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TUTORIA UC XVII QUEIXAS COMUNS NO CONSULTÓRIO DE GERIATRIA TONTURA O equilíbrio é um processo automático e inconsciente que possibilita ao indivíduo resistir à desestabilização da gravidade e se mover no meio ambiente. Para ser mantido, é necessário um conjunto de estruturas funcionalmente integradas: o sistema vestibular (detecta as sensações de equilíbrio), os olhos e o sistema proprioceptivo. O envelhecimento normal aumenta a suscetibilidade para a tontura e contribui para recuperação mais lenta das doenças que causam a tontura, isso porque ele compromete a habilidade de o SNC realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, bem como diminui a capacidade de modificação dos reflexos adaptativos. Tontura é um termo inespecífico utilizado para descrever sintomas que podem abordar desde alterações do equilíbrio (vertigem, pré-sincope, desequilíbrios ou sensações inespecíficas) até sintomas como plenitude auditiva, zumbido e sintomas digestivos. É uma queixa prevalente (até 38%), cursando com aumento de risco de quedas, perda funcional, institucionalização e morte. A avaliação de um idoso com tonturas é desafiante devido à grande quantidade de possibilidades diagnósticas (mais de 60 enfermidades têm sido relacionadas na literatura médica como potenciais causadoras de tonturas). Características como ansiedade, sintomas depressivos, IAM prévio, hipotensão ortostática, uso de mais de cinco medicamentos e baixa acuidade auditiva são comuns em idosos e fatores independentes associados à queixa de tontura. CATEGORIAS DE SINTOMAS Deve-se inicialmente incentivar o autorrelato do paciente com perguntas abertas e, então, tentar classifica-lo dentro de quatro opções principais, lembrando-se da possibilidade de existir concomitância: ➔ Sensação de movimento inexistente, não necessariamente rotatório? → vertigem. ➔ Sensação de balançar, como um barco? → desequilíbrio. ➔ Sensação de desfalecimento, escurecimento visual? → pré-síncope. ➔ Sensação de atordoamento, “cabeça vazia”? → atordoamento. Obs.: alguns fatores que auxiliam no diagnóstico diferencial são tempo (agudo, recorrente, crônico), desencadeadores (postura, Valsalva, mudança de postura), fatores agravantes (movimento da cabeça) e sinais e sintomas associados (nistagmo, instabilidade postural, perda de audição, ataxia, fraqueza, alteração da voz ou visão). DESEQUILÍBRIO Refere-se a uma sensação de instabilidade principalmente ao caminhar, que pode ser causada por distúrbios neurológicos (neuropatia periférica, Parkinson, alterações vestibulares, cerebelares), diminuição de acuidade visual ou alterações musculoesqueléticas (sarcopenia, osteoartrose). Em idosos, a principal causa consiste em deficiência sensorial múltipla (alterações combinadas dos sistemas visual, proprioceptivo e vestibular não compensadas adequadamente), frequentemente associada a fraqueza de membros inferiores e uso de medicações. É o tipo de tontura que mais se beneficia da abordagem geriátrica. É fundamental a avaliação da marcha, da acuidade visual e da coordenação de movimentos, além da exclusão do diagnóstico de parkinsonismo. O tratamento envolve a terapêutica das causas de base (parkinsonismo, deficiência de vitamina B, resultando na neuropatia periférica), correção de déficits sensoriais, fortalecimento muscular e treinamento de equilíbrio e de marcha com fisioterapia, adequação de medicações e orientações quanto ao risco de queda. TUTORIA UC XVII VERTIGEM Sintoma de assimetria aguda do sistema vestibular (distúrbio na aquisição de informação no aparelho vestibular ou seu processamento central). É descrito como uma sensação de movimento (próprio ou do ambiente), na maioria das vezes em rotação. Não há perda de consciência. Os sintomas duram algumas semanas, mesmo quando há lesão permanente, visto que o SNC se adapta. Manobras para avaliação do reflexo vestíbulo-ocular: ➔ Teste de Romberg: o paciente é colocado em posição ortostática, com os calcanhares unidos e pontas dos pés separados em 30°, cabeça reta, braços ao longo do corpo