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OFTALMOLOGIA GLAUCOMA O glaucoma é uma importantíssima causa de cegueira irreversível no mundo. Existem várias formas de glaucoma, sendo as principais: o glaucoma primário de ângulo aberto, o glaucoma primário de ângulo fechado, o glaucoma congênito e de desenvolvimento e os glaucomas secundários. O glaucoma primário de ângulo aberto é a forma mais comum e caracteriza-se pela tríade: aumento da pressão intraocular (PIO); alteração típica do nervo óptico e defeito de campo visual correspondente. Ou seja, o glaucoma consiste numa neuropatia óptica (com lesão do nervo óptico, observando-se uma escavação), associada à alteração do campo visual, contando com aumento da pressão intraocular (PIO), sendo que o tratamento, basicamente, consiste em reduzir a PIO. Há danos à camada de fibras nervosas da retina (há degeneração dos axônios da papila óptica). Com isso, nota-se, no exame, uma região mais esbranquiçada ao centro do nervo óptico (disco óptico), demonstrando a ausência de fibras nervosas. Na área branca, denominada de ESCAVAÇÃO, na há nenhum tecido (nenhuma fibra nervosa). As fibras nervosas do nervo óptico estão na área compreendida entre a borda do nervo óptico e o início da escavação. O exame oftalmológico (biomicroscopia de fundo) para perceber tais características é feito através da associação entre uma lâmpada de fenda e uma lente com a visualização ao nível da retina, além da tonometria (medição da pressão intraocular) e campimetria computadorizada. O tratamento envolve uso de colírio hipotensor que diminui a PIO e restabelece o fluxo sanguíneo, voltando a irrigar a cabeça do nervo óptico. Ou seja, deve-se diminuir a pressão intraocular para que o sangue chegue ao nível do nervo óptico. Não há uma característica morfológica do nervo óptico patognomônica para fechar o diagnóstico de glaucoma, mas deve haver uma associação de características morfológicas. O aumento da escavação é um dos principais fatores (pois indica que há a ausência, da parte interna para a parte externa, de fibras nervosas do nervo óptico), aumentando- se a área oca de tecido neural (aumenta-se a escavação). Debruo ou rima neural é a região que contém as fibras nervosas restantes do nervo óptico (a camada de fibras nervosas da retina), indo da borda do nervo óptico até o início da escavação (local de ausência de qualquer espécie de tecido). Para fechar o diagnóstico, recomenda-se constatar alteração na campimetria, características do nervo óptico e pressão intraocular (só há uma situação em que a PIO do paciente está normal, mas mesmo assim existe glaucoma por conta de lesões ao nervo óptico). É importante também destacar que, quando há assimetria de escavação, ou seja, quando a escavação em um dos nervos ópticos é maior que a do outro olho, contata-se um sinal sugestivo de glaucoma. Outro aspecto sugestivo de glaucoma é a passagem do vaso solto por cima da escavação, ao invés de contornar o local de tecido neural (o vaso anda junto com o tecido neural). Além disso, há a hemorragia em chama de vela, na borda do nervo óptico, podendo abrir a suposição de que o nervo óptico sofre por isquemia (porém, há outras patologias em que há hemorragia em chama de vela ao redor do nervo óptico). Por fim, há estreitamento arteriolar para se observar na retinografia, ou seja, os vasos do nervo óptico encontram-se comprimidos. Além disso, a grande maioria (quase a totalidade) dos vasos do nervo óptico converge para região nasal (medial), de modo que, quando muitos vasos convergem para a região temporal (lateral) do nervo, há sugestão de glaucoma. Existe uma série de possíveis erros ao se tentar diagnosticar o glaucoma somente pela pressão intra-ocular: A medida da pressão intra-ocular depende da espessura corneana. Ela é subestimada em córneas mais finas e superestimada em córneas mais espessas. A pressão intra-ocular apresenta grande flutuação durante o dia em pacientes glaucomatosos. Também os picos da PIO ocorrem entre 05h30min e 07h00min com o paciente em posição supina e, portanto, difíceis de serem detectados. Como complicador, existe o fato de a suscetibilidade individual a PIO ser variável, havendo pacientes que, com pressão elevada, não apresentam nenhum dano glaucomatoso, enquanto outros pacientes, com pressão dentro da faixa da normalidade, apresentam severo dano glaucomatoso (Glaucoma Normotensivo ou Glaucoma de Pressão Normal). ATENÇÃO: considerando-se o diagnóstico apenas pela PIO, 60% dos casos do glaucoma, aproximadamente, teriam a PIO dentro da normalidade quando medidas em horários de consultório, o que evidencia a importância de uma associação de exames para fechar, mais precisamente, o diagnóstico de alguma forma de glaucoma. Dentro do globo ocular, é importante considerar que há fluidos divididos em três espaços (câmara anterior, câmara posterior e o corpo vítreo, este último contendo uma substância mais gelatinosa). O humor aquoso, principal responsável pela pressão intraocular, situa-se, principalmente, entre a câmara anterior e a posterior. O aumento da PIO leva à compressão mecânica do nervo óptico, bloqueando o fluxo axoplasmático e cortando a conexão com o corpo geniculado lateral. Com isso levam- se, à morte, as células ganglionares da retina. Existem outras teorias, como a vascular, em que a etiologia seria uma diminuição do fluxo sanguíneo ao nível do nervo óptico primário ou secundário ao aumento da PIO, bem como a neurotoxicidade provocada pelo excesso de glutamato e radicais livres e fatores imunológicos. Não há dúvida, contudo, que o fator mais importante e o único fator que se pode atuar no tratamento é a PRESSÃO INTRAOCULAR. A pressão média da população normal é 15.9 mmHg com desvio padrão de +3.14mmHg. Entretanto, mesmo os pacientes com pressão estatisticamente dentro da normalidade podem apresentar lesão glaucomatosa (Glaucoma Normotensivo ou Glaucoma de Pressão Normal, como visto acima). A perimetria (campo visual) avalia a função visual do paciente, sendo a forma mais utilizada a perimetria branco/branco, também conhecida como convencional ou padrão. É um teste subjetivo, apresenta grande variabilidade e baixa sensibilidade. Há necessidade de 50% de perda células ganglionares para surgir um discreto defeito de campo visual. Dessa forma, o paciente só apercebe–se da diminuição de campo nos estágios avançados da doença quando já houve perda de aproximadamente 90% das células ganglionares. A seguir, segue-se uma representação esquemática da perda de camada de fibras nervosas de retina (que possui 10), inferiormente, ocasionando a perda do campo visual correspondente no hemicampo oposto (superiormente). A melhor forma de se diagnosticar o glaucoma é através do exame do nervo óptico, feito com o oftalmoscópio, com a biomicroscopia, e mesmo com as fotografias. Há também aparelhos digitais de imagem par avaliar tanto o nervo óptico como a camada de f. nervosas da retina. As principais alterações do nervo óptico no glaucoma são quase patognomônicas. Entre elas, as principais são: Figura Normal e Glaucoma, respectivamente: A presença de “notch” entalhe (corte, incisão, ranhura) causado por uma perda localizada do anel neurorretiniano, neste caso inferior, é quase patognomônico da doença. Figuras 20a (normal) e 20b (glaucoma): A presença de hemorragia em chama de vela no disco óptico é também quase patognomônico da doença. Estas hemorragias duram em média 4 a 6 meses . É quase sempre indicativo da progressão da doença independentemente do nível pressórico Escavação vertical aumentada, sugerindo lesão glaucomatosa do disco. Olho direito e olho esquerdo: A assimetria da relação E/D entre os dois discos de um mesmo individuo maior que 0,2 sugere alteração glaucomatosa no disco com maior relação E/D. É importante que o médico não oftalmologista saiba examinar o fundo deolho em especial o nervo óptico. Em assim o fazendo, aumentaria em muito a capacidade de detecção da doença e diminuiria a possibilidade do não diagnóstico da moléstia. Não seria necessário o diagnóstico de certeza, mas a suspeição da doença e seu encaminhamento posterior para o oftalmologista. Para o diagnóstico de glaucoma, além da detecção dos achados do disco óptico descritos acima, é fundamental que o médico tenha noção do tamanho da escavação do disco. Isso é facilmente feito através da visualização do disco óptico através da oftalmoscopia. Divide-se