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precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em
caso de reprodução no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).
A Editora Forense passou a publicar esta obra a partir da 11.ª edição.
Capa: Danilo Oliveira
Foto: Ints Vikmanis/Shutterstock
■
■
■
Produção Digital: Equiretech
Fechamento desta edição: 08.11.2016
CIP – Brasil. Catalogação na fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Tartuce, Flávio
Direito  civil,  v.  2:  direito  das  obrigações  e  responsabilidade  civil  /  Flávio
Tartuce; 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
Bibliografia
ISBN 978­85­309­7408­4
1. Direito civil. 2. Obrigações (Direito). 3. Responsabilidade (Direito). I. Título. II.
Título: Direito das obrigações e responsabilidade civil.
07­3590. CDU: 347.4(81)
“A ti ó Passos,
querida, rica terra e florida,
na força da mocidade”
BENEDITO MUSTAFÉ
(Zé das Pronúncias)
in memoriam.
Poesia Cabocla
NOTA DO AUTOR À 12.A EDIÇÃO
O  ano  de  2016  foi muito  importante  para  esta  série  bibliográfica.  Com  o
secular  selo  da  Editora  Forense,  a  obra  passou  a  ser  ainda  mais  adotada  em
todos  os  níveis  do  ensino  jurídico  do  País,  multiplicando­se  as  citações  em
outros  trabalhos  e  em  decisões  judiciais.  Porém,  como  tenho  destacado  em
minhas falas, um dos grandes desafios em se escrever obras jurídicas no Brasil
neste  século  XXI  é  mantê­las  atualizadas.  E,  no  caso  desta  coleção,  uma  das
suas marcas é justamente a atualização legislativa, doutrinária e jurisprudencial.
Ciente  desse  desafio,  tivemos  muito  trabalho  no  ano  de  2016,
especialmente  nos  seus  últimos  meses,  pois  fomos  surpreendidos  por  duas
decisões  revolucionárias  do  Supremo  Tribunal  Federal,  com  grande  impacto
para esta coleção, especialmente para os Volumes 5 e 6, que  tratam do Direito
de Família e das Sucessões, respectivamente.
A  primeira  delas  é  o  acórdão  sobre  a  parentalidade  socioafetiva  e  a
multiparentalidade,  em  repercussão  geral,  prolatado  no  julgamento  do Recurso
Extraordinário  898.060/SC,  tendo  como  relator  o Ministro  Luiz  Fux,  julgado
em  21  de  setembro  de  2016  e  publicado  no  Informativo  n.  840  da  Corte.
Conforme a  tese  ali  firmada,  “a paternidade  socioafetiva,  declarada ou não  em
registro,  não  impede  o  reconhecimento  do  vínculo  de  filiação  concomitante,
baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”.
Antes disso, ao final de agosto de 2016, a mesma Corte Superior iniciou o
julgamento  sobre  a  inconstitucionalidade  do  art.  1.790  do  Código  Civil,  que
trata  da  sucessão  do  companheiro.  Já  com  sete  votos,  e  igualmente  com
repercussão  geral,  os  Ministros  concluíram  que  deve  haver  equiparação
sucessória  entre  o  casamento  e  a  união  estável,  reconhecendo  a
inconstitucionalidade  da  citada  norma  (STF,  Recurso  Extraordinário
878.694/MG,  Rel.  Min.  Luís  Roberto  Barroso,  j.  31.08.2016).  A  conclusão
prevalecente  foi  no  sentido  de  incluir  o  companheiro  no  rol  do  art.  1.829  do
Código  Civil,  ao  lado  do  cônjuge,  retirando­se  do  sistema  a  regra  específica
sobre  a  sucessão do  convivente. O  julgamento  ainda não  foi  encerrado,  pois  o
Ministro  Dias  Toffoli  pediu  vistas  dos  autos.  Porém,  esta  edição  da  coleção,
especialmente  os Volumes  5  e  6,  já  considera  a  tese  apontada  como  a  solução
definitiva,  sendo  a  tendência  a  equiparação  total  das  entidades  familiares,
inclusive para fins de Direito de Família e de Direito Contratual.
Além  dos  comentários  às  duas  impactantes  decisões  superiores,  a  Edição
2017  desta Coleção  de  Direito  Civil  traz  outras  novidades.  A  respeito  do  tão
comentado e criticado Estatuto da Pessoa com Deficiência, incluímos anotações
sobre  o  Projeto  de  Lei  757/2015,  em  trâmite  no  Senado  Federal,  que  tende  a
corrigir alguns equívocos da norma, especialmente em relação ao Novo CPC, e
que  conta  com  o  nosso  parecer  de  apoio  parcial.  Também  foram  incluídos
alguns julgados estaduais sobre o EPD, com reflexões iniciais interessantes.
Quanto  à  jurisprudência,  acrescentamos  os  principais  arestos  do  Superior
Tribunal de Justiça, publicados em seus Informativos. Como outra novidade de
relevo,  consolidamos  a  inclusão  das  ementas  publicadas  na  ferramenta
Jurisprudência  em  Teses,  do  Tribunal  da  Cidadania,  as  quais  têm  força
vinculativa pelo Novo CPC, aos advogados (art. 332) e aos juízes de primeira e
de segunda instância (art. 489).
Foram  também  inseridos  novos  julgamentos  estaduais  e  novas  obras
doutrinárias.  A  coleção  traz,  ainda,  reflexões  inéditas  deste  autor,  inclusive
sobre novas  tecnologias  e  sobre  fenômenos  jurídicos  atuais,  como o UBER,  a
responsabilidade  digital  e  o  testamento  afetivo.  Constam  alguns  institutos  e
conceitos do Direito alemão, pela afeição crescente que tenho encontrado com a
língua.  Entre  eles,  vale  conferir  a  inclusão  da  Nachfrist,  nos  conceitos
parcelares da boa­fé objetiva, no Volume 3.
Espero  que  esta  nova  versão  da  coleção  seja  bem  recebida  pelo  meio
jurídico  brasileiro,  a  exemplo  das  antecessoras,  e  que  continue  servindo  de
apoio  a  estudantes  de  Direito,  advogados,  procuradores,  julgadores  e
professores.
Gostaria,  por  fim,  de  agradecer  à  minha  família,  especialmente  à  minha
princesa  Leia  e  aos  meus  filhos  Enzo  e  Laís  (agora  estudante  de  Direito  na
tradicional  Universidade  Mackenzie).  Agradeço,  ainda,  aos  meus  alunos  de
todos  os  níveis  de  ensino  jurídico,  pelo  constante  aprendizado,  desde  a
graduação até o doutorado.
Minhas  palavras  derradeiras  de  gratidão  aos  meus  irmãos  civilistas,  que
compõem  a  Confraria  dos  Civilistas  Contemporâneos.  Os  debates  que
travamos nos últimos anos foram fundamentais para a atualização desta coleção.
Muito obrigado!
Vila Mariana, São Paulo, novembro de 2016.
1.
1.1
1.1.1
1.1.2
1.1.3
1.2
1.3
1.4
1.4.1
1.4.2
1.4.3
1.4.4
1.5
1.6
1.7
SUMÁRIO
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
A RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL E O CÓDIGO
CIVIL DE 2002
O conceito de obrigação e seus elementosconstitutivos
Elementos subjetivos da obrigação
Elemento objetivo ou material da obrigação
Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação
Diferenças conceituais entre obrigação, dever,
responsabilidade, ônus e estado de sujeição
As fontes obrigacionais no direito brasileiro
Os atos unilaterais como fontes do direito obrigacional
Da promessa de recompensa
Da gestão de negócios
Do pagamento indevido
Do enriquecimento sem causa
Dos títulos de crédito como fonte das obrigações civis.
Pequena abordagem
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 9
Flávio Tartuce
2.
2.1
2.2
2.2.1
2.2.1.1
2.2.1.2
2.2.2
2.2.3
2.3
2.3.1
2.3.2
2.3.3
2.3.3.1
2.3.3.2
2.3.3.3
2.3.3.4
2.4
2.5
2.6
2.7
2.8
2.9
2.10
2.11
2.12
2.13
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES
Introdução
Classificação quanto ao conteúdo do objeto obrigacional
Obrigação positiva de dar
Obrigação de dar coisa certa (arts. 233 a 242
do CC)
Obrigação de dar coisa incerta (arts. 243 a
246 do CC)
Obrigação positiva de fazer
Obrigação negativa de não fazer
Classificação quanto à presença de elementos obrigacionais
Considerações iniciais
Das obrigações compostas objetivas
Das obrigações compostas subjetivas. As obrigações
solidárias
Regras gerais
Da obrigação solidária ativa (arts. 267 a 274
do CC)
Da obrigação solidária passiva (arts. 275 a
285 do CC)
Da obrigação solidária mista ou recíproca
Classificação quanto à divisibilidade (ou indivisibilidade) do
objeto obrigacional
Classificação quanto ao conteúdo
Classificação quanto à liquidez
Classificação quanto à presença ou não de elemento acidental
Classificação quanto à dependência
Classificação quanto ao local para cumprimento
Classificação quanto ao momento para cumprimento
Outros conceitos importantes. Obrigação propter rem e
obrigação natural
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 10
Flávio Tartuce
3.
3.1
3.2
3.2.1
3.2.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
4.
4.1
4.2
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
4.9
4.10
4.11
4.12
4.13
5.
DO ADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL – TEORIA DO
PAGAMENTO (PRIMEIRA PARTE)
Introdução
Elementos subjetivos do pagamento direto. O solvens e o
accipiens
Do solvens ou “quem deve pagar”
Do accipiens ou “a quem se deve pagar”
Do objeto e da prova do pagamento direto (elementos
objetivos do pagamento direto)
Do lugar do pagamento direto
Do tempo do pagamento
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
DO ADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL – TEORIA DO
PAGAMENTO (SEGUNDA PARTE)
Introdução
Do pagamento em consignação (ou da consignação em
pagamento)
Da imputação do pagamento
Do pagamento com sub­rogação
Da dação em pagamento
Da novação
Da compensação
Da confusão
Da remissão de dívidas
Os novos tratamentos legais da transação e do compromisso
(arbitragem)
Da extinção da obrigação sem pagamento
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
DO INADIMPLEMENTOOBRIGACIONAL. DA
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 11
Flávio Tartuce
5.1
5.2
5.3
5.4
5.5
5.6
5.7
5.8
5.9
5.10
6.
6.1
6.2
6.3
6.4
6.5
6.6
6.7
7.
