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1 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA TUTORIA 02 I. Explicar a termorregulação Existem duas temperaturas corporais: central e cutânea. A temperatura central é a temperatura dos órgãos e tecidos, a qual varia muito pouco ao longo do dia (+ ou – 0,6ºC) exceto quando em estados febris; a temperatura cutânea se eleva e diminui de acordo com a temperatura do ambiente que o envolve e está relacionada diretamente à capacidade do organismo de reter ou perder calor para o ambiente. A temperatura média (considerando as margens de erro) é de 36,8ºC e varia para + ou – 0,4ºC, ou seja, a temperatura aceitável é entre 36,4ºC e 37,2ºC (valores medidos via ORAL). O ser humano necessita que a temperatura interna seja constante e o seu sistema termorregulador mantém a temperatura central próxima de 37ºC, para conservação das funções metabólicas. Já com pequenas alterações da temperatura central, podem ocorrer alterações metabólicas e enzimáticas. Diante dessas possíveis alterações, a termorregulação é realizada por um sistema de controle fisiológico, que consiste em termorreceptores centrais e periféricos, um sistema de condução aferente, o controle central de integração dos impulsos térmicos e um sistema de respostas eferentes levando a respostas compensatórias. PRODUÇÃO DE CALOR Grande parte do calor produzido pelo corpo é gerado nos órgãos profundos, especialmente no fígado, cérebro e coração, e nos músculos esqueléticos durante o exercício A produção de calor é um dos principais produtos finais do metabolismo, sendo que os principais fatores que influenciam na produção do calor através do metabolismo são: a. Taxa do metabolismo basal de todas as células do corpo; b. Taxa extra de metabolismo causada pela atividade muscular, incluindo as contrações musculares causadas pelo calafrio; c. Metabolismo extra causado pelo efeito da tiroxina (e, em menor grau por outros hormônios como o GH e testosterona); d. Metabolismo extra causado pelo efeito da adrenalina, noradrenalina e estimulação simpática sobre as células; e. Metabolismo extra causado pelo próprio aumento da atividade química das células, especialmente quando a temperatura da célula se eleva; f. Metabolismo extra, necessário para a digestão, absorção e armazenamento de alimentos (efeito termogênico dos alimentos. Logo, o corpo produz calor através da VASOCONSTRIÇÃO da pele por todo o corpo, PILOEREÇÃO e TERMOGÊNESE. 2 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA PERDA DE CALOR O calor que foi produzido pelos órgãos profundos é transferido para a pele, onde ele é perdido para o ar e para o ambiente, assim, grande parte do calor produzido pelo corpo é gerada nos órgãos profundos, especialmente no fígado, no cérebro e no coração, e nos músculos esqueléticos durante o exercício. A seguir, esse calor é transferido dos órgãos e tecidos profundos para a pele, onde ele é perdido para o ar e para o meio ambiente. A velocidade de perda de calor é determinada quase completamente por dois fatores: 1. A velocidade de condução do calor de onde ele é produzido no centro do corpo até a pele; 2. A velocidade de transferência do calor entre a pele e o meio ambiente. O calor é perdido através da VASODILATAÇÃO dos vasos sanguíneos cutâneos, da SUDORESE e da DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE CALOR. SISTEMA DE ISOLAMENTO DO CORPO A pele, os tecidos subcutâneos e, em especial, o tecido adiposo, atuam em conjunto como isolantes do corpo. O tecido adiposo é importante porque conduz apenas um terço do calor conduzido pelos outros tecidos. Quando sangue não flui dos órgãos internos aquecidos para a pele, as propriedades isolantes do corpo do homem normal são, aproximadamente, iguais a três quartos das propriedades isolantes de um terno. Nas mulheres, esse isolamento é ainda melhor. O isolamento debaixo da pele é meio eficiente de manter a temperatura central interna normal, mesmo que a temperatura da pele se aproxime da temperatura do ambiente. OBS : O fluxo sanguíneo é um importante meio de produção de calor para a pele, sendo que uma alta velocidade de fluxo sanguíneo na pele faz com que uma grande quantidade de calor seja conduzido o centro do corpo para a pele com boa eficiência; enquanto a redução na velocidade do fluxo sanguíneo para a pele resulta em baixa condução de calor Um vaso sanguíneo dilatado é capaz de conduzir até 8x o calor de um vaso sanguíneo contraído OBS: a dilatação ou contração dos vasos está intrinsecamente relacionada à atividade do SN Simpático. Para a manutenção da temperatura corporal estável, é essencial a integridade de todos os elementos envolvidos na sua regulação, nomeadamente os sensores térmicos, o centro integrador e de comando e os sistemas eferentes. 1) Sensores térmicos Hipotálamo anterior e área pré- óptica; Receptores cutâneos térmicos; Receptores existentes em órgãos corporais profundos. 2) Centro integrador 3) Sistemas Eferentes Sistema Nervoso Central; Sistema Nervoso Autônomo; Sistema Nervoso Somático; Hipófise. 