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Teoria Geral das Provas


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Teoria Geral das Provas – Conceito	
O Código de Processo Penal possui um título específico para tratar da temática Prova. O Título VII contempla os artigos 155 a 250, do CPP.
Podemos conceituar prova como sendo o ato que busca comprovar a veracidade dos fatos que concorreram para a prática de um delito, no qual influenciará diretamente o julgador.
Sistemas de Apreciação das Provas – Teoria Geral
Livre Convencimento Motivado
O art. 155, do CPP assim dispõe:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Esse artigo consagra a adoção do sistema do livre convencimento motivado da prova, pelo qual o Juiz deve valorar a prova produzida da maneira que entender mais conveniente, de acordo com sua análise dos fatos comprovados nos autos.
Nesse sentido, não há um “peso” para determinado tipo de prova. Por exemplo, no sistema adotado nos EUA, a confissão é a “rainha das provas”, com valor absoluto.
No Brasil, por outro lado, segundo o art. 197, do CPP, o juiz irá analisar a confissão juntamente com as demais provas do processo, podendo, inclusive, absolver o réu confesso se, com base nas outras provas, verificar que não foi ele o autor/partícipe do crime (confessou para acobertar terceira pessoa, por exemplo).
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existem compatibilidade ou concordância.
· Prova Tarifada
Pelo sistema da prova tarifada, ou sistema tarifário da prova, diretamente pela lei, são estabelecidos determinados “pesos” para cada prova, num sistema de apreciação bastante rígido para o Juiz. De acordo com este sistema, cabe ao Juiz apenas fazer a soma aritmética dos “pesos” de cada prova, a fim de decidir se o somatório das provas em determinado sentido é superior ao somatório das provas em sentido contrário. Este sistema não foi adotado pelo CPP, porém há alguns resquícios, por exemplo, a prova, única e exclusivamente, pela certidão de óbito para a extinção da punibilidade pela morte do acusado.
· Sistema da íntima convicção (ou certeza moral do Juiz)
É um sistema no qual não há necessidade de fundamentação por parte do julgador, podendo ele decidir da maneira que a sua “sensação de Justiça” indicar. Não é adotado como regra no Processo Penal brasileiro, porém, como exceção, aplica-se nos processos cujo julgamento seja afeto ao Tribunal do Júri, uma vez que quem decide pela condenação ou absolvição é o conselho de sentença, o qual não precisa fundamentar sua decisão.
· Classificação das Provas – Teoria Geral
1.1.1. Quanto ao seu objeto:
Provas diretas: Aquelas que provam o próprio fato, de maneira direta;
Provas indiretas: Aquelas que não provam diretamente o fato, mas por uma dedução lógica, acabam por prová-lo.
1.1.2. Quanto ao valor:
Provas plenas: Aquelas que trazem a possibilidade de um juízo de certeza quanto ao fato que buscam provar;
Provas não-plenas: Apenas ajudam a reforçar a convicção do Juiz, contribuindo na formação de sua certeza.
1.1.3. Quanto ao sujeito:
Provas reais: Aquelas que se baseiam em algum objeto;
Provas pessoais: São aquelas que derivam de uma pessoa. Ex: Testemunho.
 Quanto ao procedimento:
Prova típica: Seu procedimento está previsto na lei.
Prova atípica: É aquela que o procedimento não está previsto na lei.
1. Outras classificações:
Prova anômala: É a prova típica, só que utilizada para fim diverso daquele para o qual foi originalmente prevista.
Prova irritual: É aquela em que há procedimento previsto na Lei, só que este procedimento não é respeitado quando da colheita da prova.
· Princípios que regem o sistema probatório
Princípio do contraditório – Todas as provas produzidas por uma das partes podem ser contraditadas (contraprova) pela outra parte.
Princípio da comunhão da prova (ou da aquisição da prova) – A prova é produzida por uma das partes ou determinada pelo Juiz, mas uma vez integrada aos autos, deixa de pertencer àquele que a produziu, passando a ser parte integrante do processo, podendo ser utilizada em benefício de qualquer das partes.