o disco óptico subjetivamente em 10 partes. Uma escavação de 0,4 significa que quatro décimos do disco óptico são ocupados pela escavação. Escavação de 0,6 significa que seis décimos do nervo óptico são ocupados pela escavação. É importante que o médico saiba que; • escavação menor ou igual a 0,5 provavelmente é normal. • escavação entre 0,6 a 0,7 é possivelmente anormal, ou seja, limítrofe. • escavação maior que 0,7 provavelmente é anormal. O médico também deve saber que a assimetria de escavação entre um olho e outro maior que 0,2 é muito provavelmente uma alteração glaucomatosa. A assimetria de escavação entre os dois olhos é típica de pacientes glaucomatosos. O tratamento do glaucoma consiste em retardar ou parar a progressão da doença através da redução da pressão intra-ocular. Para isso o médico deve procurar atingir a PIO alvo para cada paciente. Essa pressão é a pressão que o médico estima para que a doença não progrida. Ela é calculada para cada paciente em função da severidade da lesão glaucomatosa, idade do paciente, velocidade de progressão e expectativa de vida. Esse conceito é extremamente importante, uma vez que não existe um nível pressórico ideal para todos os pacientes. Normalmente, tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto é inicialmente clínico através de colírios. Caso o tratamento clínico não seja suficiente, pode-se recorrer ao laser (trabeculoplastia) e finalmente à cirurgia. Há casos, contudo, que esse paradigma não é obedecido. Em casos graves com grande comprometimento de campo visual ou com ameaça de perda da visão central, geralmente recorre-se à cirurgia sem se utilizar o laser. Entre as drogas mais utilizadas podemos dividir: aquelas que aumentam o escoamento do humor aquoso e aquelas que diminuem a sua produção. Entre as que aumentam o escoamento, temos a brimonidina, a pilocarpina e a prostaglandina. Entre as que diminuem a produção do humor aquoso estão a brimonidina, o timolol e os inibidores da anidrase carbônica, tópica ou sistêmica. Quando não há contra-indicações, as prostaglandinas são as drogas de primeira escolha. As combinações fixas de drogas, ou seja, duas drogas em um mesmo colírio, são também muito usadas no tratamento do glaucoma, como drogas de primeira escolha, tendo em vista que em uma ou duas instilações de colírios se medica o paciente com dois medicamentos. Com isso, reduz-se a quantidade de preservativos que existem nos colírios (cloreto benzalcônio) os quais têm efeito deletério sobre a superfície ocular. Deve-se salientar que nos glaucomas severos 40% dos pacientes necessitam, além da prostaglandina da adição de mais um colírio geralmente de uma combinação fixa. Calcula-se a relação E/D imaginando-se o disco óptico dividido em 10 partes iguais. Da mesma forma o tamanho da escavação corresponde a 0.4 do tamanho do disco. Portanto a relação escavação/disco é de 0,4 ou, outra forma de se apresentar esse fato, é a de caracterizar a rima nervosa com a espessura de 0,6 do disco. Relação E/D igual a 0,5. O tratamento cirúrgico de escolha é a trabeculectomia, que é uma fístula protegida, como se pode ver nas figuras abaixo. Caso a trabeculectomia não possa ser realizada, ou se já tenha sido utilizada sem sucesso, pode-se recorrer à colocação de implantes de drenagem. Desenho esquematizando a cirurgia. Delaminação escleral de aproximadamente 4 mm X 4 cm e retirada da porção profunda da esclera de 2mm juntamente com o trabeculado. Trabeculectomia: iridectomia (para evitar o tamponamento do orifício criado com a remoção do trabeculado A seta branca mostra o trajeto do humor aquoso saindo da câmara posterior, passando pelo orifício da iridectomia e atingindo o espaço sub conjuntival através do orifício criado com a remoção do trabeculado no local e protegido por um retalho de esclera delaminada. Estes têm a finalidade de levar o humor aquoso da camada anterior para o reservatório do implante situado no equador do olho (como na próxima figura). Nos casos que também esse procedimento não resultou em redução suficiente da PIO, pode-se colocar um novo implante ou recorrer-se à destruição do corpo ciliar, órgão este responsável pela produção do humor aquoso. Utiliza-se