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A POÉTICA NOS PROCESSOS DE CRIAÇÃO A BNCC apresenta em seu texto a importância da poética nos processos de aprendizagem. No Ensino Fundamental, ela é mencionada da seguinte maneira: “[...] É no percurso do fazer artístico que os alunos criam, experimentam, de- senvolvem e percebem uma poética pessoal. [...]” (BRASIL, 2018, p. 193). E, no Ensino Médio, o mesmo documento trata da poética da seguinte forma: [...] Um ambiente propício para o engajamento dos estudantes em processos criativos deve permitir a incorporação de estu- dos, pesquisas e referências estéticas, poéticas, sociais, cultu- rais e políticas para a criação de projetos artísticos individuais, coletivos e colaborativos, capazes de gerar processos de trans- formação, crescimento e reelaboração de poéticas individuais e coletivas. [...] (BRASIL, 2018, p. 482) Se olharmos para o que a BNCC diz, podemos compreender que a poética está relacionada ao desenvolvimento de pro- cessos de criação e do fazer artístico do estudante e que, no decorrer da aprendizagem em arte, ela é trabalhada e reelaborada. No entanto, o que é poética? Como tratar esse aspecto na aprendizagem em Arte na escola? Como identificar as poéti- cas presentes nas criações dos estudantes? Para Cecília Almeida Salles, a poética refere-se aos princípios que compõem a singularidade do artista, o que envolve seus gostos e crenças e se manifesta naquilo que é único e pessoal em seus projetos e produções. O filósofo italiano Luigi Pareyson (1918-1991), em seu livro Os problemas da estética (2001), apresenta a poética como aquilo que o artista encontra no decorrer do seu percurso de criação, sendo desenvolvida por meio da repetição e da maturação de seu trabalho. Para ele, a poética está relacionada à espirituali- dade, a gostos do artista e ao seu tempo e contexto. A professora e pesquisadora Marina Marcondes Machado (2015) traz outro caráter para a poética. Para ela, todos pos- suem uma marca pessoal que define a poética própria de cada um e que está presente na forma como nos expressa- mos e quando estamos sendo nós mesmos. Machado tam- bém aponta que na arte a poética pode ser entendida “[...] LILIANA PORTER. Photograph. Disponível em: http:// lilianaporter.com/pieces/ medium/photograph. Acesso em: 3 dez. 2020. A artista argentina Liliana Porter (1941-) desenvolve um trabalho compondo com diferentes tipos de materiais; entre eles, objetos do cotidiano, como bibelôs, brinquedos, suvenires, etc. Em sua página oficial, é possível conhecer seus trabalhos. BARRÃO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural. org.br/pessoa9454/barrao. Acesso em: 3 dez. 2020. O artista carioca Barrão (1959- ) reaproveita diversos objetos do cotidiano, como geladeira, escada, TV, etc., em seus trabalhos de bricolagem, ressignificando seus contextos originais, sem deixar de considerar a memória do objeto. NOVOA, João Vitor C. Após expor no Centro Cultural, Lia Menna Barreto exibe escultura no MARGS. Porto Alegre: UFRGS-DDC, 2020. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ difusaocultural/apos-expor- no-centro-cultural-lia-menna- barreto-exibe-escultura-no- margs/. Acesso em: 3 dez. 2020. Nessa notícia, você pode conhecer um pouco sobre o trabalho da artista carioca Lia Menna Barreto (1959-), que utiliza materiais diversos em montagens inusitadas. Nesse processo, ela descola a materialidade original do objeto, criando narrativas escultóricas, simulacros e “desestruturas”. A P R O F U N D A R P A R A 73 P3_FC_ARTES_VISUAIS_g21At_064a086_U2_C3.indd 73P3_FC_ARTES_VISUAIS_g21At_064a086_U2_C3.indd 73 1/15/21 8:49 AM1/15/21 8:49 AM http://lilianaporter.com/pieces/medium/photograph http://lilianaporter.com/pieces/medium/photograph http://lilianaporter.com/pieces/medium/photograph http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9454/barrao http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9454/barrao https://www.ufrgs.br/difusaocultural/apos-expor-no-centro-cultural-lia-menna-barreto-exibe-escultura-no-margs/ https://www.ufrgs.br/difusaocultural/apos-expor-no-centro-cultural-lia-menna-barreto-exibe-escultura-no-margs/ https://www.ufrgs.br/difusaocultural/apos-expor-no-centro-cultural-lia-menna-barreto-exibe-escultura-no-margs/ https://www.ufrgs.br/difusaocultural/apos-expor-no-centro-cultural-lia-menna-barreto-exibe-escultura-no-margs/ https://www.ufrgs.br/difusaocultural/apos-expor-no-centro-cultural-lia-menna-barreto-exibe-escultura-no-margs/ como o conjunto de características de um artista ou de um autor, reno- mado ou iniciante: traços, rabiscos, contornos, modos próprios de ser e estar no mundo, na sua relação consigo e com o outro [...]” (MACHADO, 2015, p. 64). Na escola, ao proporcionar aos estudantes vivências que trabalham pro- cessos de criação em arte e que considerem seu percurso, suas experi- mentações, seus rascunhos, seus estudos, seus planejamentos... enfim, tudo o que envolve investigação, exploração e criação de repertório em artes visuais, é desenvolvido o conhecimento sobre si, ou seja, a desco- berta e a identificação de gostos e modos de se expressar: a poética. É importante frisar que o trabalho com processos criativos não objetiva que os estudantes teorizem sobre a própria poética, mas visa que você, professor(a), forneça subsídios para que eles possam se expressar artis- ticamente, de modo que identifiquem características e elementos que se repetem em suas criações. Para tal, é importante que seu processo seja registrado ou organizado em seus portifólios e processualmente avaliado por você, em diálogo com a turma. Além disso, esse trabalho tem a intenção de aumentar o repertório dos estudantes, para que eles conheçam e analisem produções de di- ferentes artistas, seus processos de pesquisa e criação, percebendo e identificando as características singulares de determinado artista em suas obras, considerando que estas podem ser constantemente reela- boradas de acordo com suas fases, seus contextos e seus momentos de vida. Por exemplo, se olharmos para a produção de Pablo Picasso (1881-1973), vemos uma trajetória ampla de envolvimento em diversos movimentos artísticos, fases, temas e características. Da mesma forma, o artista brasileiro Hélio Oiticica (1937-1980) teve momentos marcantes em sua trajetória com o Grupo Frente, no Concretismo, e com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Neoconcretismo, que im- pulsionou a criação de seus Parangolés. Oiticica, por meio de sua obra, também teve um papel importante na criação do movimento Tropicália. SABERES, PROCESSUALIDADE E APRENDIZAGEM EM ARTES VISUAIS Ao falarmos sobre os processos de criação na escola, compreendemos que a construção do conhecimento em arte se dá por meio de uma pro- cessualidade que envolve “[...] atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, sensibilidade, pensamento, emoção. [...]” (PIMENTEL, 2013, p. 97). Esses saberes vinculados aos processos de criação encontram respaldo naquilo que o texto introdutório da área de Linguagens e suas Tecnolo- gias da BNCC nos diz: MAM RIO DE JANEIRO. Hélio Oiticica: a dança na minha experiência. Rio de Janeiro: MAM Rio, 2020. Disponível em: https://www.mam. rio/programacao/ helio-oiticica-a- danca-na-minha- experiencia/. Acesso em: 3 dez. 2020. Nesse site do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro há um texto sobre a exposição Hélio Oiticica: a dança na minha experiência, que explica parte dos processos criativos do artista e suas fases. A P R O F U N D A R P A R A 74 P3_FC_ARTES_VISUAIS_g21At_064a086_U2_C3.indd 74P3_FC_ARTES_VISUAIS_g21At_064a086_U2_C3.indd 74 1/15/21 8:49 AM1/15/21 8:49 AM https://www.mam.rio/programacao/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia/ https://www.mam.rio/programacao/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia/https://www.mam.rio/programacao/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia/ https://www.mam.rio/programacao/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia/ https://www.mam.rio/programacao/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia/