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5976 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Construção e validação de tecnologia cuidativo-educacional para o cuidado de enfermagem à criança com hidrocefalia Construction and validation of care-educational technology for nursing care for children with hydrocephalis DOI: 10.55905/revconv.16n.7-046 Recebimento dos originais: 05/06/2023 Aceitação para publicação: 06/07/2023 Chesney Mota Oliveira Mestre em Enfermagem Instituição: Hospital Estadual da Criança Endereço: Feira de Santana - BA, Brasil E-mail: chesneymota@gmail.com Maria Carolina Ortiz Whitaker Doutora em Ciências Instituição: Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia Endereço: Salvador - BA, Brasil E-mail: maria.ortiz@ufba.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0253-3831 Lucas Amaral Martins Doutor em Enfermagem e Saúde Instituição: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Endereço: Santo Antônio de Jesus - BA, Brasil E-mail: lucas.martins@ufrb.edu.br Rita da Cruz Amorim Doutora em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador Instituição: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Endereço: Feira de Santana - BA, Brasil E-mail: ritacamor@gmail.com Kátia Santana Freitas Pós-doutora em Epidemiologia Instituição: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Endereço: Feira de Santana - BA, Brasil E-mail: ksfreitas@uefs.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0491-6759 https://orcid.org/0000-0002-0491-6759 5977 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Juliana de Oliveira Freitas Miranda Doutora em Enfermagem Instituição: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Endereço: Feira de Santana - BA, Brasil E-mail: julidefreitas@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7659-3103 Aisiane Cedraz Morais Doutora em Enfermagem Instituição: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Endereço: Feira de Santana - BA, Brasil E-mail: aisicedraz@hotmail.com RESUMO A prevalência de hidrocefalia na população infantil é pouco relatada, podendo estar presente, na forma congênita, em 3 a 4 por 1000 nascidos vivos. Sendo assim, o estudo em questão teve como objetivo construir e validar uma Tecnologia Cuidativo-Educacional para o cuidado de Enfermagem à criança com hidrocefalia no contexto hospitalar. Estudo metodológico realizado em hospital pediátrico de grande porte no interior da Bahia, com 27 enfermeiras participantes. Desenvolvido em três etapas e a primeira contemplou a elaboração da tecnologia, do tipo Manual, a partir da definição do objetivo, população alvo e levantamento conceitual. Na segunda etapa, a validação de conteúdo por meio da avaliação com cinco juízes e na última etapa, a validação com o público-alvo da instituição do estudo. Ao final, foi aplicado um teste piloto. A Tecnologia Cuidativo-Educacional, do tipo Manual, sobre o cuidado de enfermagem à criança com hidrocefalia alcançou um índice de validade de conteúdo geral de 0,94. Na validação com o público-alvo obteve um índice de 0,99. Sua validação foi feita sob os aspectos da aparência/clareza, abrangência, pertinência e aplicabilidade à prática do enfermeiro no contexto hospitalar pediátrico. Este estudo tem relevância e impacto para a assistência de enfermagem à criança com hidrocefalia e concentra-se na perspectiva de aplicação de uma tecnologia leve voltada para promoção de qualidade da assistência nesse contexto. Palavras-chave: criança hospitalizada, hidrocefalia, cuidado de enfermagem, tecnologia educacional, estudo de validação. ABSTRACT The prevalence of hydrocephalus in the child population is little reported, and it may be present, in the congenital form, in 3 to 4 per 1000 live births. Therefore, the study in question aimed to build and validate a Care-Educational Technology for Nursing care for children with hydrocephalus in the hospital context. Methodological study carried out in a large pediatric hospital in the interior of Bahia, with 27 participating nurses. Developed in three stages and the first included the elaboration of the technology, of the Manual type, from the definition of the objective, target population and conceptual survey. In the second stage, the content validation through the evaluation with five judges and in the last stage, the validation with the target audience of the study institution. At the end, a pilot test was applied. The Care-Educational Technology, of the Manual type, on nursing care for children with hydrocephalus reached a general content validity index of 0.94. In validation with the target audience, it obtained an index of 0.99. Its validation was carried out under the aspects of appearance/clarity, scope, pertinence mailto:aisicedraz@hotmail.com 5978 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 and applicability to nursing practice in the pediatric hospital context. This study is relevant and has an impact on nursing care for children with hydrocephalus and focuses on the perspective of applying a light technology aimed at promoting the quality of care in this context. Keywords: child hospitalized, hydrocephalus, nursing care, educational technology, validation study. 