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ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! PROFESSORA Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori Cenários Econômicos NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. IORI, Carla Fabiana de Andrade Gonçalves. Cenários Econômicos. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori. Maringá - PR.: UniCesumar, 2021. Reimpresso em 2023 256 p. “Graduação - EaD”. 1. Cenários 2. Econômicos. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 330.981 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-365-0 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Coordenador(a) de Conteúdo Juliana Moraes da Silva Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Lucas Pinna Silveira Lima Design Educacional Jociane Karise Benedett Rossana Costa Giani Revisão Textual Érica Fernanda Ortega Sarah Cocato Ilustração André Azevedo Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock FICHA CATALOGRÁFICA Neste mundo globalizado e dinâmico, nós traba- lhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer educação de quali- dade, como, acima de tudo, gerar a conversão integral das pessoas ao conhecimento. Basea- mo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, te- mos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Ma- ringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espa- lhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de gradua- ção e pós-graduação. Por ano, produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as necessida- des de todos. Para continuar relevante, a institui- ção de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodolo- gias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa missão, que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. BOAS-VINDAS MEU CURRÍCULO MINHA HISTÓRIA Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori Meu nome é Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori. O nome é comprido pois sou casada e não renunciei ao nome de solteira, tampouco a ganhar mais um nome. Aos dezoito anos, meus dias se resumiam a trabalhar, de dia, em uma reconhecida instituição financeira e, a noite, cur- sar Ciências Econômicas. Eu me formei, fiz especialização e sonhava em ampliar meus conhecimentos dando aulas e ministrando palestras, assim canalizaria minha ener- gia ao me comunicar, pois acredito que o mundo se tor- naria melhor se soubéssemos nos comunicar com mais qualidade. Antes mesmo da colação de grau, surgiu uma proposta de aulas para cursos técnicos. Lá fui eu, feliz e contente. Realizada já aos vinte e poucos anos, trabalhan- do no banco, estudando e dando aulas. Uma hora, a vida me cobrou para avançar com projetos pessoais, no caso, a maternidade, e não seria razoável levar dois trabalhos. Decidi pela área acadêmica. Chorei… E, no dia em que me demiti, já começaram as aulas do mestrado. De lá para cá, muitos cursos, eventos, muitas orientações de monogra- fia e escrita de livros. O que me move é ser mãe de duas filhas lindas, estar casada com um marido parceiro que amo, ver meus irmãos e pais por perto, saudáveis e na luta diária. Além dessas relações com pessoas que amo, divido meus dias entre os muitos livros, preparação de aulas e materiais para ensinar Economia, planto e adubo minhas samambaias e suculentas, educo e brinco com crianças felizes, cuido das tarefas domésticas, sou filha, sou irmã e tenho amigos. Sou uma mulher, mãe, profis- sional em construção! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6799 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6477 INICIAIS PROVOCAÇÕES O primeiro dia de trabalho, o primeiro beijo, o primeiro namorado, o primeiro filho... Começar alguma coisa é sempre um desafio. É impossível saber o que vai acontecer a partir da experiência singular do indivíduo. Gosto de imaginar que você, cara aluna, estimado aluno, está sentindo algo diferente ao começar essa caminhada de conheci- mento intitulada Cenários Econômicos. A abordagem voltada à Economia pode sugerir que falaremos de dinheiro. Este é um símbolo daquilo que outras pessoas devem a você ou daquilo que você reivindica como seu direito a determinadas quantidades dos recursos da sociedade. A força da indústria financeira, na atualidade, faz muita gente crer que Economia equivale a uma pequena parte dela, que é a Economia Financeira. Então, já dei uma dica: não é puramente de dinheiro que falaremos. O que você imagina encontrar nesse curso? Neste material? Quais são suas expectativas de aprendizado? Como a economia pode te ajudar na tomada de decisões? O tema Cenários Econômicos se revela uma ferramenta para a tomada de de- cisões. Você verá que o termo cenários remete à noção de “abrigo”. A proposta de aprendizado, então, é que a deliberação por parte do gestor, ou profissional espe- cífico, esteja sob a égide do conhecimento econômico. E se justifica de forma mais evidenciada com os acontecimentos mundiais dos últimos tempos, em que a opaci- dade econômica permeia a visão global. Sabe-se que as relações de trabalho estão pautadas pelo tempo da tecnologia, e que este é cada vez mais veloz e milimetricamente mensurado, impactando a dinâmi- ca econômica e, por conseguinte, exigindo agilidade e sensibilidade amparadas pelo conhecimento. Por fim, são exercícios de imaginação, histórias de “futuros possíveis”, ainda que incertos, e precisam ser analisados e reformulados, gerando reflexões que visam dar robustez à decisão. Gosto de pensar o início de uma disciplina como uma viagem. Ao imaginar um pas- seio, por exemplo, é bastante razoável passar por uma série de etapas até concretizar a experiência. Quer descansar? Quer aventura? É um passeio romântico? Definido o “tema” da viagem, escolhe-se o lugar, verifica-se o que tem porperto para visitar, quais pontos específicos. Enfim... Busca-se aproveitar ao máximo, afinal de contas, não po- demos perder o caro tempo que temos em passeios chatos e desnecessários. Agora, CENÁRIOS ECONÔMICOS INICIAIS PROVOCAÇÕES você está prestes a iniciar uma longa viagem. O tema não é próximo de um passeio romântico, o local da nossa jornada é a sociedade, e o nosso guia será a Economia. É preciso muita intrepidez para empreender a jornada do conhecimento acerca das questões relacionadas à sociedade, como emprego, Produto Interno Bruto, inflação, crescimento e desenvolvimento econômico. Essa busca possibilitará refletir sobre “fu- turos possíveis”, imaginados sem objetivos preditivos, mas que procuram determinar as fronteiras do razoável, ou seja, daquilo que parece verossímil para o futuro do am- biente de negócios, dado o conhecimento que temos no presente. Foi com os gregos que se estabeleceram as bases de muitos conceitos que, hoje, adotamos e continuamos a reproduzir. Para que possamos entender essa nossa jorna- da de aprendizado, é relevante saber que cenários são um desses conceitos que remon- ta ao mundo grego. É que a Skené, na estrutura espacial do teatro grego, representava uma cabana de madeira onde os atores se preparavam. Evoluiu para o latim scena, e chegamos à palavra italiana scenàrio. Portanto, cenários econômicos são um tema a ser refletido, no contexto da gestão, no mundo dos negócios ou das finanças, como um “abrigo”, ainda que temporário, para a tomada de decisão. É um pano de fundo para esse grande espetáculo que é a atividade econômica, que, dia após dia, entra em cena. Ela é dinâmica e, cada dia mais, renova-se, à medida em que a tecnologia entrega à sociedade novas formas de se relacionar. Para tanto, conhecimentos que perpassam a noção de crescimento e desenvolvimento econômico, os instrumentos de políticas econômicas, como a Política Monetária, Política Fiscal, Política Cambial, e o papel do Estado nas sociedades são paradas obrigatórias nessa jornada do conhecimento. O conhecimento sobre Economia será um suporte para você responder perguntas importantes que serão feitas enquanto exercício de cenarização: • O que pode dar errado? • E se estivermos todos enganados quanto ao futuro do ambiente empresarial? • O que pode surgir de novo? • E se alguém começar a fazer algo diferente? A atitude a partir dessas respostas é elaborar cenários alternativos, cenários de ruptura, paralelos aos cenários-base e que servem para mensurar, de forma mais clara, os riscos das decisões tomadas. Exercícios assim explicitam verdades incômodas. É improvável que alguma empresa ou profissional queira estar pior no futuro em comparação ao momento atual. Portanto, ao procurar antever o ambiente no qual es- taremos inseridos no futuro, também é preciso questionar sobre o que precisaremos ter ou fazer para atingir nossa posição desejada no futuro em diferentes cenários. IMERSÃO RECURSOS DE Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 11 61 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 POLÍTICA MONETÁRIA E A QUESTÃO INFLACIONÁRIA 113 POLÍTICA FISCAL E A ECONOMIA 3 4 159 ECONOMIA INTERNACIONAL E CRESCIMENTO DOS PAÍSES 5 207 O PAPEL DA REGULAÇÃO DO ESTADO 1Crescimento e Desenvolvimento Econômico Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori Oportunidades de aprendizagem: Um bom ponto de partida para o nosso trabalho é pensar que economia é um sistema formado por pessoas, portanto, mesmo a teoria é uma construção social. Dessa forma, você será apresentado ao conceito de sistema econômico e à noção da sua organicidade. E, por