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Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 1 Intoxicações em pequenos animais Introdução Medicamentos Causa frequente de intoxicação no homem e nos animais Ingestão acidental, administração pelo proprietário sem orientação, prescrição pelo veterinário de maneira errada Medicamentos mais comuns: anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, antiparasitários tópicos Predisposição Cães filhotes (curiosidade, apetite depravado) Idosos (funções alteradas de órgãos) Gatos (metabolização diferenciada de algumas drogas) Toxicose Superdose Alta toxicidade para determinada espécie Reação individual Reações aos medicamentos Alterações locais discretas Farmacodermias ou dermatites medicamentosas Alterações gastrointestinais (vômito e diarreia) Alterações neurológicas, cardiovasculares, respiratórias Choque anafilático “Todo medicamento é potencialmente um veneno: o que distingue um medicamento de um veneno é somente a dose” Tipo de reação Fármaco Reação no ponto de aplicação Vacinas, sulfa potencializada, quinolonas, corticoides, penicilinas, fipronil e antineoplásicos Urticária e agioedema Vacinas, transfusão de sangue, soro hiperimune, amitraz, sulfa potencializada, penicilinas, Cefalosporinas, tetraciclinas, levamisol, ivermectina e barbitúricos Erupção maculopapular Alcatrão, sulfa potencializada, Cefalosporinas, tetraciclinas e amitraz Erupção e eritema fixo Metronidazol, sulfa potencializada e 5-flucitosina Erupção vesiculobolhosa Triancinolona, cefalexinas, sulfas, primidona e vacinas Erupção liquenoide Penicilinas, Cefalosporinas, estreptomicina, fluometasona e ciclosporina Eritema multiforme e síndrome de Stevens- Johnson Sulfa potencializada, penicilinas, Cefalosporinas, cloranfenicol, enrofloxacina, levamisol e dietilcarbamazina Necrólise epidermal tóxica (NET) (síndrome de Lyell) Sulfa potencializada, penicilinas, cefalosporinas, levamisol, griseofulvina, deltametrina e ivermectina Causa comum de intoxicação em cães e gatos Facilidade de aquisição (farmácias, sem necessidade de prescrição), comumente usados no dia-a-dia (possuem nas residências) Erros de dosagem Ingestão acidental Desconhecimento do proprietário Mecanismo de ação Inibição competitiva da COX (COX-1, COX-2) AINE’s de ação dupla: inibem 5-lipoxigenase (forma Leucotrienos: ↑ leucócitos, fagocitose e fibrinogênese) COX-1: Inibe PGs no TGI e rins, que promovem diminuição na produção de ácidos e aumento da secreção de muco e bicarbonato Rins: PGs regulam o fluxo sanguíneo, transporte iônico, velocidade de filtração glomerular, liberação de renina e metabolismo hídrico Se inibe COX-1 Efeitos adversos: úlceras, gastrites, hemorragias gástricas Rins: insuficiência renal ou lesões Inibe a formação de prostaglandinas e tromboxanos Mediadores químicos (↑ permeabilidade vascular, edema, calor, rubor) Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 2 Sinais clínicos Apatia, anorexia, hiporexia, vômito, hematêmese, melena, hematoquezia, sensibilidade abdominal, desidratação, peritonite, perfuração do estômago Severidade: espécie, tipo de AINE’s, duração do tratamento, doenças concomitantes (hepatopatias, nefropatias, cardiopatias) Úlceras: animais sensíveis, falha de adaptação da mucosa gástrica Falência renal aguda: oligúria, azotemia Cardiopatia/ nefropatia: constante avaliação dos parâmetros renais Tratamento – exposição aguda Induzir o vômito Carvão ativado e catárticos osmóticos Tratamento – úlceras Sucralfato (protetor de mucosa, afinidade 5x maior por mucosa lesada do que por tecido normal) Antagonistas histaminérgicos H2 (ranitidina, cimetidina) Inibidores da bomba de prótons (omeprazol) (Cataflan® e Voltaren®) Um dos principais medicamentos que causam intoxicação em cães e gatos Cães são mais sensíveis: gastroenterite hemorrágica que pode ser fatal Sinais clínicos Vômito, diarreia com sangue, sensibilidade abdominal, desidratação, insuficiência renal Necropsia: úlceras no estômago e duodeno, necrose de pelve