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O PRINCÍPIO DO NON-RefOulemeNt 
NO DIREItO INtERNACIONAl 
CONtEmPORÂNEO 
ESCOPO, CONtEÚDO E NAtUREzA JURÍDICA 
 
 
 
 
www.lumenjuris.com.br 
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RODOlFO RIBEIRO COUtINHO mARQUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DO NON-RefOulemeNt 
NO DIREItO INtERNACIONAl 
CONtEmPORÂNEO 
ESCOPO, CONtEÚDO E NAtUREzA JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDItORA lUmEN JURIS 
RIO DE JANEIRO 
2018 
 
 
 
 
Copyright © 2018 by Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
Categoria: Direitos Humanos 
PRODUÇÃO EDItORIAl 
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. 
Diagramação: Bianca Callado 
Foto de Capa: Giulio Piscitelli 
<https://giuliopiscitelli.viewbook.com/> 
A LIVRARIA E EDItORA lUmEN JURIS ltDA. 
não se responsabiliza pelas opiniões 
emitidas nesta obra por seu Autor. 
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer 
meio ou processo, inclusive quanto às características 
gráficas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais 
constitui crime (Código Penal, art. 184 e §§, e Lei nº 6.895, 
de 17/12/1980), sujeitando-se a busca e apreensão e 
indenizações diversas (Lei nº 9.610/98). 
Todos os direitos desta edição reservados à 
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. 
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil 
 
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À memória de minha avó, Maria Julinda, 
que ensinou aos seus a amar o próximo, 
incondicionalmente. 
A Grace, José Guilherme e Vanessa, a quem 
devo tudo que tenho e sou. 
Às pessoas desenraizadas, a quem este es- 
tudo pertence. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
What kind of men are these? What land 
is this, that you can tolerate such barbaric 
ways? We are denied the sailor’s right to shore 
— attacked, forbidden even a footing on your 
beach. If you have no use for humankind and 
mortal armor, at least respect the gods. They 
know right from wrong. They don’t forget. 
(Virgil, Aeneid, Book I, 539–540, 
circa 70 a.C.–19 a.C.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota do Autor 
 
 
Esta obra é, sob novo título, o estudo que produzi, em parte, 
durante uma experiência acadêmica na Universidade de Lausanne 
e no Instituto Internacional de Direito Humanitário, tendo sido 
publicado, como working paper, no digesto da primeira conferên- 
cia anual da Refugee law Initiative (2016), ocorrida em Londres. 
As lições do Professor Toni Pfanner, em Lausanne, e do Professor 
Jean-François Durieux, em San Remo, foram essenciais para o de- 
senvolvimento deste manuscrito; a eles agradeço. 
De volta ao Brasil, e inquieto com a ausência de um livro em 
português sobre o tema, resolvi alargar o escopo de minha pesquisa, 
de modo a abarcar as peculiaridades do non-refoulement nos diferen- 
tes ramos jurídicos internacionais que protegem a pessoa humana, 
esforçando-me para elaborar um estudo completo. O propósito era 
dar ao princípio um conteúdo mínimo e discernível, transformando- 
-o em um conceito apto a ser usado, uniformemente, por instâncias 
judiciais e administrativas na salvaguarda dos direitos das pessoas 
migrantes no Brasil. Durante o período de pesquisa na Universidade 
Federal da Paraíba (UFPB), pude contar com a orientação atenta e 
rigorosa da Professora Alessandra Franca, titular da disciplina de 
Direito Internacional Público e uma das mais competentes docen- 
tes da casa. A ela agradeço pelas críticas e sugestões, as quais me 
ajudaram a aperfeiçoar o estudo e a moldá-lo em forma de livro. É 
para mim motivo de profunda satisfação que ela tenha assinado o 
prefácio desta obra. Também não posso deixar de fazer menção ao 
Professor Ralph Wilde, da University College london e meu confrè- 
re na International law Association, pelo privilégio de poder contar 
com uma apresentação de sua autoria. 
 
 
 
 
 
 
O desenvolvimento deste estudo também me acompanhou du- 
rante o período em que estagiei na Unidade de Proteção do Alto 
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 
em Brasília. Agradeço, portanto, aos colegas do ACNUR, que, de 
uma forma ou de outra, contribuíram para meu amadurecimento 
intelectual, descortinando a realidade da proteção internacional 
das pessoas refugiadas no Brasil. 
Agradeço, ainda, a Iago Morais de Oliveira e a Gustavo Troc- 
coli, queridos amigos e intelectuais, pela leitura crítica do manus- 
crito original. Seus apontamentos foram essenciais ao aperfeiçoa- 
mento do presente estudo. 
Finalmente, agradeço a atenção de Giulio Piscitelli, premiado fo- 
tógrafo italiano, por me haver presenteado com a foto que ilustra a 
capa desta obra. Piscitelli tem uma extensa e distinta carreira fotográ- 
fica, tendo organizado exposições em grandes eventos internacionais, 
tais como: International Festival of Journalism, Angkor Photo Festival, 
Visa Pour l’Image Festival. Dentre os grandes veículos de comunica- 
ção que publicaram seus trabalhos fotográficos, incluem-se: Interna- 
zionale, New York Times, Espresso, Stern, Newsweek, Vanity Fair, Time 
e la Stampa. Nos últimos anos, Piscitelli vem acompanhando crises 
internacionais, como a guerra na Síria, o conflito na Ucrânia, o golpe 
militar no Egito e o drama dos migrantes no Mediterrâneo1. 
Também sou grato a Adriana Gabinio, minha companheira 
de vida e grande incentivadora de meus projetos. Por fim, quero 
registrar o sempre incondicional apoio que recebi de José 
Guilherme e Grace Julinda, meus pais, e de Vanessa Julinda, 
minha irmã. A eles, minha família, este livro é dedicado. 
 