ser assim, vai além da noção intuitiva de dinheiro propriamente, sen- do este um mero símbolo, uma medida, um aspecto numérico para os agentes econômicos. Nossa análise perpassará a relação de quantitativo e qualitativo. Para tal, é preciso trilhar uma jornada histórica para resgatar uma perspectiva interpretativa que contribuirá no processo de tomada de decisões nos mais diversos cenários econômicos. Vamos compreender que definir e medir conceitos em economia não pode ser um exercício objetivo da mesma maneira como é na física ou na química. A diferenciação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico constitui um conteúdo que trará subsídios para o entendimento de que a análise quantitativa como PIB e renda deve ser analisada à luz dos indicadores de desenvolvimento (qualitativo). É nessa abordagem, enquanto um sistema orgânico, em que diversos atores eco- nômicos sejam empresas, governos consumidores, famílias, investidores estão entrelaçados. Ao assumir posicionamentos diante de conjunturas adversas, você estará mais preparado para decidir em um ambiente dinâmico, no qual o próprio pensamento econômico está em constante fluxo, sujeito às interações e mudanças, próprias de um ambiente disruptivo. UNIDADE 1 12 No último trimestre de 2019, eu me peguei pensando sobre importantes decisões que precisava efetuar para possibilitar um melhor desempenho no processo de alfabetização da minha filha mais velha, uma socialização mais interessante para a caçula e, quanto a mim, era necessário cumprir o projeto de um novo espaço de trabalho para escrever, preparar aulas e empreender, enfim, executar projetos que já estavam pipocando na minha mente para acontecerem. Um pouco insegura de algumas decisões, resolvi conversar com uma amiga. Amizade bonita que começou a partir das nossas filhas no ambiente escolar, as pequenas estudavam juntas desde os três anos de idade. Ao me aconselhar com ela sobre uma possi- bilidade de transferência de escola, ela não só concordou que era uma decisão importante, como também transferiu a filha de escola. Assim, eu também mudei minhas meninas para uma nova proposta pedagógica. Esta sugeria ser mais con- sistente com relação ao conteúdo que considero que Alice Maria (a primogênita) deveria melhorar. Ela tinha que ter uma forma de aprendizado mais apropriada para a forma dela ser. Alice queria participar do curso de robótica, este, porém, esperaria um pouco mais. A Helena Maria poderia conhecer novos amigos e socializar de uma forma diferente, tendo em vista que ela é mais tímida e, por assim dizer, demora mais para construir relações. Acertei com a madrinha da Alice para me ajudar com o processo de cuidar delas na parte da manhã, e uma senhora conhecida para me ajudar parcialmente com as tarefas domésticas.Meu marido, e pai das meninas, apesar de trabalhar bastante, também tinha comprado a ideia de fazer do novo ano um tempo de trabalhar com mais concentração e dedicação para o mundo do conhecimento. Aluguei uma sala para trabalhar a UNICESUMAR 13 partir de dezembro de 2019, em fevereiro começaram as aulas das meninas e também comprei uma agenda (além da virtual) para desenhar o cronograma de 2020. Estava tudo certo para ser o ano da minha decolagem profissional. O cenário parecia perfeito. Aí já era março… pandemia. Para tudo! Pra quê agenda? A Pilha de Areia começava a desmoronar. Conto essa história, entre outros motivos, pois escrever o livro Cenários Eco- nômicos era algo pensado pela professora coordenadora Juliana há tempos idos. No entanto, quis o tempo que eu escrevesse esse material em um tempo abstruso, no mínimo atípico. Sim... a partir do vírus Sars-CoV-2, o coronavírus, tudo, tudo ficou desconfigurado. A saúde, o trabalho, a escola, a vida social… Como tomar as decisões nesse novo ambiente? Agora eu te convido a refletir comigo… e para você, caro(a) aluno(a), sentiu seus planos para o ano de 2020 serem abalados pelo cenário mundial? A opacidade dessa dimensão temporal é intrínseca à economia real. A com- preensão dos cenários econômicos passa por uma reestruturação nesse sentido. Em março do ano que cravou seus “pés na calçada da fama”, foi bem interessante no que se refere à elaboração de cenários econômicos. Para se ter uma noção de tamanha instabilidade, em termos de mercado financeiro, foram acionados seis vezes(!) o circuit breaker. Isso não aconteceu nem na crise de 2008. O mercado financeiro estava alvoroçado diante da guerra no preço do petróleo e começamos a entender o quadro de pandemia que se desenhava com a disseminação da crise causada pela pandemia do coronavírus. Circuit breaker é um recurso da bolsa de valores que objetiva a proteção para os investidores quando há muitas vendas, ocasionando quedas bruscas nos preços dos ativos negociados. Em outras palavras, é uma estratégia acionada para amortecer e rebalancear as ordens de compra e venda em momentos nos quais elas estão desequilibradas. O mecanismo atua por meio de critérios preestabelecidos, que determinam a paralisação do pregão por um tempo determinado quando a queda do dia atinge certo patamar percentual. Portanto, isso se dá quando o mercado está muito vende- dor, o que geralmente só acontece em períodos de grande incerteza para o país ou mundo como um todo – exatamente o caso da pandemia do Covid-19, em 2020. Assustados ou se antecipando ao provável cenário negativo que vem pela frente, investidores vendem suas ações e, em consequência, os índices começam a cair, o que inicia um efeito dominó. UNIDADE 1 14 É importante incluir aí nesse panorama que a economia mundial já de- monstrava “saúde debilitada” antes da pandemia. O mundo já não crescia eco- nomicamente como antes, considerando Estados Unidos e China dentro das suas peculiaridades. Havia uma guerra comercial patrocinada pelo governo Trump contra a China. As estruturas econômicas olhadas sob o aspecto espacial (geopolítica) também revelavam problemas, basta pensar no Oriente Médio, de modo particular a Síria e o Irã. A virulência e o alcance da doença fizeram reinar, soberana, a incerteza. É fato que economistas pouco entendem de saúde, somos adeptos dos modelos econômicos. E é inegável a importância dessas ferramentas fantásticas que con- tribuíram para o avanço da sociedade em diversas tomadas de decisões. Ao conceber que a economia se relaciona com a saúde (e que a pandemia nos revelou isso de forma muito evidente!) e com tantos outros aspectos que envol- vem nosso cotidiano, eu te pergunto: será que a economia é difícil de entender? Convido você a ler o livro do economista sul-coreano Ha-Joon Chang: Economia: modo de usar. Um guia básico dos principais conceitos econômicos. (2015). Essa leitura ajudará a ampliar seus horizontes. Diante dessa experiência proposta, como você entende o papel da ciência his- tórica enquanto ferramenta para a economia? Como obter a plena compreensão dos fenômenos econômicos contemporâneos? Reflita sobre e escreva sobre sua experiência. Você também pode utilizar o Diário de Bordo. Essa parte é sua para anotar todas as suas primeiras impressões até o momento. DIÁRIO DE BORDO UNICESUMAR 15 Elaborar o conteúdo para tomar decisões diante dos cenários econômicos mais do que nunca requer que saiamos do ambiente de conforto, com as respostas prontas e precisas. É fundamental entender o passado para, a partir dele, dar passagem para o questionamento de princípios que deixaram de valer. O convite, portanto, para pensarmos a problematização de como nos posicionarmos diante da economicidade do dia a dia, perpassa o desacomodar-se e desfrutarmos do prazer de pensar uma narrativa econômica inovadora, que considera os aspectos históricos para entender o presente, só assim decisões mais ajustadas e pontuais têm a chance de serem mais acertadas. Ao olharmos para o Brasil, por exemplo, será fundamental realizar um tra- balho hercúleo de entendimento que transita pelos tempos coloniais. Resgatar o memorável trabalho de Celso Furtado, a Formação Econômica do Brasil, ajuda muito, haja vista que ela nos apresentou, por meio da sua linguagem singular, nossa dependência da economia internacional. Enfim, é uma crise planetária, de proporções nunca vistas, que necessariamente afeta nossa economia, e, como disse o economista Paulo Nogueira Batista Junior, nesses tempos, a “galinha não levantará vôo” (BATISTA JUNIOR, 2020, on-line). Como crescer com desenvolvimento? Analisar cenários econômicos para o século XXI per- passa necessariamente a reflexão sobre o crescimen- to e desenvolvimento das nações. Por sua vez, a análi- se sobre aumento de produtividade junto à qualidade de vida da sociedade situa-se na tênue linha que cos- tura a política e o dinheiro. Mark Hanna, senador nor- te-americano no século XIX, observou que “há duas coisas que são importantes na política. A primeira é o dinheiro, e não consigo me lembrar da segunda” (ATKINSON, 2016, p. 404). Esse pensamento pode se aplicar na atualidade. As políticas voltadas para a me- lhoria de vida da população estão sob a tutela de lide- ranças que se elegem a partir de vultosas quantias de dinheiro. Quer entender essa delicada relação? Ouça esse podcast. Como crescer com desenvolvimento? https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6265 UNIDADE 1 16 Modelos econométricos, como nos ensina a economista Monica de Bolle (2020), servem para entender algumas partes de um problema