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APRENDIZAGEM E CONTROLE MOTOR Beatriz Paulo Biedrzycki Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Determinar fatores e instrumentos que facilitam e reforçam a aprendizagem. Identificar a influência de diferentes formas de apresentação da in- formação — demonstração e instrução verbal — na aprendizagem de uma habilidade motora. Comparar o nível de aprendizado de um movimento realizado por meio da demonstração do gesto motor e por meio da instrução verbal. Introdução A aprendizagem está presente no nosso cotidiano, desde o nascimento até a morte, passando pelo simples ato de caminhar até pela habilidade complexa que envolve quicar uma bola. Todos esses movimentos vo- luntários podem ser aprendidos em qualquer momento da vida. Existem diversas maneiras de se aprender uma habilidade motora nova ou, ainda, de modificar um padrão de movimento, mas algumas apresentam maior eficácia do que outras. Neste capítulo, você vai aprender os fatores e instrumentos que re- forçam a aprendizagem, vai reconhecer os modelos de apresentação da informação — demonstração e instrução verbal — no processo de aprendizagem de uma habilidade motora e, ainda, vai comparar o nível de aprendizado de um movimento realizado a partir da demonstração do gesto motor e da instrução verbal. Fatores e instrumentos que facilitam e reforçam a aprendizagem A aprendizagem é um fenômeno constante que acontece durante toda vida. Aprender signifi ca adquirir conhecimentos e habilidades, bem como a capacidade de disponibilizá-los na memória para detectar e enfrentar problemas e oportunidades futuras (BROWN; ROEDIGER III; MCDA- NIEL, 2018). Para que a aprendizagem aconteça, é necessário que o con- teúdo envolvido seja fi xado em nossa memória, de modo que, por meio de associações, consigamos voltar a lembrar da informação aprendida, não somente no momento ou dia em que a recebemos, mas, sim, por toda a vida. Uma maneira de auxiliar esse processo é a partir da prática periódica, a partir da qual buscamos a informação várias vezes e por diferentes rotas, reforçando, assim, as conexões. Cada vez que aprendemos uma coisa nova, o cérebro é modificado, gerando conexões. Sempre que o processo de aprendizagem tiver relevân- cia, sentido, a fixação do conteúdo será potencializada. Brown, Roediger III e McDaniel (2018) sugerem que atividades nas quais seja necessário realizar uma reflexão auxiliam as atividades cognitivas e ainda produzem uma aprendizagem mais forte, fazendo com que aconteça a recuperação, na memória, do conhecimento prévio, que é conectado com as novas experiências; assim, pode-se visualizar o que é possível fazer de modo diferente da próxima vez. O aprendizado à custa de esforço modifica o cérebro, formando novas conexões, permitindo a construção de modelos mentais e o aumento da competência. Existem três modelos para que a aprendizagem aconteça, os de prática intensiva, prática espaçada e prática intercalada. Veja, no Quadro 1, a definição de cada um desses modelos a partir de Brown, Roediger III e McDaniel (2018). Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução2 Fonte: Adaptado de Brown, Roediger III e McDaniel (2008). Prática intensiva Existe muita quantidade de prática em um curto espaço de tempo, ou seja, há repetição do movimento, sempre no mesmo contexto, na mesma posição. Está relacionada com a memorização. Há uma memorização rápida da informação, mas pode não ser possível utilizar a informação em outros contextos. Acontece de maneira rápida. Exemplo: um atleta de basquete que treina 100 lances livres por dia, na quadra onde treina, acerta todos, mas não acerta lances livres quando há jogos em outas quadras. Prática espaçada Existe o mesmo volume de prática que a intensiva, mas há um intervalo (horas, dias, semanas) entre os períodos de prática. Há tempo para que aconteça a retenção da informação, ou seja, ela dá o tempo que o cérebro precisa para assimilar as informações que lhe foram apresentadas para realizar o processo de aprendizagem. Por ser necessário mais tempo entre uma prática e outra, é mais longa, mas apresenta resultados mais duradouros quando comparada à prática intensiva. Prática intercalada Intercala a aprendizagem de duas ou mais habilidades alternadas. Acontece o processo de aprendizagem da habilidade A por um período curto; logo após, inicia-se o processo de aprendizagem da habilidade B. Esse modelo pode parecer lento e confuso, mas apresenta um bom resultado a longo prazo. Quadro 1. Modelos de prática de aprendizagem Vamos utilizar o exemplo dos saquinhos de feijão de Kerr e Booth (1978) para exemplificar esses modelos. Imagine a seguinte situação: um grupo de crianças de 8 anos de