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PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL TUTORA: DENISE RUFINO HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Tópico 1 A HUMANIDADE E O SURGIMENTO DAS CIDADES Foi após a descoberta da agricultura e da criação de animais que surgiram as cidades, a economia e as civilizações, pois só assim a humanidade conseguiu se aglomerar em grandes grupos. No final das contas foi a agropecuária que criou nossas sociedades. As cidades nasceram após a formação de aldeias, mas não se trata apenas do aumento de casas e do crescimento da população. Ela inicia sua existência quando serviços diferentes, não ligados à agropecuária, começam a existir, como: a fabricação de artefatos, serviços religiosos, medicinais e militares. Com o crescimento das cidades e de suas populações foram se formando regras para organização da sociedade, houve uma organização política e hierarquização das classes de trabalhadores. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND https://auladeadriana.blogspot.com/2011/02/catal-huyuck-una-ciudad-neolitica.html https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ Cidades da pré-história e antiguidade No fim do que se chama de período pré-histórico nascem as primeiras cidades. Seu surgimento fica estimado entre 5.000 a 3.000 a.C. na Mesopotâmia (planalto vulcânico entre dois rios - Tigre e Eufrates), região hoje dentro dos limites do Iraque. A Mesopotâmia faz parte da região conhecida como Crescente Fértil, onde as primeiras civilizações como um todo se consolidaram. Os rios que irrigam essa região são: Jordão, Eufrates, Tigre e o Nilo Podemos dizer que as primeiras cidades foram as constituídas na civilização dos Sumérios. Incrivelmente esse povo possuía grandes edificações, bairros especializados, ruas, sistemas de irrigação, grandes templos e grandes fortificações no entorno. Tinham conhecimento amplo principalmente sobre arquitetura, matemática e astronomia. As cidades da antiguidade eram chamadas de cidade-estado, devido a sua grande importância e independência. A maior cidade da antiguidade, que chegou a possuir mais de quinhentos mil habitantes e foi um grande centro religioso chama-se Babilônia. Outra civilização importante para o histórico das cidades foi a grega, que se iniciou aproximadamente em 2.500 a.C. Os gregos já se preocupavam com o tamanho das cidades, pois sabiam que as cidades dependiam dos recursos mais próximos e de sua produção agropecuária, ou seja, uma população fora de limites traria grandes problemas sociais. As principais cidades gregas foram: Atenas, Esparta e Tebas. Possuíam as características das cidades-estados: eram independentes, com governo e padrões militares próprios. Os romanos foram outra grande civilização do período da antiguidade que se utilizou de padrões helênicos (gregos) para o planejamento de suas cidades. Mesmo com todos os esforços e novas tecnologias, o crescimento da cidade de Roma e de sua população não foi harmonioso. Cerca de 25% da população de Roma não tinha o que fazer, faltavam serviços. A comida tinha que ser distribuída para que não houvesse enorme mortalidade por fome. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY- NC-ND https://www.losapuntesdelviajero.com/2018/05/visitar-acropolis-de-atenas.html https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ https://europasoberana.blogspot.com/2013/05/esparta-y-su-ley-iv-de-v.html https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ Além dessas civilizações antigas citadas, existiram outras com grandes manifestações urbanísticas por volta de 2.500 a.C. no vale do rio Indo na Índia e por volta de 1.500 a.C. no vale dos rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang na China. Na América surgiram civilizações como os Incas, Maias e Astecas, também com grandes construções voltadas ao culto religioso e o armazenamento de alimentos e sementes. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA http://mundosemfim.com/10-curiosidades-sobre-o-mexico/ https://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Maias/Imagem_selecionada https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ Cidades da idade média A partir da queda do império Romano houve uma grande mudança no modo de viver da humanidade. Ocorreram as invasões bárbaras e serviços e comércio tiveram estagnações nos centros urbanos. O cristianismo e a igreja católica se fortaleceram e assim se criou o sistema feudal. Os bispos exerciam a função de governantes e a agricultura se fortaleceu formando grande senhores feudais, que acabaram por formar e comandar novas cidades. Os senhores feudais trocavam o trabalho de habitantes por proteção e apoio militar. As cidades então voltaram a ser de tamanho reduzido, a terem muralhas e grande nível de subsistência. Cidades da idade moderna A partir do século XII houve crescimento econômico e com isso maior desenvolvimento das chamadas cidades capitais. Os monarcas se consolidaram no poder. O sistema de coleta de imposto se formou de forma rígida para que existisse dinheiro para a construção e o crescimento das cidades. Porém, o planejamento era precário, ruas estreitas, falta de serviços de higiene o que acabava por acarretar disseminação de doenças, como a peste negra que chegou a dizimar um terço da população da Europa. A queda da cidade de Constantinopla (atualmente Turquia) consolidou o início da Idade Moderna (Renascentismo), pois o domínio da cidade para os Otomanos mudou o comércio mundial para o oceano Atlântico. Cidades da idade contemporânea Surgiu a revolução industrial e com ela grandes modificações econômicas, sociais e ambientais no mundo. As cidades sofreram alterações em seu planejamento devido a isso. Houve um explosivo crescimento demográfico nas cidades, iniciando na Inglaterra depois França e Alemanha. Na Europa como nos Estados Unidos o uso dos trens colaborou muito para o crescimento e desenvolvimento das cidades, pois facilitou o comércio de importação e exportação de produtos para longas distâncias. Viver nas cidades voltou a ser interessante para as pessoas e iniciou- se o êxodo rural. As condições sanitárias das cidades não haviam evoluído muito desde a idade média, porém, mesmo assim a oferta de trabalho nas indústrias atraiu as pessoas para as cidades. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND https://www.sepam.com.br/blog/revolucao-industrial-2/ https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ Em 1830 epidemias começaram a surgir nas principais cidades do mundo, como a cólera e o tifo, com isso, a partir de 1850 começaram adaptações amplas para melhorar as condições das principais cidades do mundo, principalmente em termos sanitários. Paris foi uma das cidades em que houve grandes modificações, bairros com epidemias foram demolidos, áreas foram limpas, bulevares foram construídos trazendo mais verde para a cidade. Nesse período, Londres despejava a maior parte de seu esgoto e captava a sua água de uso comum no mesmo rio, chamado Tâmisa. Esse era um dos fatores que faziam aumentar a incidência de epidemias na cidade. Em 1848, aprovada a primeira lei sanitária, denominada Public Health Act, para sanar esse problema. As indústrias centralizaram as cidades, mas com o passar do tempo começou a não haver espaços centrais para as indústrias. Iniciou-se assim um processo de descentralização no começo do século XX. Indústrias mais poluentes e novas começaram a se instalar na periferia formando núcleos secundários na cidade, causando descentralização. O fenômeno da segregação social nas cidades, que sempre ocorreu, começa a ser acentuado com a revolução industrial. A capacidade de renda e/ou nível cultural, involuntariamente imposta, acabava por definir a região da cidade que a pessoa iria habitar A EVOLUÇÃO DO URBANISMO E PLANEJAMENTOURBANO NO MUNDO E NO BRASIL Durante os séculos XVIII e XX (idade contemporânea) acabaram por se formar dois grupos de destaque no urbanismo, os de origem anti urbana (utópicos) e os técnicos-setoriais. Os antiurbanos tinham pensamentos voltados ao socialismo, contrários à industrialização, pois seus idealizadores não queriam o desenvolvimento das indústrias, preconizavam uma organização mais comunitária, próxima da natureza. (utópicos) A chamada cidade-jardim, proposta por Ebenezer Howard, pode ser descrita como uma adaptação da ideologia anti urbana, pois tenta unir uma produção agrícola com a industrial de pequena escala. A ideia de urbanismo de Howard tem até hoje boa aceitação, principalmente na Inglaterra e acabou por influenciar o desenho urbano de muitas cidades e bairros no Brasil como: Maringá, Goiânia, Jardim América e Barra da Tijuca. Os técnicos-setoriais se diferenciavam dos antiurbanos, pois procuravam resolver os problemas de forma pontual, faziam remediações isoladas, não possuíam visão global. Não tinham grandes planos utópicos. Após a segunda guerra mundial houve uma tentativa de reduzir o crescimento de Londres. Foi implantado um cinturão