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CANA-DE-ACUCAR-Parte1

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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/287198540
Aspectos econômicos e institucionais da rotação da cana-de-açúcar com
espécies vegetais
Chapter · December 2015
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Integration of a multi-institutional meteorological database with a system for consistency analysis, gap filling and spatialisation of data. View project
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Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA
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Aryeverton Fortes de Oliveira
Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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Pedro Abel Vieira Junior
Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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José Maria da Silveira
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1Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
Cenários e perspectivas 
do setor sucroenergético e 
integração à produção de 
energia e alimentos
Parte 1
2 Parte 1
Cenários e estratégias 
do setor sucroenergético
Sustentabilidade socioeconômica
Luiz Carlos Corrêa Carvalho
Capítulo 1
3
Introdução
O conceito de cadeia produtiva – que representa os elos do negó-
cio agroindustrial canavieiro, desde bens de capital e insumos modernos, 
passando pela produção de cana, processamento industrial, distribuição de 
açúcar no varejo, atacado e exportação, até a distribuição do etanol nos 
postos de revenda de combustíveis e da energia elétrica produzida – per-
mite visualizar a complexidade de cada agronegócio nas várias fases do seu 
sistema. No Brasil, a cadeia produtiva da cana-de-açúcar talvez seja a mais 
complexa, não pela extensão de sua área de cultivo, que é 3,5 vezes menor 
que a da soja; mas principalmente pela destinação de seus produtos – que 
atendem concomitantemente os mercados de alimentos, de energia líqui-
da e elétrica, de derivados químicos, etc. –, e de seus subprodutos – que 
são usados como biofertilizantes, ração animal e combustível (gás). Desse 
modo, para atender as diferentes demandas, no início dessa cadeia, há um 
setor de bens de capital bastante diversificado, e, na ponta da cadeia, ou 
seja, na distribuição dos produtos, há empresas nacionais e grandes mul-
tinacionais. 
As relações entre as empresas do complexo cana-de-açúcar mostram 
que há uma grande dependência da produção agrícola (cerca de 70% dos 
custos finais), o que gerauma competição dos produtos finais pela mesma 
matéria-prima, especialmente a arbitragem entre a produção de açúcar e 
etanol (BIOAGÊNCIA – AGÊNCIA DE FOMENTO DE ENERGIA DE BIOMASSA, 
2013; CANAPLAN, 2013; SILVA et al., 2013). Diante dessa realidade, há uma 
tendência para que as indústrias se tornem flexíveis. Atualmente, de acordo 
com levantamentos da Bioagência – Agência de Fomento de Energia de 
Biomassa (2013) e da Canaplan (2013), apenas 14% da matéria-prima é 
processada em destilarias autônomas que produzem apenas etanol, e os 
outros 86% em usinas de açúcar e etanol. Para essas unidades, a capacidade 
de produção desses produtos poder ser, a cada safra, em média, de até 10% 
maior ou menor. Nesse contexto, é importante lembrar também que 88% 
4 Parte 1
dos veículos leves vendidos mensalmente no Brasil são flexíveis (funcionam 
com etanol ou gasolina), os quais já representam mais de 50% da frota na-
cional (BIOAGÊNCIA – AGÊNCIA DE FOMENTO DE ENERGIA DE BIOMASSA, 
2013; CANAPLAN, 2013; SOUSA; MACEDO, 2010).
O Brasil produz cana-de-açúcar durante o ano inteiro. Da produção, 
90% se concentram nas unidades no Centro-Oeste e Sudeste, cuja safra 
ocorre de abril a dezembro; e os outros 10%, no Norte e Nordeste, cuja safra, 
salvo algumas exceções, ocorre entre outubro e março, como se verifica nas 
estatísticas da Bioagência – Agência de Fomento de Energia de Biomassa 
(2013), Canaplan (2013) e Sousa e Macedo (2009). De acordo com Silva 
et al. (2013), as terras aptas para expansão do cultivo com cana-de-açúcar 
estão distribuídas, regionalmente, da seguinte forma: a região Centro-Oeste 
apresenta a maior porcentagem, 45% do total; a região Sudeste 34,5%; 
Sul 11,2%; Nordeste 7,6%; Norte 1,7%, no Estado de Tocantins. Nas regiões 
que abrangem os biomas Pantanal e Amazônia, o governo não autoriza o 
cultivo de cana, conforme estabelecido pelo zoneamento agroecológico da 
cana-de-açúcar (Zaecana), que regula o plantio da cana, levando em con-
sideração o meio ambiente e a aptidão econômica da região (MANZATTO 
et al., 2010).
O sistema agroindustrial canavieiro do Brasil é líder mundial há déca-
das. Se, por um lado, seu modelo flexível de produção dificulta a avaliação 
da oferta de produtos, por outro lado é elogiado e copiado por muitos 
países, uma vez que reduz os riscos da volatilidade dos preços setoriais. No 
Brasil, desde o final da década de 1990, o mercado é livre e não subsidiado, 
porém, em outros países, há mecanismos de suporte ao açúcar e ao etanol, 
o que acarreta dificuldades à abertura dos mercados desses produtos nas 
regiões protegidas.
De fato, no cenário mundial, o modelo de produção canavieira do 
Brasil e os avanços na sua eficiência têm se destacado. Dessa forma, o Brasil 
recebe muitos investimentos externos que visam agregar valor aos seus 
5Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
produtos canavieiros, como, por exemplo, para a produção da segunda 
(etanol de celulose) e terceira geração (hidrocarbonetos verdes) de etanol, 
que deverão atingir escala industrial por volta do ano 2020. Os avanços na 
indústria de motores (combustão interna e os chamados híbridos) também 
prometem grandes impactos para a indústria canavieira. De qualquer 
modo, o desenvolvimento de novas tecnologias no campo da agricultura 
(biotecnologia, desenvolvimento de variedades, mecanização e irrigação) 
deverá potencializar a competitividade do setor canavieiro brasileiro.
Com relação à entrega da cana-de-açúcar, sabe-se que, diferente-
mente dos grãos, que, depois de colhidos, podem ser levados a grandes 
distâncias sem o comprometimento de qualidade, a cana-de-açúcar é um 
produto que apresenta deterioração da sua qualidade logo após a colheita. 
Dessa forma, estudos indicam que há viabilidade econômica se a distância 
entre o local de colheita e o de entrega às indústrias for, no máximo, de 
50 km. Por esse motivo, os produtores de cana se tornam dependentes da 
unidade industrial mais próxima; assim como a usina tem que se relacionar 
com produtores em sua volta para a obtenção da matéria-prima necessária.
Nesse contexto, no Brasil há um dos mecanismos mais modernos para 
tratar da relação comercial entre agricultores e indústrias. Há uma estrutura 
privada criada para esse fim, o Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar 
e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana-SP), que é a referência para 
as compras e o pagamento da cana-de-açúcar baseado na qualidade da 
matéria-prima. É uma associação formada por representantes das indús-
trias de açúcar e álcool e dos plantadores de cana-de-açúcar, cuja principal 
responsabilidade é zelar pelo relacionamento entre ambas as partes.
Para atender a esse objetivo, o Consecana-SP1 criou um sistema de 
pagamento da cana-de-açúcar baseado no teor de sacarose. Nesse sistema, 
utilizam-se critérios técnicos para avaliar a qualidade da cana-de-açúcar 
1 Disponível em: Disponível em: <www.unica.com.br/consecana>.
6 Parte 1
entregue pelos plantadores às indústrias e para determinar o preço a ser 
pago ao produtor rural. Calcula-se o valor da cana-de-açúcar com base no 
chamado açúcar total recuperável (ATR) – que corresponde à quantidade 
de açúcar disponível na matéria-prima subtraída das perdas no processo 
industrial – e nos preços do açúcar e etanol vendidos pelas usinas nos mer-
cados interno e externo. A adesão ao sistema é voluntária.
Esse é mais um fator econômico importante para a análise da sus-
tentabilidade da cadeia produtiva. Importantes, também, são os fatores 
socioambientais, que serão considerados mais adiante.
Sustentabilidade
Por ser uma planta semiperene, depois de plantada, a cana-de-açú-
car, no Brasil, permanece no campo de 5 a 7 anos, dependendo dos índices 
de produtividade obtidos. Essa longevidade do cultivo é responsável pela 
maior ou menor rentabilidade da cultura agroindustrial. Atualmente essa 
atividade é intensiva em capital, porém passou longo período sendo in-
tensiva em mão de obra, principalmente nas fases de produção de plantio 
e colheita. Desde a década de 1990, o processo de mecanização das fases 
de plantio e colheita na produção mudou radicalmente a forma de condu-
ção da lavoura na região Centro-Sul brasileira. Alguns fatores acarretaram 
essa mudança, entre eles: a) a proibição do processo de queima do palhiço 
da cana, imposta pela Lei nº 11.241/2002, regulamentada pelo Decreto 
no 47.700/2013 (SÃO PAULO, 2002, 2003), para fins de colheita, cujo prazo 
para o fim dessa atividade ocorreria em 2014; b) a proibição do sistema 
de plantio em que homens em cima de caminhões lançavam as mudas no 
chão, estabelecida na Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) 
nº 2.546, que alterou a redação da Norma Regulamentadora 31 (BRASIL, 
2011); e c) o aumento dos custos de produção pelo uso de mão de obra no 
plantio ou no corte da cana, em comparação aos processos mecanizados.
7Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
Se, por um lado, esse intenso processo de mudanças no setor de 
produção agrícola criou na cadeia produtiva uma oportunidade para o 
setor de máquinas e equipamentos agrícolas, com importantes inovações 
e melhorias na qualidade do emprego setorial. Por outro lado, por ser um 
processo de aprendizagem em construção, vêm ocorrendo perdas e falhas 
na colheita e na brotação das canas, com impactos na produtividade do 
canavial nas várias regiões produtoras.
O processo acelerado de mecanização da colheita de cana crua no 
Centro-Sul brasileiro se deu por medidas de pressão da promotoria pública, 
principalmente no Estado de São Paulo (protocolo agroambiental do setor 
sucroalcooleiro paulista) (SÃO PAULO, 2007), e também por falta de mão 
de obra em muitas regiões produtoras, como ocorreu no Centro-Oeste. 
Na Figura 1, demonstra-se o crescimento da colheita mecanizada da cana, 
sem queima, nas últimas três safras, na região Centro-Sul.
Figura 1. Sistema e modalidades de colheitas de cana-de-açúcar na região 
Centro-Sul.
Fonte: Canaplan (2015).8 Parte 1
A mecanização da colheita foi, portanto, um processo muito acele-
rado, que trouxe simultaneamente aprendizado e expansão, mas também 
acarretou impactos sobre a cultura da cana que afetaram tanto as soqueiras 
(rebrotas de cana pós-colheita) quanto os solos (compactação), e conse-
quentemente a produtividade (Figura 2).
Figura 2. Produtividade agrícola (t ha-1) na região Centro-Sul, nas safras 
2009/2010, 2010/2011, 2011/2012 e 2012/2013.
Fonte: Canaplan (2015).
De acordo com Silva et al. (2013), a queda da produtividade, obser-
vada na Figura 2, deve-se: a) aos baixos preços da cana-de-açúcar entre 
2006 e 2008, após a explosão de investimentos na expansão dos canaviais 
nas áreas cultivadas e em novas regiões; b) à crise econômica de 2008, que 
acarretou impactos em crédito, endividamento e custos de produção em 
alta constante; c) aos três anos (2012, 2013, 2014) de sensível variação do 
clima, não favorável à cana; e d) aos efeitos da curva de aprendizado do 
processo de mecanização agrícola.
9Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
No contexto de sustentabilidade, é importante mencionar os im-
pactos positivos da produção e do uso da biomassa da cana-de-açúcar na 
análise do seu “ciclo de vida”, ou seja, realizar o balanço entre os resultados 
das emissões de dióxido de carbono (CO2) e a substituição de combustí-
veis fósseis pelos derivados da cana. Sabe-se que a cana-de-açúcar é uma 
campeã global na redução das emissões de CO2, principalmente porque o 
etanol, seu derivado, pode substituir a gasolina no sistema de transporte, 
como ocorre no Brasil (ALVES et al., 2012; MACEDO, 2005; MACEDO et al., 
2004, 2008; SILVA et al., 2013; SOARES et al., 2009). Acrescente-se também 
que a cogeração de energia elétrica, produzida com o uso do bagaço e pa-
lhas da cana queimados nas caldeiras das unidades produtoras de açúcar e 
etanol, pode substituir o óleo diesel/óleo combustível. 
De forma sintética, apresenta-se o cálculo da energia renovável total 
produzida no ciclo de vida da cana-de-açúcar, considerando-se todas as 
fases de produção, desde o uso de equipamentos até a produção do etanol 
(Tabela 1). As premissas, segundo Macedo et al. (2008), são: 
•	 O álcool anidro em misturas com a gasolina acima de 10% em volu-
me (1 L de gasolina = 1 L de etanol anidro).
•	 O etanol hidratado em motores dedicados ao etanol (1 L de etanol 
= 0,75 L de gasolina).
•	 Veículos flexíveis: 1 L de etanol hidratado = 0,72 L do E25 (25% do 
etanol anidro e 75% da gasolina).
•	 Para o bagaço, considerou-se a substituição do óleo combustível 
(79% de eficiência com o bagaço contra 92% de eficiência do óleo).
Essas premissas foram definidas em trabalho conduzido pela 
Universidade de Campinas (Unicamp) (MACEDO et al., 2008) e confirmadas 
com resultados obtidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
(Embrapa) (ALVES et al., 2012; SILVA et al., 2013; SOARES et al., 2009), apre-
sentados nas Tabelas 1 e 2.
10 Parte 1
Na Tabela 2, mostram-se dados relevantes do importante ciclo 
de emissão de CO2 pela substituição de gasolina nos veículos no Brasil. 
Considera-se todo o processo, ou seja, desde a fábrica de bens de capital à 
produção da cana e do etanol, incluído o transporte do etanol aos postos 
de combustível.
Por causa do resultado desse balanço, a Agência Norte-americana de 
Meio Ambiente [Environmental Protection Agency (EPA)] passou a carac-
terizar o etanol de cana como “avançado”, conforme consta na lei norte-a-
mericana de energia, o que abriu espaço para a exportação de importantes 
volumes de etanol do Brasil aos Estados Unidos.
A produção de biocombustíveis traz muitos benefícios para o Brasil, 
os quais apresentam: (i) caráter social, como geração de empregos e rique-
zas, distribuídos em todo o país, e a consequente melhoria na distribuição 
da renda; (ii) caráter ambiental, como a redução das emissões líquidas de 
Tabela 1. Balanço energético e fluxos externos (MJ t-1 de cana).
Item 2002 2005/2006 Cenário 2020
Produção de cana/transportes 201,8 210,2 238,0
Processamento para etanol 49,5 23,6 24,0
Uso (entrada) de fósseis 251,3 233,8 262,0
Etanol 1.921,3 1.926,4 2.060,3
Excedente de bagaço 168,7 176,0 0,0
Excedente de eletricidade(1) 0,0 82,8 972,0
Produção de renovável (total) 2.090,0 2.185,2 3.032,3
Produção de renovável / uso de fósseis
Etanol + bagaço 8,3 9,0 7,9
Etanol + bagaço + eletricidade 8,3 9,3 11,6
(1) Os valores de excedente de eletricidade são 9,2 kWh t-1 e 135 kWh t-1 de cana para 2005/2006 
e 2020, respectivamente. As equivalências termoelétricas consideradas foram 9 MJ kWh-1, em 2005, e 
7,2 MJ kWh-1, em 2020.
Fonte: Macedo et al. (2008).
11Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
CO2 e seu impacto na grave questão das mudanças climáticas; e (iii) caráter 
econômico, como a geração de renda e arrecadação de impostos. Esses são 
importantes atributos que caracterizam a sustentabilidade e constituem 
um exemplo para o mundo de crescimento sustentado.
Sousa e Macedo (2010) apresentam um exemplo do impacto social 
ocasionado pelo uso de etanol. Segundo os autores, se, no Estado de São 
Paulo, onde a cana-de-açúcar está presente em mais de 60% dos seus 
645 municípios, “15% da gasolina atualmente consumida fosse substituída 
por etanol combustível, seriam criados novos 117 mil postos de trabalho e 
uma renda adicional de R$ 250 milhões/ano”. (SOUSA; MACEDO, 2010, p. 13).
Os autores apresentam também exemplo de impacto positivo do uso 
do etanol sobre a saúde pública. Sabe-se que as emissões de gases ocasio-
nadas pelos derivados do petróleo utilizados em frotas de ônibus geram 
Tabela 2. Processo produtivo do etanol e balanço de emissões de CO2 pela 
substituição da gasolina nos veículos no Brasil.(1)
Cana e etanol Balanço etanol (kg de CO2 1.000 L
-1)
Balanço gasolina 
(kg de CO2 1.000 L
-1) 
Etanol/
gasolina 
(%)
Cultivo e colheita 2.961 - -
Crescimento (7.650)(2) - -
Processo industrial 3.604 - -
Bioeletricidade (225)(3) - -
Transporte aos postos 
de combustível 50 - -
Uso 1.520 - -
Balanço 260 2.280 89(4)
(1) kg de CO2 por 1.000 L de etanol produzidos e consumidos. 
(2) Absorção de CO2.
(3) Emissão evitada de CO2.
(4) Emissão de CO2 do etanol menor do que a da gasolina.
Fonte: Souza e Macedo (2009).