para tal os procedimentos chamados “ciclos destrutivos”, sendo os mais usados a ciclocriocoagulação, a ciclofotocoagulação transescleral e a endociclofotocoagulação. Entre estes, os mais utilizados e que apresentam menores complicações e resultados mais previsíveis são a ciclofotocoagulação transescleral e a endociclofotocoagulação. Esta figura mostra a placa do implante fixada no equador do olho, subtenoniana e conjuntival e o tubo do implante inserido na câmara anterior de onde drenará o H aquoso. O seguimento do paciente com glaucoma deve ser feito pela avaliação estrutural do disco óptico através de fotografia do nervo óptico ou de aparelhos computadorizados de imagem. As avaliações funcionais são feitas através de campos visuais, principalmente a perimetria branco/branco. A freqüência dos exames depende da severidade da doença, mas raramente as avaliações estruturais devem ser feitas com prazo superior a dois anos e as funcionais com mais de um ano. Em alguns casos, esta última deve ser feita a cada quatro meses dependendo do estado em que a doença se encontra, do risco de progressão e da expectativa de vida do paciente. A próxima figura mostra a progressão do disco óptico em cinco anos de seguimento. Observa-se nítida piora do dano do nervo óptico neste paciente. Este slide mostra claramente a necessidade de documentação do nervo óptico para se detectar a progressão da doença. Na figura de baixo, observa-se a progressão funcional pela perimetria branco/branco em um paciente que em apenas seis meses perdeu 11dB (mean deviation). Deve-se lembrar que uma perda de 24dB equivale à cegueira ou quase cegueira do paciente. Este paciente em apenas 6 meses apresentou uma piora de campo visual de 11dB. A perda visual na perimetria é medida em decibéis. Uma perda de 24 dB ocorre quando o paciente está legalmente cego ou quase cego. ANOTAÇÕES EXTRAS E RECAPITULANDO: a córnea (44 dioptrias) é uma lente transparente, de maior dioptria do olho; o cristalino (20 dioptrias) é a segunda lente transparente do olho, com a metade da dioptria da córnea; a câmara anterior vai da face posterior da córnea até a face anterior da íris; de tamanho menor, a câmara posterior vai da face posterior da íris até a cápsula anterior do cristalino; o humor aquoso é produzido pelo corpo ciliar e cai na câmara posterior, acessando a câmara anterior pelo ângulo iridocristaliniano, ângulo pequeno que pode obstruir; na câmara anterior, o humor aquoso é drenado pela malha ou rede trabeculada, seguindo para a veia episcleral, aquosa e ciliar anterior, indo embora do olho. LIMBO= estrutura de transição entre a córnea e a esclera. Estereopsia= percepção aprofundada de estruturas oculares. O humor aquoso é produzido pelas células do epitélio do corpo ciliar, estas que secretam sódio, bicarbonato e cloreto (carreadores de água pelo mecanismo osmótico). A drenagem do humor aquoso ocorre em 70% pela via convencional no ângulo de filtração. Lembrando, o humor aquoso é direcionado da câmara posterior para a câmara anterior pela pupila(ângulo iridocristaliniano) e, depois, para o ângulo iridocorneano. A medição da pressão intraocular é feita por um tonômetro (anestesia do olho por ser um exame de contato, acoplamento com a lâmpada de fenda e exercício de força sobre a córnea, permitindo posterior cálculo da PIO). O tonômetro de sopro é mais moderno e auxiliado por um computador, mas o tonômetro de Goldman é mais fidedigno, contando com uma haste que projeta uma superfície de 3 mm no olho do paciente. Há duas marcações e um dispositivo que permite controlar a força com que se aplanam os três milímetros centrais da córnea (na sua primeira camada que é o epitélio bem firme) do paciente. Uma vez que houve aplanação, os dois pontos observáveis do tonômetro se encontram. A PIO possui relação com o ritmo circadiano (produção de cortisol), sendo aumentada durante a manhã. O aumento da PIO dificulta a irrigação no nível do nervo óptico (de modo que a camada de células nervosas da retina vai desaparecendo devido à ausência de oxigenação). Com a PIO elevada dentro do globo ocular, dificulta-se a irrigação sanguínea da cabeça do nervo óptico (papila óptica), também dentro do globo