R.R.C.M. 
 
1 Os trabalhos de Giulio Piscitelli podem ser acessados no seguinte endereço 
eletrônico: <https://giuliopiscitelli.viewbook.com/>. 
 
 
 
 
Prefácio 
O Rouxinol e a Andorinha ou as 
Razões do Non-Refoulement 
 
 
Numa das muitas fábulas atribuídas a Esopo, relata-se que o 
rouxinol, perguntadopela andorinha o porquê de não construir 
sua casa no telhado dos homens, responde que prefere viver e can- 
tar no deserto a habitar na proximidade das antigas desventuras. 
O medo do retorno é sentimento que só compreende quem 
vive dores de dimensões incalculáveis, como a tragédia da guer- 
ra. São essas fraturas sociais que obrigam milhares de pessoas a 
escolher o deserto da fuga em detrimento da permanência no 
inferno dos seus lares, e é para um mundo de rouxinóis que o 
direito internacional reconhece a necessidade de se garantir o 
princípio do non-refoulement. 
É de se espantar, todavia, que o homem, só ou em sociedade, 
à diferença da andorinha, que parece compreender o lamento do 
rouxinol na fábula, necessite do estabelecimento de um tal prin- 
cípio, a fim de evitar a devolução compulsória de seres com dores 
tão profundas ao mesmo país de onde partiram na intenção de 
escapar dos seus horrores. 
A obra ora entregue a público, fruto de uma pesquisa rigorosa 
de um aluno inquieto com as dores do mundo, cujo desenvolvi- 
mento pude acompanhar, trata exatamente de como o princípio, 
que, segundo ele, seria a “pedra angular da proteção internacional 
das pessoas forçadas a migrar”, se expande a partir do regime in- 
ternacional dos refugiados para outros regimes relacionados com o 
homem de maneira mais ampla. 
 
XI 
 
 
 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques parte da imagem real da 
criança síria às margens do mediterrâneo, que, em meio à tragé- 
dia, escancarou a face da crise migratória contemporânea e deu 
sinais da dimensão da dor de quem busca o refúgio. Uma imagem 
dilacerante que nos permite compreender o lamento do rouxinol. 
A tentativa é impedir que se cogite devolver alguém em tais cir- 
cunstâncias à sua antiga morada. 
Ancorado na essencialidade da não-devolução, a obra tem, 
como porto de partida, a origem histórico-conceitual do princí- 
pio no regime jurídico dos refugiados, e, como trajetória, tanto 
o regime internacional dos direitos humanos, dentro do qual se 
confere ao non-refoulement natureza peremptória pelo conceito de 
jus cogens, quanto o regime do direito humanitário, mais especifi- 
camente relacionado ao direito de Genebra, que o coloca dentre as 
“considerações elementares de humanidade”. 
O autor, que continuará seu percurso de pesquisador de Direito 
Internacional, agora no Mestrado do prestigioso Institut de hautes étu- 
des internationales et du développement (IHEID), em Genebra, aponta, 
nas considerações finais, que o non-refoulement é uma regra comum 
de regimes que se complementam na proteção do indivíduo e que 
só faz sentido numa interpretação sistêmica e coordenada, devendo 
abrigar todo aquele que migra, e, principalmente, aqueles que o fazem 
a contrario sensu. Segundo o World Migration Report 2018, são cres- 
centes na contemporaneidade as migrações por conflito, perseguição, 
condições climáticas, falta de segurança ou oportunidade. 
É importante que se diga que o dever de não-devolução do 
indivíduo é apenas um primeiro passo e que há ainda um longo 
percurso a ser empreendido para que possamos falar em verdadeira 
acolhida do sofrimento. O progresso do direito internacional na 
direção da humanização, como diria Cançado Trindade, é uma 
tendência iniciada com a construção desses regimes em tempos e 
circunstâncias diversas. 
 
XII 
XIII 
 
 
 
 
 
Em setembro de 2016, travou-se uma grande discussão sobre 
o tema da migração na Assembleia Geral das Nações Unidas, 
ocasião em que foi adotada a Declaração de Nova Iorque para 
refugiados e migrantes. Na mesma esteira, tem-se organizado uma 
grande conferência intergovernamental prevista para dezembro de 
2018, quando se pretende adotar um Pacto Global para a Migração 
Segura, Ordenada e Regular. Os dois instrumentos fogem à forma 
dos tratados clássicos e vinculantes e não se concentram sobre o 
princípio do non-refoulement, mas procuram implementar avanços 
em aspectos da acolhida, como o reassentamento, a reunião fami- 
liar, a oportunidade de trabalho ou educação e, principalmente, 
em um aspecto até então negligenciado: a cooperação, inclusive 
financeira, entre países, em prol dos refugiados. 
O nível sem precedentes de pessoas em movimento, subli- 
nhado pelo Alto-Comissário da ONU para Refugiados, Filippo 
Grandi, diante da Assembleia Geral das Nações Unidas mostra 
como o tema continua na Ordem do Dia. As questões relativas 
ao refúgio, a começar, obviamente, pelo non-refoulement cons- 
tituem um “dedo na ferida” das relações internacionais, um in- 
cômodo que o direito internacional precisa enfrentar para que 
rouxinóis — eles ou nós — (já que nunca se sabe em que lado da 
demanda estaremos) possam cantar livremente, sem necessaria- 
mente habitar no deserto. 
 
