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ANATOMIA GERAL Gabriela Souza de Vasconcelos Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os aspectos anatômicos da medula espinal, como intumes- cências, meninges e raízes. � Reconhecer, por meio da anatomia seccional, as características da me- dula espinal relacionadas à substância cinzenta e à substância branca. � Relacionar os diferentes tipos de reflexos conduzidos pela medula espinal. Introdução O sistema nervoso central é constituído pela medula espinal e pelo encé- falo e, apesar de serem anatomicamente conectados, a medula espinal e o encéfalo apresentam um grau significativo de independência funcional. A medula espinal é muito mais do que apenas uma via para transmis- são de informação ao encéfalo ou a partir dele, pois ela também integra e processa informação por si, como os reflexos medulares. Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos anatômicos da medula espinal, assim como as características da medula espinal relacionadas à substância cinzenta e à substância branca, e os diferentes tipos de reflexos medulares. 1 Aspectos anatômicos da medula espinal A medula espinal, que juntamente com o encéfalo compõe o sistema nervoso central (SNC), permite a comunicação do encéfalo com o restante do corpo humano. As informações coletadas pelos nervos e pelos gânglios (sistema nervoso periférico) são transmitidas para o SNC, que inicia uma resposta reflexa (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Em relação a anatomia da medula espinal, ela está localizada dentro do canal vertebral da coluna vertebral e percorre desde o forame magno até o nível da segunda vértebra lombar, medindo aproximadamente 42 a 45 centímetros. A medula espinal é dividida em direita e esquerda, por dois sulcos: a fissura mediana anterior (ventral) profunda e o sulco mediano posterior (dorsal) super- ficial (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A medula espinal, assim como o encéfalo, é revestida por tecido conec- tivo, chamado de meninge. O revestimento da medula espinal é feito por três camadas de meninge: dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A meninge mais externa, que se estende até a segunda vértebra sacral, é chamada de dura-máter, que forma um saco tecal que envolve a medula espinal e, com esse tecido conectivo denso não modelado e resistente, ajuda a proteger as estruturas delicadas do SNC. A dura-máter é separada do periósteo do canal vertebral pelo espaço epidural, o qual consiste em um espaço entre as paredes do canal vertebral e a dura-máter da medula espinal que contém as raízes dos nervos espinais, vasos sanguíneos, tecido conectivo e tecido adiposo (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A camada intermediária, muito fina, é denominada aracnoide-máter e apresenta fibras elásticas e colágenas, que lembram uma teia de aranha. Ela é separada da dura-máter por um espaço praticamente virtual, chamado de espaço subdural, o qual contém uma pequena quantidade de fluido seroso (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A camada mais interna, que contém inúmeros vasos sanguíneos, é a pia- -máter, uma camada transparente de fibras elásticas e colágenas, que está aderida à superfície da medula espinal e do encéfalo. Entre a aracnoide-máter e a pia-máter, encontra-se a cavidade subaracnóidea, que contém filamentos semelhantes às teias da aracnoide-máter, vasos sanguíneos e líquido cerebros- pinal (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Na punção lombar, o líquido cerebrospinal é coletado do espaço subaracnói- deo a fim de avaliar a presença de agentes infecciosos (meningite), de sangue (hemorragia) ou, ainda, para medir a pressão liquórica. Na anestesia raquidiana, Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais2 ou bloqueio espinal, são introduzidos fármacos no espaço subaracnóideo para bloquear a transmissão dos potenciais de ação e evitar as sensações dolorosas na metade inferior do corpo (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Em função da medula espinal ser mais curta que a coluna vertebral, os nervos que surgem das regiões lombar, sacral e coccígea deixam a coluna vertebral em nível diferente dos que saem da medula, e as raízes desses nervos se estendem inferiormente (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM- MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Como a medula percorre a coluna vertebral, ela é nomeada cervical, to- rácica, lombar e sacral, conforme a região da coluna vertebral de onde se originam os nervos. Ao todo, originam-se da medula espinal 31 pares de nervos espinais, cada um deles composto por células de Schwann, bainhas de tecido conectivo e dois feixes de axônios que saem da coluna vertebral por meio de forames intervertebrais e sacrais (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM- MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Cada segmento espinal está associado a um par de gânglios sensitivos de nervos espinais, que contém os corpos celulares dos neurônios sensitivos. Esses gânglios sensitivos estão localizados entre os pedículos das vérte- bras adjacentes. Em cada lado da medula espinal estão as raízes, localizadas posterior e anteriormente no nervo espinal. A raiz posterior contém apenas axônios sensoriais, que conduzem, para o SNC, impulsos nervosos dos re- ceptores sensoriais na pele, nos músculos e nos órgãos internos. Além disso, a raiz posterior apresenta o gânglio sensitivo do nervo