 
significações voltadas à proposta de alfabetização e letramento. 
É importante você notar que o letramento não é um treinamento repetitivo de 
determinada habilidade trabalhada em sala de aula, muito menos pode ser aprendido 
ou medido. Ele vai além do conhecimento das letras e dos sons. É preciso que o 
 
 
10 
 
significado da língua escrita tenha relevância no mundo letrado possa identificar e 
refletir sobre os usos sociais, de maneira que interaja com os mais variados gêneros 
de textos. Para ela estar inserida nesse mundo, não é necessário apenas 
compreender o sistema de escrita alfabética. É preciso que o aluno use a língua nas 
diversas práticas sociais de leitura e escrita, a fim de produzir novos sentidos e a fim 
de participar de forma integrada da sociedade. 
1.1 Os principais métodos de alfabetização 
Com a necessidade de aprimorar o processo de aprendizagem da leitura e da 
escrita, os métodos de alfabetização, cada qual com suas características e 
especificidades, foram criados com o objetivo de impor algumas regras e 
determinações a serem seguidas pela criança para atingir a condição de alfabetizada. 
Os métodos foram evoluindo com o passar dos anos, à proporção que os 
conhecimentos precisaram acompanhar os avanços da sociedade e das demandas 
sociais. 
Para conhecer os principais métodos de alfabetização, você precisa conhecer 
paralelamente o período histórico em que os métodos foram aplicados. Por esse 
motivo, é importante entender as transformações educacionais, econômicas e sociais 
implicadas nesses processos para, posteriormente, discutir acerca das metodologias 
didáticas e especificidades de cada método. 
No entanto, antes de você se aprofundar no assunto, é importante notar que há 
muitos anos o cenário pedagógico e as preocupações com o ensino e a aprendizagem 
da leitura e da escrita fazem parte das discussões de educadores, relacionando esse 
processo à utilização de métodos e à busca pelo melhor ou o mais eficaz deles. 
Mas, afinal, você sabe o que são métodos? Recorrendo ao dicionário Houaiss, 
entre tantos significados apresentados, se destaca este: métodos são um “conjunto 
de regras e princípios normativos que regulam o ensino, a prática de uma arte entre 
outros”. Ou ainda: “processo organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução, 
investigação, apresentação entre outros” (HOUAISS; VILLAR, 2009, documento 
online). Diante desses apontamentos, se você pensar nos métodos na perspectiva da 
alfabetização, pode considerar que eles se baseiam em indicar metodologias 
https://www.sinonimos.com.br/a-proporcao-que/
 
 
11 
 
específicas que devem ser seguidas pela criança para aprender a codificar e 
decodificar a leitura e a escrita. 
A partir dessas discussões, você pode conhecer, então, os métodos que foram 
utilizados ao longo dos anos para alfabetizar as crianças. Araújo (1996) destaca que 
os métodos sintéticos e analíticos, criados entre os séculos XVI e XVIII e se 
estendendo até meados de 1960, surgiram para se opor aos métodos de soletração, 
predominantes na Antiguidade e na Idade Média. Esses métodos de soletração eram 
considerados difíceis e contribuíam para os grandes índices de fracasso escolar na 
fase de alfabetização. 
Os métodos sintéticos, segundo Frade (2005), são procedimentos que partem 
das unidades menores para as unidades maiores. Ou seja, inicia-se pelo ensino das 
letras, da memorização, da decoração e do domínio do alfabeto para, posteriormente, 
passar às sílabas, às palavras, às frases e aos textos. 
Esse método em específico impossibilita que a criança avance para uma nova 
fase de conhecimento se não tiver, primeiro, dominado e passado por todas as etapas 
anteriores. Isto é, está em jogo um processo no qual a criança aprende das partes 
para o todo. É, portanto, um método que foca seu ensino na decifração e na leitura 
mecânica, dando ênfase à correspondência entre o som e a grafia e utilizando como 
estratégia principal a percepção auditiva, por meio de exercícios de leitura em voz alta 
e ditados feitos pelos professores. 
Por ser um método de decoração e memorização, ele traz suas regras já 
estabelecidas, o que torna o ensino cansativo, desmotivador e com pouco significado 
para a criança. Afinal, as palavras utilizadas nas cartilhas já eram determinadas, 
apresentando pouca relevância na percepção da leitura e da escrita. 
O aluno, nessa concepção de alfabetização, recebe o conhecimento pronto. 
Porém, na maioria das vezes não compreende e possui dificuldades para produzir 
textos devido ao restrito vocabulário a que foi exposto. Em contrapartida, acredita-se 
que o método sintético seja positivo, devido à grande exposição da criança às 
repetições e regras impostas, pois ela alcança a ortografia perfeita mais rapidamente, 
visto que já conhece e domina as palavras que necessita escrever em suas atividades. 
Do ponto de vista da alfabetização, o método analítico favorece que a criança 
se aproxime um pouco mais de sua realidade. Afinal, em vez de reconhecer primeiro 
 
 
12 
 
as letras e as sílabas fora de contexto, o aluno tem a oportunidade de aprender a partir 
das palavras emitidas de forma inteira e não apenas das partes ou pedaços delas. 
Nessa perspectiva, os textos podiam ter sentido um pouco maior, pois a leitura 
não era realizada por meio da silabação. Em contrapartida, há as duas faces da 
moeda, visto que, por ser um método que parte da leitura de palavra por palavra, pode 
também trabalhar a partir de elementos isolados e com poucos significados, 
impossibilitando a criança olhar o texto na sua totalidade. 
Além disso, diferente do método sintético, no analítico os professores não 
exigiam que os alunos fizessem a correspondência sonora entre a fala e o texto 
escrito. Na maioria das atividades, eram propostos exercícios orais em que as 
crianças deveriam reconhecer a palavra sem pronunciá-la oralmente e eram 
instigadas a realizar cópias e leituras silenciosas, o que também as desestimulava e 
tornava o trabalho cansativo e pouco produtivo. 
De acordo com Mortatti (2006), iniciaram-se, por volta da década de 1920, os 
embates contrários aos métodos analíticos. Buscava-se um ensino que contemplasse 
o aprendizado da leitura e da escrita ao mesmo tempo. Surge então o método misto, 
que varia entre o analítico e o sintético e destaca-se tanto pelo ensino do todo quanto 
pelo ensino das partes, de forma conjunta. Nesse método, o professor escolhe se as 
atividades partirão das palavras, das frases ou dos textos. 
Mortatti (2006) ainda destaca que o método misto se tornou especialmente 
relevante a partir de 1934, quando foram criadas as bases psicológicas de 
alfabetização contidas no livro Testes ABC, escrito por Manoel Bergström Lourenço 
Filho. Esse autor verificava a maturidade necessária para a criança aprender o 
processo de leitura e escrita e classificava os alunos, organizando-os em classes 
homogêneas, com vistas à eficácia da alfabetização. 
A partir dessa proposta, o ensino volta a ser visto como tradicional. O trabalho 
do professor, por sua vez, se baseava na produção de manuais prontos e cartilhas, 
que visavam a interligara habilidade da leitura com a habilidade da caligrafia e da 
ortografia. 
Nessa fase, instaurou-se também o período preparatório, no qual a criança era 
envolvida em atividades de prontidão, de discriminação auditiva e visual, além de 
realizar atividades que testavam a coordenação motora por meio de exercícios com 
identificação e traçado das letras. Tal proposta tinha como objetivo medir as 
 
