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A relação capital versus trabalho APRESENTAÇÃO O trabalho exerce uma função central na vida dos indivíduos e é definido por Marx como uma interação entre o homem e a natureza, de modo a satisfazer uma necessidade humana. No entanto, no modo de produção capitalista existem muitas contradições relacionadas ao mundo do trabalho decorrentes do sistema vigente. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os conceitos de capital e trabalho apresentados por Karl Marx, assim como as suas relações na sociedade capitalista e o desenvolvimento do capitalismo em meio ao mundo globalizado. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os conceitos de capital e trabalho para Karl Marx.• Analisar as relações de capital e trabalho no modelo capitalista de produção.• Descrever o processo de desenvolvimento do capitalismo no mundo globalizado.• INFOGRÁFICO A mais-valia é um conceito criado por Karl Marx. Tal conceito relaciona a força de trabalho com o tempo de realização desse trabalho e com o lucro obtido pelo empregador. A mais-valia tem como característica principal a desigualdade entre o valor do trabalho e a remuneração recebida pelo trabalhador pela venda da sua força de trabalho. Confira no Infográfico a seguir um pouco mais sobre esse importante conceito incorporado por Marx. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO É importante destacar que não existe o trabalho humano sem consciência, sem uma finalidade a ser alcançada, pois todo o trabalho busca a satisfação de uma necessidade. No entanto, com a expansão do capital e a sua mundialização, tem-se não apenas mudanças na estrutura econômica e financeira, mas também na forma de produção e estrutura de trabalho propriamente dita. No capítulo A relação capital versus trabalho, da obra Questão social, direitos humanos e diversidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender melhor a relação entre o trabalho e sociedade capitalista, de acordo com as ideias de Marx. Boa leitura. QUESTÃO SOCIAL, DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE Daniella Tech Doreto A relação capital versus trabalho Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os conceitos de capital e de trabalho para Karl Marx. Analisar as relações de capital e trabalho no modelo capitalista de produção. Descrever o processo de desenvolvimento do capitalismo no mundo globalizado. Introdução O trabalho exerce uma função central na vida dos indivíduos. Ele é definido por Marx como a interação que ocorre entre homem e natureza a fim de satisfazer uma necessidade humana. No entanto, no modo de produção capitalista existem muitas contradições relacionadas ao mundo do trabalho. Com a expansão do capital e a sua mundialização, ocorreram não apenas mudanças na estrutura econômica e financeira, mas também modificações na forma de produção e no sistema de trabalho propriamente dito. Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos de capital e trabalho formulados por Karl Marx. Além disso, você vai ver como esses elementos se configuram na sociedade capitalista e estudar o desenvolvimento do capitalismo no mundo globalizado. Conceitos de capital e trabalho por Karl Marx Karl Marx foi um fi lósofo que viveu entre 1818 e 1883. Sua obra infl uenciou ciências como a economia, a sociologia, a história e tantas outras. Além disso, suas ideias têm especial importância para o Serviço Social. De forma ampla, você pode considerar que Marx realizou uma análise da sociedade moderna tentando compreender a sua estrutura, a sua consolidação e o seu desenvolvimento associado ao capitalismo. Ele também estudou a categoria trabalho e a sua relação com o capital. Como você sabe, o trabalho exerce uma função central na vida dos in- divíduos. Marx define o trabalho como uma interação entre o homem e a natureza. Assim, os elementos da natureza são modificados mediante uma ação humana consciente, realizada com vistas a determinado objetivo. É por meio do trabalho que o ser humano se apropria da natureza para satisfazer necessidades e objetivos pessoais. Navarro e Padilha (2007) apontam que, ao atuar sobre a natureza, o ho- mem modifica a si próprio, uma vez que, ao término desse processo, ele não é o mesmo. Isso porque, ao transformar a natureza, novas necessidades e questionamentos vão surgindo. Isso faz com que o homem volte seu olhar para aspectos inexistentes para ele até então. As autoras acrescentam ainda que o trabalho humano não existe sem consciência, sem uma finalidade a ser alcançada. Todo trabalho busca a satisfação de uma necessidade. Para Marx (1989, p. 208): O processo de trabalho, que descrevemos em seus elementos simples e abs- tratos, é atividade dirigida com o fim de criar valores de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas; é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza; é condição natural eterna da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais. Em outras palavras, o processo de trabalho atribui à atividade humana valores de uso, pois “[...] a existência de cada elemento da riqueza material não existe na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial produtiva, adequada a seu fim, que assimila elementos específicos da natureza a necessidades humanas específicas [...]” (MARX, 1985, p. 50). Paralelamente à noção de trabalho, outros conceitos diretamente relacio- nados a ela foram introduzidos por Marx, como o de meios de produção. Segundo a teoria marxista, os meios de produção são o conjunto constituído pelos meios e objetos de trabalho. Ou seja, são todos os elementos que perpas- sam a relação entre o homem e o trabalho desenvolvido por ele no processo de transformação da natureza. Assim, os meios de trabalho podem ser entendidos como aqueles elementos fundamentais para o processo de trabalho. Esses elementos funcionam como precondição para que o trabalho aconteça. É o caso de instrumentos, ferramentas, entre outros. Os objetos de trabalho, por sua vez, podem ser entendidos como os elementos sobre os quais o trabalho é aplicado, assim como os recursos da natureza e as matérias-primas. A relação capital versus trabalho2 Como você viu, para que o trabalho aconteça, é necessária a ação humana, ou seja, a força de trabalho. Esta última e os meios de produção definidos anteriormente constituem as forças produtivas, de acordo com a teoria mar- xista. Além disso, as forças produtivas, juntamente às relações de produção, compõem o chamado modo de produção, que é a forma como a sociedade está organizada. O modo de produção pode ser, por exemplo, escravista, feudalista, capitalista, socialista, entre outros. Essas considerações são importantes pois Marx apresenta um ponto de vista amplo sobre a questão do trabalho. Ele vai além da ação humana so- bre a natureza para a satisfação das necessidades básicas. Marx insere esse processo no contexto da sociedade e de seu desenvolvimento, afirmando que o trabalho deve ser historicamente determinado. No modo de produção capitalista, existem muitas contradições relacionadas ao mundo do trabalho (NAVARRO; PADILHA, 2007). Nesse sentido, faz-se necessário apresentar o que Marx chamou de capital. Bottomore (2012), no Dicionário do Pensamento Marxista, aponta que, genericamente, o capital é algo específico do capitalismo e que nesse sistema a produção do capital prevalece sobre qualquer outro tipo de produção. Segundo o autor, o “[...] capital tem a ver com fazer dinheiro, mas os bens que fazem dinheiro encerram uma relação particular entre os que têm dinheiro e os que não o têm, de modo que não só o dinheiro é feito, como também as relações de propriedades privadas [...]” (BOTTOMORE, 2012, p. 64). Nesse sentido: O capital não é uma coisa,mas uma relação de produção definida, pertencente a uma formação histórica particular da sociedade, que se configura em uma coisa e lhe empresta um caráter social específico [...] são os meios de produção monopolizados por um certo setor da sociedade, que se confrontam com a força de trabalho viva enquanto produtos e condições de trabalho tomados independentes dessa mesma força de trabalho que são personificados em vir- tude dessa antítese, no capital. Não são apenas os produtos dos trabalhadores transformados em forças independentes, produtos que dominam e compram de seus produtores, mas também, e sobretudo, as forças sociais e [...] a forma desse trabalho, que se apresentam aos trabalhadores como propriedade de seus produtos. Estamos, portanto, no caso, diante de uma determinada forma social, à primeira vista muito mística, de um dos fatores de um processo de produção social historicamente produzido (BOTTOMORE, 2012, p. 64). Como você pode notar, a definição de capital não é algo simples. Marx explora seus vários significados. Vale enfatizar, no entanto, a intrínseca relação existente entre o capital e o trabalho, especialmente no contexto do capitalismo, como Marx tanto destaca em suas obras. 3A relação capital versus trabalho Capital e trabalho no modelo capitalista de produção Para refl etir sobre a relação entre capital e trabalho, é interessante recorrer à análise que Navarro e Padilha (2007) fazem sobre a importância do trabalho para os indivíduos. Segundo as autoras, o trabalho representa uma fonte de experiência psicossocial, já que exerce papel central na vida das pessoas, ocupando boa parte do espaço e do tempo da vida cotidiana. Assim, o trabalho “[...] não é apenas meio de satisfação das necessidades básicas, é também fonte de identifi cação e de autoestima, de desenvolvimento das potencialidades humanas, de alcançar sentimento de participação nos objetivos da sociedade. Trabalho e profi ssão (ainda) são senhas de identidade [...]” (NAVARRO; PADILHA, 2007, p. 14). Assim, é por meio do trabalho que o homem se torna um ser social. De acordo com Barroco (2010, p. 26), “[...] o trabalho é o fundamento ontológico-social do ser social; é ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do ser social em face de outros seres da natureza [...]”