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A dupla revolução hobsbawn

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“A dupla revolução: análise da Revolução Francesa e da Revolução Industrial na Inglaterra”
Adriano Nascimento Araújo Filho
Edvaldo Batista de Sousa Filho
Revolução
No que diz respeito ao saber historiográfico, Revolução é um dos poucos conceitos das ciências sociais e políticas cujo significado não é controverso, apresenta uma forma única, o que pode mudar o sentido de tal conceito é a maneira como esse é aplicado. De acordo com Hector Bruit Revolução é como um fenômeno político-social de grandes mudanças sociais. De modo que Revolução pode ser tida como um processo traumático, pois acaba movimentando a sociedade do seu estado natural, promovendo uma mudança na estrutura social da mesma.
 Sendo assim, Revolução vai possuir um valor diferente para os contemporâneos de suas mudanças, a luta entre as classes vai promover ideais diferentes de como lidar com a mesma. Em todo caso atualmente o conceito, a palavra: Revolução é ou ao menos vem sendo aplicada para designar alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na cultura. Sabemos que na História nada surge de uma hora para outra, que a história não se constrói por fatos isolados, e sim por um conjunto de acontecimentos que em larga escala geram influencias futuras. É difícil para o homem lutar contra seu estado normal, enfrentar seus fantasmas, o passado é presente, toda mudança abrupta traz reflexões para o homem e só a partir dessas reflexões é que se pode compreender a realidade vivida.
Buscaremos promover um dialogo entre o uso do termo Revolução pelo historiador Eric Hobsbawn, que aplica tal terminologia para configurar os ideais de um momento impar da história. O século XIX segundo o historiador inglês vai ser marcado por uma dupla revolução, uma vez que ambas ocorreram, simultaneamente modificando tanto o quadro político como econômico.
Uma revolução dita as suas leis, os seus limites e o que ela extingue ou não tolera. Ambas as revoluções, tanto inglesa quanto a francesa abrem, rasgam os padrões de suas sociedades, promoveram uma série de mudanças que reformaram não apenas França e Inglaterra, com o tempo elas reformulam o modo de vida do mundo. A Revolução Inglesa vai representar uma ruptura tecnológica e produtiva, uma renovação tão forte que só pode ser comparada com aRevolução Neolítica. Já a segunda, a Revolução Francesa representou um grande corte na estrutura social europeia, ela põe fim no Antigo Regime.
“A dupla revolução: análise da Revolução Francesa e da Revolução Industrial na Inglaterra”
O livro “A Era das Revoluções: 1789 – 1848” de Eric Hobsbawm trata de um período de grande crescimento material, intelectual e social de toda a população mundial. Esse período que Hobsbawm aborda vai da Revolução Francesa iniciada em 1789 até 1848, ano em que ocorreram diversas manifestações e vários focos de revoltas e revoluções, deixando assim uma marca histórica nesse tempo pelo acontecimento e mudanças em diversos aspectos sociais, políticos e econômicos. Os grandes destaques são a Revolução Industrial ocorrida em terras britânicas em seus estágios iniciais e desenvolvimento, assim como a Revolução Francesa. Para tratar desses dois grandes acontecimentos, Hobsbawm passa a chama-las de “Dupla Revolução”. A partir dessa analise ele começa a mostrar o que esses de tais acontecimentos trouxeram como reflexo para o mundo contemporâneo e que alguns duram até hoje, não apenas na França e Inglaterra, mais sim no mundo inteiro. Outro estudioso que vale mostrar em conjunto com o estudo de Hobsbawm é Albert Soboul que logo no inicio de seu livro, “História da Revolução Francesa” cita em sua análise uma coisa que virá a ser importante para compreender como foi o mundo nesse período, e o porquê tem a denominação de dupla revolução.
“A Revolução Francesa constitui, com as revoluções inglesas do século XVII, o coroamento de uma longa evolução econômica e social que fez da burguesia a senhora do mundo”.[1]
De acordo com Hobsbawm, o livro é dividido em duas partes. A primeira trata do desenvolvimento histórico entre um acontecimento e outro, no caso entre a dupla revolução já a segunda parte diz respeito à construção da sociedade a partir desses acontecimentos. Hobsbawm propõe neste livro que seja construída uma interpretação dos fatos e acontecimentos conforme vão sendo analisados minuciosamente. Ele também propõe que isso seja visto da perspectiva de mudança do mundo, da modernidade e do pensamento sócio-político-econômico que foi sendo adquirido pelas pessoas.