3 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA O HIPOTÁLAMO NA TERMORREGULAÇÃO A temperatura do corpo é regulada quase completamente por mecanismos de feedback neurais, e quase todos esses mecanismos operam através de centros regulatórios da temperatura localizados no hipotálamo. As principais áreas do cérebro que sofrem influência do calor/frio e, por conseguintes, são as mais importantes na resposta fisiológica são os núcleos pré-óptico e hipotalâmico anterior do hipotálamo. No hipotálamo situa-se o sistema de controle central, que regula a temperatura do corpo ao integrar os impulsos térmicos provenientes de quase todos os tecidos do organismo, e não apenas em relação à temperatura central do organismo, o que tem sido considerado como temperatura corporal média. Quando o impulso integrado excede ou fica abaixo da faixa limiar de temperatura, ocorrem respostas termorreguladoras autonômicas, que mantêm a temperatura do corpo em valor adequado. A área pré-óptica é rica em neurônios sensíveis ao calor e alguns neurônios sensíveis ao frio, de modo que alterações de temperatura causam alteração na velocidade de disparos neuronais. Quando a área pré-óptica é aquecida, a pele de todo o corpo imediatamente inicia uma sudorese profusa, enquanto os vasos sanguíneos de todo o corpo se dilatam enormemente, promovendo importante perda de calor. Não só o hipotálamo possui termorreceptores. No caso da pele, é mais rica em receptores para o frio, portanto a pele é mais importante na identificação de temperaturas mais baixas. Quando a pele é resfriada pelo corpo inteiro, alguns reflexos corporais são iniciados: (1) calafrios, aumentando a contração muscular e gerando calor; (2) inibição da sudorese; (3) vasoconstrição da pele. Em relação ao calor, a primeira defesa autonômica é a vasodilatação cutânea. Já a sudorese, mediada por inervação colinérgica pós-ganglionar nas terminações glandulares, é considerada a mais importante. O suor é um ultrafiltrado do plasma e sua composição depende da intensidade da sudorese, do estado de hidratação e de outros fatores. Em situação máxima, o adulto produz mais de 0,5 L/h de suor, principalmente o atleta bem treinado. A sudorese é um processo muito efetivo de perda de calor por causa do elevado calor latente de evaporação da água. Cada grama de suor que se evapora absorve 584 calorias. Consequentemente, a sudorese pode dissipar facilmente o calor especialmente se o ambiente estiver seco. A eficiência da sudorese é aumentada pela vasodilatação pré-capilar termorreguladora, resposta característica do homem, que é regulada por fatores como a bradicininae o óxido nítrico. Ela aumenta, em muito, o fluxo sanguíneo cutâneo para facilitar a transferência do calor central para a pele. 4 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA RECEPTORES CUTÂNEOS E INTERNOS Há também termorreceptores em órgãos internos como a medula espinhal, vísceras abdominais ou ao redor de grandes veias da região superior do abdome e do tórax; assim como os receptores da pele, são mais sensíveis a temperaturas mais baixas, provavelmente pois são adaptados a identificarem com mais precisão ocasiões de hipotermia. Contudo, esses receptores identificam a temperatura central do corpo, e não a temperatura cutânea. Os sinais advindos tanto dos receptores periféricos quanto da área pré-óptica chegam à região posterior do hipotálamo. Nesse local os sinais são combinados e integrados a fim de controlar as reações de produção e de conservação de calor do corpo. A excitação química simpática de produção de calor pode ser feita através da ação da adrenalina e noradrenalina, as quais causam a termogênese – processo no qual promove a fosforilação oxidativa de alimentos em excesso, porém se que haja a produção de ATP, somente de energia sob a forma de calor. MECANISMOS DE CONTROLE DA TEMPERATURA Quando os centros hipotalâmicos de temperatura detectam que a temperatura do organismo está muito alta ou muito baixa, eles instituem os procedimentos apropriados para a diminuição ou para a elevação da temperatura. MECANISMOS DE DIMINUIÇÃO DA TEMPERATURA O sistema de controle da temperatura utiliza três mecanismos importantes para reduzir o calor do corpo, quando a temperatura corporal é muito elevada: 1) Vasodilatação dos vasos sanguíneos cutâneos: Aumenta a transferência convectiva do calor do centro para a periferia do corpo, pela circulação, sendo que convecção é a forma de movimento do calor que ocorre principalmente nos fluidos. Esse movimento ocorre da seguinte maneira: - Quando uma massa de fluido é aquecida, suas moléculas passam a mover- se mais rapidamente, afastando-se umas das outras. Como o volume ocupado por essa massa fluida aumenta, ela torna-se menos densa, sofrendo o movimento de subida, enquanto que a parte mais fria (menos densa) ocupa o lugar de baixo. 2) Sudorese: O efeito do aumento da temperatura corporal sobre a sudorese é demonstrado pela curva azul na Figura abaixo, que mostra elevação súbita da perda de calor evaporativo, resultante da sudorese, quando a temperatura central do corpo se eleva acima do nível crítico de 37°C (98,6°F). Aumento adicional de 1°C na temperatura corporal causa sudorese suficiente para remover por 10 vezes a intensidade basal da produção de calor pelo corpo. 5 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA 3) Diminuição da produção de calor: Os mecanismos que causam o excesso de produção de calor, como os calafrios e a termogênese química, são intensamente inibidos. MECANISMOS DE AUMENTO DA TEMPERATURA Quando o corpo está muito frio, o sistema de controle de temperatura institui procedimentos exatamente opostos. São eles: 1. Vasoconstrição da pele por todo o corpo: Essa vasoconstrição é causada pela estimulação dos centros simpáticos hipotalâmicos posteriores. 2. Piloereção: Piloereção significa “pelos eriçados”. O estímulo simpático faz com que os músculos eretores dos pelos presos aos folículos pilosos, se contraiam, colocando os pelos na posição vertical. Esse mecanismo não é importante em seres humanos, mas nos animais inferiores, a projeção vertical dos pelos permite que eles retenham uma espessa camada de “ar isolante” próximo à pele, de modo que a transferência de calor para o meio ambiente, diminui significativamente. 