. O autor ainda complementa: “[...] as mediações, capacidades essenciais postas em movimento através de sua atividade vital, não são dadas a ele [ser social]; são conquistadas no processo histórico de sua autoconstrução pelo trabalho. São eles: a sociabilidade, a consciência, a universalidade e a liberdade [...]”. O trabalho, enquanto responsável pela reprodução do ser social, adquire um caráter universal e sócio-histórico. Assim, ele não é obra de um indivíduo. É, antes, uma cooperação entre os homens, ou seja, só se objetiva socialmente e de maneira determinada. Além de responder a demandas sócio-históricas, o trabalho gera formas de interação como a linguagem, as representações e os costumes que compõem a cultura (BARROCO, 2010). Para Navarro e Padilha (2007), o trabalho é fonte de humanização e res- ponsável pelo surgimento do ser social. Contudo, sob a lógica do capital, ele se torna alienado e perde o seu sentido principal: produzir coisas úteis, que atendem às necessidades humanas. Assim, passa a atender aos interesses do capital. No sistema capitalista, há uma separação clara entre o trabalho e os meios de produção. Afinal, o proprietário da força de trabalho vende-a ao proprietário dos meios de produção, recebendo em troca uma remuneração (salário). Segundo Marx (1989), isso acontece pois o trabalhador foi previamente afastado de toda propriedade e sente-se obrigado a vender a única coisa que possui, o seu trabalho, para assegurar a sua sobrevivência, passando a adquirir a condição de trabalhador assalariado. Dessa forma, de acordo com o filósofo, o trabalho é visto como algo alheio ou estranho ao trabalhador, que se dedica a um objeto que não pertence a ele (MARX, 1989). A relação capital versus trabalho4 Na sociedade capitalista contemporânea, em razão da apropriação privada dos meios de produção e da maneira pela qual a vida social se reproduz, o trabalho deixa de lado a sua potência emancipadora. Assim, “[...] invertendo seu caráter de atividade livre, consciente, universal e social, propicia que os indivíduos que realizam o trabalho não se reconheçam nele como sujeitos [...]” (BARROCO, 2010, p. 33). Isso faz com que o trabalhador torne-se alienado no processo de trabalho que lhe fornece identidade humana: “[...] o trabalhador se aliena do objeto que ele mesmo criou; com isso se aliena da atividade, da relação — consigo mesmo e com os outros [...]” (BARROCO, 2010, p. 34). Netto (1994, p. 74) considera a alienação no contexto da sociedade capi- talista como um complexo de causalidades e resultantes histórico-sociais. Tal complexo [...] desenvolve-se quando os agentes sociais particulares não conseguem discernir e reconhecer nas formas sociais o conteúdo e o efeito de sua ação e intervenção; assim, aquelas formas e, no limite, a sua própria motivação à ação lhes aparecem como alheias e estranhas [...]. Para Barroco (2010, p. 34): O trabalhador é alienado da totalidade do processo de trabalho, ou seja, da propriedade dos meios de trabalho, do controle sobre o processo de trabalho e de seu produto final. Como trabalhador assalariado, ele só dispõe de sua força de trabalho, entrando no processo em condições desiguais; durante o processo, sua participação é fragmentada, pois ele não tem controle sobre a totalidade do mesmo; utiliza suas capacidades de forma limitada e não se apropria do produto do seu trabalho. Sai do processo tendo criado um valor a mais — a mais valia, que excede o valor de seu salário e é apropriado pelo capital — e um produto que não lhe pertence com o qual ele não se identifica; o seu salário lhe permite somente sobreviver fisicamente para reiniciar o processo. Mais-valia é um conceito criado por Marx. Tal conceito relaciona a força de trabalho com o tempo de realização desse trabalho e com o lucro obtido pelo empregador. A mais-valia tem como característica principal a desigual- dade entre o valor do trabalho e a remuneração recebida pelo trabalhador pela venda da sua força de trabalho. Trata-se de uma forma de exploração presente no sistema capitalista. Em outras palavras, a força de trabalho vendida pelo trabalhador é agregada ao valor atribuído ao capital no processo de produ- ção, agregando ainda mais valor ao capital inicial, o que gera a mais-valia. 5A relação capital versus trabalho A princípio, a mais-valia se apresenta como uma consequência simples do processo de produção. No entanto, ela é muito mais do que isso, pois é ela que movimenta e impulsiona todo esse processo. Isso porque o interesse do capital está voltado para a mais-valia. Como você pode observar, a sociedade capitalista e a sua lógica de acu- mulação de capital fazem com que o trabalhador se torne alienado em relação ao trabalho que realiza e não possa se apropriar do produto que criou. Essa alienação perpassa a vida do trabalhador em várias dimensões. Assim, o ser social, “[...] como um ser da práxis, passa a constituir-se como um campo de possibilidades; se realiza em termos do desenvolvimento humano-genérico mas não se objetiva para o conjunto dos indivíduos sociais [...]” (BARROCO, 2010, p. 35). Nesse processo, tornam-se adequadas as palavras de Marx (1989, p. 148), para quem o trabalhador “[...] se torna tão mais pobre quanto mais riqueza pro- duz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo e das coisas aumenta em proporção a desvalorização do mundo dos homens [...]”. O desenvolvimento do capitalismo no mundo globalizado Antes de você estudar o desenvolvimento do capitalismo em meioao processo de globalização, deve ter em mente o que se entende por globalização neste capí- tulo. A globalização é um fenômeno observado principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial. Nesse período, o capital começou a ter a possibilidade de se reproduzir e se expandir em nível internacional em decorrência da maior integração entre países e pessoas de todo o mundo. Assim, o sistema capita- lista recriou alternativas para ultrapassar fronteiras não apenas geográfi cas, mas históricas, adentrando em povos, culturas e condições políticas e sociais diversas. Além disso, a disputa entre os capitais, a tentativa de adentrar novos mercados e processos produtivos e a busca incessante pelo lucro ocasionaram a dinamização das forças produtivas (IANNI, 1996). O capitalismo nascente que Marx analisava mostrou-se capaz de um cres- cimento efetivo, amplo e rápido, fortalecendo-se e expandindo a sua lógica a praticamente todos os lugares do mundo, assumindo características globais. A globalização propriamente dita acontece com o domínio do capital econômico pelas empresas, com a abertura dos mercados e a presença de tecnologias e A relação capital versus trabalho6 culturas diversas impondo-se a tudo aquilo que é regional ou nacional. No entanto, assim como o capital produz a alienação na sua relação com o trabalho, o processo de globalização emancipa e aliena (IANNI, 1996). Batista (2008) aponta também que, ainda em 1848, Marx já sinalizava a possibilidade de formação de um mercado mundial, o que se manifestou alguns séculos depois do ponto de vista financeiro. Veja: A expansão do capitalismo a partir da permanente revolução de seus meios de produção carrega consigo um processo também permanente de transfor- mação das relações de produção, em outras palavras, transforma as formas de trabalho para torná-las adequadas à expansão e, portanto, às relações sociais. Em cada momento de desenvolvimento das forças produtivas, as relações de trabalho correspondentes criam e recriam o campo de batalha dos detentores dos meios de produção e vendedores de força de trabalho, com novas formas de opressão e resistência (BATISTA, 2008, p. 2–3). Ainda de acordo com a análise proposta por Ianni (1994), o século XXI é marcado por uma sociedade global não apenas do ponto de vista do capitalismo, mas de tudo o que se relaciona a ele, inclusive o mundo do trabalho. Segundo Ianni (1994, p. 2), “[...] no âmbito da fábrica global, criada com a divisão interna- cional do trabalho e produção — ou seja, a transição do fordismo ao toyotismo e a dinamização do mercado mundial, amplamente favorecido pelas tecnologias eletrônicas —, colocam-se novas formas e novos significados ao trabalho [...]”. Para o autor, tais mudanças repercutem na forma como as forças produtivas estão organizadas e também na dinâmica da classe trabalhadora, especial- mente no que se refere à estrutura social, que foi amplamente atingida pelas mudanças impostas pela incipiente globalização. Ianni (1994, p. 2) considera ainda que, “[...] na medida em que a globalização do capitalismo, considerada inclusive como processo civilizatório, implica a formação da sociedade global, rompem-se os quadros sociais e mentais de referência estabelecidos com base no emblema da sociedade nacional [...]”. Fordismo, taylorismo e toyotismo são modos de produção industrial desenvolvidos na sociedade capitalista. Apresentam diferenças entre si relacionadas à forma de organização, ao ritmo de trabalho, ao papel do funcionário e às prioridades. 