1 INTRODUÇÃO A hidrocefalia é uma condição patológica, evidenciada por sinais e sintomas, na qual ocorre o aumento do volume de líquido cefalorraquidiano (LCR), associado também ao volume sanguíneo cerebral e ao parênquima cerebral, muitas vezes consequentes de edema ou lesões, levando a uma dilatação dos ventrículos cerebrais. Essa dilatação comprime o cérebro, ocasionando um aumento da pressão intracraniana (PIC) prejudicial aos tecidos cerebrais (Pinheiro, 2012; Kahle et al., 2016). A prevalência de hidrocefalia na população infantil é pouco relatada, podendo estar presente, na forma congênita, em 3 a 4 por 1000 nascidos vivos (Cunha, 2014). Estudo realizado em hospital de São Paulo, com 34 crianças de 0 a 3 anos com essa malformação, demonstrou que em 41% dos casos (n=14) as mães apresentaram antecedentes obstétricos, os pacientes com peso ao nascer < 2500g apresentaram 5 vezes mais chances de ter hidrocefalia quando comparado aos pacientes com peso de nascimento entre 2500 e 3000 gramas, e 73,5% das crianças foram diagnosticadas com hidrocefalia antes dos 6 meses de vida (Martins, Beserra & Barbosa, 2018). Além dos aspectos físicos, crianças com hidrocefalia podem sofrer alterações no desenvolvimento, apresentando problemas na função motora, déficit no domínio escolar e dificuldades na comunicação e relacionamento interpessoal, o que pode levar ao isolamento social e repercutir na rotina e qualidade de vida da criança e da família, com ênfase nos aspectos emocionais e sociais (Torres et al., 2017). Para mitigar essas repercussões da hidrocefalia, faz-se necessário o diagnóstico e intervenção cirúrgica precoces, a fim de promover a resolução dos sintomas (Kahle et al., 2016). O tratamento cirúrgico da hidrocefalia é feito por meio da implantação de derivações ventriculares para drenar o LCR; porém, complicações como infecção, obstrução do sistema de drenagem e lesões neurológicas associadas ao procedimento podem ocorrer e gerar sofrimento. 5979 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 No contexto da hospitalização decorrente da hidrocefalia, os profissionais de enfermagem estão mais próximos da criança e sua família. Dentre os diagnósticos de enfermagem associados ao cuidado da criança com hidrocefalia é possível destacar: capacidade adaptativa intracraniana diminuída relacionada ao aumento da PIC; conforto alterado relacionado a vômitos secundários ao aumento da PIC; risco para o desequilíbrio de volume de líquidos relacionado aos vômitos e/ou hiperdrenagem liquóricae risco para integridade da pele prejudicada relacionado à deformidade craniana acentuada (Alcântara et al., 2011). No que se refere aos problemas de enfermagem relativos ao cuidado da criança com hidrocefalia no cenário hospitalar, a enfermeira que atua na assistência ao paciente neurocirúrgico tem a responsabilidade de identificar problemas reais e potenciais de saúde, fundamentados em evidências científicas, a fim de traçar ações para o cuidado e manutenção da qualidade de vida desses pacientes. Nessa perspectiva, a Educação Permanente, essencial nos serviços de saúde, é uma estratégia de incentivo e promoção de mudanças na prática profissional, apoiando a assistência segura ao paciente (Brasil, 2018). Visando a promoção da educação permanente em saúde, o compartilhamento de conhecimentos por meio de Tecnologias Cuidativo-Educacionais, consolidadas a partir da comunicação e orientação sistemáticas, pode ser uma estratégia para promoção da prática segura no campo da enfermagem. As Tecnologias Cuidativo-Educacionais (TCE) são capazes de desvelar a inter-relação entre o cuidar-educar, se configurando como uma inovação de conceber e justificar produtos e tecnologias que precisam ser validadas e utilizadas, se tornando necessárias quando o indivíduo toma consciência da sua práxis profissional (Salbego et al., 2018). Nesse sentido, as TCE podem ser ferramentas úteis para a prática assistencial e gerencial da enfermeira. Com o intuito de sistematizar e promover a prática assistencial segura pela Enfermagem, surgiu o interesse em construir e validar uma tecnologia para auxiliar Enfermeiras no cuidado da criança com hidrocefalia no contexto hospitalar. Para isso, foi realizada busca em setembro de 2022, nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde e National Library of Medicine (PubMed), utilizando os termos hydrocephalus AND nursing care, nos idiomas inglês, português e espanhol, e dos onze (11) artigos selecionados, apenas cinco (05) foram realizados no Brasil, revelando a escassez de produção sobre a temática. Além disso, nenhum estudo apresentava uma proposta de tecnologia para o cuidado de enfermagem à criança com hidrocefalia, o que reforça a necessidade de construção de TCE voltadas para esse cuidado. 5980 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Diante da lacuna na produção científica e da importância da sistematização do cuidado de Enfermagem à criança com hidrocefalia, este estudo tem como objetivo construir e validar o conteúdo de uma Tecnologia Cuidativo-Educacional voltada para o cuidado de Enfermagem à criança com hidrocefalia no contexto hospitalar. 2 MÉTODO Trata-se de uma pesquisa metodológica para o desenvolvimento de uma Tecnologia Cuidativo – Educacional (TCE) em formato de Manual, abordando aspectos conceituais e de cuidados à criança com hidrocefalia, destinado as enfermeiras e técnicos de enfermagem para qualificação do cuidado no contexto hospitalar. Foram respeitados os aspectos éticos das Resoluções 466/2012 e 510/2016 que versam sobre pesquisas com seres humanos em serviços de saúde no âmbito do SUS (Brasil, 2012; 2018). Aprovada sob CAAE nº 52677821.5.0000.0053. Realizado de junho a outubro de 2022, em um hospital pediátrico de grande porte, referência no atendimento materno-infantil no estado, com 240 leitos, situado no município de Feira de Santana, Bahia. Foram incluídas enfermeiras, contratadas há mais de 03 meses, em regime de escala diarista ou plantonista, que atuam nas unidades de internamento de crianças com hidrocefalia do hospital (emergência, clínicas médica e cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica). Foram excluídas enfermeiras afastadas por motivos de licenças e férias. Todos concordaram com sua participação mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi conduzido em duas etapas: construção do manual e validação de conteúdo, conforme fluxograma das etapas do estudo (Figura 1) (Deatrick; Aalberg; Cawley, 2010). 