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CONTRATOS EM ESPÉCIE - AULA 1-2

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DIREITO CIVIL IV- CONTRATOS EM ESPÉCIE
Prof. Sandro NERY simões
FAMETRO
 NOÇÃO DE CONTRATO
CONCEITO: Contrato é um negócio jurídico bilateral (depende, ao menos, de duas declarações de vontade – acordo de vontades) que visa criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.
Contrato é uma espécie do gênero negócio jurídico. Há os negócios jurídicos unilaterais, que dependem da manifestação de vontade de apenas uma parte.
Fatos geradores de obrigações no CC/2002: 1) contratos; 2) declarações unilaterais de vontade; 3) atos ilícitos, sejam dolosos ou culposos. 
Natureza jurídica dos contratos
Fato jurídico: É um acontecimento que gera efeitos jurídicos. Ex: contrato de compra e venda de um notebook.
Ato lícito: a licitude do contrato é necessária para a sua validade e a consequente geração de obrigação contratual entre as partes.
Negócio jurídico bilateral: tem finalidade negocial, depende de mais de uma vontade para se concretizar.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Art. 421 do CC: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
A liberdade de contratar, a autonomia da vontade, é atenuada pela função social do contrato, de modo que um contrato que não respeite essa função, que esteja em confronto com o interesse social, não será lícito. 
Dessa forma, a função social do contrato significa a manutenção do equilíbrio contratual em paralelo com o atendimento dos interesses superiores da sociedade, os quais, em determinados casos, podem não coincidir com os dos contratantes e que, assim, não poderão exercer, de modo absoluto, a sua liberdade contratual.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Portanto, os contratantes não podem fazer tudo. Terceiros que podem ser diretamente atingidos têm a prerrogativa de acessar o judiciário pleiteando tutela caso se sintam prejudicados.
Ex: distribuição de bebidas grátis em frente a uma Unidade dos Alcoólatras Anônimos, aluguel para funcionamento de casa noturna ao lado de um hospital, aluguel de terreno por uma empresa para armazenamento de lixo tóxico, contrato de compra e venda de produto que onerem indevidamente um consumidor.
A função social deve ser observada na interpretação, na integração e na concretização das normas de cada caso particular.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Art. 2035, parágrafo único do CC/02: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.”
A função social do contrato serve, dessa forma, como vetor interpretativo para que o juiz possa determinar o seu alcance de acordo com o caso concreto, podendo, inclusive, determinar a nulidade de um contrato e a indenização da parte que descumpriu a função social, 
Sendo normas de ordem pública, o juiz pode aplicar as cláusulas gerais, como a que versa sobre a função social do contrato, em qualquer ação judicial, agindo ex officio, independente do pedido da parte ou do interessado.
EXERCÍCIOS
Marque a alternativa INCORRETA
 a) O princípio da função social do contrato só legitima e protege contratos que objetivam trocas úteis, justas e não prejudiciais ao interesse coletivo.  
 b) O principio da função social do contrato é cláusula geral, portanto de ordem pública. No entanto, o juiz só pode aplicá-lo a requerimento da parte, sendo vedado o seu reconhecimento de ofício.  
c)A noção de utilidade do contrato hoje é mais ampla que no passado. Além de atender o interesse das partes, deve também ser útil e não prejudicial a toda coletividade. Sua diretriz é a socialidade do atual Código Civil que, traduzida para o plano contratual, impõe que o contrato seja instrumento adequado ao convívio social. 
d)O Código Civil admite a celebração de contrato consigo mesmo, desde que a lei ou representado autorizem a sua realização. Sem observância dessa condição, o contrato é inválido.  
GABARITO
Letra “b”
Existência, validade e eficácia
- Escada ponteana ou tricotomia do negócio jurídico.
O negócio jurídico deve ser analisado em três planos: Plano de Existência; Plano de Validade; Plano de Eficácia. 
Plano de existência – requisitos necessários para a formação do contrato. Os elementos mínimos são as partes, a vontade, o objeto e a forma. Inexistindo alguns destes elementos o negócio consubstanciado no contrato é totalmente inexistente. 
Existência, validade e eficácia
Plano de validade – requisitos necessários para que o contrato não seja nulo ou anulável. O agente tem que ser capaz; a vontade deve ser livre, sem vícios; o objeto necessariamente lícito, possível, determinado ou determinável; a forma prescrita ou não defesa em Lei. Ex: contrato de compra e venda de um terreno no planeta Vênus (nulo); contrato celebrado por relativamente incapaz (anulável).
Existência, validade e eficácia
Plano de Eficácia
Verifica o início e o final da produção de efeitos do contrato.