7A relação capital versus trabalho Com a globalização, o mundo se abre para novas perspectivas. Aquilo que se refere a algo local ou regional adquire novos significados. O capitalismo adentrou profundamente o mundo globalizado — tanto pela divisão social do trabalho como também por sua imersão em economias até então restritas e fechadas para determinadas sociedades. Assim, o mundo e o capital estão globalizados. Ianni (1994) faz considerações sobre o mundo do trabalho desenvolvido na sociedade capitalista sob a óptica da globalização. Nesse sentido, aponta que: Ainda incipiente, esse mundo do trabalho e o consequente movimento operário apresentam características mundiais: são desiguais, dispersos pelo mundo, atravessando nações e nacionalidades, implicando diversida- des e desigualdades sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas, linguísticas, raciais e outras. Inclusive apresentam as peculiaridades de cada lugar, país ou região por suas características históricas, geográficas e outras. Entretanto, há relações, processos e estruturas de alcance global que constituem o mundo do trabalho e estabelecem as condições do movimento operário (IANNI, 1994, p. 3). É nesse contexto que o capitalismo se expande em termos mundiais, res- significando o mundo do trabalho. Como você viu, o desenvolvimento do capitalismo está bastante marcado por contradições e desigualdades. Isso gera articulações diversas e leva ao surgimento de novas formas de trabalho, que atribuem significados distintos a esse processo. Batista (2008) menciona que a inserção do capitalismo no mundo globalizado e a mundialização das políticas neoliberais são fatores de sustentação de uma economia baseada na lógica do lucro e da acumulação de capital. Isso resulta de: [...] uma acumulação capitalista predominantemente financeira [...] e [que] deve ser apreendida num contexto de totalidade das relações sociais de produção, de determinação e sobredeterminação, a fim de que suas particularidades sejam identificadas sem a distorção das categorias universais [...] (BATISTA, 2008, p. 2). A relação capital versus trabalho8 BARROCO, M. L. S. Ética: fundamentos sócio-históricos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010. (Biblioteca Básica do Serviço Social). BATISTA, E. Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas rupturas e continuidades. In: SIMPÓSIO LUTAS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA, 2008, Londrina. Anais... Curitiba: [s.n.], 2008. BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. IANNI, O. O mundo do trabalho. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, n. 8, v. 1, p. 2-12, jan./mar. 1994. MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. Livro 1, v. 1. MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1985. Livro 1, v. 1, t. 2. NAVARRO, V. L.; PADILHA, V. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo. Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v. 19, n. spe., p. 14-20, 2007. NETTO, J. P. Razão, ontologia e práxis. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 44, p. 26-42, abr. 1994. Leituras recomendadas ANTUNES, R. A nova morfologia do trabalho no Brasil: reestruturação e precariedade. Nueva Sociedad, Buenos Aires, p. 44-59, jun. 2012. Disponível em: <http://nuso.org/ media/articles/downloads/3859_1.pdf>. Aceso em: 17 out. 2018. CEOLIN, G. F. Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 118, p. 239-264, abr./jun. 2014. Disponível em: <http://cressrn.org.br/files/arquivos/3340qS3vFI4LaA369fm8.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018. LUCE, M. S. Brasil: nova classe média ou novas formas de superexploração da classe trabalhadora? Trabalho, Educação & Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 169-190, jan./ abr. 2013. 9A relação capital versus trabalho Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Karl Marx teceu alguns conceitos fundamentais que favorecem a compreensão sobre o trabalho na atualidade em toda a sua complexidade. Para ele, é por meio do trabalho que o ser humano se utiliza e apropria da natureza para satisfazer necessidades e objetivos pessoais. Assista ao vídeo da Dica do Professor para conhecer um pouco mais sobre os principais conceitos abordados por ele. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimentoa respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no serviço social O seguinte artigo apresenta uma análise sobre as transformações ocorridas ao longo dos séculos XX e XXI e os impactos para o serviço social. A análise agrega um complexo de mediações essenciais para elucidar o significado das determinações da alienação do trabalho no exercício profissional. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e Políticas neoliberais APRESENTAÇÃO A compreensão de mundo e sociedade somente poderá ser obtida por meio de uma análise histórica de determinados contextos econômicos e sociais que moldaram o povo no decorrer dos tempos. Além disso, é preciso explorar as contradições inerentes ao sistema capitalista que foram e são determinantes para a formulação do trabalho dos profissionais de Serviço Social diante de um cenário complexo e desafiador. Ao fazer essa análise, você deve contemplar as crises inerentes ao sistema capitalista, bem como seus impactos no mundo do trabalho e o avanço neoliberal ocorrido nas últimas décadas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os processos de reestruturação do sistema capitalista, suas crises, seus efeitos e os impactos causados na sociedade, em especial, na classe trabalhadora e no processo de trabalho do Serviço Social. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a importância da compreensão da totalidade, historicidade e contradições inerentes aos contextos sociais, econômicos, políticos e culturais para o Serviço Social. • Reconhecer a crise cíclica do capital e as metamorfoses no mundo do trabalho.• Explicar o neoliberalismo no Brasil.• INFOGRÁFICO Como resultante do avanço neoliberal e do processo de metamorfoses no mundo do trabalho, o Governo brasileiro aprovou, em 2017, a Reforma Trabalhista que altera, significativamente, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. A Lei n.º 13.467/2017 foi colocada em votação e aprovada pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal e, em seguida, sancionada pelo presidente Michel Temer em 13 de julho de 2017. Perceba que essa lei é resultante de um longo debate que se estendia no Legislativo desde 2016 e tomou força com o aumento dos índices de desemprego vivenciados no país desde 2014. O Governo, apoiado pelo setor patronal, defendia a necessidade da reforma com a justificativa de flexibilizar regras e modernizar a CLT com o objetivo de gerar mais empregos e reduzir os custos para contratação de mão de obra. Neste Infográfico, você verá um comparativo entre algumas das principais mudanças ocorridas pela reforma. Acompanhe. CONTEÚDO DO LIVRO O Serviço Social, como área que analisa e interage com os processos de transformação social, é resultante de contradições causadas pelo sistema capitalista e, talvez, um dos ramos em que há maior necessidade de buscar aprofundamento sobre os aspectos históricos de formação e mutação da sociedade, pois, é por meio da análise crítica desses aspectos que você, profissional dessa área, desenvolve a capacidade técnico-operativa. No capítulo Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais, da obra Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social – Projeto Ético Político, você verá um pouco mais sobre os contextos sociais que determinaram o surgimento e a formação do Serviço Social no Brasil, as crises do sistema capitalista e as mutações no mundo do trabalho, bem como o sistema neoliberal e seus impactos no Brasil após os anos 1990. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL – PROJETO ÉTICO POLÍTICO Anderson Barbosa Scheifler Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a importância da compreensão da totalidade, da historici- dade e das contradições inerentes aos contextos sociais, econômicos, políticos e culturais para o serviço social. � Reconhecer a crise cíclica do capital e as metamorfoses no mundo do trabalho. � Definir o neoliberalismo no Brasil. Introdução Neste capítulo, você estudará a historicidade e as contradições que com- põem os contextos sociais e suas relações com o serviço social, uma profissão reconhecida e responsável por analisar as múltiplas problemá- ticas que se apresentam no fazer profissional, identificando os avanços significativos nas diversas áreas e entendendo os períodos históricos que marcaram a época, como as crises do sistema capitalista, as mudanças no mundo do trabalho e as políticas neoliberais. Para tal, você conhe- cerá algumas considerações sobre temas pertinentes exemplificando os períodos que ocasionaram as mudanças no sistema capitalista e no trabalho, bem como o surgimento e a hegemonização do neoliberalismo na década de 1990 no Brasil. Contextos sociais, determinantes históricos e sua relação com o serviço social O surgimento do serviço social no Brasil é fruto de inúmeros fatores sociais, por exemplo, a relação com o sistema capitalista e a luta de classes gerada por ele frente à política econômica e às crises ocorridas ao longo do tempo. Assim, deve-se compreender os impactos que esse sistema causa no mundo do trabalho, entre eles, submissão, alienação e exploração do ser humano, considerando o trabalho uma mercadoria que tem os trabalhadores como seus personagens, que não acumulam riquezas e não concentram o capital, exceto o necessário para sua subsistência. Já na contemporaneidade, existem a proble- mática relacionada aos ataques dispensados ao Estado de Bem-estar Social e as conquistas da