idade praticou o arremesso de saquinhos de feijão em cesta durante a aula de educação física. O professor dividiu a turma em dois grupos. O grupo A arremessou os saquinhos de feijão a uma distância de 90 cm. O grupo B variou a distância dos seus arremessos, indo de 6 cm até 120 cm. Após 12 semanas de treinamento, o professor realizou uma avaliação da aprendizagem dos seus alunos. Todos os estudantes deveriam realizar arremessos de saquinhos de feijão a uma distância de 90 cm, mas os estudantes que obtiveram melhor resultado na avaliação foram os alunos do grupo B, ou seja, os que treinaram arremessos de 60 e 120 cm, mas nunca arremessos de 90 cm. 3Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução Segundo as definições do Quadro 1, podemos perceber que a prática intensiva é mais rápida, os estudantes percebem que aprenderam melhor, mas ela pode ser facilmente esquecida. Você já deve ter passado por uma situação como esta: você tinha uma prova muito difícil e, por conta disso, passou horas e horas lendo e relendo os conteúdos; você fez a prova, conseguiu uma boa nota, mas, depois de tê-la realizado, foi como se esse conteúdo simplesmente sumisse do seu cérebro. Isso acontece porque, pela quantidade de prática, você memorizou o conteúdo, mas não o fixou na sua memória e, por isso, não conseguiu buscar o conteúdo quando precisou dele novamente — ou seja, não houve aprendizagem. O modelo da prática espaçada pode ser encontrado em escolas nas quais se tem um período por dia de uma disciplina, o que dá tempo para que o estudante organize as informações recebidas, criando as conexões para que, na próxima aula, consiga resgatar a informação, facilitando o processo de aprendizagem. Já no modelo da prática intercalada, é possível criar conexões diferentes a partir de diferentes estímulos, uma vez que essa metodologia permite que a capacidade de transferir uma aprendizagem por meio de uma situação e aplicá-la em uma situação diferente seja reforçada, acontecendo de uma ma- neira que nem mesmo os estudantes percebem-se competentes da habilidade. Isso, por vezes, faz com que professores a achem demorada e não a utilizem. Os modelos de prática espaçada e prática intercalada têm uma vantagem sobre o modelo de prática intensiva que é a variação de como a informação chega até o estudante, já que lhe facilitam o reconhecimento da informação, a sua interpretação em diferentes contextos e a resolução de problemas, se necessário, de diversas formas, com as opções que estão presentes em deter- minada situação. Para que nossa aprendizagem tenha valor prático, devemos ser especialistas em discernir “Que tipo de problema é este?”, a fim de que possamos escolher e aplicar a solução adequada (BROWN; ROEDIGER III; MCDANIEL, 2018). O tempo de prática não é o único fator, e a qualidade da prática também deve ser considerada. Mesmo que aconteça um grande volume de prática, ela não será efetiva se não houver qualidade. Assim, é importante estruturar ou organizar uma determinada quantidade de prática para maximizar a sua eficácia (SCHIMIDT; LEE, 2016). Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução4 O sono também éimportante para o processo de aprendizagem. Batista et al. (2018) perceberam que jovens que dormiam menos de 8 horas diárias e tinham uma percepção ruim da qualidade do seu sono relataram dificuldades de assimilação do conteúdo abordado em aula. Durante o sono, ocorre uma alta atividade cerebral, aumentando a estimulação de neurônios e auxiliando no processo de armazenamento de informações de longo prazo. De quantas maneiras podemos apresentar uma informação? A aquisição de habilidades motoras envolve a coordenação e o controle dos membros ou do próprio corpo em relação às restrições impostas pelo tempo- -espaço no alcance da meta. Para que esse processo aconteça, é necessário apresentar informações que serão reconhecidas pelo cérebro, e isso pode ser feito de diferentes maneiras. Mas como saber qual maneira escolher? Para res- ponder esse questionamento, é necessário entender que cada indivíduo é único e tem sua própria maneira de aprender, suas difi culdades e potencialidades. A instrução tem o objetivo de mostrar ao aluno a tarefa a ser realizada, ou seja, a sequência de movimentos que deve ser seguida para atingir o objetivo proposto. O aluno, ao receber essa instrução, realizará uma série de codifi- cações simbólicas, de modo a elaborar um plano motor de ação interna que servirá como referencial para a posterior execução do movimento. Ou seja, o aluno está transformando um conhecimento declarativo em conhecimento processual: “o que deve ser feito” é transformado em “como deve ser feito” (LAZARIN, 2003). Existem diversas maneiras de se apresentar