renal Tratamento Dependendo da dose pode ser fatal, terapia de suporte e sintomática (Aspirina®, Doril®) Pode ser usado como analgésico e antitrombótico Intoxicação ocorre devido uso de doses elevadas indicadas para humanos Gatos: mais susceptíveis, incapacidade de metabolizar salicilatos rapidamente (deficiência da enzima glicuroniltransferase) meia vida plasmática de 44,5 horas Cães: meia vida plasmática de 7,5 horas Mecanismo de ação Inibe a COX Em altas doses: desacoplamento da fosforilação oxidativa (hipertermia, hiperglicemia, glicosúria, estimula o centro respiratório – hiperventilação → alcalose respiratória) Biotransformação: glicuroniltransferase – conjugação do AAS + ácido glicurônico = metabolismo atóxico Sinais clínicos Náusea, vômito, anorexia, febre, taquipneia, convulsões Tratamento Exposições recentes: eméticos, carvão ativado, catárticos Fluidoterapia de reposição, correção da acidose metabólica Hipertermia: resfriar (evitar medicamentos) (Tylenol®) Tolerado em cães, doses muito elevadas podem ser hepatotóxicas Contraindicado em gatos: não metabolizam adequadamente (deficiência de glicuroniltransferase) Mecanismo de ação Paracetamol conjuga-se com ácido glicurônico (glicuronidação) ou sulfato (sulfatação) = metabolitos atóxicos Gatos: ↓ glicuronidação, oxidação pela via citocromo P-450 Sinais clínicos Cães: depressão, vomito, dores abdominais Gatos: anemia hemolítica, icterícia, hemoglobinúria, hematúria, TºC ↓, edema (ace e patas) depressão, cianose Tratamento Menos de 2h: induzir vômito, carvão ativado, catártico e Oxigenioterapia (cianóticos) Substancias com enxofre (doador de sulfato – sulfatação): N- acetilcisteína (Fluimucil®) 140mg/kg IV ou VO, repetir a cada 4 – 6 horas na dose de 70mg/kg VO ou IV (4 a 7 vezes) Cimetidina, vitamina C Produz N-acetil-p-benzoquinoneimina (metabólito tóxico) Necrose hepática, hemoglobina em metahemoglobina Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 3 São muito utilizados na prática clínica veterinária Uso adequado Indicações, posologia Conhecimento de efeitos tóxicos Particularidades nas diversas espécies Lactonas macrocíclicas Avermectinas: ivermectina, abamectina, doramectina, selamectina Milbemicinas: moxidectina Mecanismo de ação Agonistas do GABA Neurotransmissor inibitório do SNC Hiperpolarização do neurônio Inibe a passagem do estimulo Boa margem de segurança em mamíferos (não atravessam a barreira hematoencefálica) Algumas raças possuem mutação no gene MDR-1 glicoproteína-P → Collies Sinais clínicos Depressão, ataxia, desorientação, vômito, sialorreia Midríase, hiperestesia, tremores, agitação Head pressing, vocalização, hipertermia Bradicardia, hipoventilação Tratamento Não há antidoto Descontaminação Ventilação mecânica Fisostigmina (finalidade diagnóstica – anticolinesterásico) (estimula o sistema nervoso simpático) Período de recuperação pode ser longo Ação ectoparasiticida Sarnas, piolhos, pulgas e carrapatos Aplicação tópica Causas de intoxicação Diluição inadequada Utilização após preparo (hidrolise – toxicidade) Ingestão de coleiras Diluído em óleo vegetal Cães idosos Mecanismo de ação Inibidores da monoamioxidase MAO Estimula receptores alfa 2 adrenérgicos Inibe a síntese de PGs (prostaglandinas) Sinais clínicos AGUDOS! Ataxia e depressão Estimulação e agressividade transitórias Incoordenação motora Vômito, diarreia, hipomotilidade intestinal Hipotensão, bradicardia, hipotermia Convulsões (raras) Hiperglicemia Tratamento Sintomático e de detoxificação Banhos (temperatura da água) Aquecimento, fluidoterapia Frequência cardíaca, glicemia Antagonistas alfa 2 – adrenérgicos Ioimbina (0,1mg/kg), atipamizole (0,2mg/kg) (4 a 8 horas) Fatores que influenciam nas intoxicações Mudança do ambiente, fome, idade (curiosidade), peso do animal, parte e quantidade consumidas Dose tóxica – muito variável (relacionadas com o peso do animal) Palatabilidade Período de ingestão → única ou períodos mais prolongados Sistemas afetados Ação mista, sistema gastrintestinal, cardiovascular, neurológico