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PDF CERS - OAB - Direito Ambiental - Capítulo 02

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OAB
EXAME DE ORDEM
DIREITO
AMBIENTAL
Capítulo 02
 
1 
CAPÍTULOS 
 
Capítulo 1– Princípios do Direito ambiental  
Capítulo 2 (você está aqui!) – Tutela Constitucional do Meio 
Ambiente e Responsabilidade Ambiental Civil e Administrativa. 
    
Capítulo 3 – Política Nacional do Meio Ambiente.  
Capítulo 4 – Licença Ambiental.     
Capítulo 5 – Código Florestal.    
Capítulo 6 – Unidades de Conservação da Natureza.   
Capítulo 7 – Política Nacional de Recursos Hídricos e Os Recursos 
Minerais. 
   
Capítulo 8 – Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente e Tutela 
Penal e Processual Penal do Meio Ambiente. 
 
 
 
2 
SOBRE ESTE CAPÍTULO 
 
A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre Direito Ambiental 
da Constituição Federal e Responsabilidade ambiental. 
Agora, vamos as nossas considerações: 
“Direito Ambiental na Constituição Federal” não teve recorrência nos últimos três anos no exame 
de ordem! No entanto, por sabermos que a FGV costuma ser bastante imprevisível e este assunto 
ser bastante cobrado em diversos concursos públicos, achamos melhor acrescentá-lo na sua 
apostila para que assim, possam ser abrangidos o máximo de conteúdo possível. Dessa forma, 
acrescentamos também algumas questões que abordaram o referido tema. Não deixe de 
responde-las, ok? 😉 
“Responsabilidade Ambiental” apareceu 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um 
assunto de alta recorrência no Exame de Ordem. Nem preciso falar que o estudo deste assunto 
é essencial, não é mesmo? Então, mãos à obra! As questões 06 a 09 tratam sobre o tema em 
questão. 
A banca costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será 
cobrado do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei. 
 
 
3 
SUMÁRIO 
DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 5 
Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 5 
2. Direito Ambiental na Constituição Federal ................................................................................. 5 
2.1 Breve histórico ........................................................................................................................................................ 5 
2.2 Direito de terceira geração ............................................................................................................................... 6 
2.3 Proteção do meio ambiente no art. 225 da CF/88 ................................................................................ 8 
2.4 Ações constitucionais ....................................................................................................................................... 17 
2.5 Domínio eminente dos bens pelo Estado ............................................................................................... 18 
2.5.1 Recursos naturais ............................................................................................................................................... 18 
2.6 Competências em matéria ambiental ....................................................................................................... 26 
2.6.1 Competência legislativa privativa ................................................................................................................ 26 
2.6.2 Competência legislativa exclusiva ............................................................................................................... 27 
2.6.3 Competência legislativa remanescente .................................................................................................... 28 
2.6.4 Competência legislativa concorrente ........................................................................................................ 28 
2.6.5 Competência material exclusiva .................................................................................................................. 30 
2.6.6 Competência material comum ..................................................................................................................... 32 
3. Responsabilidade Ambiental ........................................................................................................ 34 
3.1 Responsabilidade civil ...................................................................................................................................... 34 
3.1.1 Responsabilidade civil por dano ambiental ........................................................................................... 35 
3.1.2 Responsabilidade civil do Estado por dano ambiental ..................................................................... 40 
3.2 Responsabilidade administrativa ................................................................................................................. 42 
3.2.1 Poder de polícia ambiental ............................................................................................................................ 43 
3.2.2 Infrações e sanções ambientais ................................................................................................................... 43 
 
4 
3.2.3 Decadência e prescrição administrativa ................................................................................................... 52 
QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 54 
QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 58 
GABARITO ............................................................................................................................................... 71 
QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 72 
GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 73 
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 75 
JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 76 
MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 85 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 87 
 
 
 
5 
DIREITO AMBIENTAL 
Capítulo 2 
2. Direito Ambiental na Constituição Federal 
 
2.1 Breve histórico 
Antes da Constituição Federal de 1988 o meio ambiente era visto apenas como um recurso 
que poderia ser explorado economicamente. Naquele momento histórico, a abundância da 
natureza e a sua aparente infinidade não preocupava a sociedade com a necessidade de sua 
preservação. Era uma visão utilitarista do meio ambiente, que vigorou até meados dos anos 70 
em todo o planeta. 
Uma série de fatores começaram a influenciar a sociedade para a necessidade de proteger 
o meio ambiente. Descobertas científicas, movimentos populares e tragédias ambientais 
provocadas pelo homem deram início a uma crise ambiental e, com ela, surgiram os primeiros 
princípios ambientais. 
Foi em 1972, na Conferência de Estocolmo, que teve início a visão protecionista do meio 
ambiente. Essa percepção influenciou diversos ordenamentos jurídicos, inclusive o brasileiro que, 
em sede infraconstitucional, criou a Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, em 1973, e a Política 
Nacional do Meio Ambiente – PNMA, em 1981. 
Mas foi apenas com a Constituição de 1988 que a proteção domeio ambiente ganha 
status constitucional. Com a sua constitucionalização, os princípios ambientais são elevados ao 
patamar dos direitos fundamentais. 
 
6 
Dentre as vantagens de constitucionalizar a tutela do meio ambiente, destacamos a 
possibilidade do controle de constitucionalidade de atos normativos que sejam 
hierarquicamente inferiores e que eventualmente causem danos ambientais. Além disso, com a 
previsão constitucional, a proteção ambiental passa a ser uma obrigação do Poder Público, que 
deve atuar sempre observando como diretriz o princípio do desenvolvimento sustentável. 
Vale lembrar que a forma como o meio ambiente está tutelado pela Constituição de 1988 
pressupõe um direito e uma obrigação ao mesmo tempo. O meio ambiente ecologicamente 
equilibrado é um direito de todos, mas também é um dever de todos a sua proteção. 
Quando a Constituição Federal, em seu art. 225, afirma que “todos têm direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado”, estabelece que se trata de um direito transindividual, de 
titularidade coletiva. Por isso, podemos afirmar que qualquer pessoa, residente ou não no 
Brasil, é titular do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é visto como um direito 
fundamental material. Apesar de não está no rol do Título II da CF/88, que trata especificamente 
dos direitos fundamentais, alguns direitos, como o agora estudado, possuem matéria de direito 
fundamental, ou seja, influenciam diretamente na estrutura do Estado e da sociedade, é o que 
a doutrina chama de fundamentalidade material. 
2.2 Direito de terceira geração 
Os constitucionalistas classificam os direitos fundamentais em gerações, ou dimensões. A 
primeira geração de direitos fundamentais surgiu com a constituição norte-americana de 1787 
e com a constituição francesa de 1791, contrapondo o absolutismo e fundando o 
constitucionalismo liberal. Nesse contexto, os direitos fundamentais eram estabelecidos como 
limites ao Estado, protegiam o individualismo e a propriedade privada, chamados de “liberdades 
clássicas”. 
A segunda geração de direitos fundamentais surgiu através da constituição do México de 
1917 e da constituição da Alemanha de 1919. Nesse contexto, o liberalismo econômico havia 
fracassado, e para reorganizar a economia e as relações empregatícias, o Estado foi chamado a 
 