Princípio da oralidade – Sempre que for possível, as provas devem ser produzidas oralmente na presença do Juiz
Princípio da autorresponsabilidade das partes – As partes respondem pelo ônus da produção da prova acerca do fato que tenham de provar.
Princípio da não autoincriminação (ou nemo tenetur se detegere) – Por este princípio entende-se a não obrigatoriedade que a parte tem de produzir prova contra si mesma
Procedimento ordinário
Procedimento será ordinário quando a pena máxima em abstrato do crime cometido for maior ou igual a 4 anos.
Este procedimento se inicia com a denúncia do réu (ação penal pública), ou com a queixa-crime (ação penal privada).
Neste procedimento as partes poderão arrolar até 8 testemunhas.
Após oferecida a denúncia ou a queixa-crime, os autos irão para conclusão e o juiz poderá tomar uma de duas decisões:
2. - Receber a denúncia/queixa-crime
3. - Este recebimento se dará apenas se a peça inicial cumprir com os requisitos do artigo 41, ou seja, houver indícios de autoria e materialidade do crime.
4. - Para esta decisão não cabe recurso, porém poderá haver eventual Habeas Corpus.
5. - Rejeição (395)
6. - O juiz rejeitará a peça inicial caso esta seja inepta, falte condição ou pressuposto processual ou haja falta de justa causa.
7. - Para esta decisão cabe Recurso em sentido estrito (RESE)
Desconsideremos a rejeição por hora. Recebida a denúncia/queixa, o réu será citado no mesmo despacho em que o juiz realiza e comunica o recebimento.
Após citado, o réu irá dispor de 10 dias para apresentar a sua resposta à acusação.
A resposta a acusação é uma "prima" da contestação do processo cível, é a oportunidade que a defesa tem de apresentar todas as teses pertinentes à defesa do acusado.
Na resposta a acusação o advogado poderá levantar três tipos de teses, que levaram a três tipos diferentes de pedidos, quais sejam
1. - preliminar – levantam-se questões de nulidade processual.
2. - mérito – tese que tentará convencer o juiz a conceder a absolvição sumária do réu (art. 397 – julgamento antecipado da lide a favor do réu)
3. - tese subsidiária – Se, eventualmente, o juiz recusar as duas primeiras teses, poderá o advogado, sem prejuízo, alegar circunstâncias que visem melhorar a condição do réu caso este venha a ser condenado.
Como na denúncia/queixa o MP/querelante podem arrolar suas testemunhas, este é o momento em que a defesa poderá realizar o arrolamento de suas testemunha.
O processo volta a conclusão para que o juiz aprecie os pedidos, podendo ocorrer uma de três hipóteses diferentes:
· - Diante de novo juízo de admissibilidade, com uma nova cognição poderá rejeitar a denúncia (art. 395 do CPP);
· - Determinar a absolvição sumária do réu (art. 397 do CPP); ou
· - Designar a data de audiência de instrução e julgamento (art. 399 do CPP).
· A audiência deverá ocorrer no prazo de 60 dias e, em regra, haverá uma única audiência.
· Há exceções prescritas em lei:
· - número de acusados for alto;
· - causa complexa; ou
· - deferida diligência complementar.
Não ocorrendo qualquer das hipóteses de exceções o juiz ouvirá as alegações finais de ambas as partes e então julgará o caso.
Procedimento Sumário
Procedimento será sumário quando a pena em abstrato for superior a 2 anos e inferiores a 4. Aqui podem ser arroladas até 5 testemunhas.
O procedimento sumário ocorrerá da mesma forma que o ordinário, respeitando as mesmas regras processuais, com exceção do prazo para a realização da audiência que deverá ocorrer em 30 dias e não em 60, como no ordinário.
Procedimento Sumaríssimo
Este é o procedimento adotado para o julgamento de infrações penais de menor potencial ofensivo, ou seja, quais quer contravenções penaisou crimes cujas penas máximas em abstrato não ultrapassem 2 anos e a competência para o julgamento destes é do Juizado Especial Criminal (JECRIM)
Este procedimento não está previsto no Código de Processo Penal, mas sim na lei 9099/1995.