3. Aumento na termogênese (produção de calor): A produção de calor pelos sistemas metabólicos é aumentada pela promoção de calafrios, excitação simpática da produção de calor e secreção de tiroxina. Esses métodos de elevação da temperatura necessitam de mais explicações, que são as seguintes. OUTROS TIPOS: Noradrenalina, dopamina e serotonina são os mediadores envolvidos mais estudados no controle da temperatura. Drogas que interferem em sua liberação ou produção podem alterar a temperatura corpórea. O set point hipotalâmico é o termostato do organismo. Essa informação sobre que temperatura o organismo deve manter é ditada pelo hipotálamo. Assim, em novas condições, desencadeadas pela elevação hipotalâmica da prostaglandina E2, o hipotálamo assume como normal uma temperatura maior, fazendo o organismo ter de lançar mão de mecanismos para elevar a temperatura do corpo. A fosforilação oxidativa mitocondrial é outro sistema envolvido no controle da temperatura corpórea. Neste processo, ocorre transferência de elétrons pela membrana interna da mitocôndria e, por meio de reações de oxidorredução, haverá conversão de O2 em CO2 + H2O com produção de calor. Nesse processo, elétrons são bombeados do lado citosólico da membrana para o espaço interior dela, o que gera um gradiente eletroquímico que permite a formação do ATP. Esse processo é prejudicado na presença de toxinas, ocorrendo então o desacoplamento, ou seja, os prótons passam livremente pela membrana interna celular, sem que haja formação de ATP. Ocorre dissipação de energia na forma de calor. Controles homeostáticos orgânicos são responsáveis pela variação rítmica diária de temperatura corporal que oscila fisiologicamente entre 36o C (início da manhã) e 37,5o C (fim da tarde)1. Esses mecanismos sofrem influência de vários fatores, como: atividade física, hormônios, alterações na temperatura ambiental, ciclo menstrual nas mulheres, dieta alimentar, estado emocional do indivíduo, medicamentos, ciclo circadiano e até mesmo a postura corporal, pois as temperaturas esofagiana, sublingual e retal são mais elevadas com o indivíduo de pé e mais baixas na posição supina. ‘’PONTO DE AJUSTE’’ E CONTROLE DA TEMPERATURA O “ponto de ajuste” corresponde à temperatura na qual, acima dela, os mecanismos de perda de calor prevalecerão; abaixo dela, os mecanismos de ganho de calor; na temperatura (no gráfico corresponde à 37,1ºC) os dois mecanismos se encontram em equilíbrio. • Abaixo Calafrios 6 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA • Acima Sudorese O ponto de ajuste pode variar de acordo com a variação da temperatura cutânea; assim, temperaturas cutâneas mais baixas fazem com que o ponte de ajuste seja mais alto, fazendo com que temperatura mínima capaz de causar a sudorese seja também mais alta. O contrário também acontece no caso dos calafrios. II. Analisar a febre considerando o conceito, tipos, etiologia, fisiopatologia FEBRE É uma elevação da temperatura corporal acima da faixa de normalidade (37,5ºC axilar/37,8ºC oral/38ºC retal) associada a um aumento no ponto de ajuste hipotalâmico (o que a diferencia de uma hipertermia, que não provoca alteração no centro hipotalâmico) alteração do set point hipotalâmico. A febre é uma elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico, por exemplo, de 37ºC para 39ºC.6 Essa elevação ocorre em resposta a um sinal químico (pirógeno endógeno) lançado como parte da resposta inflamatória, com liberação de mediadores como a interleucina-1B e interleucina-6. A febre pode ser causada por infecções, atelectasia, doença tromboembólica e reações medicamentosas e acomete um terço dos pacientes hospitalizados. EFEITO DOS PIROGÊNIOS E MECANISMO DE AÇÃO As regiões do hipotálamo que controlam a temperatura corpórea as: os nervos pré-ópticos do hipotálamo anterior e o hipotálamo posterior. Os estímulos são tanto de nervos periféricos quanto da temperatura do sangue que banha a região (OVLT). Esse endotéliolibera ácido araquidônico e seus metabolitos quando expostos aos pirógenos exógenos. Desses metabolitos, a prostaglandina E2 difunde-se pela área pré-óptica, ativa o AMP cíclico e inicia a febre. Com o novo set point da temperatura, nervos eferentes, principalmente simpáticos, inervam os vasos periféricos. Há, então, vasoconstrição que impede a perda de calor. Há acionamento de musculo e gordura para produzir calor. O centro termorregulador envia sinais ao córtex cerebral com mensagens comportamentais, como a busca por lugares aquecidos, roupas e atitudes posturais. Tudo isso para que a periferia atinja a temperatura do set point hipotalâmico (central), já que a periferia envia impulsos aferentes para o SNC continuamente. Com isso, a temperatura poe elevar de 2 a 3 graus Celsius. Caso não seja suficiente, tremores são ativados para aumentar a produção de calor, para que atinja o novo set point da temperatura. Muitas proteínas, produtos da degradação das proteínas, e algumas outras substâncias, especialmente toxinas de lipossacarídeos oriundas das membranas celulares de bactérias, podem fazer com que o ponto de ajuste do termostato hipotalâmico se eleve. As substâncias que causam esse efeito são chamadas pirogênios, os quais podem ser exógenos ou endógenos. Os pirogênios liberados por bactérias tóxicas ou os liberados por tecidos corporais em degeneração, causam febre durante condições patológicas. Quando o ponto de ajuste do centro de regulação hipotalâmico da temperatura se eleva acima do normal, todos os mecanismos para a elevação