classe trabalhadora alimentadas pelo discurso neoliberal que as traz como sendo um exagero de privilégios que, excessivamente, oneram as relações trabalhistas entre empregador e empregado. Nesse contexto, há o papel do serviço social como profissional intelectual mediador das problemáticas na atualidade, dotado de capacidade técnica, para evitar o enfraquecimento e defender o proletariado nas relações de trabalho, incluindo nessa função uma racionalidade de comportamento adequada à rea- lidade capitalista. Para ter a compreensão e formação do pensamento crítico e analítico dos processos históricos que determinam a atuação desse profissional na contemporaneidade, é necessário fazer uma investigação bibliográfica que tenha como suporte teórico doutrinas que tratem da complexidade das relações sociais e econômicas, bem como autores reconhecidos no âmbito do serviço social e das ciências sociais. Para obter uma compreensão da totalidade de expressões que compõem o papel da profissão em face da sociedade capitalista, é necessário entender de que forma se reproduzem as relações sociais no meio. [...] a reprodução das relações sociais é a reprodução da totalidade do processo social, a reprodução de determinado modo de vida que envolve o cotidiano da vida em sociedade: o modo de viver e de trabalhar, de forma socialmente determinada, dos indivíduos em sociedade. Envolve a reprodução do modo de produção [...] Trata-se, portanto, de uma totalidade concreta em movimento, em processo de estruturação permanente. Entendida dessa maneira, a reprodução das relações sociais atinge a totalidade da vida cotidiana, expressando-se tanto no trabalho, na família, no lazer, na escola, no poder, etc., como também na profissão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 72–73). Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais2 A compreensão das realidades sócio-históricas é o que compõe a mate- rialidade que forma as bases para o surgimento e a atuação do profissional de serviço social. Portanto, deve-se observar a profissão sobre dois ângulos diferentes: o representativo da realidadevivida, retratada pela consciência de seus agentes expressa no discurso teórico-ideológico sobre o exercício profissional; e o ângulo que abarca a atuação profissional como atividade social, determinado pelo seu meio relacionando-se com as circunstâncias que envolvem a direção social que determina a prática. Essas dimensões nem sempre se relacionam de forma harmoniosa e complementar, tornando-se, às vezes, contraditórias e ocasionando uma problemática ainda comum no fazer profissional na contemporaneidade, a relação entre teoria e prática. A discrepância entre esses dois ângulos ratifica a necessidade da reflexão sobre a historicidade e o exercício do profissional, direcionando o processo de aprendizagem que se insere como possibilidade de superação das pro- blemáticas sociais apresentadas — sendo que a origem das ações sociais no Brasil teve início ainda no período colonial. As obras caridosas, mantidas pela igreja, têm longa tradição e remetem a uma realidade em que a ausência total de infraestruturas hospitalar e assistencial eram características do descaso do Império para com a população brasileira. Nesse ambiente, emergiram as iniciativas das ordens religiosas europeias, que se implantaram no país atuando diretamente com ações de intervenção voltadas à organização e ao controle do proletariado crescente com a onda imigratória, que, em seguida, formaria a grande força de trabalho urbano-industrial. A participação do clero no controle direto do operariado industrial remonta, por sua vez, ao surgimento das primeiras grandes unidades industriais, em fins do século passado [Século XIX]. É viva a presença de religiosos no próprio interior dessas unidades, que muitas vezes possuíam capelas próprias, onde diariamente os trabalhadores eram obrigados a assistir à missa e a outras liturgias. Nas Vilas Operárias sua presença é constante. No plano sindical, com o apoio patronal, desenvolvem iniciativas assistenciais (mútuas etc.) e organizacionais visando contrapor-se ao sindicalismo autônomo de inspiração anarco-sindicalista. Na imprensa operária independente são frequentes as críticas à posição patronal e divisionista desses movimentos, cujos aderentes e mentores são ironicamente qualificados de amarelos e urubus. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 165–166). Portanto, o surgimento do serviço social está intrinsicamente ligado às mazelas produzidas pela parcela burguesa da sociedade, sobretudo nas questões que envolvem o capitalismo e naquelas que se relacionam com o crescimento industrial do país, como Netto afirma: 3Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais Está solidamente estabelecida, na bibliografia que de alguma forma estuda o surgimento do Serviço Social como profissão — vale dizer, como prática institucionalizada, socialmente legitimada e legalmente sancionada —, a sua vinculação com a chamada “questão social”. Mesmo entre autores que não se notabilizam por uma abordagem crítica e analiticamente fundada do desenvolvimento profissional, não há dúvidas em relacionar o aparecimento do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, com as sequelas necessárias dos processos que comparecem na constituição e no envolver do capitalismo, em especial aqueles concernentes ao binômio industrialização/ urbanização, tal como este se revelou no curso do século XIX (NETTO, 1996, p. 13). Os contextos sociais de produção e reprodução da atividade social são definidos por meio dos vínculos estabelecidos entre os indivíduos e um período histórico, relacionando este aos modelos econômicos, políticos e culturais da sociedade, na qual essa produção e reprodução, de forma isolada, é uma abstração improvável. Na relação entre os seres humanos, observa-se, por meio do sistema de trocas de atividades, o nível de desenvolvimento dos meios de produção de determinado agrupamento social. Essas relações se estabelecem em certas condições históricas, nas quais os elementos de pro- dução se articulam de maneira específica, portanto, toda produção social é essencialmente histórica. Nesse contexto, tem-se o processo capitalista de produção, que expressa historicamente a maneira pela qual os seres humanos produzem as condições materiais para sua existência e para as relações sociais que permeiam esse processo. Portanto, a produção social não se refere à mera produção de objetos materiais, mas sim das relações sociais entre pessoas, classes sociais e todas as nuances de uma sociedade, que são personificadas pelas categorias econômicas dispostas nela. O capital é o determinante de toda relação e de todo o processo da vida social (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006). O surgimento e a efetivação do serviço social como profissão inserida no mercado de trabalho e uma alternativa para reduzir desigualdades sociais no sistema de acumulação capitalista são fruto das relações sociais e do processo de produção e reprodução do meio no qual se está inserido. Portanto, com- preender as contradições, a historicidade e os contextos sociais, econômicos, políticos e culturais é imprescindível para entender a profissão na sociedade e os instrumentos possíveis para qualificar sua atuação tendo como base os princípios estabelecidos no seu projeto ético-político. Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais4 Para saber mais sobre a importância da compreensão da historicidade e a teoria da dialética marxista, leia o artigo disponível no link a seguir (“Da teoria da história a história da teoria: a totalidade do trabalho na dialética marxista”). https://goo.gl/Pq2Pnb Crise cíclica do capital e transformações no mundo do trabalho A história mostra, ao longo do tempo, que o capitalismo sofreu crises cíclicas, tais eventos se devem à sua própria estrutura e aos meios de desenvolvimento que geraram muitos impactos, como os danos causados no âmbito social. Esse é o modelo econômico adotado pelo Brasil e hegemônico no mundo, assim sendo, ele recebe atribuições de operador e causador de inúmeras mudanças sociais. Nos últimos 30 anos, o país optou, por meio da Constituição de 1988, por um modelo econômico capitalista com foco na formatação de políticas públicas que assegurariam, em tese, a garantia dos mínimos sociais e a uni- versalização dos direitos básicos, como educação, saúde e previdência social. A ordem econômica na Constituição de 1988 define opção por um sistema, o sistema capitalista; — há um modelo econômico definido na ordem econômica na Constituição de 1988, modelo aberto, porém, desenhado na afirmação de pontos de proteção contra modificações extremas, que descrevo como modelo de bem-estar; — a ordem econômica na Constituição de 1988, sendo objeto de interpretação dinâmica, poderá ser adequada às mudanças da realidade social, prestando-se, ademais, a instrumentá-las (GRAU, 2004, p. 314). Portanto, o modelo capitalista necessita da divisão de classes para manter a sua ordem e preconiza pela existência do patrão, proprietário dos meios de produção, e do proletário, trabalhadores assalariados que vendem sua força de trabalho. O capitalista nada mais é do que a pessoa que detém o capital e controla os meios de produção, diferentemente dos sujeitos que somente oferecem a força do seu trabalho, chamados de assalariados. O capitalismo é caracterizado por quatro esquemas institucionais e compor- tamentais: a produção de mercadorias, orientada pelo mercado; a propriedade 5Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não pode existir a