 
13 
 
habilidades e conhecimentos das crianças relativos à leitura e à escrita. Além disso, 
as separava conforme a sua maturidade. 
Em todos os métodos apresentados, tanto nos sintéticos quanto nos analíticos 
e mistos, predominava a utilização das cartilhas, cuja proposta principal era 
apresentar às crianças letras, sílabas soltas, palavras, frases e textos com pouca 
relevância e significado no contexto em que os alfabetizandos estavam inseridos. Da 
mesma forma, o objetivo das cartilhas visava a abordar apenas a codificação (escrita) 
e a decodificação (decifração) e pouco agregava conhecimentos aos envolvidos. 
A aprendizagem do código alfabético acontecia por meio da transmissão do 
ensino, cuja proposta era iniciar a alfabetização partindo das unidades mais fáceis 
para, em seguida, apresentar as mais difíceis. Nessas concepções de métodos, 
acreditava-se que o aluno chegava à escola com pouco ou quase nada de 
conhecimento a respeito da língua. Portanto, a escola teria o papel de iniciar o 
processo da leitura e da escrita por meio do ensino de letras, sílabas e palavras, 
passando para os alunos, que eram meros receptores, as informações prontas e fora 
do contexto. 
A partir desse período, Mortatti (2006) destaca que houve uma descrença muito 
grande nos métodos para se alfabetizar. Isso ocorreu, pois, os altos índices de 
fracasso escolar e reprovação, assim como a aprendizagem superficial que as 
crianças eram submetidas, tornaram-se pontos de discussão entre os educadores que 
buscavam respostas e caminhos para alfabetizar de forma mais efetiva. 
O processo de ensino e aprendizagem passou a ser debatido e pensado sob 
um novo enfoque. Iniciaram-se as discussões acerca do construtivismo como forma 
de desmetodizar a alfabetização. Esse campo foi muito estudado por Jean Piaget, 
apontado como um dos precursores da teoria construtivista. A aprendizagem, nessa 
concepção, é vista como um processo contínuo de desenvolvimento, em que o 
conhecimento é construído pelo próprio sujeito na sua interação com o mundo, na 
medida em que é envolvido em situações de aprendizagens relevantes e 
significativas. 
Em meados de 1980, seguindo a linha construtivista, surgem os estudos e 
pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1985) acerca da psicogênese da língua escrita. 
Esses estudos reforçam que a escrita alfabética não é um código no qual se aprende 
a partir de métodos e atividades de memorização. Pelo contrário: a criança elabora e 
 
 
14 
 
formula diferentes hipóteses sobre a escrita, sendo este um processo gradativo que 
acontece em momentos diferenciados do seu desenvolvimento. 
Além disso, outra questão levantada é que os processos de aprendizagem 
acontecem antes mesmo do ingresso da criança na escola. Isso se dá por meio da 
sua inserção em ambientes letrados e da sua participação em vivências e práticas 
sociais de leitura e escrita, de forma que o aluno interage com diferentes tipos de 
textos nas mais variadas atividades desenvolvidas. 
Diante dessas questões, é fundamental refletir, não existem métodos perfeitos, 
tampouco teorias milagrosas que farão a criança aprender de forma plena. Cada 
indivíduo concebe o conhecimento ao seu tempo e da sua maneira. O importante é 
que sejam desenvolvidas metodologias de ensino auxiliando a criança a refletir sobre 
a escrita alfabética, tornando-a pensante, crítica, reflexiva e questionadora. 
Frade (2005, p. 15) destaca “Muitas vezes, à própria menção da palavra 
método, temos um comportamento intolerante, porque pensamos que essa palavra se 
refere a apenas um caminho para alfabetizar ou a uma fórmula inflexível”. Para que 
não haja retrocessos, é preciso combater aquele ensino a partir de métodos rígidos 
em que os professores ficam presos à mesma forma de ensinar e às mesmas práticas 
pedagógicas. 
Nesse sentido, Ferreiro e Teberosky (1985, p. 29) destaca: “O método 
(enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar [...] A 
obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito”. Assim, é 
importante a escola pensar em intervenções ajudando a criança a aprender de forma 
conjunta, tornando-a um sujeito capaz de formular hipóteses, discutir e ser 
“intelectualmente ativo” 
É necessário, portanto, relacionar o momento atual da educação às discussões 
de problemática social que permeiam o cenário educacional. Isso principalmente no 
que diz respeito ao fato de não existir uma ideia definitiva ou limitada acerca das 
metodologias, apenas a busca por caminhos que levem a criança a se alfabetizar a 
partir de conteúdos mais complexos e significativos. 
 
 
 
 
 
 
15 
 
As especificidades do método sintético de alfabetização 
 
Albuquerque (2012) destaca que o método sintético de ensino surgiu por volta 
do século XVII. Nesse período, a leitura e a escrita passaram a ter maior importância 
frente às mudanças históricas que a sociedade vivia. Como a grande maioria da 
população não dominava o código escrito, iniciaram-se as discussões acerca de um 
método no qual contemplasse a decodificação como forma de expandir a 
escolarização ao restante da população, focando, assim, na prática escolar da leitura. 
Surge aí o método sintético, baseado no ensino da leitura e da decifração de 
forma mecânica. O objetivo principal desse processo é que a criança faça a 
correspondência entre o oral e o escrito por meio do aprendizado de unidades 
menores para unidades maiores (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985). 
O aluno, nesse contexto, aprende primeiro as letras, partindo para as sílabas e 
as letras dentro de cada sílaba, para depois, por fim, chegar à leitura da palavra. Até 
que todo esse processo aconteça, a criança é submetida a uma gama de atividades 
de memorização e decoração de letras e traçados, como forma de garantir um 
aprendizado mais efetivo. 
As cartilhas ou livros utilizados durante esse período eram um dos principais 
recursos que o professor tinha à sua disposição, sendo também o primeiro contato da 
criança com algum material impresso. Para compreender melhor o método sintético, 
você deve conhecer as três fases distintas caracterizadas a partir dos métodos 
alfabético, fônico e silábico. 
 
Método alfabético 
No método alfabético, também chamado de método de soletração e método 
ABC, a unidade partia do ensino, da decoração e da memorização oral das letras do 
alfabeto. Primeiro, as letras eram apresentadas na ordem alfabética, depois no sentido 
inverso e, futuramente, havia o reconhecimento das letras isoladas. 
A etapa seguinte era apresentar a forma gráfica das letras. Conforme fosse 
aumentando o conhecimento da criança, as sequências iam atingindo graus maiores 
de dificuldade. Partia-se então para o estudo e a formação das sílabas que eram 
soletradas e decoradas pelos alunos para fazer as combinações silábicas. Nessa 
 
 
16 
 
etapa, a criança apenas memorizava e não estabelecia a relação entre a escrita e a 
fala. 
Segundo Frade (2007), as famílias silábicas eram apresentadas para as 
crianças de forma que elas pudessem fazer todas as combinações possíveis. Havia 
também a estratégia de que as letras e sílabas fossem cantadas e memorizadas. 
Assim, o processo se tornava lento e pouco representativo para a criança. 
Carvalho (2005, p. 22) ainda complementa que o método alfabético “[...] baseia-
se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da memorização como 
estímulo didático, o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são 
aprendidas decor e com elas se formam palavras isoladas”. Nesse sentido, você pode 
considerar que as palavras eram apresentadas e trabalhadas fora do contexto, sem 
haver relação entre elas. 
De acordo com os estudos de Frade (2007), até os dias de hoje, regiões como 
o Nordeste, por exemplo, utilizam esse método para alfabetizar. Seja na alfabetização 
doméstica, realizada pelos familiares, seja na educação levada a cabo por professores 
leigos e com pouca formação, ainda há o emprego e os estudos repetitivos partindo 
das cartas de ABC e que possuem como fundamento o ensino partindo das letras. 
 