da temperatura corporal começam a atuar, incluindo a conservação de calor e o aumento da produção de calor. • Pirógenos exógenos: microrganismos, seus produtos e toxinas. O melhor exemplo é a endotoxina, comum a todas as bactérias gramnegativas e que é um lipossacarídeo componente da membrana externa. As bactérias gram-positivas 7 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA também produzem pirógeno, porém, em geral, o LPS é mais potente. Estimulam as células dos hospedeiros a produzirem os pirógenos endógenos, geralmente monócitos e macrófagos. • Pirógenos endógenos: são polipéptides produzidos pelo sistema monocítico-macrofágico, local ou sistematicamente, até atingirem o centro termorregulador do hipotálamo. Como exemplo desse tipo de pirógenos tem-se a IL-1 alfa e beta, que são produzidas pelo sistema fagocítico mononuclear, pelo endotélio, pelos linfócitos B, por células NK, fibroblastos, músculo liso, queratinócitos e células da glia. OBS: A rede vascular que irriga a região entorno do centro termorregulador do hipotálamo recebe o nome de OVLT; o endotélio desses vasos, quando sob efeito dos pirógenos endógenos, libera o ácido araquidônico e seus metabólitos, dentre eles a prostaglandina E2, a qual ativará o AMPcíclico e iniciará o processo da febre. Nessa região há contato com “monitores da PA”, controladores da saciedade e controladores da temperatura; portanto, quando há necessidade, esses mecanismos também são ativados juntamente com o hipotálamo anterior, causando alterações metabólicas e comportamentais (como a retirada de roupas ou busca por água ou sombra). A febre tem certo papel protetor tendo em vista que diversas interleucinas como a IL-1, IL-6 e IL-8 têm sua ação quimioatraente potencializada em temperaturas mais altas, portanto, amplificam a atividade leucocitária durante um processo inflamatório; além de que alguns antígenos não conseguirem se replicar nessas mesmas temperaturas elevadas. OBS 2: Quando a formação de prostaglandinas é bloqueada por fármacos, a febre pode ser abortada ou diminuída. De fato, esta pode ser a explicação para o mecanismo de atuação da aspirina na redução da febre, pois a aspirina impede a formação de prostaglandinas, a partir do ácido araquidônico. Fármacos como a aspirina, que reduzem a febre, são chamados antipiréticos. CARACTERÍSTICAS DA FEBRE CALAFRIOS Quando o ponto de ajuste do centro de controle de temperatura no hipotálamo é subitamente alterado do nível normal para um nível mais alto do que o normal (como resultado da destruição tecidual, substâncias pirogênicas ou desidratação), a temperatura corporal geralmente leva várias horas para atingir o novo ponto de ajuste da temperatura. Como a temperatura do sangue agora é menor do que o ponto de ajuste do controlador hipotalâmico da temperatura, ocorrem as respostas usuais que causam a elevação da temperatura. Durante esse período, a pessoa experimenta calafrios e sente frio intenso, mesmo que sua temperatura já esteja acima do normal. Além disso, a pele fica fria devido à vasoconstrição e a pessoa treme. Os calafrios continuam até que a temperatura corporal chegue ao ponto de ajuste hipotalâmico de 39,4°C. A partir desse ponto, a pessoa não apresenta mais calafrios e não sente frio ou calor. Enquanto o fator que causa elevação do ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico estiver presente, a temperatura do corpo é regulada quase da mesma forma, mas em nível de ponto de ajuste mais alto. 8 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA CRISE OU RUBOR Se o fator que está causando a alta da temperatura for removido, o ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico será reduzido para valor mais baixo, e talvez volte ao normal. Nesse caso, a temperatura do corpo se mantém em 39,4°C, mas o hipotálamo tenta regular a temperatura para 37°C. Essa situação é análoga ao aquecimento excessivo da área hipotalâmica anterior préóptica, que causa sudorese intensa e o desenvolvimento súbito de aquecimento da pele por causa da vasodilatação generalizada. Essa mudança súbita de eventos no estado febril é conhecida como “crise” ou, mais apropriadamente, “rubor”. INTERMAÇÃO O limite superior da temperatura do ar que a pessoa pode suportar depende em grande parte de se o ar é seco ou úmido. Se o ar está seco e correntes de ar de convecção suficientes estão fluindo para promover a rápida evaporação do corpo, a pessoa pode resistir durante várias horas na temperatura do ar de 54,4°C. Inversamente, se o ar está com 100% de umidade ou se o corpo está imerso na água, a temperatura corporal começa a se elevar sempre que a temperatura ambiental estiver acima de 34,4°C. Se a pessoa está realizando trabalho braçal, a temperatura ambiental crítica acima da qual provavelmente ocorrerá intermação pode ser de 29,4 a 32,2°C. Quando a temperatura corporal se eleva além de temperatura crítica, na variação entre 40,5 e 42,2°C, a pessoa, provavelmente, desenvolverá uma intermação. Os sintomas incluem desorientação, desconforto abdominal, algumas vezes, acompanhado por vômitos, às vezes, delírios, com eventual perda da consciência se a temperatura corporal não for rapidamente diminuída. Esses sintomas, em geral, são exacerbados por grau de choque circulatório ou pela excessiva perda de líquidos e eletrólitos pelo suor. SEMIOLOGIA DA FEBRE Início: pode ser súbito ou gradual. • Súbito: percebe-se de um momento para outro a elevação da temperatura. Nesse caso, a febre se acompanha quase sempre dos sinais e sintomas que compõem a síndrome febril. É frequente a sensação de calafrios nos primeiros momentos da