12 Parte 1
internações hospitalares causadas pela respiração desses gases. Dessa for-
ma, se, por exemplo, na frota cativa de ônibus da região metropolitana de 
São Paulo, o diesel fosse substituído pelo etanol, “mais de 1.200 internações 
seriam evitadas e 250 vidas seriam salvas a cada ano, ou seja, uma vez e 
meia o número de mortes causadas por tuberculose na região, em 2007”. 
(SOUSA; MACEDO, 2010, p. 13).
Além dos aspectos já abordados sobre os bons resultados do ciclo de 
vida da cana-de-açúcar, há uma série de outras questões socioeconômicas 
e ambientais que merecem comentários:
•	 A expansão da cana-de-açúcar nos últimos 25 anos deu-se essen-
cialmente no Centro-Sul do Brasil, em áreas muito distantes dos 
biomas da Floresta Amazônica, Mata Atlântica e Pantanal, com 
expansão de 94% das áreas, por meio da substituição de pastagens 
degradadas (PAES, 2005; SILVA et al., 2013).
•	 A cultura da cana-de-açúcar tem se expandido em ambientes 
de produção mais pobres (principalmente em áreas de cerrados 
fortemente antropizados, na sua maioria pastagens extensivas). 
Nessas áreas, a cultura concorre para a recuperação de solos com 
baixo teor de matéria orgânica, arenosos e pobres quimicamente, 
pois, em seu processo de produção, adiciona matéria orgânica e 
nutrientes essenciais às plantas, contribuindo para melhorar o seu 
condicionamento físico-químico. Com isso incorpora solos à área 
agriculturável brasileira (PAES, 2005). Em seu processo produtivo, 
apresenta pouca perda de solo por erosão (DONZELLI, 2005), bem 
como requer pouco uso de defensivos, em razão da seleção de va-
riedades resistentes/tolerantes e o uso de predadores ou inimigos 
naturais para combater pragasimportantes (BURNQUIST; ULIAN, 
2005).
•	 O rápido aumento da forma de colheita, que passou a ser da cana 
crua, sem queima da palha, que permanece no solo. Entre as gran-
des culturas no Brasil, a cana é a que utiliza menor quantidade de 
13Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
fertilizantes, uma vez que faz uso dos resíduos da produção indus-
trial, como a vinhaça, a torta de filtro e as cinzas.
•	 O desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar, para 
os diversos ambientes de produção, nos vários estados, trouxe mais 
segurança e, com isso, menor dependência de poucas variedades 
(situação que apresentava constante potencial de surgimento de 
novas doenças). Nos últimos 10 anos, foram disponibilizadas no 
mercado 51 variedades (BURNQUIST; ULIAN, 2005).
•	 Os produtos da cana-de-açúcar (produzidos na região Centro-Sul) 
não têm qualquer mecanismo de suporte de preços por políticas 
públicas – os quais foram eliminados desde 1998, na desregulamen-
tação setorial –, seja na produção, seja na comercialização.
Os maiores avanços tecnológicos verificados foram, sem dúvida: a) o de-
senvolvimento de novas variedades, com ganhos de ganhos de produtividade 
em biomassa e de açúcar (SILVA et al., 2013); b) controle biológico de pragas; c) 
uso racional de resíduos; d) mecanização; e) melhoria no sistema de preparo e 
de moagem; f) fermentações de maior rendimento, as quais ficaram mais rápi-
das com menores perdas; e) a autonomia energética da fábrica, pela melhoria 
no balanço térmico, gerando excedentes de bagaço para fins de geração de 
energia, com melhor gerenciamento e maior automação industrial (Figura 3).
Figura 3. Conversão de açúcar nos processos atuais em unidades agroin-
dustriais.
Fonte: Macedo (2005).
14 Parte 1
Cabe destacar a melhoria de desempenho agroindustrial entre 
1975 e 2005 (portanto, 30 anos), pois nesse período houve um aumento 
de produção de 33% de toneladas de cana por hectare; de 8% de açúcar 
na cana-de-açúcar (SILVA et al., 2013); de 14% de conversão do açúcar da 
cana para etanol; e de 30% na produtividade da fermentação alcoólica 
(MACEDO, 2005).
A cadeia produtiva 
Uma das características importantes da cadeia produtiva da cana-
de-açúcar, em análise completa na Tabela 3, é a grande participação de 
diferentes agentes econômicos nos vários elos da cadeia. Em síntese, mais 
de 75% da movimentação financeira ocorre depois que a cana-de-açúcar 
deixa a fazenda; ou seja, a atividade industrial, o transporte, a distribuição 
no atacado e no varejo dos produtos derivados da cana são responsáveis 
por 75% do “giro”.
Tabela 3. Receita bruta dos elos da cadeia produtiva do setor sucroener-
gético.
Cadeia agroindustrial(1) US$ Milhão Peso (%)
Antes da fazenda 9.252,42 10,7
Na fazenda 11.509,75 13,3
Insumo industrial 6.414,39 7,4
Usina/destilaria 22.639,17 26,0
Distribuição etanol 19.738,56 22,7
Distribuição açúcar 4.003,15 4,6
Agente facilitador(2) 13.275,58 15,3
Total 86.833,02 100,0
(1) Base 2008/2009. (2) Todos os serviços.
Fonte: Neves et al. (2009, 2010).
15Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
A base do processo produtivo está na oferta de açúcar, etanol e 
energia elétrica. Novos produtos vão sendo adicionados, à medida que 
as inovações vão surgindo (Figura 4). Há hoje importante produção de 
plásticos e um potencial conjunto de novos produtos, internacionalmente 
chamados de segunda e terceira geração tecnológica. A segunda geração 
está concentrada na ação que visa ofertar os açúcares hoje encontrados 
nas celuloses e a terceira geração estabelece as ações que transformam 
carboidratos em hidrocarbonetos verdes (JANK, 2012).
O potencial da cadeia produtiva da cana-de-açúcar é realmente 
considerável. As inovações em andamento sugerem que, no mínimo, 
dobrar-se-á a produtividade por área, reduzindo-se consideravelmente a 
necessidade de se agregar muitas áreas novas para produção. Esse é um 
Figura 4. Principais produtos da cana-de-açúcar.
Fonte: Jank (2012).
16 Parte 1
ponto relevante sob a lógica da estratégia do País, líder absoluto na com-
petitividade canavieira.
A análise estratégica da cadeia produtiva da cana-de-açúcar revela 
os elos fundamentais a serem observados (Figura 5).
Figura 5. Definição da estratégia brasileira para o agronegócio da cana-de-
-açúcar.
Fonte: Canaplan (2013).
Cenários e estratégia setorial
Mercados do setor
Para se fazer uma projeção dos mercados do setor sucroalcooleiro, 
tanto interno quanto externo, algumas premissas são consideradas.
Inicialmente observa-se que a situação atual, diante das políticas 
governamentais para o setor, ou da ausência delas, leva a um crescimento 
assustador do consumo de gasolina no Brasil (Tabela 4):
Essa perda de mercado, em razão dos preços da gasolina “C”, contidos 
pelo governo, reduz a oferta de etanol hidratado, como se pode observar 
na Figura 6.
17Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
Tabela 4. Valor acumulado do consumo de gasolina “C” no Brasil.(1)
Período Volume (1.000 m3) Mudança (%)
2010 29.844 -
2011 35.491 18,92
2012 39.698 11,85
2013 41.426 4,35
2014 44.364 7,09
(1) Gasolina “C”: gasolina “A” (refinaria) com etanol anidro.
Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (2015).
Outro componente importante nessa análise prospectiva diz respei-
to à questão do endividamento setorial (a dívida total do setor estaria em 
R$ 56 bi para um faturamento de R$ 60 bi) e ao processo de consolidação 
do setor, iniciado anos atrás. Segundo o Banco Itaú BBA, aproximadamente 
Figura 6. Ociosidade industrial na produção de etanol.
Fonte: Bioagência - Agência de Fomento de Energia de Biomassa (2013).
18 Parte 1
35% dos grupos econômicos estão com importantes problemas econô-
mico-financeiros. Com relação ao processo de concentração setorial, em 
5 anos, os dados mostram que a capacidade de moagem dos grupos consi-
derados “top 10” passou de 30%, em 2005, para 43% em 2010, conforme se 
observa nos resultados de balanço do Banco Itaú BBA (Figura 7).
Figura 7. O endividamento do setor sucroal-
cooleiro no Brasil.
Fonte: Simões (2012).
Devem ser mencionados, também, outros fatores importantes para 
se realizar uma avaliação prospectiva, como o falta de investimento nesse 
setor desde 2010, bem como a paralisação da implantação de novas unida-
des produtoras (Figura 8).
Esses três pontos analisados são consequências, principalmente, de 
uma política pública de preços contidos da gasolina, criando um grande 
desconforto para as perspectivas de médio e longo prazos no setor su-
croalcooleiro. Acrescente-se que sem investimentos não haverá uma rápida 
recuperação da produtividade agrícola nem redução dos custos. Soma-se a 
19Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
Figura 8. Usinas em operação e novas (entrantes) na região Centro-Sul.
