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Daniela Carvalho – Turma LVI TRABALHO DE PARTO PREMATURO Definição: Denomina-se parto pré-termo aquele ocorrido antes de 37 semanas de gestação (259 dias). Concomitantemente, considera-se recém-nascido (RN) de baixo peso aquele com peso inferior a 2.500 g. Epidemiologia • No ano de 2010, ocorreram 14,9 milhões de partos pré-termo no mundo. Na América Latina e no Caribe a em 2010, a taxa foi de 8,6% dos nascidos vivos. • O parto pré-termo é um problema de saúde pública e representa a causa principal de morbidade e de mortalidade neonatal precoce e tardia, em face do risco aumentado de complicações no neurodesenvolvimento, respiratórias e gastrintestinais, como síndrome de angústia respiratória (SAR), doença pulmonar crônica, enterocolite necrosante, hemorragia intraventricular e paralisia cerebral. Classificação • Categorização do RN Pré-termo o Pré-termo extremo: < 28 semanas o Muito pré-termo: 28 a 30 semanas e 6 dias o Pré-termo precoce: 31 a 33 semanas e 6 dias o Pré-termo tardio: 34 a 36 semanas e 6 dias • Categorias para baixo peso ao nascimento o Baixo peso (< 2.500 g) o Muito baixo peso (< 1.500 g) o Baixo peso extremo (< 1.000 g) ETIOLOGIA • Pode ser classificada em 2 grupos: o (1) Parto pré-termo espontâneo, associado (25%) ou não à ruptura prematura das membranas pré-termo (RPMP) (45%). o (2) Parto pré-termo indicado (30%), decorrente da interrupção provocada da gravidez ditada por complicações maternas ou fetais. • As causas mais comuns associadas ao parto pré-termo indicado são os distúrbios hipertensivos, hemorragia e sofrimento fetal (RCIU). • Outro fator contribuinte importante é a gravidez múltipla, resultante de técnicas de reprodução assistida. FATORES DE RISCO • História pregressa de TPP • Baixo nível socioeconômico e educacional • Etnia • Idade materna < 18 ou > 35 anos • Tabagismo • Uso de drogas • Estresse • Abuso físico • Assistência pré-natal deficiente • Baixo peso pré-gravídico • Ganho de peso inadequado na gestação Daniela Carvalho – Turma LVI COMPLICAÇÕES DA GRAVIDEZ – CAUSAS DO TPP • Os processos patológicos implicados no parto pré-termo incluem infecção intrauterina, isquemia uterina, sobredistensão uterina, reação anormal ao aloenxerto, fenômeno alérgico, distúrbios do colo uterino e doenças endócrinas. Vaginose bacteriana • Condição clínica caraterizada por corrimento vaginal de odor fétido, pH vaginal > 4,5 e alteração na flora vaginal normal lactobacilo-dominante para outra com predomínio de Gardnerella vaginalis, Prevotella sp. e Atopobium sp. • A vaginose bacteriana assintomática (rastreada no pré-natal com 16 semanas) é considerada causa de parto pré-termo, abortamento e infecção materna. Infecções não genitais • Pielonefrite, pneumonia, apendicite e doença periodontal. Infecção intrauterina • Na infecção intrauterina ou corioamnionite são encontrados microrganismos no líquido amniótico. A via de infecção mais comum é a ascendente e os microrganismos mais encontrados são Mycoplasma spp. genitais e, particularmente, Ureaplasma urealyticum, mas muitos outros podem ser identificados. • A corioamnionite é responsável por > 30% de todos os partos pré-termo. Citocinas pró-inflamatórias • A inflamação e seus mediadores, quimiocinas tais como a IL-8, citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α) e outros [fator ativador de plaquetas (PAF), prostaglandinas] estão implicados no parto pré- termo infeccioso. Sobredistensão uterina • Ocorre em casos de malformações uterinas, polidrâmnia e gravidez gemelar. Gravidez gemelar • O mecanismo do parto pré-termo é a sobredistensão uterina, muito embora o parto pré-termo indicado também seja um fator. Apesar de representar em apenas 2 a 3% das gestações, a gravidez gemelar é responsável por 13 a 20% de todos os partos pré-termo. Sangramento vaginal • Especialmente o decorrente da placenta prévia ou do descolamento prematuro da placenta (DPP). Isquemia uteroplacentária • As características mais comuns na placenta de pacientes com parto pré-termo (< 28 semanas), mas sem alterações inflamatórias, são as lesões vasculares. Doenças e cirurgias maternas • Doença da tireoide, asma, diabetes melito e