Método fônico 
 
No método fônico, a unidade de ensino parte dos sons e tem como principal 
objetivo estabelecer a relação entre a letra e o som que ela representa. A união da 
consoante com a vogal auxilia a criança a trabalhar a pronúncia das sílabas que estão 
sendo formadas, relacionando a palavra falada à escrita. 
Em um primeiro momento, por possuírem nomes e sons iguais, eram 
trabalhadas as vogais, depois palavras formadas apenas por elas. No segundo 
momento, eram apresentadas as consoantes e as formas mais complexas dos seus 
sons dentro da palavra. Para Frade (2007, p. 23), o objetivo do método fônico é fazer 
a relação de que: “Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som), que, 
junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras”. A partir da formação das 
palavras, surgem as frases e os textos. 
Esse método é muito utilizado e possui suas vantagens e desvantagens. Entre 
as vantagens está o fato de, se o aluno compreender a relação entre as letras e os 
 
 
17 
 
fonemas, haverá uma correspondência direta que será decifrada mais rapidamente, 
sem oferecer maiores dificuldades. Isso se dá principalmente quando é preciso 
escrever palavras com P, B, T, D e V, por exemplo, nas quais os fonemas representam 
a escrita das letras. Em contrapartida, algumas consoantes, para terem seus sons 
identificados, precisam do apoio de uma vogal, mesmo que ela fique oculta na hora 
da pronúncia. Um exemplo é o fonema /m/, ele necessita de um mê para ser 
referenciado. 
Entre as desvantagens está o fato das letras, podem apresentar diferentes 
sons e fonemas conforme a posição que ocupam na palavra. Assim, esse processo 
de transição até que a criança chegue ao nível ortográfico se torna mais lento. Outra 
questão são as variações quanto à pronúncia das palavras, trazendo confusões na 
hora da escrita, pois uma mesma palavra é falada de uma forma e escrita de outra. 
Como você sabe, o sotaque e as variações da língua conforme cada região do país 
influenciam essas inconstâncias. 
O método fônico, nesse sentido, tem o objetivo de fazer com que a criança 
demonstre compreensão dos padrões regulares de correspondência entre o som e a 
soletração, entre os fonemas e os grafemas. A ideia é que, a partir desse domínio, 
possa identificar os sons e realizar a leitura de palavras. 
 
Método silábico 
O método silábico ou de silabação, segundo Frade (2005), tinha como ponto 
de partida a união entre a consoante e a vogal para formar as sílabas. No entanto, 
como em métodos anteriores, as unidades eram apresentadas à criança das mais 
fáceis para as mais difíceis. Iniciava-se pelo ensino das vogais e encontros vocálicos, 
e os professores faziam as relações entre a letra e as palavras começadas com ela a 
partir de ilustrações. Por exemplo, “A de árvore”, “E de escada”. 
Posteriormente, eram sistematizadas as sílabas simples, também utilizando o 
mesmo enfoque, porém agora no destaque das sílabas iniciais dentro da palavra, 
como “PA de panela”, “MA de maçã”. A partir dessa introdução, eram trabalhadas as 
famílias silábicas da sílaba que estava em realce na palavra, ou seja, se a sílaba que 
estava sendo aprendida era PA de panela, partia-se para o estudo da família 
pa/pe/pi/po/pu e para a formação de novas palavras. 
 
 
18 
 
O ensino das famílias silábicas compostas por essas letras era apresentado à 
criança de forma que a sílaba era indicada e estudada sistematicamente. A partir do 
estudo das famílias, partia-se para a formação de palavras, frases e textos que 
continham as sílabas já trabalhadas anteriormente. 
Hoje, o método silábico é utilizado, por exemplo, nos silabários simples, que 
servem para a fixação das famílias silábicas pelas crianças (Figura 1). 
 
Figura 1 – Silabário simples 
 
Fonte: https://bit.ly/3fx17I2 
Os apoiadores do método silábico acreditavam que o processo acontecia de 
forma mais concreta e rápida, pois se estabelecia a relação entre os segmentos da 
fala e da escrita. As cartilhas com o método silábico tinham como conteúdo palavras 
 
 
19 
 
que partiam da sílaba trabalhada. Dentro dessa letra, eram apresentadas então várias 
palavras, frases e textos no qual a sílaba ensinada ganhava destaque. Essas 
palavras, na maioria das vezes, não tinham sentido dentro do texto, pois a 
preocupação maior era que as famílias silábicas pudessem ser trabalhadas e 
evidenciadas pelas crianças. Os textos e histórias eram artificiais, sem relação com 
os usos sociais, e tinham o propósito de trabalhar e treinar o ensino das sílabas de 
forma mecanizada. 
Nesse sentido, os métodos sintéticos, sejam eles alfabéticos, fônicos ou 
silábicos, têm como proposta a progressão das unidades menores para as mais 
complexas. Além disso, privilegiam a aprendizagem das partes para o todo por meio 
da decodificação, da análise fonológica e da relação entre letras e sons. Você pode 
perceber, no entanto, que os métodos da marcha sintética são inflexíveis e tendem a 
desconsiderar os usos e funções sociais da escrita, dando pouca importância ao 
sentido que os textos têm no contexto da criança. 
 
As especificidades do método analítico de alfabetização 
 
No combate aos métodos sintéticos de alfabetização, surgem os métodos 
analíticos. Sua finalidade é romper com o princípio da decifração e ensinar a criança 
a perceber do todo para as partes, ou seja, a analisar de forma global a palavra, a 
frase ou o texto para, posteriormente, considerar e decompor as unidades menores. 
Assim, o professor deve apresentar às crianças as palavras, frases ou textos 
explorando-as o maior tempo possível, para só depois analisar e decompor as partes. 
Para entender melhor o método analítico, veja a seguir as três fases distintas desse 
método: palavração, sentenciação e global de contos. 
 
Método da palavração 
É um método que se inicia a partir da apresentação da palavra, normalmente 
ilustrada e vinculada ao universo da criança. O objetivo disso é estabelecer relações 
entre a grafia e a representação da imagem. Quando o método era aplicado, as 
palavras eram lidas e escritas diversas vezes até serem memorizadas. Somente a 
 
 
20 
 
partir dessa escrita elas eram divididas silabicamente, estudadas e relacionadas a 
palavras novas que contivessem as sílabas vistas anteriormente. 
Com base nas palavras e no estudo das sílabas, partia-se para a relação entre 
grafema e fonema, a criança percebia os sons que representavam cada unidade. A 
etapa seguinte era a formação das frases com essas palavras e de textos com as 
frases trabalhadas. 
A diferença entre o método da palavração e o método silábico de marcha 
sintética, segundo Frade (2005), as palavras não têm a obrigatoriedade de ser 
decompostas no início do processo. Pelo contrário, elas primeiro precisam ser 
compreendidas e reconhecidas para depois serem esmiuçadas. Além disso, na 
palavração não existia a lógica de que deveria iniciar-se a alfabetização pelas palavras 
mais fáceis. Levava em consideração se as palavras apresentavam sentido e 
significado para os alunos. 
Para exemplificar o método da palavração, considere a palavra “boca”. Em 
primeiro momento, a palavra será analisada em sílabas (bo-ca). A partir dessa análise, 
é desenvolvido o trabalho com as famílias silábicas pertencentes à palavra 
(ba/be/bi/bo/bu), chegando-seenfim à aprendizagem das letras (b-o-c-a). Entre as 
desvantagens da palavração, as dificuldades enfrentadas pelos alunos para escrever 
palavras novas, visto que não era incentivada a análise e o reconhecimento das partes 
(FRADE, 2005). 
 
Método da sentenciação 
No método de sentenciação, a aprendizagem toma como partida a utilização 
da sentença ou da frase que, depois de contextualizada, é dividida e decomposta em 
palavras. Posteriormente, são abordados os elementos mais simples e as unidades 
menores, as sílabas. As frases, assim como no método da palavração, são formadas 
e levam em consideração o contexto do aluno (FRADE, 2007). 
Depois de as frases serem apresentadas, ocorre a leitura e a escrita delas, o 
que envolve um processo de memorização. Dentro de cada sentença, observa-se as 
semelhanças entre as palavras, comparando-as entre si, tendo como objetivo a 
formação de grupos com novas palavras. Somente depois desse processo é que são 
introduzidas as sílabas e as relações entre fonemas/grafemas. 
 