não ser que venda sua força de trabalho nesse mercado; e um comportamento individualista, aquisitivo, maximizador da maioria dos indi- víduos no sistema econômico. Assim, ele é o reflexo da cultura consumista, da necessidade do ser humano em consumir. Esse consumo desenfreado gera um problema social, a constante insatisfação com o ter, causando outrasconsequências na sociedade e o uso ilimitado dos recursos naturais. Na busca por maiores recursos financeiros, trabalha-se cada vez mais, em exaustivas jornadas laborais, o que gera um ciclo vicioso e incessante pelo ter, como elucida Hunt (1981, p. 29): A maioria dos trabalhadores vê como causa desses sentimentos sua própria incapacidade de comprar mercadorias suficientes para fazê-los felizes. Mas, na medida em que recebem salários maiores e compram mais mercadorias, verificam que o sentimento geral de insatisfação e ansiedade continua. Então, os trabalhadores tendem a concluir que o problema é que o aumento dos salários é insuficiente. Como não identificam a verdadeira origem de seus problemas, caem num círculo asfixiante, onde quanto mais se tem, mais necessidade se sente; quanto mais rápido se corre, mais devagar se parece andar; quanto mais arduamente se trabalha, maior parece ser a necessidade de se trabalhar cada vez mais arduamente. Logo, é correto afirmar que o capitalismo se sustenta no consumo, o as- salariado consome e enriquece o capitalista, que acumula o capital. O traba- lhador tem como moeda de troca apenas sua força laboral, uma mercadoria relevante, e recebe um valor monetário utilizado para o consumo, ao trocá-la por dinheiro, faz a substituição do valor de uso (mão de obra) pelo valor em geral (monetário), como demonstrado a seguir: A origem (gênese) do conceito de dinheiro se dá pelo desenvolvimento das formas do valor; mais especificamente, pelo desenvolvimento da contradição entre o valor e o valor de uso. De fato, na forma equivalente geral (dinheiro), os valores distinguem-se não só de seus próprios valores de uso, como também de qualquer outro, uma vez que o equivalente geral se apresenta apenas como representante do valor (CARCANHOLO, 1998, p. 35). O sistema capitalista é voltado ao lucro e ao acúmulo de capital na forma geral (dinheiro). No entanto, o capitalista, dono dos meios de produção, busca sempre reduzir os custos desta, investindo em tecnologia ou procurando por sistemas mais eficientes de como produzir, o que causa uma menor utilização da mão de obra e gera uma dicotomia. Ao retirar de cena assalariados que perdem os postos de trabalho, por meio da constante atualização da produção, e ficam Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais6 sem o poder de compra, gera-se crises cíclicas pela redução no consumo, e o lucro do detentor dos meios de produção cai pelos seus próprios atos, como demonstra Pedro (1988, p. 304): No sistema capitalista — voltado para o lucro — há uma tendência apa- rentemente contraditória: a relação da taxa de lucro. O capitalista, dono da indústria, tende a aplicar na aquisição de novas máquinas, mas o progresso técnico gera a dispensa de mão-de-obra. Aliado a isso, sem o aumento real dos salários diminui o poder de compra da população. Sem esse poder de compra, o lucro do capitalista diminui. Assim, em meados da década de 20 a situação da economia norte-americana era a seguinte: a produção, cada vez mais automatizada, crescia violentamente, enquanto o consumo desses produtos não acompanhava o mesmo ritmo. Essas alterações negativas no mercado de trabalho são um dos principais fatores das crises cíclicas do sistema capitalista, pois, quando se retira ou diminui o poder de compra das massas operárias, isso afeta negativamente o mercado, a exclusão do assalariado da economia gera a diminuição do lucro, como fica explícito nas palavras de Marx (1983, p. 24): [...] a razão última de todas as crises reais é sempre a pobreza e a restrição ao consumo das massas em face do impulso da produção capitalista a desenvolver as forças produtivas como se apenas a capacidade absoluta de consumo da sociedade constituísse seu limite. A retirada do poder de consumo do assalariado, demanda novas políticas do sistema econômico para fomentar os meios de produção ativos, que impul- sionam a economia, evitando a insustentabilidade do sistema. As crises do capitalismo são uma parte intrínseca do sistema econômico e, ao longo do tempo, algumas obtiveram grande destaque e causaram impactos mundiais. � Grande Depressão: a crise de 1929 foi uma das maiores crises econômicas do mundo. Com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, ela começou entre diversos fatores indicativos de quebra, mas somente aconteceu na “quinta-feira negra”, no dia 24 de outubro de 1929, a partir da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange. Ela ainda levou instituições bancárias à falência e causou crises agrárias, quedas drásticas no produto interno bruto dos países mais 7Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais influentes do sistema, crise na produção industrial global, redução no preço de ações, etc. Com a desvalorização da moeda norte-americana, o mundo também sofreu uma enorme crise. � Crise do petróleo: essa crise foi desencadeada a partir do déficit de oferta do petró- leo, que gerou conflitos entre os processos de nacionalização dos países envolvidos em regiões petrolíferas. Entre 1956 e 1991, o mundo sofria com essa prolongada recessão econômica, que se relacionou com os conflitos dos produtores árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a qual contava com os maiores produtores — como Arábia Saudita, Irão, Iraque, Kuwait e Venezuela — e envolvia uma reivindicação devido à política de altos custos das sete irmãs, que seriam as maiores empresas petroleiras ocidentais: Standard Oil, Royal Dutch Shell, Mobil, Gulf, British Petroleum (BP) e Standard Oil, da Califórnia. A crise ocorreu em várias fases, encerrando-se após a Guerra do Golfo. � Grande Recessão: a crise capitalista mais recente ocorreu em 2008, com a quebra do tradicional banco de investimento norte-americano, o Lehman Brothers. A falência da instituição gerou um efeito dominó de quebra de vários bancos inter- nacionais, conhecido como a crise dos subprimes. Já, em 2001, o colapso da bolha da tecnologia Nasdaq, a “bolha da internet”, foi um dos fatores mais influentes. As maiores características da crise foram as perdas no mercado imobiliário e a falta de liquidez bancária. Fonte: Maiores... (2014, documento on-line). Neoliberalismo no Brasil O ideário neoliberal tem sido, e ainda é, a grande tendência econômica mundial desde o final do século XX. Esse projeto expandiu-se e colocou-se como uma solução política, imposta muitas vezes pelos países desenvolvidos para as constantes crises das nações emergentes, sendo uma possibilidade de transpor esses problemas por meio de técnicas inovadoras de gestão para priorizar o mercado e o capital em detrimento das políticas sociais e do Estado. Por meio desse sistema, adotou-se a prática de redução do aparato esta- tal, tido como corrupto e inapto, para gerir suas necessidades e atender aos interesses da população, transferindo as responsabilidades para o aparato privado. Na maioria das situações de crise e descaso do Estado, existe velado um sentimento intencional de sucatear os serviços públicos prestados por ele, os quais, quando ineficientes, passam a ser questionados e desacreditados pela população que, ao encontro dos interesses do mercado, apoia seus processos de desestatização e privatização. Para Comblin (2001), o ideário neoliberal Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais8 visa desestatizar as empresas públicas e entregá-las às privadas, para que estas retirem o lucro das instituições e invistam no sistema de especulação mundial. O Estado neoliberal não pode interferir nos preços e nos salários. Tudo deve ficar por conta do mercado. Na prática, o que acontece é sempre a privatiza- ção dos lucros e a coletivização das perdas. Se um banco entra em falência, o Estado paga, ou seja, os cidadãos pagam. Na hora dos lucros, os cidadãos não têm participação (COMBLIN, 2001, p. 22). A teoria neoliberal está ligada ao conceitode globalização, que fornece mecanismos que privilegiam a dominação das grandes nações, como Estados Unidos da América, União Europeia e Japão, por meio de suas empresas em favor de seus Estados. Comblin (2001) destaca que as relações internacio- nais operam pelo sistema de globalização do mercado, o qual age de forma aberta para que todos que se interessarem possam operar nele. Vendedores e compradores são livres e partem de condições iguais de negociação, e as nações também o são para realizarem intercâmbios de bens e serviços, sendo harmonizados pela “mão invisível” do mercado. Na concepção dos defensores dessa teoria, o mercado é compreendido pelo mundo todo, assim, não existem razões para estabelecer fronteiras para seu funcionamento. Nas últimas décadas, grandes transformações ocorreram na sociedade moderna, cujo sistema neoliberal e a reestruturação produtiva na era de acu- mulação flexível trouxeram inúmeras mazelas decorrentes do processo de acúmulo do capital, entre elas, o desemprego, a precarização do trabalho, a exclusão social e a não responsabilização do Estado para com os sistemas de proteção social. No Brasil, o modelo neoliberal foi implementado a partir dos anos de 1990, cujos princípios estavam fundamentados nas diretrizes estabelecidas pelo Consenso de Washington. Esse encontro, organizado por economistas e representantes das instituições financeiras