5981 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Figura 3 - Fluxograma das etapas do estudo Fonte: Dados da pesquisa, 2022. 2.1 CONSTRUÇÃO DO MANUAL Inicialmente foi feita a definição do objetivo e das participantes, seguida do levantamento conceitual, formação do comitê institucional e construção da primeira versão da tecnologia. O objetivo da construção do TCE foi traçar e nortear ações voltadas para o cuidado de enfermagem à criança com hidrocefalia a fim de auxiliar na assistência, identificação de problemas potenciais, tomada de decisão, promoção de segurança e manutenção da qualidade de vida dessa criança. Para o levantamento conceitual, foi realizada busca de estudos nas bases Biblioteca Virtual em Saúde e Pubmed utilizando os descritores em saúde: nursing care and hydrocephalus. Para essa seleção foram utilizados os seguintes critérios: ser publicado na íntegra nos idiomas português, inglês e espanhol nos últimos 10 anos; ser classificado como estudo original, revisão integrativa ou sistemática, sendo em formato de artigos, capítulos de livro, livros, guias, manuais e/ou protocolos; conter informações sobre cuidados da criança com hidrocefalia, segurança do paciente pediátrico, validação de tecnologias; envolver a população pediátrica /ou neonatal. Ao final da busca foram selecionados 12 estudos. O conteúdo da primeira versão do manual foi elaborado a partir do conhecimento produzido pelos estudos e tecnologias encontrados nas bases de dados. Foram utilizadas informações sobre a definição da hidrocefalia, causas, sinais e sintomas, cuidados de enfermagem Construção do Manual Definição do objetivo do Manual e da população alvo Levantamento conceitual sobre hidrocefalia na criança e cuidados de enfermagem Construção do Manual Definição e aprovação do Manual Validação de Conteúdo Validação de conteúdo da versão do Manual pelo painel de experts Validação com as participantes 5982 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 à criança com hidrocefalia, cuidados no pré e pós-operatório, medidas de prevenção de complicações pós-cirúrgicas. A construção do manual e a diagramação foram realizadas com a ajuda de um profissional em design, utilizando imagens disponibilizadas pela internet que são de domínio público. A versão preliminar do manual foi construída pelas pesquisadoras principais, a partir do levantamento teórico realizado previamente e sua experiência prática. Após discussão da versão preliminar produzida pela designer, foram necessários os seguintes ajustes: alterar cor e fonte da capa; enumerar subtítulos no corpo do texto; alinhar o sumário; inserir definição da hidrocefalia na introdução; inserir cor de fundo com informações para dar destaque; ajustar margem; alterar subtítulos; referenciar o Escore de Alerta Pediátrico (escala utilizada na rotina das enfermeiras para detecção da deterioração clínica); ajustar referências. Posteriormente, a primeira versão da TCE “Manual para o Cuidado da Criança com Hidrocefalia” foi encaminhada para validação de conteúdo pelos juízes experts. 2.2 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO PELOS JUÍZES Para verificar se os conceitos apresentados, itens, textos e imagens do manual estavam condizentes com a proposta, foi necessário realizar a validação de conteúdo (Bittencourt et al., 2011; Polit, Hungler & Beck, 2011). A coleta de dados foi feita por meio do instrumento de validação (Perroca, 2011; SCARPARO et al., 2012). Para a validação de conteúdo foram selecionados e convidados 05 juízes, 03 enfermeiras da assistência de Enfermagem Pediátrica, selecionadas de acordo com a sua unidade de atuação (prestam assistência à criança com hidrocefalia) e no tempo de trabalho na unidade (no mínimo03 anos), e 02 enfermeiras pesquisadoras. Ao final, os 05 juízes selecionados e convidados participaram da avaliação dos critérios de aparência, clareza, abrangência pertinência e aplicabilidade do Manual. Existe uma variação em relação a quantidade de participantes nesse tipo de estudo. A literatura mostra uma variação entre um mínimo de cinco e dez juízes, outros indicam de seis a vinte participantes, ou entre doze e vinte. Deve-se levar em consideração as características do instrumento de avaliação, a formação, qualificação e disponibilidade desses profissionais, para definir essa quantidade (Hayner, Richard & Kubany, 1995; Reichenheim & Moraes, 2007). 5983 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 O convite dos juízes foi realizado por um período de 15 dias, de segunda-feira a sexta- feira, e após o aceite foi entregue o TCLE informando o objetivo da pesquisa. Concordando em participar, foi entregue o instrumento, com escala tipo Likert, para iniciar o processo de validação do manual. A escala Likert consiste em vários itens que expressam um ponto de vista sobre algum tópico. Os respondentes indicam até que ponto concordam ou discordam da declaração (Polit & Beck, 2019). Após a devolução dos instrumentos respondidos, os dados foram digitados no Excel, e calculadas as frequências absolutas e relativas de cada variável. Para a análise da relevância e do grau de relevância do conteúdo da TCE, foi efetuado o cálculo do Índice de Validação de Conteúdo (IVC), para quantificar a concordância entre os especialistas, adotando-se IVC maior do que 0,80 como um valor desejável. Foram calculados e analisados o índice de validação de cada item e logo em seguida o IVC global. Para avaliação completa do manual, foi realizado o somatório de todos os IVC calculados separadamente, dividindo-os pelo número de itens do instrumento de validação. Foram considerados validados os itens que obtiveram índices de concordância entre os juízes maior ou igual a 80% (Polit & Beck, 2006). 