Suas diferenças com os outros procedimentos desde antes do surgimento da ação penal, pois se o sujeito for preso em flagrante será lavrado um termo circunstanciado, ou se logo após o crime comparecer imediatamente ao juizado e assinar termo de compromisso informando que irá comparecer em audiência em data e local marcados, a este não será imposta prisão nem se exigirá fiança.
Nesta primeira audiência haverá, primeiramente, uma tentativa de conciliação que poderá ser de duas formar:
· - Composição Civil: acordo entre vítima e acusado com a finalidade de se alcançar a reparação do dano causado.
· - Transação Penal: acordo entre o acusado e o MP onde se estabelece alguma pena alternativa e, se o acusado cumprir o acordo, o MP deixará de propor ação penal. Porém, caso o acusado não venha a cumprir o acordo, a situação inicial retornará e o MP irá dar início a ação penal.
Caso seja infrutífera a conciliação será oferecida a denúncia, aqui feita de forma oral. Neste procedimento o número de testemunhas não está estipulado em lei, sendo adotado de modo geral até 5 testemunhas e em casos mais complexos pode vir a ser aceito até 8 testemunhas, há ainda correntes que dizem que por este ser um procedimento mais célere o número máximo deva ser 3 testemunhas.
Oferecida a denúncia será designada audiência de instrução e julgamento, nesta audiência una a defesa oferecerá sua defesa prévia, neste mesmo momento o juiz apreciará a defesa, caso rejeite cabe recurso de apelação em 10 dias, se aceita, haverá a oitiva das testemunhas, interrogatório, debates orais (20 minutos prorrogáveis por mais 10), neste procedimento não há previsão legal para substituição dos debates por memoriais.
Dada a audiência o juiz proferirá sentença, recorrível através de recurso de apelação, prazo de 10 dias, ou poderão ser oferecidos embargos de declaração no prazo de 5 dias.
PROCEDIMENTO:
PROCEDIMENTO COMUM
RITO ORDINÁRIO (arts. 394 a 405 do CPP
Aplica-se a infrações com pena máxima igual ou superior a 4 anos. 
 Oferecimento da denúncia ou Queixa
Recebimento Rejeição (art. 395, CPP) 
Citação
Resposta à acusação em 10 dias (art. 396 e 396-A)
Confirmação do recebimento da denúncia ou queixa Absolvição Sumária (art. 397, CPP) 
 Audiência de Instrução (60 dias)
Oitiva do ofendido
Oitiva das testemunhas arroladas pela acusação (08 test)
Oitiva das testemunhas arroladas pela defesa (08 test)
Oitiva de peritos, realização de acareações (se necessário)
Interrogatório do acusado
Requerimento e realização de diligências (se necessário)
Debates orais (ou memoriais com prazo sucessivo de 05 dias)
Sentença em 10 dias.
Observações:
Considerando a natureza processual da decisão de rejeição da denúncia ou queixa, entende-se que é possível a repropositura da ação penal, caso seja superada a causa de rejeição. A decisão de rejeição da peça inicial permite o oferecimento de recurso em sentido estrito (art. 581, inciso I, do CPP). No procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Criminal, porém, esta decisão deve ser combatida por meio de recurso de apelação, no prazo de 10 dias, dirigido à Turma Recursal (art. 82 da Lei nº 9.099/95). Nesta fase, não há de se aplicar o in dubio pro reo.
A resposta escrita do réu tornou-se peça obrigatória no Processo Penal. A falta de apresentação da resposta escrita do acusado é causa de nulidade absoluta do feito.
A inversão da ordem da oitiva de pessoas na audiência gera nulidade relativa do feito, conforme o STF e STJ.
A ordem de perguntas formuladas às testemunhas na audiência deve seguir a sistemática do art. 212 do CPP.