espinal, que contém os corpos celulares de neurônios sensoriais. Por outro lado, a raiz anterior contém axônios dos neurônios motores, que conduzem os impulsos nervo- sos do SNC aos efetores (músculos e glândulas) (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Em relação ao formato e ao diâmetro da medula espinal, ela é mais larga na extremidade superior, e diminui gradativamente em direção à extremidade inferior. Ainda sobre o formato dessa estrutura, ela apresenta duas intumes- cências: a cervical e a lombossacral. A primeira está localizada na região cervical inferior e corresponde ao local onde as fibras nervosas que inervam os membros superiores entram e saem da medula espinal. Já a intumescência lombossacral está localizada nas regiões torácica, lombar e sacral superior, e é o local onde as fibras nervosas que inervam os membros inferiores entram 3Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais ou saem da medula espinal. Após a intumescência lombossacral, a medula espinal afunila e forma o cone medular. Os nervos que suprem os membros inferiores deixam a intumescência lombossacral e o cone medular, formando uma “cauda de cavalo”, que é conhecida como cauda equina (MARTINI; TIM- MONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Além disso, a medula espinal é composta pela substância branca e pela substância cinzenta. A partir de uma análise da secção transversa da medula, é possível observar uma substância branca circundando uma massa de substân- cia cinzenta em forma de H, localizada centralmente. No centro da substância cinzenta está o canal central da medula espinal, um espaço pequeno que se estende no comprimento da medula espinal e contém o líquido cerebrospinal. Por meio da substância branca e da substância cinzenta, as informações são recebidas ou enviadas pela medula espinal; por isso essas regiões sãoimportan- tes (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Os reflexos não operam como entidades isoladas. Por meio das vias aferentes e efe- rentes, as atividades reflexas são integradas com as funções do sistema nervoso como um todo. Por exemplo, após um estímulo doloroso, além do reflexo de retirada para afastar o segmento acometido, ocorre a percepção da sensação dolorosa devido aos potenciais de ação enviados ao encéfalo (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). 2 Características da medula espinal relacionadas à substância cinzenta e à substância branca Em uma secção transversa da medula espinal, é possível observar uma porção esbranquiçada superficial e uma porção acinzentada profunda, em forma de H. A porção esbranquiçada e superficial é a substância branca, que consiste em axônios mielinizados que formam as vias nervosas. A porção profunda em forma de H é a substância cinzenta, que consiste em corpos celulares de neurônios, dendritos, axônios amielínicos, terminais axônicos e neuróglia. Tanto a substância branca quanto a substância cinzenta exercem papel es- Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais4 sencial na homeostasia (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Ao longo do comprimento da medula espinal (cervical, torácica, lombar e sacral), a quantidade de substância cinzenta em relação à substância branca é variável. A quantidade de substância cinzenta é significativamente maior nos segmentos medulares relacionados à inervação sensitiva e motora dos membros. Essas áreas contêm interneurônios responsáveis por transmitir a informação sensitiva e coordenar as atividades dos neurônios motores somáticos que controlam os complexos músculos dos membros. A partir dessas extensões da medula espinal, formam-se as intumescências da medula espinal (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Além disso, a medula espinal é dividida em direita e esquerda pela fissura mediana anterior (ventral) profunda e pelo sulco mediano posterior (dorsal) superficial. Em cada lado da medula espinal, a substância branca é organizada em três funículos e a substância cinzenta é subdividida em regiões chamadas de cornos (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A partir das características da medula espinal em relação a substância branca e cinzenta, é possível entender o comprometimento sensorial e motor provocado pelas lesões medulares. Por exemplo, os traumatismos que atingem a medula, como acidentes de trânsito, pancadas, ferimentos por arma de fogo, entre outros, podem envolver alguma combinação de compressão, laceração, contusão e transecção parcial da medula e produzir sintomas como perdas sensitivas ou paralisias motoras que refletem os núcleos e tratos envolvi- dos (substância branca ou substância cinzenta). Inicialmente, qualquer lesão grave à medula espinal produz um período de paralisia sensitiva e motora denominada choque medular. Devido a esse choque medular, os músculos esqueléticos tornam-se flácidos, observa-se ausência das funções reflexas somáticas e viscerais e o encéfalo não recebe sensações de tato, dor, calor ou frio (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). A substância branca da medula espinal consiste em tratos que servem como vias para a condução do impulso nervoso. Ao longo dessas vias, os impulsos sensoriais viajam em direção ao encéfalo, e os impulsos motores viajam do encéfalo em direção aos músculos esqueléticos e a outros tecidos efetores (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). 5Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais Os funículos da substância branca são denominados ventral (anterior), dorsal (posterior) e lateral. Cada funículo contém um ou mais tratos, que são feixes distintos de axônios que têm origem ou destino comum e transportam informações semelhantes. Um conjunto de axônios dentro do SNC é chamado de trato, enquanto fora do SNC é chamado de nervo. Os tratos apresentam mielinização distinta dos nervos e carecem do abundante tecido conectivo destes. Os tratos sensoriais ascendentes consistem em axônios que conduzem impulsos nervosos em direção ao encéfalo. Por exemplo, um trato ascendente leva potenciais de ação relacionados à dor e a sensações térmicas. Os tratos que consistem em axônios que conduzem os impulsos para baixo na medula espinal são chamados de tratos motores descendentes (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICK- SON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Esses tratos sensoriais e motores da medula espinal são contínuos aos tratos sensoriais e motores do encéfalo. Em geral, a nomenclatura desses tratos está relacionada com a sua posição na substância branca, onde começa e termina, e a direção da condução do impulso nervoso (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A substância cinzenta da medula espinal recebe e integra a informação que chega e a informação que sai, além de servir como um sítio de integração dos reflexos. Para o recebimento e a integração de informações, a substância cinzenta conta com os cornos, chamados de anterior, lateral ou posterior, de acordo com a localização. Nesses cornos, os corpos celulares de neurônios estão organizados em grupos, denominados núcleos, com funções específicas (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Nos cornos anteriores (ventrais) da substância cinzenta, que são maiores, estão os corpos celulares de neurônios motores somáticos, os quais fornecem impulsos nervosos para efetuadores periféricos para contração dos músculos esqueléticos (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Nos cornos laterais da substância cinzenta estão os corpos celulares dos neurônios motores autônomos que regulam a atividade do músculo cardíaco, do músculo liso e das glândulas. Esses cornos laterais estão presentes apenas nos segmentos torácicos e lombares superiores da medula espinal (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais6 Por fim, nos cornos posteriores (dorsais) da substância cinzenta, que são finos, estão os corpos celulares e axônios de interneurônios, bem como axô- nios de neurônios sensoriais. Esses núcleos sensitivos recebem e transmitem informações sensitivas de receptores periféricos, como os receptores do tato localizados na pele (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). No que diz respeito ao sítio de integração dos reflexos, a substância cin- zenta pode mediar reflexos inatos e reflexos adquiridos. Um reflexo é uma sequência rápida e involuntária de ações, que ocorre em resposta a um estímulo específico. Um reflexo inato ocorre, por exemplo, quando alguém retira a mão de uma superfície quente antes mesmo de perceber que ela estava quente (reflexo de retirada), enquanto o reflexo adquirido ocorre quando se aprende uma nova habilidade, como dirigir um carro. Os reflexos integrados na subs- tância cinzenta são denominados reflexos medulares ou espinais (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Veja, no artigo de revisão “Anatomia macroscópica, microscópica, vascular e envoltórios meníngeos da medula espinhal – orientações para o estudante de Medicina”, de Cabral et al. (2017), mais informações sobre a macroscopia, a microscopia, a vascularização eos envoltórios meníngeos da medula espinal. 3 Reflexos medulares No sistema nervoso, a unidade estrutural básica é o neurônio, enquanto a unidade funcional básica é o arco reflexo, por ser a menor e mais simples porção capaz de receber um estímulo e produzir uma resposta. Por definição, o reflexo é uma resposta automática para um estímulo produzido por um arco reflexo, e, para que o reflexo ocorra, não é necessário um pensamento cons- ciente. Os reflexos podem ser classificados quanto ao desenvolvimento (inato ou adquirido), à natureza da resposta motora resultante (reflexos somáticos e viscerais ou autônomos), à complexidade do circuito neuronal envolvido (refle- xos monossinápticos ou polissinápticos) e, ainda, ao local onde as informações 7Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais são processadas (reflexos espinais ou cranianos) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Os reflexos somáticos mediados pela medula espinal são denominados reflexos medulares ou espinais. Muitos desses ocorrem sem o envolvimento direto do encéfalo; mesmo assim, o encéfalo recebe informações sobre as atividades reflexas da medula e pode, inclusive, inibir, facilitar ou modular as respostas. Alguns dos reflexos medulares envolvem neurônios excitatórios e resultam em uma resposta, como a contração muscular. Por outro lado, alguns reflexos medulares envolvem neurônios inibitórios e resultam na inibição de uma resposta, como o relaxamento muscular (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). A avaliação desses reflexos medulares é importante, pois permite analisar a condição clínica do sistema nervoso, em que reflexos exagerados, ausentes ou alterados indicam degeneração ou patologia de regiões específicas do sistema nervoso, geralmente antes que outros sinais estejam aparentes (MARIEB; HOEHN, 2008). Veja, a seguir, a descrição