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APANHADÃO INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS PEDAGOGIA UNIP 1 - Analise o gráfico, com o levantamento da renda familiar no Brasil em 2013, e as afirmativas a seguir. Considere que o salário mínimo na época da pesquisa era de R$678,00. I. Em 2013, a renda de 66% das famílias era de três salários mínimos. II. O fato de a soma dos percentuais indicados na pirâmede resultar em 96% mostra que o levantamento da renda mensal familiar foi incompleto. III. Pouco mais de um terço das famílias, em 2013, tinha renda mensal entre dois e cinco salários mínimos. Está correto o que se afirma em: A) I e III B) II e III C) III D) I E) II 2 - Leia o texto a seguir. A Complicada arte de ver Rubens Alves Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões _é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto." Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver". Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto- me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram". Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa _garrafa, prato, facão_ era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção". A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas _e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta- me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas". Por isso _porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"... Com base na leitura, analise as afirmativas. I. O tipo de professor sugerido pelo autor teria a função de reduzir o problema exposto por Alberto Caeiro quando afirma que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores". II. De acordo com o texto, a poesia causa perturbações e faz com que as pessoas não vejam a realidade tal qual ela é, como no caso de Drummond, que não viu a pedra. III. De acordo com o texto, as crianças gostam de brincar com o que veem e o papel do educador é fazer com que elas não percam o foco e aprendam a usar os olhos como ferramenta de conhecimento. IV. O autor propõe um novo modelo de educação, em que o professor consiga corrigir os desvios individuais da visão e revelar aos alunos a noção correta da realidade. É correto o que se afirma somente em: A) I C) III e IV B) I e III D) II e IV E) I e II 3. Considere o gráfico e analise as afirmativas a seguir. Número de imigrantes por sexo e área de destino, 2000 a 2015. I. A Ásia é o lugar de destino que, em 2015, apresentou a maior diferença entre o número de homens e o de mulheres imigrantes. II. O número de mulheres com destino à Europa cresceu mais no período de 2000 a 2010 do que no período de 2010 a 2015. III. O número de imigrantes que chegaram à Europa em 2015 foi de 35 milhões. É correto o que se afirma em: A) I, II e III. B) I e II, apenas. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I, apenas. 4. Leia a charge a seguir, de autoria de Laerte. Obs: Nas faixas, da esquerda para a direita, leem-se as seguintes frases: "100 salários mínimos", "50 salários mínimos", "10 salários mínimos" e "5 salários mínimos". Com base na leitura, analise as afirmativas. I. O objetivo da charge é criticar as faixas exclusivas de ônibus, que provocam mais congestionamentos nas cidades. II. A quantidade e o tipo de veículos em cada faixa ilustram a distribuição de renda da população brasileira. III. O objetivo da charge é mostrar a ascensão da classe média, que pôde conquistar o sonho de adquirir um automóvel nos últimosanos. IV. De acordo com a charge, a maioria das pessoas tem renda na faixa de 10 salários mínimos. Está correto o que se afirma apenas em: A) I e II B) II e IV C) III D) IV E) II 5. Leia o texto a seguir, fragmento da entrevista do filósofo Zygmunt Bauman ao periódico El País, e analise as afirmativas que seguem. As redes sociais são uma armadilha A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo.... As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia.... Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha. I. Segundo o texto, as redes sociais permitem que o indivíduo gerencie suas relações pessoais sem necessariamente lançar mão de aptidões sociais, como por exemplo, o diálogo. II. Para Bauman, as redes sociais são uma armadilha, porque nelas estão presentes pessoas mal-intencionadas. III. De acordo com o autor, as redes sociais constituem um espaço de muitas controvérsias e não há possibilidade de diálogo. Está correto o que se afirma somente em: A) I B) I e II C) I e III D) II e III E) II 6. Analise a ilustração e as afirmativas a seguir. I. A ilustração aponta o aspecto positivo das redes sociais na construção da autoestima. II. Segundo a ilustração, as curtidas recebidas na página da rede social representam a aprovação do outro, o que alimenta o ego do indivíduo e o torna mais sensível à coletividade. III. O foco da crítica da ilustração é o uso das redes sociais como forma de exposição da intimidade das pessoas. Assinale a alternativa correta. A) Nenhuma afirmativa é correta. B) Apenas a afirmativa I é correta. C) Apenas a afirmativa II é correta. D) Apenas a afirmativa III é correta. E) Apenas a afirmativa II e III são corretas. 