Com relação ao interrogatório do réu, vem prevalecendo que ele continua seguindo a sistemática exposta no art. 188 do CPP, que consagra o sistema presidencialista de perguntas (primeiras perguntas do juiz, depois perguntas complementares das partes, que serão repassadas ao réu pelo juiz, se entender pertinentes e relevantes, embora fosse mais lógico se adotar um único sistema de perguntas para o ofendido, testemunhas e acusado.
Fase de diligência (art. 402 do CPP) Dessa forma, se a diligência já poderia ter sido requerida, e não o foi por displicência da parte, não deve ser deferida.
Alegações finais (arts. 403 e 404 do CPP) Ressalte-se que se o juiz possibilitar a apresentação de alegações finais escritas quando era caso de alegações orais não haverá nulidade do feito, mas mera irregularidade, mormente se as partes concordaram com essa conversão. É esse o entendimento do STJ. Se o MP deixar de apresentar as alegações finais, o juiz deve aplicar, por analogia, o disposto no art. 28 do CPP, remetendo-se os autos ao Procurador Geral de Justiça. Na ação penal privada deixar de apresentar alegações finais ou nelas não requerer a condenação do querelado, haverá a perempção (art. 60, incisos I e III, do CPP). De outro lado, se os memoriais não são apresentados pelo defensor constituído, o juiz deverá intimar o réu para substituí-lo e, caso não o faça, nomeará defensor para este fim. Porém, se a negligência é do defensor dativo, desde já deverá o magistrado substituí-lo, comunicando-se o fato à OAB para aplicação da sanção disciplinar cabível. Por fim, se a omissão for do defensor público o juiz oficiará ao Defensor Público Geral.
Registro da audiência (art. 405 do CPP). 
RITO SUMÁRIO (arts. 531 a 538 do CPP)
Aplica-se a infrações com pena máxima inferior a 4 anos
· Oferecimento da denúncia ou Queixa
· Recebimento Rejeição (art. 395, CPP) 
· Citação
· Resposta à acusação em 10 dias (art. 396 e 396-A)
· Confirmação do recebimento da denúncia ou queixa Absolvição Sumária
· (Art. 397, CPP) 
.1.1.1.1.1. Audiência de Instrução (30 dias)
· Oitiva do ofendido
· Oitiva das testemunhas arroladas pela acusação (05 test)
· Oitiva das testemunhas arroladas pela defesa (05 test)
· Oitiva de peritos, realização de acareações (se necessário)
· Interrogatório do acusado
· Debates orais
· Sentença.
LEI n. 9.099/95
 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
 CAPÍTULO I
 Disposições Gerais
 Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.
 Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.
 (...)
Seção II
Da Fase Preliminar
 Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminharáimediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
 Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
 Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))
 Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
 Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
 Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
 Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.
 Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.
 Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
 Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
 Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
 Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
 Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
 § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
 § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado
 I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
 II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
 III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
 § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.
 § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
 § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
 § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
Seção III
Do Procedimento Sumariíssimo
 Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
 § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
 § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
 § 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.
 Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.
 § 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
 § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.
 § 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.
 Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
 Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.
 Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
 § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
 § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
 § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.
 Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
 § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
 § 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a quealude o § 3º do art. 65 desta Lei.
 § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.
 § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
 Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. 
 Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou omissão. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
 § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
 § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso. 
 § 2o Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
 § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Seção IV
Da Execução
 Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado.
 Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.
 Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.
 Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei.
Seção V
Das Despesas Processuais
 Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual.
Seção VI
Disposições Finais
 Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
 Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
 § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
 I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
 II - proibição de freqüentar determinados lugares;
 III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
 IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
 § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
 § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
 § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
 § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
 § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
 § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
 Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)
 Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999) 
 Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
 Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.
Capítulo IV
Disposições Finais Comuns
 Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e competência.
 Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as audiências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de acordo com audiências previamente anunciadas.
 Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei.
Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado da publicação desta Lei, serão criados e instalados os Juizados Especiais Itinerantes, que deverão dirimir, prioritariamente, os conflitos existentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração populacional. (Redação dada pela Lei nº 12.726, de 2012)
 Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após a sua publicação.
 Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
T E O R I A G E R A L D O S R E C U R S O S
1. Considerações iniciais:
1.1. Conceito: Recurso é a providência legal imposta concedida à parte interessada, consistente em um meio de se obter nova apreciação da decisão ou situação processual, pelo juiz prolator da decisão ou órgão superior, com o fim de corrigi-la, modificá-la ou esclarecê-la. Em suma, trata-se do meio pelo qual se obtém o reexame de uma decisão. Segundo as mesas de Processo Penal da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo recurso é: “Um meio voluntário de impugnação de decisão, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, apto a propiciar ao recorrente resultado mais vantajoso, decorrente da reforma, da invalidação do esclarecimento ou da integração da decisão”.
1.2. Fundamentos EDÍLSON MOUGENOT enumera os fundamentos dos recursos, a saber: 
a) A própria natureza falível do ser humano, e do juiz enquanto tal, não estando isento de equívocos. Nesse norte a doutrina: “Todo recurso para juiz superior (provocatio dos romanos) corresponde e satisfaz a uma tendência irresistível da natureza humana; é a expressão legal do instinto que leva todo homem a não se sujeitar, sem reação, ao conceito ou sentença do primeiro censor ou juiz1”. 
b) A necessidade psicológica do homem de ver reapreciada uma decisão desfavorável. Em qualquer ramo da atividade humana, a pessoa é vulnerável às dúvidas, sobretudo quando se trata do desenvolvimento dos atos judiciais, restando necessário o reexame da questão, através do recurso para suprir as desconfianças naturais do indivíduo; 
c) Certa coação psicológica sobre o juiz de grau inferior, que o levaria a “julgar melhor”, sabedor da possibilidade de sua decisão ser reexaminada por um órgão superior. Esse fator faz com que o julgador seja mais diligente na hora de proferir sua decisão, levando-o a afastar do erro e do arbítrio, bem como o impulsionado à pesquisa e constante aperfeiçoamento para evitar a censura do órgão jurisdicional superior; 
d) A possibilidade da causa ser julgada por um órgão colegiado, formado por juízes de maior experiência e saber jurídico.
1.3. Natureza jurídica: A doutrina debate acerca da natureza jurídica do recurso, existindo três vertentes: 
a) recurso seria uma nova ação dentro do mesmo processo; 
b) qualquer meio destinado a modificar uma decisãojudicial e, por fim, 
c) um desdobramento do direito de ação. A corrente majoritária nacional e estrangeira é a última: “Toda a construção doutrinária em torno do assunto partiu da colocação que, há muito, fiz ao considerar o recurso como ação, melhor dizendo, como um prolongamento do direito de ação, o que, ontologicamente, vem a significar a mesma coisa2”. “O recurso um prolongamento do direito de ação, um prosseguimento do processo de declaração”.
2. Princípios recursais:
2.1. Taxatividade: Os recursos, via de regra, devem estar descritos na Lei, pois caso contrário haveria caos na marcha processual com a agitação de recursos inexistentes. E, segundo PAULO RANGEL, este princípio está intimamente ligado à segurança jurídica, porque as relações processuais não podem ficar infinitamente abertas a espera de recursos não existentes. Assim, o “princípio da taxatividade recursal, que não admite a criação de qualquer espécie recursal se a mesma não for criada, por força de Lei federal. Sendo assim, possibilitar a reforma de uma decisão pelo próprio órgão julgador quando não houver previsão expressa em lei é criar um recurso não previsto no ordenamento jurídico4”
.
2.2. Unirrecorribilidade ou singularidade: Via de regra os recursos devem ser manejados um por vez, pois para cada espécie de provimento judicial há um recurso específico, portanto, não seria cabível o manejo de dois recursos para a mesma decisão. Entrementes, o próprio ordenamento jurídico permite se lançar mão de dois recursos em caso de recurso especial e extraordinário, bem como apelação e protesto por novo júri. Destarte, a utilização de mais de um recurso sem autorização legal enseja o desconhecimento do segundo, como decidiu o pretório supino: “O princípio da unirrecorribilidade, ressalvadas as hipóteses legais, impede a cumulativa interposição, contra o mesmo ato decisório, de mais de um recurso. O desrespeito ao postulado da singularidade dos recursos torna insuscetível de conhecimento o segundo recurso, quando interposto contra a mesma decisão. Doutrina. (STF – RE-AgR 478722 – RS – 2ª T. – Rel. Min. Celso de Mello – DJU 02.02.2007 – p. 145)”.