7.1
7.2
7.3
7.4
7.5
7.5.1
RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL
Conceitos iniciais
Da mora. Regras gerais
Da purgação da mora
Do inadimplemento absoluto da obrigação
Dos juros remuneratórios e moratórios
Da cláusula penal
Das arras ou sinal
Das preferências e privilégios creditórios
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
A TRANSMISSIBILIDADE DAS OBRIGAÇÕES NO CÓDIGO
CIVIL DE 2002. CESSÃO DE CRÉDITO, CESSÃO DE DÉBITO
E CESSÃO DE CONTRATO
Introdução
Da cessão de crédito
Espécies ou modalidades de cessão de crédito
Da cessão de débito ou assunção de dívida
Da cessão de contrato
Resumo esquemático
Questões correlatas
Gabarito
RESPONSABILIDADE CIVIL
APONTAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS
Breve esboço histórico da responsabilidade civil. Da
responsabilidade subjetiva à objetivação
A Responsabilidade Pressuposta
A responsabilidade civil e o Direito Civil Constitucional
O conceito de ato ilícito
O abuso de direito como ato ilícito
O art. 187 do CC. Conceito, exemplos e consequências
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 12
Flávio Tartuce
7.5.2
7.5.3
7.5.4
7.5.5
7.5.6
7.5.7
7.6
7.7
8.
8.1
8.2
8.3
8.3.1
8.3.2
8.4
8.5
8.5.1
8.5.2
8.5.2.1
8.5.2.2
8.5.2.3
8.5.2.4
8.5.3
práticas
A publicidade abusiva como abuso de direito
As práticas previstas no Código de Defesa do
Consumidor e o conceito do art. 187 do CC
O abuso de direito e o Direito do Trabalho
A lide temerária como exemplo de abuso de direito. O
abuso no processo
O abuso do direito de propriedade. A função
socioambiental da propriedade
Spam e abuso de direito
Resumo Esquemático
Questões correlatas
Gabarito
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL OU
PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR
Visão geral estrutural
Conduta humana como elemento da responsabilidade civil
A culpa genérica ou lato sensu
Do dolo
Da culpa estrita ou stricto sensu
O nexo de causalidade
Dano ou prejuízo
Danos patrimoniais ou materiais
Danos morais
Danos morais × transtornos. A perda do
tempo útil e o crescimento da tese da
responsabilidade civil sem dano
Danos morais da pessoa jurídica
Natureza jurídica da indenização por danos
morais
Critérios para a quantificação dos danos
morais. Algumas tentativas concretas
Os novos danos. Danos estéticos, danos por perda de
uma chance, danos morais coletivos e danos sociais ou
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 13
Flávio Tartuce
8.5.3.1
8.5.3.2
8.5.3.3
8.5.3.4
8.5.4
8.6
8.7
9.
9.1
9.2
9.3
9.3.1
9.3.2
9.3.2.1
9.3.2.2
9.3.2.3
difusos
Danos estéticos
Danos por perda de uma chance
Danos morais coletivos
Danos sociais ou difusos
Outras regras importantes quanto à fixação da
indenização previstas no Código Civil de 2002
Resumo Esquemático
Questões correlatas
Gabarito
CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL QUANTO
À CULPA. ANÁLISE DAS REGRAS DA RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA. LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE E
CÓDIGO CIVIL DE 2002
A responsabilidade civil subjetiva como regra do ordenamento
jurídico brasileiro
A responsabilidade civil objetiva. A cláusula geral do art. 927,
parágrafo único, do CC. Aplicações práticas do dispositivo
Principais casos de responsabilidade objetiva consagrados na
legislação especial
A responsabilidade objetiva do Estado
A responsabilidade civil no Código de Defesa do
Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor e a
adoção do Princípio da Reparação Integral de
Danos. O conceito de consumidor por
equiparação ou bystander
A relação de consumo e o princípio da
solidariedade (art. 7.º, parágrafo único, da
Lei 8.078/1990). Abordagem da
responsabilidade civil pelo vício do produto e
por fato do produto (defeito), pelo vício do
serviço e fato do serviço (defeito)
As excludentes de responsabilidade civil
previstas no Código de Defesa do
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 14
Flávio Tartuce
9.3.2.4
9.3.3
9.4
9.4.1
9.4.2
9.4.3
9.4.4
9.4.5
9.4.6
9.5
9.6
10.
10.1
10.2
10.2.1
10.2.2
10.2.3
10.2.4
10.2.5
10.3
Consumidor
Análise do art. 931 do CC e sua confrontação
em relação ao Código de Defesa do
Consumidor. A tese do diálogo das fontes
quanto à responsabilidade civil
A responsabilidade civil por danos ambientais
A responsabilidade objetiva no Código Civil de 2002. Regras
específicas
A responsabilidade civil objetiva por atos de terceiros
ou responsabilidade civil indireta
A responsabilidade civil objetiva por danos causados
por animal
A responsabilidade civil objetiva por danos causados
por prédios em ruína
A responsabilidade civil objetiva por danos oriundos de
coisas lançadas das casas
A responsabilidade civil objetiva em relação a dívidas
A responsabilidade civil objetiva no contrato de
transporte
Resumo Esquemático
Questões correlatas
Gabarito
EXCLUDENTES DO DEVER DE INDENIZAR,
RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE
CRIMINAL
Esclarecimentos necessários
Das excludentes do dever de indenizar
Da legítima defesa
Do estado de necessidade ou remoção de perigo
iminente
Do exercícioregular de direito ou das próprias funções
Das excludentes de nexo de causalidade
Da cláusula de não indenizar
Relação entre a responsabilidade civil e a responsabilidade
criminal
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 15
Flávio Tartuce
10.4
10.5
Resumo Esquemático
Questões correlatas
Gabarito
BIBLIOGRAFIA
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 16
Flávio Tartuce
DIREITO
DAS OBRIGAÇÕES
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 17
Flávio Tartuce
1.1
A RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL E O
CÓDIGO CIVIL DE 2002
Conceitos iniciais
Sumário:  1.1  O  conceito  de  obrigação  e  seus  elementos  constitutivos:
1.1.1  Elementos  subjetivos  da  obrigação;  1.1.2  Elemento  objetivo  ou
material  da  obrigação;  1.1.3  Elemento  imaterial,  virtual  ou  espiritual  da
obrigação  –  1.2  Diferenças  conceituais  entre  obrigação,  dever,
responsabilidade, ônus e estado de sujeição – 1.3 As fontes obrigacionais
no  direito  brasileiro  –  1.4  Os  atos  unilaterais  como  fontes  do  direito
obrigacional:  1.4.1  Da  promessa  de  recompensa;  1.4.2  Da  gestão  de
negócios;  1.4.3  Do  pagamento  indevido;  1.4.4  Do  enriquecimento  sem
causa  –  1.5  Dos  títulos  de  crédito  como  fonte  das  obrigações  civis.
Pequena abordagem – 1.6 Resumo esquemático – 1.7 Questões correlatas
– Gabarito.
O CONCEITO DE OBRIGAÇÃO E SEUS
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
Conforme  comentado  em  poucas  linhas  no  primeiro  volume  da  presente
coleção,  tanto  a  obrigação  quanto  o  contrato  assumem hoje  o  ponto  central  do
Direito  Privado,  sendo  apontados  por  muitos  juristas  como  os  institutos
jurídicos mais importantes de todo o Direito Civil. O presente autor compartilha
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 18
Flávio Tartuce
dessa forma de pensar.
Entretanto,  para  a  compreensão dessas  figuras negociais,  é  imprescindível
que  o  estudioso  e  aplicador  do  direito  domine  os  conceitos  básicos  que
decorrem da relação jurídica obrigacional, matéria que muitas vezes é relegada a
segundo  plano,  supostamente  por  não  ter  grande  aplicação  prática,  o  que
constitui,  na  verdade,  um  erro  imperdoável.  Talvez  até  por  essa  importância  é
que  a  teoria  geral  das  obrigações  é  o  primeiro  tema  a  ser  tratado  pela  parte
especial da codificação, entre os seus arts. 233 a 420.
Na  realidade,  os  pontos  que  serão  a  partir  de  agora  abordados  não
interessam somente ao Direito Contratual ou Obrigacional, mas também à teoria
geral da responsabilidade civil – matéria com grande aplicação nos dias atuais –,
ao Direito de Empresa  e mesmo ao Direito de Família,  diante das questões de
direito  patrimonial  relativas  às  entidades  familiares.  No  tocante  a  essa  última
esfera,  está  analisada  no  Volume  5  da  coleção  a  crescente  interação  entre  o
direito  familiar  e  a  responsabilidade  civil  por  danos.  Também  quanto  àquela
divisão  básica  entre  direitos  pessoais  patrimoniais  e  direitos  reais,  o  direito
obrigacional funciona como cerne principal dos primeiros.
Visando  incentivar  a  admiração  da matéria  que  será  aqui  estudada,  o  que
muitas vezes não ocorre, merecem transcrição as palavras de Fernando Noronha,
que ressalta a importância prática do direito obrigacional:
“Depois do que se disse sobre a importância social das obrigações, não
é  preciso  acrescentar  muita  coisa  para  enfatizar  o  alto  relevo  prático  da
nossa matéria.
As  normas  do  Direito  das  Obrigações  são  de  longe  aquelas  aplicadas
com  mais  frequência,  e  em  maior  quantidade,  tanto  nas  relações  diárias
entre homens como na atividade judicial.
É possível conceber­se a hipótese de uma pessoa viver uma vida inteira
sem necessidade de conhecer o Direito das Sucessões, ou a maior parte do
Direito  de  Família  (casamento,  regimes  de  bem…),  ou  até  as  partes mais
significativas  do Direito  das Coisas. Mas  não  é  possível  viver  à margem
daquelas  atividades  do  dia  a  dia  regidas  pelo  Direito  das  Obrigações”
(Direito…, 2003, p. 92).
Superada  essa mensagem de  incentivo  aos  estudos,  interessante delinear o
conceito de obrigação, que não consta do Código Civil, sendo  importantíssimo
buscar uma construção doutrinária do instituto.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 19
Flávio Tartuce
a)
b)
c)
Álvaro  Villaça  Azevedo,  investigando  um  conceito  contemporâneo  de
obrigação,  ensina  que  “obrigação  é  a  relação  jurídica  transitória,  de  natureza
econômica,  pela  qual  o  devedor  fica  vinculado  ao  credor,  devendo  cumprir
determinada  prestação  positiva  ou  negativa,  cujo  inadimplemento  enseja  a  este
executar o patrimônio daquele para a satisfação de seu  interesse”  (AZEVEDO,
Álvaro Villaça. Teoria…, 2000, p. 31). Como se pode perceber, o Professor das
Arcadas  valoriza  o  aspecto  das  consequências  do  seu  inadimplemento,  o  que
está na mente das partes quando a obrigação é constituída.