Os elementos relacionados à eficácia são: a condição (evento futuro e incerto), o termo (evento futuro e certo), o encargo ou modo (ônus introduzido em ato de liberalidade), regras relativas ao inadimplemento das obrigações (os juros, a multa ou cláusula penal, as perdas e danos) e o direito à extinção do contrato.
PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL
- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
- PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
- PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO
- PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO
- PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS
- PRINCÍPIO DA REVISÃO
- PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
A autonomia da vontade constitui a liberdade que a pessoa tem para regular os seus próprios interesses, possuindo limitações de ordem pública, sendo, dessa forma, relativa. 
Alguns doutrinadores preferem o uso da expressão princípio da autonomia privada ao invés de princípio da autonomia da vontade. Em vista dos chamados contratos de adesão, por exemplo, a vontade ocupa, na atualidade, um papel secundário. Nesse tipo específico de contrato, a manifestação da vontade para a sua celebração se resume a um sim ou a um não. Uma das parte não tem o poder de negociar as cláusulas contratuais. A vontade, portanto perdeu a importância que exercia no modelo liberal. Por conseguinte, de acordo com esses autores, a autonomia, na contemporaneidade, não seria da vontade, mas da pessoa
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
O princípio da autonomia da vontade ou da autonomia privada apresenta-se sobre duas formas distintas:
1)Liberdade de contratar – Faculdade de realizar ou não determinado contrato (contratar se quiser e com quem quiser).
Art. 421 do CC: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
Essa liberdade está relacionada, em primeiro momento, a se a pessoa tem ou não o desejo de contratar. Ninguém pode obrigar um indivíduo a celebrar um contrato. Isso fará com que haja um vício de consentimento em sua vontade.
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
Além disso, a liberdade de contratar está relacionada com a escolha da(s) pessoa(s) com quem o contrato será celebrado, sendo, em regra, uma liberdade plena. Exemplo de exceção à regra: art. 497 CC/02.
2)Liberdade contratual – Possibilidade de estabelecer o conteúdo do contrato (contratar sobre o que quiserem).
A liberdade contratual, que está relacionada ao próprio conteúdo do negócio jurídico, sofre, na atualidade, limitações ainda maiores do que o outro âmbito de liberdade.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ E DA PROBIDADE
O CC de 2002, de acordo com Miguel Reale, foi baseado em 3 macroprincípios: 1) eticidade; 2) socialidade; 3) operabilidade
Um comportamento ético, direito, por parte dos contratantes, é uma exigência que permeia todo o Código Civil. Esse tipo de comportamento deve ocorrer desde as tratativas até a extinção do contrato.
Art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa-fé”.
CONCEITOS DE BOA-FÉ E PROBIDADE
Probidade – honestidade de conduta. É um dos aspectosobjetivos do princípio da boa-fé.
Boa-fé subjetiva – considera a intenção da parte integrante de uma relação jurídica, a sua convicção de que estava agindo em conformidade com o direito. É presumida.
ATENÇÃO: A boa-fé deve ser presumida pelo juiz. Por outro lado, a má-fé deve ser provada por quem a alega.
Boa-fé objetiva – norma de comportamento. É exteriorizada e revela-se em um comportamento honesto, correto. Por exemplo, não mentir, ou não distorcer informações a respeito de um objeto a fim de auferir vantagens.
ATENÇÃO: A quebra da boa-fé objetiva gera uma responsabilidade independente de culpa (responsabilidade objetiva).
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
É a boa-fé objetiva que constitui inovação no CC/2002.
Cabe ao juiz estabelecer o padrão de conduta que deveria ter sido adotado naquelas específicas circunstâncias, observando também os usos e os costumes.
A boa fé objetiva permite que haja o inadimplemento mesmo quando não haja mora ou inadimplemento absoluto do contrato pela outra parte.
Reitere-se que a quebra da boa-fé objetiva gera uma responsabilidade independente de culpa (responsabilidade objetiva).
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
ATENÇÃO: A boa-fé objetiva, que pode ser entendida como a exigência de conduta leal dos contratantes, está relacionada com os deveres anexos, que fazem parte de qualquer negócio jurídico, não havendo sequer a necessidade de previsão no instrumento negocial.
ATENÇÃO: Os deveres anexos consistem em indicações, atos de proteção, como o dever de afastar danos, atos de vigilância, da guarda de cooperação, de assistência. Esses deveres anexos devem ser respeitados pelas partes em todas as fases pelas quais passa o contrato.
ATENÇÃO: A quebra desses deveres anexos gera a violação positiva do contrato, com responsabilização civil daquele que desrespeita a boa-fé objetiva.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
ATENÇÃO: Repare o que diz o enunciado seguinte que pode ser aplicado a vários casos que chegam ao judiciário brasileiro: 
Enunciado 34 CFJ/STJ, I Jornada de Direito Civil: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento independente de culpa”.