2.3 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO PELAS PARTICIPANTES Para a validação pela população alvo foram convidados 30 enfermeiros profissionais da assistência de Enfermagem Pediátrica. Ao final, participaram 22 enfermeiros e avaliaram os critérios de escrita, aparência e motivação do Manual. O convite foi realizado por um período de um mês, de segunda-feira a sexta-feira, após o aceite, foi entregue o TCLE informando o objetivo da pesquisa. Concordando em participar, foi entregue o instrumento de validação, com escala tipo Likert, para iniciar o processo de validação do manual. Devido à dificuldade de devolutiva dos participantes, foi proposto por eles, transformar o instrumento de pesquisa físico em formulário do Google, e que o manual fosse enviado via PDF, para facilitar a devolutiva. Após o aceite dos participantes e assinatura do TCLE impresso, o instrumento foi enviado via correio eletrônico acompanhado do link do formulário digital. 5984 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 2.4 TESTE PILOTO SOBRE A APLICABILIDADE DO MANUAL Após a validação de conteúdo pelos experts e pela população alvo, foi feito um teste piloto com 06 enfermeiras da Clínica cirúrgica do referido serviço de saúde, a fim de colher relatos sobre a aplicação do Manual na sua prática clínica. Foi solicitado que as enfermeiras relatassem em texto a seguinte pergunta: fale sobre a importância e aplicabilidade clínica do “Manual para a assistência de enfermagem a criança com hidrocefalia no contexto hospitalar”. A partir desses relatos, foi elaborado uma análise de como este Manual tem sido utilizado na prática e sua aplicação clínica para a equipe de enfermagem. Neste momento buscou-se conhecer a utilização da tecnologia cuidativa-educacional. 2.5 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS Após a devolução dos instrumentos respondidos pelos participantes, os dados foram digitados no Excel, e calculadas as frequências absolutas e relativas de cada variável. Para a análise da relevância e do grau de relevância das figuras e textos explicativos, foi efetuado o cálculo do Índice de Validação de Conteúdo (IVC), o qual quantifica a extensão da concordância entre os profissionais especialistas, adotando-se IVC maior do que 0,80 como um valor desejável (Polit & Beck, 2006). 3 RESULTADOS Os resultados apresentam os dados obtidos nas etapas de desenvolvimento e validação do Manual para o cuidado de Enfermagem à criança com hidrocefalia. 3.1 LEVANTAMENTO CONCEITUAL Por meio da busca do estado da arte, foram selecionados 12 artigos específicos sobre a temática, que fundamentaram a construção do Manual, conforme quadro 1. 5985 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Quadro 1 - Artigos encontrados na BVS e PubMed com os descritores hydrocephalus and nursing care. N OBJETIVO TIPO DE ESTUDO CONCLUSÃO 1 Avaliar se o material educativo sobre a hidrocefalia e seu tratamento, previamente elaborado por profissionais de saúde, correspondia ao cotidiano de cuidadores de crianças com hidrocefalia (TAVARES et al., 2020). Foi realizado um estudo qualitativo em um hospital universitário no Brasil, entrevistando 32 cuidadores informais de crianças com hidrocefalia. O referencial metodológico da análise de conteúdo de Bardin foi utilizado para analisar os dados. Na perspectiva dos cuidadores informais de crianças com hidrocefalia, o material educativo correspondeu ao cotidiano e experiência cirúrgica das famílias e pode ser utilizado pelos profissionais de saúde para reforçar pontos importantes para o cuidado à criança com hidrocefalia, facilitando o processo de educação em saúde. 2 Analisar a assistência de Enfermagem ao recém- nascido com hidrocefalia em Unidades de Terapia Intensiva e de Cuidados Intermediários Neonatais (SILVA et al., 2019) Trata-se de estudo quantitativo, descritivo, transversal, em um instituto materno-infantil de referência. Compôs-se a amostra por 20 enfermeiros e 55 técnicos de Enfermagem. Evidenciaram-se, no estudo, um déficit de capacitação para prestar assistência ao recém-nascido com hidrocefalia e que a assistência é, geralmente, não sistematizada e nem sempre adequada às necessidades integrais desses neonatos 3 Descrever a retenção do conhecimento dos enfermeiros após intervenção educativa sobre cuidados com derivação ventricular externa (SOUZA et al., 2020) Estudo quase experimental com enfermeiros de uma unidade de terapia intensiva adulto, em que foi avaliado a retenção de conhecimento sobre o tema em três momentos: antes, uma semana e três meses após o treinamento. Houve retenção de conhecimento significativa entre os profissionais na primeira semana após o treinamento, mas não aos três meses após o treinamento. 4 Construir e validar material educacional digital e impresso do tipo jornal para cuidadores informais (ou seja, os pais que prestam cuidados) de crianças com hidrocefalia (TAVARES et al., 2020) Trata-se de um estudo misto (quantitativo - qualitativo). O material educativo pode auxiliar no reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de disfunção da DVP, podendo, inclusive, ser utilizado como fonte de consulta de dúvidas em seu domicílio. 