na posição anatômica, olhos fechados (para inibir a visão) durante um minuto. O exame é considerado alterado se houver queda. ➔ Teste de Unterberger: o paciente executa 90 passos, sem deslocar-se. São consideradas apenas variações na rotação. É importante que não haja fonte de luz e sonora, evitando qualquer tipo de orientação. ➔ Reflexo óculo-cefálico (olhos de boneca): ao se girar a cabeça do paciente num sentido, os olhos movimentam- se no sentido oposto. Os órgãos sensoriais são os canais semi-circulares vestibulares (nervo vestibular, parte do VIII nervo craniano), e também receptores da musculatura cervical. ➔ Manobra de Dix-Hallpike: o paciente é colocado sentado inicialmente. Em seguida é posto rapidamente em DDH, com a cabeça pendente na superfície (posição de Rose), ao mesmo tempo em que a cabeça é girada 45° para o lado. É mantido nesta posição por 10 a 15 segundos, observando-se o aparecimento de nistagmo. Então o paciente volta para a posição sentada e repete-se a manobra para o lado oposto. A prova é positiva se aparecer nistagmo com os olhos abertos, acompanhados de vertigem. Existe um tratamento especifico para cada causa de vertigem, sendo indicado tratamento sintomático com antiverginosos (meclizina, dimenidrinato) por curto período em vigência de crises e reabilitação vestibular para maioria dos casos. Vertigens centrais (potencial mais grave e geralmente associadas a alterações do equilíbrio) Tipo Conduta Isquêmicas Controle de fatores de risco, antiagregação plaquetária, reabilitação vestibular* e antivertiginosos conforme necessidade Neoplásicas Cirurgia ou radioterapia Vertigens periféricas (+ comuns e associadas a náuseas, vômitos e sintomas auditivos) Tipo Conduta Vertigem posicional paroxística benigna (Vertigem postural e episódica com duração menor que 1 minuto, de forte intensidade e sem sintomas auditivos) Diagnóstico pela positividade da manobra de Dix-Hallpike; Esclarecimento do caráter benigno; Possibilidade de resolução pela manobra de Epley**, (menos em caos de estenose de carótida, doença arterial coronariana sintomática ou limitação importante da movimentação cervical); Utilização de antivertiginosos conforme a necessidade. Doença de Menièr (Vertigem episódica com duração de minutos a horas, associado a hipoacusia/zumbido) Causada pela hidropsia endolinfática com ruptura da membrana do labirinto; Para o tratamento é necessária a restrição salina; Diuréticos tiazídicos, betaistina e antivertiginosos conforme a necessidade. Neurite vestibular (Vertigem constante com duração de dias, intensa, sem sintomas auditivos, com provável infecção viral prévia) Causada pela inflamação do nervo vestibular; Tratamento com prednisona, reabilitação vestibular e antivertiginosos conforme necessidade. Labirintite (Vertigem com duração de vários dias e melhora gradual) Causada pela infecção da orelha média; Tratar infecção, reabilitação vestibular e antivertiginosos conforme necessidade; Se necessário, cirurgia. ** Manobra de Epley: têm o objetivo de movimentar os cristais de carbonato de cálcio até que eles retornem ao utrículo, saindo da cavidade utricular. A manobrra começa com o paciente sentado e a cabeça virada 45° para o lado que se deseja tratar. O TUTORIA UC XVII paciente é então deitado rapidamente com a cabeça pendente. Vira-se 90° a cabeça para o outro lado e posteriormente mais 90°, deixando o paciente em decúbito lateral. Em cada posição, deve-se aguardar 30 segundos. Finalmente, o paciente é sentado. PRÉ-SÍNCOPE Sintoma de perda iminente de consciência que acaba não acontecendo, com duração de segundos a minutos, podendo estar associado a palidez cutânea e ocasionada por redução de fluxo sanguíneo cerebral, como emcasos de hipotensão postural, cardiopatias e episódios vasovagais. Deve-se proceder à avaliação de hipotensão postural e ao exame cardiovascular completo, com exames complementares, conforme achados da anamnese e do exame clínico. O tratamento visa à correção de causas de base, e, nos casos de hipotensão postural, favorece-se a abordagem com medidas não farmacológicas, como