Buscar

Mito ou Realidade 2012

Prévia do material em texto

�PAGE \* MERGEFORMAT�1�
MITO OU REALIDADE?
Orfeu Morto - séc. V a.C (Museu do Louvre)
O mito é um discurso de caráter poético, que recorre ao sobrenatural para descrever o real, através de imagens de deuses, semideuses e heróis. O mito caracteriza-se pelo modo como explica os aspectos da realidade, tendo como objetivo central responder as questões, incertezas e dúvidas da humanidade. Como, por exemplo: a origem do mundo e dos povos, o funcionamento da natureza e das relações humanas e seus conflitos e contradições. A origem cronológica dos mitos é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente oral. O termo grego mythos significa um tipo especial de discurso imaginário sobre a vida, que procura interpretá-la a partir de lendas e/ou histórias sagradas, não tendo quaisquer argumentos lógicos que comprovem suas interpretações. Entende-se que o mito é a primeira forma encontrada pelo homem para compreender e analisar o mundo, atribuindo sentido ao real. A afetividade e a imaginação exercem grande influência nas narrativas míticas e um dos elementos centrais do pensamento mitológico é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado e a magia. Os sacerdotes, os rituais religiosos e os oráculos serviam como instrumentos de ligação entre o mundo humano e o divino. Alguns mitos são expressões comuns à humanidade, como, por exemplo: o mito sobre a criação do mundo, que pertence a várias culturas. A mitologia não é uma ciência porque não há questionamento possível ao seu discurso. Os mitos se constituem como saberes revelados e divinos, que formam um conjunto de expressões, que desembocam na visão de mundo de determinado grupo em uma época específica. A transição entre a maneira mítica de ver o mundo, pela forma filosófica de pensar aconteceu de forma lenta e progressiva. A partir do séc. VI a.C (500 a.C) os apelos míticos e sobrenaturais já não atendiam a sociedade e sua forma de organização - que se mostrava cada vez mais preocupada com a realidade concreta, com as questões políticas e as relações comerciais. Nesse contexto, o mito começou a perder espaço na sociedade e alguns homens (filósofos) passaram a articular uma nova forma de pensar - pensamento filosófico - baseado na razão e no intelecto e não mais nas estórias divinas e reveladas.
Pitágoras de Samos (séc. VI a.C) foi um filósofo pré-socrático. Ele fundou uma escola filosófica, cujos princípios foram determinantes para a evolução geral da matemática. Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números. Abaixo se encontram alguns pensamentos de Pitágoras, que criou a nomenclatura filosofia que significa “amor (ou amizade) à sabedoria” (filo = amor ou amizade e sofia = sabedoria):
Educai as crianças e não será preciso punir os homens;
Não é livre quem não obteve domínio sobre si;
Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo;
O que fala semeia; o que escuta recolhe;
Ajuda teus semelhantes a levantar a carga, mas não a carregues;
Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem;
Todas as coisas são números;
A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar é aproximar-se de Deus;
A evolução é a lei da vida, o número é a lei do universo, a unidade é a lei de Deus;
A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se;
A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos;
Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las.
Outro filósofo de grande destaque foi Tales de Mileto (séc. VI a.C) que recebeu de Aristóteles o título de primeiro filósofo. Tales compreendeu que a chave de explicação do mundo estava nas relações causais (causa e efeito) existentes na natureza e não fora delas, como determinava o pensamento mítico (revelado, divino e inquestionável). No entanto, para que as explicações fundamentadas nas observações das relações de causalidade (causa e efeito) não entrassem numa espiral infinita de questionamentos, se tornando um mistério como os mitos, os primeiros filósofos (pré-socráticos) postularam a existência de elementos primordiais, para iniciar suas investigações, denominados: arqué - pontos de partida. Os filósofos pré-socráticos foram denominados por Aristóteles de physiólogos (logos = estudiosos e physis = natureza), pois seus objetos de investigação se encontravam no mundo natural e suas buscas ocorriam pelas observações das relações causais ocorridas na própria natureza. O discurso dos filósofos pré-socráticos recebeu uma conceituação conhecida como logos (discurso humano racional, argumentativo e sujeito a críticas e discussões). Portanto, o logos (discurso lógico) dos filósofos pré-socráticos era aplicado ao entendimento da natureza e dos questionamentos humanos, através do pensamento filosófico, que se apoia no intelecto, na razão e não nas estórias ou lendas. Os filósofos pré-socráticos iniciaram uma nova forma de pensar, entender e descrever o mundo, promovendo assim, uma ruptura epistemológica (quebra na forma como a humanidade pensava e conhecia a realidade). Antes do surgimento da Filosofia os questionamentos humanos eram respondidos através dos mitos. Tales de Mileto iniciou suas observações das relações de causa e efeito existentes na natureza, tendo como ponto de partida o arqué: água. Talvez, Tales tenha escolhido a água como ponto de partida para explicar a origem de todas as coisas, porque ela pode ser encontrada em vários estados (sólido, líquido etc), além de ser vital à sobrevivência humana. Tales se fundamentou no princípio escolhido (água), afirmando que o cosmos e os seres humanos possuiam um logos (lógica) e que, à luz do elemento água, poderiam compreender e analisar os questionamentos surgidos. As observações das relações causais existentes na natureza, à luz do arqué, passaram então a explicar as dúvidas dos homens de forma racional (pensamento filosófico - que utiliza o intelecto) e não mais de forma mitológica como ocorria anteriormente. Em seguida, outros filósofos evoluíram seus entendimentos de arqué, passando a conceituá-los com outros elementos básicos, como, por exemplo: ar, fogo e terra (que também serviram de base para a busca da origem de todas as coisas). Na atualidade, vários personagens de livros e filmes são inspirados na mitologia, como, por exemplo: Star Trek, Tarzan, O Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas e Cavaleiros do Zodíaco. Tais exemplos mostram que as estórias atuais também possuem aspectos mitológicos marcantes, que abordam temas e formas de apresentação que atendem às necessidades psicológicas dos indivíduos em nossos tempos. 
REFERÊNCIAS:
CAMPBELL, Josef. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.
CAMPBELL, Josef. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1990.
 Cheila Szuchmacher
�

Continue navegando