internacionais, ocorreu no final da década de 1980, na capital norte-americana, e tinha por objetivo determinar diretrizes para o combate da crise nos países latino-americanos. Entre suas deliberações, estavam a redução do papel do Estado na economia, a amplia- ção do sistema de privatização de empresas estatais, a flexibilização de leis trabalhistas, o combate aos sindicatos, a redução da carga tributária fiscal e a abertura para o comércio mundial. O ex-presidente Fernando Collor foi quem iniciou o processo de implantação da cartilha neoliberal no início dos anos de 1990, por meio do Plano Collor, que consistia em uma série de medidas para controlar a inflação, dando início 9Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais às primeiras iniciativas de privatização no país. Com o seu impeachment, assume o vice Itamar Franco que, de forma menos expressiva, seguiu com as medidas econômicas neoliberais que teriam seu ápice no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), que era seu Ministro da Fazenda. Seguindo os preceitos da cartilha neoliberal, FHC impõe medidas drásticas que causam um aumento na exploração da força de trabalho, um enxugamento nos postos de emprego, as mudanças nos processos tecnológicos, a flexibi- lização, a desregulamentação e as novas formas de gestão produtiva. Tais medidas, aliadas a um processo de privatização jamais visto na história do país, também atendiam aos requisitos do mercado, que necessitava buscar uma reordenação de seus processos produtivos devido à manutenção dos lucros e da renovação do sistema capitalista. Os setores de habitação, saúde, assistência, transporte, educação e ou- tras áreas também foram bastante afetados nesse período, o que ocasionou a necessidade de reestruturação do modelo estatal de prestação de serviços. Assim, delegou-se muitos desses serviços para a sociedade, a qual, por meio de organizações não governamentais (ONG), associações e iniciativas civis, passou a operar em áreas das quais o Estado se eximiu de suas funções. Portanto, neste período, emerge uma nova formatação das relações entre Estado e sociedade civil. Os ajustes econômicos, as reformas institucionais e a política de privatizações passam a responder e trabalhar em vista dos interesses do mercado e do empresariado, reduzindo o aparato estatal, cor- tando os direitos trabalhistas e proibindo a intervenção do trabalhador na regulação das condições de produção material e na sua relação de trabalho com os empresários. Devido a essas mudanças, o serviço social sofreu profundas mudanças em seu projeto ético-político, para poder enfrentar as novas problemáticas apresentadas por uma sociedade que ainda segue em constante processo de transformação. Para conhecer mais modelos de Estado, o neoliberalismo, as políticas públicas e o Brasil dos anos de 1990 e 2000, leia o artigo disponível no link a seguir (“O Estado brasileiro contemporâneo: liberalização econômica, política e sociedade nos governos FHC e Lula”). https://goo.gl/eWShdA Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais10 CARCANHOLO, M. D. A importância da categoria valor de uso em Marx. Revista Pesquisa e Debate: revista de estudos pós-graduados em Economia Política da PUC-SP, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 17-43, 1998. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/rpe/article/ view/11757>. Acesso em: 2 dez. 2018. COMBLIN, J. O neoliberalismo: ideologia dominante na virada do século. 3. ed. Petró- polis: Vozes, 2001. 187 p. GRAU, E. R. A ordem econômica na constituição de 1988. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. 351 p. HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1981. 541 p. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez; Lima: CELATS, 2006. 380 p. MAIORES crises do capitalismo. Colégio Web, [s.l.], 14 out. 2010. Disponível em: <https:// www.colegioweb.com.br/historia/maiores-crises-capitalismo.html>. Acesso em: 2 dez. 2018. MARX, K.; ENGELS, F. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. v. 2. NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e serviço social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996. 165 p. PEDRO, A. História geral. São Paulo: FTD, 1988. 287 p. Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Ação Social. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Casa Civil – Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm>. Acesso em: 2 dez. 2018. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Norma Operacional Básica NOB/SUAS: construindo as bases para a implantação do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2005. 84 p. Disponível em: <http://www.assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-SUAS. pdf>. Acesso em: 2 dez. 2018. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução CFESS nº 273/93 de 13 de março de 1993. Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências. CFESS, Brasília, 1993. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/ resolucao_273-93.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2018. 11Crise capitalista, metamorfoses no mundo do trabalho e políticas neoliberais Conteúdo: DICA DO PROFESSOR O neoliberalismo é o sistema político que melhor representa e atende às necessidades do sistema capitalista global. Ao fazer uma breve análise, já é possível você perceber que, desde o seu surgimento e das primeiras experiências implementadas, diversas conquistas e crises foram perpassadas pelos governos optantes por esse modelo. Nesta Dica do Professor, você acompanhará uma retomada sobre o histórico do neoliberalismo ao nível global com foco em algumas experiências realizadas, seus representantes, seus opositores e suas perspectivas futuras. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Genealogia das teorias marxistas de crise No artigo a seguir, informe-se acerca da genealogia das teorias marxistas sobre os processos de crise do capitalismo e a importância da compreensão desses processos para o fazer profissional dos assistentes sociais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Adeus ao trabalho? - As metamorfoses do mundo do trabalho O livro Adeus ao trabalho?, de RicardoAntunes, é um dos principais referenciais teóricos para o campo das Ciências Sociais no Brasil. A obra traz importantes apontamentos sobre as transformações ocorridas no mundo do trabalho indo na contracorrente do discurso da ideologia dominante no sistema capitalista. Para saber mais sobre as metamorfoses do mundo do trabalho, assista ao comentário sobre o livro. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O avanço neoliberal no contexto do Serviço Social: o projeto ético-político como instrumento de defesa Aprofunde os seus conhecimentos sobre as relações e os impactos do modelo neoliberal no processo de formação da profissão no Brasil por meio do artigo a seguir, que tem como objetivo analisar o trabalho profissional do assistente social sob a égide do capital em sua fase monopolista. No artigo, são tratados os elementos sócio-históricos, o paradigma neoliberal e a construção teórico-metodológica do projeto ético-político do Serviço Social. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Divisão social do trabalho na sociedade capitalista APRESENTAÇÃO Estudar a divisão do trabalho na sociedade capitalista implica compreender as mudanças que ocorreram no decorrer do processo histórico de desenvolvimento da própria humanidade. Por isso, ter conhecimento da centralidade do trabalho na vida do ser social e do processo de prévia- ideação para pensar a sua ação e construir os instrumentos para a satisfação de suas necessidades é a base para compreender a sociedade capitalista em sua totalidade. A análise da organização do trabalho na socidade capitalista expressa o estágio do desenvolvimento do trabalho, pois este passa a atender não apenas às necessidades humanas, mas às necessidades da ideologia dominante, no caso, a capitalista. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar o fracionamento do trabalho como estratégia do modelo neoliberal, com maior ênfase após a instauração do Consenso de Washington, que tornou o trabalho mais flexível. Você vai ver, ainda, uma análise da crise do capital e de seus desdobramentos de forma contextualizada, compreendendo as influências das crises cíclicas do capital na forma de organização do trabalho e da classe trabalhadora. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a função da organização do trabalho.• Identificar o fracionamento do trabalho como estratégia do modelo neoliberal.• Analisar a crise do capital e seus desdobramentos de forma contextualizada.