7 
intervir. Os direitos de segunda geração são os direitos de igualdade – direitos sociais, culturais 
e econômicos. 
Quando os direitos de liberdade e de igualdade já estavam consolidados, surge a noção 
de sociedade de massa. A coletividade é colocada em evidência e novos direitos dotados de 
humanismo e universalidade passam a ser exigidos. São os direitos de terceira geração, 
chamados de direitos de fraternidade ou de solidariedade. Tais direitos se destacam porque não 
visam a proteção de interesses individuais, mas sim dos interesses da humanidade. 
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um exemplo de direito humano1 de 
terceira geração, pois trata-se de um direito coletivo difuso. Mas o que isso significa? 
Primeiramente precisamos entender que existem várias formas de direitos coletivos, ou 
seja, direitos que possuem uma coletividade em um dos polos da relação jurídica. Eles podem 
ser direitos difusos, direitos coletivos propriamente ditos, ou direitos individuais homogêneos. 
O que os diferencia? Basicamente possibilidade de determinar os seus titulares, de dividir o 
objeto da tutela e a forma como os polos da relação jurídica estão ligados. O Código de Defesa 
do Consumidor nos oferece as seguintes definições: 
Art. 81. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os 
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas 
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os 
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de 
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de 
origem comum. 
Portanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado enquadra-se como um 
direito difuso por ser indivisível, com titulares indeterminados (toda a coletividade), ligados por 
uma circunstância de fato, e não de direito. 
 
1 Vide questão 4 desse material. 
 
8 
2.3 Proteção do meio ambiente no art. 225 da CF/88 
A Constituição Federal de 1988 inaugurou na história das constituições brasileiras um 
capítulo específico para a tutela do meio ambiente (Capítulo VI, inserido no Título VIII – Da 
Ordem Social). 
É de extrema importância para o nosso estudo entender as disposições ali escritas, pois 
elas devem guiar todo o raciocínio dentro da matéria, então leia o texto da Constituição com 
atenção: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de 
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e 
futuras gerações. 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo 
ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar 
as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus 
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão 
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a 
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente 
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto 
ambiental, a que se dará publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e 
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
 
9 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização 
pública para a preservação do meio ambiente; 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem 
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os 
animais a crueldade. 
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente 
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, 
na forma da lei. 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal 
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, 
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, 
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. 
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações 
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. 
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida 
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. 
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se 
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam 
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta ConstituiçãoFederal, 
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural 
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar 
dos animais envolvidos. 
 
 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso 
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público 
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações; 
O art. 225 da CF/88 dispõe de diversos aspectos e princípios que devem ser observados 
em todo o estudo do direito ambiental. Primeiramente, temos a definição do bem jurídico 
 
10 
tutelado: o meio ambiente ecologicamente equilibrado; depois, podemos extrair da norma que 
ele se trata de um bem difuso, pois pertence a “todos” e é “de uso comum do povo”; ainda, 
extraímos o caráter de direito fundamental do meio ambiente ecologicamente equilibrado 
quando a própria Constituição o define como “essencial à sadia qualidade de vida”; também 
vislumbramos que é um dever do Poder público defender e preservar o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado e isso deve guiar todas as ações do Estado; que o dever de defesa 
e preservação do equilíbrio ambiental imposto à coletividade pressupõe do direito de 
informação ambiental e de participação democrática da sociedade nos assuntos referentes ao 
meio ambiente, principalmente naqueles ameaçadores; por fim, surge o princípio da 
solidariedade intergeracional quando o legislador constituinte estabelece que o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado é um direito das presentes e futuras gerações, ou seja, a geração 
atual deve cuidar do equilíbrio ambiental para si pensando na manutenção desse equilíbrio no 
futuro. 
 § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
A seguir, o legislador constituinte elencou diversas obrigações do Poder Público para 
efetivar a proteção ambiental. 
O fato de a Constituição atribuir expressamente ao Poder Público diversas obrigações para 
que possa assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, não retira da 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, em suas 
interações normais. Ou seja, interações sociais que firam esse direito devem ser condenadas de 
acordo com o caput do art. 225 da CF/88. 
 I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo 
ecológico das espécies e ecossistemas2; 
Em primeiro lugar, cabe diferenciar preservação de restauração. A primeira compreende 
um conjunto de ações para proteger o meio ambiente, que ainda não foi degradado; enquanto 
 
2 Vide questão 5 desse material. 
 
11 
a restauração consiste em ações para restituir o meio ambiente já degradado ao mais próximo 
possível da sua condição original. 
Portanto, de acordo com o §1º, I, do art. 225 da CF/88, incumbe ao Poder Público proteger 
o meio ambiente e, caso ocorra um dano, restituí-lo da forma mais completa possível. 
Processos ecológicos essenciais são os processos vitais, que tornam possíveis as relações 
entre os seres vivos e o meio ambiente, como as cadeias alimentares, o ciclo da água, do 
oxigênio, a produção de alimentos, de energia... 
Por sua vez, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas significa que o Poder Público 
deve administrar a biodiversidade das espécies vivas e dos seus respectivos ecossistemas. 
 II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e 
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético3; 
A Lei 13.123/15 define patrimônio genético como “informação de origem genética de 
espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluído substâncias 
oriundas do metabolismo destes seres vivos”. 
A Lei 11.105/05 define normas de segurança e de fiscalização das atividades que envolvem 
organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados. Para tanto, cria o Conselho 
Nacional de Biossegurança e a Política Nacional de Biossegurança. 
A Lei 9.985/00, por fim, cria a área ambientalmente protegida, importante instrumento de 
preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético do país. 
 III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus 
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão 
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a 
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção4; 
 
3 Vide questões 3 e 5 desse material. 
4 Vide questões 2 e 3 desse material. 
 
12 
A Constituição institui como obrigação do Poder Público a definição de espaços territoriais 
que devem ser protegidos devido à relevância dos seus atributos ambientais. 
Essa reserva de território deve ser feita em todas as unidades da Federação por meio de 
lei ou decreto do Poder Executivo, entretanto, uma vez estabelecida, a sua redução ou supressão 
só pode ser feita através de lei. Evidente é o intuito do legislador constituinte: facilitar a criação 
de áreas ambientalmente protegidas e dificultar a sua supressão. 
 IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente 
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto 
ambiental, a que se dará publicidade5; 
O estudo prévio de impacto ambiental, que chamaremos de EIA, é uma forma de avaliar o 
impacto que determinada atividade pode causar ao meio ambiente. Ele serve para subsidiar o 
procedimento de licenciamento ambiental de obras e atividades (públicas ou privadas) 
potencialmente causadoras de significativo dano ao meio ambiente, portanto, o estudo é 
realizado de forma prévia. 
Além da realização do EIA, a Constituição exige que a ele seja dada publicidade, 
prestigiando o princípio da informação. Com isso, qualquer interessado pode tomar 
providências administrativas e judiciais caso encontre alguma irregularidade na atividade. 
 V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e 
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio 
ambiente6; 
Esse dispositivo constitucionaliza a gestão dos riscos em matéria ambiental. Portanto, 
qualquer atividade potencialmente danosa para a vida, para a qualidade de vida e para o meio 
ambiente, deve ser controlada pelo Poder Público para afastar ou diminuir os seus riscos. 
 
5 Vide questões 2 e 3 desse material. 
6 Vide questões 3 e 5 desse material. 
 
13 
O Estado, através do seu poder de polícia, deve fiscalizar e orientar a produção, 
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias potencialmente danosas, 
sempre ressaltando o bem-estar da coletividade. É o que estudamos como princípio do limite. 
 VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a 
conscientização pública para a preservação do meio ambiente7; 
A educação ambiental é um dos mais importantes instrumentos para envolver a sociedade 
com a responsabilidade pela preservação do meio ambiente. Para tanto, foi instituída a Política 
Nacional de Educação Ambiental, pela Lei 9.795/99, que conceitua a educação ambiental como 
“processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, 
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio 
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua 
sustentabilidade”. 
 VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem 
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os 
animais a crueldade8; 
Há diversos diplomas legais que, com base no dispositivo da Constituição, visam a proteção 
dos animais e das plantasno ecossistema equilibrado, inclusive tipificando como crime a 
conduta danosa a esses bens. 
Por exemplo, a Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 32, define como crime “praticar ato 
de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos 
ou exóticos”; e em seu §1º, o mesmo artigo tipifica a realização de experiencia dolorosa ou cruel 
em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando há recurso alternativo. 
É para cumprir esse preceito constitucional que a Lei 11.794/08 estabelece regras para os 
procedimentos científicos e de aprendizagem que utilizam animais. Fica reservado o uso de 
animais vivos, em experiencias que possam causar dor ou angústia, aos casos inevitáveis. Nesses 
 
7 Vide questão 5 desse material. 
8 Vide questões 3 e 5 desse material. 
 
14 
casos, é preciso desenvolver a pesquisa sob sedação, analgesia ou anestesia adequada e que o 
animal seja sacrificado antes de recobrar a consciência – morte por meios humanitários. 
Nesse contexto, o STF já se ocupou de analisar a constitucionalidade de diversas normas 
estaduais que regulamentavam atividades com animais vivos. A decisão que mais se destacou 
foi a que trata da farra do boi, prática catarinense, com contexto religioso, em que o participante 
fazia “pegas e correrias de boi” para depois sacrificar o animal e oferecer à comunidade como 
hóstia. 
A controvérsia girava em torno do direito à manifestação cultural, protegido 
constitucionalmente (art. 215), e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, neste 
caso, representado pela proteção da fauna, também previsto constitucionalmente. 
Para o Supremo, a farra do boi não se tratava apenas de uma manifestação cultural, mas 
sim de uma prática violenta e cruel para com os animais (RE 153.531/SC). As manifestações 
culturais no Brasil não podem ser exercidas de forma absoluta, elas encontram limites, e o limite 
no caso era a crueldade contra os animais. Portanto, por maioria, a Corte deu provimento ao 
recurso, proibindo a realização da farra do boi. 
O mesmo entendimento foi adotado quando o Supremo julgou a ADI 4883 e declarou a 
inconstitucionalidade de uma lei estadual do Ceará que regulamentava a prática da vaquejada. 
Para o STF, “a crueldade intrínseca à ‘vaquejada’ não permite a prevalência do valor cultural 
como resultado desejado pelo sistema de direitos fundamentais”. 
Entretanto, o desfecho da declaração de inconstitucionalidade da vaqueja foi outro. Os que 
consideram a atividade como legítima manifestação cultural protestaram e viram ser aprovada 
a Emenda Constitucional nº 96/17, que acrescentou o §7º ao art. 255 da CF/88. A alteração do 
texto constitucional passa a reconhecer práticas desportivas que utilizam animais e que sejam 
manifestações culturais como não cruéis. 
Portanto, atualmente atividades como a vaquejada e o rodeio não podem ser consideradas 
inconstitucionais de acordo com o disposto no inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88 e a decisão 
do STF ficou sem efeito. 
 
15 
 § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio 
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público 
competente, na forma da lei; 
Trata-se do princípio do poluidor-pagador, que exige do sujeito que gerou o dano 
ambiental a responsabilidade quanto à todas as consequências que a sua atividade causou. 
No §2º do art. 225, a Constituição destaca a exploração dos recursos minerais porque essa 
atividade gera relevantes impactos ao meio ambiente e tem uma expressiva importância 
econômica e social. 
 § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados; 
O dispositivo trata da tríplice responsabilização do poluidor. A Constituição permite que, 
em decorrência de um único dano ambiental, o seu causador, pessoa física ou jurídica, de direito 
público ou privado, possa ser responsabilizada penal, administrativa e civilmente de forma 
simultânea e independente. 
 
A responsabilidade civil do ente público por dano ambiental pode ser, inclusive, 
decorrente da sua omissão ou da sua atuação insuficiente, e, nesses casos, como veremos 
mais adiante neste capítulo, solidária9. 
 
 § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal 
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-
 
9 Vide questão 1 desse material. 
 
16 
á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio 
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais10; 
Com esse dispositivo, a Constituição Federal quis enfatizar a importância ambiental desses 
ecossistemas, transformando-os em patrimônio nacional. Mas, atenção: a previsão constitucional 
não transforma esses biomas em bens da União. O que podemos extrair do §4º é que a Floresta 
Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona 
Costeira, por serem patrimônio nacional, não admitem qualquer tipo de internacionalização. 
As áreas não são bens da União, mas o status de patrimônio nacional garante aos biomas 
um regime especial de utilização, que deve ser voltado para a preservação dos respectivos 
atributos naturais e para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. 
 § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações 
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais; 
As terras devolutas são aqueles territórios que não pertencem legitimamente a nenhum 
particular e as, incorporadas no patrimônio público, não são afetadas a qualquer uso. Em regra, 
são bens públicos dominicais e, por isso, alienáveis. 
Entretanto, as terras devolutas necessárias à proteção do meio ambiente possuem 
tratamento jurídico diferenciado pela CF/88: são bens da União e devem ser consideradas como 
bens públicos de uso especial, pois estão afetados à uma destinação pública específica – a 
proteção dos ecossistemas naturais e, portanto, bens indisponíveis. 
 § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida 
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas11; 
Toda a atividade nuclear brasileira está centralizada exclusivamente na competência da 
União, devendo ser usada para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional (com 
exceção dos radioisótopos, cuja produção, comercialização e utilização podem ser autorizadas 
sob o regime de permissão). 
 
10 Vide questão 2 desse material. 
11 Vide questão 2 desse material. 
 
17 
 § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se 
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam 
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, 
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural 
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar 
dos animais envolvidos12. 
Como já demonstrado nos comentários do inciso VII do §1º do art. 225 da CF/88, o 
legislador constituinte derivado passou a entender que práticas desportivas que utilizem animais, 
como por exemplo, a vaquejada, são permitidas desde que configurem manifestações culturais 
registradas como patrimônio público cultural brasileiro de natureza imaterial. 
Para harmonizar tais práticas com a proteção do meio ambiente prevista no inciso VII do 
§1º do art. 225 da CF/88, a atividade deve ser regulamentada por lei específica que tenha como 
fim evitar a crueldade contra os animais usados. 
2.4 Ações constitucionais 
O sistemaprocessual civil que existia na época da promulgação da Constituição de 1988 
não era preparado para tutelar direitos transindividuais. Suas características individualistas eram 
incompatíveis e insuficientes para assegurar direitos difusos como o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. 
Para privilegiar o princípio do acesso à justiça, surge em nosso ordenamento jurídico a 
jurisdição civil coletiva, com o intuito de atender as peculiaridades das ações que tratam de 
interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Para tanto, a Constituição de 1988 
estabelece expressamente a Ação Civil Pública e a Ação Popular como instrumentos para garantir 
a proteção dos direitos transindividuais. 
 Ação Civil Pública: é um instrumento processual que serve para condenar o agente 
causador de dano ambiental a cessar ato lesivo ao meio ambiente, recuperar as áreas 
degradadas e/ou pagar reparação pecuniária. A Ação Civil Pública – ACP – está 
 
12 Vide questão 2 desse material. 
 
18 
regulamentada pela Lei 7.347/85. Nesta lei, temos um rol taxativo de legitimados a 
propor a ACP, mas entre eles não encontramos o cidadão. 13 
 Ação Popular: é o instrumento processual utilizado pelo cidadão para fazer um controle 
de legalidade e de lesividade de atos, e proteger interesses transindividuais, entre eles, 
o meio ambiente. É uma forma de exercer a democracia direta e, portanto, o seu titular 
deve ter capacidade eleitoral ativa. Por isso, a pessoa jurídica não é legitimada a propor 
Ação Popular (Súmula 265, STF). 
As ações em destaque serão abordadas de forma aprofundada neste curso em capítulo 
próprio da tutela processual do meio ambiente. 
2.5 Domínio eminente dos bens pelo Estado 
O Poder Público exerce um domínio eminente sobre todos os bens situados no território 
brasileiro. Não se trata de um domínio patrimonial, é um poder que decorre da soberania do 
Estado, que o permite submeter, de forma geral, à sua vontade todos os bens situados em seu 
território, sejam eles públicos, privados ou não sujeitos ao regime normal de propriedade, como 
a água. 
É por esse domínio eminente dos bens pelo Estado que os recursos ambientais podem 
sofrer intervenções do Poder Público, mesmo que ele não seja o proprietário. 
2.5.1 Recursos naturais 
De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente, prevista na Lei 6.938/81, são recursos 
ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar 
territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. 
O Estado exerce a função de gestor e assegurador desses recursos ambientais, que são 
classificados como patrimônio público em sentido amplo, tendo em vista o seu uso coletivo. 
Quanto à sua destinação, os recursos naturais podem ser classificados como bens públicos 
de uso comum do povo, de acordo com a divisão de bens públicos do art. 99 do Código Civil. 
 
13 Vide questão 09 e 08 
 
19 
Portanto, os bens naturais podem ser utilizados por todos, igualmente, sem necessidade de 
autorização da Administração Pública; são afetados e indisponíveis. Exemplos: rios e mares. 
Alguns bens naturais são classificados como bens de uso especial, quando possuem destinação 
pública específica, como por exemplo, as terras ocupadas por índios. 
Não podemos confundir o termo “bem de uso comum do povo” usado no caput do art. 
225 da CF/88 com a classificação do CC/02. O intuito do legislador constituinte ao usar essa 
expressão foi de intensificar a ideia de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um 
bem transindividual. 
A doutrina administrativista tem uma percepção diferente. Por ela, é permitido que os bens 
de uso comum do povo sejam desafetados, o que é impossível de acontecer com os bens 
naturais, devido à titularidade difusa dada pela Constituição. Ademais, como visto, os bens 
naturais eventualmente afetados podem ser classificados administrativamente como “bens de 
uso especial”, mas não perdem a característica de bem de uso comum do povo no sentido dado 
pela Constituição. 
Quanto à titularidade, os recursos naturais podem ser classificados em federais, estaduais, 
distritais ou municipais. Vale lembrar que ao dar a titularidade dos recursos naturais aos entes 
federados, a Constituição não está dando a propriedade ou o domínio desses bens. A União, os 
estados, o Distrito Federal e os municípios atuam como gestores responsáveis pela preservação 
e adequada utilização desses bens. 
A Constituição enumera os bens da União em seu art. 20, nos seguintes temos: 
Art. 20. São bens da União: 
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; 
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e 
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, 
definidas em lei; 
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que 
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a 
 
20 
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias 
fluviais; 
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; 
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II; 
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; 
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de 
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental 
federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 
46, de 2005) 
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; 
VI - o mar territorial; 
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; 
VIII - os potenciais de energia hidráulica; 
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; 
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; 
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. 
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de 
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais 
no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica 
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. 
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras 
terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do 
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei. 
Por ser um tema de direito constitucional, vamos tratá-lo de forma objetiva aqui na matéria 
de direito ambiental, revisando e destacando os pontos que interessam à nossa disciplina, ok? 
 As terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental. 
As terras devolutas são aquelas que não são de propriedade particular e aquelas que, 
incorporadas ao domínio público, ainda não foram afetadas a qualquer uso. Em geral elas são 
classificadas como bens públicos dominicais. Em regra, os bens dominicais são disponíveis, 
 
21 
entretanto, quando as terras devolutas são indispensáveis para a preservação ambiental, há uma 
exceção quanto a sua disponibilidade: o art. 225, §5º da própria CF/88 estabelece a 
indisponibilidade das terras devolutas necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. 
Concluindo, as terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental são bens da União, 
excepcionalmente classificadas como bens públicos de uso especial devido à destinação pública 
que receberam da Constituição. 
 Os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio,ou que 
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a 
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as 
praias fluviais. 
Para classificar os cursos d’água como bens da União, devemos observar a sua extensão e 
o critério da segurança nacional. Para aferir no caso concreto se o bem é federal, estadual ou 
distrital, a Agência Nacional de Águas – ANA – definiu 5 critérios na Resolução n. 399/04: 
5. CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA 
5.1. Cada curso d’água, desde a sua foz até a sua nascente, será considerado como 
unidade indivisível, para fins de classificação quanto ao domínio. 
5.2. Os sistemas hidrográficos serão estudados, examinando-se as suas correntes de água 
sempre de jusante para montante e iniciando-se pela identificação do seu curso principal. 
5.3. Em cada confluência será considerado curso d’água principal aquele cuja bacia 
hidrográfica tiver a maior área de drenagem. 
5.4. A determinação das áreas de drenagem será feita com base na Cartografia Sistemática 
Terrestre Básica. 
5.5. Os braços de rios, paranás, igarapés e alagados não serão classificados em separado, 
uma vez que são considerados parte integrante do curso d'água principal. 
Por esses critérios, os trechos de rios que compõem os cursos principais das bacias 
hidrográficas que transpassam ou compõem limites estaduais, são bens da União (STJ, 
informativo 398). 
 
22 
 As ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias 
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras. 
Entretanto, própria Constituição estabelece que não são bens de União as áreas que sejam 
de domínio do estado membro ou que sejam sede de Município (salvo as áreas afetadas ao 
serviço público e unidade ambiental federal). 
A Lei 9.985/00, que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 
(SNUC), estabelece que as ilhas oceânicas e costeiras são ambientalmente relevantes porque se 
destinam prioritariamente à proteção da natureza. Ainda, define que outra destinação dessas 
ilhas deve ser precedida de autorização de órgão ambiental competente, tendo em vista que a 
estabilidade da fauna e da flora desses ambientes insulares é frágil. 
As praias marítimas são as áreas periodicamente cobertas e descobertas pelas águas, 
acrescida da faixa de areia/ cascalho/ pedregulhos... até o início da vegetação natural ou, não 
existindo, até o início de outro ecossistema. Por serem bens de uso comum do povo, as praias 
marítimas devem ter acesso livre, salvo quando a sua área for de interesse para segurança 
nacional ou protegida por lei. 
 Os recursos naturais da plataforma continental, da zona econômica exclusiva e o 
mar territorial. 
Em 1982 ocorreu a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, na Jamaica. 
Nessa convenção foram estabelecidos os princípios gerais para a exploração dos recursos 
naturais do mar e os conceitos de plataforma continental e de zona econômica exclusiva. O 
Brasil ratificou a Convenção em 1988 e regulamentou o direito do mar com a Lei 8.617/93. 
O mar territorial brasileiro é um bem da União por ser de interesse para a segurança 
nacional, pois a soberania do Brasil se estende por ele, por seu espaço aéreo, por seu leito e 
por seu subsolo. O mar territorial compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura 
(mais ou menos 22km), medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular. 
Lembre-se que a soberania nacional na área de mar territorial e seus respectivos espaços 
sobrejacentes e subjacentes não é absoluta, como no caso do território interno. Devemos 
 
