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1 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Penas restritivas de direito As penas restritivas de direito é sinônimo de pena alternativa. Nela, o indivíduo deixa de ser encarcerado e passa a cumprir uma pena que vai restringir direitos. Seu objetivo é evitar o encarceramento para os indivíduos que tem condições pessoais favoráveis e que praticaram delitos de baixa gravidade, evitando a rotulação social de indivíduos que cometeram crimes que não são graves e desestimular a prática de crime. Elas estão previstas no artigo 43 e seguintes do CP. Art. 43 do CP: As penas restritivas de direitos são: I - prestação pecuniária; Pagar um valor para vítima, entidades, instituições e etc. II - perda de bens e valores; III - limitação de fim de semana; O individuo deve permanecer no final de semana na casa de albergado, participando de palestras, cursos e capacitação fazendo alguma atividade. IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; O juiz determina o lugar, podendo ser no fórum, escolas, instituições e etc. V - interdição temporária de direitos; O juiz determina quais desses direitos, podendo ser não ocupar cargo público por determinado tempo, prestar para concurso público, dirigir e etc. Esse rol é exaustivo, ou seja, o juiz deve aplicar apenas o que está na lei. Sua natureza jurídica é pena, de acordo com o artigo 5º XLVI da CF. Uma de suas características é a substutividade. Após encontrar a quantidade fixa da pena e determinar o regime de cumprimento, o juiz analisa se é possível substituir a pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direito, se presente nos requisitos legais. O artigo 28 da Lei de Drogas quebra essa substitutividade, pois prevê diretamente penas restritivas de direito. Outra característica é a autonomia, havendo a substituição o indivíduo só cumprirá a pena restritiva de forma autônoma. A Lei 9503/97, Código de Transito (CTB) quebra a regra da autonomia, pois o indivíduo é condenado uma pena privativa de liberdade mais uma pena restritiva de liberdade, sendo esta a proibição de dirigir veículo automotor. Duração da pena restritiva de direitos: Artigo 55 do CP. Art. 55 do CP: As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46. Exemplo: Indivíduo condenado a pena de 1 ano deverá cumprir 1 ano de pena restritiva de direito. 2 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Art. 46 do CP: A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. § 4º Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Exemplo: Condenado a cumprir 2 anos de pena de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas pode ser cumprir em menor tempo, nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada, ou seja, o mínimo que ele deve cumprir é 1 ano e 1 dia. Ocorre conforme a disponibilidade do réu, caso ele possa, por exemplo, prestar serviço à comunidade sábados e domingos para cumprir menos tempo. Essa regra não se aplica às penas de prestação pecuniária a perda de bens e valores. Existem requisitos necessários para que a substituição para pena restritiva de direitos seja realizada: (Art. 44, I a III, do CP). a) Objetivos: Natureza do crime e à quantidade da pena. I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; Natureza do crime: - Deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, em crimes dolosos. A violência imprópria também não se admite substituição (ocorre quando não há emprego de violência física, mas o agente reduz por qualquer meio a possibilidade de resistência da vítima como o uso de “Boa-Noite Cinderela”). - Delitos de menor potencial ofensivo, quando praticadas com emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, se aplicam a Lei 9099. Esta possui institutos despenalizadores que permitem a composição dos danos cíveis e transação penal, ou seja, não haver processo. É possível a substituição da pena privativa de liberdade por pena alternativa. Exemplo: Lesão corporal de natureza leve, crime de ameaça, constrangimento legal. - É possível a substituição de pena para qualquer crime culposo (desde que preenchidos os outros requisitos). Quantidade da pena aplicada: Pena efetivamente aplicada na situação concreta, após o critério trifásico. - Para crimes dolosos (sem violência ou grave ameaça) é aplicada se não ultrapassar o limite de quatro anos. - Para crimes culposos não existe limite de pena, qualquer que seja a quantidade de pena privativa de liberdade é possível. 