Ainda entre os contemporâneos, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho  conceituam  a  obrigação,  em  sentido  amplo,  como  sendo  a  “relação
jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir,
espontânea  ou  coativamente,  uma  prestação  patrimonial  em  proveito  da  outra
(credor)”  (GAGLIANO,  Pablo  Stolze;  PAMPLONA  FILHO,  Rodolfo.  Novo
curso…, 2003, p. 17).
Na versão clássica, para Washington de Barros Monteiro a obrigação pode
ser  conceituada  como  “a  relação  jurídica,  de  caráter  transitório,  estabelecida
entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica,
positiva  ou  negativa,  devida  pelo  primeiro  ao  segundo,  garantindo­lhe  o
adimplemento  através  de  seu  patrimônio”  (MONTEIRO,  Washington  de
Barros. Curso…, 1979, p. 8).
Reunindo todos os pareceres expostos, sem prejuízo de outros, conceitua­se
a  obrigação  como  sendo  a  relação  jurídica  transitória,  existente  entre  um
sujeito  ativo,  denominado  credor,  e  outro  sujeito  passivo,  o  devedor,  e  cujo
objeto  consiste  em  uma  prestação  situada  no  âmbito  dos  direitos  pessoais,
positiva  ou  negativa.  Havendo  o  descumprimento  ou  inadimplemento
obrigacional, poderá o credor satisfazer­se no patrimônio do devedor.
Desse modo,  de  acordo  com  essa  construção,  são  elementos  constitutivos
da obrigação:
elementos  subjetivos:  o  credor  (sujeito  ativo)  e  o  devedor
(sujeito passivo);
elemento objetivo imediato: a prestação;
elemento  imaterial,  virtual  ou  espiritual:  o  vínculo  existente
entre as partes.
Não  se  pode  afastar  a  constante  influência  que  exercem  os  princípios  da
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 20
Flávio Tartuce
eticidade  e  da  socialidade  sobre  o  direito  obrigacional.  Por  diversas  vezes,  no
presente volume, serão invocadas a função social da obrigação e dos contratos e
a  boa­fé  objetiva,  princípios  estes  relacionados  com  a  concepção  social  da
obrigação  e  com  a  conduta  leal  dos  sujeitos  obrigacionais.  Será  demonstrado
que  essa  nova  visualização  é  indeclinável,  o  que  vem  ocorrendo  na  melhor
doutrina e em inúmeros julgados.
No que concerne à função social das obrigações, Fernando Noronha elenca
as mesmas em três categorias: obrigações negociais, de responsabilidade civil e
de enriquecimento sem causa, destacando que “na atual sociedade de massas se
exige  uma  acrescida  proteção,  em  nome  da  justiça  social,  daqueles  interesses
que  aglutinam  grandes  conjuntos  de  cidadãos”  (NORONHA,  Fernando.
Direito…,  2003  p.  32).  Quanto  à  boa­fé  objetiva,  Judith Martins­Costa  prega
uma nova metodologia quanto ao direito das obrigações e uma nova construção
da  relação  obrigacional  que  deve  ser  tida  como  uma  relação  de  cooperação
(MARTINS­COSTA, Judith. Comentários…, 2004, p. 4 a 30).
Nesse  contexto,  Nelson  Rosenvald  sintetiza  muito  bem  como  deve  ser
encarada a obrigaçãoatualmente:
“A obrigação  deve  ser  vista  como uma  relação  complexa,  formada  por
um  conjunto  de  direitos,  obrigações  e  situações  jurídicas,  compreendendo
uma  série  de  deveres  de  prestação,  direitos  formativos  e  outras  situações
jurídicas.  A  obrigação  é  tida  como  um  processo  –  uma  série  de  atos
relacionados entre si –, que desde o início se encaminha a uma finalidade: a
satisfação do  interesse na prestação. Hodiernamente, não mais prevalece o
status  formal  das  partes,  mas  a  finalidade  à  qual  se  dirige  a  relação
dinâmica. Para além da perspectiva tradicional de subordinação do devedor
ao  credor  existe  o  bem  comum  da  relação  obrigacional,  voltado  para  o
adimplemento,  da  forma  mais  satisfativa  ao  credor  e  menos  onerosa  ao
devedor.  O  bem  comum  na  relação  obrigacional  traduz  a  solidariedade
mediante  a  cooperação  dos  indivíduos  para  a  satisfação  dos  interesses
patrimoniais  recíprocos,  sem  comprometimento  dos  direitos  da
personalidade e da dignidade do credor e devedor” (ROSENVALD, Nelson.
Dignidade…, 2005, p. 204).
Quando  o  doutrinador  faz  menção  à  obrigação  como  um  processo,  está
fazendo referência ao trabalho de Clóvis do Couto e Silva. Esse autor, inspirado
na doutrina alemã, ensina que a obrigação deve ser encarada como um processo
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 21
Flávio Tartuce
1.1.1
a)
b)
de colaboração contínua e efetiva entre as partes (A obrigação…, 1976).
Deixando  consignada  qual  a  linha  metodológica  que  seguirá  o  trabalho,
parte­se ao estudo específico e aprofundado dos elementos da obrigação.
Elementos subjetivos da obrigação
Trata­se  dos  elementos  pessoais,  os  sujeitos  ou  pessoas  envolvidas  na
relação jurídica obrigacional, a saber:
Sujeito ativo – é o beneficiário da obrigação, podendo ser uma
pessoa natural ou jurídica ou, ainda, um ente despersonalizado a quem
a  prestação  é  devida.  É  denominado  credor,  sendo  aquele  que  tem  o
direito de exigir o cumprimento da obrigação.
Sujeito passivo – é aquele que assume um dever, na ótica civil,
de  cumprir  o  conteúdo da obrigação,  sob pena de  responder  com seu
patrimônio.  É  denominado  devedor.  Recomenda­se  a  utilização  da
expressão  deveres  que  consta  do  art.  1.º  do  atual  Código  Civil,  em
detrimento do termo obrigações, previsto no art. 2.º do CC/1916 e que
está  superado.  Prevê  o  dispositivo  do  Código  de  2002  que  “toda
pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”.
Interessante deixar  claro que,  na  atualidade,  dificilmente  alguém assume a
posição  isolada de credor ou devedor em uma  relação  jurídica. Na maioria das
vezes, as partes são, ao mesmo tempo, credoras e devedoras entre si, presente a
proporcionalidade  de  prestações  denominada  sinalagma,  como  ocorre  no
contrato  de  compra  e  venda.  Tal  estrutura  também  é  denominada  relação
jurídica  obrigacional  complexa,  constituindo  a  base  do  negócio  jurídico
relacionada com a obrigação. O esquema a seguir demonstra muito bem como é
a estrutura do sinalagma obrigacional.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 22
Flávio Tartuce
1.1.2
Como se pode verificar, o desenho tem um formato geométrico retangular,
a  conduzir  a  um  ponto  de  equilíbrio.  De  fato,  o  sinalagma  é  um  todo
equilibrado,  e  sendo  quebrado,  justifica­se  a  ineficácia  ou  a  revisão  da
obrigação.  A  quebra  do  sinalagma  é  tida  como  geradora  da  onerosidade
excessiva, do desequilíbrio negocial, como um efeito gangorra.
Elemento objetivo ou material da obrigação
Aqui,  trata­se do conteúdo da obrigação. O objeto  imediato da obrigação,
perceptível de plano, é a prestação, que pode ser positiva ou negativa. Sendo a
obrigação  positiva,  ela  terá  como  conteúdo  o  dever  de  entregar  coisa  certa  ou
incerta (obrigação de dar) ou o dever de cumprir determinada  tarefa (obrigação
de  fazer).  Sendo  a  obrigação negativa,  o  conteúdo  é  uma  abstenção  (obrigação
de não fazer). Na definição de Antunes Varela, jurista português:
“A  prestação  consiste,  em  regra,  numa  actividade  ou  numa  acção  do
devedor  (entregar  uma  coisa,  realizar  uma  obra,  patrocinar  alguém  numa
causa,  transportar  alguns móveis,  transmitir  um crédito,  dar  certo  número
de lições, etc.). Mas também pode consistir numa abstenção, permissão ou
omissão  (obrigação  de  não  abrir  estabelecimentos  de  certo  ramo  do
comércio  na mesma  rua ou na mesma  localidade;  obrigação de não usar  a
coisa  recebida  em  depósito;  obrigação  de  não  fazer  escavações  que
provoquem o  desmoronamento  do  prédio  vizinho). A  prestação  é  o  fulcro
da  obrigação,  é  o  seu  alvo  prático.  Distingue­se  do  dever  geral  de
abstenção  próprio dos direitos  reais,  porque o dever  jurídico de prestar  é
um dever específico  (que apenas atinge o devedor), enquanto o dever geral
de  abstenção  é  um  dever  genérico,  que  abrange  todos  os  não  titulares  do
direito (real ou de personalidade)” (ANTUNES VARELA, João de Matos.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 23
Flávio Tartuce
Das obrigações…, 2005, v. 1, p. 78­79).
Ato contínuo de estudo, percebe­se que objeto mediato da obrigação  pode
ser  uma  coisa  ou  uma  tarefa  a  ser  desempenhada,  positiva  ou  negativamente.
Como exemplo de objeto mediato da obrigação, pode ser citado um automóvel
ou  uma  casa  em  relação  a  um  contrato  de  compra  e  venda.  Esse  também  é  o
objeto  imediato  da  prestação.  Alguns  doutrinadores  apontam  que  o  objeto
mediato da obrigação ou objeto imediato da prestação é o bem jurídico  tutelado
ou o próprio bem da vida posto em circulação, entendimento esse que também é
bastante plausível (GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo.
Novo curso…, 2004, p. 21­22).
Com certeza,  a  leitura dos  trechos acima causou uma  tempestade cerebral,
um brain storm,  como se diria nos meios publicitários. Ora, um dos objetivos
da  presente  coleção  é  esclarecer,  didaticamente,  os  institutos  privados,  razão
pela qual pode ser concebido o esquema a seguir:
Imagine­se  que  o  desenho  representa  uma  piscina:  a  obrigação.  Na  parte
rasa, está o elemento imediato dessa obrigação: a prestação; e, no fundo, está o
seu elemento mediato, que é a coisa, tarefa ou abstenção. Pois bem, o elemento
mediato  da  obrigação  é  o  elemento  imediato  da  prestação,  o  que  pode  ser
facilmente percebido pelo esquema.