dos seguintes reflexos medulares: reflexo mio- tático (ou de estiramento), reflexo tendinoso de Golgi e reflexo de retirada (ou flexor). Reflexo miotático (ou de estiramento) No reflexo miotático, os músculos se contraem em resposta a uma força de estiramento aplicada sobre o fuso muscular, que é receptor sensorial desse reflexo. O reflexo miotático é um reflexo do tipo monossináptico, pois não há interneurônios entre o neurônio sensorial e o neurônio motor alfa. A atividade dos fusos musculares ajuda a controlar a postura, a tensão e o comprimento muscular (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Por exemplo, se uma pessoa está em pé na vertical e começa a inclinar-se para um lado, os músculos posturais associados com a coluna vertebral do outro lado são estirados. Como resultado, reflexos miotáticos são iniciados nesses músculos, que os fazem contrair e restabelecer a postura normal. À medida que um músculo esquelético contrai, a tensão nos centros dos fusos musculares diminui, pois os fusos são encurtados passivamente conforme o músculo reduz seu tamanho (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIM- MONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais8 Outro exemplo de reflexo miotático é o reflexo patelar. Quando o liga- mento patelar é estimulado, os tendões e os músculos do quadríceps femoral são distendidos e as fibras dos fusos musculares dentro desses músculos também se distendem, gerando o reflexo. Como resposta, ocorre contração desses músculos, produzindo a resposta automática característica (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Reflexo tendinoso de Golgi O reflexo tendinoso de Golgi impede que os músculos contraídos apliquem uma tensão excessiva sobre os tendões. O receptor sensorial desse reflexo é o órgão tendinoso de Golgi, que consiste em terminações nervosas encapsu- ladas localizadas próximo à junção musculotendinosa (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). No momento da contração muscular, os tendões são estirados, fazendo a tensão sobre ele aumentar. Com isso, ocorre um estímulo dos neurônios sensoriais dos órgãos tendíneos, os quais estimulam a liberação de neuro- transmissores pelos interneurônios, inibindo os neurônios motores alfa do músculo associado e promovendo relaxamento muscular. Esse reflexo protege os músculos e os tendões de algum dano provocado pela tensão excessiva (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Um exemplo desse reflexo ocorre quando um halterofilista deixa cair um grande peso após fazer muito esforço para erguê-lo. A queda do peso ocorre em função do reflexo tendinoso de Golgi. Mesmo com a capacidade do corpo humano de suportar tensões, em alguns casos, principalmente em movimentos súbitos, o reflexo tendinoso de Golgi não consegue impedir que ocorram lesões por estiramento, sejam elas musculares ou tendíneas (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Reflexo de retirada (ou flexor) O reflexo de retirada, por meio dos receptores de dor, tem a função de afastar um segmento de um estímulo nocivo ou doloroso. Quando ocorre um estí- mulo doloroso, como uma queimadura ou um corte, os neurônios sensoriais estimulam os músculos — geralmente músculos flexores —, que afastam o 9Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais membro da causa do estímulo doloroso. As ramificações colaterais dos neu- rônios sensoriais fazem sinapse com fibras ascendentes do encéfalo, provendo consciência do estímulo doloroso (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; RE- GAN; RUSSO, 2016). O reflexo de extensão cruzada está associado ao reflexo de retirada. Assim que o reflexo de retirada é iniciado em um membro inferior, o reflexo extensor cruzado provoca a distensão do membro inferior oposto. Com isso, é possível prevenir quedas, deslocando o peso do corpo do membro afetado para o membro não afetado (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Um exemplo desses dois reflexos ocorre quando uma pessoa pisa em um prego ou caco de vidro com o pé esquerdo. O reflexo de retirada faz o membro inferior esquerdo flexionar e se afastar do objeto que causou a dor, enquanto o reflexo de extensão cruzada estende o membro inferior direito, deslocando, assim, o peso do corpo da perna esquerda para a perna direita (MARIEB; HOEHN, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; KANDEL et al., 2014; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). KANDEL E. R. et al. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2014. 1544 p. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 1072 p. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R.B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 905 p. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 704 p. VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO; A. Anatomia e fisiologia de Seeley. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2016. 1264 p. Leitura recomendada CABRAL, M. C. et al. Anatomia macroscópica, microscópica, vascular e envoltórios meníngeos da medula espinhal – orientações para o estudante de Medicina. Revista Científica FAGOC – Saúde, Ubá, v. 2, n. 1, p. 50–56, 2017. Disponível em: https://revista. fagoc.br/index.php/saude/article/view/205. Acesso em: 27 out. 2020. Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais10 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não terqualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Sistema nervoso: medula espinal e nervos espinais