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Andressa Marques – medicina UFR TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (TA) →São os transtornos psiquiátricos mais prevalentes na população (~28% dos adultos já apresentaram em algum momento). →São associados com intenso sofrimento subjetivo e prejuízo funcional. #ANSIEDADE – perspectiva do desenvolvimento: aviso de algum perigo próximo, permitindo que o indivíduo se organize para evita-lo ou mesmo fugir. #VIÉS DE ATENÇÃO (VA): viés na orientação da atenção de indivíduos com TA no sentido do estímulo aversivo. • ANSIEDADE →A ansiedade é um estado afetivo essencialmente normal e fundamental na detecção e na antecipação de ameaças →Ansiedade e medo têm alto valor adaptativo em todos os animais – sobrevivência →A ansiedade se torna patológica quando a capacidade de funcionamento da pessoa se torna prejudicada em razão desse sentimento; →Torna-se desproporcional ao estímulo, exagerada; →Interfere na qualidade de vida e causa desconforto emocional • Critérios de compreensibilidade da ansiedade patológica -Intensidade -Duração -Desencadeante e conexões causais TRANSTORNO DE PÂNICO (TP) →Caracterizado sobretudo por recorrentes ataques de pânico* e preocupação intensa com futuros ataques, levando a prejuízo funcional significativo; →Ocorrência espontânea, inesperada e recorrente de ataques de pânico (ataques agudos e graves de ansiedade, de curta duração e seus sintomas podem ser confundidos com outras condições clinicas. →Deve acontecer pelo menos 3 vezes ao mês para fechar o diagnóstico; →Costuma ser acompanhado de agorafobia (medo de ficar sozinho em locais públicos que sejam fechados e difíceis de chegar à saída (difíceis de escapar ou pedir ajuda); *Ataques de pânico (AP) – existem 3 tipos característicos: 1) AP inesperados (não evocados) – início sem associação com ativador interno ou externo 2) AP ligados a situações (evocados) – exposição ou antecipação do ativador ou evocador situacional 3) AP predispostos por uma situação – semelhante aos ligados a uma situação, mas não invariavelmente associados ao evocar e não necessariamente após a exposição -Distorções cognitivas: vou morrer; vou ter um ataque cardíaco; vou ficar louco; estou tendo um derrame; vou perder o controle; vou dar vexame; sou um fraco; não posso ficar sozinho. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO Andressa Marques – medicina UFR →Mais frequente em mulheres (2:1), a idade média de início é 25 anos; →Geralmente vem associado a outros transtornos. →80% dos pacientes relatam um estressor maior durante os 12 meses anteriores ao primeiro ataque. →Pacientes com abuso físico ou sexual na infância têm maior chance de desenvolver TP na vida adulta. →Neuroticismo (propensão a experimentar emoções negativas) e sensibilidade à ansiedade são fatores de risco para o início dos ataques de pânico; →Obs: distúrbios respiratórios como asma, estão associados a TP em termos de história pregressa, comorbidade e história familiar. ETIOLOGIA / MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS →Alguns pacientes apresentam tônus simpático aumentado (principais neurotransmissores envolvidos: norepinefrina, serotonina e GABA); →Em indivíduos portadores do transtorno, algumas substâncias podem induzir os ataques de pânico, sendo chamadas de substâncias panicogênicas (exemplo: dióxido de carbono, bicarbonato e lactato). →Estudos também tem mostrado a existência de alterações no lobo temporal, principalmente atrofia do lobo temporal direito; →Fatores genéticos também vem se mostrando de grande peso (mais chance de desenvolver pânico em pacientes com parentes de primeiro grau com algum outro tipo de transtorno); →Existe ainda a teoria do alarme, que diz que o ataque de pânico é a ocorrência de medo em uma situação que, no momento, não significa ameaça (alarme falso) - a ocorrência repetida desses ataques leva ao condicionamento do medo a pistas internas, como sensações corporais. Subsequentemente, a percepção das sensações corporais pode levar ao ataque de pânico. DIAGNÓSTICO →O que define o diagnóstico de TP é a presença de ataques de pânico recorrentes, levando a preocupação persistente acerca de novos ataques ou sobre suas consequências (ex: perder o controle, enlouquecer, ter um ataque cardíaco). →A presença desses ataques leva a mudanças desadaptativas no comportamento habitual, com a finalidade de evitar futuros episódios. →Ataques de pânico também podem ocorrer em outros transtornos psiquiátricos; →O DSM-V coloca como critério para transtorno de pânico um ataque seguido de, pelo menos, um mês de preocupação quanto a ter um novo episódio. O CID-10, por sua vez, exige que haja três ataques em três semanas ou quatro em quatro semanas. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS →O DSM-5 define o ataque de pânico como um episódio de início abrupto, inesperado, que alcança um pico em minutos, com a presença de quatro dentre o conjunto de sintomas cardiorrespiratórios, gastrintestinais, otoneurológicos, autonômicos e cognitivos. Andressa Marques – medicina UFR →O primeiro ataque de pânico, na maioria das vezes, ocorre de forma completamente espontânea. No entanto, pode ter início após exercício físico, trauma emocional, atividade sexual, ou uso de substâncias, como cafeína, álcool e outras. →Os ataques têm duração aproximada de 20 a 30 minutos, sendo que o pico dos sintomas se dá com 10 minutos; →Sintomas psíquicos principais: extremo medo e sensação de morte e catástrofe iminentes; medo de enlouquecer ou perder o controle, desrealização e despersonalização. →Sintomas físicos: palpitações, sudorese, tremores, boca seca, calafrios ou sensações de calor, sensação de falta de ar ou de asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea ou dor abdominal, tontura e parestesias. →Em 20% dos casos os pacientes podem até mesmo chegar a um quadro de síncope; →Na agorafobia, os pacientes apresentam ansiedade em situações nas quais possa ser difícil obter socorro (lojas, espaços abertos etc.), ou em que o auxílio pode não estar disponível, preferindo estar sempre acompanhados por amigos ou familiares. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL →Na emergência, condições médicas gerais, como IAM, doenças da tireoide e da paratireoide, arritmias, abuso de substâncias, devem ser excluídas, principalmente quando há sintomas atípicos ou início tardio. →É importante também fazer o diagnóstico diferencial com outros transtornos mentais – fobia social e fobias específicas. Andressa Marques – medicina UFR CURSO E TRATAMENTO →Início na fase adulta com curso crônico, geralmente. →O tratamento baseia-se no uso de antidepressivos e, afim de se ter menos efeitos adversos, prioriza-se a farmacoterapia com inibidores da recaptação de serotonina (paroxetina e sertralina), em doses mais baixas do que as usadas nos transtornos depressivos. →Todavia, os tricíclicos também podem ser usados, mas não são tão tolerados devido aos efeitos colaterais. →Os benzodiazepínicos de ação curta, como o alprazolam, apresentam uma resposta rápida e, por isso, podem ser usados em curto prazo com coadjuvantes na fase inicial do tratamento. →A duração do tratamento costuma ser de oito a doze meses após a melhora do quadro. →Associar o tratamento psicoterápico. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) →É caracterizado por uma preocupação crônica, persistente, altamente aversiva e incontrolável. →Trata-se, geralmente, de uma preocupação multifocal (família, saúde, finanças e futuro – obs: há diferenças dos temas entre os gêneros); →O quadro vem acompanhado de outros sintomas psicológicos e físicos não específicos. →Pode ter início em qualquer faixa etária, todavia, há um pico no início da vida adulta e no final da vida adulta. →Como critério diagnóstico, os sintomas devem ocorrer por um período mínimo de 6 meses; →Em crianças o TAG frequentemente se manifesta como dores abdominais recorrentese outros sintomas físicos, muitas vezes levando à falta na escola. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO →Quadro muito prevalente na atenção primária →Fatores de risco: sexo feminino, baixa condição socioeconômica, exposição a adversidades na infância (abusos, negligência, alcoolismo, violência etc). →Início por volta dos 20 anos em 25% dos casos (com aumento gradual da incidência ao longo da vida) MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS EVIDÊNCIAS NEUROBIOLÓGICAS E PSICOLÓGICAS →Pacientes com TAG apresentam-se cronicamente alertas (ex: maior FC) e demonstram reatividade fisiológica exagerada ao medo. Apresentam também intolerância à incerteza (reagem negativamente a situações incertas). EVIDÊNCIAS GENÉTICAS E EPIGENÉTICAS →Estima-se que os genes contribuem em 40 a 50% para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade. →O desenvolvimento de um transtorno de ansiedade decorrente de fatores não genéticos (estresse, traumas etc), contribui para o desenvolvimento de ansiedade até mesmo intrauterina, por meio de mecanismos epigenéticos. Andressa Marques – medicina UFR →Ex: mães diagnosticadas com transtorno de ansiedade e que nunca foram tratadas, demonstram uma alteração na metilação do DNA no gene do receptor de glicocorticoide (NR3C1) no cordão umbilical e genoma, o que pode aumentar o risco de uma criança desenvolver um transtorno de ansiedade. EVIDÊNCIAS DE NEUROIMAGEM →Presença de coordenação alterada da atividade entre diferentes regiões do cérebro →Achados sugerem redução da conectividade entre a amígdala e o córtex pré-frontal (CPF) esteja ligada ao diagnóstico de TAG →O córtex pré frontal é a principal estrutura cerebral ligada à regulação das emoções (principalmente o segmento ventromedial, que parece controlar emoções negativas); QUEIXAS, SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS E ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS →Ansiedade e preocupação desproporcionais à probabilidade real ou ao impacto do evento antecipado; →Dificuldade em controlar a preocupação e de evitar que esses pensamentos interfiram na atenção; →A ansiedade e preocupação são acompanhadas de pelo menos 3 dos seguintes sintomas: o Inquietação ou sensação de estar com os “nervos à flor da pele” o Fatigabilidade o Dificuldade de concentração o Tensão muscular o Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto) →Riso de somatizações →Tem elevada taxa de comorbidade, sobretudo com o TDM, chegando a 40%. →Curso crônico ao longo da vida; Andressa Marques – medicina UFR DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS →Condições clínicas gerais, como: Doenças endocrinológicas (feocromocitoma, doenças da tireoide etc); Doenças cardiopulmonares (arritmia cardíaca, DPOC); Doenças neurológicas (epilepsias, ataques isquêmicos); →Também deve ser considerada a ansiedade decorrente do uso de substâncias, variando desde efeitos colaterais de medicamentos para tratar outro problema (ex. medicamentos broncodilatadores, levotiroxina, medicamentos anorexígenos etc) ou decorrentes do uso ou descontinuação de substâncias psicoativas (ex. álcool, cocaína etc). →Diagnóstico diferencial com os demais transtornos de ansiedade: Transtorno de ansiedade social; Transtorno de Pânico; TOC; TEPT; →Transtornos de humor; TRATAMENTO →Tratamento medicamento + psicoterapia – ambos são adequados para o tratamento inicial. Andressa Marques – medicina UFR →Medicações de primeira linha - Antidepressivos: Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN); →Os tricíclicos também são eficazes, além de serem de menor custo, todavia, os efeitos colaterais limitam o seu uso. →As medicações devem ser iniciadas e retiradas sempre de forma gradual; →É necessário de 4 a 8 semanas para o início dos efeitos terapêuticos e, após atingir melhora terapêutica, a medicação escolhida deve ser mantida por pelo menos 1 ano. →Obs: Benzodiazepínicos são efetivos na redução da ansiedade, todavia, possuem uma relação dose-resposta associada a tolerância terapêutica, risco de dependência, sedação, sintomas cognitivos e aumento da mortalidade – devem ser usados por curto período de tempo, mais a fim de potencializar o efeito dos demais medicamentos. →Terapias de segunda linha: pregabalina, quetiapina (podem levar a ganho de peso), hidroxizina, gabapentina. FOBIAS ESPECÍFICAS →São medos de objetos específicos, animais ou situações (medo de aranha, sangue etc) – e o medo é desproporcional à ameaça real do estímulo e leva a evitação e prejuízo funcional. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO →Prevalência de 6% ao longo da vida; →Ocorre mais na adolescência, sendo mais comum no sexo feminino; Andressa Marques – medicina UFR →Fatores de risco: neuroticismo, inibição comportamental, história de superproteção, perda ou separação parentais, abuso físico e sexual, parente de primeiro grau com fobia específica (suscetibilidade genética). MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS →Aumento na excitabilidade autonômica pela antecipação ou durante a exposição a um objeto ou situação fóbica; →Estudos de neuroimagens mostraram hiperativação da amígdala e de outras áreas do cérebro; →A resposta fisiológica à situação ou ao objeto temido varia; →Fobias específicas situacionais, de ambiente e de animais = probabilidade de apresentar excitabilidade simpática aumentada; →Fobias específicas a sangue/injeção/ferimentos = frequentemente demonstram uma resposta de desmaio ou quase desmaio vasovagal, marcada por breve aceleração inicial do ritmo cardíaco e queda da PA; →A fobia a sangue é a com maior fator genético envolvido – 70% dos parentes também