 
Profa. Dra. Alessandra Correia lima Macedo Franca 
Professora de Direito Internacional Público da UFPB 
Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Genebra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
 
It is a great pleasure to introduce this very important book by 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques. 
The adoption and refinement of an obligation of non-re- 
foulement is one of the most significant progressive develop- 
ments in international human rights law. It provides important 
“complementary” protection to that offered in refugee law, in 
terms of both substantive scope, and the potential involvement 
of national, regional and international enforcement and scru- 
tiny modalities. This key normative development has occurred 
alongside a continued process of global mass migration, which 
has, because of the numbers involved, been described in recent 
years as a “crisis”. Whatever the merits of this designation, it 
is certainly the case that the matter the non-refoulement obli- 
gation addresses—whether or not states can send people back 
from or within their borders (and sometimes their control ex- 
traterritorially) if they face a real risk of certain forms of hu- 
man rights abuse—is of fundamental significance to migration 
movements, acting as a major constraint on the freedom of 
states to control their borders. 
Given the contemporaneous phenomenon of populist surg- 
es in nativism, nationalism, xenophobia and racism in many 
countries, this area of law seeks to mediate an area of state 
policy where the stakes are very high. In this context, the pres- 
ent book is an invaluable contribution in providing a detailed 
and comprehensive treatment of the non-refoulement topic as 
a matter of the inter-American human rights system, which 
is often overlooked in scholarly works, where a focus on the 
 
XV 
 
 
 
 
 
European system tends to predominate. As such, it looks set 
to be an important resource for both scholars and practitioners 
of migration law and human rights law in general, and refugee 
law in particular. 
 
 
Prof. Dr. Ralph Wilde 
Professor de Direito Internacional da University College london 
Doutor em Direito pela Universidade de Cambridge (Yorke Prize) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
XVI 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
Prefácio – O Rouxinol e a Andorinha ou as Razões 
do Non-Refoulement ..................................................................... XI 
Apresentação................................................................................ XV 
Introdução ........................................................................................ 1 
Capítulo 1 – O Princípio do Non-Refoulement no 
Direito Internacional dos Refugiados ........................................... 7 
I. Origens e evolução ............................................................................ 7 
II. O princípio do non-refoulement na 
Convenção de 1951 ............................................................................ 17 
1 A responsabilidade do Estado pela violação 
do artigo33(1) ................................................................................... 29 
2 Exceções pessoais ao non-refoulement segundo 
o artigo 33(2) .................................................................................... 33 
2.1 A relação entre o artigo 33(2) e o artigo 1(F) ............... 34 
2.2 A hipótese do perigo à segurança do 
estado de refúgio ........................................................................... 37 
2.3 A hipótese da ameaça à comunidade do 
país de refúgio ................................................................................ 38 
3. O caso dos fluxos em massa e a observância 
do artigo 33 ........................................................................................ 40 
Capítulo 2 – Das Obrigações de Non-Refoulement no 
Direito Internacional dos Direitos Humanos e Além ............. 45 
I. Non-refoulement como parte integrante de 
proibições de jus cogens ....................................... 50 
1 Jus cogens: natureza, efeitos e consequências jurídicas ........ 50 
XVII 
 
 
 
 
 
1.1 Do conteúdo material das normas de jus cogens ..... 55 
2 Obrigações de non-refoulement e o direito à 
integridade física, psíquica e moral na jurisprudência 
dos órgãos universais e regionais de supervisão de 
direitos humanos .............................................................................. 56 
II. Obrigações de non-refoulement e o direito ao asilo ................. 67 
III. Non-refoulement como norma costumeira ................................ 72 
1 Do costume internacional .......................................................... 72 
2 Da cristalização do non-refoulement ..................... 75 
Capítulo 3 – Ecos do Non-Refoulement no Direito 
Internacional Humanitário ..................................................... 85 
I. Direito internacional humanitário: essência e escopo ............ 85 
II. Proibição de transferências no Direito de Genebra ................ 91 
1 Do artigo 45 da Quarta Convenção de Genebra: 
proibição de transferências.............................................................. 95 
2 Do Artigo 3, comum às Convenções de Genebra: 
considerações elementares de humanidade aplicáveis 
aos casos de conflitos armados .................................................... 100 
Reflexões Finais ............................................................................ 103 
I. Ramos de uma mesma videira ..................................................... 103 
II. Epílogo: não é lícito relegar hóspedes sem culpa ................... 104 
Referências .................................................................................. 107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
XVIII 
 
 
 
 
Lista de Abreviaturas 
 
 
ACNUR/UNHCR – Alto Comissariado das Nações Unidas 
para os Refugiados 
CADH – Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
CAI – Conflitos Armados Internacionais 
CANI – Conflitos Armados Não-Internacionais 
CDFUE – Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia 
CDI – Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas 
CEDH – Convenção Europeia de Direitos Humanos 
CICV/ICRC – Comitê Internacional da Cruz Vermelha 
CIJ/ICJ – Corte Internacional de Justiça 
CrtIDH – Corte Interamericana de Direitos Humanos 
CrtEDH – Corte Europeia de Direitos Humanos 
CVDT – Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados 
DADH – Declaração Americana de Direitos Humanos 
DIDH – Direito Internacional dos Direitos Humanos 
DIH – Direito Internacional Humanitário 
DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos 
ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações Unidas 
ExCom – Comitê Executivo do Alto Comissariado das Nações 
Unidas para os Refugiados 
IIHL/IIDH – Instituto Internacional de Direito Humanitário 
PAREAII – Projeto de Artigos sobre a Responsabilidade dos 
Estados por Atos Internacionalmente Ilícitos 
 
