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116 • Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista Cisto periodontal lateral: relato de caso clínico Cisto periodontal lateral: relato de caso clínico Lateral periodontal cyst: clinical report * Mestranda em Clínica Odontológica – FO/UFJF. Especialista em Prótese Dentária – EAP-ABO/JF. Endereço Eletrônico: bethmnmartins@yahoo.com.br. ** Graduanda do Curso de Odontologia – FO/UFJF. *** Graduanda do Curso de Odontologia – FO/UFJF. **** Professora Associada 2 – Departamento Morfologia/UFJF. Doutora em Ciências Médicas – UFRJ. Mestre em Ciências Médicas – UFMG. Especialista em Anatomia Patológica – HU/UJFJ. Especialista em Dermatologia – SBD/AMB. ***** Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo Facial – UFP. Professor Adjunto IV – FO/UFJF. ****** Doutora Biopatologia Bucal – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Professora Adjunta IV – FO/UFJF. Coordenadora do Curso de Pós-Graduação. Maria Elizabeth Marques NOGUEIRA MARTINS* Nathália Freguglia BARROS** Thais Fernandes de OLIVEIRA*** Maria Christina Marques Nogueira CASTANÕN**** Eduardo Machado VILELLA***** Maria das Graças Afonso MIRANDA CHAVES****** RESUMO O objetivo deste estudo foi descrever um caso clínico de Cisto Periodontal Lateral encontrado em uma paciente de 47 anos, que foi confirmado por exames radiográfico e histopatológico. O Cisto Periodontal Lateral é um tipo raro de cisto odontogênico de desenvolvimento, não ceratinizado, que ocorre adjacente ou lateral a uma raiz dentária de dente vital e corresponde a 1,5% dos cistos dos maxilares. É encontrado principalmente em adultos entre a 5ª e a 7ª décadas de vida, sem distinção quanto ao sexo. Sem sinais dolorosos ou sintomas clínicos, são normalmente diagnosticados durante exames radiográficos de rotina, porém, para um diagnóstico correto é preciso também avaliar as características histopatológicas. O tratamento se faz por enucleação cirúrgica. Apesar de não tender à recorrência, recomenda-se a proservação por alguns anos. Palavras-chave: Cisto de desenvolvimento; Cisto periodontal lateral; Patologia bucal. ABSTRACT The objective of this study was to describe a clinical case of Lateral Periodontal Cyst found in a 47 year-old patient, which was confirmed by radiographic and histopathologic examinations. The Lateral Periodontal Cyst is a rare type of odontogenic cyst of development, not keratinized, adjacent or lateral to a root of vital tooth and corresponds to 1.5% of cysts in jaws. It is found mainly in adults between 5 th and 7 th decades, without distinction related to sex. With no painful signs or clinical symptoms, these cyst are usually diagnosed during a routine radiographic examination, however, for a correct diagnosis, the histopathologic characteristics must be assessed. The treatment is done by enucleating surgery. Although there is no trend to recurrence, it is recommended to follow-up for some years. Keywords: Development Cyst; Lateral Periodontal Cyst; Oral Pathology. CASO CLÍNICO Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 117 NOGUEIRA MARTINS, M. E.; BARROS, N. F.; OLIVEIRA, T. F.; CASTANÕN, M. C. M. N.; VILELLA, E. M.; MIRANDA CHAVES, M. G. A. INTRODUÇÃO E REVISÃO LITERÁ- RIA As lesões císticas dos maxilares têm sido lar- gamente estudadas e discutidas. Apesar de existi- rem muitas divergências, algumas delas já estão bem definidas, mas outras continuam gerando opiniões controversas, como é o caso do Cisto Periodontal Lateral1-4. No passado, o termo Cisto Periodontal Lateral foi usado para designar qualquer cisto que se desenvolvesse ao longo da superfície lateral radicular, entre eles o cisto radicular lateral e o ceratocisto odontogênico, porém o Cisto Perio- dontal Lateral possui características microscópicas e clínicas peculiares5. Desta forma, o termo pro- vocou confusão, porque nele estava incluído qual- quer cisto colocado lateralmente, quer seja de origem inflamatória, como um cisto radicular lateral, cisto colateral inflamatório, cisto para- dental; quer seja cisto de desenvolvimento, tais como cisto gengival de adultos, cistos odonto- gênicos ou