intrincado, não linear, dinâmico e que comporta uma miríade de dúvidas, questões não respondidas e, possivelmente, outras ainda não formuladas. Essa influente economista dos tempos atuais nos apresenta que, na situação extrema imposta pela pandemia, se ater puramente à modelagem quantitativa é ser incapaz de tomar decisões em um cenário que exige uma economia forçada a pensar de forma criativa. Isso implica em desafios à comunidade científica internacional, bem como aos governos. Em síntese, são tempos estranhos, diante da combinação de um choque importante com magnitude e duração incertas com vulnerabilidades preexistentes, de ordem comercial, geopolítica e financeira. Para tanto, vale considerar que, ao ouvir um conto, uma fábula ou uma lenda, nos é dada a oportunidade de se ver na ação dos personagens. Isso contribui para a construção do conhecimento, da ética, da cidadania e tantos outros elementos fundamentais para vivermos em sociedade e tomarmos as decisões pertinentes à economicidade, que é a abordagem dessa nossa experiência de conhecimento. E por falar em conhecimento, quero aqui compartilhar a primeira forma dele: a tentativa de desvelar respostas para as questões que a natureza impõe: o mito. Adianto que não foi de forma despropositada que me ocorreu essa possibilida- UNICESUMAR 17 de. Trazer um personagemcoadjuvante da mitologia grega foi uma forma interessante que Taleb, o escritor de Arriscando a própria pele – Assimetrias ocultas no cotidiano (2017), encontrou para ensinar sobre o aprendizado tácito: aquele que perpassa a experiência, que não pode ser formalizado. Essa é a história de Anteu, um gigante que vivia na Líbia, filho de Poseidon (um dos deuses do Olimpo), o deus do mar, e de Gaia, a Mãe-Terra, dona de uma potencialidade geradora intensa. Anteu tinha uma es- tranha ocupação, que consistia em obrigar as pessoas que passavam por sua terra a lutar com ele. Sistema- ticamente tais combates terminaram com a morte do adversário. Haja vista que quanto mais o corpo de An- teu tocava a Terra, mas ele renovava seus poderes, as- sim, nunca ficava cansado e o resultado era que nunca perdia uma luta. Era do chão, do contato com sua mãe, que Anteu extraía sua força. Até que apareceu Hércules – filho de Zeus e de Alcmena (uma humana) –, que foi educado nas artes, na filosofia e na ciência. Hércules, ao atravessar a Líbia, em busca dos pomos de ouro do jardim das Hespérides, encontrou o vigoroso Anteu. O herói foi desafiado. Desconhecendo que Anteu ti- rava sua força da Mãe Gaia, lutou bravamente com ele durante muito tempo, mas em vão. Vezes e mais vezes o herói lançou-o contra o chão, e ficava cada vez pior, pois o gigante punha-se de pé num salto. Hércules esta- va intrigado com isso: como era o gigante capaz daque- las súbitas explosões de força quando, um momento antes, tinha estado perto ser derrotado, rastejando na poeira? Então, o herói se lembrou de que seu oponente era filho de Gaia. Agarrou o gigante, levantou-o bem alto no ar e não o deixou tocar na terra. Na luta deses- perada para escapar, todas as suas forças se esgotaram, e o medonho gigante encontrou seu destino. https://mitologiahelenica.wordpress.com/2015/04/22/xi-os-pomos-das-hesperides/ https://mitologiahelenica.wordpress.com/2015/04/22/xi-os-pomos-das-hesperides/ UNIDADE 1 18 Figura 1 - Vitória de Hércules sobre o Gigante Anteu, 11.º Trabalho de Hércules -- fresco na Escadaria Principal do Palácio Quintela, em Lisboa, Portugal / Fonte: Wikimedia Commons (1822, on-line). Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta uma obra de arte em tela, a qual representa Hércules que segura o gigante Anteu de forma suspensa em seus braços, representando a vitória. O gigante demonstra expressão de dor. Ambos estão no centro da imagem. UNICESUMAR 19 O que podemos aprender com essa vinheta gráfica? Dois pontos importantes podemos aqui refletir: 1. A feliz combinação entre estratégia e força. Hércules conhecia o ponto fraco do seu concorrente. É de extrema importância, destarte, sair da in- dividualidade e colocar-se a pensar diante da perspectiva do concorrente, imaginando sua reação e, a partir daí, tomar uma decisão. O uso da força por si só pode ser pouco. Portanto, é importante olhar para o todo, fazer o exercício de sair de si e, buscando essa neutralidade, tomar uma decisão. 2. Uma segunda lição é que não se pode separar o conhecimento do contato com o chão. É preciso ter essa proximidade. Vale trazer a noção de conhecimento tácito, apresentada pelo filósofo Michael Polanyi e va- lidada em 1966 por meio de sua obra The Tacit Dimension (POLANYI, 2009), aquele conhecimento experimentado, difícil de ser passado por meio da linguagem. É preciso ter esse “contato”. Passa pela relação de “tocar o chão”. Por isso a lição é que a realidade concreta perpassa situações difí- ceis. As feridas resultantes de tais experiências orientam a aprendizagem e a descoberta de um mecanismo de sinalização orgânica que os gregos chamavam de pathemata mathemata (“norteie seu aprendizado por meio da dor”, algo que mãe de crianças pequenas, como eu, sabem muito bem). Portanto, como explica Taleb, em grego significa que o aprendizado e a evolução vêm da dor proporcionada pelo corpo, pelo físico, pelo chão, que, se desprezada, leva ao sofrimento, ao óbito, à extinção. No mundo econômico, seja com relação ao contexto corporativo ou até mesmo nos diversos posicionamentos que temos que assumir para fazer a roda da vida girar, a velocidade das informações, a partir da tecnologia, é muito grande. Como consequência, uma infinidade de decisões deve ser tomada para jogarmos o jogo econômico, buscando posição de destaque. Quando quero comprar uma máqui- na para ampliar meu negócio, a decisão de comprar ou alugar um imóvel, com- prar um smartphone na pré-venda, exportar agora ou esperar um pouco mais, são diversas decisões que temos que tomar. E para isso, é fundamental conhecer o panorama que estamos vivenciando, para tal, a importância do conhecimento sobre o contexto econômico que perpassa a sua individualidade. UNIDADE 1 20 Daí nos servimos de Hércules, Anteu, para nos ajudar. Também a canção Divino Maravilhoso, composta por Caetano Veloso, alerta para o fato de que “é preciso estar atento e forte”. Anteu, talvez na segurança que a mãe lhe causava, chamou para a briga alguém que soube combinar conhecimento e força. Acabou mal. Tomar decisões a partir da dinâmica econômica perpassa essa moral. Não há ambiente seguro, isento de riscos. É a jornada do conhecimento, aliada à discipli- na, foco, força de vontade que possibilitará a sensibilidade sobre a influência das forças externas no desempenho das empresas, e até mesmo na nossa individua- lidade econômica. Anteu se colocou em ambiente de conforto tendo suas forças recarregadas pela mãe Gaia. No entanto, a dinâmica da vida socioeconômica, assim como o Jardim das Hespérides, é instável e cheia de aventuras, em especial ao considerarmos os impactos que todos sofremos submetidos a crises globais. Nesse ínterim, é função do profissional, seja ele executivo de alguma organiza- ção, empresário, pesquisador da área, enfim, somos responsáveis em lidar com as variáveis econômicas a partir da análise dos cenários econômicos, de modo a estabelecer as diretrizes que levarão os indivíduos e suas empresas em direção aos seus objetivos estratégicos. Hércules nos inspira pela sua força, mas ao brigar com Anteu, também nos ensina sobre a acuidade em entender a lógica da força do adversário. Ao entender que não era só força, logrou êxito. Entender economia passa pela apreensão de que ela é uma construção social, como a política. Agora… como equilibrar o conhecimento adquirido e o espírito de liderança, de dono de si mesmo, para jogar esse difícil game econômico? PENSANDO JUNTOS Aqui lembro da explicação de Celso Furtado (1959, on-line)1, sobre uma das questões econômicas primordiais: “se você não tem ideias claras e evidentes sobre a economia na sociedade, fica sempre um pouco superficial. Para entender a vida da sociedade é preciso saber como é que se mata a fome, primeiro.” EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 21 Diante da jornada proposta, conhecedores do delicado momento histórico e econômico precisamos seguir o conselho Furtadiano e buscar o fino ajuste entre conhecimento e sensibilidade, como diz a economista Monica de Bolle (2020), “pois é fácil ceder à falsa impressão de que há leis imutáveis na economia e não perceber as mudanças.” As transformações na economia podem favorecer ou prejudicar a atuação das empresas nos mercados, bem como a geração de empregos e renda. Portanto, um pouco de história vai instrumentalizar nosso trabalho, na nossa aventura do conhecimento. E já que nesta unidade aborda- mos a mitologia, vamos usar um pouquinho mais da ferramenta histórica para uma sucinta compreensão da economia. Por longos milênios, a humanidade se compõe de grupos relativamente pe- quenos, cuja cultura técnica apenas se igualava às culturas dos mais atrasados, “selvagens” contemporâneos, ou nitidamente inferior. As sociedades civilizadas UNIDADE 1 22 e de complexa estrutura, por outro lado, não surgiram como Minerva, da cabe- ça de Júpiter, havendo chegado à sua organização atual por meio de mudanças e progressos, obviamenteexperimentados a partir dessas atrasadas aglomera- ções humanas. Se negligenciássemos o fato de que os