Esquematicamente
Violação dos deveres anexos - Violação da boa-fé objetiva -Responsabilidade objetiva (independente de culpa).
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
Exemplos de deveres anexos:
1) o dever de cuidado em relação à outra parte negocial;
2) o dever de respeito;
3) o dever de informar a outra parte quanto ao conteúdo do negócio;
4) o dever de agir conforme a confiança depositada;
5) o dever de lealdade ou probidade;
6) o dever de colaboração ou cooperação;
7) o dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
“O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual”.
Esse enunciado é dirigido ao juiz. O enunciado seguinte, dirigido às partes, também expressa a necessidade da observância da boa-fé em todas as fases do contrato, inclusive nas negociações preliminares e na fase pós-contratual.
Enunciado 170 CFJ/STJ da III Jornada de Direito Civil - “A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato”.
Atenção: Portanto, a boa-fé deve ser observada em todas as fases contratuais, inclusive nas fases pré-contratual e pós-contratual.
PRINCÍPIOS DO CONSENSUALISMO
PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO - Baseia-se na ideia de que para o aperfeiçoamento do contrato é necessário apenas o acordo de vontades, e não, necessariamente a entrega da coisa. Além disso, é possível o contrato verbal se a lei não exigir o escrito. Há, assim, uma vinculação pelo simples consenso. 
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS
Também conhecido como princípio da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda) ou intangibilidade dos contratos.
Prevê que tem força de lei o estipulado no contrato ( o contrato é lei entre as partes), devendo os contratantes cumprir o que avençaram. A ideia é: ninguém está obrigado a contratar, mas o fazendo, deve cumprir fielmente com o que pactuou, sejam quais forem as circunstâncias em que as cláusulas contratuais devam ser cumpridas. É a força obrigatória dos contratos.
Aqui a preocupação é com a segurança jurídica.
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS
Esse princípio sofreu atenuação em nossos dias. A manutenção e a continuidade da execução contratual devem ser observados de acordo com a equidade e as clausulas gerais aplicadas aos contratos. Esse princípio está mitigado, relativizado no direito brasileiro.
Apesar de não haver previsão expressa do referido princípio no atual Código Civil, ele não foi extinto ( examinar os artigos 389, 390 e 391).
Na concepção clássica, a única exceção a esse princípio era o caso fortuito e a força maior.
PRINCÍPIO DA REVISÃO DOS CONTRATOS OU DA ONEROSIDADE EXCESSIVA
Opõe-se ao princípio da obrigatoriedade, permitindo aos contratantes que acessem o J	udiciário para que modifiquem determinadas condições que gerem excessivo gravame (rebus sic standibus).
A ideia é a de que a obrigatoriedade do cumprimento da obrigação assumida pressupõe a não modificação da situação de fato por eventos extraordinários ou imprevisíveis.
As alterações supervenientes que atingem o contrato podem ensejar pedido judicial de revisão do negócio jurídico (se for ainda possível manter o vínculo com a alteração das prestações), ou de resolução (caso se torne se insuportável e extremamente oneroso o cumprimento da obrigação).
PRINCÍPIO DA REVISÃO DOS CONTRATOS OU DA ONEROSIDADE EXCESSIVA
Art. 478 - Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479 -  A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.
Art. 480 - Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Por meio da classificação de um contrato pode-se determinar sua natureza jurídica, realizar a sua categorização jurídica.
1) Quanto aos direitos e deveres das partes envolvidas
O contrato pode ser classificado em unilateral, bilateral ou plurilateral.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Contrato unilateral - é aquele em que apenas um dos contratantes possui deveres em relação ao outro. 
Ex. doação pura simples. Nesse caso, existem duas vontades (a do doador e a do donatário), mas o dever de cumprir com obrigação é apenas do doador.
Atenção: a doação com encargo ou onerosa é classificada como contrato unilateral imperfeito, pois traz ônus ao donatário.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Contrato bilateral - é aquele que gera deveres para ambos os contratantes. 
O contrato bilateral também chamado de contrato sinalagmático.