XIX 
 
 
 
 
 
PIDCP – Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos 
OIM – Organização Internacional para as Migrações 
ONU/UN – Organização das Nações Unidas 
OUA – Organização da Unidade Africana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
XX 
 
 
 
 
Introdução 
 
 
Em 2015, a imagem do menino sírio Alan Kurdi deitado, sem 
vida, às margens do Mar Mediterrâneo, em uma praia turca, es- 
tampou capas de jornais ao redor do mundo, dando uma face 
humana à crise migratória mais aguda desde a Segunda Guerra 
Mundial. Kurdi era mais uma pessoa migrante a morrer às portas 
da Europa, em busca de refúgio1. De acordo com o Alto Comissa- 
riado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 2016, 
65.6 milhões de pessoas estavam desalojadas em razão de persegui- 
ção, violência, conflitos armados ou maciças violações de direitos 
humanos2. Destas, 22.5 milhões encontravam-se em situação de 
refúgio, ou seja, estavam fora de seu país de origem por possuírem 
fundado temor de perseguição em razão de sua raça, religião, na- 
cionalidade, opinião política ou simplesmente por pertencerem a 
determinado grupo social. Entretanto, a maioria das pessoas des- 
locadas — algo em torno de 40 milhões — não havia atravessado 
uma fronteira internacional, dependendo, ainda, da proteção de 
seu Estado — por vezes, o próprio agente perseguidor. Boa par- 
te desses migrantes forçados eram crianças, assim como Kurdi3. 
Subjacente ao motivo que obrigou essas pessoas a migrar, de modo 
 
1 Naquele ano cerca de 3.771 pessoas migrantes morreram afogadas no Mar 
Mediterrâneo, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações 
(OIM). Disponível em: <https://www.iom.int/news/iom-counts-3771-migrant- 
fatalities-mediterranean-2015>. Acessado em: 27 de mar. 2018. 
2 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS REFUGIADOS 
(ACNUR). Global Trends: Forced Displacement in 2016. Geneva, 2017. Disponível 
em: <http://www.unhcr.org/5943e8a34.pdf>. Acesso em: 08 de set. 2017. 
3 Pessoas abaixo dos 18 anos constituem 51% da população global de refugiados. 
In: ibidem. 
 
1 
http://www.iom.int/news/iom-counts-3771-migrant-
http://www.unhcr.org/5943e8a34.pdf
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
implícito ou explícito, está o desejo de se viver uma vida digna e 
pacífica, longe da violência generalizada e da perseguição odiosa. 
Com efeito, a crise migratória que se alardeia é, em sua es- 
sência, uma crise de valores: nega-se à pessoa migrante a sua 
condição de humana, passando esta a ser encarada como es- 
tranha, forasteira, supérflua4. O recrudescimento das barrei- 
ras — físicas e jurídicas — com vistas a rechaçar pessoas em 
busca de proteção é mais um sinal dos tempos obscuros em que 
vivemos. À vista disso, faz-se necessário reafirmar, hoje mais 
do que nunca, o valor da pessoa humana enquanto valor-fonte 
do ordenamento jurídico internacional e, portanto, como seu 
fundamento último de legitimidade5. 
Nesse sentido, a presente obra tem o propósito de analisar a 
mola mestra da proteção internacional das pessoas migrantes: o 
non-refoulement, entendido como a garantia que a pessoa migran- 
te possui de não ser retornada compulsoriamente a territórios em 
que corra o risco de sofrer certas violações de direitos humanos. 
No Direito Internacional dos Refugiados, o princípio do non- 
-refoulement (ou da não-devolução) proíbe o envio da pessoa refu- 
giada a qualquer território em que a sua vida ou a sua liberdade 
sejam ameaçadas em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, 
opinião política ou pertencimento a determinado grupo social. Em 
razão de seu conteúdo humanitário e de sua essencialidade para 
a proteção internacional das pessoas migrantes, o non-refoulement 
expandiu-se para outros ramos do Direito das Gentes, tomando 
diferentes formas e contornos — tendo-se cristalizado, inclusive, 
como norma costumeira. 
 
4 Cf. ANGIER, Michel. Managing the Undesirables: Refugee Camps and Humanitarian 
Government. Cambridge/Malden: Polity Press,2011. pp. 1–4. 
5 Cf. LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: um Diálogo com o 
Pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 28. 
 