23 
sempre lembrar do direito de passagem inocente para os navios de qualquer outro Estado 
soberano. 
Mas o direito de passagem inocente pode ser exercido de qualquer forma? Claro que não! 
O Estado que possui o mar territorial que é área para a passagem inocente tem o direito de 
regulamentar essa prática para a segurança da navegação, para a proteção de instalações ou 
equipamentos, para a proteção do meio ambiente e para prevenir infrações. 
A Zona Econômica Exclusiva, que vamos chamar apenas de “ZEE”, compreende uma faixa 
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para 
medir a largura do mar territorial. 
A ZEE dá ao país direitos de soberania para fins de exploração, aproveitamento, 
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não, das águas sobrejacentes, do leito do 
mar e do seu subsolo. Por força da Constituição, os recursos naturais encontrados na ZEE são 
considerados bens da União, a quem também cabe regulamentar matérias como a investigação 
científica na ZEE, a proteção e a preservação do mar marítimo, as ilhas artificiais, qualquer 
instalação ou estrutura. 
O fato de o Brasil ter soberania para explorar e aproveitar os recursos naturais da ZEE 
brasileira não retira o direito dos demais Estados ao gozo de liberdades como a navegação e o 
sobrevoo. 
Por fim, devemos conceituar a plataforma continental como o leito e o subsolo das áreas 
submarinas além do mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do território 
terrestre ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base. 
A União, por força do art. 20, V, da CF/88, tem o direito exclusivo de autorizar e 
regulamentar perfurações na plataforma continental, mas é importante destacar que é 
reconhecido a todos os Estados o direito de instalar cabos e dutos na plataforma continental 
brasileira. 
 Potenciais de energia hidráulica. 
 
24 
Os recursos naturais com potencial energético são em regra bens da União, tendo em vista 
a sua relevância econômica. Mesmo que esteja localizado em curso d’água estadual, a área de 
potencial de energia hidráulica será sempre bem da União, que tem competência para explorar, 
diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços e instalações de 
energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água. 
 Recursos minerais, inclusive os do subsolo. 
O nosso ordenamento jurídico estabelece uma separação jurídica entre a propriedade do 
solo e a propriedade dos seus recursos minerais. Esses últimos não integram o patrimônio do 
particular proprietário da superfície. É a União a titular da propriedade mineral para efeitos de 
exploração econômica e/ou de aproveitamento industrial. 
Art. 1.230, do Código Civil – A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e 
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos 
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. 
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de 
emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação 
industrial, obedecido o disposto em lei especial. 
Vale ressaltar que, todavia, o proprietário do solo em que se encontram os recursos 
minerais da União tem direito à participação nos resultados da lavra. 
 Cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos. 
As cavidades naturais subterrâneas são espaços subterrâneos acessíveis pelo ser humano, 
popularmente conhecidos como caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou buraco. Inclui-se no 
conceito de cavidades naturais subterrâneas o seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna 
e a flora e o corpo rochoso, desde que tenham se formado por processos naturais, 
independentemente das dimensões e tipo de rocha encaixante. 
Os sítios arqueológicos são locais onde se encontram vestígios de ocupação humana no 
passado. Ambas as áreas são de interesse público nacional, que constituem o patrimônio cultural 
brasileiro, o que justifica a titularidade da União. 
 Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. 
 
25 
O dispositivo aduz às terras ocupadas permanentemente pelos índios, utilizadas para suas 
atividades produtivas, imprescindíveisà preservação dos recursos ambientais necessários para o 
seu bem-estar e necessidades de reprodução e conservação da cultura, segundo os seus usos, 
costumes e tradições. 
As terras ocupadas tradicionalmente pelos índios são de titularidade da União, mas são 
caracterizadas como posse permanente do povo indígena, cabendo a eles o usufruto 
exclusivo do solo, rios e lagos nelas existentes. 
 
Muito importante destacar que o STF entende que a Constituição de 1988 reconheceu os 
direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e não simplesmente outorgou 
as eles esse direito. Ou seja, isso quer dizer que o ato de demarcação de terras indígenas tem 
natureza declaratória e não constitutiva. Trata-se de um direito originário, mais antigo do que 
qualquer outro, que prepondera mesmo diante de pretensos direitos adquiridos materializados 
em escrituras públicas ou título de legitimação de posse de pessoa não-índio, que são atos 
nulos e extintos pela Constituição. 
 
Por fim, vale lembrar que as terras indígenas são bens públicos de uso especial, pois têm 
destinação pública definida (estão afetadas). Isso implica na inalienabilidade, indisponibilidade 
e na imprescritibilidade desses bens. 
Quanto aos bens estaduais, a Constituição estabelece um critério nitidamente subsidiário 
e traça um rol exemplificativo no seu art. 26, os enumerando da seguinte forma: 
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: 
 
26 
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, 
neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; 
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas 
aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; 
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; 
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. 
Para Carvalho Filho, as regras do art. 26 devem ser estendidas ao Distrito Federal, tendo 
em vista a sua aproximação com os estados membros pela disciplina constitucional. 
Os municípios foram excluídos da partilha de bens constitucional! Mas isso não significa 
que eles não tenham titularidade de bens! As ruas, praças, jardins públicos, edifícios públicos 
municipais e unidades de conservação ambiental municipais são exemplos de bens de 
titularidade municipal. 😉 
2.6 Competências em matéria ambiental 
A Constituição de 1988 adotou o federalismo cooperativo, estabelecendo uma repartição 
de competências entre os entes federados em uma relação de coordenação. Na repartição de 
competências legislativas, a CF/88 usa o critério da predominância de interesse, pelo qual à 
União cabe legislar sobre matérias de interesse nacional, aos estados cabe legislar sobre matérias 
de interesse regional e aos municípios cabe legislar sobre matérias de interesse local. 
A competência ambiental material, por sua vez, atribui aos entes federados o poder de 
execução da lei, de colocá-la em prática independentemente de provocação, e se subdivide em 
exclusiva e comum. 
2.6.1 Competência legislativa privativa 
É a competência outorgada pela Constituição (art. 22) à União para legislar sobre 
determinados assuntos, entre eles: águas, energia, regime de portos, navegação lacustre, fluvial 
e marítima, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, sistema de geologia 
nacional e atividades nucleares de qualquer natureza. 
 
27 
Segundo o parágrafo único do art. 22 da CF/88, essas matérias de competência legislativa 
privativa da União podem ser delegadas para os estados da federação mediante autorização 
por meio de lei complementar. 
Ademais, não custa nada lembrar que o fato de a competência legislativa ser privativa da 
União, não significa que só ela tenha o poder de fiscalizar. Guarde essa informação. 😉 
2.6.2 Competência legislativa exclusiva 
A competência legislativa exclusiva é aquela que, diferentemente da competência privativa, 
não pode ser delegada a outro ente. 
Os estados federados possuem sua competência legislativa exclusiva prevista nos §2º e §3º 
do art. 25 da CF/88. 
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, 
observados os princípios desta Constituição. 
(...) 
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais 
de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua 
regulamentação. 
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, 
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios 
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas 
de interesse comum. 
Quanto aos municípios, apesar de não terem sido expressamente contemplados por 
competências legislativas exclusivas em matéria ambiental pela Constituição, podemos extrair 
do art. 30, I da CF/88 que esses entes podem legislar sobre assuntos de interesse local, desde 
que comprovado o interesse restrito ao âmbito territorial do município. Esse “interesse local” 
não significa ausência de interesse regional ou nacional. Para detectar se a matéria é de 
competência do município devemos usar o critério da predominância de interesse. 
 