hipertensão arterial crônica estão associadas a taxas aumentadas de parto pré-termo, muitos dos quais indicados por razões maternas. Por outro lado, cirurgias maternas abdominais no 2º e no 3º trimestres podem estimular as contrações uterinas, culminando no parto pré-termo. Daniela Carvalho – Turma LVI Doenças cervicais • Insuficiência cervical. Distúrbios hormonais • A progesterona é o hormônio central para a manutenção da gravidez. Acredita-se que a deficiência da fase lútea seja causa de infertilidade e de abortamento habitual. EXAMES DE AVALIAÇÃO DA MATURIDADE FETAL os exames de avaliação da maturidade fetal restringem-se, quase exclusivamente, à investigação da maturidade pulmonar e não prescindem da amniocentese para coletar amostras do líquido amniótico (LA). Atualmente é rara a indicação de amniocentese para avaliar a maturidade pulmonar fetal, visto que é um procedimento invasivo e não isento de riscos. A administração universal de corticoide por 48 h entre a 24 a e a 34 a semana da gestação tornou obsoletos os exames de maturidade pulmonar fetal. • Teste de Clements e determinação da relação lectina/esfingomieline o Ambos os testes têm por finalidade avaliar a concentração de lecitina existente no LA, fosfolipídio de atividade surfactante. • Determinação do fosfatidilglicerol o O fosfatidilglicerol (FG) é importante potencializador da ação surfactante da lecitina e, quando ausente, pode contribuir para o desenvolvimento da SAR, mesmo estando a relação L/E madura. PROGNÓSTICO • A maioria dos problemas graves está associada àqueles que nascem antes de 32 semanas (1 a 2% do total de partos), principalmente àqueles nascidos antes de 28 semanas (0,4% do total de partos). Daniela Carvalho – Turma LVI PREDIÇÃO • O grande fator de risco para o parto pré-termo é a história pregressa de parto pré-termo. Assim, após um parto pré-termo, o risco de repeti-lo chega a 20%; após dois partos pré-termos anteriores, o risco passa para 35 a 40%. Existem três grandes marcadores de parto pré-termo: vaginose bacteriana, ultrassonografia do colo e fibronectina fetal. Esses marcadores estão indicados quando a grávida relata história pregressa de parto pré-termo. o Vaginose bacteriana: rastreada pelo método gram na gestação de 16 semanas. o US do colo do útero: A US transvaginal é um marcador muito útil de parto pré-termo em duas circunstâncias: gestantes assintomáticas e sintomáticas com ameaça de parto pré-termo. Em gestantes assintomáticas, o comprimento do colo < 20 mm entre a 20 a e a 24 a semana define risco aumentado para parto pré-termo. o Fibronectina fetal: o mais importante marcador bioquímico de parto pré-termo é a fibronectina fetal – glicoproteína existente na secreção cervicovaginal, marcadora de disrupção coriodecidual. Tipicamente, a fibronectina fetal não existe na secreção vaginal da 24 a semana até o termo; todavia, 3 a 4% das mulheres com fibronectina positiva (≥ 50 ng/mℓ) no rastreamento de 24 a 26 semanas apresentam risco elevado de parto pré-termo. AMEAÇA DE PARTO PRÉ-TERMO • Esse quadro clínico engloba o que se rotulam casos sintomáticos e se caracteriza por contrações uterinas rítmicas e dolorosas com frequência de 1 a 2/10 min, persistindo no mínimo por 1 h, estando a paciente em repouso. Vale destacar que cerca de 60% dessas gestantes sintomáticas caracterizam apenas o quadro de ameaça de parto pré-termo, pois o parto ocorre no termo não havendo, por conseguinte, indicação de internação, uso de corticoide e tocolítico. Daniela Carvalho – Turma LVI PREVENÇÃO E TRATAMENTO Tocolíticos • Os tocolíticos atualmente empregados podem ser divididos em: o Agonistas-β2o Bloqueadores de canal de cálcio o Sulfato de magnésio (Mag) o Inibidores da cicloxigenase o Antagonistas do receptor de ocitocina o Doadores de óxido nítrico. • O uso de tocolítico visa prolongar a gestação por 48 h enquanto se aguardam os efeitos benéficos do corticoide e se espera a transferência da paciente para um centro de atendimento terciário. • A nifedipina é o fármaco de primeira escolha para inibir o parto pré-termo, por apresentar as seguintes vantagens: via oral de administração, poucos efeitos colaterais e eficácia em reduzir as complicações neonatais. Dos