2 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
No corpus juris do Direito Internacional dos Direitos Huma- 
nos, por exemplo, a proibição do refoulement é encarada como uma 
obrigação implícita das proibições peremptórias, tais como, inter 
alia, a interdição da tortura e das penas ou tratamentos cruéis, 
desumanos ou degradantes, sendo, portanto, mais abrangente. En- 
quanto no Direito Internacional dos Refugiados o escopo ratione 
personae do non-refoulement está circunscrito à condição de refu- 
giado — ou à expectativa do seu reconhecimento —, no Direito 
Internacional dos Direitos Humanos a não-devolução é considera- 
velmente mais ampla, protegendo todos, sem distinções quanto à 
pessoa do beneficiário ou ao seu status migratório, servindo como 
safety net para aqueles não agasalhados pela definição de refugiado. 
Também sob o Direito Internacional Humanitário, a saí- 
da compulsória da pessoa migrante sofre temperamentos, sendo 
vedadas transferências ou deportações de pessoas protegidas em 
tempos de ocupação ou durante conflitos armados. 
Trata-se, com efeito, de um trabalho acadêmico voltado à aná- 
lise jurídica do non-refoulement, com vistas a estabelecer um re- 
ferencial teórico mais objetivo quanto à delimitação do escopo, 
conteúdo e natureza jurídica da referida norma no Direito Inter- 
nacional contemporâneo, considerando, para tanto, as suas ma- 
nifestações no Direito Internacional dos Refugiados, no Direito 
Internacional dos Direitos Humanos e no Direito Internacional 
Humanitário. Desse modo, dois são os objetivos principais que 
este estudo ambiciona alcançar. O primeiro é demonstrar a es- 
sencialidade do non-refoulement para a proteção internacional das 
pessoas migrantes, ressaltando o seu caráter preventivo, uma vez 
que não há que se falar em proteção internacional sem o devido 
respeito à não-devolução. Nota-se, nesse sentido, que o princípio 
do non-refoulement tem berço na clássica doutrina da hospitali- 
dade, defendida pelos Pais Fundadores do Direito Internacional, 
segundo a qual não era lícito relegar hóspedes sem culpa. O segun- 
 
3 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
do objetivo é analisar a natureza jurídica do non-refoulement, bem 
como discernir o seu escopo e conteúdo. Procura-se identificar, 
a esse respeito, suas dimensões ratione materiae, ratione personae 
e ratione loci nos diferentes ramos jurídicos de proteção interna- 
cional dos direitos da pessoa humana. O propósito que se busca é 
transformar o non-refoulement em um conceito apto a ser utilizado, 
de maneira uniforme, por instâncias administrativas e judiciárias 
na salvaguarda dos direitos das pessoas migrantes. 
Convém dizer que, nesta obra, o termo “pessoas migrantes” 
abarca não apenas “pessoas refugiadas”, mas todas as pessoas de- 
senraizadas, i.e., aquelas que se veem obrigadas a deixar suas casas, 
comunidades, países de origem ou de residência habitual em razão 
de perseguição odiosa, violência generalizada, conflitos armados 
ou graves e generalizadas violações de direitos humanos. 
Este ensaio divide-se em três capítulos dedicados à análise dos 
fundamentos jurídicos do non-refoulement. 
O primeiro capítulo trata do princípio do non-refoulement no 
Direito Internacional dos Refugiados. Inicia-se pelo estudo da sua 
progressiva consolidação pari passu com a evolução do regime jurí- 
dico de proteção às pessoas refugiadas, desde Vitória à criação das 
Nações Unidas. Em um segundo momento, passa-se a um exame 
mais detalhado do escopo e do conteúdo do artigo 33 da Conven- 
ção de 1951, a Magna Carta dos Refugiados, o qual veda a devo- 
lução de pessoas refugiadas e solicitantes de refúgio, ao tempo que 
elabora exceções pessoais a essa regra. 
O segundo capítulo cuida das obrigações de non-refoulement 
no corpus juris do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
Especial atenção é dada às proibições de jus cogens, ou seja, às in- 
terdições de caráter absoluto, as quais não comportam derrogação. 
Procura-se demonstrar, a esse propósito, que as proibições abso- 
lutas que protegem direitos humanos implicam, necessariamente, 
um dever de não-devolução. Como exemplo capaz de ilustrar esse 
 
4 
5 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
argumento, utiliza-se, a partir de uma análise jurisprudencial, a 
proibição absoluta da tortura e de outras penas ou tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes. Examina-se, ainda, a contri- 
buição das obrigações de não-devolução para a contenção da dis- 
cricionariedade dos Estados em matéria de asilo — aqui enten- 
dido em seu sentido lato, ou seja, como a proteção garantida por 
um Estado, em seu território ou em algum outro local controlado 
por seus agentes, a um indivíduo que lhe solicite. A última parte 
do capítulo ocupa-se de investigar o processo de cristalização do 
non-refoulement no costume internacional, confirmando que há, 
de fato, uma prática consistente e uniforme que reconhece que o 
refoulement é inaceitável, bem como a convicção de que sua proi- 
bição decorre de um mandamento jurídico. 
O terceiro e último capítulo é dedicado a registrar os ecos do 
non-refoulement no Direito Internacional Humanitário. Para fazê- 
-lo, estuda-se, em princípio, a natureza e a essência do Direito 
Internacional Humanitário enquanto corpus jurídico, sublinhan- 
do suas peculiaridades. Passa-se, então, à análise da proibição das 
transferências de pessoas protegidas segundo o Direito de Gene- 
bra, tanto à luz do artigo 45 da Quarta Convenção de Genebra 
quanto sob o prisma dos princípios de humanidade aplicáveis nos 
casos de conflitos armados, encapsulados no artigo 3, comum às 
Convenções de Genebra. 
O campo estará então aberto à exposição das reflexões finais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
O Princípio do Non-Refoulement no 
Direito Internacional dos Refugiados 
 