3 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo b) Subjetivos: Pessoa do condenado. I - o réu não for reincidente em crime doloso Ser reincidente em crime culposo pode. Exceção: Art. 44 § 3º do CP: Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. - Deve ser analisado o caso em concreto. - Reincidente especifico. Exemplo: Praticou um furto, foi condenado, transitou em julgado, e praticou em seguida. Não cabe a exceção. - Princípio da suficiência: As circunstancias judiciais devem ser favoráveis ao réu, a substituição deve ser suficiente e adequada (punir o infrator e fazer que ele não pratique novos delitos). Art. 44, III: A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Substituição da pena privativa de liberdade Requisitos objetivos Natureza do crime - Crimes dolosos, devem ter sido cometidos sem violência à pessoa ou grave ameaça. - Crimes culposos. Quantidade da pena aplicada Nos crimes dolosos, para pena privativa de liberdade aplicada não seja superior a quatro anos. Para os culposos a substituição é possível qualquer que seja a quantidade da pena imposta. Requisitos subjetivos Não ser o agente reincidente específico em crime doloso e que a medida seja socialmente recomendável. Princípio da suficiência, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstancias indicarem a suficiência desta substituição. 4 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Crimes hediondos e equiparados e penas restritivas de direitos: Os hediondos estão no art. 1º da Lei 8072/90, e os equiparados são tráfico, tortura e terrorismo. Em regra não é possível a substituição, visto que suas penas são maiores de quatro anos e geralmente são praticados com violência ou grave ameaça. Entretanto, é possível em algumas situações, exemplo: Art. 217-A do CP, pena mínima de oito anos. Estupro de vulnerável, menina de 13 anos com namorado de 18 resolvem ter relações sexuais, mas foi tentado, pois os pais da menina impediram que ocorresse. Quando o crime é tentado pode haver redução de até 2/3, resultando uma pena menor que quatro anos. O STF entende que seja possível a substituição da pena caso preencha os requisitos do art. 44. Em regra, uma pessoa condenada por tráfico de drogas não preenche os requisitos do artigo 44, visto que sua pena mínima é de cinco anos. No art. 33 § 4.º da Lei 11343/2006 há o tráfico de drogas privilegiado que é causa de diminuição de pena de até 2/3 e que pode a deixar abaixo do mínimo legal. Por seraplicada na terceira fase de dosimetria da pena, não se vincula a teoria das margens. Entretanto, e lei impede expressamente a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos no tráfico de drogas. § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. O STF declarou que essa vedação é inconstitucional, pois fere o princípio da individualização da pena. O Senado, para dar eficácia erga omnes editou a Resolução n.º 5, de 2012: É suspensa a execução da expressão ‘vedada a conversão em penas restritivas de direitos do § 4.º do art. 33 da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal nos autos do Habeas Corpus n.º 97.256/RS. Violência doméstica ou familiar contra a mulher: Art. 17 da Lei 11.340/2006: É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. A Jurisprudência, para dar maior eficácia à Lei Maria da Penha, proíbe total de aplicação de penas restritivas de direitos nos crimes praticados com violência doméstica ou familiar contra a mulher. Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O art. 7º da Lei Maria da Penha aborda o que é considerado violência doméstica ou familiar contra mulher, existindo violências que, por não serem propriamente ditas, permitem aplicar a substituição, desde que não seja de caráter pecuniário. 5 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Momento da substituição: Após finalizar o critério trifásico o juiz encontra uma quantidade de pena e, após isso fixa o regime de cumprimento de pena tendo como base o artigo 33 do CP. Depois disso, ocorre o momento da substituição, considerando os requisitos do artigo 44. Regras de substituição: Art. 44, § 2º: Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. Art. 60, § 2º: A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código. O art. 44 § 2º foi alterado em 1988, enquanto o art. 60 § 2º em 1984, valendo, portanto, a mais nova (44 § 2º). Reconversão da pena restritiva de direitos: Obrigatória: Art. 44 § 4º: A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. Havia uma pena de prisão, foi convertida em restritiva de direito, e faz- se a reconversão em pena de prisão. Ocorre quando há o descumprimento injustificado da restrição imposta. Exemplo: Fixou um ano de pena privativa, converteu em um ano de prestação de serviço à comunidade, mas o individuo só cumpre dois meses. Exemplo: Individuo deve cumprir um ano de pena privativa de liberdade e cumpre seis meses de prestação de serviço a comunidade, e reconverte o resto em pena privativa, restando, portanto, 6 meses. Exemplo: Individuo deve cumprir um ano de pena privativa de liberdade e cumpre dois meses de prestação de serviço a comunidade, e reconverte o resto em pena