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material Aula Embargos de Terceiros

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV 
7º PERÍODO 
PROFª Drª MARIANE MORATO STIVAL 
 
EMBARGOS DE TERCEIROS 
 
1.Introdução 
Há casos em que a agressão indevida provém de um ato de apreensão judicial que 
indevidamente recai sobre bem de quem não é parte no processo. A medida adequada para que o 
proprietário ou possuidor do bem faça cessar a constrição indevida não será a ação possessória, 
mas os embargos de terceiro. 
Os embargos de terceiro são a ação atribuída àquele que não é parte, para fazer a 
constrição judicial que indevidamente recaiu sobre bens do qual é proprietário ou possuidor. 
Tem por finalidade afastar não esbulho, turbação ou ameaça, mas apreensão judicial, 
indevida porque recai sobre bem de quem não é parte. 
Os embargos de terceiro estão sempre associados a uma outra ação, na qual foi 
determinada a apreensão indevida. 
A parte não pode valer-se dos embargos de terceiro, pois, figurando no processo, deve 
usar outros mecanismos processuais para afastar a constrição. Pode recorrer da decisão que a 
determinou ou, nas execuções civis, valer-se dos embargos ou da impugnação. 
O terceiro, por sua vez, terá de valer-se dos embargos, que têm natureza de ação 
autônoma, se quiser afastar a constrição. 
 
2.Requisitos específicos de admissibilidade 
Os embargos de terceiro têm natureza de ação e implicam a formação de um novo 
processo. Por isso, devem preencher os pressupostos processuais comuns a todos os processos e 
ações em geral. Além disso, possuem requisitos específicos. São eles: 
2.1 Que haja um ato de apreensão judicial 
Só cabem embargos de terceiro com finalidade de desconstruir um ato de apreensão 
judicial ou afastar ameaça de que ele ocorra (CPC, art. 674). Se a perda da posse decorre de outro 
tipo de causa, proveniente de ato de particular ou da Fazenda Pública, a ação adequada será a 
possessória. São atos de apreensão, entre outros: a penhora, depósito, arresto, sequestro. 
Não é necessário que a apreensão já esteja consumada, pois admitem-se embargos de 
terceiro preventivos, quando haja ameaça de que o ato de apreensão judicial se consume. Por 
exemplo: basta que o exequente indique à penhora bens de terceiro para que os embargos 
possam ser opostos, mesmo que ela não tenha sido efetivada. 
 