ocular, provocando a escavação por conta da perda de células nervosas. Tonômetro de Goldman. A faixa normal de pressão intraocular está situada entre 12 e 21 mmHg e, quanto ao aumento de pressão intraocular, é importante considerar que seu aumento será distribuído por todo o globo ocular, lembrando que o bloqueio da drenagem é sempre o fator causal. Os axônios da papila óptica (cabeça do nervo óptico) são sensíveis a esse aumento da pressão intraocular. A formação do humor aquoso dá-se, mais comumente, pela secreção do líquido (cerca de 80% do humor aquoso), mas também por difusão e ultrafiltração. CONCLUSÕES O glaucoma é a segunda causa de cegueira irreversível no mundo, sendo assintomático em sua forma mais comum. O diagnóstico de glaucoma é feito pelo aspecto do nervo óptico. A pressão intra- ocular é o fator de risco mais importante. No seguimento da doença, é fundamental a documentação dos aspectos estruturais do disco óptico através da fotografia ou de aparelhos digitais. O seguimento funcional é feito através da perimetria (campo visual). O tratamento do glaucoma consiste em reduzir a pressão intra-ocular a níveis que diminuam ou parem a progressão da doença, níveis estes calculados em função da severidade da doença, idade, risco de progressão e expectativa de vida do paciente. Quando o controle com medicamentos é insatisfatório, pode-se recorrer a aplicações de laser ou a realizações de cirurgias. CAUSAS DE ELEVAÇÃO DA PRESSÃO INTRAOCULAR E AS FISIOPATOLOGIAS DAS DIFERENTES FORMAS DE GLAUCOMA. A forma mais comum de Glaucoma é o Glaucoma Crônico de Ângulo Aberto, por conta de uma dificuldade de drenagem a nível trabecular (há células obstruindo a rede trabecular). O humor aquoso é produzido normalmente, conseguindo passar pelo ângulo iridocristaliniano, mas não há drenagem. Com isso, aumenta-se a pressão intraocular e começam a existir lesões no nervo óptico. Portanto, o foco do tratamento consiste em diminuir a PIO através de medicamentos (que promovam tanto a diminuição de produção, quanto o aumento da drenagem dos vasos que levam o humor aquoso). Existem, basicamente, quatro classes de medicamentos de uso tópico para tratamento de glaucoma, havendo associações de fármacos (de mesmo objetivo, mas mecanismos diferentes) mais intensas conforme mais grave é o quadro do paciente. TIPOS DE GLAUCOMA: glaucoma primário de ângulo aberto (produção normal de humor aquoso, com problemas de drenagem na malha trabeculada por obstrução); no glaucoma agudo de ângulo fechado, a drenagem pode até funcionar bem, mas há uma interrupção da passagem do humor aquoso pelo ângulo iridocristaliniano, impedindo que passe para a câmara anterior (sua fisiopatologia é diferente, visto que a obstrução do ângulo aumenta, rapidamente, a pressão intraocular, em questão de duas a três horas, necessitando de um emergencista para evitar que haja escavação total e uma cegueira irreversível, sendo que os sinais são náuseas, vômitos, olho vermelho, intensa dor ocular, edema corneano, queda da visão e pupila dilatada), sendo que esse bloqueio costuma ocorrer quando o paciente apresenta um olho muito pequeno, em que as estruturas (íris e cristalino) ficam menores e mais juntas (no horário da penumbra, principalmente, há midríase, ou seja, dilatação da pupila, sendo que, no sono, há miose, com constrição da pupila, evitando assim uma obstrução). No glaucoma secundário, há outros fatores no olho que levam a esse tipo, principalmente vasculares (como retinopatia diabética e trombose de veia retiniana); por fim, no glaucoma congênito, há malformação da malha trabeculada, de modo que o paciente já nasce com elevação da pressão intraocular, necessitando de uma intervenção cirúrgica (por meio de um ferro, o trabeculótomo, que gira inclinando na córnea para abrir o ângulo do trabeculado, permitindo uma melhor drenagem) de emergência (para corrigir o nível de drenagem). Antigamente, usavam-se três critérios para definir um quadro de glaucoma (no caso, o mais comum, primário de ângulo aberto): PIO > 21mmHg em pelo menos um olho; ângulo aberto e com aparência normal (caso contrário, seria um glaucoma agudo de ângulo fechado) e, por fim, alterações típicas de campo visual