queratocistos6. Há várias hipóteses sobre o surgimento do Cisto Periodontal Lateral. Uma de que ele pode surgir, inicialmente, como um cisto dentígero que se desenvolve pela expansão do folículo ao longo da superfície radicular e se torna lateral durante a erupção do dente. Outra alternativa é a origem a partir dos restos epiteliais de Malassez4,7-8. SHAFER et al.9 (1985) discutiram em deta- lhes a sugestão de que o Cisto Periodontal Lateral e o cisto gengival do adulto têm a mesma histo- gênese, a partir de restos pós-funcionais da lâmi- na dentária, e que estes dois cistos representam basicamente a manifestação central ou intra-óssea e periférica da mesma lesão. Sugeriram existir várias possibilidades que explicam a origem do Cisto Periodontal Lateral, entre elas: 1) a origem, inicialmente, como um cisto dentígero desenvol- vendo-se ao longo da superfície lateral da coroa e, à medida que o dente erupciona, o cisto assu- me uma posição próxima da superfície lateral da raiz; 2) origem a partir da proliferação dos restos epiteliais de Malassez no ligamento periodontal, embora o estímulo para isso seja desconhecido; 3) origem como um cisto primordial de um dente supranumerário, pois a predileção pela ocorrência do cisto periodontal lateral na região de pré-molares inferiores corresponde à incidên- cia elevada bem conhecida de dentes supranumerários nesta mesma região7,10 e; 4) ori- gem a partir da proliferação e transformação cística de restos da lâmina dentária, que se en- contram em estado pós-funcional e, portanto, têm potencial limitado de crescimento, corres- pondendo ao pequeno tamanho que esses cisto têm inicialmente. Há estudos que afirmam que o cisto tende a ocorrer em locais onde restos dentígeros estão associados a dentes impacta- dos verticalmente7. Alguns autores afirmaram que a origem do cisto origina do epitélio redu- zido do esmalte, outros afirmam que provém da lâmina dental, enquanto outros partem do princípio que a origem tem relação com os restos epiteliais de Malassez1. O Cisto Periodontal Lateral é um tipo raro de cisto odontogênico de desenvolvimento, não ceratinizado, que ocorre adjacente ou lateral a uma raiz dentária de dente vital1,4-7,10-12. É raro, mas bem reconhecido e corresponde a 1,5% dos cistos dos maxilares7; no entanto, GARAU et al.13 (2002) relataram que este cisto é uma lesão odontogênica dos maxilares, representando 0,8% de todas as lesões císticas nesta região . Os cistos variam de tamanho podendo atingir dimensões que vão até o próprio comprimento do dente8, mas raramente é maior que 1 cm de diâmetro6. GARAU et al.13 (2002) relataram que este cisto tem início na região lateral de dentes vitais já erupcinados. É encontrado principalmente em adultos entre a 5ª e a 7ª décadas de vida5,11, entre 5ª e 6ª décadas4,12,14, sendo raro a lesão em pessoas com menos de 30 anos5, mas com possibilidades de 20 a 85 anos4; não havendo predileção quanto 118 • Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista Cisto periodontal lateral: relato de caso clínico ao sexo1,10,14 e idade1,10. No entanto, REGEZZI; SCIUBA4 (1993) relataram haver uma prevalência pelo sexo masculino (2:1). A maioria dos cistos periodontais laterais ocorrem em pré-molares mandibulares4,7. Na maxila, lesões semelhantes são encontradas em regiões de incisivos laterais4. Em 75% a 80% dos casos ocorrem na região de incisivo-lateral, canino e pré-molares inferiores10-12,14. Ele surge em algum ponto entre o rebordo cervical e ápice radicular de uma raiz adjacente e pode estar em contato ou não com a superfície radicular4. Ge- ralmente apresenta uma margem esclerótica1. Sem sinais dolorosos ou sintomas clínicos, são normalmente diagnosticados durante exames radiográficos de rotina4,7,9-14. Clinicamente, se manifesta como um edema pequeno (aproximadamente 1 cm)nos tecidos moles e nas papilas interdentais4,7, podendo ser diagnosticado como um abscesso periapical ou periodontal9,12,14. O diagnóstico é baseado na his- tória clínica, no exame radiográfico e no teste de vitalidade pulpar7,9,12,14. Radiograficamente apresenta-se como uma área radiolúcida bem circunscrita, arredondada ou em forma