2.2 Que sejam interpostos por quem invoque a condição de proprietário ou possuidor 
Só tem legitimidade para opor embargos de terceiro aquele que não figura como parte 
no processo em que a apreensão ocorreu ou foi determinada. E que alegue ser proprietário ou 
possuidor do bem. 
2.3 Que o embargante seja terceiro 
Aqueles que figurem como partes no processo em que houve a apreensão do bem não 
podem se valer dos embargos. Só quem é terceiro pode fazê-lo. Mas o art. 674 § 2º , contém 
hipóteses que ampliam o conceito de terceiro. Ele estabelece: “Considera-se terceiro, para 
ajuizamento dos embargos: I- o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens 
próprios ou de sua meação; II- o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que 
declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; III- quem sofre constrição judicial 
de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez 
parte. 
2.4 Que a apreensão seja indevida 
Os embargos de terceiro só serão acolhidos se a apreensão for indevida. Para tanto é 
preciso não apenas a condição de terceiro, mas que não seja responsável pelo pagamento da 
dívida. 
3. Embargos de terceiro do cônjuge ou companheiro 
O cônjuge ou companheiro, seja qual for o regime de casamente ou instituído para 
união estável, responde pelo pagamento das dívidas contraídas pelo outro, desde que tenham 
revertido em proveito do casal. Ainda que a execução tenha sido dirigida tão somente contra o 
cônjuge ou companheiro que firmou o título executivo, a penhora poderá recair sobre bens do 
outro. A situação, é muito particular, porque a jurisprudência tem autorizado que o cônjuge ou 
companheiro que não é parte utilize tanto embargos à execução como embargos de terceiro, 
dependendo do que pretenda alegar. Poderá opor embargos de devedor para discutir a dívida, 
alegando fatos extintivos, impeditivos e modificativos do débito. Ainda não sendo parte, tem 
interesse em defender o patrimônio do outro, tanto que, havendo penhora de imóveis, precisa ser 
intimado. 
Além disso, pode opor embargos de terceiro quando pretender livrar da constituição a 
sua meação, ou seus bens próprios, que tenham sido atingidos (CPC, art 674, §2º, I). Para que 
tenha êxito, é preciso que demonstre não ter responsabilidade patrimonial pela dívida, que não 
reverteu em proveito do casal ou dos filhos, mas tão somente do cônjuge ou companheiro que a 
contraiu. O ônus será do embargante, já que presume-se que as dívidas por um sempre revertem 
em proveito do outro , seja qual for o regime de bens. 
É preciso verificar então o seguinte: 
 Se a execução foi dirigida contra os dois, marido e mulher, ou ambos os companheiros, 
porque há título executivo contra os dois, o mecanismo de defesa será, para ambos, os 
embargos de devedor (ou a impugnação, quando se tratar de cumprimento de sentença). 
Nenhum deles poderá valer-se de embargos de terceiro, já que ambos são partes; 
 Se a execução é dirigida só contra um, porque só ele integra o título executivo, o executado 
só poderá valer-se dos embargos de devedor . Já o seu cônjuge ou companheiro poderá 
ajuizar embargos de terceiro, se quiser afastar a penhora sobre sua meação ou seus bens 
próprios, caso em que, para ter êxito, precisará demonstrar que a dívida não reverteu em 
proveito do casal ou dos filhos, mas somente daqueles que a contraiu. Esse cônjuge ou 
companheiro, embora intimado da penhora sobre bens imóveis, não se transforma em 
parte, e poderá valer-se dos embargos de terceiro, como deixa claro a súmula 134 do STJ: 
“Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor 
embargos de terceiro para defesa de sua meação”. 
4. Embargos de terceiro em caso de penhora de bens dos sócios 
Nas execuções contra as pessoas jurídicas, a penhora só pode recair sobre os bens 
dela, e não dos sócios, que não figuram como parte. Mas, desde que verificadas as hipóteses do 
artigo 50 do CC ou do artigo 28 do CDC, o juiz pode desconsiderar a personalidade jurídica da 
empresa e estender a responsabilidade patrimonial aos bens pessoais dos sócios, que poderão ser 
atingidos. Para que isso ocorra, é preciso que o credor se valha do procedimento estabelecido nos 
artigos 133 e ss. Se o fizer, e o juiz resolver o incidente, decretando a desconsideração, a 
responsabilidade patrimonial aos sócios se estenderá. Se na fase executiva não forem encontrados 
bens suficientes, o juiz autorizará a constrição de bens dos sócios que, tendo sido incluídos por 
força do incidente, não poderão se valer dos embargos de terceiros, mas dos meios de defesa 
próprios da execução (embargos ou cumprimento de sentença). Mas se o juiz estender a 
responsabilidade patrimonial ao sócio e determinar a constrição de bens dele, sem que tenha 
havido prévio incidente de desconsideração da personalidade jurídica, o sócio poderá valer-se de 
embargos de terceiro. O mesmo vale em relação aos bens da empresa, na execução promovida 
contra o sócio, quando há desconsideração inversa. 
5. Embargos de terceiro do adquirente em fraude à execução 
A fraude à execução, se reconhecida, implica ineficácia da alienação, o que permite ao 
credor requerer a penhora do bem em mãos do adquirente, embora a execução não seja dirigida 
contra ele, mas contra o alienante. 
Se o adquirente quiser negar a fraude e, com isso, afastar a constrição, deverá valer-se 
de embargos de terceiro, já que ele não é parte na execução. 
Para configurar fraude à execução, é preciso que a alienação tenha ocorrido depois da 
citação do devedor. Além disso, é preciso que se observe o determinado na Súmula 375 do STJ, 
que condiciona o reconhecimento da fraude a que tenha havido o registrode penhora, ou prova 
da má-fé do adquirente. 
Mas tão somente a fraude à execução poderá ser discutida. A fraude contra credores 
não, como evidencia a Súmula 195 do STJ: “Em embargos de terceiro não se anula o ato jurídico, 
por fraude contra credores”. 
6. Prazo 
O prazo de embargos de terceiro vem estabelecido no art. 675 do CPC: “Os embargos 
podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transita em 
julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até cinco dias 
depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes 
da assinatura da respectiva carta” 
 