Eric começa apresentando o mundo da época como “maior” e “menor”, se formos comparar o mundo atual com o mundo antigamente. O que ele tenta chamar de “menor” é devido à população, a estrutura física do homem naquela época brutalmente inferior a dos dias de hoje. Já o sentido de “maior” é que o mundo era grande por causa das diversas barreiras nas comunicações e a deficiente mobilidade dos seus habitantes entre as regiões, sendo por estradas ou por mar. Ou seja, tendo em vista a uniformidade dos acontecimentos e juntando a isso o conhecimento que as informações chegavam através de nômades, mensageiros e até mesmo de viajantes, pois existia a ausência de jornais, e mesmo se existissem seria muito difícil de serem passadas as informações, pois o analfabetismo era comum nessa época, ou seja, só os que tinham um poder financeiro maio poderiam ter o privilégio de aprender a ler. Além disso, devido também a falta de mobilidade e até mesmo pela vida militar, morriam no mesmo lugar de nascimento, com isso observamos o quão difícil era os meios de locomoção e de comunicação entre as pessoas de diversas regiões, principalmente as mais remotas. O próprio Hobsbawm afirma em seu livro a grande dificuldade de comunicação entre regiões, mesmo que sejam umas perto das outras, como podemos ver nesse trecho do livro “A Era das Revoluções”:
“A noticia da queda da Bastilha chegou a Madri em 13 dias; mas em Pé-ronne, distante apenas 133 quilómetros da capital francesa, “as novas de Paris” só chegaram no final do mês.”[2]
O autor do livro mostra que não poderíamos imaginar esse nosso mundo contemporâneo e o mundo moderno sem algumas palavras, que só foram realmente ganhar sentido e significado a partir dessa época de revoluções e de grande desenvolvimento de toda a sociedade. Algumas dessas palavras são “indústria, industrial, capitalismo, classe operaria, nacionalidade, jornalismo, ideologia” entre muitas outras. Hobsbawm indica que essas palavras eclodiram com as revoluções que vieram a acontecer a partir de 1789 e que elas constituem uma das maiores transformações da humanidade, pois elas vieram junto com os acontecimentos, como por exemplo, a palavra indústria que veio juntamente a revolução industrial que ocorreu na Inglaterra, esse foi um fator que mudou muito a forma de organização da sociedade e da convivência entre as pessoas que nela vivem. Além disso, a revolução industrial e a revolução francesa tiveram como consequência principal o estabelecimento de um domínio do globo por uns poucos regimes ocidentais, ou seja, os mais desenvolvidos dominaram os mais fracos, um grande exemplo disso é a Índia que passou a ser administrada pela Inglaterra, criou-se uma crise nos estados islâmicos. Posteriormente houve a partilha do continente africano, entre outras coisas.
As revoluções que Hobsbawm trata em seu livro chamando de dupla revolução tiveram significados iguais, que era de mudar o modo de vida da população em geral, mas ocorreram de formas e em contextos diferentes. A Revolução Francesa, como o próprio autor diz, teve um cunho bem mais político e a que ocorreu na Inglaterra foi de cunho de desenvolvimento industrial, como o próprio nome do ocorrido já especifica, Revolução Industrial. Sabemos que o a Revolução Francesa foi uma das influências para que a revolução na Inglaterra ocorresse isso se da pelo fato de os territórios serem vizinhos, com isso as informações poderiam ser passadas de forma mais rápida, tendo em vista a dificuldade de comunicação entre territórios naquele período. A RevoluçãoIndustrial mesmo tendo se inspirado na revolução ocorrida na França, não teve muito a ver com os ideais da mesma. A Revolução Francesa tinha comoslogan principal “Liberté, Egalité, Fraternité” (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), lema que numa revolução de cunho capitalista, como foi a industrial, não tem sentindo, pois os indivíduos não seriam iguais principalmente pelo surgimento do modelo de classes, que segundo Karl Marx, surgiu nesse período, e não foi apenas de surgimento, essas classes também foram as que movimentaram e que realmente fizeram essas grandes revoluções, ou seja, a “luta de classes” foi à força que impulsionou as revoluções que ocorreram na história.
“A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da “indústria” como tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, mas da classe média ou da sociedade “burguesa” liberal; não da “economia moderna” ou do “Estado moderno”, mas das economias e Estados cm uma determinada região geográfica do mundo…”[3].