uma informação. Quando falamos em habilidades motoras, as mais comuns são a instrução verbal e a demonstração ou, ainda, a instrução mista, cada qual com suas características. Na hora de escolher qual metodologia escolher, é importante que o professor analise a melhor forma de transmitir a informação, levando em consideração fatores como: a fase da aprendizagem em que o aluno está inserido; o domínio da linguagem verbal e o nível de desenvolvimento motor do aluno; o tipo de habilidade motora a ser ensinado; a faixa etária em que o aluno se encontra e o modelo que será utilizado para transmitir a informação. A seguir, veremos com mais detalhe essas três maneiras de apresentar a informação em relação às habilidade motoras. 5Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução Demostração A teoria proposta por Brandura, em 1997, sugere a utilização da demonstração como instrumento de aprendizagem de habilidades motoras. A base dessa teoria é a observação e, nela, o estudante — ou o observador — reproduz a ação a partir da observação, adquirindo um novo comportamento motor ou, ainda, modifi cando padrões já existentes a partir da ação de observação. A van- tagem desse modelo é que ele é limitado por palavras (SCHIMIDT; LEE, 2016). A transmissão da informação por meio da demonstração auxilia na construção do plano motor interno, uma vez que ela ativa a imagem mental do movimento que está sendo observado. Esse tipo de transmissão de informação é extrema- mente importante para crianças menores, em período de alfabetização, visto a difi culdade de abstração para transformar a instrução falada em movimento, bem como a difícil verbalização dos aspectos temporais e espaciais da ação, característicos dos alunos nessa faixa. Na aprendizagem por observação, as informações transmitidas são trans- formadas em representações simbólicas, que são como formas que criam a tarefa a ser executada dentro do nosso cérebro, os códigos simbólicos. Esse processo é orientado por quatro componentes: atenção, retenção, reprodução e motivação (LAZARIM, 2003). Atenção: é o primeiro momento. É a atenção que determina qual in- formação será armazenada a partir de todo o gesto motor observado. Retenção: é o momento posterior à atenção. É quando a informação selecionada é transformada e reestruturada em imagens simbólicas, que serão armazenadas na memória. Reprodução: é quando passamos as imagens simbólicas para o sistema motor e, então, efetivamente, o movimento observado acontece. Motivação: é o ultimo componente e envolve fatores que incentivam, motivam o indivíduo a realizar a prática. Esses incentivos podem ser internos ou externos, acontendo a partir de palavras de incentivo. Quando uma habilidade nova é ensinada por meio da demonstração, chama-se o resultado de ação modelada, que é de suma importância para a aquisição de novas habilidades motoras e para a lapidação de habilidades motoras já existentes. Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução6 Para utilizar a teoria cognitiva da aprendizagem social, é importante estar atento para a quantidade de vezes que você irá mostrar o movimento. É ade- quado que as repetições variem entre 2 a 4 demonstrações, mas é importante lembrar que isso depende da complexidade da tarefa, ou seja, tarefas mais complexas irão demandar mais repetições do que tarefas mais simples. Um dos objetivos da demonstração é apresentar aos alunos como realizar uma deter- minada tarefa. Assim, ao observarem a demonstração, os alunos elaboram um plano motor para a realização da tarefa. Instrução verbal A instrução verbal acontece quando o professor não utiliza gestos ou demons- tração, mas apenas explica, com a voz (fala), como a tarefa deve ser executada. Essa instrução consiste nas informações gerais sobre os aspectos fundamentais de uma habilidade a ser realizada e tem o objetivo de auxiliar na orientação da atenção às informações mais relevantes. Declarações diretas simples, que colocam as pessoas no caminho certo, podem ser efi cazes na redução da confusão inicial do processo de aprendizagem (SHIMDT; LEE, 2016). Outra característica dessa prática é que é possível explicar detalhes que podem passar despercebidos na demonstração, mas é preciso tomar cuidado com o vocabulário, que deve ser acessível para a população para a qual a instrução está sendo apresentada. Por exemplo, explicar o nome de todos os músculos envolvidos na habilidade do chute e seus aspectos biomecânicos durante a instrução para um grupo de crianças de 6 anos de idade não será efetivo, uma vez que elas não compreenderiam essas informações. Assim, é importante que a linguagem seja clara, objetiva, adequada para as características do público para o qual ela será apresentada. Essa prática não é indicada para indivíduos que estejam no processo inicial de aquisição da habilidade motora, uma vez que esses alunos ainda não têm reper- tório motor e de vocabulário para entender a instrução. Seu uso é recomendado para utilizar correções e lapidações do gesto motor do indivíduo no momento do feedback, pois é possível desmembrar o movimento, fazendo (falando) as correções a partir de um aspecto por vez e realizando uma descrição minuciosa do que é necessário alterar para que o aluno obtenha um melhor desempenho. 7Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução Associar a demonstração com a instrução verbal é interessante, pois, aos poucos, o estudante vai associando a demonstração com a descrição verbal do movimento, passando, então, a dominar a terminologia utilizada pelo professor, facilitando a compreensão de aspectos que antes era difíceis de serem verbalizados por parte dos estudantes — principalmente os mais jovens. Instrução mista Esse modelo utiliza os dois tipos de instruções já vistos, verbal e demonstra- ção, que formam a instrução mista, amplamente observada, pois agrega as características de ambos os modelos, somando suas possibilidades e anulando seus pontos fracos. Esse modelo é indicado tanto para crianças menores quanto para a lapidação do movimento, uma vez que parece ser o mais completo. O modelo de instrução mista utiliza uma demostração vinda de uma ins- trução verbal ou, ao contrário, uma instrução verbal seguida de uma demons- tração. A partir desse modelo, é possível receber a informação do gesto motor, criar uma representação simbólica desse movimento ereceber instruções detalhadas que auxiliam o estudante a “corrigir” sua criação simbólica. É preciso relativizar o “corrigir”, pois não necessariamente a criação simbólica do estudante estará equivocada ou, necessariamente, a correção verbal fará com que o estudante realize o gesto motor com maestria, mas, sim, porque o estudante terá mais informações sobre como a tarefa deve ser executada, o que facilitará a sua compreensão da tarefa; ou seja, a instrução verbal atua como mediadora para melhorar a representação cognitiva do modelo observado. Feedback é o retorno à execução da tarefa motora. Ele se dá de maneira interna, que é quando o sujeito avalia o seu próprio gesto motor, ou externa, quando outra pessoa lhe mostra (verbal ou demonstrativamente) quais correções podem acontecer no seu gesto motor. Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução8 É muito importante salientar que é importante a apresentação da informação adequada para cada ocasião, mas, principalmente, é importante dar tempo para o estudante praticar. Somente por meio da prática acontecerá a aprendizagem. Qual é a melhor maneira de ensinar? Existem alguns pontos a serem levados em conta na hora da escolha da metodo- logia a ser utilizada para melhor proporcionar a aprendizagem motora, como o estágio de aprendizagem em que o estudante se encontra ou, ainda, os aspectos do movimento, ou seja, se é um movimento aberto ou fechado, discreto ou con- tínuo, pois os padrões de movimento para uma habilidade motora fechada são constantes, ou seja, os mesmos em todos os momentos. Já para uma habilidade aberta, esses padrões podem variar de uma tentativa para outra dependendo da mudança que ocorre no ambiente. Portanto, é necessário entender os estudantes, as situações e a habilidade motora que será aprendida (LAZARIM, 2003). Quando vamos ensinar uma habilidade motora aberta (como o arremesso do handebol), ela está sucetível a fatores como a organização do jogo, o posicionamento da defesa, entre outros. Então, na hora de ensinar, o melhor seria utilizar o modelo de instrução mista ou verbal, já que o professor pode demonstrar o gesto motor e, ainda, colocá- -lo em situações de jogo, explicando que o movimento que está sendo mostrado é adequado para quando há uma formação de barreira ou que o outro é mais adequado quando o jogador está com um marcador próximo. É de suma importância que seja assegurada ao estudante a compreensão da meta a ser alcançada e que lhe sejam transmitidas informações relevantes para a compreensão e execução da habilidade a ser aprendida. Com o intuito de entender com mais clareza qual é a melhor maneira de ensinar, ou seja, a partir de quais maneiras é possível ter um melhor nível de aprendizado, foram realizadas muitas pesquisas na área da aprendizagem motora. Lazarim (2003) buscou entender se as pessoas apresentavam um melhor nível de aprendizagem em uma habilidade motora quando recebiam uma instrução verbal, de demonstração ou, ainda, uma instrução mista. Foi possível perceber que a demonstração mista apresentou um valor significati- 9Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução vamente maior de fixação da habilidade, o que representa um nível maior de aprendizagem, mostrando que instruções verbais associadas à demonstração facilitam a aprendizagem, principalmente em crianças, pois auxiliam na orientação da sua atenção em relação aos aspectos relevantes da tarefa. Além disso, o estudo mostrou uma ampla diferença nos resultados da demonstração e da instrução verbal, visualizando um nível de aprendizagem superior quando utilizado o modelo de demonstração em comparação com o de instrução verbal. Em outros estudos de Ennes et al. (2012), também se constatou que a combina- ção de demonstração e instrução verbal apresentou um maior nível de aprendizagem em comparação com as metodologias em separado. Os autores ainda apontam que os grupos que foram expostos somente à demonstração conseguiram formar uma estrutura cognitiva necessária para o processo de aprendizagem, o que não aconteceu com grupos expostos apenas ao modelo de instrução verbal. Cada idade tem suas características, que devem ser observadas e respei- tadas. No Quadro 2, a seguir, aparecem as indicações de idades para o uso de cada modelo de apresentação da informação. Cabe ressaltar que as idades presentes são indicações, e não regras, uma vez que cada sujeito é único, de modo que devemos conhecer os estudantes para adequar o método às suas necessidades, e não o contrário. Demonstração Instrução verbal Instrução mista Método indicado para crianças com idade entre 0 e 7 anos ou que ainda estejam em período de alfabetização, mas seu uso não está restrito para as demais idades. Também é possível incluir estudantes da educação infantil até o 2º ano do ensino fundamental. É importante levar em consideração a complexidade do movimento. Método indicado para estudantes já alfabetizados e com um repertório motor mais vasto; por isso, é indicado para estudantes a partir do 6º ano do ensino fundamental, com idade a partir de 11 anos até a idade adulta. Sua indicação principal é o feedback. Uso mais comum entre adultos/atletas que têm um período de prática das habilidades motoras. Método indicado para as idades de 0 até o final da vida. É interessante utilizá-lo como transição, ou seja, para crianças de 8 a 10 anos de idade já irem se acostumando com os termos utilizados para cada movimento. Quadro 2. Relação entre idade e tipo de apresentação da informação Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução10 No Quadro 3, você pode visualizar de forma mais clara as diferenças entre os modelos de demonstração, instrução mista e instrução verbal. Demonstração Instrução verbal Instrução mista Ideal para crianças pequenas. Explicação do movimento. Fácil entendimento. Não é possível explicar detalhes do movimento. Pode ser utilizado em todos os estágios de aprendizagem. Preferência por ser utilizado para ensinar habilidades motoras fechadas. Ensina habilidades simples. Ideal para crianças maiores. Feedback e explicação de posicionamento inicial do corpo durante o gesto motor. Difícil entendimento. Pode-se explicar detalhes minuciosos do movimento. Não é indicada a sua utilização no estágio de aprendizagem inicial. Pode ser utilizado para ensinar tanto habilidades motoras fechadas quanto abertas. Ensina habilidades complexas. Todas as idades. Todas as partes. Entendimento da fala facilitado pelo gesto motor. Tendo o estímulo visual e sonoro, é possível explicar detalhes minuciosos do movimento, mostrando-os no corpo. Pode ser utilizado em todos os estágios de aprendizagem. Pode ser utilizado para ensinar tanto habilidades motoras fechadas quanto abertas. Ensina habilidades complexas. Quadro 3. Diferenças entre os modelos de demonstração, instrução verbal e instrução mista É importante lembrar que não existe um modelo ruim ou inadequado desde que entendamos suas limitações de uso. Compreender as diferentes maneiras de ensinar uma habilidade motora é fundamental para propiciar uma aprendizagem duradoura e de qualidade aos estudantes, favorecendo, assim, que o seu desenvolvimento motor seja adequado para a sua idade. 11Fatores da aprendizagem: demonstração e instrução BATISTA, G. A. et al. Associação entre a percepção da qualidade do sono e a assimilação do conteúdo abordado em sala de aula. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, SP, v. 36, n. 3, p. 315–321, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103-05822018000300315&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 25 mar. 2019. BROWN, P. C.; ROEDIGER III, H. L.; MCDANIEL, M. A. Fixe o conhecimento- a ciência da aprendizagem bem-sucedida. São Paulo: Penso, 2018. ENNES, F. C. M. et al. 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