 
21 
 
 
Método global de contos 
O método global de contos, textos ou historietas, segundo Frade (2007), toma 
como ponto de partida o reconhecimento global do texto, que, assim como nos 
métodos anteriores, precisa ser memorizado durante um período de forma que seja 
lido, escrito e compreendido. Para isso, eram apresentados aos alunos cartazes ou 
pré-livros com partes de um texto ou textos completos que fossem significativos para 
eles. Após essa apresentação e um convívio maior do aluno com o texto, este era 
desmembrado em frases ou sentenças, partindo-se para o reconhecimento das 
palavras e, finalmente, das sílabas e letras. Todo esse processo acontecia de forma 
mais lenta, pois, caso esse método fosse apresentado apressadamente, as unidades 
menores poderiam não ter sentido para a criança. 
Nesse método, por haver a necessidade de trabalhar iniciando-se pelos textos, 
as cartilhas foram deixadas em segundo plano. Os textos deveriam ser escolhidos a 
partir de temas relevantes para o universo infantil, considerando, nesse sentido, o 
“todo” como algo concreto e palpável de ser apreendido. Iniciou-se então a produção 
de livros e cartazes servindo como material de apoio para o trabalho do professor. 
Há quem diga que o método global proporciona à criança maior 
reconhecimento e uma aprendizagem mais significativa, o ensino da leitura acontece 
antes mesmo da criança conhecer as partes menores ou o nome das letras. Em 
contrapartida, também tem quem defenda que nesse método a criança não aprende 
realmente a ler, ela apenas decora os textos trabalhados em sala de aula, 
descobrindoestá escrito. 
À tentativa de a criança decodificar e realizar a leitura, acreditava-se que era 
um processo que acontecia com mais rapidez por partir de palavras conhecidas e 
tinham como foco a memorização global. No entanto, alguns questionamentos 
surgiam, principalmente quando se pensava na aprendizagem efetiva dos alunos, pois 
o professor deveria saber identificar se o processo de leitura está realmente 
acontecendo, ou se aula está apenas servindo como um momento para decorar textos 
e histórias ou recitar palavras. 
Pensando, então, nos métodos de marcha analítica estudados até aqui, é 
importante você notar que todos têm como enfoque a compreensão do sentido da 
 
 
22 
 
aprendizagem a partir do reconhecimento do todo. Assim, têm como vantagem a 
possibilidade de a criança realizar, desde seu primeiro contato com o processo de 
escolarização, a leitura de palavras, frases ou textos que tenham significado para ela. 
Como você pode imaginar, se não for conduzido e orientado corretamente pelo 
professor, esse processo pode tornar-se um ponto de dificuldade para o aluno, 
correndo-se o risco de perder o sentido diante da apresentação de novas palavras. 
1.2 Reflexão acerca do alfabetizar letrando 
Alfabetização e letramento são processos paralelos, são duas ações distintas, 
mas que caminham juntas e são inseparáveis para a garantia da aprendizagem da 
leitura e da escrita. Ou seja, o professor vai ensinar o Sistema de Escrita Alfabética 
permitindo que a criança vivencie práticas de leitura e escrita, agregando esses 
conhecimentos a situações reais e atividades cotidianas. 
Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das 
atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e 
escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da 
escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do 
sistema convencional de escrita — a alfabetização — e pelo desenvolvimento 
de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas 
práticas sociais que envolvem a língua escrita — o letramento (SOARES, 
2004, p. 14). 
No entanto, há algumas questões importantes que o educador deve levar em 
consideração antes de tentar contemplar esses dois conceitos em seu planejamento: 
é possível todas as crianças aprender ao mesmo tempo? Como ensinar os alunos? 
Qual é o papel e qual é a importância do professor alfabetizador? 
Você pode começar refletindo sobre o papel do educador. É importante que ele 
realize um trabalho voltado à inserção do aluno em um ambiente alfabetizador e 
letrado. Nesse ambiente, a criança deve ter a oportunidade de conhecer, vivenciar, 
refletir e experimentar novas práticas de leitura e escrita. Além disso, o professor deve 
criar um espaço acolhedor que contemple as diferenças, especificidades e 
características dos alunos. 
Todo esse trabalho parte de um planejamento voltado ao que o professor quer 
e ao que precisa ensinar aos alunos ao longo de todo o ano letivo. Para fazer esse 
planejamento, o professor deve levar em consideração os usos sociais da língua 
 
 
23 
 
escrita, tanto no âmbito escolar como nas demais esferas, promovendo uma postura 
investigativa no qual a autonomia, o respeito e o diálogo sejam as peças-chave para 
o aprendizado. 
Nesse sentido, a escola e o professor devem fazer a mediação entre as práticas 
de alfabetização (importantes para o desenvolvimento das competências dos alunos) 
e os objetivos sociais e práticas relevantes presentes nas situações do cotidiano. 
É fundamental que, na fase de alfabetização, a criança possa vivenciar a 
leitura, assim como a produção, a compreensão e a reflexão de textos orais e escritos, 
a fim de se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética. A ideia é que as diferentes 
ideias e posicionamentos dos alunos possam fazer parte do trabalho como um todo. 
Partindo desse pressuposto, o trabalho com diferentes portadores de texto e 
gêneros textuais serve como ponto de partida para enriquecer a aula. Afinal, tais 
portadores e gêneros se aproximam da realidade em que a criança está inserida, 
valorizam as suas experiências, instigam a imaginação, possibilitam um aprendizado 
mais significativo e propiciam vivências práticas que vão além dos conteúdos 
escolares. 
A seguir, você pode ver alguns dos muitos portadores de texto e gêneros 
textuais existentes. Eles podem ser trabalhados em sala de aula na perspectiva da 
alfabetização e do letramento. Além disso, se aproximam das práticas sociais 
vivenciadas pelos alunos. 
• Receitas; 
• Manuais, regras de jogos, listas e instruções; 
• Bilhetes; 
• Cartas; 
• Convites; 
• Histórias em quadrinhos, tirinhas; 
• Parlendas, cantigas de roda, trava-línguas, lendas; 
• Músicas; 
• Piadas; 
• Poesias, contos, fábulas; 
• Rótulos e embalagens; 
• Símbolos, placas; 
 
 
24 
 
• Cardápios; 
• Jornais, revistas, sites, noticiários, cartazes informativos. 
 
A partir do planejamento da prática, o professor poderá, por meio das atividades 
diárias realizadas em sala de aula, observar e buscar respostas aos questionamentos 
anteriores: é possível que todas as crianças aprendam ao mesmo tempo? Como 
ensinar os alunos? 
Em todas as turmas você pode considerar,independentemente da localidade, 
existe uma grande diversificação e heterogeneidade em relação ao conhecimento de 
cada criança. Algumas possuem conhecimento além do esperado ou do trabalhado 
durante o ano. Outras parecem não acompanhar o mesmo ritmo do restante da turma. 
E essa complexidade das interações em sala de aula é que torna o trabalho do 
professor tão desafiador. 
As crianças iniciam o ano com diferentes conhecimentos, aprendizagens, 
capacidades e habilidades, tanto em relação ao sistema de escrita alfabética como 
em relação a outros conteúdos abordados dentro e fora da sala de aula. Algumas 
crianças envolvem-se mais cedo e são cercadas por práticas de letramento, outras, 
porém, estão envolvidas em um contexto com poucos estímulos e necessitam de um 
contato maior com o material escrito. O que o professor precisa ter em mente é os 
alunos são capazes de aprender, independentemente do ambiente em que estão 
inseridos. Assim, mesmo que as crianças iniciem o ano com conhecimentos abaixo 
do esperado para os objetivos de trabalho, o professor pode contemplar as hipóteses 
e saberes que já possuem. 
Na perspectiva do trabalho conjunto entre alfabetização e letramento, o 
professor precisa, em primeiro lugar, traçar um perfil da turma, percebendo os 
diferentes níveis em que as crianças se encontram. Depois, deve pensar em 
atividades diversificadas trabalhando com o sistema notacional e as situações de 
reflexão, questionamento e criação de hipóteses. A partir desse envolvimento e desse 
conhecimento que as crianças possuem acerca da escrita, é possível planejar 
atividades contribuindo para o aluno avançar em seus conhecimentos sobre o sistema 
de escrita alfabética, criando diferentes oportunidades de aprendizagem e de 
integração com o processo de escolarização. 
 
