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Figuras de linguagem O que são figuras de linguagem? Bom, as figuras de linguagem são recursos utilizados pelos falantes da língua portuguesa para enfatizar, ou seja, deixar os textos falados ou escritos mais expressivos, por meio de efeitos conotativos, enfáticos e indiretos. As figuras de linguagem são divididas em quatro grandes grupos, que são os seguintes: figuras de pensamento; figuras de palavra; figuras de construção ou sintaxe; figuras de som. Figuras de pensamento As figuras de pensamento são aquelas ligadas ao sentido das palavras nas sentenças. Elas chamam atenção do ouvinte ou leitor para a relação simbólica entre as palavras ou expressões do texto e estão muito associadas ao campo das ideias. 1. Antítese: As antíteses são figuras de linguagem que fazem uma relação de termos opostos em uma mesmo sentença. Veja um exemplo para que fique mais claro: “De tanto chorar, desejou voltar a sorrir.” Os termos chorar e sorrir possuem sentidos contrários e estão relacionados na mesma sentença. “Quem ama o feio, bonito lhe parece.” (Ditado popular) Na frase, “feio” e “bonito” são ideias opostas, mas utilizadas em conjunto para passar o pensamento desse ditado popular: se alguém ama uma pessoa considerada feia, tal pessoa será considerada bonita pelo ser que a ama. 2. Paradoxo: Paradoxo ou Oximoro: Trata-se de figura de Linguagem ou figura de estilo que reúne ideias contraditórias dentro de um mesmo contexto. É interessante observar que a ideia paradoxal, muitas vezes parece ilógica, mas que pode perfeitamente estar dentro do real. Trata-se de uma contradição possível e que tem significado. Exemplo: “Quanto mais eu trabalho, menores são as oportunidades de reconhecimento na empresa.” A ideia de trabalhar muito e não ser reconhecido em sua empresa não faz o menor sentido, certo? Pois é, o paradoxo brinca com a relação de ideias tão opostas que não fazem o menor sentido juntas. “Estou cego e vejo … os olhos e vejo.” O eu lírico se declara um cego que vê. Vemos que trata-se de uma contradição, isto parece-nos algo impossível se for tomado no sentido literal. Vai contra o senso comum. Mas, torna-se repleto de sentido, se for observado e refletido à luz da emoção poética. 3. Personificação: Personificação, Prosopopeia ou Animismo: Personificar é atribuir características humanas e qualidades a objetos inanimados e irracionais. Também parece pouco usual, mas acontece mais do que imaginamos. É comum conceder sentimentos, ações, sensações e gestos físicos e de fala a objetos. Exemplo: Árvores se abraçam. Por exemplo, quando dizemos “A natureza está em chorando…” estamos atribuindo o “choro” (algo racional) à natureza (um elemento irracional). Outro exemplo seria dizer “Meu coração está em pratos…“. Hipérbole: é a expressão intencionalmente exagerada, a fim de realçar o pensamento. Por exemplo, se você quer dizer que está com muita saudade de seu amigo você pode usar a seguinte frase: “Estou morrendo de saudades de você.” É claro que ninguém morre, literalmente, de saudades de alguém. Mas como você está com muita saudade, busca dar a ideia de exagero intencionalmente. Estava com tanta fome que podia comer um boi inteiro. Comer um boi inteiro, de uma só vez, por ser humanamente impossível, é um exagero. Ironia: A ironia é uma figura de pensamento bastante conhecida. Ela busca passar uma ideia contrária àquela expressada pelas palavras. Ficou confuso? Aí vai um exemplo que fará você entender melhor: “Ela parece um anjo, cria confusão por onde passa.” Bom, de maneira geral, anjos não causam confusão, portanto, a ideia que o interlocutor quis passar é que de anjo essa pessoa não tem nada. Exemplo: Pareces realmente um santinho digno do altar. Observação: literariamente, associamos a ironia ao sarcasmo. A pontualidade daquele médico é britânica. Só esperei duas horas para ser atendido. A ironia depende muito de um contexto, ou seja, da situação em que é inserida, do conhecimento do interlocutor sobre o fato ironizado, além de outros elementos, como gestos (na linguagem oral). Eufemismo: é o emprego de expressão mais suave, mais nobre, a fim de abrandar uma ideia desagradável ou chocante. O recurso do eufemismo é utilizado quando se deseja dar um tom mais leve para uma expressão — ou seja, é diretamente oposto à hipérbole. O significado permanece, mas a frase se torna menos direta, pesada, negativa ou