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dar-lhe com a escolha da proteção não se mostrou em nenhum dos músculos. Toda a cara dele era pouca para a estupefação. Realmente, a matéria do discurso revelara em mim uma alma nova; eu próprio não me conhecia. Mas a palavra final é que trouxe um vigor único. José Dias ficou aturdido. Quando os olhos tornaram às dimensões ordinárias: --Mas que posso eu fazer? perguntou. --Pode muito. O senhor sabe que, em nossa casa, todos o apreciam Mamãe pede muita vez os seus conselhos, não é? Tio Cosme diz que o senhor é pessoa de talento... --São bondades, retorquiu lisonjeado. São favores de pessoas dignas, que merecem tudo... Aí está! nunca ninguém me há de ouvir dizer nada de pessoas tais, por quê? porque são ilustres e virtuosas. Sua mãe é uma santa, seu tio é um cavalheiro perfeitíssimo Tenho conhecido famílias distintas; nenhuma poderá vencer a sua em nobreza de sentimentos. O talento que seu tio acha em mim confesso que o tenho, mas é só um,--é o talento de saber o que é bom e digno de admiração e de apreço. --Há de ser também o de proteger os amigos, como eu. --Em que lhe posso valer, anjo do céu? Não hei de dissuadir sua mãe de um projeto que é, além de promessa, a ambição e O sonho de longos anos. Quando pudesse, é tarde. Ainda ontem fez-me o favor de dizer: "José Dias, preciso meter Bentinho no seminário". Timidez não é tão ruim moeda, como parece. Se eu fosse destemido, é provável que, com a indignação que experimentei, rompesse a chamar-lhe mentiroso, mas então seria preciso confessar- lhe que estivera à escuta, atrás da porta, e uma ação valia outra. Contentei-me de responder que não era tarde. --Não é tarde, ainda é tempo, se o senhor quiser. -- Se eu quiser? Mas que outra cousa quero eu, senão servi-lo. Que desejo, senão que seja feliz, como merece? --Pois ainda é tempo. Olhe, não é por vadiação. Estou pronto: para tudo; se ela quiser que eu estude leis, vou para S. Paulo... CAPÍTULO XXVI / AS LEIS SÃO BELAS Pela cara de José Dias passou algo parecido com o reflexo de uma idéia, -- uma idéia que o alegrou extraordinariamente. Calou se alguns instantes; eu tinha os olhos nele, ele voltara os seus para o lado da barra. Como insistisse: --É tarde, disse ele, mas, para lhe provar que não há falta de vontade, irei falar a sua mãe. Não prometo vencer, mas lutar; trabalharei com alma. Deveras, não quer ser padre? As leis são belas; meu querido... Pode ir a S. Paulo, a Pernambuco, ou ainda mais longe. Há boas universidades por esse mundo fora. Vá para as leis, se tal é a sua vocação. Vou falar a D. Glória, mas não conte só comigo, fale também a seu tio. --Hei de falar. --Pegue-se também com Deus,-- com Deus e a Virgem Santíssima, concluiu apontando para o céu. O céu estava meio enfarruscado. No ar, perto da praia, grandes pássaros negros faziam giros, avançando ou pairando, e desciam a roçar os pés, na água, e tornavam a erguer-se para descer novamente. Mas nem as sombras do céu, nem as danças fantásticas dos pássaros me desviavam o espírito do meu interlocutor. Depois de lhe responder que sim, emendei-me: --Deus fará o que o senhor quiser. --Não blasfeme. Deus é dono de tudo; ele é, só por si, a terra e o céu, o passado, o presente e o futuro. Peça-lhe a sua felicidade que eu não faço outra cousa... Uma vez que você não pode ser padre, e prefere as leis... As leis são belas, sem desfazer na teologia que é melhor que tudo, como a