agonistas-β2 , o salbutamol é o mais empregado no Brasil. Cerclagem • Originalmente proposta para uso em pacientes com abortamento habitual de 2 o trimestre, a circlagem tem sido recomendada também para aquelas com história pregressa de parto pré-termo. Ultrassonografia universal do colo • A Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM), o American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM) e o ACOG (2012) propõem a prevenção do parto pré-termo pela ultrassonografia transvaginal universal do colo uterino, após a ultrassonografia morfológica de 2 o trimestre, entre a 20 a e a 24 a semana. O colo ≤ 20 mm é indicação para progesterona vaginal, 200 mg/dia, até 34 a 36 semanas. Sulfato de magnésio na neuroproteção fetal • O sulfato de magnésio (Mag) utilizado para a neuroproteção fetal está indicado na gestação entre 23 e 31 semanas e 6 dias quando o parto é iminente ou a gravidez deve ser interrompida nas 24 h seguintes. No parto pré-termo com indicação clínica, o Mag deve ser iniciado 4 h antes da interrupção. Daniela Carvalho – Turma LVI ASSISTENCIA AO PARTO • Pacientes em trabalho de parto pré-termo têm maior probabilidade de apresentarem fetos em apresentação pélvica do que aquelas a termo. Os RN pré-termo, especialmente com menos de 32 semanas, estão mais sujeitos a lesões traumáticas e asfíxicas no parto pélvico. Faz parte da boa prática indicar a cesariana para todos os casos de parto pré-termo em apresentação pélvica. Por outro lado, os RN pré-termo em apresentação cefálica devem ser submetidos à cesariana pelas mesmas indicações daqueles a termo. o Pode ser necessário o uso de fórceps de alívio para encurtar o período expulsivo. • A profilaxia intraparto contra estreptococos do grupo B (GBS) é obrigatória, a menos que a cultura vaginorretal tenha sido negativa nas últimas 5 semanas: penicilina G cristalina, 5 milhões de unidades em bolus, seguida de 2,5 milhões de unidades IV, a cada 4 h. ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO PRÉ-TERMO • É fundamental a presença de pediatra experiente na sala de parto à ocasião do nascimento. • Ligadura do cordão: Para o RN pré-termo que não necessite de reanimação, o clampeamento do cordão deve ser postergado por 30 a 120 s. A ordenha do cordão (4 vezes em 10 a 12 s) parece oferecer a mesma vantagem do clampeamento postergado. • Índice de Apgar: Na população de RN prétermo, em face de sua imaturidade fisiológica, o índice de Apgar não tem importância clínica (ACOG, 2006). • Aspiração: A limpeza da orofaringe será imediata por meio de pera de borracha quando do desprendimento do polo cefálico. (isto ainda é recomendado atualmente?) • Aquecimento: Não deve ser utilizado o ar-condicionado quando do nascimento do pré-termo, que será imediatamente aquecido e colocado em incubadora à temperatura de 30ºC. • Reanimação: É indicada para conceptos deprimidos. Daniela Carvalho – Turma LVI SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA (SAR) • A SAR é a principal causa de morte no RN prétermo, e deve-se à deficiência de surfactante (lecitina) nos alvéolos pulmonares. Se não for tratada, cerca de 25 a 30% dos RN com SAR antes de 28 semanas morrem nos 28 dias seguintes ao parto e outros 25% desenvolvem doença crônica do pulmão, como displasia broncopulmonar. Deficiência de surfactante pulmonar está envolvida na fisiopatogenia da SAR, mas outros fatores como a imaturidade do parênquima pulmonar também são importantes. CORTICOIDE ANTENATAL • O corticoide estimula a síntese e a liberação de material surfactante no alvéolo pulmonar. A betametasona e a dexametasona atravessam a barreira placentária e, por via intramuscular, são os corticoides preferidos para a corticoterapia antenatal. • O corticoide é capaz não só de reduzir a incidência de SAR como também de outras complicações no bebê, tais como hemorragia intraventricular, leucomalacia periventricular, retinopatia da prematuridade, enterocolite necrosante, persistência do canal arterial e, o que é mais importante, a taxa de mortalidade neonatal. Fonte – resumo baseado em: Rezende Obstetrícia Fundamental, 13ª ed - Carlos Antonio Barbosa Montenegro; Jorge de Rezende Filho – editora Guanabara Koogan, 2014.