grupos eram pequenos e que a sociedade é algo complexo, possivelmente não lograríamos compreender a dinâmica evolutiva dos processos de produção e distribuição das riquezas, cujo conhecimento constitui, precisamente, a visão global do que é a atividade econômica. Há cerca de 10 mil anos, quando os sapiens (nome científico de nossa espécie humana) começaram a dedicar quase todo o seu tempo e esforço para manipular a vida de algumas espécies de plantas e animais, apresentando, dessa forma, uma mudança radical em seu relacionamento com a natureza, temos o que Harari (2015) chama de Revolução Agrícola. Essa transforma- ção impactou totalmente a história da humanidade, pois o homem passa do caráter predatório para produtor. A existência em comunidades estáveis passa a tomar forma em detrimento do nomadismo. Em Rezende Filho (2010), te- mos o nome de Revolução Neolítica. Para nós, o relevante é perceber que foi um ponto de inflexão para a humanidade, de modo que a atividade agrícola, sobretudo, permitiu que o homem diminuísse a atividade braçal e passasse a ter a noção de trabalho coletivo e regular. Paralelamente ao controle das fontes de alimentação que possibilitaram o crescimento demográfico, deu-se a diferenciação social do trabalho que permitiu o desenvolvimento de novas técnicas (cerâmica, tecelagem, fabricação de instrumentos de pedra polida), ligando as comunidades por um sistema de trocas. Estabelece-se, aqui, nosso marco precursor da atividade comercial. Por conta de condições geoclimáticas desfavorecedoras ao desenvolvimento da agricultura, algumas civilizações se voltaram para o exterior diante do objetivo de abastecerem-se, uma vez que não conseguiam produzir em quantidade suficiente. Na intenção de maximizar as vantagens advindas da atividade comercial, as cidades fenícias estabeleciam pontos de armazenamento de produtos localizados no litoral das regiões com as quais comerciavam. Eram as feitorias. Uma dessas, fundada no século IX a.C., deu origem à cidade de Cartago, a qual, conforme Rezende Filho (2010, p. 22), “se transformou na potência econômica dominante do Mediterrâneo ocidental, até ser derrotada por Roma, após longas guerras, em finais do século III a.C”. UNICESUMAR 23 Crise do sistema escravista Instabilidade política Expansão do cristianismo Invasão dos povos germânicos (bárbaros) Com o poder enfraquecido, o Império Romano passa a ser alvo constante de invasões. O sistema de produção era dependente do trabalho escravo. Com a diminuição do número de escravos, a economia em crise. Os cristãos não aceitavam o caráter divino dos imperadores, assim o poder desses governantes era enfraquecido. Crises políticas internas levam ao enfraquecimento do poder e tornam o território vulnerável a invasões. Queda de Roma 476 a.C A queda do Império Romano impulsionou uma nova forma de organização da sociedade: o feudalismo. FEUDALISMO Servo - escravo Sociedade Estamental Economia: - Agrária e voltada à subsistência - Artesanato Igreja Medieval: - As cruzadas: expedições militares e religiosas Política: - Fragmentação do poder - Nobreza proprietária de terras Suserania e vassalagem: - Suserano concede terras e bens em troca de �delidade Figura 2 - A Queda de Roma e o Feudalismo / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a Figura 2 apresenta a partir da Queda do Império Romano que a humanidade vivenciará o período feudal. Temos uma caixa em destaque e esta apresenta o elemento “Queda de Roma 476 a.C.”. Desse quadro, saem quatro setas: a) crise do sistema escravista; b) instabilidade política; c) ex- pansão do cristianismo; e d) invasão dos povos germânicos (bárbaros). Esses elementos caracterizam a configuração do cenário romano que está enfraquecido diante do contexto. A queda de Roma se dá pela invasão dos povos bárbaros, que, por sua vez, fragiliza o império Romano. A crise do sistema escravista se dá a partir do contexto de guerras, que diminui a mão de obra escrava. Esses elementos caracterizam uma instabilidade política, que, por sua vez, leva a crises internas tornando o território ainda mais vulnerável a invasões. Outro elemento fundamental, enquanto explicativo para a queda do Império Romano, foi a expansão do cristianismo, haja vista que os romanos não tinham tradição nessa relação com o Divino. E os cristãos não aceitavam o caráter divino dos imperadores, assim, o poder desses governantes era enfraque- cido. Diante desse panorama, uma nova organização se apresenta: o feudalismo. As relações de trabalho não vão mais se sustentar, aí, em base escravocrata, e sim na mão de obra servil, na qual o servo é diferente do escravo. Dá-se uma relação de suserano e vassalo, na qual o primeiro concede terras ao segundo em troca de fidelidade. No aspecto político, apresenta-se uma nobreza detentora de terras com poder político fragmentado, ou seja, não havia Estado como conhecemos hoje. A Igreja exerceu nesse período medieval uma forte influência, contribuindo para, ao final do sistema, uma promoção do comércio. Isso se dá com a prática do movimento das Cruzadas (expedições militares e religiosas). No campo da Economia, tem-se que a organização era voltada à agricultura de subsistência, com modo de produção artesanal. UNIDADE 1 24 É possível pensar um sistema como um conjunto de elementos interligados que cumprem um objetivo final definido. Na biologia, por exemplo, quando se usam as expressões sistema respiratório, sistema vascular ou sistema nervoso, pensamos em um conjunto de órgãos de um ser vivo que se relacionam entre si para desempenhar funções vitais nesse organismo, como permitir a respiração, a nutrição e a oxige- nação das células e a transmissão dos impulsos nervosos. Trazendo essa analogia para a economia, você já pôde perceber que, ao longo do tempo, os humanos se coordenaram e foram se desenvolvendo, passando por diversos sistemas. Economia 4000 a 1000 a.C. 1000 a.C. a 500 d.C. Assíria Babilônia Egito China Abissínia Mesopotâmia Índia Grécia Roma Figura 3 - Impérios na Antiguidade / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a economia na antiguidade foi constituída por sociedades civilizadas e de complexa estrutura, por volta dos anos 4000 a 1000 antes de Nossa Era, das quais se destacam o império Assírio, Babilônico, Egípcio, Chinês, o império Etíope também conhecido como Abissínio, o Mesopotâmico e o Império da Índia. No período que antecede em 1000 anos, a contar do marco cristão até o ano 500 da Nossa Era, destaca-se a civilização greco-romana. UNICESUMAR 25 Os imperiais, como os do Antigo Egito, da Grécia, da Roma Antiga e do império Chinês, foram evoluindo para o feudalismo, que dominou a Europa entre os séculos IX e XV d.C. Tudo isso refletiu a forma pela qual os homens puderam satisfazer suas necessidades materiais em cada época, alterando-se a forma con- forme o que era “necessário” dentro de cada contexto, refletindo, também, que a vida socioeconômica se dá a partir de um sistema, uma organização, com o intuito de atender a humanidade dentro dos aspectos da sobrevivência. A partir do século XIV, avanços nos meios de navegação permitiram ultrapas- sar o estreito de Gibraltar, de modo que o comércio intraeuropeu, antes apenas terrestre, deslocou-se em parte para o Atlântico. Como efeito, houve estímulo para o desenvolvimento de centros comerciais. O mundo estava sendo descoberto! É aqui que entramos em cena. Há tempos não se falava tanto da implicação da economia na saúde e da saúde na economia. Contudo, é possível afirmar que nossa temática nasceu a partir de forte influência médica. Para apresentar essa relação, é preciso pinçar um elemento importante da história do pensamento econômico no qual John Locke (1632- 1704) e François Quesnay (1694-1774) são apenas dois, entre outros médicos, que influenciaram o pai da ciência econômica comoa conhecemos na atuali- dade: Adam Smith (1723-1790). E a intenção, aqui, não é transmitir meramente informações historiográficas, mas justificar que as políticas públicas e privadas a serem assumidas em cenário instável, como o que vivenciamos, devem transitar pela história da economia como ciência social. John Locke (1632-1704) Adam Smith (1723-1790) François Quesnay (1694-1774) UNIDADE 1 26 Pois bem, para o escocês, o Ocidente embarca em uma grande revolução antes do século XVIII, quando as socieda- des agrárias ou agrícolas se tornaram comerciais. Durante a Idade Média, as cidades se desenvolveram e aos poucos foram ligadas por estradas. As pessoas levavam mercadorias e pro- dutos agrícolas frescos para as cidades, e os mercados – com sua compra e venda – tornaram-se parte da vida. A inovação científica criou padrões de medida confiáveis, e junto com novos jeitos de fazer as coisas e da mistura de principados que pontilham a Europa formaram-se Estados centralizados. O povo usufruía uma nova liberdade e passava a trocar bens para ganho pessoal, não só para o seu senhor. Em 1776, Smith publicou sua obra An inquiry into the nature and causes of wealth of nations (A Riqueza das Nações) (SMITH, 1983), que tinha iniciado na França, dez anos antes. A obra possui o significado de manifesto de uma nova ciência. O sucesso do livro foi imediato e isso estabeleceu definitivamente o pres- tígio de Smith. Um dos aspectos históricos mais relevantes dessa obra é sua atualidade em relação à economia capitalista moderna, haja vista que a dimensão temporal revelava