de “gota de lágrima”1-2,4,7,11-12,14-15. Este cisto aparece como uma radiolucência interradicular7. Mesmo incomum, já foi repor- tada reabsorção radicular do dente adjacente, além de perda da lâmina dura ou espessamento do ligamento periodontal1. Pode produzir erosões superficiais no osso cortical, mas nem sempre percebido na radio- grafia e comunica-se com o periodonto4,14. Além disso, apresenta-se mais comumente de forma unilocular, mas pode ocorrer multilocularmente, recebendo a denominação “botrióide”4. Dife- rente de ALBUQUERQUE JUNIOR et al.16 (2005), quando afirmou que o cisto botrióide é uma variação do Cisto Periodontal Lateral17. Podendo se apresentar de forma uni ou multi- loculares, com bordas bem delimitadas. Por pos- suírem características clínico-histológicas semelhan- tes são considerados variantes de uma mesma entidade patológica, originada dos remanescentes epiteliais da lâmina dentária18. ZANCHETIN et al.17 (2007) descreveram que o cisto botrióide é um cisto odontogênico de desenvolvimento intra-ósseo, que ocorre em menos de 2% de todos os cistos delimitados por epitélio dos maxilares. WEATHERS; WALDRON18 (1973) relata- ram uma forma inusitada de cisto sob o nome de cisto odontogênico botrióide, que apresentava um padrão multilocular constatado radiogra- ficamente, histologicamente e até clinicamente, através da remoção cirúrgica. Constataram que se tratava de uma variante policística do Cisto Periodontal Lateral desenvolvendo-se pela trans- formação cística de múltiplas ilhas de restos da lâmina dentária. Para o diagnóstico do Cisto Periodontal Lateral, as características radiográficas não são suficientes, já que um ceratocisto odontogênico que se desenvolve entre as raízes de dentes adja- centes pode mostrar aspecto idêntico5. Deve ser confirmado após a eliminação de todas as outras possibilidades8. Por ser uma lesão comumente não-agressiva, é importante estabelecer um diag- nóstico final correto, através de análises histológicas, evitando ser confundidas com lesões de aspecto semelhante, porém, muito mais inva- sivas1,19. Podem ocorrer dificuldades no diagnós- tico quando os dentes adjacentes já foram trata- dos endodonticamente7. Portanto, para um diagnóstico correto é preciso também avaliar as características histo- patológicas, em que o Cisto Periodontal Lateral apresenta uma cápsula fibrosa fina, geralmente não-inflamada, revestida por epitélio com espes- sura de apenas uma a três células na maioria das regiões5, de quatro a cinco células6; no entanto, PINDBORG; SHEAR 8(1975) e LIMA et al.12 (2005) caracterizaram por um epitélio fino não ceratinizado, usualmente com cinco a seis células na camada, semelhante ao epitélio reduzido do Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 119 NOGUEIRA MARTINS, M. E.; BARROS, N. F.; OLIVEIRA, T. F.; CASTANÕN, M. C. M. N.; VILELLA, E. M.; MIRANDA CHAVES, M. G. A. órgão do esmalte. Geralmente esse epitélio con- siste em células escamosas achatadas, mas às vezes as células são cuboidais1,4-5. Podem ser observa- dos focos de células claras, ricas em glicogênio, entremeados com as células epiteliais limitantes1,4- 6,20. Células epiteliais residuais são, algumas vezes, observadas na cápsula fibrosa5. Tem como diagnóstico diferencial: abscesso periodontal lateral, cisto dentígero lateral, cisto radicular na direção do orifício do conduto pulpar lateral (acessório), cisto radicular residual na dentição decídua e queratocisto odontogênico14. O cisto periodontal lateral pode ser distinguido de um cisto radicular lateral, cisto primordial ao longo da superfície da raiz, tumores odontogênicos radiolúcidos4,7, no forame mental, seio maxilar e canal nutriente7. O tratamento se faz por enucleação cirúrgi- ca, não tendendo à recorrência2,4-6,8-9,11-12,14-15,20-21, sem a exodontia do dente associado quando possível. Do contrário, esse também deve ser removido cirurgicamente9. Casos de recorrência são incomuns, apesar de ser relatada nos casos da variante botrióide, provavelmente devido à sua natureza policística. Também foi relatado um caso extremamente raro de carcinoma de células escamosas, que aparen- temente se originou