28 
2.6.3 Competência legislativa remanescente 
De acordo com o art. 25, §1º da Constituição Federal, são reservadas aos Estados as 
competências que não lhes sejam por ela vedadas. É o que chamamos de competência 
remanescente ou reservada, que visa preencher eventuais lacunas na repartição de competências 
entre os entes. Em razão da competência remanescente temos, por exemplo, a competência dos 
estados para legislar sobre o transporte intermunicipal. 
2.6.4 Competência legislativa concorrente 
A competência legislativa concorrente está prevista no art. 24 da Constituição Federal. Nele 
são elencadas matérias legislativas que cabem a todos os entes da federação. No contexto 
ambiental, destaca-se: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente 
sobre: 
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; 
(...) 
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos 
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; 
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; 
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos 
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; 
IX - educação, cultura, ensino e desporto; 
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento 
e inovação; (...) 
No âmbito da legislação concorrente, como todos os entes possuem competência 
legislativa, é preciso estabelecer algumas regras para evitar conflitos. A mais importante é a 
prevista no §1º do art. 24 da CF/88, que limita a competência da União a estabelecer normas 
gerais sobre essas matérias, que devem ser observadas pelos estados, DF e municípios. Normas 
 
29 
gerais são aquelas que estabelecem conceitos, princípios e procedimentos básicos para serem 
observados nas normas dos demais entes. 
 
A inércia da União em editar a norma geral faz surgir a competência legislativa supletiva 
ou plena para os estados e para o DF, como dispõe o §3º do art. 24 da CF/88, que passam a 
poder editar normas gerais e normas específicas sobre os assuntos concorrentes. 
Se após exercida a competência legislativa supletiva pelo estado ou pelo DF, a União editar 
a norma geral, ela irá suspender a eficácia da lei estadual/distrital no que for lhe for contrária. 
Atenção: a lei geral editada pela União supervenientemente não irá revogar a lei geral supletiva 
editada pelo estado ou pelo DF! NÃO EXISTE HIERARQUIA ENTRE LEIS DE ENTES 
FEDERATIVOS DISTINTOS! Inclusive, ambas as leis podem coexistir, desde que a lei editadaa 
partir da competência legislativa supletiva não contrarie a norma geral editada 
supervenientemente pela União. 
 
E os municípios? Bem, o art. 24 da CF/88 não atribui nenhuma competência legislativa aos 
municípios, por isso, a doutrina majoritária não considera que eles tenham competência 
concorrente. Mas o art. 30, I e II da CF/88 afirma que cabe ao município “legislar sobre assuntos 
de interesse local” e “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”! Isso não é 
uma competência concorrente implícita??? Não! O inciso I é uma competência exclusiva do 
município, enquanto o inciso II trata-se do que a doutrina chama de competência legislativa 
suplementar. 
A competência legislativa suplementar ou complementar pode ser vista como um 
desdobramento da competência concorrente, e está prevista no art. 24, §2º da CF/88 da seguinte 
forma: “a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência 
 
30 
suplementar dos estados”. Portanto, os estados e o DF podem suplementar as normas gerais 
editadas pela União, claro, sem confrontá-las. 
Também podemos afirmar que os municípios possuem competência legislativa 
suplementar com base no art. 30, II da CF/88, desde que a norma trate de interesse local. Com 
isso, preenchemos eventuais lacunas na divisão constitucional de competências legislativas. 
2.6.5 Competência material exclusiva 
O art. 21 da CF/88 elenca várias competências materiais exclusivas da União. O critério 
utilizado pelo constituinte para definir quais assuntos seriam incluídos nesse rol foi o interesse 
geral. Entre esses assuntos destacamos, em matéria ambiental: 
Art. 21. Compete à União: 
(...) 
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de 
desenvolvimento econômico e social; 
(...) 
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: 
(...) 
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos 
cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais 
hidroenergéticos; 
(...) 
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios 
de outorga de direitos de seu uso; 
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento 
básico e transportes urbanos; 
(...) 
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer 
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a 
 
31 
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os 
seguintes princípios e condições: 
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos 
e mediante aprovação do Congresso Nacional; 
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de 
radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; 
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de 
radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; 
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; 
(...) 
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, 
em forma associativa. 
 
Notou alguma coisa no inciso XII acima citado? Observe que ele autoriza a exploração 
dos serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de 
água diretamente pela União ou mediante autorização, concessão ou permissão. Trata-se, 
portanto, de uma possibilidade de delegação do exercício dessa competência. Ok, mas e daí? 
Daí que esse inciso especificamente deixa de ser classificado como uma competência material 
exclusiva e passa a ser considerado uma competência material privativa da União que, como 
vimos, são aquelas matérias que podem ser delegadas. 
 
 
32 
2.6.6 Competência material comum 
Segundo o art. 23 da CF/88, algumas matérias são de competência de todos os entes 
federativos conjuntamente, ao mesmo tempo. No âmbito do direito ambiental, a competência 
comum basicamente visa a proteção ambiental e o exercício do poder de polícia em cooperação. 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios: 
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar 
o patrimônio público; 
(...) 
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, 
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; 
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à 
pesquisa e à inovação; 
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; 
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; 
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; 
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições 
habitacionais e de saneamento básico; 
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a 
integração social dos setores desfavorecidos; 
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração 
de recursos hídricos e minerais em seus territórios; 
(...) 
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e 
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do 
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 
 
33 
Para regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei Complementar 140/11, que será 
aprofundada adiante, com o intuito de estabelecer uma gestão descentralizada das questões 
ambientais, harmonizar políticas públicas e ações administrativas entre as esferas de governo. 
 
 
34 
3. Responsabilidade Ambiental 
Como vimos, o art. 225, §3º da CF/88 estabelece que “as condutas e atividades 
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a 
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos 
causados”. Temos a previsão constitucional da tríplice responsabilização, que engloba o âmbito 
penal, administrativo e civil. 
Portanto, o poluidor – pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, responsável 
direta ou indiretamente pela atividade que causou o dano ambiental – pode ser responsabilizado 
nas três esferas de forma independente. 
No presente capítulo abordaremos a responsabilidade civil e administrativa, deixando a 
responsabilidade penal por dano ao meio ambiente para um capítulo específico. 
3.1 Responsabilidade civil 
Responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo de reparar, recuperar, compensar, ou 
simplesmente pagar por prejuízo decorrente da violação de um dever jurídico originário. A 
responsabilização visa restabelecer o status quo ante entre o agente e a vítima. 
Quando o dever de indenizar decorre de um contrato inadimplido, temos a 
responsabilidade contratual. Mas se o dever de indenizar surge a partir de uma lesão a um 
direito subjetivo da vítima, sem que preexista relação jurídica entre ela e o agente, temos a 
responsabilidade extracontratual (que decorre de uma lei ou de um preceito geral de direito). 
A responsabilidade civil extracontratual pode ser subjetiva ou objetiva. Por subjetiva 
entendemos aquela responsabilidade fundada na culpa do agente, seus pressupostos, previstos 
nos artigos 927 e 186 do Código Civil, são: ato ilícito (com dolo ou culpa) + dano + nexo causal. 
Quando falamos em culpa no direito civil temos que entendê-la como qualquer 
comportamento contrário ao direito, intencional ou não. Quanto ao dano, trata-se de um 
elemento essencial à responsabilização civil, pois sem ele não há o que indenizar, certo? Assim, 
 
35 
mesmo se a conduta do agente for dolosa ou culposa, se ela não gerar dano à vítima, nãofalamos em responsabilidade civil. Por fim, o nexo causal é a relação entre a conduta do agente 
e o dano causado à vítima. É uma relação de causa e efeito. Para a responsabilização de alguém, 
é preciso provar que ele deu causa ao resultado, não basta que o agente tenha praticado 
conduta ilícita e que a vítima tenha sofrido um dano, é preciso estabelecer uma relação casuística 
entre os dois. 
Já que estamos tratando do nexo causal, é importante lembrar a você que existem situações 
excludentes do nexo causal: caso fortuito ou caso de força maior; fato exclusivo da vítima; e 
fato de terceiro. 
A responsabilidade objetiva, por sua vez, exige apenas dois pressupostos: a dano e nexo 
causal. A teoria objetiva baseia-se no risco da atividade e, por isso, não se interessa com o 
elemento subjetivo (dolo ou culpa). Portanto, quando dizemos que a responsabilidade é objetiva, 
significa que, independente de dolo ou culpa, se houve dano e se esse dano decorreu de 
conduta lícita ou ilícita do agente (nexo causal), ele deve ser responsabilizado pelos prejuízos 
causados. 
A regra civil é que a responsabilidade seja subjetiva, sendo a teoria objetiva aplicada apenas 
em casos excepcionais, como é o caso da responsabilização por danos ambientais. 
Art. 14, §1º, da Lei 6.938/81 – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste 
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar 
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua 
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor 
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.14 
3.1.1 Responsabilidade civil por dano ambiental 
O foco na responsabilidade civil ambiental é a integral reparação do meio ambiente 
degradado por meio de uma tutela específica. Por isso, em regra, cabe ao poluidor a obrigação 
de recuperar o meio ambiente, restaurando o seu status quo ante. Subsidiariamente, apenas se 
 
14 Vide questão 7 
 
36 
o dano for irreparável, é que caberá ao poluidor indenizar os danos causados em dinheiro, 
revertido à preservação ambiental. 
Ademais, a recuperação do meio ambiente pode ser conjugada com a indenização 
pecuniária, pois o princípio da reparação integral visa a mais completa restauração do 
equilíbrio ambiental. Nesse sentido, se, em caso de dano, o poluidor reparar de forma completa 
e imediata o meio ambiente, não há o que se falar em indenização. 
Vale lembrar que a responsabilização do poluidor na esfera civil não visa puni-lo, mas 
apenas reparar o dano causado. Nesse sentido, o STJ afirma que “é inadequado pretender 
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é 
função que incumbe ao direito penal e administrativo” (REsp. 1.345.536/SE). 
Como vimos, a responsabilidade ambiental segue a teoria objetiva. Com isso, não é 
preciso comprovar a vontade de causar o dano (dolo) ou a negligência, imprudência ou imperícia 
(culpa) do poluidor. Basta que se constate do efetivo dano ambiental e a relação entre ele e a 
conduta do agente (nexo causal) para que exista a responsabilização. 
No âmbito da responsabilidade civil ambiental, não cabe ao autor da ação comprovar o 
dano e o nexo causal entre ele e a atividade do acusado. De acordo com o enunciado da Súmula 
618 do STJ, “a inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental”. Esse 
entendimento se baseia no in dubio pro nature, pois o aplicador do direito deve sempre 
interpretar os fatos em favor da tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
A partir desse raciocínio, nas ações de responsabilização ambiental, transfere-se ao suposto 
infrator a atribuição de demonstrar que não praticou a atividade lesiva a ele imputada, ou que 
a atividade que ele praticou não é capaz de gerar dano ambiental. 
 
 
37 
 
Quanto às excludentes do nexo causal em sede de responsabilidade civil objetiva 
ambiental, a doutrina diverge. Alguns entendem que a teoria objetiva, baseada na teoria do 
risco, deve admitir a prova de excludente de responsabilidade. Para eles, a pessoa que assume 
o risco de uma atividade deve assumir os seus ônus, exceto os absolutamente imprevisíveis. 
Estes excluem o nexo causal e, consequentemente, a responsabilidade civil. 
Entretanto, o entendimento majoritário da doutrina, que é adotado pela jurisprudência, 
baseia-se na teoria do risco integral. Essa teoria criou uma espécie de responsabilidade civil 
objetiva agravada, que não admite as excludentes do nexo causal. 
Para os que defendem esse posicionamento, o dever de indenizar surge apenas com o 
dano, ainda que ele seja causado por culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito 
ou de força maior, pois o simples fato de exercer a atividade potencialmente poluidora produz 
o dever de reparar seus eventuais danos. 
Portanto, para a teoria do risco integral, só se exclui a responsabilidade civil caso seja 
comprovado que o dano não existiu ou que o dano não está relacionado com a atividade que 
o agente exerce. 
É uma teoria extremamente rigorosa e, por isso, é adotada no Brasil apenas nos casos de 
dano ambiental e de dano nuclear. 
 
Além de ser objetiva e pautada na teoria do risco integral, a responsabilidade civil por 
dano ambiental também é solidária. A solidariedade é um artifício técnico usado para facilitar 
o cumprimento de uma obrigação, que poderá ser reclamada em sua totalidade por qualquer 
dos credores a qualquer dos devedores. 
 
38 
Para fins de solidariedade ambiental, equiparam-se como poluidores quem faz, quem não 
faz quando deveria fazer, quem faz mal feito, quem não se importa que façam, quem financia 
para que façam e quem se beneficia quando outros fazem. 
Assim, existindo mais de um agente poluidor, direto ou indireto, a responsabilidade 
solidária faz com que todos eles devam responder através de seus bens por todo os prejuízos 
causados pelo dano, independentemente do seu grau de culpabilidade. Portanto, a formação 
de litisconsórcio não é obrigatória, os responsáveis solidários podem ser acionados 
conjuntamente ou de forma individual. 
 
Como vimos, a responsabilidade objetiva ambiental requer apenas a comprovação do dano 
e do nexo causal entre ele e a atividade do poluidor. Entretanto, o STJ excetua essa regra, 
dispensando a comprovação do nexo causal, no caso de responsabilidade por degradação 
ambiental de imóvel rural. 
A preservação de área ambientalmente protegida é uma obrigação de natureza real, que 
adere ao título e se transfere ao sucessor. Visto isso, a responsabilidade de recuperar o meio 
ambiente degradado é do atual proprietário do imóvel rural, mesmo que ele não tenha causado 
o dano (mesmo sem nexo causal). 
Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo 
admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor. 
 
 
39 
 
Não custa nada reforçar, tendo em vista a importância do tema, que o direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado é imprescritível. Diante do conflito entre a segurança 
jurídica do poluidor com a prescrição e a melhor tutela do bem jurídico ambiental, que é 
coletivo, indisponível, fundamental e antecede todos os demais direitos (pois sem ele não há 
vida), o último prevalece sobre o primeiro e a reparação do dano ambiental é considerada 
imprescritível. 
 