Fonte: Figliolino (2012).
isso a insegurança jurídica sobre a aquisição e arrendamento de terras por 
empresas com capital estrangeiro (ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO, 2010), 
além dos pesados custos relativos à logística e à infraestrutura dos portos 
e a tributos.
Etanol
Vários pontos merecem uma reflexão quando se avalia o potencial de 
mercado para o setor sucroenergético brasileiro na área do etanol:
1) Os efeitos da política norte-americana na área dos biocombustíveis
A formal indicação na lei norte-americana de energia do chamado 
etanol avançado, tanto o de segunda geração como o de cana-de-açúcar 
do Brasil, criou perspectivas externas muito importantes para as exporta-
ções brasileiras do produto.
20 Parte 1
2) O crescimento da frota brasileira de veículos flexíveis
Com vendas mensais em torno de 88% do total de carros leves, o 
modelo flexível somente compete com os veículos importados, o que faz 
prever constante crescimento da frota dos veículos “flex” (SILVA et al., 2013). 
Desde 2008, por causa da estagnação da oferta de etanol, vem-se expan-
dindo o consumo potencial não atendidodo produto. Para uma demanda 
de 30 bilhões de litros, atende-se 20 bilhões de litros.
3) A mistura do etanol anidro na gasolina do Brasil
A lei brasileira determina que a mistura do etanol anidro na gasolina 
se faça no mínimo com 18% e, no máximo, com 27%. Logo o crescimento 
verificado nos últimos anos do consumo de gasolina leva ao aumento do 
consumo de etanol anidro no País.
4) A mistura de etanol em óleo combustível
No Japão e, posteriormente, no Brasil, foi testada, com sucesso, a 
mistura de etanol em óleo combustível para queima em termoelétricas (No 
Brasil o teste foi realizado em Minas Gerais pela Petrobras).
5) Uso do etanol para outros fins
Nessa situação, há mercados tradicionais no exterior para o chamado 
álcool industrial, que demandam anualmente volumes ao redor de 1 bilhão 
de litros. Além desse mercado, inicia-se o uso do etanol como matéria-pri-
ma para a produção do polietileno “verde”, com tendência de crescimento.
Ainda, por vários anos, a dominância do mercado ficará com os EUA 
e o Brasil, podendo haver maior crescimento do mercado na Europa e Ásia.
Açúcar
Como esse mercado ainda é protegido, o açúcar mostra importante 
dominância do Brasil, respondendo por 63,25% das exportações globais de 
21Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
açúcar e 36,05% da produção (CANAPLAN, 2013). Devem ser considerados 
os seguintes fatores para essa dominância:
•	 O crescimento do mercado internacional será acima de 2,5% ao 
ano, notadamente na região asiática em razão do processo rápido 
de urbanização (BIOAGÊNCIA - AGÊNCIA DE FOMENTO DE ENERGIA 
DE BIOMASSA, 2013; CANAPLAN, 2013; SOUSA; MACEDO, 2010).
•	 O crescimento do mercado interno de açúcar será comedido, 
por causa do já elevado consumo per capita. De acordo com a 
Bioagência – Agência de Fomento de Energia de Biomassa (2013), 
a projeção é que o crescimento será menor, pela substituição do 
chamado consumo de “mesa” dos produtos industrializados que 
contêm açúcar, principalmente pelas classes econômicas “D” e “C”.
Estratégias setoriais e cenários
Para permitir uma comparação entre as principais projeções para o 
setor sucroenergético, foram gerados dois grandes cenários, com base em 
algumas estratégias fundamentais:
1) Cenário continuísmo
Segundo análise do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
e Social (2011), o dilema na questão energética brasileira atualmente se 
refere à decisão do que se deve priorizar: os biocombustíveis ou a extra-
ção de petróleo na camada pré-sal. Após uma fase de grande ênfase dada 
aos biocombustíveis, vistos como o “petróleo verde”, o que teria lançado o 
Brasil à vanguarda da matriz energética global, a descoberta de petróleo 
na camada pré-sal, a mais de 6 mil metros de profundidade, mudou a prio-
rização de projetos. Diante disso, no cenário continuísmo, há tendência da 
manutenção de menores investimentos no setor sucroenergético.
22 Parte 1
2) Cenário de correção
O governo brasileiro anunciou em 2013 um pacote de medidas visan-
do estimular a expansão da oferta de etanol. São elas: na área de tributos, 
isenções para o setor e a volta da cobrança das Contribuições de Intervenção 
no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina; novas correções de preços 
da gasolina, aproximando-a dos preços internacionais; financiamentos para 
plantio e manutenção de estoques (temas em discussão no governo federal).
Esses cenários estão ligados à premissa de um crescimento do 
Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 3% ao ano, numa relação com o 
crescimento da demanda de energia de 1:1.
A projeção da demanda guarda uma relevante relação do uso do eta-
nol na frota “flex” brasileira (30% no cenário continuísmo e 60% no cenário de 
correção), além da demanda citada do açúcar, mantendo o “share” do Brasil, 
o que levaria a possíveis crescimentos da oferta, mostrados na Figura 9.
Considerações finais
O século 21 ficará marcado pela luta em torno das seguranças 
alimentar e energética. Dados consistentes da Bioagência – Agência de 
Fomento de Energia de Biomassa (2013), da Canaplan (2013) e de Sousa 
e Macedo (2010) mostram a forte correlação que há entre elas a partir de 
2007, quando cresceu vigorosamente o uso da biomassa para a produção 
de energia. Sendo assim, perturbações em uma ou outra área terão efetivos 
impactos na qualidade de vida no planeta.
É justamente nas áreas de produção de alimento e de energia 
(renovável e fóssil) que o Brasil desponta como uma importante força 
global no segmento energético. São nesses setores que toda a atenção de 
políticas públicas deverá ser focada em razão da importância geopolítica 
para o Brasil no século 21. Desse modo, é essencial que o agronegócio seja 
23Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
prioridade para o governo federal, assim como, nele, priorize-se o setor 
sucroenergético.
Os impactos sociais, ambientais e econômicos desse setor canavieiro 
foram medidos e avaliados no Brasil. Assim como nos EUA, é componente 
de política energética do País, que qualifica o etanol da cana-de-açúcar 
como produto avançado.
No balanço do ciclo da vida dos produtos do setor sucroenergético, 
os resultados apontam que, com o uso do etanol e da cogeração de ener-
gia, são mitigadas entre 8 e 11 unidades de carbono em relação ao uso da 
gasolina e do óleo combustível, o que caracteriza a cana-de-açúcar como 
biomassa líder no mundo para a produção sustentável de energia.
Figura 9. Projeção de oferta de cana-de-açúcar no Brasil.
Fonte: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2011) e Canaplan (2013).
24 Parte 1
Entre 2004 e 2009, o crescimento da oferta setorial tentou acompa-
nhar a demanda fortíssima, com dois dígitos ao ano. Em 2004, as vendas 
dos carros flexíveis no Brasil aceleraram e, em 2009, atingiram 87% ao mês. 
No auge dos investimentos, foram montadas de 15 a 30 novas unidades 
produtoras, que passaram, na fase produtiva, a concorrer com a gasolina, 
que estava com preços congelados desde 2006.
Os empregos descentralizados gerados ao longo da cadeia produtiva 
da cana-de-açúcar, assim como os seus efeitos positivos, fizeram o setor 
ganhar expressão social no governo Lula. Porém as políticas públicas retro-
cederam, zerando as Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico 
(Cide), que permitia a convivência do etanol com a gasolina em condições 
de mercado, o que acarretou uma situação absolutamente incomum, na 
qual, em termos energéticos, o etanol pagava mais impostos que a gasolina.
Às inovações decorrentes da primeira geração, ou seja, variedades, me-
canização, processamento industrial, somar-se-ão as de segunda e de terceira 
gerações, com o objetivo de criar alternativas de investimentos e que substi-
tuam os derivados fósseis, tanto no campo da energia como no de plásticos, 
cosméticos e, no futuro, uma gama de produtos bioquímicos importantes.
Os caminhos a serem seguidos pelo Brasil no campo sucroenergético 
dependerão da prioridade que o governo brasileiro dará ao agronegócio. 
São necessárias ações que garantam a competitividade do agronegócio. 
A queda da taxa de importação do etanol dos EUA foi, talvez, o começo 
de uma grande oportunidade para o Brasil. Outras oportunidades, seja na 
Europa ou na Ásia, acelerarão o processo. Para tanto, medidas que hoje não 
atraem o investimento externo devem ser revistas sob o risco de serem li-
mitadoras às oportunidades que se abrem ao setor nacional. A África, outro 
claro impacto no século 21, que usa a tecnologia tropical brasileira, tanto 
em bens de capital como plantas, processos e equipamentos agrícolas, 
além de veículos e outros, também deve ser foco de atenção do Brasil.
25Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
As projeções apresentadas no 11° Congresso Brasileiro do Agronegócio, 
da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em 2012, em São Paulo, 
mostram claramente as oportunidades do setor sucroenergético na valori-
zação doBrasil no século 21 (CONGRESSO..., 2012). Fica claro, portanto, que 
uma reação mais rápida da oferta dependerá de políticas públicas transpa-
rentes e indutoras, que atraiam investimentos no setor, além do processo 
de consolidação (FRY, 2012).
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NEVES, M. F.; TROMBIN, V. G.; CONSOLI, M. A. O mapa sucro energético do Brasil. In: SOUSA, 
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27Capítulo 1 Cenários e estratégias do setor sucroenergético
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 47.700, de 11 de março de 2003. Regulamenta a Lei nº 
11.241, de 19 de setembro de 2002, que dispõe sobre a eliminação gradativa da queima 
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Paulo, Brasília, DF, 18 mar. 2003.
SÃO PAULO (Estado). Lei n. 11.241, de 19 de setembro de 2002. Dispõe sobre a eliminação 
gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar e dá providências correlatas. Diário 
Oficial do Estado de São Paulo, 20 set. 2002.
SÃO PAULO (Estado). Protocolo agroambiental do setor sucroalcooleiro paulista. 
Protocolo de cooperação que celebram entre si, o Governo do Estado de São Paulo, a 
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento e 
a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, para a adoção de ações destinadas a 
consolidar o desenvolvimento sustentável da indústria da cana-de-açúcar no Estado de 
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2012. Disponível em: <http://www.novacana.com/n/industria/financeiro/setor-sucroalcooleiro-
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SOARES, L. H. de B.; ALVES, B. J. R.; URQUIAGA, S.; BODDEY, R. M. Mitigação das emissões 
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futuro da matriz energética. São Paulo: UNICA, 2010. 314 p. Disponível em: <www.unica.
com.br/download.php?idSecao=17&id=43684046>. Acesso em: 16 mar. 2012.
Parte 128
Sobrevivência da cana
Cenário de múltiplos atores 
e fontes energéticas
Capítulo 2
Antônio Márcio Buainain
Elísio Contini
Henrique Dantas Neder
Pedro Abel Vieira Junior
29
Introdução
O cultivo da cana-de-açúcar deixou fortes marcas no desenvolvimen-
to socioeconômico e cultural do Brasil. No passado distante, os engenhos 
conformaram um modo de produção particular, verticalizadoe quase autos-
suficiente, e os senhores do engenho1 determinavam desde a política até a 
cultura do País, gerando um sistema produtivo2 e uma sociedade peculiares, 
analisados por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala (FREYRE, 1998).
No presente, o sistema produtivo da cana-de-açúcar está se interna-
cionalizando em passo acelerado. A face mais visível é o aporte de capital 
internacional em empreendimentos de empresas brasileiras tradicionais, 
que operavam protegidas pela política pública e por barreiras à entrada de 
ordem legal e/ou políticas. A entrada do capital externo tem implicações 
e se traduz em mudanças econômicas e produtivas relevantes, muitas das 
quais já visíveis, como a concentração da produção e a crescente busca de 
sinergia com outras atividades no setor energético. Se no passado o mo-
delo de competição era cartorial, no presente a inovação e a governança 
corporativa3 são as chaves do sucesso.
1 Para Freyre, (1998, página 38) “[...] o senhor de engenho dominou a vida colonial. Ele foi o verdadeiro 
mestre do Brasil, mais poderosos do que vice-reis ou bispos. A verdade é que em torno destes senhores 
de engenho foi criado o tipo mais estável de civilizações na América hispânica exemplificada pela 
corpulenta arquitetura horizontal da Casa Grande”. Freyre (1998, p. 80) também diz em seu livro que 
o lema do senhor do engenho era “Uma mulher branca para casar, mulata para levar para cama, uma 
negra para fazer o trabalho”, definindo assim as classes sociais do Brasil colonial.
2 Sistema agrícola calcado em uma monocultura de exportação mediante a utilização de latifúndios 
e mão de obra com baixa qualificação, geralmente escrava. Nesse sistema, são produzidas grandes 
quantidades de um só produto que se adapta à oferta ambiental regional dedicado ao mercado 
externo, permanecendo no país apenas produtos de baixa qualidade. Essa dinâmica gerava um fluxo 
de capital com o exterior pela exportação de um só produto e a importação de pequena quantidade 
de bens de consumo uma vez que o consumo da população local era restrito.
3 As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de preservar e aumentar o valor da 
sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para sua perenidade. Para tanto, ela pressupõem: 
transparência das informações, equidade, prestação de contas, cumprimento da lei e ética. Sob a 
perspectiva da teoria da agência, a preocupação da governança é garantir que o comportamento dos 
executivos esteja em acordo aos interesses dos proprietários proporcionando uma gestão estratégica 
da empresa (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 1999). 
Parte 130
Além do capital externo investido no setor sucroenergético do Brasil, 
questões ambientais e sociais também estão determinando mudanças no 
sistema de produção da cana-de-açúcar. O principal exemplo é a substitui-
ção da colheita de cana queimada por cana crua em resposta a pressões 
e demandas ambientais e sociais. Essa substituição elimina uma fonte de 
gases de efeito estufa e de trabalho em condições consideradas ‘indecen-
tes’ (GONZALEZ SIECZKOWSKI et al., 2006). Embora a face mais visível da 
eliminação da queimada seja fitotécnica, as implicações são mais amplas 
e afetam desde a composição de equipamentos até os requerimentos de 
mão de obra. Ou seja, embora possa parecer trivial, a mudança na colheita 
é a tal ponto tão complexa que representa um novo sistema de produção, 
cujas particularidades e potencialidades ainda estão por ser desveladas. 
Como exemplo da extensão da mudança, menciona-se a redefinição da 
geografia da cana-de-açúcar, uma vez que áreas competitivas com base na 
cana queimada, bem como variedades tradicionais, com bom rendimento 
com a queimada, não serão mais adequadas. Os riscos produtivos também 
crescem em razão da própria incerteza quanto aos resultados das mudan-
ças, pelo menos na etapa inicial. 
O objetivo deste capítulo é refletir sobre mudanças recentes no siste-
ma de produção da cana-de-açúcar e sobre as perspectivas do setor sucroe-
nergético brasileiro à medida que a atual crise econômica seja superada. 
Discutem-se também as perspectivas desse setor em um cenário mundial 
cada vez mais verde, bem como sobre qual a fonte energética predominará 
no futuro. Faz-se uma breve análise sobre a matriz energética brasileira, 
o que embasa a discussão das perspectivas para o setor sucroenergético 
brasileiro diante do novo sistema de produção da cana-de-açúcar. Além 
da trajetória econômica e tecnológica, o futuro do setor sucroenergético 
brasileiro dependerá das mudanças sociais provocadas pelo novo sistema 
de produção da cana-de-açúcar, assunto também discutido. As discussões 
sobre uma economia mundial cada vez mais verde e sobre as trajetórias 
tecnológica, econômica e social da cana-de-açúcar brasileira embasarão 
31Capítulo 2 Sobrevivência da cana
algumas reflexões sobre as oportunidades e desafios reservados a um setor 
cada vez mais globalizado.
Uma economia cada vez mais verde?
A matriz energética baseada nos combustíveis fósseis dividiu o mun-
do entre uns poucos produtores/exportadores de energia e consumidores: 
se, de um lado, a produção é concentrada em alguns poucos países, por 
outro o consumo, embora universal, também foi fortemente concentrado 
nos países desenvolvidos. Dessa forma, a má distribuição da produção e 
consumo de energia gera, obviamente, importantes questões e tensões 
políticas nas relações internacionais (Figura 1). 
Com o aumento da população mundial em cerca de 80 milhões de 
pessoas por ano, o crescimento econômico de países que até recentemen-
te não faziam parte do grupo de consumidores intensivos de energia e a 
melhora na distribuição de renda verificada nas últimas três décadas4, a 
sustentabilidade do sistema produtivo baseado na energia fóssil foi co-
locada em questão. A face mais visível da preocupação ambiental são as 
mudanças climáticas associadas ao aumento da concentração de gases de 
efeito estufa na atmosfera, os quais estão intimamente relacionados à uti-
lização de combustíveis fósseis (SHALIZI; LECOCQIU, 2010). Estima-se que 
até 2050 o mundo consumirá 30% a mais de água, 40% a mais de energia 
e 50% a mais de alimentos e matérias-primas agrícolas (INTERNATIONAL 
ENERGY AGENCY, 2011; WORLD BANK, 2013), em um padrão insustentável 
que tende a acentuar os desequilíbrios regionais, principalmente por conta 
4 Nas ultimas três décadas, especialmente entre os anos de 2000 a 2008, houve intensa redução 
absoluta e relativa da pobreza no mundo. Em 1981 existiam 1,938 bilhão de pessoas vivendo com 
menos de US$ 1,25 ao dia nos países em desenvolvimento, cerca de 52% da população. Na década 
de 1980, houve ligeira redução na pobreza extrema, que se acelerou nas décadas seguintes, em 2008 
apenas 1,289 bilhão de pessoas (21% da população) que viviam nos países em desenvolvimento 
estavam na pobreza extrema (WORLD BANK, 2013).