 
25 
 
Cabe ao professor compreender o processo, buscar soluções por meio de 
estudo, reflexão e troca com seus pares. Assim, ele deve trabalhar com esses 
diferentes saberes, conhecendo as práticas culturais e sociais vivenciadas pela 
comunidade e pelos alunos. Ele precisa ainda favorecer o contato com a escrita nas 
mais variadas circunstâncias, para que a criança vá se familiarizado com as situações 
de aprendizagem e avance de nível. 
Mesmo que as mesmas não tenham dominado todos os conhecimentos 
propostos pelos professores ao final do ano letivo, isso não significa que elas não 
aprenderam, pelo contrário, alguns saberes foram agregados e construídos. Contudo, 
é necessário observar e identificar quais conquistas foram possibilitadas, de forma 
que a criança se sinta segura, valorizada e motivada para novas aprendizagens. 
Por fim, é urgente que escolas e educadores pensem em práticas de 
alfabetização e letramento partindo de um planejamento contemplando atividades 
capazes de auxiliar os alunos a avançarem em sua aprendizagem. Tais atividades 
devem ser do interesse da criança e estar de acordo com a realidade em que ela está 
inserida. Somente por meio dessas experiências será possível refletir sobre a prática 
da leitura e da escrita em diferentes circunstâncias. Portanto, o desenvolvimento das 
capacidades dos alunos em relação à língua escrita não é um processo que se encerra 
assim que eles se apropriam do sistema de escrita, pelo contrário, ele se estende por 
toda a vida. O que os sujeitos fazem é apenas aprimorar e criar possibilidades na 
construção de novos conhecimentos e habilidades. 
1.3 Aspectos cognitivos envolvidos na apropriação da escrita 
Abordar o processo de escrita implica refletir sobre a fala. Afinal, durante a 
construção da escrita, a fala tem papel fundamental. Em síntese, fala e escrita se 
complementam. Assim, com os incentivos corretos (livros literários, contato com vários 
tipos textuais, leitura cotidiana de histórias e contato com jogos e outras atividades 
que aproximem o aluno do mundo letrado), o professor pode alcançar resultados 
profícuos durante a alfabetização de seus estudantes. 
Para a teoria da evolução, a pergunta fundamental é “quem veio primeiro: o ovo 
ou a galinha?”. Já para as teorias de aquisição de língua materna, a pergunta 
fundamental seria “o que veio primeiro: a fala ou a escrita?”. A resposta, em um 
 
 
26 
 
primeiro momento, parece óbvia e lógica: a fala. Contudo, é importante discutir e 
refletir sobre as implicâncias e relações dessas modalidades. 
Nessa perspectiva, no ensino formal, “[...] a escrita tem sido vista como de 
estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou 
desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto [...]” (FAVERO; 
ANDRADE; AQUINO, 2000, p. 9). Assim, a escrita sempre foi privilegiada como a 
“verdadeira forma de linguagem”, mas a língua falada deve ter um lugar de destaque 
nas relações de ensino e aprendizagem. 
A escola não deve pôr de lado a língua falada como tópico já aprendido em 
casa. Nesse sentido, “[...] o ensino da oralidade não pode ser visto isoladamente, isto 
é, sem relação com a escrita, pois elas mantêm entre si relações mútuas e 
intercambiáveis [...]” (FAVERO; ANDRADE; AQUINO, 2000, p. 13). Por isso, é 
fundamental descrever as relações intercambiáveis entre esses dois elementos, de 
modo que o aluno construa relações entre a sua fala e a sua escrita. O texto falado 
possui as seguintes características: 
• Interação entre pelo menos dois falantes; 
• Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; 
• Presença de uma sequência de ações coordenadas; 
• Execução em determinado tempo; 
• Envolvimento em uma interação centrada (FAVERO; ANDRADE; AQUINO, 2000). 
Como você pode perceber, a comunicação deve ser compreendida sempre 
dentro de uma interação. Todo texto, seja falado ou escrito, é construído dentro de um 
espaço-tempo por sujeitos. Logo, “[...] nessa concepção interacional (dialógica) da 
língua, tanto aquele que escreve como aquele para quem se escreve são vistos como 
atores/construtores sociais, sujeitos ativos que — dialogicamente — se constroem e 
são construídos no texto [...]” (KOCH; ELIAS, 2011, p. 34). Em outras palavras, o 
texto falado é sempre uma construção social e interacional. 
 
O papel do professor 
O professor deve assumir o papel de mediador entre as estruturas da língua e 
o aluno. Assim, fica de lado a noção de que ele é a figura central do processo 
 
 
27 
 
educativo. Quando se fala sobre o professor e sobre a sua importância no processo 
de aquisição da escrita, é importante destacar que muitos problemas da educação 
decorrem do modo como os livros literários são utilizados na escola. 
Nesse contexto, o professor, antes de tudo, deve ser também um leitor, para 
que o aluno encontre nele um modelo. As obras literárias a serem trabalhadas em sala 
de aula, conforme Saraiva (2001), devem estar distantes dos textos que possuem 
como único objetivo disseminar formas estereotipadas de literatura, simplesmente 
pedagogizantes ou apartadas da realidade do receptor. 
Em outras palavras, os livros literários a serem trabalhados em sala de aula 
devem ser pensados primeiramente a partir da forma estética e da proximidade com 
a realidade dos leitores. Além disso, o professor deve ler as obras e só depois utilizá-
las como ferramentas para a leitura e a escrita de seus alunos. Assim, o professor é 
um agente que contribui para a aquisição da escrita pelo aluno, visto enquanto sujeito 
que constrói o seu aprendizado. Ou seja, o aluno não é mais objeto da aprendizagem. 
Esta é um processo dialético em que o aluno se apropria da escrita e também de si 
mesmo enquanto produtor de textos. 
Nesse contexto, é importante tratar dos níveis de consciência fonológica, 
listados a seguir. 
• Consciência de rimas e aliterações: permite que a criança perceba a relação 
entre os sons das palavras (seja no início ou no final delas) presentes em 
músicas e poemas. 
• Consciência de sílabas: percepção de que as palavras possuem partesque 
se complementam e de que as sílabas, quando justapostas, configuram um 
sentido. 
• Consciência de fonemas (ou consciência fonêmica): dentro de cada sílaba 
e de cada palavra, há a composição de unidades sonoras que podem modificar 
o significado de uma palavra. 
O que esses itens demonstram é a percepção de que a criança, antes de ser 
alfabetizada, possui algum nível de consciência relativa aos sons das palavras. O 
trabalho na escola deve ser desenvolvido a partir da construção da relação entre o 
som e a representação escrita dele, para, mais tarde, englobar a construção textual. 
 