de Cisto Periodontal Lateral5. Apesar de não tender à recorrência, recomenda- se a proservação por alguns anos12. Através de aspectos microscópicos do Cisto Periodontal Lateral, PINDBORG; SHEAR8 (1975) afirmaram que este cisto, de origem de desenvolvimento odontogênico, deve ser diferen- ciado dos cistos gengivais dos adultos, dos cistos primordiais periodontais numa posição lateral e de cistos inflamatórios. No estudo realizado por CARTER et al.19 (1996) foram encontradas algumas características habituais do Cisto Periodontal Lateral como: uma lesão assintomática, imagem radiolúcida pequena, ovóide e bem-circunscrita que ocorre, normal- mente, entre raízes de pré-molares mandibulares, em homens de meia-idade. A partir do exame histopatológico, CALUMBY et al.21 (2006) encontraram uma cavidade revestida por epitélio pavimentoso, estratificado, fino, uniforme, com algumas pe- quenas áreas de queratinização. As células são cuboidais e há áreas com hiperplasia celular, formando placas. DEMATHÉ et al.11 (2006) obtiveram, atra- vés de dados clínicos e confirmado por histo- patologia, o diagnóstico de um Cisto Periodontal Lateral com 5 mm de diâmetro, em uma pacien- te de 15 anos, entre os elementos dentários 45 e 46. Portanto, o objetivo deste estudo foi descre- ver um caso clínico de Cisto Periodontal Lateral confirmado por exames radiográfico e histopatológico. CASO CLÍNICO Conforme determina a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, sob o n°. 387/2007 em 22 de novembro de 2007. No mês de julho de 2007 foi realizado um atendimento, na Faculdade de Odontologia da UFJF, em uma paciente de 47 anos, procedência de Juiz de Fora/MG, que relatou ter sido aco- metida por um abaulamento na mucosa gengival, próximo à região de pré-molares inferior esquer- do. Ao exame clínico foi observado um nódulo eritematoso de consistência macia, medindo 0,4 cm de diâmetro, assintomático, na junção mucogengival referente ao terço médio radicular entre os elementos dentários 33 e 34. O exame radiográfico periapical identificou área circular radiolúcida delimitada por um halo radiopaco entre as raízes dos elementos citados (Figura 1). Os dentes próximos à lesão responderam posi- tivamente ao teste de vitalidade. A punção aspirativa foi positiva para o líquido cístico. 120 • Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista Cisto periodontal lateral: relato de caso clínico FIGURA 1 – Fotografia de radiografia periapical – caso clínico inicial. FIGURA 2B – Cavidade cística revestida por epitélio escamoso delgado, focalmente espessado envolvido por tecido conjuntivo fibroso com focos de hemorragia. Presença de epitélio fragmentado no interior do cisto (HE – 4X). FIGURA 2C – Revestimento: células epiteliais cúbicas e, focos de células claras, ricas em glicogênio entremeando as células as células epiteliais limitantes (HE – 10x). Frente a este achado, a hipótese diagnóstica foi de cisto odontogênico periodontal lateral. Supon- do-se o diagnóstico, realizou-se a enucleação total da lesão, que foi encaminhada para exame histopatológico. A seguir realizou-se enxerto com osso bovino desproteinizado medular 0,5 cc (Genius/GenOx-Inorg®) protegido por membra- na biológica de origem bovina 20 x 20 mm (Gen-Derm®). Os cortes histológicos corados pela Hematoxilina Eosina (HE) evidenciaram cavidade cística revestida por epitélioescamoso não ceratinizado, uniforme, apresentando áreas focais de células cubóides claras e áreas de FIGURA 2A – Cavidade cística revestida por epitélio escamoso delgado envolvido por tecido conjuntivo fibroso sem sinais de inflamação. Focos de hemorragia (por drenagem mecânica prévia) e conteúdo hemorrágico (HE – 4X). hiperplasia discreta. O estroma adjacente apresen- tava fibrose e algumas células gigantes multinucleadas de natureza indeterminada (Figu- ras 2a-2c). As Figuras 3, 4 e 5 demonstram radiograficamente o início de formação óssea 45 dias, 90 e 120 dias após enucleação da lesão, respectivamente. DISCUSSÃO O cisto periodontal lateral é encontrado prin- cipalmente em adultos entre a 5ª e a 7ª déca- F o to s: M ar ia E li za b et h M ar q u es N o g u ei ra M ar ti n s Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 121 NOGUEIRA MARTINS, M. E.; BARROS, N. F.; OLIVEIRA, T. F.; CASTANÕN, M. C. M. N.; VILELLA, E. M.; MIRANDA CHAVES, M. G. A. FIGURA 3B – Fotografia de radiografia periapical demonstrando início de formação óssea, 45 após enucleação da lesão. FIGURA 3A – Fotografia de radiografia periapical demonstrando início de formação óssea, 45 após enucleação da lesão. FIGURA 4A – Fotografia de radiografia periapical 3 meses após enucleação da lesão. FIGURA 4B – Fotografia de radiografia periapical 3 meses após enucleação da lesão. das5,11 ou entre 5ª e 6ª décadas de vida4,12,14, como ocorrido no presente relato de caso clí- nico, em que a paciente, possuía 47 anos quando a lesão foi detectada, porém alguns autores afir- mam não haver predileção quanto à idade1,10. Quanto ao sexo, há divergências entre au- tores, para alguns não há predileção1,10,14. No entanto, REGEZZI; SCIUBA4 (1993) relataram haver uma prevalência pelo sexo masculino (2:1), contrariando o achado clínico. Para alguns autores a maioria dos Cistos Periodontais Laterais ocorrem em pré-molares mandibulares4,7. Na maxila, lesões semelhantes são encontradas em regiões de incisivos laterais4. Em 75% a 80% dos casos ocorrem na região de incisivo-lateral, canino e pré-molares inferiores10- 12,14. Portanto, o encontrado na literatura condiz com a localização do cisto encontrado na pa- F o to s: M ar ia E li za b et h M ar q u es N o g u ei ra M ar ti n s 122 • Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista Cisto periodontal lateral: relato de caso clínico FIGURA 4C – Fotografia de radiografia periapical 3 meses após enucleação da lesão. FIGURA 5 – Fotografia de radiografia do caso finalizado. ciente referente ao terço médio radicular entre os elementos dentários 33 e 34. Sem sinais dolorosos ou sintomas clínicos, são normalmente diagnosticados durante exames radiográficos de rotina4,7,9-14. A paciente relatou ter sido acometida por um abaulamento na mucosa gengival, próximo à região de pré-mo- lares inferior esquerdo, o que não vai de acordo com a afirmação que não há sintomas clínicos, no entanto, foi apresentado um quadro assintomático para a dor. O Cisto Periodontal Lateral é um tipo raro de cisto odontogênico de desenvolvimento, não ceratinizado, que ocorre adjacente ou lateral a uma raiz dentária de dente vita1,4-7,10,12. Os dentes próximos à lesão cística da paciente responderam positivamente ao teste de vitalidade, confirmando o relato na literatura. Clinicamente, se manifesta como um edema pequeno (aproximadamente 1 cm) nos tecidos moles e nas papilas interdentais7,14. Ao exame clínico da paciente foi observado um nódulo eritematoso de consistência macia, medindo 0,4 cm de diâmetro, na junção mucogengival. Radiograficamente apresenta-se como uma área radiolúcida bem circunscrita, arredondada ou em forma de “gota de lágrima”1-2,4,7,11-12,14-15. Este cisto aparece como uma radiolucência interradicular7. No exame radiográfico periapical da paciente foi identificado área circular radio- lúcida delimitada por um halo radiopaco entre as raízes dos elementos citados. Supondo-se o diagnóstico de cisto periodontal lateral, realizou-se a enucleação total da lesão, como o indicado na literatura2,4-6,8-9,11-12,14-15,20-21. O achado foi encaminhado para exame histopatológico, con- firmando a hipótese diagnóstica. CONCLUSÃO Frente aos achados, a hipótese diagnóstica de Cisto Periodontal Lateral foi confirmada pelos exames radiográficos e histopatológicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MENDES, R. A.; VAN DER WAAL, I. An unusual clinicora- diographic presentation of a lateral periodontal cyst-report of two cases. Med Oral Patol Oral Cir Bucal, Valencia, v. 11, n. 2, E1857-187, Mar. 2006 2. PEREIRA, A. M. et al. Cisto periodontal lateral em locali- zação pouco usual. Odontol Clin Cient, Recife, v. 5, n. 1, p. 75-81, jan./mar. 2006. PINDBORG, J. J.; SHEAR, M. Microscopic features of the lateral periodontal cyst. Scan J Dent Res, v. 83, p. 103-110, 1975. 3. PEZZI, L. P. G.; SOARES, E. C. S.; SANT’ANA FILHO, M. 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