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O USO DOS MATERIAIS 
COLETA SENSÍVEL
Para falar dos materiais nas artes visuais, escolhemos pensar a partir da 
obra de alguns artistas que fazem da matéria um elemento autônomo 
no processo criativo e na construção das imagens. A produção visual 
desses artistas busca se afirmar pela materialidade com a qual são pro-
duzidas as obras, a poética e demais investigações. Seus trabalhos não 
pertencem mais à lógica de um mundo organizado em materiais artís-
ticos e não artísticos, uma vez que todos eles estão permeados pela 
possibilidade e pela capacidade de transformação por meio da ação do 
artista. A escolha do material passa a ser a potência da obra e da poé-
tica, e é com base nela que são organizadas as composições, os limites 
são testados e as narrativas são construídas.
Os materiais cotidianos, muitas vezes usados para o objeto artístico, 
são reconhecíveis e carregam sua carga histórica e simbólica. Além dis-
so, apresentam características físicas que passam a importar nas es-
colhas estéticas, como liso, áspero, leve, transparente, pesado, denso, 
entre outras. Essas características são fundamentais para a construção 
de sentidos das obras de arte contemporâneas.
Nesse caminho, as ações da artista paulistana Amélia Toledo (1926-2017) 
se estruturaram na transformação dos materiais. Apesar de algumas 
vezes ter utilizado materiais descartáveis de uso industrial, que nos 
P A R A R E F L E T I R
Leia o trecho do texto “Arte contemporânea no ensino da arte”, da artista e professora Stela Barbieri (s.d.) 
e, depois, reflita sobre a questão proposta.
[...] O contato com a arte também pode potencializar o contato com o mundo. O ensino em arte na 
contemporaneidade deve se caracterizar pela flexibilidade, pluralidade, mutabilidade e provisoriedade. 
Se as aulas de artes não levarem ao desconhecido perdem sua função inicial de levar a investigação. O 
que frequentemente acontece no ensino da arte são conteúdos dados de maneira descontextualizada, 
fragmentada, compartimentada, atividades cheias de efeitos sedutores sem intenção, investigação ou 
continuidade. O trabalho deve se estruturar de maneira orgânica de modo a que exista uma pulsação – 
respiração entre o coletivo e o individual sempre levando em conta as necessidades de tempo e espaço 
e o interesse e envolvimento dos professores e alunos. O tempo e o espaço devem ser adequados aos 
grupos trabalhados, com dinâmicas específicas, o que exige uma leitura e percepção atenta do pro-
fessor. O momento de conclusão deve proporcionar revisão, critica e levantamento de possibilidades 
para continuidade. (STELA BARBIERI. Textos publicados. Disponível em: http://www.stelabarbieri.com.
br/edu/pub/txt_002.htm. Acesso em: 22 dez. 2020).
 Há espaço para a investigação em arte nas aulas?
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http://www.stelabarbieri.com.br/edu/pub/txt_002.htm
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remetem à lógica de um tempo irascível e pouco sensível, seu 
trabalho nos pede uma pausa contemplativa. Segundo COSTA 
(2017, p. 7):
[...] Temporalmente dilatada e cuidadosa, a obra de Amélia Toledo 
busca relacionar-se de maneira humana, demasiadamente humana, 
com o espectador, que é convertido em um parceiro dos conhe-
cimentos sensoriais e semânticos da artista. São experiências, na 
maioria das vezes, lúdicas e despojadas de critérios e dos materiais 
eruditos, que poderiam vir a engessar as sinceras e afetuosas em-
preitadas abstratas de Amélia. Um exemplo disso é a utilização de 
bolhas de sabão dentro de “chocalhos” transparentes. Trata-se da 
série Glu-Glus (1968), que busca o contato próximo do espectador a 
partir de um mergulho despudorado na dimensão lúdica da arte. [...] 
Outros materiais subjugados pelas mãos da artista são pedras, 
colunas de concreto, chapas de aço inox e chapas de cobre. 
Suas criações invadem a arquitetura e compõem a escala huma-
na. Em outros momentos, são as resinas e pigmentos sobre linho 
ou juta que a interessam. Amélia Toledo também nos apresen-
tou algumas instalações multimídia no corpo de sua obra.
O Núcleo de Ceramistas de Caruaru (PE), expoente para o es-
tudo da materialidade em artes visuais do qual podemos citar 
Marliete Rodrigues (1957-), Mestra Ernestina (1919-1997), Mes-
tre Vitalino (1909-1963) e Mestre Galdino (1929-1996), possui 
em seu histórico ceramistas que transformaram poeticamente 
o barro e escreveram histórias.
O artista paraense Bené Fonteles (1953-) interessa-se pela 
ação do tempo na matéria, que acumula outras séries de ações 
humanas. O artista nos provoca e emociona com suas coletas 
de memórias, palavras, melodias. Coleciona materiais deixados 
por pescadores repletos de narrativas. Desenvolve interven-
ções na paisagem praiana e sinaliza com delicadeza vestígios 
de quem por ali passou.
 LUNARDO, Evandro da 
Silva. Mestras do barro: a 
essencialidade feminina 
na arte do Alto do 
Moura. In: XV ENECULT – 
ENCONTROS DE ESTUDOS 
MULTIDISCIPLINARES EM 
CULTURA, 2019, Salvador. 
Anais [...]. Salvador: [s. n.], 
2019. p. 1-12. Disponível em: 
http://www.enecult.ufba.
br/modulos/submissao/
Upload-484/112156.pdf. 
Acesso em: 8 dez. 2020.
Nesse artigo, você pode 
conhecer mais sobre as 
mulheres ceramistas de 
Caruaru (PE). 
 VITORINO, Rosângela 
Ferreira de Oliveira. Mestre 
Galdino: o ceramista poeta 
de Caruaru – PE. 2013. 
Dissertação (Mestrado 
em Artes) – Universidade 
Estadual Paulista “Júlio 
de Mesquita Filho”, São 
Paulo. Disponível em: 
https://repositorio.unesp.
br/handle/11449/122057. 
Acesso em: 8 dez. 2020.
A dissertação refere-se 
à construção poética de 
Mestre Galdino e aborda 
desde a coleta do barro, os 
tipos de fornos até a técnica 
utilizada por ele. 
 32a BIENAL DE SÃO 
PAULO: INCERTEZA VIVA. 
Bené Fonteles. São Paulo, 
2016. Disponível em: http://
www.32bienal.org.br/
pt/participants/o/2536. 
Acesso em: 8 dez. 2020.
Na página indicada, você 
pode conhecer a instalação 
Ágora: OcaTaperaTerreiro, 
de Bené Fonteles, realizada 
em 2016 para a 32a Bienal de 
São Paulo.
A P R O F U N D A R
P A R A
Quais são as 
materialidades 
efêmeras do 
seu cotidiano 
escolar?
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http://www.enecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/112156.pdf
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https://repositorio.unesp.br/handle/11449/122057
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http://www.32bienal.org.br/pt/participants/o/2536
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http://www.32bienal.org.br/pt/participants/o/2536