verde de produção agrícola e uma rede de pequenas e médias cidades-satélites no seu entorno. Buscava-se subdividir o espaço urbano em unidades autossuficientes quanto possível. Essa solução aproximou urbanistas antiurbanos dos técnicos-setoriais No início do século XIX surgiram vários urbanistas que seguiam ideias baseadas em unir os ideais antiurbanos e técnico-setoriais, que foram chamados de globalizantes utópicos pró-industriais e pró-urbanos. Destaca-se, nessa época, Le Corbusier, que visou combinar áreas verdes, edificações verticais e alta densidade urbana, a fim de reduzir custos da urbanização, um pensamento ainda atual e bastante interligado com o pensamento do desenvolvimento sustentável. Em 1933, ocorreu o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), cujo tema foi a ‘Cidade Funcional’. Foi um evento histórico com a participação de profissionais de renome do urbanismo e que solidificou o pensamento urbanista denominado racionalista ou funcionalista. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC https://apuntessobrelaciudad.wordpress.com/2020/04/ https://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ As conclusões desse encontro foram reunidas em um documento denominado a Carta de Atenas, em que foram determinadas ações para o desenvolvimento de um urbanismo menos estético e mais funcional. Muito do que temos hoje no Brasil e no mundo em termos de planejamento urbano, principalmente em termos legislativos, vem das conclusões da Carta de Atenas ESTUDO DOS AMBIENTES URBANOS Tópico 2 PRINCIPAIS PROBLEMÁTICAS E IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS Segundo Sánchez (2006), o impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pelo choque da relação do homem com o meio ambiente. O impacto ocorre quando se muda uma situação base, ou seja, situação ambiental existente ou uma condição na ausência de determinada atividade. Conforme o inciso II do artigo 6º dessa resolução, o impacto ambiental pode ser positivo (benéfico) ou negativo (adverso), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes, e pode proporcionar ônus ou benefícios sociais. Para que ocorra um impacto ambiental sempre existe o que se chama de aspectos ambientais, que são as causas potenciais de impactos, ou seja, se concretizam como causas quando o impacto acontece. Quando existe planejamento urbano inadequado ou falho, os impactos ambientais vão crescendo anualmente e, consequentemente, os danos causados por eles também. Assim forma-se o que chamamos de passivo ambiental. São os danos causados ao meio ambiente, as atividades e o custo de recuperação desses danos, representa a obrigação, a responsabilidade social da empresa ou administração pública com aspectos ambientais. Analisando o histórico do surgimento das cidades, é notável que o adensamento populacional nas cidades e seu crescimento vertiginoso são as causas (aspectos ambientais) de inúmeros impactos ambientais. Cidades espontâneas: que foram crescendo sem nenhum planejamento ou com instruções básicas. As problemáticas urbanas estão ligadas aos impactos ambientais, pois grande parte dos problemas que observamos nas cidades vem de alterações antrópicas (feitas pelo homem) não planejadas, ou com planejamentos ineficazes. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2018/02/o-impacto-das-usinas-termicas-no-meio.html https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ Desigualdade e segregação social O conceito de desigualdade social pode ser amplo, englobando desde desigualdade de escolaridade, gênero, oportunidade entre outras. Porém, de forma geral entende-se desigualdade social como desigualdade econômica (renda). Dados mostram que 0,7% da população existente possui 45,2% de toda a riqueza monetária do mundo. No Brasil, a desigualdade social historicamente é acentuada. Vem diminuindo com oscilações nos últimos 20 anos, porém, ainda de forma tímida. A solução para desigualdade social se concentra na educação de qualidade bem distribuída no mundo, em políticas fiscais justas, salários justos e infra estrutura de saúde, mobilidade e saneamento. E o que tem haver desigualdade com impacto ambiental? Começamos pelas ocupações ilegais e favelas, que tem ligação direta com a desigualdade social. O imóvel e terrenos no Brasil de modo geral são caros, sendo que para maioria da população brasileira se torna inviável adquirir um imóvel, mesmo com trabalho e dedicação durante uma vida inteira. Em termos ambientais por essas favelas ou áreas de