Na década de 1780 a região da Europa vivia em grande prosperidade e expansão econômica, devido às várias colônias que os países de lá tinham dentro e até mesmo fora da Europa, além dessas colônias os trabalhadores do campo ajudavam cada vez mais essa prosperidade econômica devido ao seu trabalho, que lhes davam pouco retorno, mas dava muita renda para o senhor desses camponeses, ou seja, para o dono das terras onde eles trabalhavam e viviam. Com esse grande crescimento, foi acontecendo à melhoria das estradas e até mesmo a construção de novas, aperfeiçoamento das atividades do correio, que era uma forma de melhorar e agilizar a comunicação entre as pessoas, melhorias dos transportes por água, entre outras coisas. Nessa mesma época nota-se que poucas pessoas da população eram instruídas e dotadas de conhecimentos básicos na atualidade, como a escrita e a leitura, além disso, muitas pessoas viviam abaixo da linha de pobreza e apenas uma parte seletiva da população era detentora de riquezas, estas eram consideradas da sociedade. Um grande fator que confirma essa análise é o número de pessoas que viviam na zona rural, pois este chegou a ser muito maior do que o número de habitantes do ambiente urbano daquela época.
O fim do período da Revolução Francesa é o inicio de uma grande e drástica mudança na sociedade europeia, pois é o mesmo período que marca os primeiros passos para a Revolução Industrial, o inicio do mundo das fábricas, indústrias e das divisões de classes na prática, pois anteriormente não existia essa denominação, que segundo Hobsbawm começa quando são construídas as primeiras redes de ferrovias e vem a se concretizar com a publicação do Manifesto Comunista que foi idealizado pelos dois grandes estudiosos fundadores do socialismo, Karl Marx e Friedrich Engels.
Como Eric Hobsbawm mesmo diz com o título do segundo capítulo de seu livro, Revolução Industrial, foi o “inicio” de um período de drástica mudança na forma da sociedade, desenvolvendo junto com ela classes sociais diferenciadas, trazendo mais desenvolvimento para as pessoas além de facilitar os meios de locomoção naquela época. O avanço da Inglaterra nesse quesito não se deu por eles serem mais inteligentes ou até mesmo mais desenvolvidos na ciência, pois segundo estudiosos, os franceses eram o povo que estavam mais a frente em relação ao povo britânico, pois já produziam as melhores máquinas como, por exemplo, os navios, tendo em vista que nessa época a marinha francesa era uma das melhores e mais temidas de todo o mundo. As mais favoráveis condições para que essa revolução se iniciasse em terras britânicas estavam praticamente explicitas, pois eles eram a nação que já tinham julgado e condenado um rei a mais de um século, o desenvolvimento econômico também estava presente nesse país, pois o governo incentivava as pessoas a arrecadarem e a conseguirem ter lucros, devido à própria religião que já tinha se desligado do catolicismo, esta que condenava lucros e riquezas maiores, pois o homem segundo a Igreja Católica teria que possuir o necessário para viver. Não falavam mais em camponeses quando se tratavam dos britânicos, pois eles já estavam com pensamento de produzir em suas terras o necessário para a vida e também para comércio, onde ali poderiam juntar fundos para produzir mais e ter uma melhor condição de vida. A partir de 1830 os efeitos da Revolução Industrial começaram a ser sentidos fora da Inglaterra, isso não só atingiu a indústria, atingiu todas as áreas do conhecimento humano e até mesmo a cultura de vários povos, além das artes.
A Inglaterra tinha um grande poder de produção agrícola nas suas colônias, em especial na Índia, que foi uma das grandes produtoras de algodão daquela época. Isso fez com que a Grã-Bretanha se tornasse cada vez mais forte economicamente, gerando assim mais fundos para que se iniciasse uma produção em maior escala e futuramente a chamada de fato Revolução Industrial.