Parte 132
Figura 1. Produções e importações líquidas globais de energia em milhões 
de toneladas do equivalente em óleo (Mtoe).
Fonte: adaptado de International Energy Agency (2013).
33Capítulo 2 Sobrevivência da cana
da energia, que será um determinante geopolítico cada vez mais importan-
te.5 O fato é que:
O desenvolvimento mundial das tecnologias de energia limpa continua 
abaixo do necessário para evitar os possíveis impactos das mudanças cli-
máticas. Apesar de muita conversa dos líderes mundiais e apesar do boom 
das energias renováveis na última década, a energia produzida hoje é tão 
suja como era 20 anos atrás e os investimentos bilionários realizados em 
prol de tecnologias mais limpas estão sendo anulados pelo crescimento 
de fontes sujas (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2013, p. 5).
A mudança na matriz energética mundial sob o viés da sustentabi-
lidade ambiental é também uma alternativa para o surgimento de novos 
negócios produtivos e, consequentemente, para o crescimento econômico 
global. Nesse sentido, Institute for SustainableEnergy Policies (2013a, 
2013b) aponta que, além da comunicação, requisito essencial para a ter-
ceira revolução industrial é a mudança na matriz energética. Novas fontes 
energéticas requerem pesados investimentos em sistema de geração, ar-
mazenamento, transporte e distribuição de energia, os quais resultarão em 
novos negócios e mais investimentos, reforçando o ciclo virtuoso do cres-
cimento econômico sustentável. Dessa forma, o atual modelo econômico 
mundial e a respectiva trajetória tecnológica calcados na energia fóssil 
precisam ser rompidos para a manutenção do desenvolvimento global. A 
pergunta central é: “que fonte energética predominará no futuro?”
Qual fonte energética predominará no futuro?
A matriz energética do futuro é uma questão ainda em aberto, mas já 
se sabe que não será única e que o cenário mais provável é o de combinação 
5 Este tema tem sido objeto de controvérsias na comunidade científica. Em recente matéria publicada no The 
Economist, foram apontadas inconsistências entre a associação do aumento na concentração de gases de 
efeito estufa na atmosfera com as mudanças climáticas, o aquecimento global, o aumento na frequência 
de eventos climáticos extremos e o aumento do nível dos mares, entre outros. As inconsistências entre o 
aumento das emissões de gases de efeito estufa e os seus efeitos sobre o clima da terra é um dos maiores 
enigmas da ciência na atualidade, porém isso não significa que as mudanças climáticas sejam uma ilusão 
e que o mundo não deva investir em energia limpa (CLIMATE CHANGE..., 2013).
Parte 134
de várias tecnologias e fontes, que hoje disputam o espaço de substituto 
do combustível fóssil. Também é pouco provável que essa fonte fique de 
fora da corrida e seja eliminada, como fica claro pelos investimentos em 
busca de novas reservas (pré-sal na costa do Brasil) e tecnologias (gás de 
xisto nos Estados Unidos). Dessa forma, é pouco provável que no futuro 
uma única fonte e/ou tecnologia se imponha com a mesma dominância 
alcançada pelo combustível fóssil. Antes, pressupõe-se que a matriz seja 
mais diversificada e envolva a utilização de várias fontes em um mesmo 
local. De qualquer forma, é provável que ganhe o status de predominante 
a fonte/tecnologia que for capaz de gerar maior volume de novos negó-
cios produtivos ambientalmente sustentáveis, ainda que não seja a mais 
eficiente do ponto de vista energético. A diversificação energética deverá 
ser restringida por barreiras financeiras e pelas vantagens de escala, uma 
vez que os especialistas indicam que três ou cinco fontes energéticas se 
firmarão como predominantes, com composições regionais específicas 
(LANG; WANG, 2008).
Empresas tradicionais projetam que a energia renovável responderá 
por, no máximo, 20% da demanda global até 2050. Perspectivas moderadas 
projetam que fontes renováveis responderão por cerca de 30% a 45% até 
2050. Nesse cenário, haverá crescimento significativo do consumo de ener-
gia elétrica renovável pelas indústrias e residências, e baixo crescimento 
de consumo para os transportes, apesar do otimismo em relação ao futuro 
dos automóveis elétricos. Problemas associados à logística de distribuição 
aparecem como a principal restrição para o crescimento do consumo 
das energias renováveis (INSTITUTE FOR SUSTAINABLE ENERGY POLICIES, 
2013a, 2013b).
Cenários mais otimistas quanto às perspectivas das energias renová-
veis, normalmente aceitos pelos governos, mas recentemente incorporados 
pela International Energy Agency (IEA), esperam que o consumo de energia 
renovável em 2050 represente entre 30% a 50% da demanda global, a de-
35Capítulo 2 Sobrevivência da cana
pender dos cenários de crescimento econômico, populacional e tecnológico 
(INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2012). Para que essa estimativa se confir-
me, é necessário que mais de 90% da energia elétrica consumida seja reno-
vável, o que exigirá pesados investimentos em armazenamento e transporte 
de energia, além do uso integrado de materiais renováveis para construção 
de máquinas e edifícios. Nos transportes, os biocombustíveis e veículos elé-
tricos, incluindo os utilizados para transporte de mercadorias, terão partici-
pação próxima a 50%, com destaque para o uso de veículos elétricos híbridos 
(INSTITUTE FOR SUSTAINABLE ENERGY POLICIES, 2013a, 2013b).
Um atributo comum a todas as fontes energéticas do futuro é a 
restrição à emissão dos gases de efeito estufa (GEF). Nesse caso, os com-
bustíveis fósseis desenvolverão tecnologias para redução nas emissões 
dos GEF, principalmente pela integração com os combustíveis renováveis, 
como já ocorre no Brasil, com a adição do álcool à gasolina e do biodiesel 
ao diesel convencional. Os desafios para a integração da energia renovável 
em redes de distribuição de energia, edifícios, transportes e indústria não 
é fundamentalmente uma questão técnica, embora ainda seja necessário o 
desenvolvimento de várias tecnologias. Os principais desafios para integra-
ção estão na órbita da política e das políticas públicas, das instituições, dos 
modelos de negócios e finanças, juntamente com as mudanças nas práticas 
profissionais, de educação e de formação técnica.
A mudança na matriz energética mundial é inevitável e necessária 
para o desenvolvimento socioeconômico global, porém a matriz do futuro 
decorrerá, fundamentalmente, de escolhas políticas, e não será uma deter-
minação tecnológica e econômica, como foi o caso do petróleo. O contexto 
da escolha inclui desde a geopolítica e as políticas de fomento, até a re-
dução de custos e os transbordamentos econômicos. O contexto também 
envolve uma crescente diversidade de motivações, tais como segurança 
energética, clima e meio ambiente, desenvolvimento industrial e econô-
mico, mitigação de risco financeiro, flexibilidade e resiliência, entre outros.
Parte 136
As escolhas dependerão de como as comparações entre os custos 
serão feitas, dos pesos atribuídos aos diferentes aspectos em jogo, do 
econômico ao ambiental, passando pela tecnologia e bem-estar geral. 
Dependerão ainda da intensidade das mudanças nos paradigmas econômi-
cos que as sociedades estejam dispostas a suportar, incorrendo em custos 
correntes mais elevados no presente para ganhar a dianteira no contexto da 
economia verde que se apresenta como cenário de sustentabilidade para o 
futuro. Também se deve levar em conta que essas definições não dependem 
apenas dos governos, e que as opções das empresas serão importantes 
definidores da demanda mundial por energia renovável. Naturalmente que 
tais definições privadas precisam ser respaldadas por instituições legais, o 
que atribui importante papel tanto às politicas públicas quanto à demanda 
voluntária da energia verde. Ou seja, independentemente das indefinições, 
os investimentos públicos e privados atuais dão uma pista importante so-
bre a futura matriz energética mundial. 
Após retração posterior ao início da crise econômica em 2008, o 
investimento global em energia renovável já retomou a trajetória de cresci-
mento. Em 2011, o investimento líquido em energia renovável (US$ 237 bi-
lhões) ultrapassou o investimento em combustível fóssil (US$ 223 bilhões). 