Visando  facilitar  a  compreensão  do  assunto,  é  interessante mais  uma  vez
transcrever as elucidativas palavras de Fernando Noronha:
“O  credor  tem  em  primeira  linha  o  direito  de  exigir  uma  ação  ou
omissão  do  devedor,  mas  aquilo  que  está  verdadeiramente  interessado  é
algo que está para além dela,  embora em princípio  só possa  ser  alcançado
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Flávio Tartuce
a)
b)
c)
através da atuação do devedor. Por  isso, é necessário  ter presente que se a
obrigação  tem um objeto,  que  é  a prestação debitória,  esta,  por  seu  turno,
também  terá  um  objeto,  que  é  a  coisa  a  ser  entregue,  ou  o  fato  (ação  ou
omissão) que deve ser realizado. Portanto, o verdadeiro objeto da obrigação
é a prestação debitória, mas esta é apenas a conduta do devedor. A coisa ou
o  fato  (ação  ou  omissão)  a  que  a  conduta  diz  respeito  são  objeto  da
prestação debitória. Como se vê, é preciso distinguir a conduta exigível do
devedor,  da  coisa  ou  do  fato  em  que  o  credor  está  verdadeiramente
interessado; todavia, se a coisa a ser entregue ou o fato a ser realizado são
objeto da prestação debitória, eles também são objeto da própria obrigação.
Daí  que  se  possa  dizer  que  são  dois  os  objetos  da  obrigação:  a  prestação
debitória  será  seu  objeto  direto,  ou  imediato;  a  coisa  ou  o  fato  a  serem
prestados (objeto da prestação) será o seu objeto simplesmente indireto, ou
mediato”(NORONHA, Fernando. Direito…, 2003, p. 36).
Pois  bem,  para  que  a  obrigação  seja  válida  no  âmbito  jurídico,  todos  os
elementos mencionados,  incluindo  a  prestação  e  seu  objeto,  devem  ser  lícitos,
possíveis (física e juridicamente), determinados ou pelo menos determináveis e,
por fim, ter forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104 do CC). A obrigação
em  si,  para  ter  validade,  deve  ser  também  economicamente  apreciável.  A
violação dessas regras gera a nulidade da relação obrigacional, sendo aplicado o
art. 166 do CC/2002.
Para  encerrar  o  tópico,  é  interessante  expor  as  quatro  características
fundamentais  da  obrigação  retiradas  da  análise  dos  seus  elementos,  apontadas
pelo  Professor  Catedrático  da  Universidade  de  Lisboa  Menezes  Leitão
(MENEZES  LEITÃO,  Luis  Manuel  Telles  de. Direito…,  2006,  v.  I,  p.  91­
101):
A  patrimonialidade  –  pois  a  obrigação  deve  ser  avaliável  em
dinheiro ou em valor (conteúdo econômico).
A mediação ou colaboração devida – uma vez “que o credor não
pode  exercer  directa  e  imediamente  o  seu  direito,  necessitando  da
colaboração  do  devedor  para  obter  a  satisfação  do  seu  interesse”
(MENEZES  LEITÃO,  Luis  Manuel  Telles  de. Direito…,  2006,  p.
94).
A relatividade – eis que a relação jurídica é estabelecida e gera
efeitos entre os seus participantes.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 25
Flávio Tartuce
d)
1.1.3
a)
b)
A autonomia – pela existência de uma disciplina própria dentro do
Direito Civil, qual seja o Direito das Obrigações.
No  que  concerne  à  patrimonialidade,  insta  verificar  que  há  uma  tendência
no Direito Civil Contemporâneo em associar o conteúdo da obrigação a valores
existenciais  relativos  à  dignidade  humana  (personalização).  Assim  são  os
contratos  que  trazem  como  conteúdo  valores  como  a  saúde  e  a  moradia,
protegidos  pela  Constituição  Federal  de  1988  (art.  6.º).  Por  isso,  o
descumprimento da obrigação pode gerar danos morais, na esteira do Enunciado
n.  411,  aprovado  na  V  Jornada  de  Direito  Civil,  realizada  pelo  Conselho  da
Justiça  Federal  em  novembro  de  2011.  O  tema  ainda  será  aprofundado  em
capítulo próprio, dedicado à responsabilidade civil.
Elemento imaterial, virtual ou espiritual da
obrigação
O  elemento  em  questão  é  o  vínculo  jurídico  existente  na  relação
obrigacional,  ou  seja,  é  o  elo  que  sujeita  o  devedor  à  determinada  prestação  –
positiva ou negativa –, em favor do credor, constituindo o  liame  legal que une
as partes envolvidas.
A  melhor  expressão  desse  vínculo  está  estabelecida  no  art.  391  do
CC/2002, com a previsão segundo a qual todos os bens do devedor respondem
no caso de inadimplemento da obrigação. Esse dispositivo consagra o princípio
da responsabilidade  patrimonial  do  devedor,  sendo  certo  que  prisão  civil  por
dívidas não constitui regra de nosso ordenamento jurídico, mas exceção. Como
se  sabe,  a  prisão  civil  somente  seria  possível  em  duas  hipóteses,  conforme
prevê literalmente o art. 5.º, LXVII, da Constituição Federal:
nos  casos  de  inadimplemento  voluntário  e  inescusável  de
obrigação alimentícia;
nos casos envolvendo o depositário infiel. Quanto a esse caso,
houve uma mudança substancial diante da Emenda Constitucional 45.
Essas  duas  hipóteses  estão  comentadas  em  tópicos  específicos,  nos
volumes desta coleção que tratam do Direito Contratual, do Direito das Coisas e
do Direito de Família.
Destaque­se,  todavia,  que  o  Supremo  Tribunal  Federal  afastou  a
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 26
Flávio Tartuce
possibilidade de prisão por dívida do depositário infiel, havendo depósito típico,
atípico ou  judicial. A conclusão girou  em  torno da Emenda Constitucional  45,
que deu aos tratados internacionais de direitos humanos o status constitucional,
ou supralegal. É cediço que o Brasil é signatário da Convenção Interamericana
de Direitos Humanos  (Pacto  de  São  José  da Costa Rica),  que  proíbe  a  prisão
civil  por  descumprimento  contratual,  não  sendo  a  prisão  civil  no  depósito
compatível  com  a  realidade  constitucional  brasileira.  Um  dos  principais
precedentes assim foi publicado no Informativo n. 531 do STF, de dezembro de
2008:
“Em conclusão de  julgamento,  o Tribunal  concedeu habeas corpus  em
que  se  questionava  a  legitimidade  da  ordem  de  prisão,  por  60  dias,
decretada em desfavor do paciente que,  intimado a entregar o bem do qual
depositário,  não  adimplira  a  obrigação  contratual  –  v.  Informativos  471,
477  e  498.  Entendeu­se  que  a  circunstância  de  o Brasil  haver  subscrito  o
Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida ao
descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7.º, 7), conduz à
inexistência  de  balizas  visando  à  eficácia  do  que  previsto  no  art.  5.º,
LXVII, da CF (‘não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo  inadimplemento voluntário  e  inescusável de obrigação alimentícia  e  a
do  depositário  infiel’).  Concluiu­se,  assim,  que,  com  a  introdução  do
aludido  Pacto  no  ordenamento  jurídico  nacional,  restaram  derrogadas  as
normas  estritamente  legais  definidoras  da  custódia  do  depositário  infiel.
Prevaleceu, no  julgamento, por fim, a  tese do status de supralegalidade da
referida  Convenção,  inicialmente  defendida  pelo Min.  Gilmar Mendes  no
julgamento  do  RE  466.343/SP,  abaixo  relatado.  Vencidos,  no  ponto,  os
Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau, que a
ela  davam  a  qualificação  constitucional,  perfilhando  o  entendimento
expendido  pelo  primeiro  no  voto  que  proferira  nesse  recurso.  O  Min.
Marco  Aurélio,  relativamente  a  essa  questão,  se  absteve  de
pronunciamento”  (STF,  HC  87.585/TO,  Rel.  Min.  Marco  Aurélio,
03.12.2008).
Mais  recentemente,  o  próprio  Supremo Tribunal  Federal  editou  a  Súmula
Vinculante  25,  expressando  que  “É  ilícita  a  prisão  civil  de  depositário  infiel,
qualquer que seja a modalidade do depósito”.
Cumpre  esclarecer  que  o  art.  391  do  CC,  quando  analisado  em  conjunto
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 27
Flávio Tartuce
com  os  arts.  389  e  390,  consagra  a  responsabilidade  civil  contratual  ou
negocial,  presente  nos  casos  em  que  uma  obrigação  assumida  por  uma  das
partes não é cumprida. O art. 389 deve ser aplicado para os casos de obrigação
positiva  (dar  e  fazer),  enquanto  o  art.  390  para  aqueles  envolvendo  obrigação
negativa  (não  fazer).  No  plano  técnico,  para  denotar  a  responsabilidade  civil
contratual, não devem ser utilizados os arts. 186 e 927 da codificação material
vigente,  pois  tais  comandos  legais  fundamentam  a  responsabilidade  civil
extracontratual  ou  aquiliana,  que  será  objeto  de  estudo  ainda  no  presente
volume  da  coleção.  Ainda  prevalece,  na  doutrina,  a  visão  clássica  de  divisão
dualista  da  responsabilidade  civil,  em  responsabilidade  contratual  e
extracontratual.  Adverte­se,  contudo,  que  a  tendência  é  a  unificação  do  tema,
como ocorreu com o Código de Defesa do Consumidor, que não consagrou essa
divisão.
No que concerne à redação do art. 391 do CC, é preciso um esclarecimento
importante.  Isso  porque  prevê  o  dispositivo  que  “Pelo  inadimplemento  das
obrigações  respondem  todos  os  bens  do  devedor”  (destacamos).  Ora,  o
dispositivo enuncia expressamente a responsabilidade integral de todos os bens
do  devedor.  Entretanto,  como  é  notório,  existem  alguns  bens  do  devedor  que
estão  protegidos,  particularmente  aqueles  reconhecidos  como  impenhoráveis.
Melhor era, portanto, a redação do art. 591 do CPC/1973, pela qual “O devedor
responde,  para  o  cumprimento  de  suas  obrigações,  com  todos  os  seus  bens
presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. O dispositivofoi
repetido pelo art. 789 do CPC/2015, seu correspondente, in verbis: “O devedor
responde  com  todos  os  seus  bens  presentes  e  futuros  para  o  cumprimento  de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”.
Primeiramente,  pode  ser  citado  o  bem de  família,  com dupla  proteção  em
nosso  sistema, eis que o Código Civil protege o bem de  família voluntário ou
convencional (arts. 1.711 a 1.722), enquanto a Lei 8.009/1990 ampara o bem de
família legal.