“Grã-Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajustada à revolução industrial pioneira sob condições capitalistas e uma conjuntura económica que permitia que se lançasse à indústria algodoeira e à expansão colonial”. [4]
 
Hobsbawm no decorrer de algumas páginas do segundo capítulo de seu livro continua falando sobre a indústria algodoeira e do comércio colonial, este que alimentava a produção, venda e desenvolvimento desta indústria, algodão esse que era produzido na Índia, onde entregavam o “algodão grosso” como Hobsbawm chama, e recebiam em troca roupas feitas com o mesmo algodão que lhes eram fornecidos, só que as roupas eram extremamente superiores aos preços do algodão, com isso já podemos ver um inicio do capitalismo. Dentro de pouquíssimo tempo a Inglaterra aumentou a sua produção de tecidos feitos a base de algodão, em cerca de dez vezes mais. Esses tecidos eram postos como moeda de troca junto a outros países, um grande exemplo que mostra isso foi o Tratado de Methuen, este foi assinado fazendo um acordo entre Inglaterra e Portugal, onde os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e em troca os britânicos só iriam consumir vinho que tinha origem portuguesa. Com isso vemos que o algodão fornecia possibilidades gigantescas para deixar os empresários privados tentados a se lançarem na aventura de desenvolvimento, ou seja, a revolução industrial. Hobsbawm também afirma que, em 1830, a “indústria”, no sentido moderno, ainda era praticamente exclusiva da área destinada à produção de algodão na Grã-Bretanha.
“A indústria algodoeira britânica, como todas as outras indústrias algodoeiras, tinha originalmente se desenvolvido como um subproduto do comércio ultramarino, que produzia sua matéria-prima (ou melhor, uma de suas matérias-primas, pois o produto original era ofustão, uma mistura de algodão e linho) e os tecidos indianos de algodão, ou chita, que conquistaram os mercados que os fabricantes europeus tentariam  ganhar com suas imitações”. [5]
Se o comércio do algodão e dos derivados dele crescia, a economia crescia junto, o mesmo acontecia se o algodão tivesse uma queda, pois juntamente com ele a economia também fraquejava. O progresso da indústria de algodão, entre 1830 e 1840, começou a entrar em declínio, atingindo assim a renda nacional britânica nesse período, isso gerou um grande descontentamento social. As crises da economia eram frequentes nesse período, estas levavam ao desemprego, geravam quedas gigantescas na produção, entre outras, a vida dificultosa dos trabalhadores desempregados era o que mais gerava insatisfação, pois eles já trabalhavam de maneira compulsória, eram mal remunerados e não tinham nenhum tipo de garantia em caso de demissão e até mesmo de acidentes que os invalidassem. Isso deixou grande parte da população da Inglaterra passando por extremas dificuldades.
Continuando o segundo capítulo, é citada a fase da metalurgia, em especial o trabalho que era realizado com o ferro, este ainda permanecia pequeno. A produção de ferro por parte da Inglaterra só tendeu a cair, se comparada àprodução mundial, esta não chegou nem a metade do que a França produzia. Já a mineração era um ponto forte, de onde os britânicos retiravam uma grande parte de seus fundos financeiros, pois eles eram grandes produtores de carvão, estudos apontam que nessa época eles eram os maiores produtores de carvão do mundo.  Essa imensa indústria de carvão deu os primeiros estímulos para que fossem desenvolvidos o sistema básico e eficaz, as ferrovias e os transportes ferroviários, que inicialmente utilizavam o carvão como combustível. Eric Hobsbawm dá continuidade dizendo que uma economia industrial significa um brusco declínio proporcional da produção agrícola, ou seja, da atividade nos meios rurais, e um grande aumento da população urbana, um rápido aumento geral da população que implica em um brusco crescimento na produção agrícola, pois a demanda de pessoas nas cidades era muito grande, devido a migração de camponeses para os centros urbanos para trabalharem nas fábricas, com isso a produção agrícola ficou extremamente deficiente.
Outro fator que fez demorar o inicio desta revolução foi a falta de mão-de-obra qualificada para realizar determinadas funções nas indústrias. Todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, tinham que se adequar a grande e exaustante jornada de trabalho dentro das fábricas, o que era totalmente diferente do trabalhador agrícola ou do artesão. Outro grande problema foi a falta de emprego, pois os patrões ao invés de contratar homens mais fortes e preparados para tais funções, acabavam contratando mulheres e crianças, pois eles eram mão-de-obra mais barata e mais “frágeis”, segundo a sociedade da época. Hobsbawm termina o capítulo afirmando que não só a Inglaterra, e sim também todo o mundo sabia que a revolução industrial, tinha como única norma comprar do mercado mais barato e vender no mercado que desse maior margem de lucro. Isso estava mudando o mundo por completo e como ele mesmo diz “nada poderia detê-la”, ou seja, nada poderia nem pôde deter o capitalismo.