o uso de meias elásticas, hidratação e manobras para mudança de decúbito em três tempos. ATORDOAMENTO De difícil caracterização, deve-se atentar para causas psiquiátricas (depressão, ansiedade, etilismo), hiperventilação, hipoglicemia, medicações (antidepressivos, anticolinérgicos ou com efeito de retirada abrupta) ou para casos leves de vertigem ou pré-síncope. Em muitos casos, pode decorrer do medo de cair ou do medo de novamente apresentar quadro vertiginoso, conhecido como vertigem fóbica. Avaliação clínica e exclusão de causas auxiliam a minimizar possíveis etiologias e indicar tratamento específico. INSÔNIA Tem por definição a dificuldade de iniciar e/ou manter o sono, promovendo um comprometimento da qualidade e/ou da quantidade de sono e um prejuízo de atividades do dia a dia. Trata-se de uma queixa comum na população idosa, com prevalência de até 20% em maiores de 80 anos, e está relacionada com aumento de risco de doenças cardiovasculares, depressão, infecções e morte. Com o envelhecimento, há prejuízo no sistema de neurotransmissores e substâncias que coordenam o ciclo sono- vigília, podendo causar redução de horas de sono (cerca de 6 horas por noite), redução das fases mais profundas e restauradoras do sono (fases 3 e 4) e aumento do período de latência para atingir essas fases mais profundas. Assim, o sono do idoso se torna mais superficial e com mais despertares noturnos. Entretanto, não se espera que essas alterações causem sonolência diurna ou dificuldade nos afazeres do cotidiano. A insônia pode ser primária ou ser causada por outras comorbidades (dor crônica, depressão, insuficiência cardíaca, problemas sociais e psicológicos, medicações). Obs.: atenção especial para diferenciar depressão de insônia, uma vez que a primeira acarreta alterações de sono e a segunda pode piorar sintomas depressivos; e sintomas, como perda de concentração e fadiga, compreendem critérios diagnósticos para ambos os quadros. ANAMENSE O diagnóstico de insônia primária é clínico, devendo-se questionar na anamnese: horário que se deita; tempo até iniciar o sono; hora que se levanta; cochilos durante o dia; número e duração de despertares durante a noite; sintomas durante o dia (sonolência/ cansaço); ambiente (onde dorme, iluminação, ruído). O diário do sono refere-se ao registro dessas informações por 1 a 2 semanas, com ênfase em horários, problemas do sono e avaliação subjetiva da qualidade do sono. Trata-se de uma ferramenta importante para monitorar o tratamento, uma vez que os pacientes tendem a subestimar o tempo do sono. Obs.: também deve-se questionar outros sinais e sintomas, como roncos, movimentos durante o sono ou desconforto de membros inferiores, com o intuito de investigar diagnósticos diferenciais. TUTORIA UC XVII CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Insatisfação com a qualidade ou quantidade de sono, com pelo menos um dos seguintes sintomas: dificuldade para iniciar o sono; dificuldade para manter o sono, que se caracteriza por despertares frequentes ou dificuldade para voltar a dormir após acordar; despertar muito antes do horário programado e não conseguir voltar a dormir. O distúrbio do sono causa prejuízo nas atividades diárias, evidenciado por pelo menos um dos seguintes: fadiga ou pouca energia; sonolência diurna; perda de atenção, concentração ou memória; distúrbios do humor; alterações de comportamento; prejuízo no trabalho ou nos estudos; prejuízo interpessoal ou social; efeito negativo sobre o cuidador ou os familiares. As dificuldades relacionadas ao sono ocorrem pelo menos 3 noites por semana, por pelo menos 3 meses e ocorrem a despeito de oportunidades adequadas para dormir. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Diagnósticos diferenciais de insônia Sono curto Constitucional, menor necessidade de sono. Não há prejuízo no dia a dia. Distúrbio do ritmo circadiano Desperta durante a madrugada, pois deita-se muito cedo (avanço da fase do sono). Restrição crônica de sono Predomínio de prejuízo no dia a dia, dorme quando tem oportunidade. Distúrbios ambientais do sono Prejuízo em virtude de um ambiente desfavorável para dormir. Síndrome das pernas inquietas Desconforto intenso nos MMII relatado pelo paciente na hora de dormir. Movimento periódico dos MMII Parassonia; acompanhante refere movimentos dos MMII durante o sono. Síndrome da apneia obstrutiva do sono Microdespertares durante o sono causados por hipoxemia em virtude de apneia/hipopneia. Distúrbio comportamental – sono REM Ausência de atonia durante o sono REM, resultando em movimentos do corpo durante o sonho. TRATAMENTO Atuar nas possíveis causas, revisar os medicamentos em uso e orientar medidas de higiene do sono em associação a terapia cognitivo-comportamental ou à terapia farmacológica (agonistas benzodiazepínicos, antidepressivos). Para casos refratários, é indicada a associação de ambas e encaminhamento para um especialista de sono. Obs.: preferência pela terapia cognitivo-comportamental. Orientações para higiene do sono: ir para cama apenas quando estiver com sono; evitar ficar na cama sem fazer nada, levantar se tiver dormido o suficiente; manter rotina de horários para dormir e acordar, mesmo aos finais de semana; evitar usar a cama para trabalhar, ler ou assistir à televisão. A cama deve estar associada somente com dormir e atividade sexual; fazer atividade física regular, preferencialmente de manhã ou no início da tarde; evitar café, álcool, cigarro ou muito líquido 6 horas antes de se deitar; evitar deitar-se com fome, mas evitar comidas pesadas antes de dormir; manter o quarto agradável, calmo, com a luz e temperatura adequadas; evitar levar problemas e angustias para a cama, estabelecer rotina de relaxamento; evitar cochilos após as 14:00 horas. Se inevitável, máximo de 3 minutos; aumentar tempo de exposição ao sol. Terapia cognitivo-comportamental para insônia: restrição de sono (aumentar o tempo de sono e estabilizar o ciclo circadiano), controle de estímulo (reduzir estímulos no ambiente e promover a associação da cama com o sono), terapia cognitiva (reorganizar as crenças e as consequências da insônia), relaxamento (diminuir estímulos físicos e psicológicos próximo ao horário de dormir) e higiene do sono (minimizar comportamentos que interferem no ciclo circadiano). Medicamentos para insônia: nos casos de insônia inicial, utilizar medicamentos de curta duração, como lorazepam, zolpidem, melatonina. Já nos casos de Insônia de manutenção, medicamentos de longa duração, como zolpinem de liberação prolongada. Obs.: o tratamento medicamentoso deve durar de 6 a 8 semanas. TUTORIA UC XVII FADIGA Define-se por uma sensação sustentada de exaustão durante ou após as atividades habituais e de capacidade diminuída para realização de esforço físico e mental, comumente relatada pelo paciente como "cansaço" exagerado. Quando esses sintomas duram mais que 6 meses, utiliza-se o termo "fadiga crônica". O quadro marca uma redução importante na funcionalidade do indivíduo, a qual contrasta com o esperado na senescência. Apresenta etiologia multifatorial e, em cerca de dois terços dos casos, pode-se identificar um diagnóstico clínico ou uma doença psiquiátrica que justifique os sintomas (ex.: síndrome de fragilidade do idoso, multimorbidades, depressão e insônia). Os quadros idiopáticos são conhecidos como síndrome da fadiga crônica e fadiga crônica idiopática. DIAGNÓSTICO A anamnese é fundamental para distinguir as causas secundárias de fadiga ou identificar osquadros idiopáticos. É importante determinar o impacto na vida diária e na funcionalidade, além de avaliar perda ponderal, sudorese noturna, medicações em uso, história psiquiátrica, qualidade do sono e avaliação social, incluindo sinais de violência doméstica. Um exame clínico completo e detalhista pode levar a pistas para causas orgânicas, passíveis de correção com tratamento específico. A realização de exames complementares deve ser guiada pelas hipóteses diagnósticas formadas a partir da anamnese e do exame clínico. Idosos possuem alta frequência de apresentação atípica das doenças. Assim, considerando a necessidade de diagnóstico e o possível risco de