hipertermia. • Gradual: A febre pode instalar- se de maneira gradual e o paciente nem perceber seu início. Em algumas ocasiões, predomina um ou outro sintoma da síndrome febril, prevalecendo cefaleia, a sudorese e a inapetência. Intensidade Tomando por referência o nível da temperatura axilar: • Febre leve ou febrícula: até 37,5°C • Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C • Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C. 9 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA Evolução Febre de origem indeterminada: febre de mais de 3semanas com temperaturas acima de 37,8ºC[axilar] ou 38,3ºC[oral] sem identificação de causa após uma semana de internação ou 3 consultas médicas Conduta • Avaliar durante a anamnese quanto a viagens, contato com doentes e animais, uso de drogas ilícitas, comportamento para AIDS, emagrecimento, internações e uso de antibióticos. • Em crianças: 1/3 é decorrente de infecções virais • Em idosos: 1/3 decorre de vasculites e 1/4 de neoplasias • Ressalta-se a pesquisa de sopros cardíacos, dores musculares e ósseas, palpação do fígado e baço e pesquisa de gânglios. • Os exames complementares a serem pedidos são hemograma, bioquímica sanguínea como enzimas hepáticas, urina, RX de tórax e TC ou US de abdome. • Exames histológicos podem ser considerados somente quando: fígado (alteração de enzimas hepáticas); medula (alteração no hemograma ou suspeita de leucemias ou infecciosas com leishmaniose), por exemplo • Uso de corticoides e antibióticos devem ser individualizados e são atualmente desencorajados. • Febre contínua: aquela que permanece sempre acima do normal com variações de até 1 °C e sem grandes oscilações; • Febre irregular ou séptica: registram- se picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer caráter cíclico nestas variações. Mostramse totalmente imprevisíveis e são bem evidenciadas quando se faz a tomada da temperatura várias vezes ao dia; um exemplo típico é a septicemia. Aparece também nos abscessos pulmonares, no empiema vesicular, na tuberculose e na fase inicial da malária; • Febre remitente: há hipertermia diária, com variações de mais de 1 °C e sem períodos de apirexia. Ocorre na septicemia, pneumonia, tuberculose. • Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; isto é, registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde; ou então, em 1 dia ocorre febre, no outro, não. Por vezes, o período de apirexia dura 2 dias. A primeira se denomina cotidiana, a segunda terçã e a última quartã. O exemplo mais comum é a malária. Aparece também nas infecções urinárias, nos linfomas e nas septicemias; • Febre recorrente ou ondulante: caracteriza-se por período de temperatura normal que dura dias ou semanas até que sejam interrompidos por períodos de temperatura elevada. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas Término • Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. Exemplo típico é o acesso malárico. • Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais. Observado em inúmeras doenças, é mais bem reconhecido pela análise da curva térmica. III. Diferenciar a febre de hipertermia FEBRE Alteração do set point hipotalâmico. A febre é uma elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico, por exemplo, de 37ºC para 39ºC.6 Essa elevação ocorre em resposta a um sinal químico (pirogêno endógeno) lançado como parte da resposta inflamatória, com liberação de mediadores como a interleucina-1B e interleucina-6. A 10 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA febre pode ser causada por infecções, atelectasia, doença tromboembólica e reações medicamentosas e acomete um terço dos pacientes hospitalizados. HIPERTERMIA Set point hipotalâmico normal, porem o calor não pode ser dissipado ou está sendo mais produzido. A hipertermia é o aumento da temperatura corporal devido a um desequilíbrio entre a produção e a dissipação de calor. A hipertermia diferencia-se do estado febril porque nela o limiar térmico hipotalâmico está preservado e o aumento da temperatura corporal ocorre por excesso de produção ou falência na dissipação de calor ou, ainda, por disfunção do centro termorregulador.8 É encontrada nos casos de doenças provocadas pelo calor como a intermação, distúrbios neurológicos ou hipertermia maligna, muitas vezes com a temperatura corporal acima de 40ºC. O organismo humano não se adapta à hipertermia, assim, deve ser tratada como uma emergência clínica. IV. Descrever a convulsão febril, considerando seus tipos e fisiopatologia, seu tratamento, e os critérios diagnósticos. CONVULSÃO FEBRIL Convulsão febril (CF) ocorre na infância, geralmente entre os 3 meses e 5 anos de idade, associada à febre, na ausência de infecção intracraniana ou de outra causa neurológica definida, excluindo-se as crianças que tenham tido previamente convulsões afebris. Convulsões febris não devem ser confundidas com epilepsia – que se caracteriza por crises epilépticas afebris recorrentes. A primeira CF ocorre em média entre os 18 e 22 meses, podendo ser simples (uma única crise tônico-clônica generalizada com duração média de 5 min) e complexa ou complicada (crises focais e/ou com duração maior que 15 min e/ou se recorrer em menos de 24h e/ou com manifestações neurológicas. Fatores de risco: Maiores: primeira crise febril com menos de 12 meses de idade; duração da febre < 24 horas antes da crise; febre 3839 °c. Menores: História familiar positiva de crises febris; História familiar de epilepsia; Crise febril complexa; Sexo masculino; Sódio sérico baixo no início da crise. OBS: O pico de incidência varia de 9 a 18 meses, independentemente de localização