5 Explorar o envolvimento dos pais nos cuidados com a hidrocefalia de seus filhos e as maneiras pelas quais os pais e profissionais colaboram ao avaliar uma criança com potencial mau funcionamento do implante de drenagem (SMITH, 2015). Dois estudos exploratórios foram realizados utilizando métodos de entrevista e observacionais. Apesar de identificar a colaboração com os pais como o modelo de cuidado desejado, os profissionais de saúde consideram desafiadora a integração dos conhecimentos dos pais sobre a condição de seufilho durante a avaliação e no planejamento dos cuidados. 6 Avaliar a eficácia de uma intervenção educativa entre pais de crianças com hidrocefalia e shunt (MURALI; JOB; UDAYAKUMARAN, 2019). O desenho quantitativo, quase experimental de um grupo pré-teste-pós-teste foi usado para o estudo O estudo revelou que a educação centrada nos pais foi eficaz para melhorar o conhecimento dos pais sobre os cuidados de crianças com hidrocefalia e shunt. Isso os ajuda a estender os cuidados a essas crianças do hospital para casa e, portanto, melhorar sua qualidade de vida. 7 Identificar os problemas enfrentados pelas crianças com DVP e avaliar sua qualidade de vida (PRAKASH Estudo exploratório transversal. As crianças submetidas à derivação VP enfrentam diversos problemas de saúde em diferentes domínios e baixa QV. Embora o domínio cognitivo tenha sido o 5986 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 et al., 2018). mais afetado, as cirurgias múltiplas tiveram o impacto mais significativo na QV. Intervenções apropriadamente focadas e manejo holístico são essenciais para melhorar a qualidade de vida das crianças submetidas à derivação VP. 8 Investigar a tomada de decisão compartilhada entre pais e profissionais durante o diagnóstico de suspeita de mau funcionamento do shunt em internações hospitalares agudas (SMITH et al., 2015). Foi realizado um estudo de método misto envolvendo gravações de áudio de consultas de admissão, um questionário compartilhado de tomada de decisão e entrevistas 1 semana após a consulta. Tanto os pais quanto os profissionais perceberam que suas interações eram mais voltadas para a resolução de problemas do que para a tomada de decisões sobre tratamentos. Embora o modelo de tomada de decisão compartilhada possa ajudar os pacientes a tomar melhores decisões entre as opções de tratamento, não está claro qual a melhor forma de apoiar a colaboração entre profissionais e pais para garantir um bom processo de resolução de problemas. 9 Explorar as experiências dos pais ao conviver com uma criança com hidrocefalia e suas decisões quando suspeitam de mau funcionamento do shunt (SMITH; CHEATER; BEKKER, 2015). Explorar as experiências dos pais ao conviver com uma criança com hidrocefalia e suas decisões quando suspeitam de mau funcionamento do shunt. Os pais podem reconhecer sintomas de doença sugestivos de mau funcionamento do shunt e desejam colaborar com os profissionais de saúde sobre o manejo da condição de seu filho. A colaboração com os pais exige que os profissionais de saúde ouçam as preocupações dos pais e valorizem as suas experiências. 10 Reduzir a incidência de infecção relacionada ao dreno ventricular externo, incluindo ventriculites em pacientes neurocirúrgicos (LWIN, et al., 2012). Auditoria das infecções por EVD na instituição observadas durante um período de um ano e meio. O bom trabalho em equipe entre médicos e enfermeiros é essencial para reduzir a taxa de infecção por DVE. Conseguiram reduzir substancialmente as infecções por DVE e continuam a se esforçar para permanecer livres de infecções no futuro. 11 Analisar as condições clínicas e o tratamento cirúrgico primário da hidrocefalia nos recém-nascidos examinados no estudo (SLUSARZ et al., 2013). Os dados foram coletados por meio de uma análise retrospectiva dos prontuários. Independentemente do motivo da formação da hidrocefalia, o tratamento baseia-se na intervenção cirúrgica e o sistema de drenagem mais utilizado para corrigir o defeito é a válvula ventrículo- peritoneal. 12 Identificar manejos e complicações dos drenos ventriculares externos. (MURALIDHARAN, 2015) Revisão de artigos referentes à colocação, gerenciamento e complicações da DVE. A manutenção, solução de problemas e monitoramento de complicações associadas à DVE tornou-se essencialmente uma responsabilidade da enfermagem. Cuidados de enfermagem precisos e responsáveis podem ter a capacidade de predizer melhores resultados em pacientes que necessitam de drenagem do LCR. Fonte: Dados da pesquisa, 2022. 3.2 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO PELOS JUÍZES A tabela 1 apresenta os IVC alcançados pelo Manual conforme os critérios julgados e avaliados pelos juízes (aparência/clareza, abrangência, pertinência e aplicabilidade). about:blank 5987 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Tabela 1 - Distribuição dos Índices de Validação de Conteúdo do Manual segundo os critérios avaliados pelos 05 juízes. Feira de Santana, BA, Brasil, 2022. Critérios julgados e avaliados IVC parcial Aparência e clareza (Estrutura, apresentação e linguagem) O título reflete o objetivo do Manual 1 O tamanho da fonte e o tipo de letra estão adequados 1 A composição visual está atrativa e bem organizada 1 A ordem de apresentação dos componentes está disposta de forma lógica 1 A linguagem está clara e de fácil entendimento e representa bem os itens do Manual 0,8 A redação do Manual está compreensiva 0,8 IVC médio Aparência e clareza 0,93 Abrangência O componente “Definição da Hidrocefalia” e todos os seus itens representam aspectos necessários para a conceituação da hidrocefalia 0,8 O componente “Sinais e sintomas” representam aspectos necessários para sinais e sintomas da hidrocefalia 1 O componente “Preparando a família para cirurgia” apresenta aspectos necessários para esse cuidado 1 O componente “Cuidados de enfermagem pré-operatórios” representam aspectos necessários para a transferência de cuidado 1 Os componentes sobre “O cuidado de enfermagem à criança em uso de DVE ou DVP” abrangem aspectos necessários para compor esse cuidado 1 O componente sobre “Medidas de prevenção das complicações pós-cirúrgicas” abrange aspectos importantes para compreender as medidas de prevenção 1 O componente sobre “orientação para família na alta hospitalar” compreende aspectos necessários para momento da alta 1 IVC médio abrangência 0,97 PERTINÊNCIA Os itens dos componentes “Definição, causas, sinais e sintomas” são relevantes para compreender a hidrocefalia. 