7. Leia o trecho extraído do livro As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos... O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente determinados, do exterior, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo. Para cada um se atribuiu uma função, sempre em benefício do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento, e se tornou infinita a cadeia de sucessivas dependências, que têm muito mais do que dois elos e que, por certo, também compreende, dentro da América Latina, a opressão de países pequenos pelos maiores seus vizinhos, e fronteiras adentro de cada país, a exploração de suas fontes internas de víveres e mão de obra pelas grandes cidades e portos. Com base na leitura, analise as afirmativas. I. De acordo com o autor, historicamente, a América Latina serviu aos interesses dos países centrais do Capitalismo Internacional. II. Segundo o texto, os países da América Latina são explorados pela Europa e pelos Estados Unidos, mas são parceiros e solidários entre si. III. A organização social, econômica e política dos países latino-americanos, segundo Galeano, foi determinada de modo a atender à engrenagem do sistema capitalista internacional. IV. A metáfora das veias abertas refere-se à cordialidade e à pouca produtividade dos povos latinos, responsáveis pelo baixo desenvolvimento econômico desses países. É correto o que se afirma somente em: A) I, II e III B) I e II C) II, III e IV D) I e III E) I e IV 8. Considere a charge a seguir e assinale a alternativa que melhor a interpreta. A) Hoje em dia, as pessoas não querem ler, gostam apenas de aparelhos eletrônicos. B) Na vida, a pessoa precisa ter luz própria para achar o seu caminho. C) A leitura transforma o modo como vemos as coisas. D) O livro impresso é um objeto arcaico, que oferece um modo de leitura pouco atraente. E) As pessoas andam nas trevas até absorverem mensagens de caráter religioso, que ilumiam seus caminhos. 9. O Pisa, exame internacional desenvolvido e aplicado pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), avalia o letramento dos estudantes na faixa dos 15 anos nas áreas de matemática, ciências e leitura. Os resultados do Pisa são apresentados de acordo com a escala de desempenho da tabela a seguir, que mostra seis níveis de proficiência em função da pontuação obtida. Escala de desempenho dos participantes do Pisa. Alunos com menos de 358 pontos são classificados como "abaixo do nível 1", pois não conseguem compreender nem os enunciados mais simples do exame. A periodicidade do Pisa é trienal a ele já foi aplicado em 2000, 2003, 2006, 2009, 2012, e 2015. No gráfico a seguir, estão indicadas as pontuações em matemática de alguns países que participaram de todas as edições do Pisa, incluindo o Brasil. Com base nos dados fornecidos, analise as afirmativas. I. O Brasil já apresentou no Pisa, resultados em matemática classificados como "abaixo do nível 1", em escala de 1 a 6. II. Embora os resultados em matemática do Brasil e do México, nas diversas edições do Pisa, nunca tenham superado o nível 1, em escala de 1 a 6, esses países sempre mantiveram crescimento de pontuações. III. A Polônia apresentou significativo crescimento de pontuações em matemática no Pisa de 2009 para 2012, mas ainda assim, nunca superou o desempenho da China (Hong Kong). Está correto o que se afirma em: A) I, II e III B) II e III apenas C) I e III, apenas D) I, apenas E) III, apenas 10. Leia os quadrinhos a seguir. Com base na leitura, analise as afirmativas e assinale a alternativa correta. I. O objetivo dos quadrinhos é criticar o discurso da descartabilidade da sociedade contemporânea, na qual os objetos e as relações pessoais tendem à efemeridade. II. Os quadrinhos enaltecem a sociedade contemporânea, na qual problemas são resolvidos rapidamente com a substituição de produtos. III. A crítica dos quadrinhos concentra-se no Machismo, uma vez que os homens esperam que as mulheres resolvam seus problemas cotidianos. A) Apenas as afirmativas I e II são corretas. B) Apenas as afirmativas I e III são corretas. C) Apenas a afirmativa I é correta. D) Apenas a afirmativa II é correta. E) Nenhuma afirmativa é correta. 