Algumas projeções de investimento em energias renováveis indicam que 
até 2020 os EUA investirão, anualmente, cerca de US$ 400 bilhões. Esse va-
lor, superior aos US$ 260 bilhões investidos em 2011, responderá por cerca 
de 40% do investimento médio anual previsto até 2020, que deverá ser 
próximo a US$ 1 trilhão, e indica que os EUA serão importantes definido-
res da trajetória tecnológica energética global. No entanto, a competição 
tecnológica é acirrada, pois China e Europa (Inglaterra e Alemanha são os 
principais) também realizarão investimentos vultosos, que responderão 
por cerca de 40% dos investimentos futuros em energia renovável; os 20% 
restantes ficarão a cargo do Brasil, Austrália, Índia e demais países.
37Capítulo 2 Sobrevivência da cana
Na atualidade, a energia verde está crescendoe já corresponde a mais 
de 50% da energia elétrica gerada por energia nuclear, que é a quarta fonte 
de energia (energia geral não apenas a elétrica) no mundo (petróleo 39%, 
gás 23%, carvão 23%, nuclear 8% e outras) (Figura 2). Apesar de o óleo e o 
gás liderarem a produção de energia durante a próxima década, a eletrici-
dade verde liderará os investimentos (Figura 2) e apresentará importante 
crescimento (Figura 3) com predominância da energia fotovoltaica e eólica. 
Nesse caso, EUA e Alemanha serão os principais provedores de tecnologia, 
enquanto China e Itália serão os principais fabricantes de equipamentos. 
Ainda, observa-se crescente participação do capital de risco privado nesses 
investimentos, sobretudo do capital americano. Esse processo é resultado da 
crescente financeirização da produção de energia verde, a qual possibilita 
grande alavancagem dos investimentos, mas implica em decisões mais cal-
cadas na rentabilidade do capital no curto prazo do que na eficiência tecno-
lógica e/ou energética propriamente dita (PEW CHARITABLE TRUSTS, 2012). 
Figura 2. Capacidade de produção (gigawatt – GW) no ano de 2011 e total 
dos investimentos globais (US$ bilhões) em energia verde.
Fonte: adaptado de Bloomberg New Energy Finance (2012).
Parte 138
Figura 3. Consumo global de energia, em milhões de toneladas do equiva-
lente em óleo (Mtoe), segundo as fontes e os setores nos anos de 1973, 2010 
e a estimativa para 2025.
Fonte: adaptado de International Energy Agency (2013).
Os números apresentados na Figura 3 indicam tendência de cresci-
mento no consumo de energia limpa, notadamente da eletricidade, que 
em 2025 também será ‘mais verde’. Não é por acaso que a energia elétrica 
produzida a partir de fontes renováveis tem recebido os maiores volumes 
de investimentos. 
Os principais investimentos privados em energia verde em 2011 
ocorreram nos EUA e na Alemanha, com destaque para os investimentos 
em unidades de produção e distribuição de energia, que consumiram cer-
ca de US$ 212 bilhões dos US$ 300 bilhões (70,6%) investidos pelo setor 
privado em energia verde nesse ano. Esse dado sugere que a produção 
de energia verde deixou de ser pré-operacional e, portanto, o volume de 
investimentos em unidades de produção e distribuição será crescente. 
Os projetos fotovoltaicos, apesar de ainda não serem predominantes na 
39Capítulo 2 Sobrevivência da cana
produção de energia elétrica verde, foram os que apresentaram o maior 
crescimento, chegando a US$ 71,5 bilhões em 2011, aumento de 25% 
em relação ao ano anterior. A China liderou os investimentos em projetos 
fotovoltaicos com US$ 44,3 bilhões, ou 32% do total investido pelo G206. 
A Itália foi o segundo principal beneficiário, com US$ 24,1 bilhões em ener-
gia fotovoltaica e eólica (PEW CHARITABLE TRUSTS, 2012).
Corroborando a tendência de crescimento em energia verde, em res-
posta à crise econômica global, vários governos, sobretudo os EUA e a União 
Europeia, estimularam a produção de energia verde. Estima-se que os dis-
pêndios públicos em energia verde dos EUA, da Europa e da China foram da 
ordem de US$ 194 bilhões de 2009 a 2011. Esses investimentos enfatizaram 
a produção de energia elétrica, sobretudo a fotovoltaica. A combinação da 
redução de preços (50%) como consequência de investimentos crescentes 
em tecnologia de produção de módulos solares, notadamente pela China, 
estimulou o crescimento de, aproximadamente, 30 gigawatts (GW) dessa 
fonte, crescimento sem precedente e superior a 10 vezes o registrado em 
2007. Embora os investimentos em energia eólica tenham reduzido para 
US$ 72 bilhões no ano de 2011, mais de 43 GW de energia eólica foram 
implantados em 2011, superando os níveis de 2010. 
Ainda que a predominância dos investimentos seja em eletricidade 
eólica e solar, a produção de eletricidade da biomassa tem boas perspecti-
vas de expansão. 
A grande limitação da energia elétrica é o seu armazenamento e dis-
tribuição. O armazenamento, que requer mais investimentos em inovação, 
gera novos negócios e é mais um vetor para o crescimento da eletricidade. 
Já a dificuldade de transporte abre mais espaço para a construção de matri-
6 O Grupo dos 20 (ou G20) é formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 
maiores economias do mundo (África do Sul, Argentina, Brasil, México, Canadá, Estados Unidos da 
América, China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia, França, Alemanha, 
Itália, Rússia, Reino Unido e Austrália) mais a União Europeia (KIRTON, 2013).
Parte 140
zes energéticas regionais, tanto para o aumento no consumo de combustí-
veis líquidos ambientalmente sustentáveis, como de biocombustíveis.
As limitações logísticas da eletricidade, além de sinalizar para matrizes 
energéticas regionais, indica potencial para a utilização dos biocombustíveis, 
tanto para o transporte de pessoas e mercadorias como para a geração de 
energia elétrica. Nesse caso, as recentes descobertas de gás de xisto nos EUA 
podem atenuar o crescimento no consumo dos biocombustíveis, mas não 
modifica, de forma radical, o cenário positivo para os biocombustíveis, cujo 
impacto ambiental é consideravelmente inferior ao dos combustíveis fósseis. 
Nesse cenário, estima-se que o consumo dos biocombustíveis esteja na casa 
de 21 milhões Mtoe e seja maior do que o de gás natural em 2025 (Figura 3). 
Nesse período, a produção deverá acelerar e crescer a taxas próximas a 2% 
ao ano. Essas estimativas no consumo de biocombustíveis não consideram 
as políticas em discussão de adição de biocombustíveis aos combustíveis 
fósseis (Figura 4), notadamente gasolina e óleo, e, portanto, podem ser consi-
deradas conservadoras (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2013).
Figura 4. Programas de biocombustíveis no mundo.
Fonte: Jank (2013).
41Capítulo 2 Sobrevivência da cana
O futuro, tanto do crescimento quanto da diversificação, das fontes 
energéticas verdes é promissor. Essa dinâmica não será pautada exclusiva-
mente pela eficiência energética e sustentabilidade ambiental; a dinâmica 
econômica, principalmente a capacidade de gerar transbordamentos, 
será um importante vetor para definição das matrizes energéticas regio-
nais. Embora a eletricidade lidere os investimentos e o gás seja um forte 
competidor na atualidade, o futuro dos biocombustíveis é promissor. Essa 
perspectiva para os biocombustíveis é uma oportunidade para um país 
que dispõe de terras e clima adequados à produção agrícola, como o Brasil, 
porém o sucesso não é trivial e dependerá de vários fatores externos à 
produção agrícola.
O Brasil também ficará mais verde?
O Brasil é o líder mundial em capacidade de produção de biodiesel 
(BLOOMBERG NEW ENERGY FINANCE, 2012), e avança rapidamente nas 
demais áreas da energia renovável, com investimentos da ordem de US$ 
8 bilhões em 2011. Desses investimentos, 50% foram em biocombustí-
veis, 27% em energia eólica e 23% em outras fontes de energia renovável 
(BLOOMBERG NEW ENERGY FINANCE, 2012), o que coloca o País entre os 
10 maiores investidores em energia renovável no G20. Ademais, o Brasil 
registrou o terceiro maior crescimento da capacidade instalada de energia 
eólica nos últimos cinco anos, passando de 1 GW em 2011. O adicional de 
1,9 GW de biomassa também foi instalado em 2011, tornando o Brasil o 
líder mundial em capacidade instalada nessa categoria.
O consumo brasileiro de energia deverá crescer cerca de 5% ao ano 
até 2021. Esse crescimento, apesar das projeções otimistas para o desem-
penho econômico do País, considera a expansão no consumo de biocom-
bustíveis líquidos (etanol e biodiesel), cuja participação passará de 5,7% em 
2012 para 9,6% em 2021, de forma a manter o País com uma das matrizes 
Parte 142
energéticas mais limpas do planeta. Quando considerados o bagaço de 
cana, a lixívia, a lenha e o carvão vegetal, a participação da biomassa na 
matriz energética nacional passará de 29,3% para 33,3% entre 2012 e 2021 
(Tabela 1). 