ocupação ilegal serem normalmente em áreas de morro ou naturais, ocorrem desmatamentos, erosão, desbarrancamentos entre outros impactos. Essas regiões acabam por não ter infraestrutura de esgoto ou água pluvial, até mesmo a coleta de lixo usualmente pode não ocorrer, sugere então a poluição de nascentes, rios, solo e lençol freático. Carência de saneamento básico Saneamento básico envolve um conjunto de serviços e ações que tem o intuito de promover a salubridade ambiental, trazendo assim maior qualidade de vida tanto em zonas urbanas como rurais. O Brasil tem carência de todos esses serviços em muitas regiões, porém, de maneira geral é mais evidente os descasos com os resíduos sólidos, que trataremos em item específico devido suas particularidades; abastecimento de água; drenagem das águas pluviais; e o que tange o esgoto sanitário. O Saneamento Básico de maneira geral, envolve o recurso natural denominado Água. A água encontra-se distribuída entre doce e salgada da seguinte forma 97,5% salgada (mares e oceanos) e apenas 2,5% doce. Dessa quantidade de água doce 68,9% encontra-se em forma de gelo (calotas polares, geleiras e no cume de montanhas); 29,9% são águas subterrâneas (aquíferos); 0,9% são de áreas brejosas e pântanos; e apenas cerca de 0,3% estão nos rios e lagos. Utilizamos essa água doce principalmente de rios e lagos, destinando 70% para a irrigação na agricultura; 20% para a indústria e cerca de 10% para uso humano e tratamento de animais. O maior problema da água no mundo é sua distribuição: 60% em apenas 9 países, enquanto 80 outros enfrentam escassez. O descaso com o tratamento da água é enorme, pois se estima que mais de 80% da água usada no mundo não é coletada e nem tratada, isso ocorre principalmente nos países em desenvolvimento. Mesmo a água sendo um recurso renovável existe um tempo para que ocorra sua renovação (cerca de 43 mil km cúbicos por ano) para possibilitar o uso humano, com isso, pode-se prever que seriam necessários 3,5 vezes a quantidade de água doce do mundo se toda a população mundial consumisse água como um europeu ou americano. No Brasil a água é um recursoabundante, possuímos os dois dos maiores aquíferos do mundo (Guarani e Alter do Chão), além de uma quantidade invejável de rios e lagos (cerca de 12% da água doce do mundo). Porém, o nível de poluição sobre nossas águas e desperdício é imenso. A situação brasileira, em termos de abastecimento, é: 82,5% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada. Porém, mais de 35 milhões de brasileiros ficam sem o acesso a este serviço básico. A cada 100 litros de água coletados e tratados, em média, apenas 67 litros são consumidos. Perde-se 37% da água, seja com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água. A soma do volume de água perdida por ano nos sistemas de distribuição das cidades daria para encher 6 (seis) sistemas Cantareira. A região Sudeste apresenta 91,7% de atendimento total de água; enquanto isso, o Norte apresenta índice de 54,51%. A região Norte é a que mais perde, com 47,90%; enquanto isso, o Sudeste apresenta o menor índice com 32,62%. A média de consumo per capita de água no Brasil em três anos é de 165,3 litros por habitante ao dia. Em 2014, este valor foi 162 l/hab.dia. Em três anos, a região Sudeste apresentou o maior índice com 192 l/hab.dia e o menor foi o Nordeste com 125,3 l/hab.dia. Em 2014, o Sudeste continuou como maior índice 187,9 l/hab.dia e o Nordeste como o menor de 118,9 l/hab.dia. A drenagem das águas de uma cidade é outro requisito importante do Saneamento Básico, que influi na qualidade das águas. Nas cidades ocorre uma grande impermeabilização do solo, as calçadas, ruas e edificações impedem que a água da chuva possa infiltrar no solo. Quando chove o lixo que a população descarta nas ruas acaba indo diretamente para essas áreas naturais contaminando rios e animais, além de condicionar o aparecimento de vetores de doenças. As águas pluviais, na maioria dos casos, acabam adquirindo velocidades intensas dentro do sistema de drenagem e quando são descartadas causam erosões enormes deformando leitos de rios, podendo chegar a causar o aterramento do leito original. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA https://www.flickr.com/photos/casazero/1129117715 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ Estima-se que de toda água que se precipita sobre as áreas continentais do mundo, a maior parte (60 a 70%) se infiltra, porém, uma significativa parte de 30 a 40% escoa diretamente para as bacias hidrográficas. A água que se infiltra tem a função de manter os rios fluindo em uma vazão padronizada o ano todo, mesmo quando existem épocas de estiagem. Enorme grau de impermeabilização nas cidades associado a níveis altos de precipitação levam a formação de enchentes, pois a vazão dos rios se eleva rapidamente fazendo estes transbordarem levando acúmulo de água para regiões urbanas e rurais. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY- ND https://www.brasildefato.com.br/2019/04/02/enchentes-de-fevereiro-serao-investigadas-pela-camara-municipal-do-rio/ https://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/ https://marcozero.org/bwg_gallery/enchentes-no-sertao-de-pernambuco/ https://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/ A situação brasileira, em termos de coleta e tratamento de esgoto, é: 48,6% da população têm acesso à coleta de esgoto. Mais de 100 Milhões de brasileiros não têm acesso a este serviço. Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis. Mais da metade das escolas brasileiras não têm acesso à coleta de esgotos. 47% das obras de esgoto do PAC, monitoradas há seis anos, estão em situação inadequada. Apenas 39% foram concluídas e, hoje, 12% se encontram em situação normal. 40% do esgoto do Brasil não são tratados, sendo descartado in natura nas bacias hidrográficas. A média das 100 maiores cidades brasileiras em tratamento dos esgotos foi de 50,26%. Apenas 10 delas tratam acima de 80% de seus esgotos. As capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de m³ de esgotos na natureza em 2013. Acúmulo de resíduo sólido (lixo) Podemos definir resíduos sólidos como toda e qualquer sobra da atividade humana que gere algum tipo de material sólido. Os resíduos sólidos podem ser classificados em domésticos, hospitalares, comerciais, industriais e especiais (entulhos de construção civil ou matéria animal e vegetal). Existe no mundo todo, principalmente nos países mais desenvolvidos, um exagerado consumo de produtos industrializados necessários ou supérfluos, com isso um problema de geração de resíduos sólidos imensa, com destinação e usos bastante inadequados causando ou intensificando impactos socioambientais, tais como: degradação do solo, poluição de recursos hídricos (nascentes, rios, lençóis freáticos, aquíferos e oceanos), enchentes, poluição do ar, proliferação de vetores de doenças e a degradação social de catadores de resíduos que acabam por trabalhar em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final De acordo com relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), realizado em 2015, constatou-se que 90% do lixo eletrônico do mundo, com valor estimado em 19 bilhões de dólares, foi comercializado ilegalmente ou jogado no lixo a cada ano. Quando falamos em lixo orgânico também é possível constatar o imenso desperdício que existe no mundo, pois grande parte desse tipo de lixo é composto por restos de alimentos estragados por não terem sido consumidos. Em um estudo elaborado por especialistas que analisaram dados de resíduos recolhidos nos oceanos em 192 países no ano de 2010, se estimou que uma média de 8 milhões de toneladas de lixo plástico são lançadas nos oceanos anualmente, sendo a China maior “lançadora”. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY- SA https://www.ecointeligencia.com/2017/05/oceanos-plastico/ https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ O Brasil gerou aproximadamente 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2014, crescimento de 2,9% em relação ao volume d ano anterior. A média de geração de resíduos sólidos urbanos no país, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2014 foi de 1,08 kg por hab./dia, ou seja, um total de 387,63 kg por hab./ano, um padrão próximo aos dos países da União Europeia, cuja média é de 1,2 kg por dia por habitante. Segundo a Abrelpe (2015) o país obteve um índice de 58,4% de destinação final adequada em 2014, o que é significativo, porém, a quantidade desses resíduos destinada a locais inadequados totaliza 29.659.170 toneladas no ano (41,6%) que acabaram em lixões ou aterros controlados. Em 2014 uma alarmante porcentagem de 59,8% de nossos municípios (3.334 municípios) continuaram a realizar uma destinação final imprópria. Comparando os anos de 2010 a 2014 a produção de resíduos sólidos urbanos cresceu 29%, a cobertura dos serviços de coleta passou de 88,98% para 90,68% e a quantidade de postos de trabalho diretos subiu mais de 18%. O percentual