geográfica, raça, sexo ou condições socioeconômicas. Cabe lembrar que CF raramente podem ocorrer antes dos 3 meses e após os 5 anos de idade. FISIOPATOLOGIA A origem da CF não é ainda inteiramente compreendida, sabe-se, no entanto, que a febre, a idade e a predisposição genética são os fatores importantes. Acredita-se que o desencadeamento da convulsão pela febre esteja associado à imaturidade natural do cérebro, que apresenta um limiar mais baixo de resistência à hipertermia e excitabilidade neuronal elevada. As crianças são mais propensas ao desenvolvimento de infecções, as quais induzem à febre alta. Aliado a isso, o baixo limiar do córtex cerebral ainda em desenvolvimento e o componente genético afetando o limiar convulsígeo são fatores que se combinam. O cérebro imaturo apresenta maior susceptibilidade a convulsões visto que provavelmente decorre da combinação da excitação aumentada e a inibição diminuída. O modo de herança não é claro, e há estudos evidenciando ligação com vários cromossomos, por exemplo, os cromossomos 19p e 8q 13-21. A maioria dos estudos sugere herança autossômica 11 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA dominante, com baixa penetrância e expressão variável ou, em alguns casos, herança poligênica. Não há consenso na literatura sobre o papel da velocidade de aumento ou do valor atingido da temperatura na crise febril. Estudos em animais sugerem um papel dos pirogênios endógenos, como a interleucina 1, influenciando na excitabilidade neuronal Obs.: A persistência de CF após os 6 anos, associada ou não a crise afebril, com remissão espontânea em torno dos 12 anos, configura uma situação de forte componente familiar denominada “convulsão febril plus”. A verificação de que algumas famílias são mais suscetíveis a apresentarem CF é notória e já foram descritos os loci cromossômicos de algumas delas. No entanto, ainda não foi identificado um modelo de transmissão que atenda a todos os casos de CF. A maioria dos estudos sugere herança autossômica dominante, com baixa penetrância e expressão variável, ou herança poligênica. TIPOS DE CONVULSÃO A crise usualmente é generalizada tônico- clônicas com duração de alguns segundos até15 minutos. O período pósictal é marcado por sonolência passageira. O exame neurológico da criança é inteiramente normal após a crise. A investigação clínica deve visar a localização da infecção, seja ela uma amigdalite, otite ou doença exantemática. Atualmente, prefere-se a denominação “crises febris”, porque elas podem ser convulsivas e não convulsivas. De modo geral, as CF são tônico-clônicas generalizadas, de curta duração, únicas e precoces em uma mesma doença febril, e não se acompanham por fenômenos neurológicos pós-críticos. Essas características definem as CF típicas, simples, ou também chamadas crises não-complicadas. Crises com duração > 10 min, parciais, que se repetem durante o mesmo episódio febril, e acompanhadas por sinais neurológicos transitórios (paralisia de Todd) são denominadas atípicas, complexas ou complicadas. A distinção entre ambas tem importância clínica, uma vez que define prognósticos diferentes: a forma atípica está associada a um maior número de recorrências, tanto febris, quanto afebris. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da CF é clínico, porém não é fácil de definir na primeira apresentação. A hipótese é reforçada quando a crise é típica, o exame neurológico é normal, o paciente já apresentou uma ou mais CF e há relato de casos semelhantes em parentes de 1o grau. A investigação da doença de base e a exclusão da meningite são essenciais. Lactentes que apresentem a primeira CF, mesmo na ausência de sinais de 12 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA irritação meníngea, devem realizar exame do líquor. Criança com < 6 meses com convulsão + febre, a punção lombar (PL) deve ser SEMPRE realizada. Mesmo que uma otite média seja identificada no exame físico, não é possível excluir a possibilidade de meningite sem a punção lombar. PL é obrigatória: na primeira crise febril complexa; letargia persistente; crise febril em crianças > 5 anos, pela possibilidade de meningite/encefalite. De acordo com a história clínica também é necessário pedir hemograma, dosagem de eletrólitos e glicemia. Na definição de uma infecção viral ou bacteriana bem estabelecida (otite, laringite, doença exantemática), não existe a indicação de Eletroencefalograma (EEG) ou exame de imagem do sistema nervoso central. As crises convulsivas provocadas por meningites, encefalites, distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia ou intoxicação exógena não são consideradas crises febris. Sua ocorrência é provocada por alguma destas condições e, por isso, são denominadas crises sintomáticas. O EEG pode mostrar anormalidades, principalmente nas crianças com CF prolongadas ou repetidas, mas não tem valor prático, pois não define a probabilidade de recorrências, tanto febris quanto afebris. Exames de neuroimagem também não auxiliam no diagnóstico das CF, mas na criança com crises atípicas recorrentes, ou naquelas que apresentam sinais prévios de comprometimento do sistema nervoso, a ressonância magnética cerebral deve ser solicitada. TRATAMENTO Assim como em qualquer síndrome convulsiva a orientação sobre o quadro é fundamental. O tratamento da CF, na maioria das vezes, é limitado à fase aguda, quando estão indicados antitérmicos e medicação específica para a doença febril. Nos casos de crise prolongada, a criança deverá ser levada a um serviço de emergência. O tratamento anticonvulsivante com benzodiazepínicos (diazepam venoso ou