depreciativa. “Fulano descansou em paz” é um ótimo exemplo de eufemismo muito utilizado Segundo o juiz, a deputada faltou à verdade em seu depoimento. Note que, em vez de dizer que a deputada mentiu, é usada a expressão “faltou à verdade”, o que torna a afirmação menos desagradável. Apóstrofe: Trata-se da figura utilizada para invocação ou chamamento. Também é usada para indicar surpresa, indignação ou outro sentimento. Um exemplo muito comum é a expressão “minha Nossa Senhora!”, usada quando alguém se espanta com algo. Exemplo: Ó céus, é preciso chover mais? Litote O litote representa uma forma de suavizar uma ideia. Neste sentido, assemelha-se ao eufemismo, bem como é a oposição da hipérbole. Exemplo: — Não é que sejam más companhias… — disse o filho à mãe. Pelo discurso, percebemos que apesar de as suas companhias não serem más, também não são boas. Afirmação realizada pela negação do contrário. Ariosto não é nada bonito, mas gosto dele mesmo assim. Nesse exemplo, o enunciador afirma que Ariosto é feio a partir da negação do adjetivo contrário a feio, ou seja, bonito: não é nada bonito Gradação: Ao pensarmos na apresentação de ideias, a gradação é uma figura de linguagem que propõe a organização das palavras de acordo com a progressão — ascendente ou descendente — dos conceitos. O clímax é obtido com a gradação ascendente, enquanto o anticlímax é a organização de forma contrária. Exemplo: Inicialmente calma, depois apenas controlada, até o ponto de total nervosismo. No exemplo acima, acompanhamos a progressão da tranquilidade até o nervosismo. Estava muito frio, congelando, uma temperatura glacial. Na frase, temos a gradação na descrição do frio para intensificar a ideia de que a temperatura estava realmente baixa. 2. Figuras de palavras O segundo grupo são as figuras de palavras. Essa categoria de figuras de linguagem estabelecem uma relação simbólica de proximidade, associação, substituição ou similaridade entre os termos. Geralmente, dão um sentido conotativo ao texto. 1. Comparação ou símile usando queremos estabelecer um valor comparativo entre dois termos de uma mesma sentença de maneira explícita, por meio de um conectivo, utilizamos a comparação. Confira um exemplo e entenda melhor: “Hoje nossa família se reuniu como na noite de Natal.” Perceba que o conectivo “como” consegue estabelecer o sentido de comparação direta entre uma noite qualquer em que a família está reunida com a noite de Natal, que comumente é uma ocasião em que as famílias se reúnem. Exemplo: Seus olhos são como jabuticabas. Metáfora A metáfora é, provavelmente, a figura de linguagem que mais utilizamos no nosso dia a dia. Ela se baseia em uma comparação implícita, sem o elemento comparativo (“como” ou “tal qual”, por exemplo), em que uma característica de determinada coisa é atribuída ao elemento metaforizado Você tem uma pedra dentro do peito. No exemplo, a metáfora serve para dizer que a insensibilidade de alguém é como um coração tão duro quanto uma pedra. A razão é a luz na escuridão. Observe que a “razão” está sendo comparada com a “luz”. No entanto, não há nenhuma conjunção comparativa explicitada entre os dois termos. Portanto, se a frase fosse “A razão é como a luz na escuridão”, não teríamos mais uma metáfora, mas sim uma comparação. Catacrese: é o emprego de palavras ou expressões emprestadas para designar um ser ou para indicar uma determinada ação. A catacrese é o nome que utilizamos para algo que não tem umnome próprio. Em outras palavras, pegamos um termo que já existe e o “emprestamos” para alguma outra coisa. Assim, o substantivo representa dois significados diferentes, que não têm associação. Exemplos: Exemplo: Embarcou há pouco no avião. Embarcar é colocar-se a bordo de um barco, mas como não há um termo específico para o avião, embarcar é o utilizado. Precisei chamar um marceneiro para consertar o pé da mesa. Não existe um termo específico para designar tal parte da mesa, por isso, toma-se “pé” como empréstimo para designá-la. Sinestesia: é a mistura de sensações por meio de palavras que evocam sentidos diferentes. Ela consiste em uma fusão de sentidos em um mesmo enunciado. A sinestesia é o jogo da mistura das sensações. Quando na mesma oração o autor realiza o cruzamento de diferentes sentidos humanos. Sabe o tato, o paladar, a audição, o olfato e a visão? Na sinestesia eles são misturados e usados de uma maneira diferente. Veja um exemplo: “Esse