2.3.Voluntariedade: Cabe às partes na relação processual decidirem acerca da propositura do recurso previsto em lei, ou seja, não há obrigatoriedade de recorrer, pois os recursos são interpostos voluntariamente, resumindo, dependem exclusivamente da vontade das partes, como preceitua o art. 574: Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: Em consectário desse princípio descaracteriza-se a natureza recursal do “recurso de ofício”, arts. 411; 574, incs. I e II e 746 do CPP e art. 7º da Lei Federal n° 1.521/51. Na realidade, é um reexame necessário cunhando-se como condição de eficácia da decisão. Nesse sentido a súmula n° 423 do STF: 423 - Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex-officio que se considera interposto ex lege.
2.4.Conversão: A conversão significa correção do endereçamento do recurso manejado dentre dos parâmetros legais, isto é, caso o recorrente interponha o recurso escorreito, todavia, o encaminhe a órgão judicante errado, este deverá encaminhá-lo ao correto.
2.5.Fungibilidade: Inicialmente poder-se-ia alegar que esse princípio contradiz o da taxatividade, contudo, não há que confundir, a fungibilidade significa que o recurso pode ser conhecido e provido mesmo que a parte tenha se equivocado na interposição da espécie recursal desde que tenha operado de boa-fé, ex vi do art. 579 do CPP: Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Goldschimidt assenta esse princípio como a teoria do recurso indiferente ou teoria do “tanto vale”. Entretanto, não se admite a fungibilidade recursal em erro crasso nem má-fé na aplicação desse princípio, nesse norte o aresto: “É certo que havendo disposição expressa em Lei acerca do recurso cabível, resta inviabilizada a aplicação do princípio da fungibilidade, uma vez que este somente se aplica nos casos de fundada dúvida, ou diante da inexistência de erro grosseiro ou má-fé na interposição do recurso eleito. (TJPR – AG 0354911-5/01 – Paranaguá – 3ª C.Cív. – Rel. Juiz Conv. Espedito Reis do Amaral – J. 16.01.2007)”.
3. Classificação dos Recursos:
 a) Quanto ao conteúdo: Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad quem (tribunal ou turma recursal) reexaminará toda a decisão; Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da decisão. Será reexaminada pelo tribunal apenas a parte impugnada.
 b) Quanto às fontes informativas: Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade de levar aos tribunais superiores o conhecimento ou a defesa dos direitos fundamentais do indivíduo, v. g., o recurso especial e extraordinário; Legais: previstos no Código de Processo Penal e nas leis processuais especiais; Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais. 
c) Quanto à motivação Ordinário: é o recurso que visa à defesa de um direito subjetivo. Baseia-se no mero inconformismo; Extraordinário: é o recurso que possui requisitos próprios, como, por exemplo, protesto por novo júri.
4. Pressupostos Recursais: Pressupostos recursais são os requisitos de admissibilidade que o recurso deve possuir, são divididos em pressupostos objetivos (atinentes ao recurso em si) e subjetivos (referentes às partes).
4.1. Pressupostos objetivos ou extrínsecos:
a) Cabimento e adequação. O recurso deve estar previsto em lei (taxatividade), demais disso, não basta que o recurso esteja previsto em lei, porque é premente que seja adequado à decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica ao sistema recursal e decorre do princípio da taxatividade. Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da aplicação do princípio da unirrecorribilidade das decisões (supra). O recurso, ainda que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo princípio da fungibilidade, sendo exceção à adequação. Assim, a interposição equivocada de um recurso pelo outro não impede o seu conhecimento, desde que oferecido dentro do prazo correto e contanto que não haja má-fé do recorrente.
