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■ Após a conclusão da atividade, converse com o grupo e procure perceber o que será dito sobre os sons 
que os próprios colegas deles realizaram.
 ■ Essa atividade pode contribuir para o desenvolvimento da competência geral 4, por utilizar a linguagem sono-
ra e conhecimentos musicais para expressar e partilhar experiências e também a competência específica 1, por 
contribuir para o entendimento do funcionamento da linguagem musical.
AVALIAÇÃO
Faça uma avaliação qualitativa e processual dos estudantes durante a atividade. Observe se o envolvi-
mento deles aumenta à medida que repetem e ampliam a pesquisa. Perceba o modo como os estudantes 
definem os sons escutados, por exemplo, e se eles os qualificam. Questione as razões de um tipo de som 
ser considerado agradável, desagradável, irritante, indiferente, entre outras possibilidades. As discussões 
sobre o que é música estão relacionadas com as reflexões sobre o que é som musical e sobre o entendi-
mento de ruído. 
ao redor dos espectadores e que se tornam 
a música da obra. Essa experiência, que tam-
bém é considerada um happening, estimulou 
músicos e musicólogos a repensar seus enten-
dimentos sobre música, ruídos, som e silêncio.
M. Schafer é atualmente um dos expoentes 
de um pensamento musical que conside-
ra a gama de sonoridades que nos cercam. 
 Schafer voltou-se para as experiências de 
Cage, lançando-lhe o questionamento sobre 
o que é música e obteve a resposta: “Música 
é os sons, sons à nossa volta, quer estejamos 
dentro ou fora de salas de concerto”. (SCHA-
FER, 2011, p. 108).
Em continuidade ao pensamento de Cage, 
Murray Schafer desenvolveu um conceito fun-
damental para pensar a educação musical que 
se baseia na escuta dos sons, que não está 
centrada apenas na apreensão dos elementos 
convencionalizados de uma linguagem e no 
domínio técnico de um instrumento musical. 
Trata-se da educação sonora, um modo de pen-
sar as relações estabelecidas não apenas com 
as músicas que escutamos, mas também com 
os sons que produzimos e com os quais convi-
vemos. Com base nesse pensamento, Schafer 
elaborou o conceito de paisagem sonora.
A música de tradição europeia foi construída 
em torno do ambiente da sala de concerto, um 
espaço em que os sons reconhecidos como 
musicais poderiam acontecer protegidos dos 
sons da vida cotidiana. Entretanto, à medida 
que novas experiências na linguagem musical 
se desenvolviam e ampliava-se o olhar para ou-
tras culturas musicais, alguns artistas e pensa-
dores trouxeram modos diferentes de escuta.
O músico e educador canadense R. Murray 
 Schafer, em sua obra A afinação do mundo, co-
menta que, no decorrer do século XX, as defini-
ções tradicionais de música caíram por terra em 
virtude da própria atividade criativa dos músicos.
Um dos marcos desses questionamentos so-
bre os sons considerados musicais e a gama de 
sons que escutamos na vida cotidiana foi a ex-
periência do compositor estadunidense John 
Cage (1912-1992) em sua obra “4’33 segundos”. 
Nessa composição, de 1952, o instrumentista 
se posiciona diante do piano aberto e não toca 
nada no instrumento durante o tempo de qua-
tro minutos e trinta e três segundos. Em um 
primeiro momento, podemos pensar que se 
trata de uma obra silenciosa, entretanto a in-
tenção do compositor era justamente chamar 
a atenção para todos os sons que acontecem 
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Ao estudar os sons que nos rodeiam de modo multidisciplinar, com a participação de profissio-
nais de diferentes áreas do conhecimento e da ciência, como engenheiros acústicos, sociólogos, 
psicólogos e músicos, Schafer criou a palavra soundscape, um neologismo que estabelece uma 
analogia com a palavra paisagem em inglês (landscape), e consentiu que a tradução desse ter-
mo, nas línguas latinas, fosse “paisagem sonora”. 
Schafer identificou uma negligência histórica em relação aos sons ambientais que culminaram 
nos problemas da poluição sonora que hoje vivenciamos. Segundo o pesquisador, estamos imer-
sos em um conjunto de sonoridades que nos é imposto e não podemos refletir sobre o ambiente 
acústico que desejamos nem opinar sobre ele.
Assim, a paisagem sonora mundial é uma composição indeterminada da qual todos nós parti-
cipamos inconscientemente e, para contribuir com o nosso bem-estar, podemos fazer parte de 
sua construção. 
Em 1971, Schafer criou o projeto Paisagem Sonora Mundial, sediado no Estúdio de Pesquisas Sonoras 
do Departamento de Comunicação da Universidade Simon Fraser, na Colúmbia Britânica, Canadá. 
Esse projeto é dedicado ao estudo comparativo da paisagem sonora mundial, que realiza pesquisas 
sobre a percepção auditiva, o simbolismo sonoro, a poluição sonora, entre outros, unindo as artes e as 
ciências dos estudos sonoros para o desenvolvimento da interdisciplina: o Projeto Acústico.
Esse pensamento não desvincula a experiência de ouvir música dos sons que interferem em nos-
sa escuta e não fazem parte de determinado local onde a música é apreciada. Por exemplo, se 
escutamos uma obra para piano em um ambiente com muitos sons de tráfego urbano, por mais 
que nossa abstração separe nossas atenções do som ambiental, ele faz parte da experiência de 
escuta. Em sua obra, Schafer faz constantes referências aos significados que Cage deu a esses 
sons indesejáveis, ou ruídos, especialmente citando sua obra “4’33 segundos”, na qual todas as 
sonoridades ao redor do músico tornam-se a própria obra musical. 
Assista à interpretação da composição “4’33 segundos”, de John Cage, pela orquestra Filarmônica de 
Berlim. 
JOHN CAGE: 4’33” – Petrenko. [S. l.]: Berliner Philharmoniker, 2020. 1 vídeo (3 min). Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=AWVUp12XPpU. Acesso em: 28 nov. 2020.
 ■ Quais sensações essa apresentação lhe causa? Para você essa é uma obra puramente musical?
 ■ Quais sons chamam sua atenção?
 ■ O que marca a apresentação dos artistas?
Em plataformas de streaming é possível encontrar versões com diferentes adaptações da obra de John 
Cage. Experimente conhecer outras interpretações. 
Partindo da perspectiva de John Cage, que abriu as portas das salas de concerto para todos 
os sons considerados indesejáveis, bem como de outras experiências da música do século XX, 
Schafer conclui que a nova orquestra é o nosso ambiente sônico, e os músicos são qualquer 
coisa que soe. Esse é um desafio que Schafer lança aos educadores musicais da atualidade, pois 
para ele todo o ensino de música precisa ser repensado.
E X P E R I M E N T E !
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