apresentam QUEIXAS, SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS E ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS →Medo ou ansiedade circunscritos à presença de uma situação ou objeto particular – estímulo fóbico →O indivíduo evita ativamente a situação, ou, se não consegue ou escolhe não evitar, essa gera um temor e ansiedade intensos – pode até assumir a forma de um ataque de pânico →A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional →A esquiva, ansiedade ou o desconforto nas situações temidas interferem significativamente na vida da pessoa (trabalho, vida social, escola...) → gera um sofrimento excessivo, prejuízo no desempenho ou incapacitação →Geralmente uma fobia específica se desenvolve após um episódio traumático, mas, muitas não conseguem se lembrar da razão para início das fobias. →Desenvolve-se, geralmente, no início da infância (entre 7 e 11 anos ~); fobias situacionais tendem a ter início um pouco mais tarde. →Os sintomas para todas as idades devem durar pelo menos 6 meses DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS, PSIQUIÁTRICOS E CLÍNICOS →Transtorno do Estresse pós traumático (TEPT) →Transtornos alimentares – quando o comportamento de esquiva está limitado exclusivamente à esquiva de alimentos e estímulo relacionados a alimentos →TOC →Transtornos do espectro da esquizofrenia TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO →O tratamento farmacológico não é eficaz nesses casos, sendo usado mais quando tem outras condições associadas. →O tratamento de escolha é a terapia comportamental baseada na exposição e na dessensibilização sistemática. (o tratamento se baseia na exposição – imaginária, virtual ou ao vivo) Andressa Marques – medicina UFR TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (TAS) OU FOBIA SOCIAL →Caracterizado por medo intenso e desproporcional de situações sociais, nas quais o indivíduo possa ser constrangido ou avaliado negativamente por outras pessoas; EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO →É um dos transtornos mentais mais prevalentes, com taxas de 13% ao longo da vida e de 8% em 12 meses entre adultos; →Tem início precoce (por volta dos 13 anos) e se torna um transtorno crônico; →Mais prevalente no sexo feminino(1,5:1 a 2,2:1); →O TAS confere um risco aumentado para TDM, transtorno por uso de substâncias e doenças cardiovasculares. MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS Andressa Marques – medicina UFR →Pesquisas neurobiológicas sugerem que há disfunção em circuitos envolvendo amígdala, ínsula, hipocampo e córtex orbito-frontal e a regulação de serotonina. QUEIXAS, SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS E ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS →Medo intenso ou ansiedade acentuada ou intensa de situações sociais nas quais o indivíduo pode ser avaliado pelos outros; →Em crianças o medo e a ansiedade podem ser expressos por choro, ataque de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolher-se. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS, PSIQUIÁTRICOS E CLÍNICOS →Condições médicas podem produzir sintomas constrangedores (ex: tremor na doença de Parkinson) – nesses casos, quando o medo de avaliação negativa por condições médicas assim for excessivo, deve- se considerar TAS; →Timidez – traço de personalidade comum e não é patológico; apenas quando existe impacto adverso significativo é que se deve considerar TAS; TRATAMENTO →Tratamento farmacológico – efeitos mais a curto prazo →TCC – efeitos mais duradouros →Sobre o tratamento farmacológico, ISRS e IRSN são considerados o tratamento de primeira linha – escitalopram, paroxetina e sertralina, bem como a venlafaxina (IRSN). →O uso continuado após o tratamento de curto prazo (14 semanas pelo menos) é recomendado, por trazer melhora e ter baixas taxas de recaída – manter o tratamento por pelo menos 3 a 6 meses após melhora do quadro. →O uso de benzodiazepínicos é eficaz (clonazepam e bromazepam), todavia, o risco de dependência, sintomas de abstinência e a não recomendação na presença de depressão limitam o uso. Andressa Marques – medicina UFR →O uso de betabloqueadores (propranolol) como propranolol é frequente na ansiedade de desempenho, por exemplo, quando tomados 1 hora antes da apresentação reduzem os sintomas autonômicos como tremor, sudorese e taquicardia. →A TCC (terapia cognitivo-comportamental) também é considerada de primeira linha, com taxas de resposta entre 50 e 65%. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (TEPT) →Consequência psicopatológica mais prevalente após exposição a algum evento traumático; →As características principais são estresse intenso e persistente e reações de evitação de situações que relembrem a situação traumática; →Pode apresentar também alterações no humor e na cognição, sensação pervasiva de ameaça iminente, distúrbio do sono e hipervigilância; EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO →A prevalência varia de acordo com o histórico social e o país de residência – oscilando de 1,3 a 12,2% →A probabilidade condicional em que o TEPT irá se desenvolver varia de acordo com o sexo e o tipo de trauma →Fatores de risco: sexo feminino, trauma na infância, baixa escolaridade, transtorno mental prévio, exposição a quatro ou mais situações traumáticas e exposição à violência interpessoal. MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS →Incluem: genes, regulação epigenética, fatores neuroendócrinos, marcadores inflamatórios, riscos autonômicos, distúrbios do sono; →Sistemas neurológicos envolvidos: aprendizado do medo (amígdala), detecção de ameaça (conexões entre amígdala e ínsula), função executiva e a regulação emocional (alteração da conectividade entre regiões frontoparietais) e o processamento contextual (córtex pré-frontal medial e hipocampo); →Alterações no circuito dessas regiões medeiam a aquisição da resposta ao medo no TEPT, a evitação de fatores que evocam a memória do trauma, o comprometimento da regulação das emoções e a persistência de respostas defensivas mesmo após estar em segurança. QUEIXAS, SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS E ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS →A apresentação clínica varia de indivíduo para indivíduo; →A característica essencial é o desenvolvimento de sintomatologia característica após exposição a um ou mais eventos traumáticos; →Os sintomas geralmente manifestam-se dentro dos primeiros 3 meses após o trauma, embora possa haver atraso de meses ou mesmo anos até que os critérios para o diagnóstico sejam atendidos; →O evento traumático pode ser “revivenciado” de diversas maneiras – memórias recorrentes, involuntárias e intrusivas do evento. Andressa Marques – medicina UFR Andressa Marques – medicina UFR DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS – PSIQUIÁTRICOS E CLÍNICOS →Considerar o diagnóstico de lesão cerebral traumática (observar se há desorientação e confusão persistentes); →Transtornos relacionados ao estresse (transtorno de adaptação, transtorno de estresse agudo); →Transtornos de ansiedade, TDM, transtornos de personalidade, transtornos dissociativos e conversivos, transtornos psicóticos. TRATAMENTO →TCC focada no trauma é a melhor intervenção psicoterápica – consiste em revisitar os elementos perturbadores do evento traumático e os comportamentos de esquiva e distorções cognitivas); →Outra intervenção tem sido o mindfulness, ajudando a reduzir o nível de estresse ao cultivar a consciência e a aceitação dos comportamentos mentais disfuncionais, ajudando a modificar a experiência emocional; →Terapia farmacológica: paroxetina, sertralina, venlafaxina, mirtazapina, trazodona e prazoina são drogas possíveis de serem utilizadas; todavia, eles aliviam os sintomas, mas, raramente induzem a remissão. CASO CLÍNICO Paciente P.F., 59 anos, empresário do ramo têxtil com grande sucesso, hoje aposentado. Procura o consultório indicado pelo seu endocrinologista após quadro de tireotoxicose em tratamento. Relata intenso mal-estar com a doença e que, pela primeira vez em sua vida, ficou claro que poderia morrer. Sua queixa é: “Dr., eu não posso morrer. Tudo o que eu construí vai desmoronar. Minha esposa é artista plástica e minhas filhas são médicas, você sabe, poetas, não entendem o valor do dinheiro”. Relata também infância difícil com pobreza extrema e, desde jovem, uma preocupação “incansável” em proteger a mãe viúva e a irmã de dificuldades financeiras. Ao casar com sua amiga de infância, construiu junto com ela um estilo de vida focado em busca de segurança e esquiva de atividades gratificantes (como viagens a lazer), vistas como futilidades. Os sintomas mencionados são de insônia inicial (com uso crônico de flunitrazepam), dores musculares, sintomas gastrintestinais, sobressalto e dificuldades com auxiliares e parceiros de negócios por irritabilidade (“será que só eu percebo o risco quando tudo está desmoronando?”). Pouca crítica sobre o caráter excessivo das preocupações ou do impacto negativo de sua conduta na qualidade de vida de sua família. Exame psíquico eutímico, Andressa Marques – medicina UFR humor ansioso, hipervigil com prejuízo da atenção voluntária prejudicada, sobressaltado. Conteúdos mentais de ruína com crítica parcial. Sem alterações formais do pensamento. 