0,8 Os itens do componente “Preparando a família para cirurgia” são relevantes para direcionar o cuidado no preparo da família 1 Os itens dos componentes “Cuidado de enfermagem pré e pós-operatório; cuidados na rotina e transporte” são relevantes para descrever os cuidados de enfermagem nos transoperatório da hidrocefalia 1 Os itens do componente “Medidas de prevenção das complicações pós-cirúrgicas” descrever as principais recomendações para evitar as complicações 1 Os itens do componente “Orientações à família na alta” descrever os principais aspectos de orientação no momento da alta 1 IVC médio pertinência 0,96 APLICABILIDADE O manual é aplicável à prática da enfermeira no contexto hospitalar pediátrico. 1 O manual aparentemente não demanda muito tempo da enfermeira para sua leitura. 0,8 IVC médio aplicabilidade 0,9 IVC geral 0,94 Fonte: Dados da pesquisa, 2022. Ao analisar o IVC global do Manual, obtivemos um valor superior a 0,9. A TCE foi validada na primeira rodada de avaliação dos juízes e alcançou consenso superior a 80% em todas 5988 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 as categorias. Outros estudos também consideram o consenso a partir desse valor (Silva et al., 2019; Oliveira & Pagliuca, 2013; Lopes et al., 2013). 3.3 VALIDAÇÃO DO MANUAL COM AS PARTICIPANTES Os dados da validação de conteúdo com as participantes estão apresentados na Tabela 2. Tabela 2 - Distribuição dos Índices de Validação de Conteúdo do Manual segundo os critérios avaliados pelos 22 enfermeiros. Feira de Santana, BA, Brasil, 2022. Critérios julgados e avaliados IVC parcial Organização do Manual A capa chamou sua atenção1 Mostra o assunto que se refere 1 O tamanho dos textos está adequado 1 Linguagem e Aparência As informações estão fáceis de entender 1 O conteúdo do Manual está claro 1 O conteúdo do Manual está confuso 0,95 As informações estão interessantes 1 As ilustrações são simples 1 As ilustrações são relevantes 1 As ilustrações ajudaram para maior compreensão do texto 1 Motivação e pertinência Qualquer profissional que ler este material vai entender do que se trata 1 Você se sentiu motivado a ler até o final 1 O Manual lhe sugeriu a agir ou a pensar a respeito da sua prática 0,95 IVC geral 0,99 Fonte: Dados da pesquisa, 2022. O IVC obtido nesta etapa foi superior a 0,8, desse modo, o consenso foi atingido na primeira rodada, porém uma participante realizou algumas sugestões relevantes que foram acatadas para a versão final: alterar a informação sobre a medida da DVE em milímetros de água para milímetros de mercúrio (unidade de medida mais utilizada na rotina do hospital); monitorizar e verificação de sinais vitais em pacientes no pós operatório na UTI; verificar glicemia no pré-operatório de pacientes com jejum prolongado; realizar testes após utilização do Manual para verificação da aplicabilidade. 5989 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Após a aplicação do Manual com enfermeiras, ajustes para sua aplicação na prática clínica o Manual alcançou a validade de conteúdo para uso durante o cuidado a criança com hidrocefalia hospitalizada 3.4 TESTE PILOTO SOBRE A APLICABILIDADE DO MANUAL Após a validação de conteúdo pelos experts e participantes, foi feito um teste piloto com 06 enfermeiras participantes, a fim de colher relatos sobre sua participação na pesquisa e a utilização do Manual na sua prática clínica. Foi realizada a categorização dos relatos conforme quadro 2. Quadro 2 - Relatos dos enfermeiros sobre a participação na pesquisa e aplicação do Manual na sua prática. Relatos dos enfermeiros Estudo contribuiu com melhoria da assistência Escassez de estudos sobre o tema O Manual contribuiu para o conhecimento Aplicabilidade prática para assistência de enfermagem Atualização da equipe de enfermagem Reflete na melhor assistência para crianças com hidrocefalia Fonte: Dados da pesquisa, 2022. Esses relatos do teste piloto demonstram como o Manual validado pode trazer contribuições para assistência de enfermagem à criança com hidrocefalia, refletindo na segurança do paciente durante sua hospitalização. Deste modo, sugere-se a replicação deste manual em outros serviços de saúde que assistam crianças com essa condição. 4 DISCUSSÃO A confirmação do diagnóstico de uma doença que pode deixar a criança na condição de neuropata se revela como um momento de transformação na vida de quem a acompanha, pois lhe confere limitações, mudanças de hábitos e atitudes em virtude do cuidado que é necessário aquela condição de saúde e consequente internamento prolongado (Milbrath et al., 2017; Souza et al., 2020). É fundamental que os profissionais de saúde, em especial, enfermeiras e técnicas de enfermagem tenham conhecimento técnico-científico, relacionado às demandas que uma criança com hidrocefalia apresente durante o internamento, através de um cuidado contínuo baseado em evidências para que se evite a piora do quadro clínico (Silva et al., 2019). 