um momento marcado por grandes transformações econômicas e sociais impulsionadas pela primeira revolução industrial, cujo epicentro foi o Reino Unido. O texto cumpriu o singular papel de instrumento de uma ideologia triunfante no século subsequente, o liberalismo. Para o pensador, as economias de mercado geram rendi- mentos justos que podem ser gastos em bens, em um “fluxo circular” sustentável, em que o dinheiro pago em salários volta para a economia quando o trabalhador paga pelos bens e será devolvido em salários, repetindo o processo. O capital investido em instalações de produção ajuda a au- mentar a produtividade da mão de obra, o que implica os empregadores poderem arcar com salários mais altos. E, se puderem pagar mais, eles pagarão, porque têm de competir entre si pelos trabalhadores. UNICESUMAR 27 Figura 4 - Mudanças das relações sociais de trabalho ao longo da história: (a) Pintura egípcia, (b) As quatro estações, Primavera de Pieter Bruegel (1579-1638), (c) Tempos Modernos de Charlie Chaplin / Fonte: Shutterstock e Wikimedia Commons (2016, on-line). Para nosso trabalho, trataremos como sinônimo economia de mercado e ca- pitalismo, por uma questão didática. Esses termos representam uma forma de organização econômica que depende da existência de propriedade privada dos meios de produção que asseguram aos seus donos os ganhos de sua exploração. a b c Descrição da Imagem: a Figura 4 apresenta uma montagem com três formas de trabalho ao longo da história da humanidade. A Figura (a) é representada por uma pintura egípcia e faz alusão ao período de trabalho escravocrata. A Figura (b) apresenta numerosos criados que cuidam de um jardim elaborado, tratam as ovelhas, cortam as vinhas e as rosas sob os olhos vigilantes de mestres bem vestidos. Essa pintura faz parte da série Season que reúne quatro painéis de pequeno porte de Pieter Brueghel (1564- 1638), o jovem. A Figura (c) traz uma das cenas do filme Tempos Modernos, de 1936, escrito e dirigido por Charles Chaplin, em que ele está com outro homem ao lado de uma máquina, característica do novo formato de trabalho, a partir da Revolução Industrial, o trabalho assalariado. UNIDADE 1 28 Portanto, não há capitalismo quando não há garantias sobre a propriedade in- dividual. Esse sistema econômico depreende propriedade privada dos meios de produção que asseguram aos seus donos os ganhos de sua exploração. LEI FORÇA PROPRIEDADE PRIVADA E SEUS GANHOS DE EXPLORAÇÃO GARANTE GARANTE ESTADO Figura 5 - Papel do Estado nas economias de mercado / Fonte: a autora. O sistema como nos organizamos para viver, no que se refere ao ponto de vista material, está dividido entre os possuidores do capital, os capitalistas, e aqueles que não detêm o capital, os trabalhadores. Ainda que pese ser uma discussão que possibilite o calor ideológico, é a forma como nos constituímos enquanto sociedade, e podemos pensar que esse “modus vivendi” foi inaugurado com a Revolução Industrial, e cronologicamente nos situamos aqui no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. Descrição da Imagem: a Figura 5 apresenta o papel do Estado nas economias de mercado. No alto, temos o Estado que abre duas setas, uma para direita e outra para esquerda em que ambas garantem a Lei e a Força. Estas duas sugerem que a propriedade privada requer seus ganhos de exploração. UNICESUMAR 29 CAPITALISMO NÓS MANDAMOS EM VOCÊ NÓS ENGAMOS VOCÊ NÓS ATIRAMOS EM VOCÊ NÓS COMEMOS POR VOCÊ NÓS TRABALHAMOS POR TODOS NÓS ALIMENTAMOS TODOSA PIRÂMIDE DO SISTEMA CAPITALISTA Figura 6 - A Pirâmide do Sistema Capitalista (1911) / Fonte: Wikimedia Commons (2009, on-line). Descrição da Imagem: a Figura 6 representa a pirâmide com seis degraus conhecida como a pirâmide do Sistema Capitalista (1911) dos Estados Unidos. Começando pelo topo da pirâmide, temos o saco de dinheiro, o símbolo do capitalismo. Abaixo vem os governantes e a alta burguesia com a mensagem “Nós mandamos em você”, detentora dos meios de produção e as instituições financeiras. Depois a Igreja, que continua com seu poder ideológico de controle sobre a população com a mensagem “Nós enganamos você”. No quarto degrau, são as forças militares que novamente aparecem para manutenção da ordem e estrutura de proteção contra revoltas e revoluções com a mensagem “Nós atiramos em você”. Penúltimo degrau, aparecem os pequenos burgueses desfrutando de uma boa vida e comida farta com a mensagem “Nós comemos por você” e, por último, vem a base da pirâmide sustentada pela classe trabalhadora (os proletários na base de tudo, homens, mulheres e crianças) carregando toda a pirâmide e seus dizeres “Nós trabalhamos por todos”, “Nós alimentamos todos”. UNIDADE 1 30 Contudo, nessa história toda, é muito importante diferenciar economia de capitalismo, em que pese não ser possível tratar de uma sem estar falando da outra. No que se refere à economia, vale pensar que o homem luta com o meio em que vive, desenvolvendo uma série de atividades econômicas com o fim de compatibilizar, da melhor maneira possível, as múltiplas, crescentes e ilimitadas necessidades que tem, com os recursos escassos, por meio de uma administração racional desses recursos, o que, em síntese, constitui-se no “objeto da Ciência Econômica”, ou na essência do problema econômico. O capitalismo per se é um arranjo social, que busca “resolver” esse problema econômico. Aí diante da “falta de alguma coisa que procu- ra possuir”, ou diante da sensação de ausência ou falta, o homem é convidado pela força da necessidade a buscar, a desejar. É com esse espírito que podemos, ainda que de forma muito modesta, entender o capitalismo. Nele as atividades econômicas são coordenadas pelos empresários que definem o que e quanto produzir de cada coisa de que a sociedade precisa para suprir suas necessidades. Os mercados validam os esforços dos empresários, que serão bem-sucedidos em gerar lucros na medida em que sua capacidade de produzir e vender ao preço de mercado lhes traga receitas acima de seus custos. Ferreira (2015, p. 27) nos orienta que mesmo sendo extremamente necessárias à população algumas atividades não são realizadas pelas empresas por não serem lucrativas. Diante disso, o papel do Estado se dá enquanto provedor de serviços públicos, para oferecer bens essenciais à população que não podem ser fornecidospelas empresas. Agentes econômicos são pessoas de natureza física ou jurídica que, por meio de suas ações, contribuem para o funcionamento do sistema econômico (PASSOS; NOGAMI, 2008). São constituídos pe- las famílias (ou unidades familiares), pelas empresas (ou unidades de produção) e pelo governo, conforme a Figura 7, a seguir: UNICESUMAR 31 Legenda: Fluxos reais Fluxos �naceiros Demanda: bens e serviços Gastos com consumo $ Serviços públicos Compras públicas Pagamentos de empenho $ Serviços públicos Impostos diretos $ Impostos diretos $ Recebimento de rendas $ Pagamento de rendas $ Pagamento funcionários públicos Contratação funcionários públicos Oferta: bens e serviços Receita de vendas $ Oferta: trabalho, capital e terras Demanda: trabalho, capital e terras Mercados de fatores produtivos Mercados de bens e serviços Famílias Governo Empresas Figura 7 - Fluxos de troca em um sistema econômico / Fonte: Ferreira (2015, p. 22). Descrição da Imagem: a Figura 7 apresenta os fluxos de troca em um sistema econômico. No centro está o Governo, do lado esquerdo estão as Famílias e do lado direito estão as Empresas. Em cima do Go- verno, há os Mercados de bens e serviços e, abaixo, os Mercados de fatores produtivos. Este fluxograma apresenta também as relações entre os agentes econômicos divididas em dois tipos de fluxos: os reais, demonstrados pelas ligações com a linha contínua, e os financeiros, pelas linhas pontilhadas. UNIDADE 1 32 Na Figura 7, é possível observar que os flu- xos reais são constituídos pelos fatores de produção entregues por seus proprietários ao sistema produtivo e que este transforma em bens e serviços, que se destinam a satis- fazer as necessidades individuais e coletivas, presentes e futuras da população. Por outro lado, os fluxos financeiros são as remunera- ções pagas pelo sistema produtivo aos pro- prietários dos fatores produtivos, e que estes utilizam na compra dos bens e serviços de que precisam para satisfazer suas necessida- des econômicas e sociais. Há também que se observar que do caixa das empresas dá-se o fluxo financeiro para o governo, pois as empresas também recolhem impostos embutidos nos preços dos produ- tos que vendem – são os impostos indiretos. Há um repasse desses impostos ao governo, o que também ocorre com as famílias, que pagam impostos diretos sobre a renda que recebem das empresas e sobre as proprieda- des que adquirem com essas rendas. Assim, recolhendo impostos das empresas e das fa- mílias, o governo, em todas as suas esferas (União, estados e municípios), arrecada as receitas de que necessita para ofertar os ser- viços públicos à sociedade. As transações realizadas pelos diversos agentes econômicos podem ser mensuradas por meio dos agregados macroeconômicos. A economia pode ser vista em equilíbrio quan- do a produção, a renda e a demanda agregada gerada são de iguais valores. A contabilidade nacional apresenta a identidade fundamental: UNICESUMAR 33 PRODUTO = =RENDA DESPESA = = Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuária, a indústria, o comércio e serviços. Renda Interna