perfume é muito doce.” As fragrâncias dos perfumes são sentidas pelo olfato, no entanto, é comum dizermos que um perfume é doce, ou seja, atribuímos ao perfume o sentido do paladar, indicado pela palavra “doce”. Exemplo: Com aquele olhos frios, disse que não gostava mais da namorada. A frieza está associada ao tato e não à visão. Metonímia A metonímia é a substituição de uma palavra por outra. Essas palavras possuem uma relação muitíssimo próxima. Ficou confuso? Veja um exemplo para que possa ficar mais claro: “Comi dois pratos no almoço.” Os “pratos” substituíram a palavra “comida”, já que não é possível comer literalmente os pratos, porém é bastante comum utilizar esse tipo de substituição, já que a palavra “pratos” possui um relação íntima com “comida”. A metonímia é mais uma figura de linguagem que tem a ver com semelhanças. Ela ocorre quando um único nome é citado para representar um todo referente a ele. Por exemplo, é comum dizermos frases como “Adoro ler Clarice Lispector” ou, ainda mais comum, “bebi um copo de leite”. No primeiro caso, o que eu adoro ler são os livros escritos pela autora Clarice Lispector, e não a pessoa dela em si. No segundo caso, ocorre o mesmo: o que eu bebi foi o conteúdo (leite) que estava dentro do copo, e não o objeto copo propriamente dito. Ao escrever para a web, a metonímia é muito útil e, muitas vezes, usada sem nem percebermos. Acontece quando substituímos uma marca por um tipo específico de produto — por exemplo, Durex substituindo fita adesiva, Toddy substituindo achocolatado em pó e Maizena substituindo amido de milho. Ela traz maior fluidez à escrita, além de levar o leitor a se identificar com o texto. Tipos de metonímia Efeito pela causa e vice-versa: Quando um termo é substituído pelo seu efeito ou pela sua causa: Eu suei muito para chegar aqui a tempo, ainda bem que consegui entrar. Nesse exemplo, em vez de dizer que correu muito para chegar a tempo, a pessoa diz que suou muito. O suor foi decorrente da corrida intensa, por isso é uma metonímia. Parte pelo todo (sinédoque): Quando um termo é substituído por uma parte que o compõe: Admirou as asas que se aproximavam da pista de pouso. As asas representam o avião do qual fazem parte. Continente (recipiente) pelo conteúdo: Quando um termo é substituído pelo continente (recipiente) em que se encontra: Bebemos a garrafa toda para matar a sede. Quando se fala em beber “a garrafa”, trata-se de uma referência ao líquido que estava dentro dela. Objeto pelo lugar de origem: Quando um termo é substituído pelo lugar de onde se origina: Conheço um restaurante muito bom, adoro o japonês de lá. O termo “japonês” refere-se à culinária japonesa, especialidade do restaurante. Produto pela marca: Quando um termo é substituído pelo nome de uma marca: Você se esqueceu de comprar o cotonete... Hoje em dia, utiliza-se o termo “cotonete” para falar de hastes flexíveis. Cotonete, na verdade, é uma marca de hastes flexíveis, mas tornou-se sinônimo do produto em si, mesmo que se consuma algum de outra marca. Concreto pelo abstrato: Quando um termo concreto é substituído pelo seu conceito abstrato ou vice- versa: Precisamos cuidar da infância. Nesse exemplo, a “infância” é um termo usado para remeter às crianças. Obra pelo autor: Quando o termo que remete à obra (ou a um conjunto de obras) é substituído por seu autor e criador: Você já leu Clarice Lispector? Eles adoram ouvir Chico Buarque. Em ambos os exemplos, o nome dos autores não remete à sua pessoa, e sim à sua obra: livros de Clarice Lispector e músicas de Chico Buarque. A perífrase é uma figura de linguagem que também é chamada de antonomásia e circunlóquio. Consiste na substituição de um termo ou expressão curta por uma expressão mais longa que serve para transmitir a mesma ideia. Em geral, as expressões empregadas como substitutas são bastante conhecidas e facilmente associadas às substituídas, e é até mesmo por essa razão que elas funcionam no contexto. Uma expressão adquire relevância suficiente para essa finalidade quando encerra atributos do conceito em questão ou diz respeito a um traço distintivo dele ou a um fato que o tornou célebre. Exemplos de perífrase: O rei do reggae espalhou uma mensagem de amor e paz enquanto esteve neste mundo. Nessa frase, a expressão “rei do reggae” está no lugar do nome do cantor e compositor Bob Marley. Por exemplo, quando falamos no “rei da selva”, estamos falando do leão. Da mesma forma, podemos nos referir à capital francesa como “Cidade Luz” e ao Rio São Francisco como “Velho Chico”. Já no caso de pessoas, essa substituição tem o nome de antonomásia (para saber mais, veja o item 13). 