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Tramas das Linguagens Dança (8)

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Assim, as vivências e as reflexões propostas no volume conferem atenção 
especial às narrativas de todos os agentes envolvidos nos processos edu-
cativos em Dança e nas conexões estabelecidas entre eles� Pela descrição 
que esses relatos oferecem, podem-se experimentar e potencializar os 
modos de perceber algo� Levando em conta as concepções de Merleau-
-Ponty (1989), pode-se depreender que a percepção é uma perspectiva 
dentre outras tantas de uma totalidade que não se alcança em absoluto� 
A consciência é sempre a consciência que alguém pode construir sobre 
alguma coisa com/no/do/para o próprio corpo�
O alvo dessa metodologia é explicitar, mediante uma reflexão no 
que se disse e sobre o que se diz acerca da experiência perceptiva, 
o mundo da percepção que as descrições não podem esgotar�
MÜLLER, Marcos José� Merleau-Ponty: acerca da expressão� Porto 
Alegre: EDIPUCRS, 2001� p� 134�
Esse aspecto, conforme a citação de Müller, será fundamental para em-
basar as propostas do volume� A descrição expressa e comunica uma 
experiência corporal que se dá por meio das variadas linguagens que 
existem (verbais, visuais, digitais, corporais, sonoras)� Esse entendimen-
to dialoga diretamente com a maneira como a Dança é abordada no 
decorrer deste volume: um campo de conhecimento que integra a área 
de Linguagens�
Merleau-Ponty (1999) explica que a palavra não traduz um pensamento, 
mas que ela própria é a consumação de um pensamento� Desse modo, 
o receptor de uma fala percebe diretamente o pensamento que ela 
emana� Além disso, o autor destaca os conceitos de imanência e trans-
cendência (MERLEAU-PONTY, 1989)� O primeiro conceito afirma que o 
que é percebido não é incomum a quem percebe, pois é construído por 
ele� Já o segundo diz que o que é percebido comporta algo a mais do 
que se percebe imediatamente� Por isso, as proposições deste volume 
destacam a relevância de valorizar aquilo que se percebe e, ao mesmo 
tempo, buscar a ampliação e o aprofundamento das possibilidades da 
percepção�
Esses fatores ressaltam, ainda, a subjetividade e a intersubjetividade, que 
são abordadas no volume quando há proposição de experiências que 
aguçam o procedimento da observação participativa� Isso possibilita, 
justamente, o olhar para fora com os olhos de dentro e o olhar para den-
tro com os olhos de fora� Em outros momentos, trata-se da observação 
dos estudantes e da auto-observação nos processos de ensino-apren-
dizagem em Dança, sempre de forma contextualizada� Corpo e mundo 
estão correlacionados, construindo-se mutuamente�
O exercício de interrogar e refletir é outro percurso encaminhado nos 
capítulos� Assim, busca-se estimular uma compreensão de si mesmo, 
do outro, das histórias de vida, das experiências anteriores e atuais, dos 
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projetos para o futuro, dos planos profissionais, dos contextos escolares, 
assim como aspectos históricos, sociais, culturais, étnico-raciais, etc� que 
os permeiam� Nesse caminho, será possível se perceber vidente e visível 
no processo perceptivo�
Com base nisso, destaca-se o papel do professor-pesquisador, como pro-
põe a Unidade 2, para que, no processo de construção de conhecimento 
junto com os estudantes, o docente também possa se autoanalisar e se 
autoconhecer� Isso compreende a educação conectada à subjetividade 
e promove as trocas intersubjetivas entre professores e estudantes� O 
comprometimento e o afeto podem atuar como intensificadores das 
potências intersubjetivas�
Cabe salientar que o volume articula temáticas que perpassam quatro 
dimensões� Ao longo da obra, mais especificamente no início de cada 
unidade, será possível identificar como especificamente cada dimensão 
foi ali abordada�
• Dimensão 1 – Conhecimento de si, do outro e do nós: estimula a co-
nhecer os próprios interesses, emoções e forças; a identificar estratégias 
para superar desafios e realizar planos; e a valorizar as ações empáticas 
e coletivas�
• Dimensão 2 – O saber disciplinar em xeque: volta-se para o aprofunda-
mento e a reflexão crítica sobre os conhecimentos específicos da Dança e 
da Arte, observando diferentes modos de abordá-los�
• Dimensão 3 – Área de conhecimento em foco: trata do saber interdis-
ciplinar, estimulando o olhar para as possíveis relações que podem ser 
estabelecidas entre os diferentes campos do conhecimento�
• Dimensão 4 – Repensando a avaliação: enfoca os objetivos, as estraté-
gias e os critérios de avaliação nos processos de ensino-aprendizagem 
em Dança�
Sendo assim, os pontos até aqui expostos dialogam com a Dimensão 1 
– Conhecimento de si, do outro e do nós, pois auxiliam o professor 
a identificar os próprios interesses, os modos e motivos pelos quais 
ensina, perceber as próprias emoções e pensamentos e, assim, definir 
estratégias que enriqueçam seus projetos dentro e fora do âmbito da 
escola�
Outro aspecto relevante e muito potente da abordagem teórico-meto-
dológica adotada neste volume, e que dialoga com a Dimensão 1 para 
desenvolver os processos educativos em Dança, diz respeito a imagens 
e sons que compõem os gestos, tão importantes quanto as palavras� 
Quando se estimula a criação de imagens, permite-se a construção de 
sentidos simbólicos�
De acordo com Godard (2001), ao discutir gesto e percepção, as histórias 
e as experiências pessoais, entre outros fatores, induzem a ação muscular� 
Assim, qualquer mudança na postura de uma pessoa repercute seu esta-
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