Diagnóstico e tratamento Anamnese Observação do proprietário – coleta do material Quantidade ingerida e sintomatologia Ausência de informações Período de observação rigoroso Tratamento sintomático Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 4 Componentes químicos (princípios ativos) Alcaloides Compostos orgânicos nitrogenados → SNC Designação: segundo o gênero ou a espécie da planta de que procedem ou baseados em seus efeitos fisiológicos (nicotina, atropina, cafeína) Uma planta → vários alcaloides com estrutura química semelhante (alcaloide principal) Vinca → ação antimitótica → agente antineoplásico Glicosídeos cardioativos São glicosídeos esteroidais – alta especificidade e poderosa ação sobre o músculo cardíaco: contratilidade e condutibilidade Ação inotrópica positiva, levando a distúrbios de ritmo, incluindo bloqueios, extra-sístoles, taquicardia e fibrilações atriais ou ventriculares Oxalato de cálcio Idioblastos: há grande quantidade de pequenos cristais em forma de agulhas (ráfides) À mastigação: causam grande inflamação e edema local que podem levar a óbito por asfixia Substância antagonista: Eugenol Saponinas Glicosídeos descritos como Triterpenos Tensoativos naturais Produzem uma solução coloidal em água – espuma quando agitado Características gerais Princípios ativos não são totalmente conhecido (oxalato de cálcio) Substância proteica sugerida como princípio ativo Depois de substância lipídica Sinais clínicos Edema de lábio e língua, sialorreia intensa, disfagia, náusea, vômito, dor intensa, edema de glote → morte por asfixia Contato com suco leitoso Pele: dermatite de contato Olhos: fotofobia, lacrimejamento e lesão em córnea Tratamento Sintomático: demulcentes, antiespasmódicos, analgésicos, corticoide e anti-histamínicos Se necessário: intubação e traqueostomia Comigo-ninguém-pode Família: Araceae Parte tóxica: toda Princípio ativo: saponinas e ráfides de oxalato de cálcio Dose letal: 30g/kg (Costela de Adão) Costela de Adão, dragão fedorento, sete facadas, banana do mato Família: Araceae Parte tóxica: folhas, caules e látex Princípio ativo: ráfides de oxalato de cálcio e talvez saponinas Copo de leite Família: Araceae Parte tóxica: todas Princípio ativo: ráfides de oxalato de cálcio e saponinas Tinhorão, caládio, tajá, taiá e coração de Jesus Família: Araceae Partes toxicas: todas Princípio ativo: ráfides de oxalato de cálcio e saponinas Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 5 Espada de São Jorge, rabo de lagarto, língua de sogra, espada de ogum (coloração verde) e espada de ossose (verdes com bordas amarelas) Família: Liliaceae Parte tóxica: toda a planta Princípio ativo: saponina Sinais clínicos: branda – sialorreia e dermatite de contato Lírio da Paz, espatífilo, bandeira branca Família: Araceae Princípio ativo: oxalato de cálcio Sintomas: alergia, caracterizada por urticárias, rinite alérgica, laringite, faringite, problemas respiratórios e inchaço ocular Antúrio Família: Araceae Parte tóxica: folha, caule e látex Princípio ativo: cristais de oxalato de cálcio Sinais: irritação em mucosas, dor, náuseas, vômito Bico de papagaio, flor de páscoa, folha de sangue, rabo de arara, poinsétia Família: Euphorbiaceae Parte tóxica: látex Princípio ativo: toxialbuminas (ésteres diterpenos – látex) Sintomas: pele (prurido, inflamação, dor), olhos (lacrimejamento, edema de pálpebras e dificuldade de visão), edema de lábio e língua, ingestão (dor abdominal, vômitos, diarreia) Mamona, carrapateira, palma de cristo, regateira Família: Euphorbiaceae Parte tóxica: semente (mastigada) Princípio ativo: toxialbuminas (ricina), fração alérgica (CB- 1A), traços de riboflavina, ácido nicotínico e óleo de rícino (citolítico) Sinais: anorexia, vômitos, hematoquezia, dor abdominal, depressão, tremores. Convulsão, coma, morte, contato da pele causa reação alérgica local Achados de necropsia: gastroenterite hemorrágica (conteúdo líquido ou semi liquido luminal e evidente inflamação da mucosa) Tratamento: antiespasmódico, hidratação parenteral, benzodiazepínicos, catárticos Profilaxia: contaminação dos alimentos (sementes e resíduos de mamona não destoxicados) Família: Apocynaceae Dedal de dama, quatro patacas amarela Princípio ativo: oleandrina Atuação: inibição da bomba de Na/K Parte tóxica: principalmente o látex Sintomas: pulso irregular e fraco, bradicardia e dermatite de contato Tratamento com lavagem gástrica, antiarrítmico e KCL Família: Plantaginaceae Dedaleira Princípio ativo: digoxina Atuação: inibição da bomba de Na/K Sinais: vômito, pulso irregular e fraco, bradicardia, bradicardia, tremores e convulsão Tratamento com lavagem gástrica, antiarrítmico e KCL Família: Apocynaceae Espirradeira, Oleandro, Flor de São José Princípio ativo: oleandrina Atuação: inibição da bomba de Na/K Sinais: vômito, pulso fraco, bradicardia, midríase, diarreia com sangue e sonolência Tratamento com lavagem gástrica, antiarrítmico e KCL Família: Apocynaceae Maria sem vergonha Princípio ativo: oleandrina Atuação: inibição da bomba de Na/K Sinais: vômito, diarreia, hipotensão, bradicardia, hipotermia Tratamento com lavagem gástrica e KCL Vegetação herbácea suculenta Diversidade de cores Suculenta: seiva tóxica com alta concentração Glicosídeos cardioativos (bufenolídeos) de efeito cumulativo – bloqueio da bomba de Na/K Taquicardia, arritmias, midríase, ataxia, convulsões, ranger de dentes, diarreia Intoxicações em Pequenos Animais | @bgs_isa6 6 Família: Moraceae Maconha Princípio ativo: THC (tetrahidrocanabiol) Atuação: vias dopaminérgicas, noradrenérgicas, gabaminérgicas, colinérgicas, serotoninérgicas Sinais: euforia, excitação seguida de depressão, apatia, incoordenação e em casos graves coma Família Solanaceae Saia branca, figueira do inferno Princípio ativo: alcaloides tropanicos Atuação: receptores colinérgicos muscarínicos Parte tóxica: todas Sinais: alucinações, taquicardia, midríase e hipertermia Tratamento: neostigmina ou Fisostigmina (antisimpatomiméticos) em casos graves Família: Solanaceae Tabaco, fumo Intoxicação pela ingestão da planta, cigarro, charuto, restos de cigarro que contém o alcaloide nicotina Nicotina age primeiro como estimulante do SNC e depois inibidor Imediatamente após a ingestão: salivação, náuseas, emese e diarreia Após absorção: sinais neurológicos – tremores, andar cambaleante, prostração, convulsão, perda dos reflexos Óbito por parada respiratória Tratamento sintomático Família: Solanaceae Beladona, erva do diabo Princípio: vários, sendo eles alcaloides derivados do tropano, tais como hiosciamina, atropina, ácido atrópico, beladonina e escopolamina Atuação: multissistêmica Sinais: excitação vagal, midríase, taquicardia, redução de movimentos peristálticos, convulsão e morte Tratamento sintomático Família: Moraceae Unha de gato, trepadeira, hera Princípio ativo: cumarina Atuação: absorção de radiação ultravioleta Parte tóxica: látex Sinais: hiperpigmentação, eritema e formação de vesículas Tratamento sintomático Família Hydrangeaceae Hortência Princípio ativo: glicosídeo cianogênico Sinais: cianose, convulsão, dor abdominal, flacidez muscular, letargia, vômito e coma Tratamento sintomático Cambará de jardim, camarazinho Família: Verbenaceae Partes tóxicas: frutos verdes e folhas Princípio tóxico: Triterpenos hepatotóxicos (lantanina, lantadene, A e B) Sinais: náuseas, vômitos, diarreia, fraqueza, midríase, dispneia, cianose, letargia, fotossensibilização Azaléa Família: Ericaceae Partes tóxicas: todas Princípio ativo: andrometoxina (glicosídeo) – agonista parcial dos canais de sódio (ação mista) Sinais: salivação, náuseas, vômitos, dor abdominal, fraqueza, estomatite, gastrite, diarreia, dispneia, lacrimejamento, paralisia progressiva dos membros, despolarização do músculo cardíaco (bradicardia e hipotensão) Tratamento sintomático Família Rutaceae Arruda Princípio ativo: rutina e derivados cumarinicos Atuação: aumenta as contrações uterinas e fotossensibilização Parte tóxica: todas Aborto e dermatites de contato Tratamento inespecífico