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fisiologia filtração glomerular, fluxo sanguíneo renal e seus controles Filtração glomerular O primeiro passo na formação de urina é a filtração através dos capilares glomerulares para dentro da cápsula de Bowman → 180 L/dia → a maior parte é reabsorvida A elevada taxa de filtração glomerular depende da alta taxa de fluxo sanguíneo renal, bem como de propriedades especiais das membranas nos capilares glomerulares COMPOSIÇÃO DO FILTRADO GLOMERULAR • os capilares glomerulares são relativamente impermeáveis às proteínas • o filtrado glomerular (FG) é livre de proteínas e desprovido de elementos celulares como as hemácias • os outros constituintes possuem concentrações similares às no plasma • cálcio e ácidos graxos não são livremente filtrados por estarem parcialmente ligados às proteínas plasmáticas • a FG é determinada por: 1. balanço das forças hidrostáticas e coloidosmóticas, atuando através da membrana capilar 2. o coeficiente de filtração capilar (Kf), o produto da permeabilidade e da área de superfície de filtração dos capilares • cerca de 20% do plasma, que fluem pelos rins, são filtrados pelos capilares glomerulares MEMBRANA CAPILAR GLOMERULAR • possui 3 camadas principais: endotélio capilar, membrana basal e camada de células epiteliais (podócitos) sobre a superfície externa da membrana basal capilar • essas três camadas formam uma barreira à filtração • o ENDOTÉLIO capilar é perfurado por milhares de pequenos orifícios chamados fenestrações • embora as fenestrações sejam relativamente grandes, as proteínas das células endoteliais são ricamente dotadas de cargas fixas negativas que impedem a passagem de proteínas plasmáticas • a MEMBRANA BASAL consiste em uma trama de colágeno e fibrilas de proteoglicanas com grandes espaços, pelos quais grande quantidade de água e de pequenos soltos pode ser filtrada • as CÉLULAS EPITELIAIS não são contínuas, mas têm longos processos semelhantes a pés (podócitos) que revestem a superfície externa dos capilares • os podócitos são separados por lacunas, chamadas fendas de filtração, pelas quais o FG se desloca • apesar da alta intensidade da filtração, a barreira de filtração glomerular é seletiva na determinação de quais moléculas serão filtradas • eletrólitos, tais como sódio e pequenos compostos orgânicos como a glicose, são livremente filtrados • conforme o peso molecular da molécula se aproxima ao da albumina, a filtrabilidade rapidamente diminui em direção ao de zero • a albumina tem filtração restrita por causa da sua carga negativa e da repulsão eletrostática exercida pelas cargas negativas dos proteoglicanos presentes na parede dos capilares glomerulares • as cargas negativas da membrana basal e dos podócitos são meio importante para restringir a passagem de grandes moléculas com carga negativa, incluindo as proteínas plasmáticas DETERMINANTES DA FG • a pressão efetiva de filtração representa a soma das forças hidrostáticas de coloidosmóticas que favorecem ou se opõem à filtração através dos capilares glomerulares • portanto, FG = Kf x (PG – PB – pG + pB) ↪ PG = pressão hidrostática glomerular ↪ PB = pressão hidrostática na cápsula de Bowman ↪ pG = pressão coloidosmótica das proteínas plasmáticas ↪ pB = pressão coloidosmótica das proteínas na cápsula de Bowman • o Kf é a medida do produto da condutividade hidráulica e da área de superfície dos capilares glomerulares • embora as alterações do Kf tenham um efeito proporcional sobre a taxa de filtração glomerular (TFG), não constituem um mecanismo primário para o controle fisiológico da TFG • em algumas doenças, como a hipertensão e o diabetes mellitus não controlados, a TFG está reduzida por causa do aumento da espessura da membrana dos capilares glomerulares, o que diminui o Kf • as alterações da pressão no interior da cápsula de Bowman normalmente não regulam a TFG → na obstrução do trato urinário, a pressão na cápsula pode chegar a um nível tão alto que provoca redução da FG • os dois fatores que influenciam a pressão coloidosmótica dos capilares glomerulares são: pressão coloidosmótica arterial e fração do plasma filtrada (fração de filtração) • um aumento em algum desses fatores eleva a pressão coloidosmótica dos capilares glomerulares • fração de filtração = FG/fluxo plasmático renal • mesmo quando a pressão hidrostática glomerular é constante, a diminuição do fluxo sanguíneo renal tende a elevar a pressão coloidosmótica glomerular e reduzir a FG • a pressão hidrostática glomerular é determinada por 3 variáveis que estão sob controle fisiológico: 1. pressão arterial: ↑ PA = ↑ pressão hidrostática glomerular = ↑ FG → esse efeito normalmente é tamponado pela autorregulação, que minimiza o efeito da pressão arterial sobre a pressão hidrostática glomerular 2. resistência da arteríola aferente: ↑ resistência = ↓ pressão hidrostática glomerular = ↓ FG 3. resistência da arteríola eferente: ↑ resistência = ↑ resistência ao fluxo de saída dos capilares glomerulares = ↑ pressão hidrostática glomerular = ↑ FG (se não reduzir excessivamente o fluxo sanguíneo renal) FLUXO SANGUÍNEO RENAL • o fluxo sanguíneo sopre