b) Regularidade formal: O art. 578 do CPP estabelece a forma segundo a qual o recurso deve ser interposto. São formalidades legais para o recurso ser recebido. A apelação, o recurso em sentido estrito e o protesto por novo júri podem ser interpostos por petição ou termo nos autos. Os demais recursos devem ser interpostos por petição. Outra formalidade essencial é a motivação (razões), sem a qual se opera nulidade. A acusação deve apresentar as razões em virtude do princípio da indisponibilidade (art. 576 do CPP). Quanto à defesa, o não oferecimento de razões importaria em prejuízo à ampla defesa. Por isso, a apresentação tardia das razões importa em mera irregularidade. Essa regra tem uma exceção: o protesto por novo júri dispensa razões, ou seja, basta a simples interposição.
c) Tempestividade: O recurso deve ser interposto no prazo legal. Os prazos começam a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a Súmula n° 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”. De regra, no processo penal, o prazo para interposição dos recursos é de 5 dias. Exceções: Recurso em sentido estrito previsto no inciso XIV do artigo 581 – 20 dias; Embargos infringentes ou de nulidade – 10 dias; Embargos declaratórios – 2 dias; Carta testemunhável – 48 horas; Recurso extraordinário ou especial – 15 dias; Apelação nos crimes de competência do Juizado Especial Criminal – 10 dias (já acompanhada das razões). O termo “a quo” dos recursos, de acordo com o art. 798, § 5º, é o primeiro dia útil subseqüente à intimação pessoal do defensor dativo e dorepresentante do Ministério Público. No caso dos defensores constituídos, o prazo flui a partir do primeiro dia útil seguinte à sua intimação pelo Diário Oficial (art. 370, § 2.º, do Código de Processo Penal).
d) Ausência de fatos impeditivos do direito de recorrer: Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu recebimento, quais sejam: Renúncia: é ato de disposição, ou seja, abre-se mão do direito de recorrer. É diferente de deixar escoar o prazo sem interpor recurso. Na renúncia há manifestação expressa nesse sentido. O Ministério Público não pode renunciar. A renúncia antecipa o trânsito em julgado. Na doutrina, prevalece entendimento de que a vontade do acusado deve prevalecer sobre a do defensor. Na jurisprudência, sustenta-se que prevalece a vontade técnica do defensor, porque a renúncia ao direito de apelação, sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta, como pacificou o STF pela Súmula n° 705; Não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (art. 594 e art. 408, § 2º, ambos do CPP).
e) Ausência de fatos extintivos do direito de recorrer: Fatos extintivos são fatos supervenientes à interposição do recurso: Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à interposição do recurso. O Ministério Público não pode desistir dos recursos interpostos (art. 576 do CPP). O defensor só pode fazê-lo se tiver poderes especiais; Deserção: ato de abandonar o recurso. Equivale à desistência tácita ou presumida. Pode ocorrer pelo não pagamento das custas processuais (art. 806, § 2º, do CPP); ou pela fuga do réu no caso de apelação, sempre quando for negada a possibilidade de apelar em liberdade. A recaptura não torna sem efeito a deserção.
4.2. Pressupostos subjetivos ou intrínsecos:
a) Legitimidade: A legitimidade refere-se às partes legítimas para interposição do recurso: Ministério Público, assistente, querelante, réu ou seu defensor (art. 577 do CPP). Devem ser intimados o réu e seu defensor, iniciando-se o prazo após a última intimação.
b) Interesse jurídico: O interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre sempre que a parte teve frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágrafo único do art. 577 do CPP: “não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão”. O Ministério Público tem interesse em recorrer da sentença condenatória, em favor do réu, como já decidiu o STF: “EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. RECURSO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PEDIDO DE EXTENSÃO.
Noções Gerais –
 
Recurso é providência voluntária, razão pela qual não tem natureza recursal as hipóteses de reexame necessário de determinadas decisões pelo tribunal (art. 574, CPP).
 
O recurso é admitido dentro da mesma relação jurídica processual, o que retira da condição de recurso as ações autônomas de impugnação, como o habeas corpus, o mandado de segurança e a revisão criminal.