Ademais, o Código de Processo Civil de 1973, em seu art. 649, dispositivo
devidamente  alterado  pela  Lei  11.382/2006,  consagrava  os  bens  que  eram
considerados  absolutamente  impenhoráveis.  O  art.  833  do  Novo  Código  de
Processo Civil, seu correspondente, retirou a expressão absolutamente, em claro
sentido  de  abrandamento.  Vejamos  a  confrontação  entre  os  dois  preceitos
instrumentais:
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 28
Flávio Tartuce
Novo Código de Processo Civil Código de Processo Civil anterior
Art. 833. São impenhoráveis: Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato
voluntário, não sujeitos à execução;
I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato
voluntário, não sujeitos à execução;
II – os móveis, os pertences e as utilidades
domésticas que guarnecem a residência do
executado, salvo os de elevado valor ou os que
ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida;
II – os móveis, pertences e utilidades domésticas que
guarnecem a residência do executado, salvo os de
elevado valor ou que ultrapassem as necessidades
comuns correspondentes a um médio padrão de
vida;
III – os vestuários, bem como os pertences de uso
pessoal do executado, salvo se de elevado valor;
III – os vestuários, bem como os pertences de uso
pessoal do executado, salvo se de elevado valor;
IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os
salários, as remunerações, os proventos de
aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os
montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento
do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o § 2.º;
IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, pensões,
pecúlios e montepios; as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3.º deste artigo;
V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os
utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis
necessários ou úteis ao exercício da profissão do
executado;
V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os
utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis
necessários ou úteis ao exercício de qualquer
profissão;
VI – o seguro de vida; VI – o seguro de vida;
VII – os materiais necessários para obras em
andamento, salvo se essas forem penhoradas;
VII – os materiais necessários para obras em
andamento, salvo se essas forem penhoradas;
VIII – a pequena propriedade rural, assim definida
em lei, desde que trabalhada pela família;
VIII – a pequena propriedade rural, assim definida
em lei, desde que trabalhada pela família;
IX – os recursos públicos recebidos por instituições
privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social;
IX – os recursos públicos recebidos por instituições
privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social;
X – a quantia depositada em caderneta de
poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários
mínimos;
X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a
quantia depositada em caderneta de poupança.
XI – os recursos públicos do fundo partidário
recebidos por partido político, nos termos da lei;
XI – os recursos públicos do fundo partidário
recebidos, nos termos da lei, por partido político.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 29
Flávio Tartuce
XII – os créditos oriundos de alienação de unidades
imobiliárias, sob regime de incorporação
imobiliária, vinculados à execução da obra.
 
§ 1.º A impenhorabilidade não é oponível à
execução de dívida relativa ao próprio bem,
inclusive àquela contraída para sua aquisição.
§ 1.º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança
do crédito concedido para a aquisição do próprio
bem.
§ 2.º O disposto nos incisos IV e X do caput não se
aplica à hipótese de penhora para pagamento de
prestação alimentícia, independentemente de sua
origem, bem como às importâncias excedentes a
50 (cinquenta) salários mínimos mensais, devendo
a constrição observar o disposto no art. 528, § 8.º, e
no art. 529, § 3.º.
§ 2.º O disposto no inciso IV do caput deste artigo
não se aplica no caso de penhora para pagamento de
prestação alimentícia.
§ 3.º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no
inciso V do caput os equipamentos, os
implementos e as máquinas agrícolas pertencentes
a pessoa física ou a empresa individual produtora
rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto
de financiamento e estejam vinculados em
garantia a negócio jurídico ou quando respondam
por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou
previdenciária.
§ 3.º (Vetado).
Alguns comentários devem ser feitos sobre tal confrontação. De início, das
alterações  incluídas  no CPC/1973, merece  destaque  o  inciso  que  protege,  pelo
manto da  impenhorabilidade, os valores depositados em caderneta de poupança
até  o  limite  de  quarenta  salários  mínimos  (art.  649,  X,  do  CPC/1973,
correspondente ao art. 833, X, do CPC/2015).
O dispositivo está inspirado na ideia de manutenção do mínimo patrimonial
para  que  a  pessoa  viva  com  dignidade,  de  acordo  com  o  estatuto  jurídico  do
patrimônio mínimo, do Ministro do STF e doutrinador Luiz Edson Fachin. De
qualquer  forma, espera­se que esse comando  legal não seja utilizado de má­fé,
com fins fraudulentos.
A  propósito  do  conteúdo  desse  comando,  julgou  a  Terceira  Turma  do
Superior  Tribunal  de  Justiça  no  Recurso  Especial  1.330.567/RS,  de  maio  de
2013, que “o art. 649, X, do CPC, não admite interpretação extensiva, de modo
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 30
Flávio Tartuce
a  abarcar  outras  modalidades  de  aplicação  financeira,  de  maior  risco  e
rentabilidade,  que  não  detêm  o  caráter  alimentício  da  caderneta  de  poupança,
sendo  voltado  o  artigo  para  valores  mais  expressivos  e/ou  menos
comprometidos, destacados daqueles vinculados à subsistência mensal do titular
e  sua  família.  Essas  aplicações  visam  necessidades  e  interesses  de  menor
preeminência  (ainda  que  de  elevada  importância),  como  aquisição  de  bens
duráveis, inclusive imóveis, ou uma previdência informal (não oficial) de longo
prazo. Mesmo aplicações em poupança em valor mais elevado perdem o caráter
alimentício,  tanto  que  o  benefício  da  impenhorabilidade  foi  limitado  a  40
salários  mínimos  e  o  próprio  Fundo  Garantidor  de  Crédito  assegura  proteção
apenas  até  o  limite  de  R$  70.000,00  por  pessoa.  Essa  sistemática  legal  não
ignora  a  existência  de  pessoas  cuja  remuneração  possui  periodicidade  e  valor
incertos,  como  é  o  caso  de  autônomos  e  comissionados.  Esses  podem  ter  que
sobreviver por vários meses com uma verba, de natureza alimentar, recebida de
uma  única  vez,  sendo  justo  e  razoável  que  apliquem  o  dinheiro  para
resguardarem­se  das  perdas  inflacionárias.  Todavia,  a  proteção  legal  conferida
às verbas de natureza alimentar impõe que, para manterem essa natureza, sejam
aplicadas em caderneta de poupança, até o limite de 40 salários mínimos, o que
permite ao titular e sua família uma subsistência digna por um prazo razoável de
tempo”.
E  arremata  a  relatora,  Ministra  Nancy  Andrighi,  analisando  a  ideia  de
patrimônio  mínimo,  seguida  por  este  autor:  “valores  mais  expressivos,
superiores  aos  40  saláriosmínimos,  não  foram  contemplados  pela
impenhorabilidade fixada pelo legislador, até para que possam, efetivamente, vir
a  ser  objeto  de  constrição,  impedindo  que  o  devedor  abuse  do  benefício  legal,
escudando­se  na  proteção  conferida  às  verbas  de  natureza  alimentar  para  se
esquivar  do  cumprimento  de  suas  obrigações,  a  despeito  de  possuir  condição
financeira  para  tanto.  O  que  se  quis  assegurar  com  a  impenhorabilidade  de
verbas alimentares foi a sobrevivência digna do devedor e não a manutenção de
um padrão de vida acima das suas condições, às custas do devedor” (STJ, REsp
1.330.567/RS,  Rel.  Min.  Nancy  Andrighi,  3.ª  Turma,  j.  16.05.2013,  DJe
27.05.2013).
Seguindo  no  estudo  da  confrontação  dos  dois  dispositivos  processuais,
nota­se  a  inclusão,  entre  os  bens  impenhoráveis,  dos  créditos  oriundos  de
alienação  de  unidades  imobiliárias,  sob  regime  de  incorporação  imobiliária,
vinculados  à  execução  da  obra  (art.  833,  XI,  do  CPC/2015).  A  norma  visa
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 31
Flávio Tartuce
claramente à tutela da moradia, extraída do art. 6.º da CF/1988.
Ademais, merece ser comentada a alteração constante do art. 833, § 2.º, do
Estatuto  Processual  emergente.  Nos  termos  desse  comando,  observa­se,
inicialmente, a possibilidade de penhora de salários, remunerações e pensões em
geral  e  da  quantia  depositada  em  caderneta  de  poupança,  no  que  exceder  até  o
limite  de  cinquenta  salários mínimos mensais. Além  disso,  cabe  a  penhora  de
tais  montantes  nos  casos  que  visam  a  satisfação  da  obrigação  alimentar  de
natureza familial, não importando o seu valor.
No  sistema  anterior,  as  verbas  alimentares  tinham  o  condão  de  quebrar  a
proteção  das  rendas,  nos  termos  do  que  estava  no  §  2.º  do  art.  649  do
CPC/1973.  Todavia,  houve  a  inserção  também  da  quebra  dos  valores
depositados em caderneta de poupança em até quarenta salários mínimos. Com
isso,  a  obrigação  de  prestar  alimentos  ganha  uma  qualificação  ainda  mais
especial, ressaltando o seu caráter sui generis, observado por praticamente todos
os civilistas. O tempo e a prática demonstrarão se a inovação veio em boa hora
ou não.
Por fim, igualmente uma novidade, o § 3.º do art. 833 do CPC/2015 passou
a  estabelecer  que  se  incluem  na  impenhorabilidade  prevista  no  comando  os
equipamentos,  os  implementos  e  as  máquinas  agrícolas  pertencentes  a  pessoa
física  ou  a  empresa  individual  produtora  rural.  A  regra  da  impenhorabilidade,
pelo  mesmo  artigo,  não  se  aplica  quando  tais  bens  tenham  sido  objeto  de
financiamento  e  estejam  vinculados  em  garantia  a  negócio  jurídico  ou  quando
respondam  por  dívida  de  natureza  alimentar,  trabalhista  ou  previdenciária.
Como se nota, a norma tem claro intuito de proteger a atividade agrária.
Ainda quanto ao elemento imaterial obrigacional, deve­se compreender que
está  superada  a  teoria  monista  ou  unitária  da  obrigação,  pela  qual  essa  seria
consubstanciada por um único elemento: o vínculo jurídico que une a prestação
e  os  elementos  subjetivos.  Prevalece  atualmente  na  doutrina  contemporânea  a
teoria dualista ou binária, de origem alemã, pela qual a obrigação é concebida
por uma relação débito/crédito. A  teoria é atribuída, no Direito Alemão e entre
outros, a Alois Brinz, tendo sido desenvolvida no final do século XIX.