Da palavra grega “synnalagmatikos”, com significado de reciprocidade, causalidade de prestações. Cada parte condiciona a sua prestação a contraprestação da outra, o que gera o equilíbrio na relação. Ex: compra e venda, troca ou permuta, locação etc.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
ATENÇÃO: Em regra, todo contrato bilateral (deveres para ambos os contratantes) é sinalagmático (causalidade de prestações). No entanto, no caso da doação com encargo temos uma especificidade. Como se sabe, a doação pura é um contrato unilateral. A doaçãocom encargo, por sua vez, tem prestações para ambas as partes. Em tese, esse tipo de doação seria bilateral. No entanto, não seria um contrato sinalagmático, pois a causa da doação (liberalidade) não tem relação com a prestação relacionada ao encargo. Alguns doutrinadores a classificam, então, como doação unilateral imperfeita e outros como doação bilateral imperfeita, denominação que preferimos.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Contrato plurilateral - é aquele que envolve vários indivíduos, todos eles têm direitos e deveres na mesma proporção. Ex: contrato de consórcio de carro.
ATENÇÃO: Não confundir contrato unilateral com negócio jurídico unilateral. Todo contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, pois envolve mais de uma manifestação de vontade, mas o contrato em si pode ser unilateral, por não haver o dever de uma das partes cumprir com qualquer obrigação.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
ATENÇÃO: Assim, a avaliação da unilateralidade, bilateridade ou plurilateralidade do negócio jurídico tem a ver com a manifestação de vontade de uma ou de todas as partes da relação jurídica, enquanto a mesma avaliação em relação ao contrato tem a ver com a existência de deveres para apenas uma das partes ou para todas as partes da relação jurídica.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Esquematicamente: 
AVALIAÇÃO DA UNI, BI OU PLURILATERALIDADE
A) NEGÓCIO JURÍDICO  manifestação de vontade de uma ou mais partes.
B) CONTRATO  dever de prestação de uma ou mais partes.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
2) Quanto ao sacrifício patrimonial das partes
Podem ser classificados em gratuitos ou onerosos.
Gratuitos ou benéficos – são aqueles em que para uma das partes só há sacrifícios patrimoniais e para outra só há benefícios ou vantagens. Ex: doação pura.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Onerosos – são aqueles em que para ambas as partes há sacrifícios patrimoniais, os quais, porém, correspondem benefícios. Ex: compra e venda, onde encontramos sacrifícios e benefícios recíprocos. O sacrifício para o vendedor constitui na entrega da coisa, o benefício, por sua vez, é o recebimento do preço. Para o comprador, o sacrifício é o pagamento do preço e o benefício é o recebimento da coisa.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
ATENÇÃO: Em regra, todo contrato oneroso é também bilateral e todo contrato unilateral é também gratuito, mas há exceção. 
O mútuo oneroso ou feneratício é ao mesmo tempo contrato unilateral e oneroso. Vejamos primeiro o que é o mútuo gratuito.
O mútuo gratuito é o empréstimo de coisas fungíveis (lembrar que bens imóveis são considerados infungíveis). Aquele que empresta é o mutuante, aquele que pega emprestado é o mutuário. A obrigação desse último é a de devolver coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Se formos classificar esse contrato, teremos: contrato unilateral, pois gera dever apenas para o mutuário (devolver coisa fungível), e gratuito, pois só ao mutuante cabe o sacrifício patrimonial (empréstimo do bem). 
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
No entanto, no caso do mútuo oneroso ou feneratício, o mutuante empresta dinheiro ao mutuário, que tem de pagar juros remuneratórios por esse empréstimo. Se formos classificar esse contrato, teremos: contrato unilateral, pois gera dever apenas ao mutuário (devolver coisa fungível) , e oneroso, por gerar sacrifício patrimonial para o mutuante ( empréstimo do bem) e para o mutuário (pagamento de juros).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Consideração sobre a tutela em contratos gratuitos e onerosos
Em numerosos casos, a proteção outorgada ao contratante que recebe a título gratuito é menos importante que a conferida a quem obtém a título oneroso, Havendo o legislado de escolher entre o interesse de quem procura assegurar um lucro e o de quem busca evitar um prejuízo, é o interesse do último que o legislador prefere.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Ex: doação de uma casa com móveis dentro, havendo ambiguidade em relação aos últimos, prevalecerá a interpretação estrita.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
3) Quanto a certeza ou incerteza das prestações
Podem ser classificados em comutativos ou aleatórios.
Comutativo – é o contrato de prestação certa e continuada. As partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, porque não envolvem nenhum risco. Ex: compra e venda à prazo, parcelas previamente determinadas.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Aleatório – É o contrato bilateral e oneroso em que pelo menos um dos contraentes não pode antever a vantagem que receberá em troca da prestação fornecida. Haverá, assim, uma incerteza sobre as vantagens e os sacrifícios que dele podem advir. A perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
O vocábulo “alea”, do latim, significa sorte, risco, acaso. Daí o termo aleatório. Ex: contrato de jogo, aposta e seguro. 