Bruta (RIB) Salários, lucros, rendas da terra, Juros, aluguéis, etc. Dispêndio Interno Bruto (DIB) Bens comprados pelas famílias, pelo governo e para investimento das empresas. Figura 8 - A igualdade entre produto, geração de renda e total dos dispêndios Fonte: Ferreira (2015, p. 31). A geração de produto consiste em adicionar o valor das remunerações ao longo das cadeias produtivas a tudo o que é produzido; o valor da produção será então igual ao valor das rendas pagas aos fatores de produção; logo, produto é igual a renda. Por produção, conforme Viceconti (2010), entende-se qualquer atividade que aumente o valor de um bem ou serviço já existente. A Renda corresponde ao somatório das remunerações recebidas pelos proprietários dos fatores de produ- ção como retribuição pela utilização de seus serviços nas atividades produtivas. Com a renda obtida na produção, depois de descontados os impostos, as famílias comprarão tudo aquilo de que precisam e, com os impostos arrecadados, o gover- no comprará o restante da produção das empresas. Esse total de gastos é chamado de demanda agregada ou despesas, e é igual ao valor da renda gerada na produção. Assim, temos que o Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia tem valor igual à Renda Interna Bruta (RIB) e ao Dispêndio Interno Bruto (DIB). Descrição da Imagem: a Figura 8 apresenta a igualdade entre a produção, a geração de renda e o total dos dispêndios (demanda agregada) na economia. Quanto mais um deles crescer, mais irão crescer igual- mente os demais; logo, é importante saber qual deles é capaz de provocar o crescimento dos demais. São três colunas e nestas constam: o produto, a renda e a despesa. Na primeira coluna, temos o Produto Interno Bruto (PIB) como, por exemplo, a agropecuária, a indústria, o comércio e os serviços. Por sua vez, na segunda coluna temos a Renda Interna Bruta (RIB) como, por exemplo, os salários, lucros, rendas da terra, juros, aluguéis etc. e, na terceira e última coluna, temos o Dispêndio Interno Bruto (DIB), que são os bens comprados pelas famílias, pelo governo e para investimento das empresas, por exemplo. UNIDADE 1 34 Essa identidade contábil infere que, quanto mais uma variável dessas cres- ce, mais crescerão igualmente os demais, implicando na relevância de observar qual desses elementos foi o propulsor do crescimento dos demais. No Brasil, a instituição responsável pelo cálculo do PIB é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Temos, então, posta a medida de crescimento econômico. É possível apreender a definição de crescimento econômico com Ferreira (2015, p. 31), a “elevação contínua da produção, da renda e dos gastos em uma economia”. Veja que é uma medida quantitativa, fica na dimensão dos números. Essa mensuração acompanha a geração da riqueza de um país, abrindo a possi- bilidade para comparar com outras nações. Se o PIB é a principal medida, não implica em afirmar como sendo a única; a renda per capita também é uma forma quantitativa de apresentar o valor da Renda Nacional dividida pelo total da popu- lação. Essa abordagem sugere avaliar a riqueza por indivíduo. A renda per capita é um importante indicador, pois revela a distribuição média da riqueza entre os habitantes do país, nos diz quanto, em média, cada cidadão deveria ter recebido se a renda fosse igualmente distribuída entre toda a população daquele grupo. UNICESUMAR 35 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 Luxemburgo Noruega Suíça Irlanda Dinamarca Catar Cingapura Suécia Austrália Estados Unidos Holanda Macau Canadá Islândia Áustria Finlândia Japão Alemanha Bélgica Andorra Brasil21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Figura 9 - Gráfico (a) das Maiores Rendas Per Capita do mundo, de 2019 (dólares) Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a Figura 9 apresenta um gráfico com os países de maiores rendas per capita do mundo, de 2019 (em dólares). Os países destacados em ordem crescente são Luxemburgo, Noruega, Irlanda, Suíça, Dinamarca, Catar, Singapura, Suécia, Austrália, Estados Unidos, Holanda, Macau, Canadá, Islândia, Áustria, Finlândia, Japão, Alemanha, Bélgica, Andorra e por último o Brasil. O PIB do Brasil em 2019, por exemplo, foi de R$ 7,4 trilhões. Até a elaboração desse ma- terial, os últimos dados do PIB eram referentes ao 2º trimestre de 2020: o valor foi de R$ 1.653,0 bilhões. Fonte: IBGE ([2021], on-line). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 1 36 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 Série 1 Noruega Suíça Irlanda Dinamarca Catar Cingapura Suécia Austrália Estados Unidos Holanda Macau Canadá Islândia Áustria Finlândia Japão Alemanha Bélgica Andorra Brasil21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Holanda México Espanha Rússia BrasilFrança Índia Japão China Estados Unidos 0 5000 10000 15000 20000 25000 Figura 10 - Gráfico (b) dos Maiores PIBs do Mundo, de 2019 (trilhões de dólares) / Fonte: a autora. O Gráfico (a) apresenta 21 países com as maiores rendas per capita do mundo, considerando os dados dos Estados Unidos e Brasil, principalmente para efeito de análise. Note que os países dos Gráficos (a) e (b) não são os mesmos. Isso revela que a maioria dos países com altas rendas per capita são pequenos países. Luxemburgo, por exemplo, tornou-se um autêntico hub financeiro na segunda metade do século XX, especialmente por ser livre de impostos. A reputação de paraíso fiscal levou-o a conquistar inúmeras empresas, trazendo destaque para o país. O caso do Qatar é o Gás natural. O país tem as terceiras maiores reservas de gás natural do mundo e investiu de forma pesada em infraestruturas de transformação de gás em gás li- quefeito e de exportação. Conseguiu, ainda, diversificar a economia conquistando a atenção de inúmeras empresas financeiras que se deslocaram para o país. Singapura tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos, sendo para muitos a Suíça da Ásia. Tecnologia, têxteis e finanças conduziram a um PIB per capita de 56.700 dólares. É indiscutível a importância do crescimento para as economias. Analisar esses números é fundamental para perceber se as políticas econômicas estão sur- Descrição da Imagem: a Figura 10 apresenta um gráfico com os maiores PIBs do mundo, de 2019, com trilhões de dólares. Os países destacados em ordem crescente são Estados Unidos, China, Japão, Índia, França, Brasil, Rússia, Espanha, México e Holanda. UNICESUMAR 37 tindo o efeito desejado no que se refere à produção, emprego e renda do país. Uma reflexão que nasce dessa abordagem é se, a partir do crescimento econômico do país, há mais renda para a população. Principalmente se a população crescer, é fun- damental que a geração de renda cresça em uma proporção maior. Essa abordagem quantitativa nos apresenta números. Contudo, as variáveis puramente quantitativas são incapazes de vislumbrar o desenvolvimento econômico. Mas então crescer é diferente de desenvolver? Sim! O crescimento de um país pode ser pensado, em partes, como o ciclo da vida humana. A partir do nascimento, todos crescemos em altura (e peso!). O desenvolvimento está relacionado à questão de habilidades cog- nitivas, motoras etc. A estatura da criança não me diz sobre o desenvolvimento em termos cognitivo, afetivo. Na economia, é mais ou menos assim, o crescimento dela não garante que cada habitante receba parte do aumento da riqueza. Daí o conceito de desenvolvimento econômico. Ele é mais amplo e está relacionado ao aumento da capacidade produtiva do país, mas com melhorias no padrão de vida da população e com alterações fundamentais na sua estrutura. Trata-se de um fenômeno de lon- go prazo, provocando o fortalecimento da economia nacional, caracterizado por uma distribuição mais equitativa da renda, a ampliação da economia de mercado, a elevação geral da produtividade e do nível do bem-estar da população, com a preservação do meio ambiente. Trevisan e Requena (2019) apresentam que, desde a década de 60, o PIB per capita foi adotado como uma proxy da medida ideal da riqueza de um país. Essa medida, entretanto, teve sua aplicabilidade gradualmente questionada, pois não representa o caráter da distribuição da renda no país. Por conseguinte, outras medidas foram criadas para demonstrar a concentração de renda de uma nação, dentre as quais merecem destaque o Índice de Gini. O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados re- pressivos. A despeito de aumentos sem precedentes na opulência global, o mundo atual nega liberdades elementares à boa parte das pessoas. (Amartya Sen) PENSANDO JUNTOS UNIDADE 1 38 Por meio do Coeficiente de Gini, é possível apreender o grau de concentração de renda na população de um país. Gini é o nome do criador desse mecanismo, o estatístico italiano Corrado Gini. O indicador desenvolvido varia de 0 a 1. 