A superação daquela velha teoria pode ser percebida a partir do estudo dos
dois  elementos  básicos  da  obrigação:  o  débito  (Schuld)  e  a  responsabilidade
(Haftung),  sobre  os  quais  a  obrigação  se  encontra  estruturada  (sobre  o  tema:
MARTINS­COSTA, Judith. Comentários…, 2003, p. 15 a 30).
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 32
Flávio Tartuce
1.2
Inicialmente, o Schuld é o dever legal de cumprir com a obrigação, o dever
existente  por  parte  do  devedor. Havendo  o  adimplemento  da  obrigação  surgirá
apenas  esse  conceito.  Mas,  por  outro  lado,  se  a  obrigação  não  é  cumprida,
surgirá a responsabilidade, o Haftung. Didaticamente, pode­se utilizar a palavra
Schuld como sinônima de debitum e Haftung, de obligatio.
Sem  dúvida  é  possível  identificar  uma  situação  em  que  há  Schuld  sem
Haftung  (debitum  sem  obligatio):  na  obrigação  natural,  que  mesmo  existente
não  pode  ser  exigida,  pois  é  uma  obrigação  incompleta.  Cite­se,  a  título  de
exemplo, a dívida prescrita, que pode ser paga – por existir –, mas não pode ser
exigida. Tanto isso é verdade que, paga uma dívida prescrita, não caberá ação de
repetição de indébito para reaver o valor (art. 882 do CC).
Por  outro  lado,  haverá  Haftung  sem  Schuld  (obligatio  sem  debitum)  na
fiança,  garantia  pessoal  prestada  por  alguém  (fiador)  em  relação  a  um
determinado credor. O  fiador  assume uma  responsabilidade, mas a dívida  é de
outra  pessoa. O  contrato  de  fiança  é  celebrado  substancialmente  entre  fiador  e
credor.  Por  isso,  pode  ser  celebrado  sem  o  consentimento  do  devedor  ou  até
contra a sua vontade (art. 820 do CC).
Justamente  por  tais  possibilidades  é  que  o  presente  autor  entende,  como
parte  da  doutrina,  que  a  teoria  monista  ou  unitária  encontra­se  superada,
prevalecendo  atualmente  a  teoria  dualista  ou  binária.  A  última  visão,  mais
completa,  acaba  sendo  a  mais  adequada  para  explicar  o  fenômeno
contemporâneo obrigacional, principalmente nos casos descritos.
Tais conceitos, apesar de teóricos, são importantíssimos para a prática, pois
servem  para  explicar  toda  a  estrutura  da  obrigação.  O  mesmo  vale  para  os
institutos jurídicos expostos a seguir.
DIFERENÇAS CONCEITUAIS ENTRE
OBRIGAÇÃO, DEVER, RESPONSABILIDADE,
ÔNUS E ESTADO DE SUJEIÇÃO
Os  conceitos  aqui  visualizados  atualmente  são  concebidos  como  básicos
para a compreensão da estrutura obrigacional. Ultimamente, tornou­se comum a
sua  abordagem  principalmente  em  concursos  públicos  para  as  carreiras
jurídicas. Isso sem dúvida demonstra uma mudança de paradigma em relação a
provas e exames no Brasil.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 33
Flávio Tartuce
Na  presente  abordagem  serão  utilizados  os  ensinamentos  da  Professora
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Titular da Faculdade de Direito da
USP  (HIRONAKA, Giselda M.  F. Novaes; MORAES, Renato Duarte  Franco
de. Direito  das  obrigações…,  2008,  v.  2,  p.  31­33).  Também  serão  usadas,
aqui,  as  lições  de Maria Helena Diniz  (Curso…,  2004),  de  Francisco  Amaral
(Direito…,  2004),  de  Orlando  Gomes  (Obrigações…,  1997)  e  de  Fernando
Noronha (Direito…, 2003, p. 8).
O primeiro conceito a ser analisado é o de dever jurídico, o mais amplo de
todos, que está inserido, regra geral, dentro do conceito de obrigação. Francisco
Amaral  ensina  que  o  dever  jurídico  contrapõe­se  ao  direito  subjetivo,  sendo  o
primeiro  constituído  por  uma  “situação  passiva  que  se  caracteriza  pela
necessidade  do  devedor  observar  um  certo  comportamento,  compatível  com  o
interesse do titular do direito subjetivo” (Direito…, 2004, p. 194 e 195).
Para Maria Helena Diniz,  o  dever  jurídico  pode  ser  conceituado  como  “o
comando  imposto,  pelo  direito  objetivo,  a  todas  as  pessoas  para  observarem
certa  conduta,  sob  pena  de  receberem  uma  sanção  pelo  não  cumprimento  do
comportamento  prescrito  pela  norma  jurídica”  (Curso…,  p.  27).  Para Orlando
Gomes o dever jurídico “é a necessidade que corre a todo o indivíduo as ordens
ou comandos do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer numa sanção, como
o  dever  universal  de  não  perturbar  o  direito  do  proprietário”  (Obrigações…,
1997, p. 6). Mais à frente o autor baiano dá outros exemplos de dever jurídico:
“o  comprador  está  obrigado  a  pagar  o  preço;  o  inquilino  se  acha  obrigado  a
conservar  o  imóvel  locado  e  a  restituí­loao  locador,  findo  o  contrato;  os
cônjuges  devem  fidelidade  um  ao  outro;  toda  pessoa  está  sujeita  ao  dever  de
respeitar o exercício de direito de propriedade pelo dono;  todos têm o dever de
não lesar o patrimônio alheio”.
Desse modo, o dever  jurídico  engloba não só as  relações obrigacionais ou
de  direito  pessoal,  mas  também  aquelas  de  natureza  real,  relacionadas  com  o
Direito  das  Coisas.  Também  podem  ter  por  objeto  o  Direito  de  Família,  o
Direito  das  Sucessões,  o  Direito  de  Empresa  e  os  direitos  da  personalidade.
Mantém o dever jurídico relação não só com o Direito Civil ou Direito Privado,
mas com todos os outros ramos jurídicos.
Conforme  salientam Giselda Hironaka  e Renato  Franco  “em  sentido mais
estrito, situar­se­á a  ideia de obrigação, referindo­se apenas ao dever oriundo à
relação  jurídica  creditória  (pessoal,  obrigacional).  Mas  não  apenas  isto.  Na
obrigação,  em  correspondência  a  este  dever  jurídico  de  prestar  (do  devedor),
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 34
Flávio Tartuce
estará o direito subjetivo à prestação (do credor), direito este que, se violado –
se  ocorrer  a  inadimplência  por  parte  do  devedor  –,  admitirá,  ao  seu  titular  (o
credor),  buscar  no  patrimônio  do  responsável  pela  inexecução  (o  devedor)  o
necessário  à  satisfação  compulsória  do  seu  crédito,  ou  à  reparação  do  dano
causado, se este for o caso” (Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 32).
Ensina  Orlando  Gomes  que  “a  obrigação  é  uma  relação  jurídica,  do  lado
passivo  do  direito  subjetivo,  consistindo  no  dever  jurídico  de  observar  certo
comportamento  exigível  pelo  titular  deste”  (Obrigações…,  1997,  p.  6).  A
obrigação,  conforme  aqui  já  foi  definida,  tem  também  como  característica  um
caráter transitório, que, às vezes, não é observado no dever jurídico.
Por  outro  lado,  concebido  no  sentido  obrigacional,  caso  o  dever  seja
descumprido,  surge  dessa  conduta  a  responsabilidade,  impondo  sanções  para
aquele que desrespeitou a ordem determinada. Dessa forma, as consequências da
inobservância do dever são amplas: tanto para aquele que não o atendeu quanto
para os demais envolvidos na relação jurídica.
Fernando  Noronha  aponta  que,  em  sentido  amplo,  os  conceitos  de
obrigação  e  dever  jurídico  até  podem  se  confundir,  eis  que  “numa  acepção
ampla,  teremos o  termo obrigação como sinônimo de dever  jurídico,  isto é, de
imposição cuja violação  implica  sanções organizadas pelo poder estatal. Esta é
uma noção que ainda nada nos diz sobre a natureza das obrigações regidas pelo
Direito das Obrigações; ela, afinal, limita­se a excluir do seu âmbito os deveres
extrajurídicos  (religiosos,  morais  e  de  trato  social).  Por  isso  também  ela  não
nos vai  interessar. A acepção que  interessa é a  restrita, ou  técnica”  (Direito…,
2003, p. 8).
Essas  construções  não  se  confundem  com  a  de  ônus  jurídico.  Esse,  para
Maria  Helena  Diniz,  “consiste  na  necessidade  de  observar  determinado
comportamento para a obtenção ou conservação de uma vantagem para o próprio
sujeito e não para a satisfação de interesses alheios” (Curso…, 2004, p. 28). Já
para Orlando Gomes,  o  ônus  jurídico  é  “a  necessidade  de  agir  de  certo modo
para a tutela de interesses próprios” (Obrigações…, 1997, p. 6). São exemplos
de  ônus,  para  o  autor  baiano:  “levar  o  contrato  ao  registro  de  títulos  e
documentos para ter validade perante terceiro; inscrever o contrato de locação no
registro de imóveis para impor sub­rogação ao adquirente do prédio”.
Pode­se  afirmar,  nesse  sentido,  que  o  desrespeito  ao  ônus  gera
consequências somente para aquele que o detém. Cite­se, na ótica processual, o
ônus  de  provar,  previsto  no  art.  333,  I,  do  CPC/1973  e  no  art.  373,  I,  do
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 35
Flávio Tartuce
CPC/2015.  Efetivamente,  caso  a  parte  não  prove  o  que  alegou  em  juízo,
suportará  as  consequências  da  procedência  ou  improcedência  da  demanda,  que
também poderá repercutir na sua esfera patrimonial.
Francisco Amaral aponta muito bem a diferença entre dever e ônus, quando
ensina  que  “a  diferença  entre  o  dever  e  o  ônus  reside  no  fato  de  que,  no
primeiro,  o  comportamento  do  agente  é  necessário  para  satisfazer  interesse  do
titular  do  direito  subjetivo,  enquanto  que  no  caso  do  ônus  o  interesse  é  do
próprio agente. No dever, o comportamento do agente vincula­se ao interesse do
titular  do  direito,  enquanto  que  no  ônus  esse  comportamento  é  livre,  embora
necessário  por  ser  condição  de  realização  do  próprio  interesse.  O  ônus  é,  por
isso,  o  comportamento  necessário  para  conseguir­se  certo  resultado,  que  a  lei
não  impõe,  apenas  faculta.  No  caso  do  dever,  há  uma  alternativa  de
comportamento,  um  lícito  (o  pagamento,  por  exemplo)  e  outro  ilícito  (o  não
pagamento);  no  caso  do  ônus,  também  há  uma  alternativa  de  conduta,  ambas
lícitas, mas de resultados diversos” (Direito civil…, 2004, p. 196).