7. Procedimento 
7.1 Competência 
Os embargos de terceiro são distribuídos por dependência ao juízo em que corre o 
processo no qual foi determinada a apreensão do bem. Trata-se de regra de competência 
funcional (absoluta). 
 
7.2 Legitimidade 
O polo ativo dos embargos será ocupado pelo terceiro que se arrogue na condição de proprietário 
ou possuidor do bem constrito. Já o polo passivo será, em regra, ocupado apenas pelo sujeito a 
quem a constrição aproveita, geralmente o autor do processo em que ocorreu a apreensão do 
bem. Mas haverá litisconsórcio no polo passivo entre o autor e o réu da ação em que houve a 
apreensão do bem, quando for réu a indicação do bem para constrição judicial (art. 677 § 4º, do 
CPC). 
7.3 Petição inicial 
Vem tratada no art. 677, caput, do CPC: “Na petição inicial o embargante fará a prova 
sumária de sua posse ou de seu domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol 
de testemunhas”. 
A única particularidade é o rol de testemunhas, caso haja requerimento de audiência 
preliminar. Tal como nas ações possessórias, o autor deve fazer uma comprovação, ainda que 
sumária, de sua condição de proprietário ou possuidor. A de proprietário, quando o bem for 
imóvel, é mais fácil, bastando, em regra, a juntada de documentos. Mas a de possuidor pode 
requerer prova testemunhal, para o que será designada audiência prévia de justificação. 
O rol a que alude a inicial não é relacionado à audiência de instrução e julgamento, para a 
qual ambas as partes poderão arrolar testemunhas, na forma e no prazo estabelecidos para o 
procedimento comum, mas à de justificação. 
O autor deve ainda instruir a inicial com todas as provas que tiver de sua posse ou 
propriedade e da sua qualidade de terceiro. 
Elas servirão apenas para a obtenção da liminar, que poderá ser requerida pelo autor, 
na forma do art. 678 do CPC. Mesmo que, nessa fase inicial, não fique provada a posse do autor, o 
juiz receberá a inicial, mas negará a liminar. 
 
7.4 A liminar 
O autor, na inicial, pode pedir ao juiz a sua manutenção ou reintegração provisória na 
posse do bem. Com a apreensão judicial, o embargante terá perdido posse do bem, ou sofrido 
turbação. Para que o juiz conceda a liminar, basta que, em cognição sumária, fique demonstrada a 
posse ou propriedade do embargante e a sua qualidade de terceiro. Por isso, é preciso que ele 
instrua a inicial com todos os elementos que possam convencer o juiz de sua posse. A liminar pode 
ser deferida de plano, se o juiz ficar convencido, pelos elementos trazidos com a inicial. Mas ele 
pode, não se sentindo ainda suficientemente esclarecido, designar audiência preliminar, na forma 
do art. 677, § 1º, do CPC. 
 
7.5 Resposta do réu 
O prazo de contestação é de quinze dias (CPC, art. 679). 
Não se admite reconvenção, já que a finalidade dos embargos é tão somente 
determinar o fim da constrição judicial no processo principal. 
A falta de contestação implicará na aplicação, aos embargados, dos efeitos da revelia. 
7.6 Após a resposta 
O procedimento será comum. O juiz verificará se há ou não necessidade de provas. Se 
não houver, promoverá o julgamento antecipado; se houver, determinará as necessárias, e depois 
julgará. 
Com a procedência dos embargos, o juiz determinará que cesse a constrição judicial 
determinada no processo principal.

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