 
A natureza jurídica seria uma continuidade da relação jurídica processual que ainda persiste, agora em fase recursal, pelo inconformismo de uma das partes, ou de ambas, com o provimento jurisdicional obtido em primeiro grau.
 
Os recursos têm por fundamentos “a necessidade psicológica do vencido, a falibilidade humana do julgador e as razões históricas do próprio direito”.
 
Princípios recursais
 
Voluntariedade: é a regra, exceção art. 574 do CPP; da sentença de absolvição ou a deliberação que arquiva os autos do inquérito policial nos crimes contra a economia popular e saúde pública; da decisão que concede a reabilitação criminal; do indeferimento liminar pelo relator, no tribunal, da ação de revisão criminal, quando o pedido não estiver suficientemente instruído.
 
Taxatividade – para que seja possível o manejo de um recurso, se faz preciso que o ordenamento jurídico o preveja expressamente.
 
Unirrecorribilidade – em regra, cada espécie de decisão judicial comporta um único recurso, sendo ônus da parte escolher o recurso adequado para que haja seu reexame.
Fungibilidade – não havendo erro grosseiro ou má-fé na interposição de um recurso equivocado, deve o juiz que venha a reconhecer a impropriedade de uma impugnação recursal, mandar processá-la em conformidade com o rito do recurso que seria cabível.
 
Vedação da reformatio in pejus – equivalente à proibição de que a parte que recorreu tenha contra si prolatada uma nova decisão, em virtude da reforma do julgado recorrido, que venha piorar sua situação.
 
Conversão – a parte não será prejudicada pelo endereçamento errado do recurso, cabendo ao tribunal incompetente para o qual o recurso foi endereçado remeter os autos ao órgão competente para apreciá-lo.
Dialética dos recursos – o recorrente deve expor os fundamentos de sua irresignação, evidenciando os motivos pelos quais pretende ver reexaminada a decisão, viabilizando o contraditório recursal (razões e contrarrazões).
 
Pressupostos de admissibilidade recursal – previsão legal; forma prescrita em lei; tempestividade; adequação; inexistência de fatos impeditivos; motivação (em regra) (Exceção: artigos 577, 578 e 601); interesse; legitimidade.
Efeitos recursais – Devolutivo (o recurso devolve a matéria recorrida para ser apreciada pelo órgão com grau de jurisdição superior; 
Suspensivo (o recurso suspende a produção dos efeitos da decisão impugnada, devendo o processo seguir seus trâmites normais; 
Regressivo (a lei autoriza que o mesmo órgão que proferiu a decisão judicial, exerça juízo de retratação, modificando-a; 
Extensivo(aproveita aos outros, desde que não sejam de caráter exclusivamente pessoal).  
 
Extinção anormal dos recursos – São hipóteses de extinção anormal dos recursos: renúncia (ato unilateral do ofendido (ou representante legal), abdicando do direito de promover a ação penal privada ou a ação penal pública condicionada a representação, extinguindo-se por consequência, o direito de punir do Estado); desistência (O direito de recorrer é faculdade, não obrigação. Assim, possível a desistência recursal) e deserção (É o efeito produzido sobre o recurso pelo não cumprimento do requisito do preparo no prazo devido, ou seja, sem o pagamento das custas devidas, o recurso torna-se descabido) . Devemos lembrar que para o Ministério Público o recurso é indisponível (art. 576 do CPP)
Atenção: Quando réu e seu Defensor são acordes quanto ao tema, não há qualquer vedação à desistência recursal, inexistindo constrangimento ilegal.
Não obstante, celeuma exsurge quando há divergência entre a vontade do réu e a de seu defensor. Existem três correntes a respeito:
A primeira corrente assevera que deve prevalecer a vontade do réu, porquanto este é titular do direito de recorrer. Ele é parte (o advogado não o é); podendo, inclusive, destituir seu advogado a qualquer tempo.
A segunda corrente assevera que deve prevalecer a vontade do defensor.  
A terceira corrente assevera que deve prevalecer a vontade de quem quer recorrer. Este entendimento tem por fundamento o princípio constitucional da ampla defesa.

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