É possível a responsabilidade civil por dano extrapatrimonial em razão da degradação 
ambiental? É possível que um dano ao meio ambiente, direito difuso, cause dano moral 
individual? E dano moral coletivo? 
Todas das respostas são positivas. A degradação do meio ambiente pode causar um dano 
extrapatrimonial a um indivíduo, a alguns indivíduos ou à toda coletividade. Por exemplo, um 
dano ambiental pode causardificuldade ou impossibilitar o exercício de determinada profissão, 
isso gera dano moral aos respectivos profissionais. 
Com a crise ambiental e a sociedade de massa em que vivemos, é preciso dar um enfoque 
mais abrangente à responsabilidade civil. Normalmente a responsabilização extrapatrimonial 
está relacionada aos direitos de personalidade, vinculados a uma pessoa física e até mesmo 
jurídica. Entretanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ter a sua 
face individual, apresenta-se como um direito difuso, transindividual. Se o indivíduo pode ser 
indenizado por dano moral, também deve ser admitido o dano moral da coletividade, caso 
contrário restaria um dano sem a respectiva obrigação de compensar. 
 
40 
Seguindo esse entendimento, o STJ demonstra que admite o dano moral coletivo em 
matéria ambiental na decisão do REsp. 1.114.839: “a reparação ambiental deve ser feita de forma 
mais completa possível, de modo que a condenação a recuperar a área lesionada não exclui o 
dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno 
restabelecimento do meio ambiente afetado (dano interino ou intermediário), bem como pelo 
dano moral coletivo e pelo dano residual (degradação ambiental que subsiste, não obstante 
todos os esforços de restauração)”. 
Ademais, na decisão do REsp. 1.367.923, o STJ deixou claro que existe um paradoxo na 
admissão de dano moral individual sem que fosse possível o mesmo tratamento à coletividade. 
E ainda, que a degradação do meio ambiente causa dano moral coletivo, mesmo que de forma 
reflexa. 
3.1.2 Responsabilidade civil do Estado por dano ambiental 
De acordo com o art. 37, §6º da CF/88, “as pessoas jurídicas de direito público e as de 
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, 
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável 
nos casos de dolo ou culpa”. 
O Código Civil, nesse contexto, dispõe no seu art. 43 que “as pessoas jurídicas de direito 
público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade 
causa a terceiros, ressalvado direito de regresso contra os causadores do dano, se houver, por 
parte destes, culpa ou dolo”. 
Com fundamento na teoria do risco administrativo, o Estado tem responsabilidade 
objetiva pelo dano causado ao meio ambiente por seus agentes, no desempenho de suas 
funções ou em razão delas. 
 
 
41 
A teoria do risco administrativo não se confunde com a teoria do risco integral. Ambas 
adotam a responsabilidade objetiva, dispensando a comprovação de dolo ou culpa do agente. 
Entretanto, pela teoria do risco integral não é possível reconhecer as causas excludentes de nexo 
causal e, já na teoria do risco administrativo, admite-se que o Estado afaste a sua 
responsabilidade nos casos de fato exclusivo da vítima, caso exclusivo de terceiro, caso fortuito 
e força maior. 
 
No direito administrativo, aplicamos a teoria do risco administrativo quando estamos diante 
de um ato comissivo do agente público, mas ela convive perfeitamente com a teoria da culpa 
do serviço, que prevê a responsabilidade subjetiva do Estado nos casos de danos decorrentes 
da sua omissão. 
Na teoria da culpa do serviço é admitida a aplicação da culpa anônima, ou a culpa do 
serviço. Portanto, não é preciso indicar o sujeito que se omitiu por dolo ou culpa e gerou o 
dano a terceiro, basta que fique comprovado que o Estado não agiu, ou que agiu de forma 
insuficiente. 
No direito ambiental, entretanto, o STJ entende que a responsabilidade do Estado é 
objetiva, mesmo em dano causado de forma omissiva. O julgado ainda destaca a 
responsabilidade solidária do Poder Público nos casos em que figura como poluidor por 
omissão. 
A responsabilização ambiental do Estado nesses moldes se fundamenta na imposição 
constitucional do dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado 
para as presentes e futuras gerações (art. 225 da CF/88). 
Apesar disso, em razão do regime especial que rege os créditos públicos, a 
responsabilidade civil ambiental da Administração Pública quando se omite do seu dever 
constitucional é de execução subsidiária (mas não perde seu caráter de solidária). Ademais, a 
subsidiariedade da responsabilização estatal se justifica porque a sociedade não deve ser 
 
42 
duplamente onerada – com o dano ambiental e com o pagamento respectivo feito com dinheiro 
público. 
Em caso de dano ambiental com omissão do Estado, incumbe ao degradador principal 
recuperar o meio ambiente e/ou indenizar os prejuízos causados. Se eventualmente ele for 
insolvente, a Administração Pública será responsabilizada como devedora subsidiária e terá 
direito de regresso contra o responsável principal. Isso quer dizer que o Estado integra o título 
executivo como um “devedor reserva”, e só é chamado a pagar se o devedor principal não o 
fizer. 
 
3.2 Responsabilidade administrativa 
Além da responsabilidade civil, o poluidor pode ser responsabilizado administrativamente 
pelos danos que causou ao meio ambiente. A Administração Pública deve fiscalizaras atividades, 
apurar eventuais infrações e impor as respectivas sanções ao degradador no âmbito 
administrativo, exercendo o seu poder de polícia ambiental. 
Como se trata de uma competência material comum aos entes federados, essa atividade 
é atribuída aos órgãos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, dentro das 
suas respectivas competências. 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
DO ESTADO
RESPONSABILIDADE 
OBJETIVA
(TEORIA DO RISCO ADM.)
RESPONSABILIDADE 
SOLIDÁRIA
(POLUIDOR POR OMISSÃO)
EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA
 
43 
3.2.1 Poder de polícia ambiental 
Através do exercício do poder de polícia, o ente público interfere no interesse privado, 
limitando direitos individuais, para tutelar interesse público. Para tanto, são usadas normas 
limitadoras e sancionadoras. 
O poder de polícia ambiental se fundamenta no art. 225 da CF/88, que determina ser um 
dever do Poder Público e da coletividade a defesa e a preservação do meio ambiente 
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. A atuação do Estado é 
obrigatória, decorrente da natureza indisponível do meio ambiente. 
O Poder Público exerce o poder de polícia ambiental através do seu órgão ambiental 
competente, que deve atuar sempre nos limites da lei, observando o devido processo legal e, 
quando se deparar com um ato discricionário, agir sem abuso ou desvio de poder. 
A lei complementar 140/11 dispõe que qualquer pessoa que seja legalmente identificada 
pode representar infração ambiental ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização 
ambiental. Já a autoridade ambiental é obrigada a agir quando se deparar com a infração, 
promovendo a sua apuração imediata, sob pena de corresponsabilidade. 
3.2.2 Infrações e sanções ambientais 
A infração ambiental administrativa é toda ação ou omissão que violar as normas de 
uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. 
A aplicação das sanções administrativas ambientais independe de manifestação judicial, 
deve ser determinada e executada pela própria Administração Pública, pois as principais 
características do poder de polícia são a autoexecutoriedade e a coercibilidade. 
A responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva, ou seja, diferentemente da 
responsabilidade civil, adotamos aqui a teoria da culpabilidade, avaliando o elemento subjetivo 
do poluidor (dolo ou culpa) para a sua condenação, além, é claro, do efetivo dano e do nexo 
causal entre ele e a conduta. Isso se justifica porque a responsabilização administrativa do 
 
44 
poluidor visa precipuamente a sua punição, ao contrário da responsabilização civil, que visa a 
reparação do dano causado. 
Por esse mesmo fundamento, as infrações ambientais administrativas são tipificadas. Ou

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