retal, na dose de 0,3-0,5 mg/kg, midazolan ou lorazepan) é considerado na emergência para as crianças que apresentam crise convulsiva com duração superior a cinco minutos. As crises convulsivas provocadas por meningites, encefalites, distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia ou intoxicação exógena não são consideradas crises febris. Sua ocorrência é provocada por alguma. Nos casos caracterizados por crises febris recorrentes, principalmente quando associadas aos fatores de risco, pode-se utilizar a profilaxia intermitente, embora não haja consenso em relação a sua eficácia. Por sua ação rápida, os benzodiazepínicos são as drogas prescritas, especialmente o diazepam, por via retal, nas formas de supositório ou de solução, na dose de 0,5 mg/kg de peso, a cada 12 horas e por 2 dias consecutivos; o tratamento deve ser iniciado assim que a família perceber os sinais da doença febril. Destas condições e, por isso, são denominadas crises sintomáticas. A profilaxia contínua com anticonvulsivantes não é indicada, pois a crise febril é uma condição benigna e com resolução espontânea, e, por isso, não se justifica o emprego de medicações com tantos efeitos adversos como a redução da capacidade cognitiva e distúrbios comportamentais (agitação, sonolência, agressividade), além de hepatotoxicidade, principalmente em menores de dois anos. É importante deixar claro que o uso de antitérmicos reduz o mal-estar associado à febre, mas não impede a ocorrência da crise febril, até porque suspeita-se que a mesma seja desencadeada durante a fase de ascensão ou queda da temperatura. 13 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA V. Descrever a farmacodinâmica e a farmacocinética dos antitérmicos (indicação, efeitos adversos, contraindicação) ANTITÉRMICOS Os alvos e atuação dos AT são: 1. Redução da produção e mediadores inflamatórios, como as citocinas ou aumento da produção local de moléculas anti-inflamatórias. 2. Redução na produção de prostaglandina E2 através da inibição da ciclooxigenase, evitando assim que ela atue no centro termorregulador do hipotálamo, desencadeando as reações de produção de calor. 3. Produção de antipiréticos naturais aumentada 4. Redução da adesão de células produtoras de prostaglandinas no foco inflamatório. Os medicamentos utilizados para tratamento da febre geralmente são também utilizados para o manejo da dor, e nesse caso preferencialmente são utilizados os analgésicos não opioides (paracetamol, AAS) e AINES (ibuprofeno). Paracetamol e dipirona não apresentam função antiplaquetária e anti-inflamatória. A atividade antipirética é explicada pela inibição de ciclo-oxigenases, diminuindo a reação inflamatória e, por consequência a atividade das prostaglandinas – o bloqueio da síntese de prostaglandinas determina a analgesia e reduz a resposta inflamatória. PGE2 é fundamental na produção da febre e é sintetizada a partir do ácido araquidônico, com a participação de duas isoformas da enzima ciclooxigenase, a COX 1 e a COX2. A maioria dos AT age na síntese de prostaglandinas, inibindo a COX1 e 2. O paracetamol é um fraco inibidor da COX 1. A aspirina e outros AINES, além da diminuição da PGE2, diminuem a produção de PE e das citocinas mediadoras da inflamação e aumentam a produção de antipiréticos naturais. A dipirona também diminui a PGE2. PARACETAMOL Geralmente é o medicamento de primeira escolha principalmente para o manejo da dor ou da febre. Além disso apresenta pouquíssimas reações adversas. Ao contrário da maioria dos analgésicos e antitérmicos, pode ser utilizado por gestantes. Possui efeitos anti-inflamatórios muito fracos em comparação ao AAS. Dose – Para crianças a dose recomendada é de 10-15 mg/kg de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tomando-se o cuidado de não ultrapassar a dose de 75 mg/kg/dia. Para adultos a dose é de 1 comprimido (de 500mg ou de 750 mg) de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tendo-se em consideração que não se deve ultrapassar a dose total diária de 4 gramas. Quando indicada, a droga pode ser dada a recém-nascidos e às gestantes, sendo o medicamento o mais indicado nestas situações. Reações Adversas – O paracetamol é considerado o antitérmico mais seguro, com pouquíssimos eventos adversos como erupções cutâneas, urticária,angioedema e anafilaxia. Outras precauções são as seguintes: não utilizar o paracetamol 14 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA em pacientes com desidratação importante, desnutrição grave, jejum prolongado e em pacientes com hepatopatias crônicas. IBUPROFENO É um AINE com ação anti-inflamatória, antipirética e analgésica. Alguns efeitos adversos coincidem com demais anti-inflamatórios como hemorragias, falência renal e irritação gastrointestinal Um anti-inflamatório não hormonal que possui, além da ação anti-inflamatória, ação antitérmica e analgésica. Foi liberado nos EUA para uso em crianças maiores de seis meses de idade. Doses – Para crianças a dose recomendada é de 5-10 mg/kg de 6/6 horas. Reações Adversas – Algumas reações importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração tem sido relatada, sendo, entretanto, raras na criança. Outras reações são a inibição reversível da função plaquetária, anafilaxia, asma, necrose papilar renal levando ao quadro de nefrite analgésica, e falência renal. DIPIRONA Muito utilizado no Brasil, ao contrário de muitos outros países devida recorrência de alergias graves. Não possui ação anti-inflamatória importante, porém potente ação antitérmica e analgésica. É fonte de discussão sobre seu uso tendo em vista que possui eficácia muito semelhante