Em seu livro “A Era das Revoluções”, Hobsbawm não poderia deixar de fazer uma análise sobre a Revolução Francesa, que ao ver dele, foi à revolução que impulsionou o mundo a fazer diversas outras, além disso, essa revolução gerou uma grande mudança na organização da sociedade da época e que alguns aspectos dela duram até os dias atuais. Eric chega a chamar no seu livro as duas principais revoluções que na visão dele e de muitos outros estudiosos mudaram o mundo, ele as chamou de “dupla revolução” (Revolução Industrial e a Revolução Francesa).
A França no século XVIII era um país absolutista onde o rei governava com poderes absolutos, ou seja, era ele quem dava as leis e as fazia valer. A população não teria direito algum, pois o rei poderia mandar, dar e tirar poder de onde ele desejasse. O rei controlava a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião do seu povo, ou seja, o estado teria uma religião oficial e esta seria a qual o rei fosse um fiel seguidor. A sociedade encontrava-se repartida, pois algumas pessoas concordavam com essa forma de governo do seu rei, ou não, e hierarquizada.
Um evento do porte da Revolução Francesa não foi gerado por um mero conjunto de acontecimentos, de maneira superficial podemos definir tal revolução como fruto da desarticulação de uma sociedade que chegou em um momento de crise. A sociedade francesa passava por problemas em grande parte de suas estruturas. Na economia fica evidenciando uma batalha entre produtor e gerenciador, o grau de desenvolvimento das forças produtivas e a permanência de relações sociais de produção herdadas do período feudal.“… Revolução se explica, em ultima analise por uma contradição entre as relações da produção e o caráter das forças produtivas”[6].
Como explicar ao povo, na época a maior população da Europa que uma maioria esmagadora de sua sociedade vivesse em condições precárias enquanto uma minoria se fazia dona de todo o poder da coroa? Uma hora ou outra o povo abre os olhos, e tal feito se fez realidade na França, Os trabalhadores tinham uma vida miserável e a burguesia almejava uma participação política maior e mais liberdade econômica, mesmo tendo uma condição de vida melhor, a procura por uma realidade melhor promove ou ao menos tenta promover algo semelhante ademocracia moderna.
… pois enquanto a sociedade do Antigo Regime se fundamentava na desigualdade entre os homens, surgiu pela primeira vez na história uma revolução que tinha como bandeira a igualdade, a soberania do povo, a liberdade, a ideia de Direitos do Homem.[7]
A difusão dos ideais Iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ajudavam a ascensão da burguesia. A relação entre os cidadãos de uma sociedade dentro da mesma, eram organizadas pelas leis comuns, ainda que as mudanças ocorridas dentro da mesma fossem provocadas pelo próprio povo, e a única maneira de se encontrar equilíbrio em meio aos problemas da sociedade  era dando a todos liberdade de expressão e culto, e proteção contra a escravidão, a injustiça, a opressão e as guerras.
Os progressos do capitalismo, a reivindicação da liberdade econômica, suscitavam sem dúvida, uma viva resistência de parte das categorias sociais presas à ordem econômica tradicional[8]
As causas da Revolução surgem em meio a um déficit publico crônico e ao caos financeiro da França agravado por guerras das quais o país se fez presente. Para resolver os problemas causados por esse déficit pretendeu-se o aumento dos impostos, impostos que já eram responsáveis por uma tributação absurda, vale salientar que os impostos eram responsabilidade apenas do terceiro estado composto por camponeses,artesãos comerciantes e etc. Não bastasse o aumento dos impostos a França ainda enfrentou péssimas colheitas por volta de 1789 acentuando ainda mais a miséria das massas populares urbanas.
Os tributos feudais, os dízimos e as taxas tiravam uma grande e cada vez maior proporção da renda do camponês a inflação reduzia o valor do resto. Pois só a minoria dos camponeses que tinha um constante excedente para vendas se beneficiava dos preços crescentes; o resto, de uma maneira ou de outra, sofria, especialmente em tempos de má colheita, quando dominavam os preços de fome.[9]
 
Jacobinos e Girondinos discordavam sobre o que diz respeito às mudanças nas estruturas do páís, os Jacobinos representavam uma faixa mais radical da revolução, por pertencerem a uma parte menos favorecida financeiramente pela Burguesia, buscavam uma mudança mais profundas entre as estruturas sociais e políticas do país, diferentemente dos Girondinos que não buscavam mudanças sociais tão profundas e sim lutavam em busca do controle do poder político do Estado francês. Marx enfatiza que a exclusividade desse fato histórico: sua velocidade, violência e abrangência. não foram uma revolução comum, mas uma revolução que sacudiu as instituições vigentes e propôs novas instituições e valores ao mundo
A ideologia de uma Burguesia em busca de uma remodelação social, o conjunto de ideias que permeavam boa parte da sociedade francesa propiciava uma mudança geral, ou ao menos uma mudança no polo político do Estado Francês, salientando que Estado aqui seria uma criação dos indivíduos pra controlar os impulsos naturais e egoístas de cada um e possibilitar a vida em sociedade. Tal perspectiva é defendida por Thomas Hobbes, que defende o Estado como uma ferramenta de controle social.