de resíduos encaminhados para aterros sanitários permaneceu praticamente inalterado nos últimos anos, sendo 57,6% em 2010 e 58,4% em 2014, infelizmente as quantidades destinadas inadequadamente aumentaram, e chegaram a cerca de 30 milhões de toneladas por ano, em 2014. Gastou-se em média R$ 119,76 por habitante/ano na coleta de resíduos sólidos urbanos e demais serviços de limpeza urbana no Brasil no ano de 2014, mas o triste é que esse valor é insuficiente e demonstra descaso, pois com ele é possível constatar que houve aumentos irrisórios ao longo dos anos para liquidar com essa problemática. Trânsito caótico De acordo com Organização Mundial da Indústria Automobilística (OICA) em 2008 a frota de carros no mundo passou de 1 bilhão e acada ano aumenta consideravelmente. Nas áreas metropolitanas o problema da poluição do ar tem-se constituído numa das mais graves ameaças à qualidade de vida dos seus habitantes. De acordo com dados do Banco Mundial cerca de 15% das emissões de gases de efeito estufa vem desse tipo de veículo e em vinte anos estima-se que chegará a 20%. Estudos do laboratório de poluição atmosférica d Universidade de São Paulo (USP) evidenciam que os paulistanos vivem em média dois anos a menos por causa dessa poluição. Em 2013 foram calculadas quase 20 mortes por dia na cidade devido à poluição atmosférica. Outro problema do uso extremo de veículos automotores nas cidades são os congestionamentos, que por sinergia aumenta estresse e doenças que atacam fisiologicamente e psicologicamente. De forma geral estima-se que o tráfego de veículos responde por cerca de 90% das emissões de CO, 80 a 90% das emissões de NOx, hidrocarbonetos e uma boa parcela de partículas, constituindo uma ameaça à saúde humana. Existe diferença na toxicidade e tipos de poluentes que cada tipo de veículo automotor joga na atmosfera. Veículos pesados (ônibus e caminhões) são responsáveis pela maior fração das emissões de óxidos de nitrogênio e de enxofre, enquanto que os veículos leves (automotores de passeio e de uso misto), movidos à gasolina e a álcool, são os principais emissores de monóxido de carbono e hidrocarbonetos. FUNDAMENTOS AMBIENTAIS PARA PLANEJAMENTO URBANO Tópico 3 Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2014/08/planejamento-urbano-sustentavel.html https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ CENÁRIO AMBIENTAL MUNDIAL E BRASILEIRO Resumindo, a população cresce desenfreadamente e assim o consumo e produção de alimento de alimento. Apenas 14 países ainda possuem terras férteis e aráveis para a agricultura. O Brasil é um deles, pois tem potencial enorme para aumentar sua produção de alimentos e sem precisar desmatar ou ocupar áreas de importância ecológica vital. Infelizmente, Empresas e governo utilizam-se hoje do medo da falta de alimentos para lucrar rápido e degradar muito. No Brasil o chamado novo Código Florestal, aprovado em 2012, trouxe vários retrocessos em termos de proteção ambiental, colaborando para desmatamentos e ocupação de áreas que deveriam ser destinadas a conservação da natureza. A questão é que a fome e a miséria do mundo sempre existiram devido à má distribuição de renda e outras especificidades e não da ineficácia da produção agropecuária ou da falta de alimentos. Hoje temos variadas formas de produzir alimentos, algumas bastante impactantes em termos ambientais, mas de maneira geral conseguimos ter produção eficiente, ou seja, produzir mais em cada vez menos espaço. Outro problema que temos é o consumo de carne fora do normal e aumentando gradativamente. A pecuária vem se utilizando de métodos bastante impactantes em sua produção, desmatando florestas naturais e utilizando de grandes espaços, o que traz sérios problemas para um mundo tão carente de conservação. Temos mais de 40% das florestas tropicais do mundo destruídas ou em processo de arenização (abertura de áreas para ampliação do agronegócio são o principal motivo) Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA- NC Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND https://www.flickr.com/photos/canaldoprodutor/39405483805 https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ https://www.brasildefato.com.br/2021/05/27/por-que-o-desmatamento-na-mata-atlantica-persiste https://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/ Temos um país megadiverso. Precisamos da biodiversidade, tanto pelo equilíbrio dos ecossistemas, como para nossa economia, pois em torno de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial está relacionado diretamente com os produtos vindos dela. Madeira, remédios, algodão, comida, tinta, papel e tantos outros produtos essenciais existem por causa da diversidade de espécies. O ser humano está na terra há apenas 400 mil anos. Mudanças no planeta podem nos extinguir com certa facilidade, somos quebradiços. A temperatura da terra viável para nossa sobrevivência só é possível devido ao efeito estufa. Afetar o equilíbrio da “nossa” estufa significa um suicídio global. Estamos devolvendo 300 milhões de anos de poluição, principalmente gás carbônico, na nossa atmosfera. Além disso, novamente o agronegócio, principalmente a pecuária, e sua escala de produção absurda, geram a maior parte dos gases de efeito estufa na nossa atmosfera (quantidade de estrume e espaço absurdos). CONCEITOS BÁSICOS DE FUNDAMENTOS AMBIENTAIS - Percepção ambiental Se refere à maneira que uma pessoa ou um grupo de pessoas com características socioculturais semelhantes compreendem o lugar em que vive, seu espaço, a paisagem ao seu redor. Atualmente, a ciência nos alerta que essa percepção ambiental de nossos antepassados e pioneiros é degradante para a civilização, o problema é que muitas pessoas ainda tem essa visão de antes. Sendo assim, para o planejamento urbano a percepção ambiental dos cidadãos e seus grupos é importante de ser diagnosticada, pois com isso será possível perceber o que a população deseja de modificações, do nível de entendimento das problemáticas existentes, dos possíveis cenários para o futuro entre outros aspectos relevantes. Meio ambiente De acordo com a Resolução Conama nº 306/2002 meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas Formas. A Lei nº 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente), em seu artigo 3º, parágrafo primeiro, define meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Constantemente em planejamento urbanos fala-se em meio ambiente urbano, referindo-se às interações e condições da paisagem de ordem física, química e biológica na região urbana que regem a vida, reduzindo assim a área de abrangência do termo meio ambiente. Ecossistema x Bioma No Brasil temos seis biomas oficiais: Amazônia (49,29% do território brasileiro), Cerrado (23,92%), Mata Atlântica (13,04%), Caatinga (9,92%), Pampa ou Campos Naturais (2,07%) e Pantanal (1,76%). Atualmente as áreas da maioria dos biomas, com exceção do bioma Amazônico, não é mais constituída em sua grande parte por áreas naturais, hoje as áreas naturais estão fragmentadas, o território deles está ocupado em grande parte por cidades, pastagens, plantios agrícolas e silviculturais. no bioma Amazônico não existe apenas um tipo de vegetação, não se trata apenas de um tipo de floresta, são vários, porém, possuindo características semelhantes e agrupados em uma mesma região. Biodiversidade Biodiversidade é a totalidade da variação hereditária em formas de vida, em todos os níveis de organização biológica, desde os genes e cromossomos dentro de cada espécie isolada até o próprio espectro de espécies e afinal, no mais alto nível, as comunidades que vivem em ecossistemas como florestas e lagos. Na definição de Wilson fica claro que a biodiversidade se refere a todas as formas de vida, ou seja, todas as espécies. Se a população de uma determinada espécie tem pouca variabilidade genética isso significa que são aparentados e nos cruzamentos isso causará ao longo do tempo deterioração das formas de adaptabilidade, ou seja, enfraquecimento e até extinção da espécie. Da biodiversidade vem nossos remédios (hipertensivos de veneno de cobras, remédios de variadas doenças de rãs e tipos de plantas entre outros), nossas roupas (variedades de algodão e seda vinda do bicho-da-seda), nossos móveis (várias espécies de árvores), nossos alimentos (animais, vegetais, frutas, verduras entre outros)e a matéria prima de inúmeros materiais industrializados. Qualidade de vida Segundo Cortella (2013) para ter qualidade de vida, ou seja, o bem viver temos que viver as inúmeras dimensões de nossa existência: família, trabalho, amizade e cidadania, sem ter sofrimento e culpa. Preencher todos os requisitos para que se considere uma qualidade de vida no mais alto nível é extremamente complexo, pois muitos dos fatores que levam a boa qualidade de vida não são de responsabilidade exclusiva do cidadão, dependem das instituições, de políticas públicas, de infraestrutura, da conservação ambiental entre outros fatores. Paisagem Para conceituar cientificamente a