 
I. Origens e evolução 
Em 1539, Francisco de Vitória, com fundamento no Direito 
Natural, assim defendeu o dever de hospitalidade e a liberdade 
de locomoção: 
Com efeito, em meio a todos os povos se tem por desu- 
mano o que, sem nenhuma causa especial, receba mal 
hóspedes e peregrinos. Inversamente, porém, é humano 
e civilizado tratar bem os hóspedes (...). [D]esde o prin- 
cípio do mundo (quando tudo era comum) era lícito a 
quem quer que desejasse ir a não importa que região, 
a ela se dirigir e peregrinar. Ora, não parece que isso 
tenha sido eliminado pela divisão das coisas. Nunca, de 
fato, foi intenção das gentes, por meio daquela divisão, 
tolher a comunicação dos homens entre si e, por certo, 
teria sido desumano nos tempos de Noé.6 
 
 
6 VITÓRIA, Francisco de. Relectiones: Sobre os Índios e Sobre o Poder Civil. Brasília: 
FUNAG, 2016. pp. 145–146. A noção de hospitalidade enquanto direito viria a ser 
revisitada por Kant, em seu terceiro artigo definitivo para a Paz Perpétua, em que 
cuida do direito de um estrangeiro a não ser tratado com hostilidade em virtude 
da sua vinda ao território de outro. Seu argumento tem por lastro o direito comum 
à posse da terra. Como ressalta Gabriel Gualano de Godoy, a hospitalidade na 
acepção de Kant se consubstancia em um “direito do estrangeiro de não ser tratado 
como inimigo”, o que resulta em um direito de visita ou de permanência temporária 
em um Estado. In: GODOY, Gabriel Gualano de. O direito do outro, o outro do 
7 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Na visão do Mestre de Salamanca, hospitalidade e liberda- 
de de locomoção eram dois conceitos necessariamente ligados, 
dando respaldo ao direito de comunicação entre os seres hu- 
manos (jus communicationis)7,que, por sua vez, estribava-se na 
natureza socializadora da pessoa humana (naturalis societas et 
communicationis)8. De acordo com Vitória, “a amizade entre os 
seres humanos faz parte do Direito Natural”, sendo contrário à 
natureza “evitar o consórcio dos homens inofensivos”9. Assim, a 
recusa imotivada em acolher estrangeiros era reconhecida como 
ato naturalmente perverso. 
O princípio da liberdade de locomoção, esposado por Vitória, 
viria a ser esmerado por Hugo Grócio em sua obra Mare libe- 
rum10, publicada em 1609. Para o jusinternacionalista holandês, 
que se preocupou em definir o conteúdo do aludido princípio, a 
liberdade de locomoção comporta dois elementos: o direito do 
indivíduo de deixar seu próprio país e a garantia de permane- 
cer em uma nação estrangeira11. Citando Cícero, Grócio afirma 
que “é nosso dever ter compaixão para com aqueles cuja miséria 
não decorre de seus crimes, mas do infortúnio”12. Hugo Grócio 
acreditava que a liberdade de locomoção era norma de vocação 
 
direito: cidadania, refúgio e apatridia. Revista Direito e Praxis, Rio de Janeiro, v. 7, 
n. 15, p. 59, 2016. 
7 O jus communicationis de Vitória reflete um conceito mais amplo de Direito 
Internacional, o qual se baseia na reciprocidade e na igualdade entre os povos e no 
respeito a seus direitos, bem como na unidade fundamental do gênero humano. 
8 CHETAIL, Vincent. Sovereignty and Migration in the Doctrine of the Law of 
Nations: An Intellectual History of Hospitality from Vitoria to Vattel. The European 
Journal of International law, Florence, v. 27, n. 4, p. 904, 2016. 
9 VITÓRIA, Op. Cit., p. 146. 
10 GRÓCIO, Hugo. Mare liberum 1609–2009. Leiden: Brill Nijhoff, 2004. p. 25. 
11 CHETAIL, Op. Cit., 2016, a, p. 909. 
12 Ibidem. 
 
8 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
universal, constituindo-se uma manifestação da “sacrossanta lei 
da hospitalidade”13. Para ambos, entretanto, a liberdade de mo- 
vimentação não era um direito absoluto; o direito de permanecer 
em um Estado estrangeiro prescindia, pois, de uma justa causa, 
ou seja, de um motivo legítimo. 
Em verdade, a liberdade de locomoção foi a regra por boa par- 
te da história da humanidade14. A recepção de estrangeiros era 
vista como uma forma de fortalecer o Estado, dando-lhe vigor de- 
mográfico e econômico15. Nem mesmo a emergência do Estado 
nacional — e do princípio da soberania territorial —, por ocasião 
da Paz de Vestfália, em 1648, vexou a liberdade de movimentação 
transfronteiriça, a qual perduraria até o século XIX, quando a imi- 
gração passou a ser restringida16. 
Nesse mesmo período, o conceito jurídico de asilo — aqui en- 
tendido em seu sentido lato17 — e o princípio da não-extradição 
por crimes políticos seriam concretizados18, lançando as bases do 
que viria a ser o princípio da não-devolução das pessoas refugia- 
das. A regra da não-extradição de ofensores políticos começara 
a ser aceita pela prática internacional já no segundo quartel do 
século XIX, ganhando expressão com o tratado de extradição ce- 
lebrado entre França e Bélgica, em 183419. À época, o princípio da 
 
13 Ibidem, p. 907. 
14 Ibidem, p. 922. 
15 Ibidem. 
16 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A Humanização do Direito 
Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 20. 
17 Ou seja, como a proteção garantida por um Estado, em seu território ou em algum 
outro local controlado por seus agentes, a um indivíduo que lhe solicite. 
18 GOODWIN-GILL, Guy. S.; MCADAM, Jane. The Refugee in International law. 
Oxford: Oxford University Press, 2007. p. 202. 
19 SHEARER, Ivan. A. Extradition in International law. Manchester: Manchester 
University Press, 1971. p. 18. 
 