11. Leia a charge a seguir, de autoria de Laerte. Obs: Nas faixas, da esquerda para a direita, leem-se as seguintes frases: "100 salários mínimos", "50 salários mínimos", "10 salários mínimos" e "5 salários mínimos". Com base na leitura, analise as afirmativas. I. O objetivo da charge é criticar as faixas exclusivas de ônibus, que provocam mais congestionamentos nas cidades. II. A quantidade e o tipo de veículos em cada faixa ilustrama distribuição de renda da população brasileira. III. O objetivo da charge é mostrar a ascensão da classe média, que pôde conquistar o sonho de adquirir um automóvel nos últimos anos. IV. De acordo com a charge, a maioria das pessoas tem renda na faixa de 10 salários mínimos. Está correto o que se afirma apenas em: A) I e II B) II e IV C) III D) IV E) I 12. Leia o texto de Antônio Candido e analise as afirmativas a seguir. Em comparação com as eras passadas, chegamos a um máximo de racionalidade técnica e de domínio sobre a natureza. Isso permite imaginar a possibilidade de resolver grande número de problemas materiais do homem, quem sabe inclusive o da alimentação. No entanto, a irracionalidade do comportamento é também máxima, servida frequentemente pleos mesmos meios que deveriam realizar os desígnios da racionalidade. Assim, com a energia atômica podemos ao mesmo tempo gerar força criadora e destruir a vida pela guerra; com o incrível progresso industrial aumentamos o conforto até alcançar níveis nunca sonhados, mas excluímos dele as grandes massas que condenamos à miséria. I. O autor considera irracionais as tecnologias modernas. II. O autor destaca as contradições materiais do nosso tempo, afirmando que a racionalidade técnica não implica o fim das desigualdades sociais. III. O autor afirma que a racionalidade técnica, com o domínio sobre a natureza, é suficiente para resolver os problemas da humanidade. IV. O autor enaltece a evolução tecnológica, uma vez que ela melhora as condições de vida da população, possibilitando confortos nunca antes imaginados. É correto o que se afirma somente em: A) I e II B) II C) III e IV D) II e IV E) II e III 13. Leia a charge e trechos de um ensaio, escrito pelo professor Eduardo Marks, publicado pela filósofa Márcia Tiburi. Obs: No primeiro quadrinho, vê-se uma caricatura do filósofo René Descartes (1596- 1650) e a frase conhecida como a máxima do seu pensamento. No campo das pós-verdades; ou quando o verde também é azul Eduardo Marks de Marques Até meados de novembro de 2016, se alguém me falasse em “pós-verdade”, talvez a minha referência mental imediata fosse ao trabalho realizado pelo Ministério da Verdade na Inglaterra (já nem tão) despótica criada por George Orwell em seu romance 1984. O referido ministério era responsável por promover ações de propaganda para a manutenção do partido no poder e, talvez mais sintomaticamente para os tempos em que vivemos, rever e reescrever a história para que ela sempre esteja alinhada aos interesses presentes do poder. Para mim, “pós-verdade” era isso: transformar o passado a partir dos alinhamentos ideológicos do presente. No entanto, com a nomeação do termo como a palavra do ano pelos lexicógrafos do Oxford Dictionaries, me vi obrigado a rever uma série de posições. Conforme a definição, “pós-verdade” relaciona-se ou denota circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos importantes em moldar a opinião pública do que apelos emocionais e crenças individuais. Ao ler tal definição, fiquei duplamente surpreso; primeiramente, porque ela consegue, in a nutshell, resumir bem os últimos anos, ao menos no Ocidente. Quem frequenta as redes sociais como eu não consegue mais ignorar não só a polarização maniqueísta pela qual a sociedade está passando, mas, também (e, quiçá, como sua causa e consequência ao mesmo tempo) essa tentativa voraz de transformar vivências e opiniões pessoais em experiência universal e senso comum. A pós verdade surge para dar nome a essa prática humana assustadora não para entendê-la e eventualmente domesticá-la, mas, sim, para validá-la. A pós- verdade é meta-pós-verdade em sua essência. Estamos perdendo a habilidade de refletir criticamente sobre a realidade que nos circunda e essa tentativa constante de transformar ontologia em epistemologia de forma direta é sua consequência mais maligna especialmente porque ela vem acompanhada de um complexo de deus. Quando alguém diz que algo que fere a existência de outros não deve ser desrespeitado porque é apenas a sua opinião, no fundo o que há é o que vemos no início do Livro de Gênesis, onde a palavra transforma-se em carne, em existência, em ação que não pode ser questionada e muito menos desrespeitada. No panteão judaico-cristão, onde há apenas a presença de um único deus, isso não representa qualquer problema ou mesmo conflito de