 
28 
 
A seguir, veja as estratégias envolvidas na escrita (KOCH; ELIAS, 2011). 
• Ativação de conhecimentos sobre os componentes da situação comunicativa: 
tais componentes incluem os interlocutores, o tópico a ser desenvolvido e a 
configuração textual adequada à interação em questão. 
• Seleção, organização e desenvolvimento de ideias: busca-se garantir a 
continuidade do tema e a sua progressão. 
• Equilíbrio entre informações explícitas e implícitas, novas e já conhecidas: 
deve-se considerar o compartilhamento de informações com o leitor e o objetivo 
da escrita. 
• Revisão da escrita ao longo de todo o processo: é guiada pelo objetivo da 
produção e pela interação que o escritor deseja estabelecer com o leitor. 
 
Hipóteses fonológicas e ortográficas da construção da escrita 
 
Como você já sabe, o processo de escrita não se baseia apenas numa simples 
substituição entre fonema (unidade sonora que forma e distingue palavras) e grafema 
(símbolo gráfico usado para construir palavras), mas na compreensão da escrita e da 
sua organização. O modelo tradicional de ensino deu relevância desde sempre ao 
aspecto material da escrita, ou seja, ao desenho das letras. Contudo, as novas teorias 
de aquisição de língua materna, principalmente os estudos realizados por Emília 
Ferreiro presentes no livro Reflexões sobre alfabetização, publicado em 1993 dão 
relevância e priorizam a reflexão acerca do conteúdo da escrita. Em síntese, isso 
significa que tudo aquilo que o professor ensina deve fazer sentido para o aluno. 
Na obra A psicogênese da língua escrita, Ferreiro e Teberosky (1985) 
apresentam uma série de hipóteses sobre os níveis do processo de construção da 
escrita. Tais hipóteses foram formuladas a partir de uma extensa pesquisa realizada 
com crianças em fase de alfabetização. 
No primeiro momento, a criança percebe que a escrita representa o mundo de 
forma direta, ou seja, que significante e significado se identificam. Segundo Saussure 
(2003), o significado seria o sentido, a ideia de alguma coisa, o conceito, ou mesmo a 
representação mental de algo. Já o significante seria a imagem acústica: “Esta não é 
o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse 
 
 
29 
 
som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos [...]” 
(SAUSSURE, 2003, p. 80). Ou seja, o significante seria a parte perceptível do signo, 
e o significado, a parte inteligível. 
O sujeito começa a perceber a escrita como a soma dos desenhos enquanto 
representações dos objetos. “O desenho pode ser interpretado, o texto serve para ler 
o que o desenho representa. Neste caso, como em muitos outros, a expectativa é a 
de que o texto corresponda ao desenho, o objeto representado em um também o está 
no outro [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 73). Desse modo, o que deve ser 
buscado é a percepção de que há diferença entre desenhar e escrever. O aluno 
também pode relacionar o que escreve com a forma (tamanho) do desenho, ou seja, 
as formas escritas devem reproduzir as formas dos objetos. 
A segunda hipótese é convencionalmente chamada de pré-silábica (as autoras 
não chamam esse estágio dessa forma; apenas mais tarde é que outros teóricos o 
fazem). Esse é o momento em que a criança começa a perceber o caráter arbitrário e 
convencional do sistema de escrita. Ela começa a perceber as distinções entre 
significante e significado, de modo que os símbolos da escrita não representam 
diretamente a realidade. Assim, ela começa a depreender significados diferentes nas 
escritas que faz. Além disso, há o início da diferenciação entre números e letras. 
 
 
 
O estágio seguinte se dá no momento em que a criança começa a perceber 
que o sistema de escrita da língua portuguesa se baseia no som, é a hipótese silábica 
(Figura 2). 
 
 
Exemplo 
No estágio pré-silábico, se a criança quiser escrever a palavra 
“boi”, por exemplo, é normal que ela relacione a grafia com o 
tamanho do animal. Assim, ela pode escrever com uma letra 
maior. 
 
 
30 
 
 
Figura 2 – Exemplo da hipótese silábica 
 
Fonte: https://bit.ly/3TzeCFO 
Como você pode ver na Figura 2, as representações se aproximam das letras 
formativas do nome, e a criança percebe que a escrita não é ideográfica ou 
pictográfica, mas fonográfica. 
A mudança qualitativa consiste em que: a) se supera a etapa de uma 
correspondência global entre forma escrita e a expressão oral (recorte 
silábico do nome); mas, além disso, b) pela primeira vez a criança trabalha 
claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala 
[...] (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 193). 
Mesmo assim, a criança ainda não se libertou da hipótese silábica, visto que 
em alguns momentos representa a sílaba e em outros, o fonema. Nesse estágio, ela 
se encontraria na hipótese silábico-alfabética. No momento em que a criança percebe 
que cada letra escrita pode representar um fonema, ela se encontraria na hipótese 
alfabética, ou seja, ela estaria alfabetizada. 
No Quadro 1, a seguir, você pode ver uma síntese das diferentes hipóteses. 
 
 Quadro 1 – Hipóteses segundo Ferreiro e Teberosky (1985) 
Nível da escrita Características 
Nivel alfabético Cada um dos caracteres da escrita corresponde a 
valores sonoros menores do que a sílaba. Não atende à 
norma ortográfica. 
 
 
31 
 
 Fonte: Adaptado de Pestun et al. (2010). 
De todo modo, as autoras deixam claro: “[...] é conveniente esclarecer que não 
pretendemos propor nem uma nova metodologia da aprendizagem nem uma nova 
classificação dos transtornos da aprendizagem [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, 
p. 15). Por isso, em nenhum momento elas falam de uma proposição de um método, 
mas de hipóteses e constatações derivadas das suas pesquisas. 
 
Sequências didáticas para a autonomia na escrita 
As sequências didáticas são esquemas linguísticos básicos que entram no 
trabalho pedagógico na constituição de diversos gêneros e variam menos em função 
das circunstâncias sociais. É o produtor que escolhe qual das sequências disponíveis 
se aplica melhor à situação em que se encontra: a descritiva, a narrativa, a injuntiva, 
a explicativa, a argumentativa ou a dialogal. 
Contudo, antes de o sujeito escrever alguma das sequências, ele deve estar ou 
ter entrado em contato com os gêneros textuais: 
A par da familiarização com os gêneros, é possível levar o aluno a 
depreender, entre determinadas sequências ou tipos textuais — narrativas, 
descritivas, expositivas, etc. — um conjunto de características comuns, em 
termos de estruturação, seleção lexical, uso de tempos verbais, advérbios (de 
tempo, lugar, modo, etc.) e outros elementos dêiticos, que permitem 
reconhecê- -las como pertencentes à determinada classe (KOCH; ELIAS, 
2011, p. 63). 
Assim, o estudo deve estar sempre relacionado com a leitura, a produção e a 
reflexão a respeito do gênero escolhido pelo professor. Segundo Koch e Elias (2011), 
Nível silábico 
alfabético 
Manifestação alternante de valor silábico ou fonético para 
as diferentes letras. 
Nível silábico Cada letra vale por uma sílaba. Escrita com ou sem o 
predomínio do valor sonoro convencional. 
Nível pré-silábico Marcado por escritas que não apresentam nenhum tipo 
de correspondência sonora, isto é, sem relação com 
grafia e som. 
 Somente rabiscos.32 
 
há cinco sequências didáticas: as narrativas, as descritivas, as expositivas, as 
injuntivas e as argumentativas. Em um mesmo gênero, mais de uma sequência pode 
estar presente. 
 
Sequências narrativas 
 
Apresentam sucessão temporal/causal de eventos, situação inicial e final. Entre 
tais situações, há uma situação intermediária que modifica o estado de coisas. Nessas 
sequências, predominam verbos de ação, advérbios temporais, causais e locativos. 
Além disso, há discurso relatado (direto, indireto ou indireto livre). As sequências 
narrativas estão presentes em gêneros textuais como notícias, romances, contos, 
entre outros. 
As lendas são exemplos de sequências narrativas. Trabalhar com lendas é 
sempre motivador para os alunos, pois aguça a sua imaginação e ao mesmo tempo 
pode se tornar um excelente modo de estudo das narrativas. A seguir, veja um 
exemplo de lenda. 
 