1. Qual a formulação diagnóstica para o caso? 2. Quais os principais diagnósticos diferenciais, médico-sistêmicos e psiquiátricos? 3. Estabeleça uma estratégia terapêutica em passos. QUESTÕES 1. Sobre os transtornos de ansiedade, assinale a alternativa correta: a. Os transtornos de ansiedade não acometem crianças; iniciam a partir da adolescência. b. A exposição a abuso ou traumas na infância é fator de risco para os transtornos de ansiedade na idade adulta. c. Apesar da elevada frequência dos transtornos de ansiedade, os prejuízos dessa doença ao longo da vida não são significativos. d. Raramente pacientes com transtorno de ansiedade procuram especialidades clínicas, pois procuram majoritariamente o psiquiatra. 2. Não é considerado tratamento de primeira linha para o TAG: a. Duloxetina. b. Venlafaxina. c. Bupropiona. d. Fluoxetina. 3. Quanto ao tratamento dos transtornos de ansiedade,assinale a alternativa correta: a. O tratamento medicamentoso isolado é o de escolha para casos graves a moderados. b. Nas fobias específicas, mesmo sem comorbidades, o tratamento medicamentoso costuma ser eficaz. c. Apesar de serem anticonvulsivantes, gabapentina e pregabalina devem ser consideradas no tratamento do TAG. d. A prática de mindfulness não apresenta evidência para os transtornos de ansiedade. 4. Com relação ao TEPT, é incorreto afirmar: a. Os sintomas necessariamente iniciam nos primeiros 3 meses após o trauma. b. Sensação pervasiva de ameaça iminente, distúrbio do sono e hipervigilância são sintomas desse transtorno. c. O TEPT pode ocorrer em qualquer idade, a partir do 1o ano de vida. d. A intensidade do trauma e a suscetibilidade individual interagem na probabilidade de desenvolver TEPT. 5. Quanto ao TEPT, é possível afirmar: a. Para o desenvolvimento deste transtorno, a situação traumática foi vivenciada diretamente pelo indivíduo acometido. b. Evitar fatores que lembrem a situação traumática é eficaz para o tratamento. c. Irritabilidade é um sintoma incomum do quadro. d. Problemas para iniciar e manter o sono podem estar associados a pesadelos ou preocupações com a segurança ou a hiperexcitação generalizada. Andressa Marques – medicina UFR 6. Com relação ao TAS, é incorreto afirmar: a. Apresenta elevada taxa de comorbidade com o TDM. b. O medo e a ansiedade são proporcionais ao risco de ser avaliado negativamente. c. A inibição comportamental é um fator de risco para o TAS. d. São diagnósticos diferenciais: timidez, transtorno dismórfico corporal, transtornos psicóticos e transtorno de ansiedade de separação. 7. Quanto ao TP, é possível afirmar: a. Como critério diagnóstico, o ataque de pânico deve ocorrer, necessariamente, após a exposição a alguma situação de estresse. b. O início dos sintomas ocorre geralmente após os 45 anos de idade. c. Para ser considerado TP, ocorre alguma mudança desadaptativa no cotidiano do indivíduo, na tentativa de evitar futuros ataques. d. Sintomas otoneurológicos são incomuns durante um ataque de pânico. 8. Quanto ao TP, é incorreto afirmar: a. Um ataque de pânico isolado já é suficiente para o diagnóstico do TP. b. É importante o diagnóstico diferencial com doenças cardíacas, sobretudo arritmias cardíacas. c. O ataque de pânico pode ocorrer em consequência do uso de algum medicamento para outra condição médica. d. É comum a comorbidade com outros transtornos de ansiedade. 9. Quanto ao tratamento do TEPT, é correto afirmar: a. Após um evento traumático de grande monta, é importante fazer a prevenção farmacológica do TEPT. b. O tratamento medicamentoso isolado é o de escolha. c. O uso de benzodiazepínicos devem ser evitados após um evento traumático. d. O tratamento medicamentoso, além de garantir a remissão dos sintomas, previne contra recaídas. 10. Com relação à fobia específica, é incorreto afirmar: a. Precedendo o aparecimento da fobia específica, necessariamente ocorreu um evento traumático envolvendo o objeto fóbico. b. A esquiva ativa do estímulo fóbico é uma alteração comportamental importante. c. As fobias situacionais tendem a ter uma idade de início mais tardia em comparação com as fobias de ambiente natural, animais ou sangue/injeção/ferimentos. d. O diagnóstico diferencial com transtorno alimentar deve ser levado em consideração. Gabarito: 1-b; 2-c; 3-c; 4-a; 5-d; 6-b; 7-c; 8-a; 9-c; 10-a .