1,00 - Total concentração da renda Alta concentração da renda 0,50 - Média concentração da renda Baixa concentração da renda 0,00 - Total igualdade da renda Figura 11 - Escala do Coeficiente de Gini / Fonte: Ferreira (2015, p. 35). Descrição da Imagem: o Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Corrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). Como entender o coeficiente de Gini? O valor 0 indica que a renda é distribuída de maneira igual entre toda a população, ou seja, nenhum habitante recebe nem um centavo a mais do que outro. No lado extremo, quando o valor é igual a 1, apenas uma pessoa de toda a população detém toda a renda. Logo, os valores mais próximos a zero são preferíveis a valores próximos a 1, pois quanto mais bem distribuída a renda em uma sociedade, melhor o nível de acesso às oportunida- des de crescimento pessoal por parte dessa população. EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 39 No Quadro 1, você observa um ranking dos países em termos de IDH e Índice de Gini em 2019. A Noruega está em primeiro lugar, apresentando um índice de desenvolvimento humano próximo a 1 (0,954). O Brasil em 2019 ocupava a 79º posição no ranking. Ranking IDH País IDH Índice Gini (x100) 1º Noruega 0,954 27,5 2º Suíça 0,946 32,3 3º Irlanda 0,942 31,8 4º Alemanha 0,939 31,7 6º Islândia 0,938 27,8 10º Países Baixos 0,933 28,2 11º Dinamarca 0,930 28,2 12º Finlândia 0,925 27,1 15º Estados Unidos 0,920 41,5 17º Bélgica 0,919 27,7 24º Eslovênia 0,902 25,4 40º Portugal 0,850 35,5 42º Chile 0,847 46,6 65º Irã 0,797 40,0 76º México 0,767 43,4 79º Brasil 0,761 53,3 85º China 0,758 38,6 Quadro 1 - Ranking mundial Índice de Gini / Fonte: Conceição (2019, p. 314). Descrição da Imagem: o Quadro 1 apresenta o ranking mundial de índice de Gini. Os três primeiros do ranking constam a Noruega em primeiro lugar com 0,954 (IDH) e 27,5 (Índice de Gini em 100x), seguido do segundo lugar a Suíça, 0,946 (IDH) e 32,3 (Índice de Gini em 100x) e, em terceiro lugar, a Irlanda com 0,942 (IDH) e 31,8 (Índice de Gini em 100x). Em quarto lugar, a Alemanha com 0,939 (IDH) e 31,7 (Índice de UNIDADE 1 40 Ferreira (2015) nos ensina que o desenvolvimento econômico é um processo que associa o crescimento da economia de um país ao progresso social de sua população; de tal forma, associa-se não apenas à melhora do PIB ou da renda per capita, mas também a outros fatores qualitativos, como a expectativa de vida ao nascer, o nível de escolaridade da população e o grau de concentração de renda. Ainda que sejam coisas diferentes, é muito difícil haver desenvolvimento sem crescimento econômico, a menos que o país tenha uma elevada renda muito concentrada e ela seja redistribuída de modo mais equitativo, enquanto ocorrem melhorias nas condições de vida da população que elevem sua longevidade e suas condições de escolaridade. Para melhorar suas condições de desenvolvimento econômico, os países devem elevar seu crescimento econômico. Este é o elemento necessário, mas não suficiente. É necessário que o crescimento seja bem melhor distribuído entre a população e impacte positivamente a expectativa de vida e o nível de escolaridade de sua população. Essa temática não fica completa se não falarmos do economista indiano Amartya Sen. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1998 por sua con- tribuição às teorias da escolha social e do bem-estar social. Publicou a obra De- senvolvimento como Liberdade, que marca as bases conceituais da construção do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).Para ele: “ [...] o desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam. O enfoque nas liberda- des humanas contrasta com visões mais restritas de desenvolvimento, como as que identificam desenvolvimento com crescimento do Pro- duto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industriali- zação, avanço tecnológico ou modernização social (SEN, 2010, p. 17). Gini em 100x); em sexto lugar, vem a Islândia com 0,938 (IDH) e 27,8 (índice de Gini em 100x). Na décima posição, temos os Países Baixos com 0,933 (IDH) e 28,2 (índice de Gini em 100x), em décimo primeiro, a Dinamarca com 0,930 (IDH) e 28,2 (índice de Gini em 100x), em décimo segundo, a Finlândia com 0,925 (IDH) e 27,1 (Índice de Gini em 100x). Já em décimo quinto, os Estados Unidos com 0,920 (IDH) e 41,5 (índice de Gini em 100x) e logo em seguida com décimo sétimo lugar a Bélgica com 0,919 (IDH) e 27,7 (índice de Gini em 100x); a Eslovênia com 0,902 (IDH) e 25,4 (índice de Gini em 100x) está em vigésimo quarto lugar. Portugal encara o quadragésimo lugar com 0,850 (IDH) e 35,5 (índice de Gini em 100x); enquanto o Chile, em quadragésimo segundo lugar com 0,847 (IDH) e 46,6 (índice de Gini em 100x). O sexagésimo quinto lugar fica por conta do Irã com 0,797 (IDH) e 40,0 (índice de Gini em 100x); na septuagésima sexta posição do ranking vem o México com 0,767 (IDH) e 43,4 (índice de Gini em 100x), e logo aparece o Brasil com a septuagésima nona posição do ranking com 0,761 (IDH) e 53,3 (índice de Gini em 100x) e finalizamos com a China na octogésima quinta posição com 0,758 (IDH) e 38,6 (índice de Gini em 100x). UNICESUMAR 41 Apesar da “opulência sem precedentes” como Sen (2010, p. 9) apresenta, o mundo vive igualmente uma privação, destituição e opressão extraordinárias, em que “existem problemas novos convivendo com antigos” – a persistência da pobreza e de necessidades essenciais não satisfeitas, fomes coletivas e fome crônica muito disseminadas. Para o pensador, superar esse problema é parte central do processo de desenvolvimento. O destacado economista colaborou com o colega de profissão paquistanês Mahbub ul Haq e, em 1990, foi criado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um padrão de medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida. O modelo foi incorporado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que, a partir de 1993, pas- sou a incluí-lo no seu relatório anual. Por incrível que possa parecer, há apenas 30 anos reconhecemos que o grau de desenvolvimento dos países não cabia apenas em parâmetros econômicos, como o crescimento e o tamanho do Produto In- terno Bruto (PIB). O grandioso trabalho desenvolvido contribuiu com a ciência econômica e, por assim dizer, deixou seu legado, à medida que se trata de um indicador que serve para acompanhar a evolução do desenvolvimento de uma economia, bem como comparar esse desenvolvimento com o de outras econo- mias. O IDH é composto por três partes: 1. Renda per capita; 2. Escolaridade; 3. Longevidade. Embora o IDH apresente problemas, uma vez que tenta sistematizar em um único indicador a situação de desenvolvimento dos países e alguns aspectos não sejam capturados, como o grau de participação política, a sustentabilidade ambien- tal e o nível de satisfação ou felicidade da população, ele é o melhor indicador existente para evidenciar o nível de desenvolvimento humano de um país, bem como para direcionar políticas públicas e avaliar seus impactos para a melhoria das condições sociais. Estimada aluna, estimado aluno, aproveitando aqui a oportunidade, caso não conheça, apresento uma importante passagem do livro Economia: Modo de usar um guia dos principais conceitos econômicos (2015) escrito pelo economista sul- -coreano Ha-Joon Chang, professor da Universidade de Cambridge. Ele é conside- http://pt.wikipedia.org/wiki/Riqueza http://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperan%C3%A7a_m%C3%A9dia_de_vida http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas_para_o_Desenvolvimento http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas_para_o_Desenvolvimento UNIDADE 1 42 rado um dos mais proeminentes economistas heterodoxos da atualidade. Conhe- cido por ser um crítico do liberalismo econômico, Chang tem muito a nos ensinar sobre os problemas do capitalismo, em especial aqui a questão da desigualdade: “ A pobreza e a desigualdade estão presentes em toda parte, de ma- neira perturbadora. Uma em cada cinco pessoas no mundo ainda vive em pobreza absoluta. Mesmo em diversos países ricos, como Estados Unidos e Japão, uma em cada seis pessoas vive na pobreza (relativa). Exceto por um punhado de países na Europa, a desigual- dade de renda varia entre preocupante e chocante. Um número excessivo de pessoas aceita a pobreza e a desigualdade como re- sultados inevitáveis de diferenças naturais nas capacidades entre os indivíduos. Dizem que devemos conviver com essas realidades do mesmo modo como o fazemos com terremotos e vulcões. Mas, como vimos neste capítulo, isso está sujeito à intervenção humana. Dada a alta desigualdade em muitos países pobres, a pobreza ab- soluta (e a pobreza relativa) pode ser reduzida sem um aumento na produção se houver redistribuição adequada de renda. A longo prazo, porém, uma redução significativa da pobreza absoluta exige desenvolvimento econômico, como se viu na China nos últimos anos. Os países ricos podem ter se livrado virtualmente da pobreza absoluta, mas alguns deles sofrem com altas taxas de pobreza rela- tiva e de alta desigualdade. O fato de que taxas de pobreza relativas (5% a 20%) e coeficientes de Gini (0,2 a 0,5) variam de modo amplo entre esses países sugere que os mais desiguais e com maior número de pobres, como os Estados Unidos, podem reduzir de maneira sig- nificativa a desigualdade e a pobreza por meio de intervenção públi- ca. Saber quem será pobre também depende muito da intervenção pública. Até mesmo para permitir que as pessoas saiam da pobreza através de seus próprios esforços, precisamos oferecer condições mais igualitárias na infância (por meio da oferta de melhor previ- dência e educação), aprimorar o acesso a empregos para as pessoas pobres (reduzindo a discriminação e o “espírito de clube” no topo) e impedir que os ricos e poderosos fraudem mercados. Na Coreia pré-industrial costumava-se dizer que “mesmo o poderoso rei não tem como fazer nada contra a pobreza”. Isso não é mais verdade, ainda que fosse na época. O mundo hoje produz o suficiente para UNICESUMAR 43 eliminar a pobreza absoluta. Mesmo sem redistribuição mundial de renda, todos os países exceto os mais pobres também produzem o necessário para isso. A desigualdade sempre existirá, mas com políticas adequadas nós podemos viver em sociedades bastante igualitárias, como muitos noruegueses, finlandeses, suecos e dina- marqueses diriam a você (CHANG, 2015, p. 312). A abordagem de Chang não infere que o capitalismo seja um sistema que só funciona com base na ganância de todos, o funcionamento eficiente da economia capitalista, conforme Sen (2010, p. 334), depende de poderosos sistemas de va- lores e normas. Não se deve subestimar as formidáveis realizações desse sistema. No entanto, a ética capitalista, apesar da sua eficácia é, na verdade, limitada em alguns aspectos, ligados particularmente a questões de desigualdade econômica, assim como proteção ambiental e necessidade de diferentes tipos de cooperação que atuem externamente ao mercado. Realizar políticas econômicas de desenvolvimento perpassa admitir a sin- gularidade de cada país na adoção das medidas criativas em busca de alcançar o bem-estar social. Não há necessidade de estabelecer padrões de outros países, mas sim, implica em uma forma criativa de provocar impactos sobre o cresci- mento da economia, pois, para haver desenvolvimento, deve haver o crescimento econômico.