• INFOGRÁFICO Instaurado a partir dos anos 1990, o neoliberalismo trouxe uma nova mentalidade para o modo de produção: o trabalho se apresenta flexibilizado, terceirizado e precarizado, a fim de atender às necessidades desse modo de produção. Neste infográfico, você vai ver como o retrocesso na legislação interfere diretamente na vida do empregado, precarizando, cada vez mais, o trabalho na atual sociedade. CONTEÚDO DO LIVRO A divisão do trabalho na sociedade capitalista trouxe uma nova configuração para o mundo do trabalho. Essa forma de organização veio para manter a ideologia dominante e assegurar os interesses do capital. Assim, podemos dizer que esta é uma das principais finalidades da divisão do trabalho na sociedade atual. No capítulo Divisão social do trabalho na sociedade capitalista, da obra Trabalho e Sociabilidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer um pouco mais sobre a organização do trabalho, seu fracionamento enquanto estratégia do modelo neoliberal e sobre a crise do capital e de seus desdobramentos. Boa leitura. TRABALHO E SOCIABILIDADE Laís Vila Verde Teixeira Divisão social do trabalho na sociedade capitalista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a função da organização do trabalho. Identificar o fracionamento do trabalho como estratégia do modelo neoliberal. Analisar a crise do capital e seus desdobramentos de forma contextualizada. Introdução O mundo capitalista transformou as relações de trabalho ao longo dos anos de forma a atender aos interesses do capital. Sob diversas perspec- tivas, os resultados disso para a classe trabalhadora foram pouco favorá- veis, especialmente devido aos processos de exploração e de alienação vivenciados por essa classe. Neste capítulo, você vai estudar a função social do trabalho. Você também vai ver como se dá o fracionamento do trabalho no contexto neoliberal. Além disso, vai analisar a crise do capital e os seus desdobra- mentos de forma contextualizada. 1 A função da organização do trabalho Para refl etir sobre a função que a organização do trabalho exerce na sociedade capitalista, é necessário considerar a evolução do capitalismo, que fornece os elementos que sustentam e infl uenciam o processo de trabalho ao longo da história (TEIXEIRA; SOUZA, 1985). Como você sabe, as relações de trabalho alteraram-se com o passar do tempo de forma a atender aos inte- resses da sociedade capitalista. Surgiram, então, a exploração do trabalho e o processo de alienação. Portanto, de diversas perspectivas, os resultados das alterações nas relações de trabalho não são satisfatórios para a classe trabalhadora. Lessa e Tonet (2011), ao considerarem o trabalho como resultado da ação humana em sua relação com a natureza, discutem, baseados em Marx, que toda ação do homem tem uma dimensão social; e as consequências das ações se refletem não somente na vida dos indivíduos, mas em toda a sociedade. Os autores acrescentam que essa articulação entre indivíduos e vida social é importante; tal relação é necessária e tem se tornado cada vez mais complexa conforme também se intensificam as relações entre o trabalhador e a sociedade capitalista em que está inserido. Na sociedade capitalista, o trabalho não pode ser analisado isoladamente dos princípios que norteiam o modo de produção dominante. Logo, pode-se afirmar que o trabalho deixa de atender às necessidades humanas para res- ponder à ideologia dominante, nesse caso a capitalista. Essa classe tem como objetivo principal assegurar riqueza e lucro. Lima e Azar (2018) comentam que o capitalismo associa-se com a produção de mercadorias, que são utilizadas para a troca e a venda, o que faz com que os donos dos meios de produção, os capitalistas, tenham o lucro como principal interesse. “Neste sentido, no sistema em questão, a mercadoria, sejam os produtos e a força de trabalho, assume um duplo caráter: valor de uso e valor de troca” (LIMA; AZAR, 2018, p. 525). Nesse contexto, fica de lado a função social daquilo que é produzido; em outras palavras, os autores defendem que os donos dos meios de produção não se interessam pelo significado que seu produto tem para a sociedade. Não é possível pensar o trabalho, da forma como foi se estruturando e se organizando ao longo dos anos, distanciado da evolução do capitalismo. Isso se deve ao fato de que essa separação deixa de lado aspectos fundamentais que influenciam a forma, o conteúdo e a direção que o processo de trabalho assume historicamente. “Tais aspectos, ao serem trazidos à tona, poderão melhor explicar os avanços (e recuos) que a organização da classe dos trabalhadores percorre desde a sua constituição, isto é, a partir da separação dos produtores de seus meios de produção” (TEIXEIRA; SOUZA, 1985, documento on-line). Divisão social do trabalho na sociedade capitalista2 Veja o que Marx e Engels (2007, p. 45) afirmam sobre a classe dominante: [...] as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daquelesaos quais faltam os meios da produção espiritual. As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que com- põem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da época. Os autores destacam o quanto a ideologia dominante influencia o trabalho e os trabalhadores. Por esse motivo, alguns defendem que o modo de produção capitalista favorece a alienação da sociedade. Além das razões já destacadas, o “[...] desenvolvimento das forças produtivas sob o capital significa a intensificação da capacidade de os homens produzirem, também, desumanidades em escala ampliada” (LESSA; TONET, 2011, p. 66). Ademais, “[...] crescentes riqueza e miséria, desenvolvimento cada vez maior das capacidades humanas e ao mesmo tempo de desumanidades, estes são os dois polos indissociáveis do desenvolvi- mento do modo de produção capitalista” (LESSA; TONET, 2011, p. 66). A forma como o trabalho está organizado tem como finalidade atingir os ob- jetivos da classe dominante. Pode-se considerar que a divisão do trabalho sempre esteve presente na sociedade e, de acordo com Lessa e Tonet (2011), refere-se exclusivamente ao trabalho desenvolvido pelo homem. Marx Engels (2007, p. 72) apontam que a divisão social do trabalho existe desde o início da humanidade, com “[...] a divisão das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, o que gera a fragmentação do capital acumulado em diversos proprietários e, com isso, a fragmentação entre capital e trabalho, assim como as diferentes formas de propriedade”. Nessa perspectiva, os autores complementam que, “[...] quanto mais se desenvolve a divisão do trabalho e a acumulação aumenta, tanto mais aguda se torna essa fragmentação. O próprio trabalho só pode subsistir sob o pressuposto dessa fragmentação” (MARX; ENGELS, 2007, p. 72). 3Divisão social do trabalho na sociedade capitalista Bottomore (2012, p. 185) aponta que, como define Marx, a divisão social do trabalho pode ser entendida como a “[...] totalidade das formas heterogêneas de trabalho útil, que diferem em ordem, gênero, espécie e variedade”. Bottomore (2012, p. 187) acrescenta que a análise de Marx sobre o capitalismo demonstra: [...] como e por que os produtos do trabalho humano dominam os próprios produtores, como o trabalho morto, objetificado em sua existência como capital, exerce seu domínio sobre o trabalho vivo mediante as leis aparente- mente objetivas da oferta e da procura. E um dos corolários disso é que uma divisão do trabalho é imposta aos indivíduos pela sociedade que eles mesmos criaram. Ora, a produção é sempre, naturalmente, uma atividade de objeti- vação do trabalho em produtos, mas as relações de classes sob as quais essa objetivação se faz são fundamentais para se determinar que enquanto existir uma clivagem entre o interesse comum e o particular, enquanto, portanto, a atividade não for dividida voluntariamente, mas naturalmente, a própria criação do homem converte-se em um poder estranho que a ele se opõe e que o escraviza em lugar de ser por ele controlado. Luz (2008), em uma análise embasada em Marx, pontua que a divisão social do trabalho gera um crescente bem-estar a uma parcela da sociedade que exclui o trabalhador. Ainda segundo o autor, a divisão social do trabalho impossibilita que os trabalhadores desfrutem das conquistas. Afinal, por meio de tal divisão, eles muitas vezes são reduzidos à condição de máquinas, com as quais podem, inclusive, competir. Como você viu, a divisão social do trabalho possui funções na sociedade capitalista, como ampliação dos lucros e aumento da produtividade, o que só acontece por meio da exploração e da alienação do trabalhador. Assim, é por meio da divisão social do trabalho que se efetivam essas relações, cujo impacto favorável recai apenas sobre o empregador. 2 O fracionamento do trabalho como estratégia do modelo neoliberal O neoliberalismo, entendido como uma “[...] reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar” (ANDERSON, 1995, p. 1), surgiu após a Segunda Guerra Mundial, em países da Europa e da América do Norte, locais em que imperava o capitalismo. No Brasil, as ideias neoliberais se difundiram a partir de 1990, com o presidente Fernando Collor de Mello, em um momento marcado especialmente pelo fechamento e pela privatização de várias empresas. Nesse período, o modelo neoliberal foi se constituindo Divisão social do trabalho na sociedade capitalista4 e consolidando o seu programa político, como não poderia deixar de ser, no próprio processo de sua implementação, como resultado das disputas políticas entre as diversas classes e frações de classes. Em 1989, foi formulado o Consenso de Washington, que definiu um conjunto de políticas econômicas para acelerar o desenvolvimento de vários países. Tais políticas foram utilizadas em todo o mundo para consolidar o modelo neoliberal e foram adotadas pelo Fundo Monetário Internacional no ano seguinte. Assim, diversos países em desenvolvimento passaram a implementar programas de ajustamento financeiro e reformas nos modelos econômicos (REIS, 2019). Na prática, o neoliberalismo se consolidou no Brasil com a implantação do Plano Real, em 1993, e com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, como presidente da República, em 1995. Esses elementos foram essenciais para a constituição da hegemonia do modelo neoliberal na sociedade brasileira. Em meio a tantas transformações, o mundo do trabalho vivenciou importantes impactos, e a sociedade presenciou a materialização do modelo de produção toyotista. Nesse sentido, Hobold (2002) destaca que o capitalismo se molda ao contexto histórico vigente com o intuito