privativa, restando, portanto, 10 meses. Exemplo: Individuo deve cumprir um ano de pena privativa de liberdade e cumpre onze meses e vinte dias de prestação de serviço a comunidade. Nesse caso há um saldo mínimo de pena privativa de liberdade para cumprir de 30 dias. O juiz reconverte em pena privativa de 30 dias. Exemplo: Individuo deve cumprir um ano de pena privativa de liberdade e converte em multa de mil reais e o indivíduo paga apenas quinhentos reais. Desconta-se o percentual de quanto ele pagou, ou seja, 50% de um ano, resultando seis meses. Facultativa: Ocorre quando há o descumprimento justificado da restrição imposta. Exemplo: Por conta de acidente, doença e etc. Deve ser apresentado o atestado médico, essa restrição é suspensa e retorna quando o individuo estiver capacitado. 6 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Art. 44, § 5º: Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. Individuo estava cumprindo uma pena restritiva de direitos e sofre condenação de pena privativa de liberdade. O juiz pode reconverter quando não houver compatibilidade uma com a outra. Exemplo: Se a restritiva de direitos for prestação de serviço à comunidade e a privativa for de um ano em regime aberto é possível cumpri-las ao mesmo tempo, não sendo necessário reconverter. Exemplo: Se a restritiva de direitos for prestação pecuniária e a privativa for de seis anos em regime fechado é possível cumpri-las ao mesmo tempo, sendo necessário reconverter. Exemplo: Se a restritiva de direitos for prestação de serviço à comunidade e a privativa for de seis anos em regime fechado não é possível cumpri-las ao mesmo tempo, sendo necessário reconverter. Penas de multa Espécie de sanção penal de cunho patrimonial consistente no pagamento de determinado valor em dinheiro em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Assim como todas as outras sanções penais, ela encontra limites nos princípios da reserva legal e anterioridade, ou seja, deve estar presente no art. 1º do CP. O critério adotado para a pena de multa é o dia-multa de acordo com o artigo 4º do CP. Em um tipo penal que tem pena de multa, tem o preceito primário, que é a conduta, e o preceito secundário que é a pena (multa). Neste, não é indicado o valor específico, pois ele deve ser calculado com base nos critérios previstos no art. 49 do CP. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Para a aplicação da pena de multa, adota-se o sistema bifásico. A primeira fase é estabelecer a quantidade de dias multa, que varia entre o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 360 (trezentos e sessenta). Para a decisão, o juiz leve em consideração o sistema trifásico (circunstancias judiciais do art. 59 do CP, agravantes e atenuantes genéricas e causas de aumento e diminuição de pena). Na segunda fase da aplicação da pena de multa, o juiz atribui o valor de cada dia-multa. No art. 49 § 1º fala do valor. O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. Cada dia-multa não pode ser menor do que 1/30 de um salário mínimo, e não pode ultrapassar do que 5 vezes o salário mínimo. Exemplo: 1.100/30 é o menor valor de cada dia multa, e 5.500/30 é o maior valor de cada dia multa. O critério para definir esse valor está no art. 60 do CP. Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. 7 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo Quantidade de dias-multa X Valor de cada dia- multa = Valor total da pena de multaMínimo de 10 e máximo de 360 dias- multa, sendo utilizado o mesmo critério para a aplicação da pena privativa de liberdade. Sistema trifásico. Mínimo de 1/30 e máximo de 5 vezes o salário- mínimo, de acordo com a capacidade econômica do agente. Art. 60 do CP. O juiz, de acordo com a capacidade do agente, pode aumenta-lo até o triplo, se o entender insuficiente e ineficaz em face da situação financeira do acusado. Art. 60 parágrafo 1º do CP. Se a multa for irrelevante para o infrator o juiz pode chegar até o triplo do valor, mesmo que tenha sido aplicada no máximo, como diz o art. 60 § 1º do CP. A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. O réu tem até 10 dias para pagar a multa, contado desde o transito em julgado da sentença condenatória. Art. 50, caput, 1.ª parte, do CP. Deve ser efetuado no prazo de 10 (dez) dias depois do trânsito em julgado da sentença condenatória. Para o parcelamento deve ser requerido para o juiz da vara de execuções com uma petição. O juiz analisa o caso e defere ou não o parcelamento. Caso o condenado não pague, se omite durante o prazo legal, um pagamento forçado deve ser exigido. É vedada a sua conversão para pena privativa de liberdade, desde 1996. Isso se difere da pena restritiva de direito de prestação pecuniária, pois nesta reconverte em privativa de liberdade. Art. 51 do CP: Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. Foi alterado recentemente pelo pacote anticrime. O juiz da Vara de execuções criminais quem tem competência para executar essa multa. A partir do não pagamento, essa multa se torna dívida de valor, como uma dívida ativa da Fazenda Pública. O valor não pago se torna um tributo não pago ao Estado, como um IPVA, por exemplo. Ela continua sendo uma sanção penal (art. 5º XLVI, c), mas aplicam-se as regras da Fazenda Pública. Art. 5º, XLVI, c, da CF: Antes da alteração do pacote anticrime, existiam três posições diferentes sobre quem era competente para executar a pena de multa. Para a primeira, quem executaria seria o promotor, com as regras da execução penal. Para a segunda, quem executaria seria o promotor, com as regras da fazenda pública (lei de execução fiscal). Para a terceira, que era é que prevalecia, quem executaria seria a própria fazenda pública. Em 13 de dezembro de 2018, o STF julgou a ADI 3150, e decidiram que o MP que executaria a pena de multa, com o prazo de 90 dias após o trânsito em julgado da sentença. Caso não conseguisse, a competência passava para a Fazenda Pública. Isso durou por 8 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo um ano, pois em 24 de dezembro de 2019 foi aprovado o pacote anticrime que alterou o art. 51 dizendo que quem tem competência para julgar é o promotor da justiça perante o juízo da vara criminal. Não tem a competência subsidiária da Fazenda Pública, hoje a execução será promovida exclusivamente pelo MP, perante o juiz da VEC. Caso o indivíduo esteja devendo e falece, seus herdeiros não precisam pagar, pois multa tem caráter penal, e seguindo o princípio da personalidade (intransferência), só quem cumpre sanção penal é o autor da infração. Habeas corpus é um remédio constitucional que tem cabimento quando há a coação ilegal na liberdade de locomoção de alguém. Previsto no art. 5º. Exemplo: Pessoa presa preventivamente de maneira ilegal, se o juiz não revoga deve ser impetrado o habeas corpus. Se a única pena é de multa, não se pode impetrar habeas corpus. Uma multa não paga não pode ser convertida em pena de prisão, e, portanto, a pena de multa não coloca em perigo a locomoção de ninguém. Para reforçar esse raciocínio o STF ratificou uma súmula, a 693 do STF. Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. A lei de drogas, 11.343, também adota o sistema de dia multa. No entanto, as regras relativas ao número de dias multa e o valor de dias multas são diferentes da geral. O art. 28, do CP aborda sobre a posse de droga para consumo pessoal. Este é crime, mas não tem pena privativa de liberdade, mas sim advertência, prestação de serviço à comunidade e comparecimento em curso ou programa educacional. O indivíduo pode negar, devendo o juiz, para garantir o cumprimento dessas medidas, fazer uma admoestação verbal ou estabelecer uma multa, seguindo o art. 28 § 6º. O valor dessa multa é aplicado seguindo os parâmetros do art. 29. A quantidade nunca é inferior a 40 dias multa ou superior a 100 dias multa, e o valor é de acordo com a capacidade econômica do agente, de 1/30 até três vezes o valor do salário mínimo. Quantidade de dias-multa X Valor de cada dia-multa = Valor total da pena de multa Mínimo de 40 e máximo de 100 dias- multa. Mínimo de 1/30 e máximo de 3 vezes o salário mínimo, de acordo com a capacidade econômica do agente. Art. 29 caput da lei 11.343/2006. Não há previsão de aumento desse valor final pelo juiz. Esse valor não é pago para o Fundo Penitenciário Nacional, mas para o Fundo Nacional Antidrogas. Para os crimes de tráfico, associação, financiamento e etc., dos art. 33 a 39 da Lei de drogas, os parâmetros mudam novamente. Art. 42 da Lei de Drogas: O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Para o juiz fixar a quantidade dias multa, prepondera a natureza da substancia (maconha ou cocaína, por exemplo), quantidade (50g ou 1 9 Bianca Marinelli – Direito Penal III – 3º termo tonelada), e a personalidade e a conduta social do agente. Cada um dos delitos traz, dentro do preceito secundário um limite mínimo e máximo de dias multa. Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os art. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. Quantidade de dias multa X Valor de cada dia multa = Valor total da pena de multa O número de dias multa corresponde a cada delito será dosado levando-se em conta, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do CP, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Art. 33 ao 39. Mínimo de 1/30 e máximo de 5 vezes o salário mínimo, de acordo com a capacidade econômica do agente. Art. 43, caput da Lei 11.343/2006. O juiz pode aumentar o valor até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considera-lo ineficaz, ainda que aplicada no máximo. Art. 43, parágrafo único da Lei 11.343/2006.