9 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
não-extradição refletia um sentimento comum de que uma pessoa 
perseguida por seu próprio governo merecia ser protegida20. Além 
disso, tal princípio guardava relação com o receio de que, acaso 
retornado ao país postulante, o delinquente político fosse punido 
de forma desproporcional21. 
No início do século passado, a questão dos migrantes forçados 
passou a ser uma preocupação internacional e reclamou uma res- 
posta conjunta da comunidade internacional, com vistas à prote- 
ção das pessoas refugiadas. Assim, o regime jurídico de proteção 
às pessoas refugiadas começa a se desenvolver no início da década 
de 1920, sob os auspícios da Liga das Nações, em resposta à crise 
dos refugiados russos, catapultada pelos eventos que sucederam 
à Revolução Bolchevique (1917)22. Desde essa época, a vedação 
do refoulement era entendida como pedra angular da doutrina de 
proteção das pessoas refugiadas, uma vez que, para proteger o in- 
divíduo, era necessário tê-lo fisicamente em território controlado 
pelo Estado protetor23. Com efeito, tanto a Liga das Nações quanto 
o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) concordavam 
que os refugiados russos só poderiam ser retornados caso as “mais 
 
 
20 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 202. 
21 DEERE, Lora. L. Political Offenses in the Law and Practice of Extradition. The 
American Journal of International law, Cambridge, v. 27, n. 2, p. 250, 1933. 
22 GODOY, Gabriel Gualano de. Indigenous Peoples in a Refugee-Like Situation: 
Living on the Border Between Colombia and Brazil. Birkbeck law Review, London, 
v. 3, n. 2, p. 341, 2015. 
23 O termo “refúgio” tem origem no vocábulo latino “refugium”, cunhado no século 
XIII para designar um local no qual uma pessoa perseguida, ameaçada ou em perigo 
poderia se abrigar em segurança. Assim, rechaçar pessoas em busca de abrigo 
desnaturaria o propósito do refúgio. Cf. METOU, Brusil Miranda. Le droit au refuge. 
In: GOODWIN-GILL, Guy S.; WECKEL, Philippe (Org.). Protection des migrants 
et des réfugiés au XXIe siècle: Aspects de droit international/Migration and Refugee 
Protection in the 21st Century: International Legal Aspects. Leiden/Boston: Martinus 
Nijhoff Publishers/Hague Academy of International Law, 2015. pp. 561–593. 
10 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
elementares garantias de segurança lhes fossem avalizadas” e ain- 
da que “as condições de vida fossem ao menos equivalentes àque- 
las que eles encontraram no país que lhes acolheu”24. 
Com a aparição de novas categorias de refugiados, a proteção 
jurídica originalmente desenhada para os refugiados russos viria a 
ser expandida. A senda dos migrantes armênios — que eram apro- 
ximadamente 400.000, em setembro de 192325 —, sobreviventes 
de um dos maiores massacres do século26, sensibilizou a comuni- 
dade internacional. Destarte, a partir de 1924, sob os auspícios da 
Liga das Nações, foram adotados diversos acordos internacionais 
com o intuito de salvaguardar, também, refugiados armênios27. 
Entrementes, em 1928, celebrou-se o Acordo Relativo ao Estatu- 
to Jurídico dos Refugiados Russos e Armênios28, que, apesar do 
caráter recomendatório, ensaiou a formulação, no plano interna- 
cional, de um estatuto legal para as pessoas refugiadas29. O item 
 
24 GOODWIN-GILL, Guy. S. International refugee law — yesterday, today, but 
tomorrow? (Working Paper N. 16). RlI Working Paper Series Special Edition, London, 
p. 3, 2017. 
25 ANDRADE, José H. Fischel de. Direito Internacional dos Refugiados: Evolução 
Histórica (1921–1952). Rio de Janeiro: Editora Renovar, 1996, p. 50. 
26 Estima-se que 1.5 milhão de pessoas foram mortas no Genocídio Armênio (1915– 
1923). In: KFINER, John. Armenian Genocide of 1915: An Overview. The New 
York Times, New York, [2007]. Disponível em: <http://www.nytimes.com/ref/ 
timestopics/topics_armeniangenocide.html>. Acesso em: 08 set. 2017. 
27 Em 1926, o Alto Comissariado identificou aproximadamente 150 mil pessoas, 
de oito nacionalidades, em situação análoga à dos migrantes russos e armênios. 
Entretanto, questões políticas afetaram a inclusão destasoutras nacionalidades 
entre aquelas que mereciam ser protegidas. Cf. GOODWIN-GILL e MCADAM, 
Op. Cit., p. 17. 
28 Cf. LIGA DAS NAÇÕES. Arrangement Relating to the legal Status of Russian and 
Armenian Refugees. League of Nations Treaty Series, v. LXXXIX, n. 2005. [Geneva]: 
30 jun. 1928. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/3dd8cde56.html>. 
Acesso em: 09 set. 2017. Doravante “Acordo de 1928”. 
29 ANDRADE, Op. Cit., p. 56. 
 