No caso do contrato de seguro, por exemplo, para a seguradora, o contrato é sempre aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato eventual. Já para outra parte, se o contrato for cumprido como pactuado, não vão existir riscos para ela decorrentes do contrato.
Dessa maneira, não há necessidade de álea bilateral para o contrato ser considerado aleatório. Basta que haja o risco para um dos contratantes.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Atenção: No contrato aleatório o risco é da essência do contrato. O risco pode ser unilateral, mas a incerteza do evento tem de ser de ambos os contratantes.
Além dos contratos aleatórios por natureza, há os contratos tipicamente comutativos, como a compra e venda, que, em razão de certas circunstâncias, tornam-se aleatórios. São chamados de acidentalmente aleatórios.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
São de duas espécies:
A) Venda de coisas futuras:
A1) quanto à existência da coisa
Artigo 458 CC - emptio spei, ou venda da esperança, isto é, da probabilidade de as coisas ou fatos existirem.
A2) quanto à sua quantidade
Art. 459 - cuida do risco respeitante à quantidade maior ou menor da coisa esperada (emptio rei speratae ou venda da coisa esperada).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
B) Venda de coisas existentes mas expostas a risco
A venda de coisas já existentes mas sujeitas a perecimento ou depreciação é disciplinada nos arts. 460 e 461.
Considerações sobre lesão e contratos comutativos e aleatórios
A lesão só ocorre em contratos comutativos, em que a contraprestação é um dar e não um fazer, e não nos aleatórios, pois nestes as prestações envolvem risco e, por sua própria natureza, não precisam ser equilibradas.
Somente se poderá invocar a lesão nos contratos aleatórios, todavia, excepcionalmente, quando a vantagem que obtém uma das partes é excessiva, desproporcional em relação à alea normal do contrato.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
4) Quanto a autonomia de livre pactuação das cláusulas contratuais
Podem ser classificados em paritários ou de adesão
Paritário – é aquele em que, na fase de negociações preliminares ou mesmo subsequentemente, as partes, por estarem em pé-de-igualdade, discutem livremente as cláusulas e as condições do negócio
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Adesão – é aquele em que uma das partes não tem autonomia de discutir livremente as cláusulas contratuais, devido a preponderância da vontade do outro contratante, que elabora todas as cláusulas. Assim, o primeiro contratante adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modificar as cláusulas, mas apenas aceitá-las ou rejeitá-las. Ex: contratos de consumo, de seguro, de consórcio e os celebrados com as concessionárias de serviços públicos (fornecedores de água, energia elétrica etc.).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Comentários sobre o contrato de adesão 
A falta de negociações e de discussão implica uma situação de disparidade econômica e de inferioridade psíquica para o contratante teoricamente mais fraco.
No contrato de adesão constata-se uma restrição mais extensa ao tradicional princípio da autonomia da vontade.
A aceitaçãodas cláusulas, ainda que preestabelecidas, lhe assegura o caráter contratual, e a vontade de uma das partes.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Comentários sobre o contrato tipo
Contrato tipo – Se aproxima de um contrato de adesão por ser apresentado de forma impressa a outra parte que se limita a subscreve-lo. Difere, no entanto, porque não é essencial a desigualdade econômica dos contratantes e porque admite discussão sobre o seu conteúdo. Em geral, são deixados espaços em branco, a serem preenchidos pelos concurso de vontades.. Ex. contratos bancários com espaços em brancos referentes a taxas de juros, prazos e condições de financiamento, etc. Destinam-se a pessoas ou grupos identificáveis.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
5) Quanto ao momento em que os contratos devem ser cumpridos
Podem ser classificados em contratos de execução instantânea, diferida ou de trato sucessivo.
Execução instantânea ou imediata – consumam-se num só ato. O cumprimento ocorre imediatamente após a sua celebração. A solução se efetua de uma só vez e por prestação única, tendo por efeito a extinção cabal da prestação. Ex: compra e venda à vista.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Execução diferida ou retardada – devem ser cumpridos também em um só ato, mas em momento futuro. Ex: a entrega em determinada data, do objeto alienado.
De trato sucessivo ou de execução continuada – são os que se cumprem por meio de atos reiterados. Ex. compra e venda a prazo, locação.
A teoria da imprevisão que premite a resolução do contrato por onerosidade excessiva, disciplinada nos arts. 478 a 480 do Código Civil, só se aplica aos contratos de execução diferida e continuada.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
6) Quanto à pessoa do contratante
Podem ser classificados em contratos personalíssimos e contratos impessoais.