A Revolução francesa pode ser dividida em três partes singulares, o primeiro deles foi a tomada do poder por parte dos Girondinos, o que levaria a formação de uma monarquia constitucional parlamentar. Com o objetivo de limitar o poder monárquico e instaurar um estado liberal, obviamente os ideais inovadores do povo eram contrários aos desejos do rei, é a partir desse fator que a população parisiense vai as ruas e acabam por derrubar a Bastilha, Era 14 de junho de 1789 se dava inicio ao maior processo revolucionário da França.
De fato a contrarrevolução mobilizou contra si as massas de Paris,já famintas desconfiadas e militantes. O resultado mais sensacional de sua mobilização foi a queda da Bastilha, uma prisão estatal que simbolizava a autoridade real e onde os revolucionários esperavam encontrar armas. Em tempos de revolução nada é mais poderoso do que a queda de símbolos. A queda da Bastilha, que fez do 14 de julho a festa nacional francesa, ratificou a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como o princípio de libertação.[10]
A queda da Bastilha representa a abolição dos privilégios feudais com indenização, permitindo que formasse uma breve ruptura na totalidade dos direitos da nobreza, surge aDeclaração dos direitos do homem e do cidadão; Um dos mais impactantes escritos da revolução. “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos” primeiro artigo da declaração dos direitos do homem e do cidadão. Tais ideais ganharam força ainda maior com a constituição da Monarquia Constitucional Parlamentar.
Mesmo com a Constituição de 1791 a situação geral da França não inspirava tranquilidade, mesmo sob as ordens da Constituição de 1791 Luis XVI negou-se a aceita-la. Houveram diversas tentativas de derrubar o governo Francês que se estabelecera, a contrarrevolução contou com o auxilio do próprio rei mas o exercito revolucionário conseguiu controlá-la, ao ser descoberto o monarca foi preso e julgado.
A ideologia Burguesa ligada ao fundamento econômico da sociedade se modificava simultaneamente. A decapitação de Luis XVI significou mais do que as constatações de valores da uma monarquia perdida em si, o que fez dela a constestação dos Girondinos e a imposição dos Jacobinos no poder. A instauração de um novo regime representou a promoção do sufrágio universal, a abolição da escravidão nas colônias, ensino gratuito e obrigatório e a reforma agrária.
Embora tivessem grande popularidade no inicio os Jacobinos encontraram grande resistência popular com o período de terror, a perseguição política do período se tornava descontrolada, na tentativa de manter um rígido controle social os Jacobinos acabam isolados devido a pratica radical de sua política.  Por uma nova série de pressões sociais Robespierre acaba sendo retirado do poder e o controle social cai novamente em meio as mãos girondinas.
A ultima fase do processo revolucionário o Diretório, representou o retorno do poder as mãos Girondinas, nele as medidas Jacobinas foram abolidas graças a Constituição de 1795, oDiretório ficou caracterizado por ser a fase mais turbulenta da revolução Francesa pois não se conseguia gerar um equilíbrio entre ambos os ideais, tal fato era agravado devido as tensões sociais e a crise econômica.
A solução encontrada para os problemas sociais franceses foi a nomeação de um homem que tivesse valor comum a ambas as faces da sociedade francesa, objetivo alcançado com o Golpe 18 de Brumário no qual Napoleão Bonaparte chega ao poder.
Podemos afirmar que a consolidação e a difusão dos ideais liberais na Europa, ela foi responsável por inspirar todos os movimentos nacionalistas do século XIX.  A Revolução por essência é repleta de problemáticas, cheia de situações que promovem ambições impares. outra coisa é o avanço de uma linguagem universal, de uma promessa que pôde ser retomada por outras revoluções.

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