É, portanto, oportunizar um conjunto de políticas para melhorar a distribuição de renda, evitando-se que o crescimento econômico se concentre em uma pequena parcela da população e impeça o desenvolvimento. Quem discute a importância de um sistema de saúde acessível, estruturado? É fato inegociável, não é mesmo? Até porque a pandemia nos revelou que, entre economia e saúde, a vida humana é soberana, portanto, a saúde é prioridade. E o papel da ciência, da pesquisa? Fundamentais! Temos visto isso nesses tempos atípicos. Dessa maneira, encaixo aqui a noção de que investir em educação, que perpassa a questão científica, é também inquestionável. Esses são exemplos de políticas de desenvolvimento, à medida que incentivam e possibilitam melhorias às condições de acesso à educação e ao sistema de saúde, permitindo avanços con- tinuados nos níveis de escolaridade e de longevidade dos habitantes de um país. Nesse sentido, a economista Monica de Bolle (2020), em seu livro Pilha de Areia, escreve abordando a Ruptura a partir do cenário econômico advindo com a pandemia. No entanto, as medidas que ela nos apresenta são políticas que mesmo sem esse panorama são urgentes para o caso brasileiro, no que diz UNIDADE 1 44 respeito aos tributos. A primeira delas é remunerar os dividendos. Para a au- tora, é fundamental essa medida para contribuir com a equidade de renda. A segunda é que, hoje, as isenções de tributação sobre dividendos e de juros sobre o capital próprio não são tratadas como renúncia fiscal, quer dizer, quando há essas isenções elas não são tratadas como um imposto que se deixou de pagar. Trata-se apenas de algo que não se paga. Então, o que precisa acontecer de ime- diato é uma reinterpretação da isenção de dividendos e das isenções de juros sobre capital próprio para que estas possam ser enquadradas como renúncia fiscal pelo artigo 14, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo a autora, ao enquadrá-las abre-se espaço para que o governo federal possa reduzir o escopo dessas isenções, o que significa que ele pode passar a utilizar tais recursos tam- bém no combate à pandemia, por exemplo. Ainda, ela sugere um terceiro tópico de medidas, também apresentado com outra abordagem (mundial) por Thomas Piketty na sua obra O capital no século XXI, a inversão da pirâmide tributária no Brasil. A pirâmide tributária no Brasil está desenhada na Figura 12. Na base da pirâmide, está quem é tributado mais e no topo é tributado menos. No topo, estão a renda e patrimônio; embaixo, consumo e produção. RENDA E PATRIMÔNIO PRODUÇÃO CONSUMO Figura 12 - Pirâmide tributária no Brasil atual / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a Figura 12 apresenta a pirâmide tributária no Brasil atual. Uma pirâmide que tem como base o consumo, acima a produção e na ponta dela a renda e o patrimônio. A tributação tem prejudicado, pois incide sobre a base que é o consumo. UNICESUMAR 45 Essa pirâmide tributária é extremamente prejudicial para a produtividade da economia brasileira, sobretudo nesse momento de crise. Por quê? Porque ao tributar mais consumo e produção, você está tributando os setores que hoje vão sofrer mais com a parada súbita da economia no país. Portanto, a autora nos convida a refletir sobre a inversão dessa pirâmide. Os países avançados têm uma pirâmide que é mais ou menos assim (Figura 13): RENDA + PATRIMÔNIO PRODUÇÃO CONSUMO Figura 13 - Pirâmide tributária de países avançados / Fonte: a autora. Temos a renda e o patrimônio em cima, sendo tributados um pouco menos. A produção aparece no meio, sendo tributada um pouco mais. E o consumo está em baixo, tendo a maior tributação de todas. No Brasil, o que precisamos fazer é o seguinte (Figura 14): Descrição da Imagem: a Figura 13 apresenta a Pirâmide tributária de países avançados. A base da pirâ- mide é a renda e patrimônio e o topo o consumo. Em países avançados, o consumo é menos tributado comparado à incidência de tributos na renda e patrimônio. UNIDADE 1 46 RENDA + PATRIMÔNIO CONSUMO PRODUÇÃO CONSUMO REDUZIR RENDA + PATRIMÔNIO Figura 14 - Uma alternativa de pirâmide tributária para o Brasil / Fonte: a autora. Passar a tributar muito mais a renda e patrimônio. Tributar a produção, sim. Alguns impostos são mantidos, mas a maior parte desse ônus é passada para a renda e o patrimônio, especialmente de forma progressiva, para as pessoas que têm maior renda e patrimônio. E, por fim, tributa-se o consumo. Isso re- quer, obviamente, amiga leitora, amigo leitor, uma reforma tributária. Como as políticas de desenvolvimento são de responsabilidade essencial do Estado, é por meio da justiça tributária e da eficácia na aplicação dos impostos que os governos devem procurar executá-las. Agora, tendo em vista que o crescimento econômico é um fator chave para a promoção do desenvolvimento, vamos nos concentrar no entendimento das trajetórias de crescimento das economias e nas políticas governamentais de ex- pansão econômica. As principais políticas de crescimento econômico se concen- tram na estrutura produtiva do país; são os programas públicos que estimulam o crescimento no número de empresas em determinadas atividades econômicas, promovem a elevação da qualidade da produção e traçam metas para exporta- ções. O sucesso dessas políticas possibilita que se estabeleçam setores produtivos e até mesmo uma matriz industrial completa, desde as indústrias de matérias- Descrição da Imagem: a Figura 14 apresenta uma alternativa de pirâmide tributária para o Brasil. Na base da pirâmide, está a renda e o patrimônio, indicando que esses elementos passam a ser itens de maior tributação, comparados ao topo da pirâmide que é o consumo. UNICESUMAR 47 -primas básicas, de máquinas e equipamentos, de bens de consumo duráveis e não duráveis, até uma variada gama de serviços. Segundo Rostow (1971), alguns países passaram por etapas bem definidas de crescimento econômico, partindo de um estágio de produção de subsistência sem geração de sobras para trocas, passando por um estágio em que a espe- cialização da produção gerava excedentes para as trocas e dessa especialização começaram a desenvolver as pequenas fábricas e depois a indústria, que permi- tiu o consumo de massa e gerou renda para a proliferação das mais diferentes atividades de serviços na economia. Perceba que as definidas etapas de crescimento (Quadro 2) apresentam de modo linear um processo histórico, com o ritmo do progresso econômico deter- minado em função da capacidade de produzir, poupar e direcionar os recursos poupados para novos investimentos que gerem mais produção no futuro. Classificação das etapas Descrição do processo de crescimento Economias Primitivas Nessa etapa, havia atividades de explo- ração extrativista e, por meio do desen- volvimento da agricultura, iniciou-se o processo de geração de excedentes, poupanças sob a forma de mercadorias, que permitiram o crescimento da acumu- lação de riquezas e o início das atividades de trocas. Predominante até o século V. Economias Mercantilistas As principais atividades econômicas se concentravam nas atividades que pu- dessem gerar excedentes para a comer- cialização, interna ou internacional. o processo se iniciou pela exploração de recursos naturais e bens agrícolas e, por meio do florescimento das manufaturas nas principais economias da Europa da época, cresceu com a comercialização de bens manufaturados. predominou entre os séculos VI e XVII. UNIDADE 1 48 Economias Industriais O crescimento da economia é fundamen- talmente impulsionado pela indústria em um estágio evolutivo que parte das ma- nufaturas tradicionais têxteis, de madeira e alimentos, transitando para as indús- trias de bens de consumo duráveis e, por fim, estabelecendo as indústrias pesadas de siderurgia, química e metalurgia. Economias de Serviços As economias desenvolvidas e aquelas com estágios de desenvolvimento avan- çados têm as atividades terciárias (de serviço e comércio) como aquelas
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