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Trabalho de terceiro bimestre_Neurociências da percepção da fala

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Neurociências da percepção da fala – Avaliação de 3º Bimestre
A capacidade sonora humana caracteriza-se por sons complexos formados por estruturas harmônicas ricas, modulações dinâmicas de amplitude e rápidas flutuações espectro temporais. Essa complexidade é representada por um código neural temporal e espectral preciso dentro do tronco cerebral auditivo. No tronco cerebral, há duas classes de respostas temporizadas, que podem ser definidas como transitórias e sustentadas. Essas respostas tratam-se de recursos breves e não periódicos de estímulo e são elas que evocam respostas transitórias, enquanto os estímulos periódicos provocam respostas sustentadas pelo bloqueio de fases. 
As respostas do tronco cerebral podem ser medidas através de eletrodos no couro cabeludo (EEG, ou encefalograma) que captam potenciais elétricos gerados pela atividade neural no tronco cerebral. Como essas respostas neurais agregadas podem ser registradas de modo objetivo e passivo, elas possibilitam a avaliação da função auditiva. Portanto, é por este motivo que as cABR (ou PAETE) evocado por clicks pode ser obtido e utilizado como métrica para determinar limiares auditivos e detectar neuropatologias.
A cABR (complex auditory brainstem response), ou Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) em português) é um potencial elétrico registrado do sistema nervoso com amplitudes pequenas (pequenos microvolts); registra sinais do córtex cerebral, tronco cerebral, medula espinhal e sistema nervoso periférico que responde a estímulos que são detectados através dos registros feitos nesse tipo de exame (EEG), em que eletrodos são fixados na cabeça. Durante a realização do PEATE, um "clique" sonoro é transmitido para o ouvido afim de desencadear a ação do nervo auditivo que, subsequentemente, é transmitido da cóclea por todas as estruturas do tronco cerebral auditivo central. A entrada auditiva usada durante o teste de ABR resulta em uma resposta elétrica estereotipada em cada local do relé ao longo do CAP, que pode ser gravada no couro cabeludo usando eletrodos de superfície simples. Com a resposta elétrica transmitida pelo aparelho pode-se criar um perfil de forma de onda interpretável. Assim, a técnica de eletrofisiologia cerebral é a técnica que registra e mede a "atividade pós-sináptica sincrônica de grandes populações de neurônios em resposta à estimulação externa tanto quanto interna ao organismo" (LIMA; SILVA, 2016, p. 13).
Na ciências neurocognitivas, outro sinal bastante estudado é o ERP (Potenciais relacionados a eventos). É possível se obter o sinal do ERP através do exame de eletroencefalografia (EEG). Como sinais de ERP não são espontâneos, é possível registrar somente através de um evento externo (estímulo sonoro) ou interno (processo cognitivo). O ERP é mostrado como forma de onda ou picos; acontecem oscilações das formas das ondas que é modulada pelo tempo de processamento do evento. "Os componentes indicam, assim, processos psicológicos – significância funcional – captados por meio de pico de voltagem de neurônios, ditos geradores neurais de sinais. (FABIANI; GRATON; COLES, 2007 apud LIMA; SILVA, 2016, p. 15). Ainda, o ERP permite uma resolução mais precisa em comparação com outras técnicas de neuroimagem como a Imagem por Ressonância Magnética funcional (fMRI) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET)
A cABR permite o processamento de sons que afetam a atividade cerebral, como a fala e a música. Como as características temporais e espectrais dos sons ficam preservadas na resposta subcortical, as cABRs podem ser utilizadas na avaliação de deficiências no processamento auditivo e contribuir em aprimoramentos específicos do mesmo. A função subcortical, por sua vez, interage dinamicamente com processos cognitivos complexos de modo a transcrever e refinar a transcrição de sons no código neural. Esse processo depende da experiência do cérebro que se dá através das escalas de tempo (experiência ao longo da vida com fala ou música, treinamento auditivo de curto prazo, etc.) que contribuem com o molde da percepção sensorial. Deste modo, por se tratar de um meio objetivo e não-invasivo de examinar a função cognitiva e os processos dependentes da experiência na atividade sensorial, os cABRs são bastante úteis para o estudo da função auditiva e da fala, pois o PEATE (ou cABR) é gerado através do sincronismo das estruturas da vida auditiva, pelo nervo auditivo, que segue para o núcleo coclear, complexo olivar superior, lemnisco lateral e vai até o colículo inferior. Apesar de o estímulo acústico ser o mais empregado para a obtenção do PEATE, outros tipos de estímulos, como tons puros e estímulos de fala, podem ser empregados para desencadear respostas elétricas. 
O sinal de fala é uma estrutura espectro-temporal complexa e requer uma resposta neural sincronizada para que ocorra uma codificação precisa. As respostas evocadas pela fala dependem da ativação sincrônica, que, por sua vez, são ideais para o estudo das bases neurais da percepção da fala. A percepção da fala, por sua vez, envolve “processamentos como análise auditiva periférica, extração das características automáticas nos núcleos do tronco encefálico (TE), que leva à classificação das palavras e fonemas”. Deste modo, as respostas que geram informações diretas sobre a estrutura do som da sílaba de fala são codificadas no sistema auditivo. Com o estímulo de fala, o PEATE se divide em: “porções transiente e sustentada, componentes de respostas onset (início do estímulo) e a frequência seguida de resposta Frequency-following Response (FFR)” (ROCHA; FILIPPINI; MOREIRA; NEVES; SCHOCHAT, 2010, p. 480). As respostas onset são processos transientes parecidos com o clique que representam primariamente a resposta a eventos discretos no estímulo, como seu início e as modulações causadas pela vibração das pregas vocais. 
É observado que pessoas com dificuldades de aprendizagem e alterações de processamento auditivo, em geral, possuem alterações nas respostas para o estimula da fala, como atrasos nas latências de resposta, que geram impacto no processamento dos sinais acústicos rápidos para o córtex. Assim, há uma percepção anormal da fala e comprometimento das habilidades de linguagem. As cABRs (PEATE), deste modo, podem ser utilizadas para obtenção de estímulos afim de avaliar a alteração da codificação de sinais complexos (fala) nesses indivíduos e que acarretam dificuldades de aprendizagem 
Referências
LIMA, Wagner; SILVA, José. AS BASES NEURONAIS DO PROCESSAMENTO DA PROSÓDIA AFETIVA COMO INDICADAS POR ONDAS DE ERP: ABORDANDO UM ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO SOBRE AS EMOÇÕES EXPRESSAS NA FALA. Boletim, UEL Londrina, p. 9-46, 6 dez. 2016.
ROCHA, Caroline Nunes et al. Potencial evocado auditivo de tronco encefálico com estímulo de fala. Pró-Fono R Atual Cient, v. 22, n. 04, p. 479-484, 2010
MOORE, Brian CJ; TYLER, Lorraine K.; MARSLEN-WILSON, William. The perception of speech: from sound to meaning. 2007.
SKOE, Erika; KRAUS, Nina. Auditory brainstem response to complex sounds: a tutorial. Ear and hearing, v. 31, n. 3, p. 302, 2010.

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