e/ou de nervo óptico (papila óptica). Hoje, consideram-se as alterações de nervo óptico, tendo em vista que as alterações de campo visual surgem após, aproximadamente, 70% de comprometimento da camada de fibras nervosas do nervo óptico. Além disso, a pressão intraocular não é estática, ou seja, ela muda ao longo do dia conforme o ritmo circadiano, de modo que sua medição isolada pode excluir diagnósticos verdadeiros. Por fim, consideram-se, atualmente, muito mais as características do nervo óptico. Vale lembrar que a gonioscopia avalia o ângulo da câmara anterior, em conjunto com a lâmpada de fenda, avaliando um possível glaucoma. *GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO ABERTO Forma mais comum; conhecer o ângulo da câmara anterior (gonioscopia); neuropatia confirmada pelo aspecto do fundo do olho; ausência de alterações no ângulo da câmara anterior; ausência de causas secundárias; insidiosa, bilateral e assimétrica; fatores de risco (aumento da PIO, raça negra, idade avançada e história familiar positiva, com alto risco hereditário, miopia e espessura central da córnea reduzida). Quanto à córnea, é importante considerar que seu centro é mais fino que a periferia e, quando o centro da córnea é mais fino que o normal, a pressão intraocular é subestimada, sendo superestimada quando a córnea é mais espessa que o normal. Isso se dá por conta da aplanação necessária durante a tonometria (ou seja, é preciso mais força sobre a área de três milímetros quadrados para que haja aplanação da córnea mais espessa). A medição da espessura da córnea (normalmente e aproximadamente de 0,5cm) dá-se pela paquimetria central da córnea, um exame complementar dentro da propedêutica de glaucoma, sendo um fator de correção necessário para evitar cálculos exagerados de PIO. Se uma córnea é muito espessa, a PIO pode dar 23 mmHg e o paciente não possuir lesões de nervo óptico. Portanto, a patogênese do Glaucoma Primário de Ângulo Aberto é multifatorial, com degeneração da rede trabecular, proliferação endotelial e edema com consequente redução da drenagem do humor aquoso, sendo motivada também por maior susceptibilidade (fator hereditário) e um comprometimento microvascular. Para explicar a lesão do disco óptico, sua fisiopatogênese compreende duas teorias: a Teoria Vascular e a Teoria Mecânica. A primeira aborda a microcirculação, falando sobre o sangue que não chega em quantidade suficiente para irrigar a parte anterior do nervo óptico, conferindoisquemia e hipóxia dos axônios da camada de fibras nervosas da retina. A teoria mecânica, por sua vez, afetaria o nervo óptico por si só, devido ao aumento da PIO afetando diretamente a lâmina crivosa (base da escavação). Manifestações do GPAA: assintomático em fases iniciais; não há dor, progredindo de forma insidiosa; bilateral; assimétrico; acometimento de visão periférica (com defeitos no campo visual) e ângulo de câmara anterior aberto (avaliação de ângulo fechado ou aberto por meio da gonioscopia). Diagnóstico de GPAA: observação de alterações glaucomatosas típicas na camada de fibras nervosas da retina e na cabeça do nervo óptico, associadas ou não a defeitos correspondentes de campo visual e, geralmente, com níveis estatisticamente alterados de pressão intraocular. Estudo da morfologia da papila óptica. Tonometria. Exame de campimetria computadorizada (alterações campimétricas são demonstradas com 40% ou mais das fibras do nervo acometidas). Tratamento do GPAA: diminuição da PIO (para permitir a vascularização do nervo óptico), conter a progressão da doença por meio da estabilização da lesão glaucomatosa (o tratamento é contínuo, não há cura), sem perder células nervosas. É uma doença irreversível, em que a visão perdida não será restaurada (embora cerca de 70% de fibras do nervo óptico possam ser perdidas sem alteração de campo visual). Fármacos para tratamento de GPAA: o colírio beta-bloqueador é uma droga de escolha (eles reduzem a produção de humor aquoso), como o timolol, bataxolol e levobunolol. Estes, por serem beta-bloqueadores, devem ser evitados em broncoespasmos, bradicardia, hipotensão arterial e descompensação da insuficiência cardíaca. Após a administração, deve-se ocluir o