Personalíssimo (intuitu personae) – é aquele celebrado em atenção às qualidades pessoais de um dos contratantes. Geralmente dão origem a uma obrigação de fazer, cujo objeto é um serviço infungível, que não pode ser executado por outra pessoa. As qualidades do obrigado (culturais, profissionais, artísticas ou de outra espécie) tem influência decisiva no consentimento do outro contratante no momento de celebração do contrato. Ex: contratar Roberto Carlos para fazer um show.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Os contratos intuitu personae são:
1) intransmissíveis aos sucessores, não podendo ser executados por outrem; morrendo o devedor, extinguir-se-ão;
2) não podem ser cedidos a outra pessoa, substituindo-se o devedor, tem-se a celebração de outro contrato.
3) anuláveis, havendo erro essencial sobre a pessoa do contratante.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Impessoais – são aqueles cujas obrigações podem ser cumpridas pelo próprio contratado ou por um terceiro, sem que isso acarrete qualquer problema em sua execução. Em outras palavras, o objeto da obrigação não requer características especiais do contraente. Ex: contratação de um porteiro para trabalhar em um prédio.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
7) Quantos aos efeitos dos direitos e obrigações pactuados
Podem ser classificados em individuais e coletivos (classificação muito utilizada no Direito do Trabalho).
Individual – é aquele no qual as vontades são consideradas individualmente, mesmo que envolvam várias pessoas. Ex: compra e venda em que o vendedor contrata com um grupo de pessoas.
Coletivo – é o que ocorre quando há um acordo de vontade entre duas pessoas jurídicas de direito privado, representativas de categorias profissionais, sendo denominadas de convenções coletivas.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Considerações sobre o contrato individual e o contrato coletivo
Contrato individual cria direitos e obrigações às pessoas que dele participam ao passo que o contrato coletivo gera deliberações normativas que poderão estender-se a todas as pessoas pertencentes a uma determinada categoria profissional, independente do fato de terem ou não participado da assembleia que votou a aprovação de suas cláusulas.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
8) Quanto à fundamentalidade da existência
Podem ser classificados em contratos principais e acessórios.
Principais – São aqueles que tem existência própria, autônoma, não dependente de qualquer outro. Ex. compra e venda e locação.
Acessórios – Tem sua existência subordinada ao contrato principal, ou seja, o pressuposto de sua existência é outro contrato (principal). Assim, a função predominante do contrato acessório é garantir o cumprimento das obrigações contraídas no contrato principal. Isso é bem evidente, por exemplo, no penhor, na hipoteca convencional e na fiança.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Considerações sobre o contrato principal e o contrato acessório
Art. 184, CC/02 – “(...) a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.
Portanto, nulo o contrato principal, nulo também será o contrato acessório, mas a recíproca não é verdadeira.
Além disso, a prescrição da pretensão concernente a obrigação principal acarretará a da relativa às acessórias, embora a recíproca também não seja verdadeira.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Considerações sobre contratos derivados
Contratos derivados ou subcontratos – são os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal. Ex. a sublocação, a subempreitada e a subconcessão.
Diferem dos acessórios visto que o derivado participa da própria natureza do direito versado no contrato-base. Por exemplo, na sublocação, o locatário transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mas o contrato de locação não se extingue e os direitos do sublocatário terão a mesma extensão dos direitos do locatário, que continuam vinculado ao locador.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
9) Quanto à forma contratual
Podem ser classificados em contratos solenes (formais) e não solenes (não formais).
Solenes ou formais – são os contratos que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoar (ex. escritura pública na alienação de imóveis com valor maior que 30 salários mínimos, pacto antenupcial etc). Não observada a forma, o contrato será nulo (art. 166, IV).
Não solenes – são os contratos que possuem forma livre. Basta o consentimento para a sua formação. Podem ser celebrados por qualquer forma, por escrito ou verbalmente. Ex. locação, comodato. (art. 107 cc).
Em regra, os contratos têm forma livre.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Considerações sobre a forma dos contratos
Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país. (art. 108).
Têm as partes permissão para estipular que determinado contrato só poderá ser celebrado por instrumento público. Neste caso, esta será da substância do ato. (CC/02 art. 109).
O Código Civil de 2002 adotou o consensualismo e não o formalismo.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
10) Quanto à maneira que se aperfeiçoam
Consensuais – Aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades das partes, independentemente da entrega da coisa. Para o aperfeiçoamento, a lei nada mais exige que o consentimento. Ex: a compra e venda.
Art. 482 CC/02. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Reais – são aqueles que exigem, além do acordo de vontades, a entrega da coisa que lhe serve de objeto (tradição). Ex. (depósito, comodato, mútuo). Nos casos exemplificados, antes pode até existir a promessa de contratar, mas o contrato ainda não se formou, não se aperfeiçoou.
Observação
O contrato consensual é a regra, os contratos reais são exceções.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
11) Quanto ao objeto do contrato
Podem ser classificados em contratos provisórios e definitivos.
Preliminares (pré-contrato) - contrato no qual ambas as partes ou uma delas se compromete a celebrar mais tarde outro contrato, que será ocontrato principal. Ex. promessa de compra e venda, ou compromisso de compra e venda, se irretratável e irrevogável.
Definitivo - aquele contrato cujo objeto consiste na verdadeira finalidade das negociações.
Observação sobre contrato preliminar
A fase das negociações ou tratativas preliminares antecede à realização do contrato preliminar e com este não se confunde, pois não gera direitos e obrigações.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
12) Quanto ao nome que recebem
Podem ser classificados em nominados e inominados.
Nominados – aqueles que têm designação própria.
Inominados – não tem denominação própria, não tem um nome no ordenamento jurídico. 
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
13) Quanto à tipicidade
Podem ser classificados em típicos e atípicos
Típicos – os tipificados pela lei, os que têm o seu perfil nela traçados.
Atípicos – não têm as suas características e requisitos definidos e regulados na lei. Para que sejam válidos basta o consenso, que as partes sejam livre e capazes e o seu objeto lícito (não contrariem a lei e os bons costumes), possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
O CC/02 tipifica e nomina vinte e três (23) contratos, mas dá permissão, às partes, de estipularem contratos atípicos, desde que esses observem as normas gerais fixadas no Código Civil para os contratos.
Com a dinâmica social, novas formas contratuais podem surgir. É impossível que um código possa prevê-las. Nesse caso, algumas delas ganham tanto destaque que passam a ser tratadas em lei especial. Outras, permanecem como contratos atípicos.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Ao referir-se às normas gerais, o novo diploma estabelece princípios e cláusulas gerais para os contratos inominados e atípicos, pois se reporta aos arts. 421 e 422, que tratam, respectivamente, da função social do contrato e da probidade e da boa-fé.
O contrato atípico exige uma minuciosa especificação dos direitos e obrigações de cada parte, por não terem uma disciplina legal.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
Misto - O contrato misto resulta da combinação de um contrato típico com cláusulas criadas pela vontade dos contratantes.
Atípico misto – Atípico, por não se enquadrar em nenhum tipo contratual legal e misto por reunir em seu conteúdo os elementos de dois ou mais tipos contratuais previstos no ordenamento jurídico.
União de contratos - contratos distintos e autônomos, apenas são realizados ao mesmo tempo ou no mesmo documento. O vínculo é externo (compra da moradia e reparação de outro prédio).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Outras classificações
Coligados ou em rede – constitui uma pluralidade, vários contratos celebrados pelas partes apresentam-se interligados, em rede. Nesse sentido, um contrato relaciona-se a outro por ambos referirem-se a um negócio complexo. Portanto, um contrato coligado ou em rede constitui-se em vários contratos interligados, com objetos iguais ou diferentes, que possuem, no entanto, a mesma finalidade.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Ex: uma fabricante de carros contrata uma empresa para construir uma fábrica para produzir um modelo de carro no Brasil. Ela entrega à empresa apenas um terreno vazio. A contratada se obriga a entregar não apenas as edificações da fábrica, mas a fábrica em pleno funcionamento. A contratada teve de celebrar vários contratos: com construtora, ferramentaria, mão de obra etc, sendo que em cada um desses contratos há contratos de subempreitada. Em todos esses contratos, no entanto, o fim último é a entrega da fábrica.
AULA 2
EXERCÍCIOS DE REVISÃO; TROCA OU PERMUTA
TROCA: CONCEITO
Contrato de troca ou permuta
Contrato que pressupõe a transferência de propriedade de um permutante a outro, sem pagamento de preço.
No contrato de troca, as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro (configura-se numa obrigação de dar coisa em contraposição a outra). 
As partes do contrato são denominadas permutantes ou tradentes (tradens).
TROCA: NATUREZA JURÍDICA
Natureza jurídica: bilateral (sinalagmático), oneroso, comutativo (em regra), consensual, formal ou informal (de acordo com as regras da compra e venda).
TROCA: OBJETO DO CONTRATO E RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA
O objeto do contrato são dois bens.
Podem ser trocados todos os bens que puderem ser vendidos, mesmo sendo de espécies diversas e valores diferentes.
Obrigação derivada da troca: transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação.
TROCA: RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA
A jurisprudência entende que não se desnatura a troca em que houver complemento do pagamento em dinheiro. Todavia, a troca será considerada compra e venda se o pagamento de uma das partes resultar em mais de cinquenta por cento da obrigação.
TROCA OU PERMUTA
Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda com as seguintes modificações:
I – salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca;
II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.