iatrogenia decorrente de exames mal indicados, sugerem-se como exames laboratoriais iniciais o hemograma completo, VHS, função renal e eletrólitos (Na, K, Ca, P, Mg), glicemia, TSH, proteínas totais e frações, enzimas hepáticas e canaliculares, CPK (se houver dor ou fraqueza muscular associada), sorologias para HIV e hepatites e urina tipo l. TRATAMENTO O tratamento envolve terapia específica para a doença de base. Para os casos idiopáticos, é mais focado no manejo de sintomas, quando apenas a terapia cognitivo-comportamental e o aumento gradual de exercícios físicos mostraram benefício significativo. Nos casos em que há sintomas depressivos, mas que não fecham critérios para depressão ou outra etiologia, está autorizada uma tentativa de tratamento por curto intervalo de tempo com antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), tornando-se fundamental alertar o paciente quanto ao tempo esperado até a resposta (mínimo de 4 semanas). A medicação deve ser suspensa em caso de piora dos sintomas ou na ausência de melhora após 6 a 8 semanas. Medidas como orientações de higiene do sono, informações quanto ao quadro clínico, grupos terapêuticos e correção de deficiência de ferro em paciente não anêmicos podem melhorar o quadro. TUTORIA UC XVII CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Define-se a obstipação funcional como um transtorno caracterizado por dificuldade persistente para evacuar ou uma sensação de evacuação incompleta e/ou movimentos intestinais infrequentes (a cada três a quatro dias ou com menor frequência), na ausência de sintomas de alarme ou causas secundárias. Considera-se crônica quando o paciente é sintomático por pelos menos seis meses. É considerado um distúrbio gastrintestinal funcional de alta prevalência na população em geral e sua ocorrência em idosos é de aproximadamente 4 a 5 vezes mais frequente do que em adultos jovens, acometendo ao redor de 26% dos homens e 34% das mulheres acima dos 65 anos de idade. No mínimo 75% dos pacientes idosos hospitalizados ou residentes em casas de repouso usam laxantes para regularizar o trânsito intestinal. Comparando-se gêneros, mulheres idosas sofrem de constipação intestinal entre 2 a 3 vezes mais que homens idosos. Pacientes com obstipação crônica apresentam diminuição na qualidade de vida, pois podem experimentar situações como impactação fecal, incontinência, dilatação colônica e até mesmo perfuração intestinal. Além disso, a obstipação pode ser um sinal de gravidade como quando causada por lesão tumoral ou dismotilidade colônica. ETIOLOGIA Etiologias frequentes de constipação intestinal em idosos Doenças gastrointestinais Doença diverticular do cólon, doenças anorretais (fissuras e hemorroidas), hérnias (vólvulo intestinal), tumores e síndrome do cólon irritável Doenças metabólicas Diabetes melito, hipotireoidismo, hiperparatireoidismo e insuficiência renal crônica Distúrbios eletrolíticos Hipopotassemia, hiperpotassemia e hipomagnesemia Doenças neurológicas Doenças cerebrovascular e AVE, doença de Parkinson, esclerose múltipla, neuropatia autonômica, demências, lesões cerebrais ou em coluna vertebral e tumores cerebrais Causas psicogênicas Ignorar ou adiar a defecação voluntariamente, depressão, imobilidade e medicamentos (opióides, tramadol, AINEs, antidepressivos tricíclicos, suplementos de ferro, resinas de ácidos biliares, agentes anticolinérgicos, anti-histaminicos, bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos, drogas antiparkisonianas, anticonvulsivantes, antipsicóticos e suplementos de cálcio) Desordens miopáticas e outras Amiloidose, esclerodermia, pobre mobilidade e deficiência em geral DIAGNÓSTICO Na anamnese deve-se buscar informações sobre a consistência das fezes, pois é considerado um melhor indicador de trânsito colônico que a frequência das fezes, sintomas de constipação (distensão abdominal, dor, desconforto, movimentos intestinais, esforço defecatório prolongado, defecação insatisfatória), uso de medicações, cirurgia recente, estilo de vida, hábito alimentar, antecedentes patológicos. É fundamental