interesses (a não ser entre ele e seus subordinados) mas qualquer incursão num panteão politeísta serve para ilustrar o que vemos hoje: Cada um de nós que se apropria da pós-verdade transforma-se em um deus que quer ser superior aos demais deuses formados da mesma argila. Somos todos Titãs que desconhecemos a existência dos Olimpianos. Na língua japonesa, o kanji 青 pode referir-se ao mesmo tempo às cores azul e verde. O contexto faz com que saibamos a qual delas o ideograma aponta em determinado momento. A aceitação da polissemia faz com que haja harmonia em seu uso. Será que conseguiremos chegar em um estágio onde superemos as pós-verdades e consigamos voltar a conviver com dúvidas? I. A charge valoriza a evolução do pensamento humano e a superação das ideias cartesianas, promovida pelo acesso à informação que temos atualmente. II. A charge e o texto indicam que a pós-verdade é marcada pela supressão da razão, da reflexão, que é substituída pela mera crença. III. De acordo com o texto, na era da pós-verdade, opiniões e crenças pessoais tendem a ser divulgadas como verdades universais e alimentam o senso comum, que é desprovido de reflexão crítica. IV. O autor espera que a pós-verdade seja superada e, assim, as pessoas reaprendam, por meio da razão, a separar o azul do verde, eliminando dúvidas e divergências. Está correto o que se afirma somente em: A) I e II B) I e III C) II e III D) III e IV E) II e IV 14. Considere a ilustração e as afirmativas a seguir. I. O objetivo da ilustração é mostrar que os meios de comunicação tecem o conhecimento das crianças, contribuindo para um mundo mais bem informado. II. A ilustração é uma crítica aos meios de comunicação ultrapassados, que não promoviam o acesso à informação como a internet faz atualmente. III. A ilustração sugere que os meios de comunicação de massa provocam perda de autonomia do raciocínio. Está correto o que se afirma somente em: A) I B) II C) III D) I e III E) II e III 15. Considere o gráfico e analise as afirmativas a seguir. Número de imigrantes por sexo e área de destino, 2000 a 2015. I. A Ásia é o lugar de destino que, em 2015, apresentou a maior diferença entre o número de homens e o de mulheres imigrantes. II. O número de mulheres com destino à Europa cresceu mais no período de 2000 a 2010 do que no período de 2010 a 2015. III. O número de imigrantes que chegaram à Europa em 2015 foi de 35 milhões. É correto o que se afirma em: A) I, II e III B) I e II apenas C) II e III apenas D) I e III apenas E) I, apenas 16. Considere a charge a seguir, que parodia o famoso quadro O Grito, de Edward Munch. I. A charge aponta que o motivo do desespero do personagem é o apelo excessivo dos candidatos políticos pelo voto. II. A charge apresenta intertextualidade com o quadro e assume uma postura de crítica ao sistema democrático, que impõe ao cidadão a obrigação do voto. III. A charge é uma defesa do pluripartidarismo, que permite a candidatura de políticos com ideologias diferentes. Está correto somente o que se afirma em: A) I e III B) II C) III D) I e II E) I 17. Leia o texto a seguir. Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meusprazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto... Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementares", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver» Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto- me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram". Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção» A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que veem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta- me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas". Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"... Com base na leitura, analise as afirmativas. I. O tipo de professor sugerido pelo autor teria a função de reduzir o problema exposto por Alberto Caeiro quando afirma que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores". II. De acordo com o texto, a poesia causa perturbações e faz com que as pessoas não vejam a realidade tal qual ela é, como no caso de Drummond, que não via a pedra. III. De acordo com o texto, as crianças gostam de brincar com o que veem e o papel do educador é fazer com que elas não percam o foco e aprendam a usar os olhos como ferramentas de conhecimento. IV. O autor propõe um novo modelo de educação, em que o professor consiga corrigir os desvios individuais da visão e revelar aos alunos a noção correta da realidade. É correto o que se afirma somente em: A) I B) I e III C) III e IV D) II e IV E) I e II Rubens Alves As redes sociais são uma armadilha Eduardo Marks de Marques
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