Conforme as lições de Giselda Hironaka e Renato Franco, o autor Antunes
Varela, em sua obra Direito das obrigações, alerta ainda para a necessidade de
se  diferenciar  de  todos  os  demais  e  anteriores  conceitos  – dever,  obrigação  e
ônus – daquilo que se denomina estado de sujeição  (Direito das obrigações…,
2008, v. 2, p. 31­33).
Mas,  antes  de  tudo,  é  interessante  verificar  a  definição  de  direito
potestativo, para então se compreender o que é o estado de sujeição.
Para Francisco Amaral  “direito potestativo  é o poder que  a pessoa  tem de
influir  na  esfera  jurídica  de  outrem,  sem que  este  possa  fazer  algo que não  se
sujeitar.  (…)  Opera  na  esfera  jurídica  de  outrem,  sem  que  este  tenha  algum
dever  a  cumprir”  (Direito  civil…,  2004,  p.  196).  Para  Giselda  Hironaka  e
Renato  Franco,  isso  significa  que  a  parte  nem  convencionou  com  o  titular  do
direito  potestativo,  e  nem  mesmo  se  sujeitou  ao  seu  poder,  como  ocorre  em
outras  estruturas  jurídicas.  Mas  o  exercício  do  direito  potestativo  pelo  seu
titular  fará  com  que  aquele  outro  se  sujeite  às  consequências  advindas  da
alteração  produzida,  em  sua  própria  esfera  jurídica  (HIRONAKA,  Giselda;
FRANCO, Renato. Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 33).
Orlando  Gomes  esclarece  que  “no  dever  jurídico  a  sanção  é  estabelecida
para  a  tutela  de  um  interesse  alheio  ao  de  quem  deve  observá­lo. Na  sujeição
também não pode haver inobservância de quem tem de suportar inelutavelmente
os efeitos do ato de vontade do titular do direito potestativo, mas não há cogitar
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 36
Flávio Tartuce
de  sanção.  No  ônus  jurídico,  o  comportamento  é  livre  no  sentido  de  que  o
onerado só o adota se quer realizar o seu interesse” (Obrigações…, 1997, p. 6).
O  jurista  exemplifica  também  situações  de  estado  de  sujeição  ou  sujeição
jurídica, tais como “quem ajusta o contrato por prazo indeterminado está sujeito
a  vê­lo  denunciado  a  qualquer  momento  pelo  outro  contratante;  quem  recebe
mandato  se  subordina  à  vontade  do  mandante  de  cassar  a  outorga  a  qualquer
momento; quem é condômino se sujeita à pretensão de divisão de qualquer dos
outros  comunheiros;  quem  é  vizinho  de  prédio  encravado  se  sujeita  a  permitir
passagem  sobre  seu  terreno,  quando  lhe  exigir  o  confinante”  (Obrigações…,
1997, p. 7).
No  estado  de  sujeição  não  há  saída,  pois  a  pessoa  tem  que  se  sujeitar
àquela situação, como indica a sua própria denominação. Em suma, a parte que
tem  contra  si  a  sujeição,  está  encurralada.  A  título  de  exemplo,  em  reforço,
podem  ser  citados  os  casos  da  existência  de  impedimentos matrimoniais  (art.
1.521 do CC), as causas de anulabilidadedo casamento (art. 1.550 do CC) e a
exigência  legal  para  certos  atos,  de  outorga  do  outro  consorte  (art.  1.647  do
CC), sob pena, na última hipótese, de anulabilidade do ato ou negócio praticado
(art. 1.649 do CC).
Desse  modo,  como  se  pode  perceber,  o  estado  de  sujeição  constitui  um
poder  jurídico  do  titular  do  direito  (por  isso  é  denominado  potestativo),  não
havendo  correspondência  a  qualquer  outro  dever.  Há  apenas  uma  sujeição
inafastável,  não  havendo  a  possibilidade  de  o  direito  potestativo  ser  violado.
Pode­se  ainda  afirmar  que  o  estado  de  sujeição  traz  em  seu  conteúdo  uma
subordinação,  contra  a  qual  não  se  pode  insurgir  ou  manifestar  discordância,
tendo em vista um preestabelecimento anterior, não havendo qualquer sanção.
Resumindo, é  fundamental  frisar que diferem substancialmente entre si os
direitos  subjetivos  dos  chamados  direitos  potestativos,  eis  que  àqueles
contrapõe­se  um  dever,  enquanto  a  estes  corresponde  apenas  um  estado  de
sujeição. Esquematizando:
Nesse sentido, é pertinente lembrar os comentários que constam, a respeito
da matéria de prescrição e decadência, no Volume 1 da presente coleção.
Naquela  obra  foi  apontado  que  a  prescrição,  pelo  Código  Civil  de  2002,
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 37
Flávio Tartuce
está relacionada com os direitos subjetivos. Assim, pelo que aqui foi exposto, a
prescrição  está  também  relacionada  com  o  dever,  com  a  obrigação  e  a
correspondente responsabilidade. Perfeitamente  lógico o  raciocínio,  pois  todos
esses  conceitos  também  estão  relacionados  com  as  ações  condenatórias  (ações
de  cobrança  e  de  reparação  civil,  principalmente).  Precisa,  portanto,  a  relação
sistêmica,  principalmente  pela  tese  adotada  pela  atual  codificação  quanto  ao
instituto da prescrição (Agnelo Amorim Filho).
Por outro lado, no Volume 1 da coleção está exposto que a decadência está
relacionada com os direitos potestativos. Logicamente, nesses casos haverá um
estado de sujeição. Em regra, portanto, deve ser feita essa correlação, eis que se
têm  ações  constitutivas  positivas  e  negativas.  O melhor  exemplo  é  o  da  ação
anulatória  de  um  ato  ou  negócio  jurídico,  consagrando  os  arts.  178  e  179  da
codificação material prazos decadenciais de quatro e dois anos para tanto.
Mas uma ressalva deve ser feita quanto à última conclusão, pois em alguns
casos um direito potestativo e um estado de sujeição estarão relacionados com a
imprescritibilidade, ou melhor,  à não  subordinação à prescrição ou decadência,
como  acontece  nos  casos  envolvendo  os  impedimentos  matrimoniais  e  a
nulidade absoluta de um negócio jurídico.
A  encerrar  a  presente  abordagem,  transcrevem­se  as  palavras  de  Orlando
Gomes,  que  com maestria  aponta  as  diferenças  entre  todos  os  conceitos  aqui
estudados:
“O  dever  jurídico  pode  ser  geral  ou  especial  conforme  se  concentra
numa certa pessoa ou se refira à universalidade das pessoas. Caracteriza­se
por  exigir  um  comportamento  (ativo  ou  passivo)  do  sujeito  em  favor  de
terceiro, sob pena de sanção. Já na sujeição jurídica, o sujeito passivo nada
tem de  fazer  (nem ativa, nem passivamente) para  satisfazer o  interesse do
sujeito ativo. Tudo se passa na dependência exclusiva da vontade deste. No
ônus  jurídico,  finalmente,  há  necessidade  de  ação  do  sujeito, mas  não  em
benefício  de  outrem,  e,  sim,  no  próprio  interesse  do  agente.  Em  suma,  o
dever  e  a  sujeição  atuam em  função dos  interesses  de  outrem,  enquanto o
ônus opera em prol de interesse próprio.
O  direito  das  obrigações  cuida  apenas  de  uma  das  espécies  do  dever
jurídico,  isto  é,  daqueles que provocam um vínculo especial  entre pessoas
determinadas, dando a uma delas o poder de exigir da outra uma prestação
de natureza patrimonial. A obrigação, em sentido técnico, portanto, pertence
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 38
Flávio Tartuce
1.3
a)
à  categoria  dos  deveres  jurídicos  especiais  ou  particulares  (Harm  Peter
Westermann, Código Civil Alemão – Direito das Obrigações – Parte Geral,
Trad. Bras., Porto Alegre: Fabris, 1983, § 1.º, p. 15)” (GOMES, Orlando.
Obrigações…, 1997, p. 7).
Como  há  a  consciência  de  que  todos  esses  conceitos  são  de  difícil
compreensão, será apresentado, ainda, um resumo esquemático sobre o assunto
no final do presente capítulo.
AS FONTES OBRIGACIONAIS NO DIREITO
BRASILEIRO
A palavra fonte é uma expressão figurada, indicando o elemento gerador, o
fato  jurídico  que  deu  origem  ao  vínculo  obrigacional.  Nesse  sentido  ensinam
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que “as fontes do direito são
meios pelos quais  se  formam ou se estabelecem as normas  jurídicas. Trata­se,
em  outras  palavras,  de  instâncias  de manifestação  normativa:  a  lei,  o  costume
(fontes  diretas),  a  analogia,  a  jurisprudência,  os  princípios  gerais  do  direito,  a
doutrina  e  a  equidade  (fontes  indiretas)”  (Novo  curso…,  2003,  v.  II,  p.  23).
Dentro desse  contexto, de  acordo com o entendimento majoritário da doutrina,
podem ser reconhecidas como fontes do direito obrigacional:
Lei  –  é  a  “fonte  primária  ou  imediata  de  obrigações,  como
constitui  fonte  principal  de  nosso  Direito”  (DINIZ,  Maria  Helena.
Curso…, 2002, p. 44).
Alguns autores, entretanto, não concordam com o entendimento pelo qual a
lei é fonte obrigacional.
Para  Orlando  Gomes,  a  lei  não  pode  ser  tida  como  fonte  imediata  da
obrigação, uma vez que essa somente cria uma obrigação se acompanhada de um
fato jurídico (Obrigações…, 2004, p. 33 a 36).
Fernando Noronha,  do mesmo modo,  opina  que  a  lei  sozinha  não  é  fonte
obrigacional,  sendo  necessária  a  presença  da  autonomia  privada,  antigamente
denominada  como  autonomia  da  vontade.  Ensina  esse  autor  que  “atualmente,
com a superação das  teses  individualístico­liberais que sacralizavam a vontade,
o  papel  desta  na  constituição  de  obrigações  vem  sendo  reduzido  às  devidas
proporções,  ao  mesmo  tempo  em  que  se  reconhece  que  a  lei  apenas  pode
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 39
Flávio Tartuce
b)
c)
permitir a criação de direitos de crédito, mas nunca criá­los diretamente. Neste
sentido,  pode­se  afirmar  que  a  vontade  sozinha  não  cria  nenhuma  obrigação  e
que a  lei sozinha também não é fonte de qualquer obrigação” (Direito…, 2003,
p.  343).  No  Direito  Civil  Contemporâneo,  a  autonomia  privada  pode  ser
conceituada  como  o  direito  que  a  pessoa  tem  de  regulamentar  os  próprios
interesses,  o  que  decorre  dos  princípios  constitucionais  da  liberdade  e  da
dignidade humana.
