Prévia do material em texto
Matéria Civil II (Direito das Obrigações) Parte 5 Autor: René Antunes Moreira Neto Obrigações divisíveis e indivisíveis -> se divisível: o objeto da prestação pode ser fracionado sem que disso resulte perda do valor econômico, destruição do bem ou perda do interesse do credor. Ex.: se A e B são devedores de C na quantia de 1000 reais, A pode pagar 600 e B pode pagar 400 que a obrigação restará adimplida. -> credor: direito a parte, independente dos demais sujeitos. -> devedor: responde exclusivamente pela sua quota “parte” -> se indivisível: o objeto da prestação não é suscetível de fracionamento. Ex.: A e B devem entregar um imóvel a C; neste caso, dada a indivisibilidade natural do bem, o devedor A não tem como transferir apenas parte do imóvel a C. -> cada credor: pode exigir a integridade: fala-se dela como um todo, indivisível cada credor pode exigir o todo. Nota: o credor que recebe sozinho passa a ser devedor em relação aos outros credores -> em espécie: posso pagar e ficar livre dos outros, Ex: receber casa com herança com mais irmãos, posso pagar a parte deles em dinheiro. -> condomínio: credores ficam em uma situação de condomínio cada um paga sua parte das dívidas com relação as despesas de manutenção, depois todos dividem o valor recebido, ex: apto recebido de herança com mais de um irmão todos responderão pelas despesas até a venda. -> cada devedor: responde pela totalidade -> Credor remitente: a obrigação não fica extinta para com os outros, mas estes só poderão exigir a obrigação, descontada a cota do credor remitente. Nota: remitente aquele que abre mão da sua parte -> se houver perda do objeto indivisível a obrigação se honra divisível: Ex: carro batido a gente divide o ônus para o concerto. -> havendo multiplicidade de devedores e culpa reciproca, todos responderão proporcionalmente. -> quando não há culpa de todos? Todos continuam respondendo pelo valor da obrigação, mas pelas perdas e danos, só responde o culpado. Obrigações solidarias: tenho uma pluralidade de agentes envolvidos com a obrigação. Quando você tem bonus todos recebem quando tem ônus todos respondem, estamos todos no mesmo barco. A solidariedade é talvez um dos conceitos mais importantes do Direito Obrigacional. A obrigação é solidária quando há pluralidade subjetiva, seja de credores (solidariedade ativa), seja de devedores (solidariedade passiva), ou de credores e devedores (solidariedade mista ou recíproca), sendo que cada credor pode exigir toda a dívida e cada devedor está obrigado à obrigação por inteiro (art. 264, CC). A ideia fundamental é que o credor não pode receber mais que uma vez a prestação que é devida, mas pode exigi-la de qualquer devedor em sua totalidade. Para a existência de uma obrigação solidária, é indispensável que todos os devedores solidários estejam obrigados à satisfação do mesmo interesse do credor na prestação. Exemplo que já vimos no capítulo 3: a responsabilidade da União, Estados e Municípios em prestar serviço à saúde. Se um indivíduo residente em Manaus precisar de um medicamento que, pela legislação sanitária compete ao Município fornecer, o sujeito poderá demandar Manaus, o Estado do Amazonas e a União, isolada ou conjuntamente, requerendo a dispensação gratuita do medicamento, dada a solidariedade decorrente do art. 196, CRFB. -> quando a totalidade do seu objeto puder ser reclamada por qualquer dos credores ou qualquer dos devedores: talvez você possa ter que responder pela parte de todo mundo, ex: comissão de formatura todo mundo responde por todo mundo, o cotista também se preocupa com a obrigação. -> princípios: - Unidade da prestação: basta um quitar, extingue-se a obrigação. - Pluralidade e independência de vínculos: embora o objeto seja comum, os vínculos entre o/s devedor/es e credor/es podem ser distintos. Em razão disso, temos as seguintes consequências práticas: a) Pura e simples: poderá ser pura e simples para um devedor b) Condição, prazo: sujeita a termo ou condição para outros, ou ainda ter lugar diferente para o pagamento ou mesmo ocorrer diversidade de causa entre as prestações. Ex: É possível a realização de um contrato no qual figurem dois devedores solidários (A e B), sendo que a dívida poderá ser cobrada de "A" no dia 10/10 (pura e simples), e de "B" somente quando este se casar (condição, prazo). -> Co responsabilidade entre os sujeitos: o fato de você estar junto o torna Co responsável moralmente. -> pode ser: ativo -> passivo -> misto -> Intransmissibilidade (obs.: a menos que seja indivisível), não se cobra de familiares ou terceiros que não estão envolvidos com a obrigação - A solidariedade não se presume –> partes (tem que estar em acordo) -> lei (ideal a existência de um contrato), Ex.: a pessoa estuda junto, mas não faz parte da comissão de formatura, o fato dela estudar junto não presume que ele é solidário à obrigação. Obrigações solidarias ativas: A obrigação solidária ativa consiste no concurso de credores na mesma obrigação, (mais de um credor), cada um com direito à dívida toda, Nota: várias pessoas credoras têm direito aquele objeto. De acordo com o art. 267, CC, cada um dos credores solidários tem o direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Exemplo: solidariedade ativa nos contratos de conta–corrente conjunta em que todos os Co titulares podem movimentar livremente a conta. A solidariedade ativa, no entanto, não é muito usual na prática, eis que, há o "risco de os cocredores não obterem ressarcimento daquele que recebeu o pagamento, seja por incorrer em insolvência ou simples desonestidade. Muitos credores optam pela outorga de mandato, eis que os mandatários agem em nome alheio e em caráter revogável". Decorre da ideia de unicidade da prestação o direito que todos os credores têm de tomar as medidas necessárias à proteção do crédito. Também é da essência da solidariedade ativa que o pagamento feito pelo devedor a qualquer cocredor extingue a relação até o valor que foi pago (art. 269, CC40). Perceba que as relações externas são extintas, mas permanecerão os vínculos internos entre os cocredores até que todos recebam a sua fração da dívida. O credor que recebe o pagamento deve entregar aos demais cocredores o que a eles corresponder. Exemplo: assim, se A e B são credores solidários de C na quantia de R$ 7.000,00, e C fizer o pagamento a (A) o vínculo entre credores e devedor será extinto, porém (A) terá que retornar a (B) o valor de R$ 3.500,00 (aqui também há presunção relativa de que, se no título da obrigação não constar as proporções do crédito que tocam cada credor, as quotas-partes serão iguais). - Ex.: conta bancária conjunta - Ex.: cofre de segurança: somete quando varia pessoas tem acesso ao cofre. -> elevado risco para Co credores: entre os credores basta um estar de má fé para causar um dano aos outros. -> vantagens para devedores: Se um pagar (qualquer um) está resolvido a obrigação. Características das obrigações solidarias ativas. a) cada credor pode exigir o cumprimento integral com relação àquela dívida (obrigação) b) O devedor pode realizar pagamento a qualquer credor (lógica com relação à anterior) O devedor pode pagar a qualquer credor e estará exonerado da obrigação. DIREITO DE REGRESSO A prestação, paga por inteiro pelo devedor comum, deve ser partilhada entre todos os credores, por aquele que a tiver recebido. c) O efeito de mora (demora) pode ser aproveitado por todos os credores d) Prescrição X suspenção Prescrição: perda do prazo, perda da pretensão do titular de um direito que não o exerceu em determinado lapso temporal. Suspenção: deu uma interrupçãopor um período longo ou uma pausa breve. -> todo mundo aproveita -> pessoal -> não se comunica aos Co credores: individualidade personalíssima só vale a um credor. Decadência: no direito civil, decadência é a extinção de um direito por não ter sido exercido no prazo legal, ou seja, quando o sujeito não respeita o prazo fixado por lei para o exercício de seu direito, perde o direito de exercê-lo. Desta forma, nada mais é que a perda do próprio direito pela inércia de seu titular. Norma cogente: dispositiva ou facultativa. Norma cuja aplicação independe da vontade do destinatário, não é passível de negociação. e) incapacidade de um dos credores -> sem reflexos para os demais Efeitos da solidariedade ativa - Se o credor solidaria falece o que acontece? Os herdeiros têm direito de cobrar o valor da cota do falecido. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário - Se haver perdas e danos: pode-se cobrar o valor do devedor. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade - O credor que tiver remitido a dívida: ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. - O julgamento contrário a um dos credores não atinge os demais: O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais. Se uma situação for para o judiciário, seja essa desfavorável, essa situação não atingirá os demais. - O julgamento favorável é aproveitado: o julgamento favorável aproveita-lhes, favorece a todos. - Se a obrigação for nula quanto a um dos credores, sua parte será deduzida do todo. Renúncia O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. Obrigações solidarias passivas Uma serie de devedores só um credor (pluralidade de devedores). A solidariedade passiva apresenta-se sob o prisma passivo da obrigação, consistindo na concorrência de dois ou mais devedores (pluralidade de devedores), cada um com dever de prestar a dívida toda (todo o objeto da prestação) Como consequência natural da solidariedade passiva, o credor tem direito de exigir dos devedores, isolada ou conjuntamente, a dívida, parcial ou total. Cada codevedor, pois, poderá ser demandado a realizar toda a prestação (totum et totaliter) em benefício do devedor, não podendo invocar o benefício de divisão. Aqui vale a mesma lógica da solidariedade ativa: se o pagamento for total, a obrigação é extinta, permanecendo os vínculos internos entre os codevedores; cabe ao devedor que pagou exigir dos demais coobrigados o ressarcimento equivalente às suas quotas do débito, que se presumem iguais (presunção relativa) se outra coisa não se estipulou (art. 283, CC45); se, no entanto, o pagamento for parcial, a quantia paga será abatida do montante do débito e todos os codevedores, inclusive aquele que efetuou o pagamento parcial, continuarão solidariamente responsáveis pelo pagamento do restante (art. 275, CC46 ). Exemplo: para facilitar a compreensão, imagine que A, B e C sejam devedores solidários de D na quantia de R$ 9.000,00. Se A efetuar o pagamento integral, deverá recobrar R$ 3.000,00 de B e R$ 3.000,00 de C. Da mesma maneira, se entregar a (A) o valor de R$ 2.000,00, continuará devedor solidário e poderá ser instado a pagar o restante da dívida. - A concordância em receber pagamento parcial não importa (não significa) renuncia à solidariedade ou ao restante da dívida: pagamento parcial não anula o restante. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. - Paga a integralidade por um só dos devedores, a obrigação fica extinta: o pagador passa a ser credor do restante dos devedores. DIREITO DE REGRESSO - Mas aquele que pagou tem o direito de exigir as respectivas cotas dos demais Co devedores. - Obs.: Não se compreende a solidariedade nas obrigações de fazer personalíssimas: quando só eu posso realizar determinada obrigação, se eu tenho vários devedores não dá para um só responder por todos, não se encaixa nas obrigações solidaria passivas. - Morte de um dos devedores: deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. - O credor pode renunciar (abrir mão) a solidariedade em favor de um, alguns, ou todos os devedores: o devedor/es remanescente fica/m responsáveis somente pelas cotas restantes ao credor. - Impossibilidade a prestação por culpa de um dos devedores subsiste para todos o dever de pagar o equivalente, mas pelas perdas e danos só responde o culpado: Ex.: todos os devedores põem o dinheiro na mão de um único devedor que fica com a responsabilidade de pagar, se esse dinheiro sumir, cada devedor permanece com sua obrigação para com o credor. Existe um ditado clássico no Direito das Obrigações que diz que quem paga mal, paga duas vezes. Isso, obviamente, tem que ser entendido com temperamentos: o devedor pode até ter que pagar novamente, porém terá direito a ser ressarcido daquilo que pagou a quem não poderia ter recebido o pagamento. - Se a dívida solidaria interessar exclusivamente a um dos devedores, respondera este por toda ela para com aquele que pagar: um devedor tem uma boa relação com o credor, amizade, relacionamento, família, dívida de gratidão; poderá esta saldar toda a dívida em nome dos outros devedores, não tendo direito a qualquer obrigação por parte dos outros devedores.