a outros analgésicos, porém segurança muito menor. Trata-se de medicamento com potente ação antitérmica e analgésica, mas destituído de ação anti- inflamatória. Dose: a dose indicada para crianças é de 10-12 mg/kg, o que equivale a 0,4-0,6 gota/kg, três a quatro vezes ao dia. Na prática tem-se observado que a dose usada é de uma gota por/kg, o que vale dizer, quase que o dobro da dose preconizada, o que constitui um erro grosseiro, com suas inevitáveis consequências. A dose para adultos é de 0,5-1g três vezes ao dia. Reações Adversas – tem sido referida as seguintes: hipotensão, broncoespasmo, urticária, rash cutâneo, sonolência, cansaço, cefaléia, anafilaxia. A mais importante e temível reação adversa é a agranulocitose, de ocorrência rara, porém preocupante. ASPIRINA Ação anti-inflamatória, antipirética e analgésica. Reações adversas coincidem com demais anti-inflamatórios (úlcera gástrica, hemorragia digestiva, anafilaxia...) Além de sua ação antitérmica possui também ação anti-inflamatória e analgésica. Dose – Para crianças a dose utilizada é de 50- 75 mg/kg/dia, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Quando se pretender melhor ação anti- inflamatória, recomenda-se a dose de 75- 100 mg/kg/dia, de 6/6 horas. Para adultos a dose indicada é de 300-900 mg, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Reações Adversas – São descritas reações adversas importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração, quadros de anafilaxia, asma, rinite, urticária. A Síndrome de Reye, caracterizada por uma grave disfunção hepatocerebral, é uma entidade importante, com letalidade de aproximadamente 30%, observada em indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela, influenza) e que recebiam aspirina. Na atualidade, raramente, a aspirina é utilizada para o combate à febre em crianças. Com a diminuição do seu uso, praticamente não mais se observa a Síndrome de Reye. 15 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA VI. Descrever os locais de aferição da temperatura corporal e seus parâmetros Determinar o local mais apropriado para a medida; reunir o material necessário; mãos e termômetro limpos; posicionamento correto do bulbo do termômetro; atenção às substâncias desinfetantes irritantes de pele e mucosa; atenção às indicações e limitações da T. oral e T. axilar. a. AXILAR Vantagens: Método não invasivo; ideal para recém-nascidos; mais segura para crianças; mais fácil desinfecção; mais difundida em nosso meio; Limitações: Medida menos acurada; demora mais tempo para ser feita a leitura; às vezes é difícil manter as crianças quietas por muito tempo; é difícil adaptar bem o termômetro na cavidade axilar; sofre variações de medida, na mesma axila, com maior frequência; sofre influência das secreções axilares fornecendo leituras menores que os reais; sofre mais influência da temperatura do meio ambiente e umidade relativa do ar, estando sujeita a flutuações muito mais intensas; Valores médios = 35,5º C a 37,2ºC; Local de colocação = na cavidade axilar; Cuidados = retirar a roupa da axila, deixá-la seca e bem fechada com o bulbo do termômetro em contato com a pele; Observações = manter o paciente em posição confortável; orientar e supervisionar o paciente; a precisão da temperatura depende do bom posicionamento do bulbo na cavidade axilar. b. BUCAL Vantagens: Fácil acesso; mais fidedigna porque possui rico suprimento sanguíneo; está próxima aos grandes vasos e a corrente sanguínea reflete a temperatura das áreas centrais do corpo; Limitações: Desinfecção mais difícil; pode ser afetada por inúmeros variáveis: fumos, ingestão de líquidos quentes ou frios, goma de mascar, embora em pacientes afebris o fumo e a goma de mascar não determinem diferenças significativas. Não deve ser usada se o cliente está recebendo oxigenoterapia contínua, nesses casos há um resfriamento do organismo, com queda, inclusive da temperatura retal, mas há pesquisas que demonstram não haver diferenças dos registros das temperaturas orais sem administração de 02(2); não deve ser usada quando traz risco ao paciente, quando este tem alguma impossibilidade ou quando corre o risco de danificar o termômetro. Ex.: crianças pequenas; doentes mentais; pacientes confusos ou inconscientes; com pós-operatório de cirurgia oral, com trauma de face ou boca, com dor de cavidade oral; clientes com história de convulsão ou que respiram somente com a boca aberta; a temperatura é menor se o paciente falar ou respirar pela boca; na nossa cultura não é o mais aceitável nem é considerado confortável; após alimentação ou fumo deve-se aguardar aproximadamente 20' para verificação. Valores médios = 36º C a 38°C Local de colocação = sublingual posterior. Na localização anterior a temperatura é mais baixa. Cuidados = paciente sentado, acordado e consciente; retirar o termômetro envolto em lenço de papel evitando contato com secreções bucais. Observações = manter paciente em posição confortável; orientar e supervisionar o paciente; não conversar com o paciente durante a verificação. 16 FEBRE, INFECÇÃO E INFLAMAÇÃO SAMANTHA LEÃO F. LIMA REFERÊNCIAS ARAÚJO, T.L. de; FARO, ACM. e LAGAÑA, M.T.C. Temperatura corporal: planejamento da assistência de enfermagem na verificação da temperatura; no atendimento da febre e da hipertermia maligna. Dez, 2008; HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017; KATSUNG, B. Farmacologia Básica e Clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Mcgraw-hill interamericana, 2010; Semiologia Médica – Porto – Oitava Edição; Febre – Antitérmicos mais indicados e posologia recomendada – Calil Kairalla Farhat