de atingir os seus objetivos e suprir as suas necessidades, a fim de preservar a sua hegemonia. Veja: [...] nessa nova fase do capitalismo, o toyotismo acaba por fragilizar a resis- tência dos trabalhadores, tendo como consequência o aumento dos desníveis sociais e a miséria no mundo, em razão da forte concentração de renda, carac- terísticas principais, próprias deste novo modelo de produção e acumulação de capital (HOBOLD, 2002, documento on-line). Esse modelo de produção buscava oferecer ao sistema capitalista maior agilidade na produção e aumento dos lucros, além de responder ao momento vivenciado pelo capitalismo (HOBOLD, 2002). Assim: [...] o toyotismo pode ser tomado como a mais radical e interessante ex- periência de organização social da produção de mercadorias, sob a era da mundialização do capital. Ela é adequada, por um lado, às necessidades da 5Divisão social do trabalho na sociedade capitalista acumulação do capital na crise de superprodução, e, por outro, ajusta-se à nova base técnica da produção capitalista, sendo capaz de desenvolver suas plenas potencialidades de flexibilidade e de manipulação da subjetividade (HOBOLD, 2002, documento on-line). O toyotismo se reflete no modo de organização da produção, que deve responder ao novo momento do capitalismo. Diferentemente do que ocorreu em outros modelos, no toyotismo percebeu-se que o saber intelectual do trabalho poderia ser melhor explorado e mais bem utilizado a favor dos interesses do capital. Nesse sentido, considere o seguinte: [O toyotismo] é [...] aquele momento em que o dispêndio de energia, para lembrar Marx, torna-se dispêndio de energia intelectual,que o capital toyo- tizado incentiva para dele também se apropriar, numa dimensão muito mais profunda do que o taylorismo e o fordismo fizeram. Somente por isso é que o capital deixa, durante um período da semana (em geral uma ou duas horas), os trabalhadores aparentemente “sem trabalhar”, discutindo nos Círculos de Controle da Qualidade. Porque são nesses momentos que as ideias de quem realiza a produção florescem indo além dos padrões dados pela Gerência Científica —, e o capital toyotizado sabe se apropriar intensamente dessa dimensão intelectual do trabalho que emerge no chão da fábrica e que o taylorismo/fordismo desprezava (ANTUNES, 2000, p. 204, acréscimo nosso). Além das características já mencionadas, pode-se dizer que esse modelo de produção buscava garantir que o capitalista tivesse suas necessidades atendidas em menor tempo, com maior qualidade e tornando o trabalhador polivalente. Essa flexibilização do trabalho e do trabalhador abriu espaço para a realização de trabalho em equipe, partindo do pressuposto de que haveria um número menor de trabalhadores ampliando a sua capacidade produtiva por meio da realização de horas extras ou contratos temporários de trabalho (HOBOLD, 2002). Como você viu, na sociedade capitalista, o trabalho é segmentado, o que se caracteriza como estratégia do neoliberalismo para a manutenção da ideologia dominante. Destaca-se que a divisão do trabalho sempre existiu. Inicialmente, apresentava-se em formas distintas das atuais, mas que foram necessárias para a manutenção dos interesses do capitalismo e o desenvolvimento do neoliberalismo. Divisão social do trabalho na sociedade capitalista6 3 A crise do capital e os seus desdobramentos Quando se fala em crise no mundo do capital, deve-se considerar alguns momentos históricos. No contexto da crise da economia política internacional, Netto (2012) aponta que a maior potência capitalista mundial, os Estados Unidos, também sofreu impactos. O autor menciona que o País registra um índice elevado de pessoas em situação de pobreza (50 milhões de pessoas), a inexistência de um serviço público de saúde de qualidade, entre outros indi- cadores sociais importantes e expressivos. No entanto, os dados apresentados são considerados irrelevantes perante a situação do País, que registra um defi cit de 10% em seu Produto Interno Bruto (PIB) e defi cit acumulados na balança comercial. Os Estados Unidos, que já foram o maior exportador no comércio mundial, atualmente são o maior importador (NETTO, 2012). O autor acrescenta que nos últimos 30 anos a economia norte-americana cresceu vagarosamente, com exceção da indústria bélica e da segurança privada. No entanto, a importância dos Estados Unidos no cenário mundial permanece indiscutível e explicável: “[...] eles têm 560 (repito: 560) bases militares no exterior; o orçamento militar norte-americano consome 4,8% do PIB do país e é maior do que os dezessete maiores orçamentos militares do mundo” (NETTO, 2012, documento on-line). Netto (2012) apresenta ainda a situação do segundo núcleo de maior impor- tância no mundo capitalista mundial: Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha. No caso dos países europeus, o autor aponta que houve um crescimento econômico pequeno há aproximadamente duas décadas e que o desemprego se fez presente, sendo o número de desempregados superior à população economicamente ativa, ultrapassando 20% em alguns países. Veja o que afirma o autor: Na verdade, desde os anos 1990, em todos os continentes registraram-se crises financeiras, expressões localizadas da dinâmica necessariamente contradi- tória do sistema capitalista. E crises, não só as financeiras, fazem, também necessariamente, parte da dinâmica capitalista - não existe capitalismo sem crise. São próprias deste sistema as crises cíclicas que, desde a segunda dé- cada do século XIX, ele vem experimentando regularmente. E que, seja dito de passagem, não conduzem o capitalismo a seu fim: sem a intervenção de massas de milhões de homens e mulheres organizados e dirigida para a sua destruição, do capitalismo, mesmo em crise, deixado a si mesmo só resulta... mais capitalismo (NETTO, 2012, documento on-line). 7Divisão social do trabalho na sociedade capitalista Entre as crises no mundo capitalista, duas foram vivenciadas de forma integral, ficando conhecidas como crises sistêmicas. A crise sistêmica “[...] não é uma mera crise que se manifesta quando a acumulação capitalista se vê obstaculizada ou impedida. A crise sistêmica se manifesta envolvendo toda a estrutura da ordem do capital” (NETTO, 2012, documento on-line). Segundo o autor, a primeira das crises emergiu em 1873, na Europa, sendo marcada por uma forte depressão que perdurou 23 anos e só se encerrou em 1896. A segunda delas emergiu em 1929 e não envolveu apenas uma região geográfica determinada, mas o globo, durando 16 anos e encerrando-se no pós-guerra. Nesse contexto de crise, importantes transformações societárias ocor- reram, especialmente a partir da década de 1970, sendo responsáveis por redesenhar o perfil do capitalismo contemporâneo. Veja o que afirma Netto (2012, documento on-line): [...] está claro que, planetarizado, esse capitalismo apresenta traços novos e processos inéditos. Estas transformações estão vinculadas às formidá- veis mudanças que ocorreram no chamado “mundo do trabalho” e que chegaram a produzir as equivocadas teses do “fim da sociedade do traba- lho” e do “desaparecimento” do proletariado como classe, mudanças que certamente se conectam aos impactos causados nos circuitos produtivos pela revolução científica e técnica em curso desde meados do século XX (potenciada em seus desdobramentos, por exemplo, pela “revolução informacional” e pelos avanços da microeletrônica, da biologia, da física e da química). Mas são transformações que desbordam amplamente os circuitos produtivos: elas envolvem a totalidade social, configurando a sociedade tardo-burguesa que emerge da restauração do capital operada desde fins dos anos 1970. Desde então, o capitalismo vem construindo as respostas para a sua própria crise estrutural. Com as transformações ocorridas no mundo do trabalho, tais respostas visam a implementar medidas de restauração diante da situação que se instalou. Entre essas mudanças, destaca-se o projeto neoliberal, resumido, de acordo com as palavras de Netto (2012, documento on-line), “[...] no tríplice mote da ‘flexibilização’ (da produção, das relações de trabalho), da ‘desregulamentação’ (das relações comerciais e dos circuitos financeiros) e da ‘privatização’ (do patrimônio estatal)”. No que se refere à sociedade civil, pode-se dizer que sofre diretamente os enfrentamentos da crise do mundo capitalista, vivenciando também crises visíveis (NETTO, 2012). Considera-se que a flexibilização, a precarização, a instabilidade, a privatização, a desregulamentação do trabalho e dos direitos Divisão social do trabalho na sociedade capitalista8 trabalhistas, a crescente rotatividade, as subcontratações, o trabalho temporário, a despolitização e a criminalização dos movimentos da classe trabalhadora são exemplos das implicações da crise no mundo do trabalho. Netto (2012, documento on-line) conclui que nos últimos 30 anos “[...] o modo de produção capitalista experimentou transformações de monta, que se refrataram distintamente nas diversas formações econômico-sociais em que se concretiza e que exigem instrumentos analíticos e heurísticos mais refinados”. Para o autor, dois aspectos merecem ser apontados: [...] 1ª) nenhuma dessas transformações modificou a essência exploradora da relação capital/trabalho; pelo contrário, tal essência, conclusivamente pla- netarizada e universalizada, exponencia-se a cada dia; 2ª) a ordem do capital esgotou completamente as suas potencialidades progres- sistas, constituindo-se, contemporaneamente, em vetor de travagem e reversão de todas as conquistas civilizatórias (NETTO, 2012, documento on-line). Como