os rins com nutrientes e remove produtos indesejados • o elevado fluxo para os rins excede em muito essa necessidade • o propósito desse fluxo adicional é suprir plasma suficiente para se ter altas intensidades da filtração glomerular, necessárias para a regulação precisa dos volumes dos líquidos corporais e das concentrações de solutos • os rins normalmente consomem 2x mais oxigênio que o cérebro, mas têm o fluxo sanguíneo quase 7x maior • grande fração do oxigênio consumido pelos rins está relacionada à alta intensidade de reabsorção ativa do sódio pelos túbulos renais • ↓ fluxo sanguíneo renal + ↓ FG = ↓ filtração de Na+ = ↓ reabsorção de Na+ e O2 • o consumo de O2 renal varia proporcionalmente à reabsorção de sódio nos túbulos renais que, por sua vez, está intimamente relacionada à FG e à intensidade do sódio filtrado • fluxo sanguíneo = (pressão na artéria renal – pressão na veia renal) / resistência vascular renal total • a pressão na artéria renal é aproximadamente igual à PA sistêmica • a pressão na veia renal é, em média, de 3 a 4 mmHg na maioria das condições • a resistência vascular total através dos rins é determinada pela soma das resistências nos segmentos vasculares individuais • 3 segmentos principais: artérias interlobulares, arteríolas aferentes e arteríolas eferentes • a resistência é controlada pelo sistema nervoso simpático, vários hormônios e pelos mecanismos renais de controle local • o córtex renal recebe a maior parte do fluxo sanguíneo renal • o fluxo para a medula renal é suprido por parte especializada do sistema capilar peritubular, denominada vasa recta • os vasa recta têm papel importante na formação de urina concentrada pelo rim CONTROLE FISIOLÓGICO DA FG E DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL • as pressões mencionadas são influenciadas pelo sistema nervoso simpático, hormônios, autacoides (substâncias vasoativas liberadas pelos rins) e por outros mecanismos intrarrenais de controle por retroalimentação (feedback) • a ativação intensa do sistema nervoso simpática contrai as arteríolas renais e reduz o fluxo sanguíneo renal e a FG • esse efeito é o mais importante na redução da FG durante distúrbios agudos graves, como aqueles desencadeados pela reação de defesa, isquemia cerebral ou por uma hemorragia intensa • vários hormônios e autacoides também são capazes de influenciar a FG e o fluxo sanguíneo renal NOREPINEFRINA E EPINEFRINA ↪ são liberadas pela medula das glândulas suprarrenais ↪ contraem as arteríolas aferentes e eferentes ↪ reduzem a FG e o fluxo sanguíneo renal ENDOTELINA ↪ peptídeo liberado pelas células endoteliais vasculares lesadas dos rins e de outros tecidos ↪ contraias arteríolas renais ↪ reduz a FG e o fluxo sanguíneo renal ANGIOTENSINA II ↪ contrai muito mais as arteríolas eferentes do que as aferentes ↪ tende a aumentar a pressão hidrostática glomerular enquanto reduz o fluxo sanguíneo renal ↪ o aumento da formação de angiotensina II ocorre quando há queda da PA ou depleção de volume ↪ ao provocar a constrição das arteríolas eferentes, os níveis aumentados de angiotensina II ajudam a impedir a redução da FG ÓXIDO NÍTRICO DERIVADO DO ENDOTÉLIO (NO-e) ↪ diminui a resistência vascular renal ↪ eleva a FG e o fluxo sanguíneo renal ↪ é um autacoide liberado pelas células endoteliais vasculares de todo o corpo ↪ é importante na prevenção da vasoconstrição excessiva dos rins PROSTAGLANDINAS ↪ podem atenuar os efeitos vasoconstritores renais dos servos simpáticos ou da angiotensina II, principalmente o efeito sobre as arteríolas aferentes ↪ o bloqueio da síntese de prostaglandinas pode causar reduções significativas na FG e no fluxo sanguíneo renal AUTORREGULAÇÃO DA FG E FLUXO SANGUÍNEO RENAL • embora a autorregulação da FG e do fluxo renal não seja perfeita, ela impede que ocorram grandes alterações na FG e, consequentemente, na excreção renal de água e solutos que, em outras circunstâncias, ocorreria com as mudanças da PA • o feedback tubuloglomerular tem dois componentes: um mecanismo arteriolar aferente e um arteriolar eferente • ambos dependem do arranjo anatômico especial do complexo justaglomerular • quando a PA cai, há diminuição na chegada de NaCl nas células da mácula densa, que são capazes de detectar tal mudança • essa diminuição causa dois efeitos: 1. queda da resistência das arteríolas aferentes, o que eleva a pressão hidrostática glomerular e a FG até níveis normais 2. aumento da liberação de renina pelas células justaglomerulares das arteríolas aferentes e eferentes, o que causa um aumento da formação de angiotensina II • a angiotensina II, por sua vez, contrai as arteríolas eferentes, aumenta a PA e eleva a pressão hidrostática glomerular e a FG até níveis normais • o mecanismo miogênico se refere à capacidade intrínseca dos vasos sanguíneos de se contraírem quando a PA está elevada • a contração evita o estiramento excessivo do vaso e, por aumentar a resistência vascular, ajuda a impedir que ocorra um grande aumento do fluxo sanguíneo renal e da FG quando a PA se eleva • por outro lado, quando a PA cai, o mecanismo miogênico contribui para a diminuição da resistência vascular