3. Figuras de construção ou de sintaxe As figuras de construção ou sintaxe são aquelas relacionadas ao nível sintático e estruturais do texto falado ou escrito. 1. Elipse A elipse caracteriza-se pela omissão de uma ou mais palavras de uma oração. A elipse é a omissão de um termo na sentença sem haver prejuízo de sentido. Isso porque o termo omitido fica subentendido pelo contexto. Por exemplo, na frase “(eu) Quero (receber) mais respeito”, os termos em parênteses podem ser omitidos sem que o sentido da frase seja alterado. Começamos o namoro há um mês. Na frase, houve omissão do sujeito “Nós”, que está subentendido pela conjugação do verbo “começar”. Zeugma: O zeugma é basicamente o mesmo que a elipse, com a diferença de que ele é específico para omitir nomes ou verbos citados anteriormente — por exemplo, quando dizemos “Eu prefiro literatura, ele, linguística”, e deixamos de repetir o verbo “preferir”. Preferia os caminhos difíceis aos fáceis. Ou seja: Preferia os caminhos difíceis aos (caminhos) fáceis. 2. Polissíndeto O polissíndeto é a repetição de um conectivo, utilizado para enfatizar o seu texto. Quer ver um exemplo? Veja: “Estudei e fiz uma lista de exercícios e mais outra e descansei.”. Nesse caso, a utilização do “e” tem a função de enfatizar a ideia de que a pessoa fez várias ações relacionadas ao ato de estudar. Exemplo: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua…” (Olavo Bilac) Assídento: Ocorre quando um conectivo é excluído da frase (como o “e”), a fim de trazer uma sequência de informações. Geralmente, é substituído por uma vírgula. É o contrário do que ocorre com o polissíndeto. “Vim, vi, venci.” (Júlio César) Não havia sido convidada para a festa, foi mesmo assim. Nos exemplos, foram omitidas as conjunções “e” e “mas”, que apareceriam entre as palavras grifadas. 3. Hipérbato: Inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou período. A ordem direta é composta de sujeito, verbo, complemento ou predicativo: As manifestações culturais brasileiras são muito valorizadas no exterior. Assim, temos: Sujeito: As manifestações culturais brasileiras. Verbo: são. Predicativo: valorizadas. Se ocorrer o hipérbato, a inversão, temos: Muito valorizadas são as manifestações culturais brasileiras noexterior. Um exemplo de inversão está na frase “Dorme tranquila a menina” — a ordem natural seria “A menina dorme tranquila”. https://www.portugues.com.br/gramatica/tipos-sujeito.html 4. Anáfora A anáfora é também um recurso estilístico que utiliza a repetição de palavras para dar ênfase ao seu texto. No entanto, aqui, as palavras em repetição serão utilizadas somente no início de orações, períodos ou versos sucessivos. Veja um exemplo que pode fazer com que você entenda melhor: “Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José!” Neste exemplo de Carlos Drummond, há versos sucessíveis iniciados pela conjunção “se” propositalmente. Anacoluto: ocorre quando há mudança de construção sintática no meio do enunciado, gerando uma quebra nele e deixando um termo solto, sem exercer função sintática. “Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis.”(José Lins do Rego) No meio do enunciado, o narrador optou por utilizar a sentença “a gente brincava com elas”, fazendo referência às carabinas. Isso, porém, fez com que o termo “umas carabinas”, que iniciou a sentença, ficasse solto do restante do enunciado, servindo apenas para esclarecer a frase no meio dele. Pleonasmo: O pleonasmo ocorre quando a mesma ideia é repetida excessivamente com palavras diferentes na mesma sentença. Quando é feito de modo intencional, é visto como figura de linguagem, quando sem intenção, trata-se de um vício de linguagem (“subir para cima”, “entrar para dentro” e similares). O pleonasmo ocorre quando se repete uma palavra ou expressão na mesma frase com o mesmo significado. Do ponto de vista da gramática, ele é considerado um vício de linguagem (deixando a frase redundante). Entretanto, na literatura, costuma ser usado para dar ênfase. “Me sorri um sorriso pontual” (Chico Buarque) A repetição é feita propositalmente por Chico Buarque para intensificar o sorriso visto pelo eu-lírico e para gerar maior sonoridade à canção. Exemplos: “Sair para fora”, “subir para cima”, “dupla de dois”… Silepse: ocorre quando a concordância é feita com a ideia que as palavras expressam, e não com a sua forma gramatical. Pode ocorrer silepse de número, de gênero e de pessoa, conforme explicitado a seguir, respectivamente: Silepse de gênero: A gente ficou chocado com o que aconteceu ontem. Nesse caso, o enunciador é masculino e refere-se a pessoas do gênero masculino, então faz a concordância com a ideia, e não com o sujeito “A gente”: A gente ficou chocada com o que aconteceu ontem. Silepse de número: O povo exigiu uma satisfação, pois não suportavam mais aquele silêncio. Nesse exemplo, o verbo “suportavam” tem como sujeito “eles/ elas” (não expresso no período), pois o enunciador pensa em povo como uma quantidade de pessoas. Assim, em vez de fazer a concordância com a palavra, no singular, “povo” (O povo não suportava mais aquele silêncio), o enunciador faz a concordância com a ideia, ou seja, “eles/ elas”, uma quantidade de pessoas chamadas de “povo”, portanto no plural. Silepse de pessoa: Os ciclistas corremos grande perigo no trânsito. Observe que, ao conjugar o verbo “correr” na primeira pessoa do plural (nós), o enunciador coloca-se na categoria de ciclista, o que não ficaria evidente se ele fizesse a concordância gramaticalmente esperada: Os ciclistas correm grande perigo no trânsito. 4. Figuras de som As figuras de linguagem sonoras possuem uma relação com a sonoridade das palavras e com as representações simbólicas do som. 1. Assonância A assonância é a repetição de sons vocálicos, ou seja, o som das vogais, em versos ou sentenças. Veja um exemplo: “Aurora ama os animais.”. Neste caso, há a repetição da vogal “a”. A assonância é a repetição de um mesmo som vocálico propositalmente em um texto como recurso estilístico. “Berro pelo aterro, pelo desterro Berro por seu berro, pelo seu erro Quero que você ganhe, que você me apanhe Sou o seu bezerro gritando mamãe” (Caetano Veloso) No excerto, ocorre assonância com o som das letras “e” e “o”. 2. Aliteração Aliteração é quando se faz a repetição do som de uma consoante na mesma frase. É usada para dar ênfase ao texto e para criar trava-línguas. Ela tem a sonoridade como base, o que ajuda a ditar o ritmo. Exemplos bem conhecidos de aliteração: • “o rato roeu a roupa do rei de Roma”; • “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Repetição de consoantes ou sílabas. Minha mãe me mandou fazer o meu melhor. 3. Onomatopeias A onomatopeia é a tentativa de reproduzir efeitos sonoros do nosso cotidiano de maneira gráfica, quer sejam barulhos característicos de animais, fenômenos da natureza, sons de instrumentos musicais e tantos outros. Veja um exemplo: “O tique-taque do relógio me lembrava que tinha pouco tempo para terminar a prova.”. Neste caso, há a tentativa de demonstrar graficamente o som emitido pelos relógios. Derrubou o prato enquanto enxugava a louça: CRASH! “Do berro, do berro que o gato deu: miau!” (Cantiga popular) Nos exemplos, “crash” tenta reproduzir o som do prato quebrando, enquanto “miau” tenta reproduzir o miado do gato. Reiteração: É a repetição de vocábulos. Exemplo: Fez uma jogada linda linda linda o atacante. Paronomásia: Consiste no uso de palavras iguais ou com sons semelhantes, mas que têm sentidos diferentes. Um exemplo de como ela é utilizada no cotidiano é o velho provérbio “quem casa, quer casa”, no qual a mesma palavra diz respeito ao casamento e à moradia. Depois que fiz a descrição do meu chefe, pedi discrição aos meus colegas de trabalho. Exemplo: O cavaleiro, muito cavalheiro, conquistou a donzela. (cavaleiro = homem que anda a cavalo, cavalheiro = homem gentil) Cacofonia; “Alma minha gentil, que te partiste / Tão cedo desta vida descontente, / Repousa lá no Céu eternamente, / E viva eu cá na terra sempre triste” (Luís de Camões) Na cacofonia, a junção de duas palavras (as últimas sílabas de uma + as sílabas iniciais da outra) pode tornar o som diferente e criar um novo significado — ela é percebida ao falar, com o som fazendo parecer algo diferente do que realmente foi dito. Nos versos acima, a cacofonia acontece logo no início: “alma minha“. Veja alguns exemplos de cacofonia que podemos produzir até mesmo sem perceber no dia a a dia: “eu beijei a boca dela“ (cadela); “a prova valia 5 pontos, um por cada acerto” (porcada); “ela tinha uma saia longa” (latinha); “vou te dar uma mão nessa tarefa” (mamão).