paisagem, principalmente na Geografia, formou-se uma dicotomia, que de forma geral perdura até hoje. Sotchava, em 1963, formou a noção de geossistema: um fenômeno natural, influenciado pelos fatores econômicos e sociais, que podem transformar sua estrutura e suas peculiaridades espaciais, surgindo dessas influências as paisagens antropogênicas, ou seja, os estados variáveis e primitivos dos geossistemas naturais. Atualmente, a paisagem entra em estudos tanto de enfoque subjetivo, como de enfoque sistêmico. A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, e em perpétua evolução. Desenvolvimento sustentável Durante a Eco 92 (reunião mundial para discussão de assuntos ambientais e de desenvolvimento realizado em 1992 no Rio de Janeiro) foi formulado um documento ratificado por 179 países denominado Agenda 21, nesse o conceito foi moldado e foram determinadas mais de 2.500 recomendações para o alcance dos objetivos da sustentabilidade. Desenvolvimento Sustentável é um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades (AGENDA 21, 2002). De forma geral, Desenvolvimento Sustentável visa o bem estar da coletividade no presente e no futuro e propõe alcançar esse objetivo através da construção de um novo modelo de mundo, ainda não existente, que englobe ações que sustentem a diversidade e a disponibilidade de recursos naturais, no mínimo nas seguintes dimensões: social, econômica, ambiental e cultural. Seguindo os preceitos da Agenda 21 e das discussões globais em torno do tema, para se alcançar o desenvolvimento sustentável, em termos sociais, cabe alterar modos de vida e quebrar paradigmas. A sociedade deve agir dentro do que é realmente importante para sobrevivermos e termos dignidade. Precisamos de distribuição de renda mais justa para que existam avanços em termos sociais. Em termos econômicos, as mudanças necessárias focam nos nossos modos de consumir e produzir. Culturalmente, o que fica claro no desejo da sustentabilidade é a valorização dos variados tipos de povos e suas formas de viver. Cada cultura fornece, diversidade de informações, criatividade na resolução de problemas e, claro, consumo diferenciado de nossos recursos. Em termos ambientais, é essencial entendermos o funcionamento natural dos processos ecológicos. Ouvir os cientistas e trabalhar as áreas naturais para que continuem a nos fornecer recursos com abundância e melhorando a distribuição por todo planeta. Avaliação de impacto ambiental Esse tipo de avaliação é a base de nosso sistema de licenciamento ambiental e também é utilizada para algumas certificações ambientais. Trata-se de um processo formal para identificar os efeitos de determinada atividade sobre o ambiente (físico, biológico, econômico e social) e determinar as medidas para prevenir, corrigir e compensar os impactos, além de monitorá-los. É preconizado pela Lei 6.938/81, no licenciamento de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, sendo um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente. Fica estipulado que esse deve ser composto dos seguintes itens: ■ Descrição do projeto e suas alternativas. ■ Etapas de planejamento, construção, operação. ■ Delimitação e diagnóstico ambiental das áreas de influência. ■ Identificação, medição e valorização dos impactos. ■ Identificação das medidas mitigadoras: aquelas capazes de diminuir o impacto negativo, sendo, portanto, importante que tenham caráter preventivo e ocorram na fase de planejamento da atividade. ■ Programa de monitoramento dos impactos. Segundo a Resolução CONAMA nº 1/1986 o RIMA deve conter: Os objetivos e as justificativas do projeto, sua relação e sua compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais. A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação, a área de influência, as matérias primas e mão de obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia e os empregos diretos e indiretos a serem gerados. A síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental da área de influência do projeto. A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e da operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação. A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas e a hipótese de sua não realização. A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado. O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos. A recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral). O EIA e o Rima são dois documentos distintos com objetivos diferenciados, mas o RIMA é dependente do EIA.