5990 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 O cuidado contínuo e intervenções através de tecnologias leves, leve/duras e duras pode ser utilizado por profissionais de saúde em pacientes com algum tipo de deficiência, seja nas necessidades humanas básicas, causado pela cronicidade de uma doença, caracterizada por ter um início gradual e prognóstico incerto (Brasil, 2013). A enfermeira se insere nesse cenário de cuidado da pessoa em condição crônica, seja como coordenador de equipe, atuando na gestão do cuidado, ou na área assistencial, na organização do cuidado, devido a sua posição estratégica e à aproximação com a criança e a família e a equipe. Assim, a sua interação com a equipe deve viabilizar a organização do cuidado através da utilização de tecnologias leves, como o Manual com abordagem do cuidado dentro do hospital para crianças com esse diagnóstico (Mororó et al., 2020). O Manual sobre a assistência de enfermagem à criança com hidrocefalia fornece para os membros da equipe de enfermagem informações de maneira fácil e objetiva, padronizando também o atendimento e garantindo a promoção da segurança do paciente. Baseado no levantamento conceitual e na prática clínica diária do contexto em estudo, foi desenvolvido e validado o conteúdo do Manual, considerado como tecnologia leve, organizado nos seguintes componentes: definição, sinais e sintomas; preparando a família para a cirurgia; cuidado de enfermagem pós-operatório; cuidados na rotina do transporte; medidas de prevenção das complicações pós cirúrgicas; e orientações à família na alta. O primeiro tópico traz a definição e os aspectos clínicos da patologia. Segundo Slusars e outros autores (2013), a hidrocefalia é um estado em que ocorre acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano no espaço intracraniano como resultado de distúrbios da hidrodinâmica da sua circulação. Esse acúmulo excessivo é considerado um distúrbio do LCR, resultando em aumento anormal dos ventrículos cerebrais, como consequência temos crianças que apresentam macrocefalia progressiva e sinais de hipertensão intracraniana (Kahle et al., 2016). Em relação às manifestações clínicas apresentadas em RN e lactentes são o aumento rápido do perímetro cefálico, irritabilidade, letargia, vômito, hipotonia, abaulamento de fontanela, olhos de “pôr do sol”, estrabismo e atrasos neuropsicomotor. Em crianças na fase escolar, podemos observar cefaleia, vômitos, alteração na marcha, deterioração no nível de consciência e atrasos neuropsicomotor (Cunha, 2014), perda de controle da bexiga e/ou micção frequente, desaceleração ou perda do progresso do desenvolvimento, como andar ou falar. 5991 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 No contexto de uma cirurgia pediátrica, a família desempenha a função de proteção e de decisão sobre a criança e, portanto, de acordo com Joseph, Killian e Brady (2017), os pais devem ser orientados sobre os prós e contras da cirurgia que será realizada e os resultados esperados e essa conversa é uma oportunidade para que eles sintam confiança na equipe, sanar as dúvidas e ter acesso ao termo de consentimento para a cirurgia. Um estudo traz como estratégias na gestão de emoções e informações na abordagem a família o fornecimento de informações para promover o autocontrole, tranquilidade e bem-estar; dar informação adequando a avaliação dos níveis satisfatórios de informação e menor experiência de dor; prover informação tendo em conta as habilidades cognitivas, e o seu estado emocional; dar informação tendo em conta o ritmo, local, linguagem e terminologia claras para não induzir emoções negativas; estimular para a expressão de necessidades, dúvidas, sentimentos e preocupações de modo a adequar as necessidades de informação; adequar a informação necessária evitando a sobrecarga emocional; fornece informação num processo continuado e repetido, incluindo dar significado às vivências; utilizar uma abordagem holística promovendo emoções positivas (Martinho & Diogo, 2020). O preparo da família já se configura como um cuidado na rotina pré-operatória. No entanto, o preparo do paciente é feito de acordo com o protocolo de cada instituição. Há cuidados que precisam ser feitos, entre eles estão a identificação do paciente e o checklist de cirurgia segura, ambas metas do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) (Brasil, 2013). Diante disso, identificou-sea necessidade de o Manual apresentar os cuidados de enfermagem no pré-operatório, que devem ser adaptados a unidade. Nesse contexto, ressaltam- se os seguintes cuidados: conferir o uso da pulseira de identificação da criança; orientar jejum de pelo menos 08 horas, para lactantes, o tempo de jejum é reduzido; verificar a rotina da instituição, para programação do jejum; instalar hidratação venosa a fim de diminuir o risco de hipoglicemia; realizar banho com clorexidina degermante; instalar pulseira sinalizadora caso criança tenha alguma alergia; caso a criança seja prematura, deve comunicar a equipe de neurocirurgia para que o POI seja em leito de UTI; esclarecer a existência de comorbidades; conferir se faz uso de alguma medicação de rotina; verificar se o termo de consentimento de procedimento cirúrgico está assinado; colocar a camisola hospitalar na criança para ir ao Centro Cirúrgico; retirar adornos e peça intima da criança antes da cirurgia. 