TROCA: OBJETO DO CONTRATO E RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA
Em vista da similaridade, aplica-se à troca todas as disposições concernentes à compra e venda.
Em regra, podem ser aplicadas as regras previstas para o vício redibitório e evicção, visto que o contrato de troca é oneroso e comutativo.
As restrições à liberdade de contratar e contratual, aplicadas à compra e venda, também devem ser aplicadas à permuta.
TROCA: OBJETO DO CONTRATO E RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA
As regras relacionadas com os riscos sobre a coisa e, se possível, as regras e cláusulas especiais da compra e venda estudadas no último capítulo.
Em caso de onerosidade excessiva, o contrato pode ser resolvido ou revisto.
DESPESAS COM A TROCA
I – salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; (art. 533 – CC/02)
Prevendo o instrumento uma divisão diferente, não pode estar presente uma situação de injustiça contratual, de desproporção no negócio jurídico ou onerosidade excessiva, sob pena de revisão do contrato.
Não havendo previsão no instrumento contratual, os permutantes devem ratear igualmente as despesas do contrato e cada qual arcar com os tributos que incidirem sobre os bens adquiridos.
DIFERENÇAS ENTRE A TROCA E A COMPRA E VENDA
Na compra e venda as despesas de escritura são suportadas pelo comprador e as de tradição pelo devedor. No caso da troca, o legislador manda que as despesas sejam rateadas entre as partes.
Na troca, ambas as prestações são em espécie (coisas são trocadas), enquanto na compra e venda a prestação do comprador é em dinheiro ou em dinheiro e outra coisa.
DIFERENÇAS ENTRE A TROCA E A COMPRA E VENDA
Na compra e venda, o vendedor, uma vez entregue a coisa vendida, não poderá pedir-lhe a devolução no caso de não ter recebido o preço, enquanto na troca o tradente terá o direito de repetir o que se deu se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado.
ANULAÇÃO DA TROCA ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.
O negócio em questão, quando levado a efeito entre herdeiros necessários, exigirá expresso assentimento do cônjuge e dos demais descendentes, sob pena de anulabilidade. O objetivo é evitar que ascendente que troca com descendente prejudique os demais herdeiros.
ANULAÇÃO DA TROCA ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
Tratando-se de coisas de valores iguais, não haverá necessidade de consentimento. Caso a troca seja de valores desiguais e o objeto mais valioso pertença ao descendente, haverá a dispensa do consentimento dos demais descendentes (finalidade da norma).
ANULAÇÃO DA TROCA ENTRE ASCENDENTE E DESCENDENTE
Para a troca,haverá a necessidade de autorização do cônjuge qualquer que seja o regime em relação ao permutante.
A norma não se aplica a união estável, pois se trata de norma especial e restritiva (não há necessidade de autorização do companheiro).
ANULAÇÃO DA TROCA ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
Caso a troca seja de valores desiguais e o objeto mais valioso pertença ao descendente, haverá a dispensa do consentimento dos demais descendentes.
ANULAÇÃO DA TROCA ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
Prazo decadencial: 2 anos a contar da celebração do negócio jurídico.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
JURISPRUDÊNCIA STJ
“A hipoteca decorrente do financiamento concedido pelo banco à incorporadora e construtora para a construção de edifício não alcança as unidades que o ex-proprietário do terreno recebeu da construtora em troca ou como prévio pagamento deste” (STJ, Resp 146.659 – MG, 4ª T., rel. Min. Asfor Rocha, DJU,
5-6-2000).
O objetivo central do enunciado é proteger o comprador de boa-fé que cumpriu o contrato e quitou os valores negociados.
JULGADO TJ/SP
A propósito desse entendimento do referido Tribunal Superior, veja um julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre a matéria: “Contrato – Permuta – Ação de cobrança – Troca de terreno por unidades de apartamentos – Alegado pela autora que os imóveis foram dados em garantia hipotecária pela construtora, por conta de empréstimo firmado com a instituição financeira – Fato que não foi contestado – Descumprimento do contrato caracterizado – Obrigação de devolução do seu equivalente em dinheiro conforme ajustado pelas partes – Multa pactuada exigível – Condenação que, todavia, deve ser reduzida ao montante pedido – Recurso em parte provido”
(TJSP – Ap. cível 7.100..970-6, 7-3-2007, 23ª Câmara de Direito Privado – Rel. Paulo Roberto de Santana).
APLICAÇÃO DA EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS AO CONTRATO DE TROCA
Vale destacar também, que pode ser aplicada à troca, a exceptio non adimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido). Assim, o contratante pode pedir a devolução da coisa que entregou, se o outro não cumprir sua parte.