ducto nasolacrimal, para evitar um desnecessário acesso sistêmico do colírio pela garganta. Os alfa-agonistas, por sua vez, também diminuem a produção de humor aquoso, aumentando a drenagem pela via episcleral por meio da abertura da malha trabeculada, sendo exemplos a dorzolamida e a brinzolamida. As prostaglandinas são a classe que mais reduz a pressão intraocular, porque não diminui a produção de humor aquoso, mas aumenta a drenagem do humor aquoso por meio de uma via secundária (via uveoescleral). Por fim, na resposta de progressão da doença a todas as medicações (colírios) já citadas, o tratamento cirúrgico resta como opção (em última por ser limitado, podendo perder seu efeito em questão de um ano). Exemplos: trabeculoplastia à laser, trabeculectomia convencional e stent. *GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO FECHADO Estágio anterior ao Glaucoma Agudo, não consistindo no ângulo fechado, mas estreito. Cerca de 10% dos casos, ocorrem alterações anatômicas que comprometem o ângulo de filtração, ficando estreito na presença de lesão glaucomatosa. FORMAS: aguda, subaguda e crônica. FATORES DE RISCO: raça branca, sexo feminino, história familiar positiva, hipermetropia (estruturas oculares menores e mais próximas, câmara anterior rasa), diabetes, íris platô e pseudoesfoliação (depósito de material branco na rede trabecular, dificultando a filtração). Ou seja, quanto à patogênese, é importante considerar que as formas de GPAF são: aguda, subaguda e crônica. Câmara estreita e íris mais próxima do cristalino. Sinéquias anteriores periféricas (aderência da íris à córnea ou ao cristalino). Aumento da espessura do cristalino. Acúmulo de humor aquoso na câmara posterior que desloca a íris para frente. PIO normal ou aumentada, havendo bloqueio total em situações de meia-luz ou estresse emocional. Íris platô. Para o diagnóstico de GPAF, usam-se: biomicroscopia de fundo (papila) e com lâmpada de fenda (luz da lâmpada incide ao nível do nervo óptico por meio da lente), tonometria e gonioscopia (ângulo da câmara anterior). Além disso, há os exames de campimetria e paquimetria central da córnea. *GLAUCOMA AGUDO O ângulo fechou-se totalmente, acompanhando dor intensa, cefaleia, náuseas e vômitos. Há midríase média paralítica (não fotorreagente), com edema de córnea, íris abaulada, câmara anterior rasa, inflamação e congestão ocular. A PIO está elevadíssima, acima de 50 mmHg, podendo observar, por meio do toque, a consistência pétrea do globo ocular. Em questão de 48 horas, o nervo óptico pode entrar em falência, exigindo atendimento em pronto-socorro. DROGAS QUE PODEM CAUSAR GLAUCOMA AGUDO: topiramato (medicação para enxaqueca e que acaba por dilatar a pupila, facilitando um risco de encontro com o cristalino), colírios dilatadores de pupila, os cicloplégicos (por vezes, até aqueles usados para biomicroscopia de fundo), corticosteróides, agentes adrenérgicos (adrenalina, epinefrina) provocam midríase e antidepressivos tricíclicos. *GLAUCOMA SECUNDÁRIO Há várias doenças oculares e processos inflamatórios que levam ao glaucoma, como: Síndrome da pseudoesfoliação (obstrução da rede trabecular por material), síndrome da dispersão pigmentar, glaucoma traumático com recessão angular, glaucoma pós-uveíte, glaucoma secundário à catarata (facolítico, facoanafilático e facomórfico), glaucoma neovascular, tumor e pós-cirurgia ocular. *GLAUCOMA CONGÊNITO PRIMÁRIO Disgenesia angular, uma doença congênita (de 10 a 40% de origem familiar), autossômico recessivo com penetração variável, bilateral (em 2/3 casos) e assimétrica, congênita antes dos dois anos e infantil após os dois anos de vida, epífora (excesso de lágrimas), fotofobia, blefaroespasmo (contração involuntária dos músculos das pálpebras, podendo usar toxina botulínica), aumento da córnea (que também pode ficar azulada) e do globo ocular (buftalmo) e injeção conjuntival. TRATAMENTO: sempre cirúrgico e manual, por goniotomia (rede trabecular) e trabeculotomia (canal de Schlemm) e com associação de terapia tópica (colírios). *GLAUCOMA CONGÊNITO SECUNDÁRIO Associado a síndromes, como de Sturge-Weber, aniridia, disgenesia do segmento anterior e retinopatia da prematuridade. Buftalmo.