5992 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 Após a cirurgia, o paciente é encaminhado do centro cirúrgico, dependendo do seu quadro clínico, ou para UTI pediátrica, ou para a enfermaria cirúrgica. Esse transporte intra-hospitalar deve ser planejado, no sentido de ter uma equipe capacitada, e caso seja necessário, que os equipamentos do transporte sejam confiáveis, evitando riscos e eventos adversos ao paciente (Bomfati et al., 2019; Gurgel et al., 2021). O quarto tópico informa os cuidados na rotina de transporte intra-hospitalar. O transporte pode ocasionar ao paciente intercorrência, deste modo a execução da transferência intra- hospitalar deve ser feita com segurança (Gurgel et al., 2021). A criança em uso de DVE deve ser acompanhada pelo técnico de enfermagem, devido ao uso de dispositivo invasivo. Qualquer transporte de paciente em uso de drenos, o sistema deve ser fechado e posicionado de maneira segura, se tratando de DVE, deve ficar na maca ao lado do paciente, para que o dispositivo não seja tracionado. Ao acomodar o paciente no leito, o enfermeiro deve se atentar para o nivelamento da derivação e abertura do sistema, para iniciar a drenagem de LCR (Dalmoro et al., 2019). Nas primeiras horas pós o procedimento cirúrgico, todo paciente tem seu sistema imunológico mais baixo, predispondo a outros problemas em potencial. A equipe de enfermagem deve estar atenta ao pós operatório imediato, devido a vulnerabilidade desse paciente, a fim de evitar complicações, priorizando a aferição dos sinais vitais (Vieira et al., 2020). O quinto tópico do Manual contempla informações acerca das complicações pós- cirúrgicas bem como as medidas de prevenção que precisam ser implementadas. Entre elas estão o risco significativo de infecção causado pela inserção da DVE, procedimento invasivo. Esse risco aumenta quanto mais frequentemente é acessado por profissionais de saúde para obter amostras de LCR e quanto mais tempo o DVE é mantido (Cestari et al., 2016; Sakamoto, 2018; Carvalho et al., 2021). Os sintomas precoces relacionados a pós operatório do implante da válvula incluem febre e convulsões, mas são associados também a patologia subjacente, mau funcionamento da derivação e infecção. Por isso, é importante conhecer quais medidas devem ser tomadas para prevenir o aparecimento de infecções (Prakash et al., 2018). Por fim, o Manual demonstra quais orientações são necessárias para que o familiar da criança com hidrocefalia tenha conhecimento a partir da alta, incluindo o que é pertinente que o profissional de enfermagem compartilhe com o familiar, como: o que é a hidrocefalia; qual o tratamento da hidrocefalia; o que é DVP e DVE; quais sinais e sintomas indicam a obstrução da 5993 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 DVP; o que fazer quando perceber os sinais e sintomas de obstrução da DVP; quais são os sinais de infecção da DVP; necessidade de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento em UBS mais próxima de sua residência; Acompanhar crescimento de perímetro cefálico; Necessidade de acompanhamento ambulatorial com neurocirurgião (Tavares et al., 2020). É fundamental que os cuidadores saibam reconhecer os sinais e sintomas da disfunção da DVP, já que o diagnóstico rápido associado ao manejo adequado por parte da equipe de saúde pode reduzir as complicações e a estrutura em que o Manual foi organizado garante ao profissional uma resposta rápida a alguma dúvida ou até mesmo elaborar um plano de cuidado específico para um paciente. Dessa forma, os profissionais de enfermagem não devem se ater apenas ao aprendizado que envolva a utilização de tecnologia de alta complexidade, a tecnologia cuidativo-educacional pode ser suficiente para o aprimoramento de técnicas que garantam a segurança do paciente e a TCE do tipo manual impresso tem como benefício para a equipe a disponibilidade para a leitura transformar a realidade da enfermagem referente a cuidados específicos. 5 CONCLUSÃO Este estudo descreve o processo de construção e validação de uma TCE destinada para o cuidado de Enfermagem à criança com hidrocefalia. Sua relevância e impacto para a assistência em saúde concentra-se na perspectiva de aplicação de uma tecnologia leve voltada para promoção de mudanças na prática da enfermagem, permitindo criticidade e orientando a tomada de decisão profissional sobre estratégias que ofereçam conforto, diminuam o tempo de internamento, proporcionem uma melhor recuperação e promovam a segurança do paciente no contexto hospitalar. Considera-se também sua relevância acadêmica, pois o estudo poderá contribuir para reflexões docentes e discentes sobre o ensino de intervenções educativas que visam a segurança do paciente pediátrico, além de estimular novas investigações empíricas, no sentido de aprimorar a prática clínica dos trabalhadores de enfermagem em pediatria. Trata-se de uma TCE com potencial para utilização pelas enfermeiras das unidades assistenciais do cenário hospitalar pediátrico em estudo, com possibilidade de replicação para contextos semelhantes. Ademais, o estudo ajudará a preencher lacunas de produção científica sobre a temática. 5994 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.16, n.7, p. 5976-5997, 2023 REFERÊNCIAS Alcântara, M. C. M. de, Silva, F. A. A. da, Castro, M. E. de, & Moreira, T. M. M. (2011). Caracteristicas clínicas de crianças em uso de derivações ventriculares para tratamento da hidrocefalia. Rene, 12(4), 776-782, 2011. Bomfati, M., Santos, E. B. dos, Kantoviscki, A. L. L., & Makuch, D. M. V. (2019). Transporte intra/extra-hospitalar de crianças: implicações da equipe de Enfermagem. Espaço Para a Saúde - Revista de Saúde Pública Do Paraná, 20(1), 40–47. Brasil. (2012). Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 12. Brasil. (2013). Documento de referência para o programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília: Ministério da Saúde. Brasil. (2018). 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