 
 
Vitória-régia 
 
Essa é uma história linda de amor de uma bela índia pelas estrelas, a ponto 
de querer se tornar uma. Naiá era uma jovem guerreira que, por amar a 
natureza, tinha o hábito de contemplação por longo período da lua e das 
estrelas. Com o sonho de ser de fato uma estrela, pediu a Jaci — a lua — 
que a fizesse uma estrela, mas os dias passaram sem que o desejo se 
concretizasse, fazendo com que a jovem índia, triste, em um dia de lua 
cheia, fosse esperar por Jaci na beira do lago. 
Ao ver a bela imagem refletida na água, se encantou e ali mergulhou para 
nunca mais voltar. Como sempre foi querida na tribo e na região, os peixes 
e os pássaros pediram a Jaci que a tratasse de forma especial. Assim, 
Naiá foi transformada na mais bela planta aquática já vista — a vitória-régia 
ou estrela das águas — no Rio Amazonas. A flor de pétalas brancas é 
perfumada e só abre à noite, para amanhecer rosada e ainda bela (CELI, 
2019, documento on-line). 
 
 
33 
 
Sequências descritivas 
 
São caracterizadas pela apresentação de propriedades, qualidades e 
elementos de uma entidade, situação no espaço, entre outros. Nesse tipo de 
sequência, 
[...] predominam os verbos de estado e situação, ou aqueles que indicam 
propriedades, qualidade, atitudes, que aparecem no presente, em se tratando 
de comentário, e no imperfeito, no interior de um relato. Predominam 
articuladores de tipo espacial/situacional [...] (KOCH; ELIAS, 2011, p. 65). 
Na Figura 3, a seguir, veja um exemplo. 
Figura 3 – Propaganda com texto descritivo sobre o produto 
 
Fonte: Agência Abracadabra (2009). 
Sequências expositivas 
São construídas a partir de representações conceituais dentro de uma 
ordenação lógica. Os tempos verbais se referem ao mundo comentado e os 
conectores são do tipo lógico. Um gênero textual que se utiliza dessa sequência são 
os textos de dicionário ou mesmo de sites de consulta, como a Wikipédia. 
 
 
34 
 
Sequências injuntivas 
Prescrevem comportamentos, ações sequencialmente ordenadas, com verbos 
no imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articuladores adequados ao 
encadeamento sequencial das ações prescritas. O gênero receita é um exemplo 
desse tipo de sequência, mais especificamente na parte sobre o modo de preparo. 
Confira: 
 
 
Sequências argumentativas (Stricto sensu) 
 
São as que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos e/ou contra 
argumentos, com predominância de elementos modalizadores, verbos introdutores de 
opinião, operadores argumentativos, etc. É o tipo de texto pedido em vestibulares, no 
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em artigos científi cos e nos editoriais ou 
artigos de opinião dos jornais. 
Cada gênero, desse modo, elege uma ou mais dessas sequências ou tipos para 
a sua constituição. Assim, por exemplo, no gênero romance, você encontra não 
apenas a sequência narrativa, mas a descritiva (nas descrições de espaços e 
personagens) e a expositiva (quando o narrador se insere na história). 
BRIGADEIRO 
INGREDIENTES 
1 caixa de leite condensado 
1 colher (sopa) de margarina sem sal 
7 colheres (sopa) de achocolatado ou 4 colheres (sopa) de chocolate 
em pó Chocolate granulado 
 
MODO DE PREPARO 
Em uma panela funda, acrescente o leite condensado, a margarina e 
o chocolate em pó. Cozinhe em fogo médio e mexa até que o 
brigadeiro comece a desgrudar da panela. Deixe esfriar e faça 
pequenas bolas com a mão passando a massa no chocolate 
granulado (TUDOGOSTOSO, 2019, documento on-line). 
 
 
35 
 
Cabe à escola, então, possibilitar que o aluno domine diferentes gêneros 
textuais e as sequências didáticas que eles implicam. Desse modo, o estudante vai 
ser capaz de, dentro e fora da escola, produzir gêneros textuais próximos ou distantes 
de sua realidade. Da mesma forma, cabe à escola colocar os alunos próximos de 
situações verdadeiras de comunicação, aproximando a prática da teoria e atribuindo, 
assim, sentido ao aprendizado. “Quanto mais claramente o objeto do trabalho é 
descrito e explicado, mais ele se torna acessível aos alunos não só nas práticas 
linguajeiras de aprendizagem, como em situações concretas [...]” (KOCH; ELIAS, 
2011, p. 74). 
2 O AMBIENTE ALFABETIZADOR: POR UMA IMERSÃO NA CULTURA 
ESCRITA DENTRO DA ESCOLA 
Um ambiente pode ser definido pelo espaço físico delimitado em que se 
estabelecem relações e experiências, classificando-se de acordo com sua função para 
a sociedade e por suas condições. Dessa forma quando falamos de um “ambiente 
alfabetizador” queremos dizer todo o espaço delimitado com a intencionalidade de 
imergir estudantes na cultura escrita, em que as relações estabelecidas com a 
linguagem escrita aconteçam de forma natural e tenham propósitos claros e 
específicos para colaborar com a aprendizagem inicial da leitura e escrita, 
contribuindo principalmente para a construção de um comportamento leitor. As 
autoras Teberosky e Colomer definem o ambiente alfabetizador como “as condições 
materiais e sociais em que se desenvolve a alfabetização” (TEBEROSKY e 
COLOMER, 2003, p.37). 
Assim entendemos como ambiente alfabetizador não só a sala de aula com os 
materiais escolares mais explícitos para o ensino, como livros, alfabeto, calendário, 
cartazes de atividades, etc., mas sim todo o espaço compartilhado em que a criança 
circula e interage com textos escritos que tem função social. Para falar de todos os 
espaços da escola como ambientes alfabetizadores, parte-se do pressuposto que a 
criança procura ativamente textos escritos que as cercam, de acordo com um objetivo 
ou uma necessidade imediata em seu cotidiano. 
 
 
36 
 
Segundo as ideias de Smith (1999) as crianças buscam compreender o 
ambiente em sua volta, sempre que este tem sentido, levantando hipóteses sobre os 
escritos que encontram. As palavras localizadas dentro de um contexto significativo, 
no universo mais particular da criança, são tão importantes quanto as encontradas 
dentro de um livro. O autor destaca que as placas, as embalagens, os rótulos, os 
símbolos publicitários, aumentam a percepção sobre a função da linguagem escrita. 
Como bem aponta Teberosky (1989) um texto não demanda extensão, 
podendo ser longo ou curto, desde um romance até uma placa de trânsito. A placa 
escrita “PARE” é um texto, em que se tem uma função comunicativa de prescrever 
um comportamento. Os textos importam mais no nível do significado do que da 
extensão. 
Quando falamos em destacar a linguagem escrita nos espaços escolares, 
Smith (1999) aponta diversas maneiras de como isso pode ser possível, como por 
exemplo, a identificação de salas, banheiros, armários, utilização de cardápio, placas 
indicativas, cartazes, horários, catálogos, entre outros. Que devem ser organizados 
na forma que a criança tenha acesso e manipule os materiais escritos com facilidade, 
bem como as letras precisam estar visíveis para a criança. 
Assim, as imagens e as letras tem uma importância especial para as crianças 
em processo de alfabetização. Curto etal (2000) recomendam o uso da letra 
maiúscula no trabalho com textos, principalmente para as crianças que frequentam a 
etapa inicial de alfabetização. De acordo com as autoras esse tipo de letra facilita 
percebê-las e distingui-las uma das outras, além de serem mais fáceis para escrevêlas 
e visualizá-las. Outro fator que as autoras consideram importante é a maior presença 
de materiais escritos com letra maiúscula nos espaços extraescolares, fato esse que 
não leva o estranhamento da criança frente esse tipo de letra no ambiente escolar. Já 
as imagens auxiliam nas previsões que a criança fará frente o texto, antecipando 
informações do seu conteúdo. 
Cagliari (1999) também destaca a utilização da letra maiúscula no início do 
processo de alfabetização, pois o tipo de letra maiúscula é mais fácil de visualizar e 
distinguir na palavra. O autor faz uma crítica ao uso da letra cursiva dizendo neste tipo 
é mais difícil identificar onde começa e termina o traçado da letra e é enfático ao dizer 
que “as letras cursivas foram inventadas para o uso de quem já sabe ler e escrever e 
 