Conformese observa na Tabela 1, estima-se crescimento da partici-
pação do carvão mineral na matriz energética do País associado à expansão 
da siderurgia. Com relação aos derivados de petróleo, estima-se redução 
Tabela 1. Consumo final energético e participação por fonte em 2012, 
estimativa para 2021 e o respectivo crescimento porcentual.
Fonte
2011 2021 Variação
10³ tep(1) (%) 10³ tep (%) (%)
Gás natural 17.867 7,5 29.414 8,1 5,7
Carvão mineral 12.000 5,0 20.016 5,5 5,7
Lenha 12.961 5,4 14.754 4,1 -1,0
Carvão vegetal 5.733 2,4 7.447 2,0 4,1
Bagaço de cana 29.032 12,2 50.010 13,7 6,2
Eletricidade 43.011 18,1 66.544 18,3 4,9
Etanol 11.353 4,8 31.655 8,7 11,4
Biodiesel 2.339 1,0 3.408 0,9 4,6
Outros 8.309 3,5 13.925 3,8 6,1
Derivados de petróleo 95.637 40,1 126.626 34,8 3,5
Óleo diesel 44.435 18,7 64.747 17,8 4,6
Óleo combustível 5.211 2,2 6.723 1,8 4,3
Gasolina 22.512 9,4 22.350 6,1 0,7
Gás liquefeito de petróleo (GLP) 8.238 3,5 10.379 2,9 2,6
Querosene 3.710 1,6 5.760 1,6 4,9
Outros derivados de petróleo 11.531 4,8 16.667 4,6 3,7
Consumo final 238.243 100 363.798 100 4,7
(1) Toneladas equivalentes de petróleo. 
Fonte: Gonzales et al. (2012).
43Capítulo 2 Sobrevivência da cana
expressiva de participação no consumo final energético nacional, de 40,1%, 
em 2012, para 34,8%, em 2021. A principal razão dessa redução é o cres-
cimento no consumo de etanol em detrimento da gasolina. O óleo diesel 
mineral também perderá participação, passando de 18,7% para 17,8%. O 
gás liquefeito de petróleo (GLP), principalmente pela substituição pelo gás 
natural, também contribui para a perda da importância dos derivados de 
petróleo. Apesar da desaceleração do crescimento, a participação do gás 
natural deverá atingir 8,1% do consumo final energético em 2021, princi-
palmente pelo uso não energético do gás natural (fertilizantes e refinarias) 
e o uso na geração de eletricidade. A participação da energia elétrica na 
matriz apresentará ligeiro crescimento, passando de 18,1% em 2012 para 
18,3% em 2013. Seu crescimento absoluto será da ordem de 23.533.000 
toneladas equivalentes de petróleo (tep), esperando-se crescimento signi-
ficativo da autoprodução nos segmentos sucroenergético pela queima da 
biomassa e de exploração e produção de petróleo e gás natural. No caso 
do setor sucroenergético, a biomassa não será exclusivamente da cana-de-
-açúcar (bagaço e palha) e poderá ser também obtida de outras espécies, 
notadamente gramíneas dos gêneros Pennisetum, Panicum e Brachiaria 
cultivadas em áreas marginais à adaptação socioeconômica e ambiental da 
cana-de-açúcar (GONZALEZ SIECZKOWSKI et al., 2012).
Nesse cenário, o biodiesel, cuja produção e demanda foram esti-
muladas pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, acom-
panhará o consumo do diesel mineral. A perspectiva de incremento no 
consumo de biodiesel dependerá de aumentar a sua adição dos atuais 5%, 
já alcançada em 2012, no diesel mineral. Atualmente, a diversificação de 
matérias-primas graxas na produção de biodiesel é pequena, e em 2012 
a soja respondeu por 82% da demanda utilizada para produção de bio-
diesel. Do ponto de vista ambiental, a cadeia produtiva do biodiesel não 
acarreta impactos expressivos, embora nos próximos anos o volume de 
glicerina resultante da transesterificação e as dificuldades para sua desti-
nação possam resultar em passivo ambiental. Não há associação espacial 
Parte 144
direta entre as usinas de produção de biodiesel e as áreas de produção 
das matérias-primas oleaginosas devido à diversidade de matérias graxas 
passíveis de utilização, tanto de origem agrícola quanto de coprodutos 
de outros processos produtivos. Entretanto, a predominância da soja e 
as políticas de incentivo estimulam a localização de usinas próximas às 
áreas produtoras dessa oleaginosa, notadamente na região Centro-Oeste. 
A utilização do dendê, espécie com produtividade superior a 10 vezes a 
da soja, como matéria-prima para o biodiesel, ainda é um desafio, nota-
damente pela localização da produção na região Norte do país, a mais 
carente em infraestrutura, sobretudo logística.
Os derivados da cana-de-açúcar responderão por cerca de 22% do 
consumo brasileiro de energia (Tabela 2), principalmente por conta da 
eletricidade gerada pela queima da biomassa (bagaço e palha) e do con-
sumo de etanol em substituição à gasolina (GONZALEZ SIECZKOWSK et al., 
2012). A oferta de etanol prevista considera expansão de 154% da produ-
ção, passando de 28 bilhões de litros em 2012, para 71 bilhões, em 2021. 
Trata-se de uma perspectiva promissora para o setor sucroenergético, cuja 
viabilidade implica em expansão de área cultivada com cana-de-açúcar 
e, eventualmente, outras espécies, como o sorgo sacarino e outras gramí-
neas para produção de biomassa. Embora haja alternativas técnicas para 
controle e mitigação dos impactos ambientais relacionados ao cultivo e ao 
processamento industrial da cana-de-açúcar e outras espécies, não se deve 
negligenciar a necessidade de acompanhamento de eventuais vetores de 
degradação ambiental. Essa questão implica em ganhos de produtividade, 
o que requer um sistema de inovação dinâmico que, por sua vez, somente 
será capaz de produzir os resultados desejados caso gere transborda-
mentos suficientes para estimular novos negócios. Sob o ponto de vista 
socioeconômico, questões associadas às condições laborais e à supressão 
de postos de trabalho em razão da mecanização do plantio e da colheita 
também devem ser observadas, assuntos discutidos a seguir.
45Capítulo 2 Sobrevivência da cana
Tabela 2. Estimativa da evolução da oferta interna de energia entre 2012 
e 2021.
Tipo de energia
2011 2021 Variação
10³ tep(1) (%) 10³ tep (%) (%)
Energia não renovável 162.941 56,9 242.405 55 4,7
Petróleo e derivados 110.127 38,5 140.498 31,9 2,9
Gás natural 31.421 11 68.218 15,5 9,4
Carvão mineral e derivados 17.502 6,1 26.827 6,1 5,8
Urânio e derivados 3.891 1,4 6.862 1,6 5,2
Energia renovável 123.223 43,1 198.263 45 5,1
Hidráulica e eletricidade 40.670 14,2 55.391 12,6 3,3
Lenha e carvão vegetal 23.521 8,2 26.630 6 0,1
Derivados da cana-de-açúcar 46.827 16,4 93.532 21,2 8,1
Outras renováveis 12.204 4,3 22.710 5,2 7,4
Total 286.163 100 440.668 100 4,9
Toneladas equivalentes de petróleo
Fonte: Gonzalez Sieczkowsk et al. (2012).
E o setor sucroenergético brasileiro?
As projeções da matriz energética brasileira indicam que o Brasil será 
importante ator global na produção de energia verde, principalmente nos 
derivados da cana-de-açúcar, uma espécie das mais eficientes na conversão 
da energia solar em energia química. Essas projeções se baseiam na dis-
ponibilidade de terras, clima adequado, liderança em tecnologia agrícola 
tropical e um sofisticado complexo agroindustrial. Porém, essas projeções 
mais otimistas são questionáveis, pois o País está perdendo a importância 
na produção de biocombustíveis (Figura 5), e precisará reagir para manter a 
liderança na produção de etanol e assumir papel de destaque na produção 
global de energia verde. 
Parte 146
Figura 5. Distribuição da produção mundial de etanol em 2012.
Fonte: adaptado de International Energy Agency (2013).
Na primeira década do século 21, a participação da cana-de-açúcar na 
matriz energética brasileira cresceu de forma expressiva, alcançando o teto 
de 18% em 2009/2010. No entanto, a crise econômica foi acompanhada de 
mudança de prioridades e da política doméstica de energia, e desde então 
a participação do setor sucroenergético vem caindo, com oscilações que 
ainda não permitem indicar uma retomada firme (Figuras 5 e 6). No âmbito 
internacional, essa mudança de trajetória pode ser atribuída, pelo menos 
parcialmente, às politicas de estimulo à produção de etanol adotadas por 
outros países, notadamente os EUA; porém, é na dinâmica doméstica do 
setor sucroenergético que se encontram os principais determinantes, tanto 
da expansão como da crise e estagnação que vêm caracterizando

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