avaliar a presença de sintomas de alarme como alteração no calibre das fezes, fezes com sangue, anemia ferropriva, obstipação de recente instalação, emagrecimento. Vale ressaltar que pacientes idosos que nunca foram submetidos à triagem prévia de câncer de cólon devem ser avaliados com atenção. No exame físico, avaliar sinais de doença sistêmica e a presença de massa abdominal. A inspeção anorretal é mandatória para analisar eventual massa, mamilos hemorroidários, estigma de sangramento recente, fissura. O toque retal deve ser feito sempre com o objetivo de avaliar a presença de trombose hemorroidária, impactação fetal, estenose, prolapso retal, retocele, tônus esfincteriano, bem como eventual lesão tumoral. EXAMES COMPLEMENTARES Está indicada a realização de estudos laboratoriais como hemograma, bioquímica incluindo avaliação dos níveis de cálcio, glicemia, função tireoidiana. A retosigmoidoscopia deve ser realizada naqueles que se tornaram obstipados recentemente sem causa aparente, se o exame for normal ou apresentar algum achado benigno deve-se fazer colonoscopia para descartar neoplasia. Os exames contrastados como enema baritado pode oferecer informações como a extensão da retenção fecal, obstrução, megacólon, volvo, doença diverticular do cólon. A defecografia pode demonstrar alterações como retocele, deangulação da musculatura retal durante a evacuação ou contração parodoxal do esfíncter anal externo. TUTORIA UC XVII Há ainda os testes fisiológicos, como o estudo do tempo do trânsito colônico com marcadores radiopacos (avalia a presença de trânsito lento), manometria anorretal (identifica transtornos da evacuação, hipo ou hipersensibilidade retal, alterações de complacência) e teste de expulsão do balão (avaliação da capacidade do paciente expulsar fezes identifica transtornos da evacuação). TRATAMENTO Avaliação da ingesta hídrica e calórica: contribui para melhor formação do bolo fecal. Orientar o paciente a ir ao banheiro duas vezes por dia, trinta minutos após se alimentar, mesmo que não sinta vontade de evacuar. Pacientes sem nenhuma causa motora que justifique a obstipação podem se beneficiar com aumento da ingesta de fibra. Laxantes: o uso de laxantes deve ser individualizado com especial atenção em pacientes com comorbidades (doença cardíaca ou renal), as interações medicamentos, custos e efeitos colaterais. Os laxantes mais comumente usados na prática clínica incluem leite de Magnésia, lactulose, sene, bisacodil e polietilenoglicol. Efeitos colaterais são desconforto abdominal, desequilíbrio hidroeletrolítico, reações alérgicas e hepatotoxicidade. Enemas e supositórios: podem ser usados na suspeita de obstrução, mas principalmente enemas, podem gerar lesões na mucosa retal e também produzirem distúrbios hidroeletrolíticos. Medicações: libiprostone (ativador dos canais de cloro presente nas células epiteliais do intestino), prucaloprida (agonista dos receptores 5HT4 da serotonina) e linaclotide (agonista de receptores guanilato ciclase C), vêm sendo descritos nos últimos anos e utilizados em alguns países com resultados significantes e menos efeitos colaterais, porémfaltam estudos do uso destas medicações na população idosa. Os transtornos de evacuação respondem mal aos programas de laxantes orais padrão. Se um transtorno de evacuação intervém de maneira considerável na obstipação, deve-se considerar biofeedback (terapias de retroalimentação) e treinamento da musculatura pélvica. Entre os fatores críticos para o sucesso se encontram o nível de motivação do paciente, a frequência do programa de treinamento, a participação de um psicólogo condutista e nutricionista. Se o tratamento falhar uma e outra vez na constipação por transito lento, um grupo selecionado de pacientes bem avaliados e informados pode se beneficiar do tratamento cirúrgico (colectomia total com anastomose ileorretal). A indicação excepcional deve ser estabelecida em um centro terciário especializado. Pode haver resultados decepcionantes, nos quais o paciente pode ficar com incontinência fecal e obstipação recorrente após a cirurgia,