Na  verdade,  o  melhor  caminho  é  tentar  compartilhar  de  todos  os
ensinamentos esposados, eis que todos trazem um pouco de razão.
Inicialmente, é de se notar que, em alguns casos, a lei sozinha é sim fonte
obrigacional,  tal  como  ocorre  na  obrigação  de  prestar  alimentos. Nesse  ponto,
tem razão a Professora Maria Helena Diniz.
Mas,  por  outro  lado,  e  na  grande  maioria  das  vezes,  isso  não  ocorre,
devendo  a  lei  estar  acompanhada de  um algo mais.  Para  a  doutrina  tradicional
esse algo mais é o fato jurídico (Orlando Gomes); enquanto para a escola mais
atual é a autonomia privada do indivíduo (Fernando Noronha).
Contratos  –  são  tidos  como  fonte  principal  do  direito
obrigacional,  afirmação  com  a  qual  é  de  se  concordar  integralmente.
Como  exemplos  podem  ser  citadas  as  figuras  tipificadas  no  Código
Civil, tais como a compra e venda, o contrato estimatório, a doação, a
locação, o comodato, o mútuo, a prestação de serviços, a empreitada, o
depósito,  o  mandato,  a  comissão,  a  agência  e  distribuição,  a
corretagem, o transporte, o seguro, a constituição de renda, o jogo e a
aposta,  a  fiança,  a  transação  e  o  compromisso,bem  como  algumas
figuras  atípicas,  não  previstas  em  lei.  Somente  para  fins  didáticos,
demonstrando que a concepção de contrato não se confunde com a de
obrigação,  pode­se  conceituar  o  primeiro,  em  uma  visão  clássica  ou
moderna, como o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a
criação,  modificação  e  extinção  de  direitos  e  deveres  com  conteúdo
patrimonial.  Esse  conceito,  seguido  amplamente  na  doutrina
brasileira, está inspirado no art. 1.321 do Código Civil italiano.
Os  atos  ilícitos  e  o  abuso  de  direito  –  são  fontes
importantíssimas  do  direito  obrigacional,  com  enorme  aplicação
prática. Gerando o dever de indenizar, é forçoso entender que o abuso
de  direito  (art.  187  do  CC)  também  constitui  fonte  de  obrigações.
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 40
Flávio Tartuce
d)
e)
1.4
a)
b)
Ambos os conceitos ainda serão abordados neste volume da coleção.
Os atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade,
fontes  do  direito  obrigacional  que  estão  previstas  no  Código  Civil,
caso  da  promessa  de  recompensa,  da  gestão  de  negócios,  do
pagamento  indevido  e  do  enriquecimento  sem  causa.  Tais  institutos
jurídicos também serão estudados neste volume, logo a seguir.
Títulos  de  crédito  –  são  os  documentos  que  trazem  em  seu
bojo, com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional
de  natureza  privada.  O  seu  estudo  interessa  mais  ao  Direito  de
Empresa  ou  Comercial  e  merecerá,  na  presente  obra,  apenas  breves
comentários.
Vejamos  no  presente  capítulo  algumas  abordagens  quanto  aos  atos
unilaterais e os títulos de crédito. No tocante aos atos ilícitos e abuso de direito,
conforme  já  apontado,  constam os mesmos  do  presente  trabalho. Os  contratos
serão objeto da continuidade desta coleção (Volume 3).
OS ATOS UNILATERAIS COMO FONTES DO
DIREITO OBRIGACIONAL
Já  foi  visto  que  as  obrigações  podem  ter  origem  nos  contratos,  nos  atos
ilícitos,  no  abuso  de  direito,  nos  atos  unilaterais  de  vontade  e  nos  títulos  de
crédito.  Vamos  agora  analisar  as  obrigações  decorrentes  de  ato  unilateral  de
vontade e alguns tópicos relacionados com os títulos de crédito.
Como  é  notório,  quanto  aos  contratos,  a  obrigação  nasce  a  partir  do
momento  em  que  for  verificado  o  choque  ou  encontro  de  vontades  entre  as
partes negociantes, em regra. Entretanto, nas declarações unilaterais de vontade,
a  obrigação  nasce  da  simples  declaração  de  uma  única  parte,  formando­se  no
instante  em  que  o  agente  se  manifesta  com  a  intenção  de  assumir  um  dever
obrigacional. Uma vez emitida a declaração de vontade, esta se torna plenamente
exigível ao chegar ao conhecimento a quem foi direcionada. O Código Civil em
vigor  prevê  expressamente  os  seguintes  atos  unilaterais  como  fontes
obrigacionais:
promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC);
gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC);
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 41
Flávio Tartuce
c)
d)
1.4.1
a)
b)
c)
pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC);
enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC).
Passamos ao estudo de tais institutos de forma pontual.
Da promessa de recompensa
Enuncia  o  art.  854  do  CC  que  “aquele  que,  por  anúncios  públicos,  se
comprometer  a  recompensar,  ou  gratificar  a  quem  preencha  certa  condição  ou
desempenhe  certo  serviço,  contrai  obrigação  de  cumprir  o  prometido”.  São
requisitos para a promessa de recompensa:
a capacidade da pessoa que emite a declaração de vontade;
a licitude e possibilidade do objeto;
o ato de publicidade.
Nesse  contexto,  a  pessoa  que  cumprir  a  tarefa  prevista  na  declaração,
executando  o  serviço  ou  satisfazendo  a  condição,  ainda  que  não  esteja movida
pelo  interesse da promessa, poderá exigir a  recompensa estipulada (art. 855 do
CC).  Esse  dispositivo  valoriza  a  eticidade  e  a  boa­fé  objetiva,  merecendo
comentários a título de exemplo.
Imagine­se,  para  ilustrar,  um  caso  em  que  alguém  perdeu  um  animal  de
estimação, um cachorro. Para  recuperar o animal, o dono coloca uma  faixa em
uma  avenida  de  grande  circulação,  oferecendo  uma  recompensa.  Alguém  que
conhece  o  cão  e  o  seu  dono,  mas  que  no  momento  desconhece  a  promessa,
encontra o animal e o leva à casa do seu proprietário. Essa pessoa terá direito à
recompensa, pois agiu conforme os ditames da boa­fé. Também terá direito aos
valores  gastos  com o  cumprimento  da  tarefa,  como,  por  exemplo,  as  despesas
feitas para a alimentação do animal, cuidados veterinários e transporte.
A revogação da promessa de recompensa está prevista no art. 856 da atual
codificação,  sendo  possível  antes  de  prestado  o  serviço  ou  preenchida  a
condição e desde que seja feita com a mesma publicidade da declaração. Se for
fixado um prazo para a execução da tarefa haverá, em regra, renúncia ao direito
de revogação na vigência desse prazo.
No caso de revogação da promessa, se algum candidato de boa­fé tiver feito
despesas,  terá  direito  a  reembolso  quanto  a  tais  valores.  Discute­se  se  haverá
direito  à  recompensa  se  o  candidato  tiver  executado  a  tarefa  a  contento,  não
Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil 42
Flávio Tartuce
sabendo  da  revogação  da  estipulação.  Pela  valorização  da  boa­fé  e  pelo  que
consta do art.  855, o presente  autor  entende que a  resposta não pode  ser outra
que  não  a  positiva.  Nesse  sentido,  vale  citar  o  Código  Civil  português,  que
estabelece em seu art. 459.º, (parágrafo) 2: “Na falta de declaração em contrário,
o  promitente  fica  obrigado  mesmo  em  relação  àqueles  que  se  encontrem  na
situação  prevista  ou  tenham  praticado  o  facto  sem  atender  à  promessa  ou  na
ignorância dela”.
Em  havendo  execução  conjunta  ou  plúrima,  sendo  o  ato  contemplado  na
promessa praticado por mais de um indivíduo,  terá direito à  recompensa o que
primeiro o executou (art. 857 do CC). Entretanto, sendo simultânea a execução,
a cada um tocará quinhão igual na recompensa, caso seja possível a divisão (art.
858 do CC). Se a estipulação  tiver como conteúdo um bem  indivisível, deverá
ser realizado um sorteio. Aquele que obtiver a coisa (vencedor) dará ao outro o
valor  correspondente  ao  seu  quinhão.  Esse  sorteio  deverá  ser  realizado  dentro
das  regras  legais,  da  razoabilidade  e  do  bom  senso  (mais  uma  aplicação  da
eticidade, da boa­fé objetiva).
Na  hipótese  de  concursos  que  se  abrirem  com  promessa  pública  de
recompensa,  é  condição  essencial,  para  valerem,  a  fixação  de  um  prazo,
observadas também as regras analisadas anteriormente (art. 859 do CC). Nesses
concursos,  é  comum  a  nomeação  de  um  juiz  (ou  árbitro),  que  irá  avaliar  os
trabalhos. A decisão dessa pessoa nomeada, nos anúncios, como juiz, obriga os
interessados  (art.  859,  §  1.º,  do  CC).  Na  falta  dessa  pessoa  designada  para
julgar  o  mérito  dos  trabalhos  que  se  apresentarem,  entender­se­á  que  o
promitente da recompensa reservou para si esta  função  (§ 2.º). Se os  trabalhos
tiverem  mérito  igual,  proceder­se­á  de  acordo  com  as  regras  vistas  para  a
promessa de recompensa: anterioridade, divisão e sorteio (§ 3.º).
Por fim, nos concursos públicos, as obras premiadas só ficarão pertencendo
ao  promitente  se  assim  for  estipulado  na  publicação  da  promessa  (art.  860  do
CC).  A  concretizar  a  norma,  em  concursos  de  monografias  jurídicas  os
trabalhos  pertencem  aos  seus  autores,  em  geral,  aplicando­se  as  regras  de
proteção  previstas  na  Lei  de  Direitos  Autorais  (Lei  9.610/1998).  Porém,  é
possível  prever  que  os  direitos  patrimoniais  de  exploração  da  obra  premiada
passarão a pertencer àquele que  idealizou o concurso. Vale mencionar que  isso
não inclui os direitos morais do autor, que são intransmissíveis