 
37 
 
precisa escrever muito rapidamente. Letra cursiva é ponto de chegada, não ponto de 
partida” (CAGLIARI, 1999, p. 141). 
Outro fator considerado importante sobre a escolha dos materiais escritos está 
relacionado na utilização de “textos do mundo”, aqueles que circulam socialmente. A 
escola não deve se limitar a utilizar textos exclusivamente escolares, mas apresentar 
textos encontrados nas ruas, lojas, supermercados, em espaços culturais, Entre 
outros. Tal como Teberosky e Colomer (2003) recomendam que a utilização de textos 
autênticos auxilia em dois processos: contextualiza a aprendizagem e, em 
contrapartida, colabora para a interação da criança com a escrita fora da escola. 
Smith (1999) considera a disponibilidade de materiais interessantes e 
significativos como requisitos básicos para o aprendizado da leitura. Portanto, para 
tornar o espaço escolar um ambiente alfabetizador é necessário a seleção criteriosa 
de materiais que efetivem o propósito de tornar toda escola orgânica, dinâmica e 
estimulante para a criança que está construindo seu comportamento leitor. No 
entanto, o autor destaca que o problema não é a falta de materiais e sim, às vezes, o 
excesso, pois encontramos uma diversidade de escritos em nosso cotidiano como 
livros, jornais, revistas, outdoors, cartazes, panfletos, entre outros. O problema maior 
está em selecionar quais materiais e como devem estar presentes no ambiente para 
que este se torne alfabetizador. 
Ao comentar o papel dos materiais escritos disponíveis para auxiliar na 
apropriação da leitura, o autor salienta que é preciso certo cuidado para não confundir 
a decoração das paredes, como as letras e palavras isoladas afixadas e folhas 
impressas como sendo materiais significativos de leitura. Essa cultura tende a dar uma 
ideia de “ambiente educacional”. O autor comenta que o material escrito só é 
significativo no ambiente se a criança puder interagir com ele e procurá-lo 
constantemente com um propósito ou uma necessidade. Um bom exemplo disso é o 
gênero textual cardápio, em que a criança, a partir de sua necessidade diária e ao 
interrogar-se sobre as opções disponíveis, busca o texto para verificar as 
possibilidades de alimentação. 
Além disso, baseado nos apontamentos de Smith (1999), cabe ressaltar que 
quando a palavra está dentro de um contexto significativo, a identificação ocorre de 
forma mais rápida e previsível. Usando o mesmo exemplo do gênero textual cardápio, 
a criança ao se deparar com uma palavra iniciada com a sílaba “FE” poderá supor que 
 
 
38 
 
a palavra é “FEIJÃO”, pois pode relacionar com o início do nome de seu colega 
“FELIPE”. É nesse contexto que a criança ativará seus conhecimentos prévios e 
testará hipóteses, buscando construir o significado das mensagens escritas e 
compreender o texto. A motivação para buscar a compreensão é impulsionada 
sempre por uma necessidade real, seja para obter uma informação, seguir regras, 
recordar fatos ou por prazer. 
É importante destacar que, sendo a leitura um processo permeado pela 
decodificação e compreensão, a construção de um ambiente alfabetizador não tem a 
pretensão de garantir que as crianças se apropriem da linguagem escrita apenas com 
a exposição de materiais escritos no ambiente, pois Teberosky (1989) aponta que o 
papel do professor se faz fundamental nesse processo, além de ser o principal modelo 
de leitor e escritor na escola, assumindo uma postura de mediador de situações de 
leitura e escrita. 
Em contrapartida, a falta de um ambiente alfabetizador, enriquecido com 
materiais escritos contextualizados e significativos, implica na elaboração de 
conhecimentos sobre a linguagem escrita. Conforme aponta Ferreiro: 
A simples presença do objeto não garante conhecimento, mas a ausência do 
objeto garante desconhecimento. Se eu quero que a criança comece a 
construir conhecimento sobre a língua escrita, esta tem de existir [...] se 
proíbo a língua escrita, crio um ambiente escolar no qual a escrita não tem 
nenhum lugar, ao passo que no ambiente urbano a escrita tem seu lugar 
(FERREIRO, 2001, p. 148). 
Os espaços escolares são compartilhados por toda comunidade escolar, desta 
forma, as estratégias de organização dos espaços devem priorizar a interação entre 
o texto e todos os níveis de leitores que frequentam a escola. A este respeito, 
Teberosky e Colomer (2003) acreditam que as estratégias precisam promover 
exploração dos textos escritos para obter uma informação de forma autônoma, ou 
seja, que a criança procure o texto e o compreenda de acordo com o contexto. 
Ferreiro (2008) faz uma crítica para a perspectiva do ensino da linguagem 
escrita da escola tradicional, que indica que a criança só pode ser exposta a um 
ambiente letrado após a aquisição de habilidades prévias, como o conhecimento do 
código. Não se colocam escritos direcionados para as crianças pequenas, partindo da 
falsa ideia que se ainda não leem e escrevem com autonomia, “não sabem nada sobre 
a escrita”. A autora contraria esta ideia afirmando que cada um constrói suas ideias 
 
 
39 
 
sobre um objeto de acordo com seu nível, antecipando significados dos materiais 
escritos a partir de dados do contexto, para posteriormente compreender os dados 
textuais. A criança não espera um ensino sistematizado para perceber o porquê a 
escrita é importante, mas ela pode descobrir por si mesma através das experiências 
no ambiente alfabetizador. 
Pretende-se salientar que a diversidade de textos utilizados em situações reais 
de uso no cotidiano da criança e a frequência deste contato nos espaços escolares 
podem ser valiosas na construção dos conhecimentos implícitos, ou seja, aqueles que 
a criança adquire a partir do contato com materiais escritos. 
Para explicar a importância dos conhecimentos implícitos na aprendizagem 
inicial da leitura e escrita recorremos aos estudos de Maluf e Gombert (2008), pois os 
autores comentam que os conhecimentos implícitos colaboram para uma leitura 
proficiente e automatizada, desde que possam evoluir dentro de um contexto de 
escrita. Ao contrário do conhecimento explícito, referente às capacidades 
metalinguísticas, aquelas em que a criança passa a refletir conscientemente sobre os 
aspectos linguísticos, o conhecimento implícito representa todos os comportamentos 
precoces e espontâneos frente à linguagem. Para os autores: 
A aprendizagem implícita é um processo pelo qual os comportamentos se 
adaptam progressivamente às características do meio com o qual o indivíduo 
interage, sem que exista um conhecimento explícito dessas características. 
Em outros termos, o indivíduo que age em um meio estruturado vai 
progressivamente incorporar a estrutura desse meio em seus 
comportamentos, sem dar-se conta disso, ou seja, sem controle consciente 
desse processo (MALUF; GOMBERT,

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