11 
http://www.nytimes.com/ref/
http://www.refworld.org/docid/3dd8cde56.html
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
7 do aludido Acordo trazia limites à saída compulsória de pessoas 
refugiadas, antecipando o que viria a se tornar o princípio do non- 
-refoulement no Direito Internacional dos Refugiados. De acordo 
com o referido dispositivo, recomendava-se que as medidas para a 
expulsão de estrangeiros não fossem aplicadas aos refugiados rus- 
sos e armênios quando estes não estivessem em condições de en- 
trar em um país vizinho de forma regular. A exceção, entretanto, 
verificar-se-ia na hipótese de o refugiado ter entrado no país tão 
somente com a intenção de molestar a lei nacional30. 
Contudo, a não-devolução só seria incorporada a um instru- 
mento internacional compromissivo em 1933, com a celebração 
da Convenção sobre o Estatuto Internacional dos Refugiados31. 
Apesar de contar com apenas 8 ratificações32, a Convenção de 
1933 teve especial importância para a construção do Direito Inter- 
nacional dos Refugiados, ampliando a proteção internacional em 
sua dimensão ratione personae33 e, abstratamente, servindo de mo- 
delo para o tratamento jurídico que haveria de ser adotado à causa 
dos refugiados. Deve-se lembrar que questões atinentes à expulsão 
de não-nacionais, bem assim à possibilidade de recepção de es- 
trangeiros são temas afetos à soberania estatal; assim sendo, os 
Estados viam — como também hoje veem — as limitações à sua 
soberania com certa desconfiança, em especial quanto à admissão 
 
30 Na versão original, “[i]t is recommended that measures for expelling foreigners or for 
taking other such action against them be avoided or suspended in regard to Russian and 
Armenian refugees in cases where the person concerned is not in a position to enter a 
neighbouring country in a regular manner. This recommendation does not apply in the 
case of a refugee who enters a country in intentional violation of the national law.” 
31 Doravante “Convenção de 1933”. 
32 Ratificaram a Convenção: Bélgica, Reino Unido, Noruega, Bulgária, 
Tchecoslováquia, Irlanda, França e Egito. 
33 Ao definir seu escopo de aplicação, o artigo 1 da Convenção de 1933 não se limitou 
aos refugiados russos e armênios, ampliando seu leque de proteção para abarcar, 
também, “refugiados assimilados”. 
 
12 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
de estrangeiros. Prova disso são as reservas opostas à Convenção 
de 1933 acerca da matéria34. 
O artigo 3 da Convenção previa que cada Estado pactuan- 
te comprometia-se a não remover ou impedir a entrada de re- 
fugiados que foram autorizados a residir regularmente em seu 
território, por meio de medidas policiais, tais como expulsão ou 
não admissão nas fronteiras, exceto quando se tratasse da pre- 
servação da segurança nacional ou da ordem pública. Ainda, 
comprometiam-se a, sob qualquer circunstância, não recusar a 
admissão de refugiados na fronteira de seus países de origem35. 
Cabe notar que, a priori, na versão francesa36, o vocábulo re- 
foulement aparecia como alternativa à expulsão, traduzindo-se 
como “não admissão nas fronteiras” ou “rejeição”, “rechaço”37. 
Não obstante o seu pioneirismo, a grande limitação da Conven- 
ção de 1933 — para além do baixo número de ratificações — foi 
a possibilidade de comportar reservas a quase todos dispositivos, 
inclusive àqueles mais fundamentais, como o que previa a defini- 
ção de refugiado e o que interditava o refoulement. 
 
34 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 202. 
35 Na versão original, “[e]ach of the Contracting Parties undertakes not to remove or keep from 
its territory by application of police measures, such as expulsions or non-admittance at the 
frontier (refoulement), refugees who have been authroised to reside there regularly, unless the 
said measures are dictated by reasons of national security or public order. It undertakes in any 
case not to refuse entry to refugees at the frontiers of their countries of origin.” In: LIGA DAS 
NAÇÕES. Convention Relating to the International Status of Refugees. League of Nations, 
Treaty Series v. CLIX, n. 3663. Geneva, 28 out. 1933. Disponível em: <http://www. 
refworld.org/docid/3dd8cf374.html>. Acesso em: 14 set. 2017. 
36 Cf. TAGER, Paul. Convention Relative au Statute International des Réfugiés du 
28 octobre 1933 — annotée. Journal du Droit International (Clunet), Paris, v. 63, pp. 
1136–1157, 1936. 
37 Em francês, “[c]hacune des Parties contractantes s’engage à ne pas éloigner de son 
territoire par application de mesures de police, telles qu’expulsion ou refoulement, les 
réfugiés ayant été autorisé à y séjourner régulierment, à moins que les dites mesures ne 
soient dictées par des raisons de sécurité nationale ou d’ordre public.” In: ibidem, p. 1144. 
13 
http://www/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Antes de se consolidar em definitivo como princípio do Direi- 
to Internacional dos Refugiados, com a celebração da Conven- 
ção de 1951, a não-devolução ainda se manifestaria em outros 
instrumentos internacionais, a exemplo dos acordos relativos à 
proteção de refugiados alemães, de 1936 e 1938 — período em 
que Hitler recrudescia a perseguição às minorias e intensifica- 
va a desnacionalização em massa38. Pela urgência da situação, 
optou-se, a princípio, por elaborar um instrumento jurídico de 
caráter provisório, que estabelecesse garantias mínimas às pes- 
soas refugiadas de origem alemã. Com efeito, em 1936, adotar- 
-se-ia o Acordo Provisório Referente ao Estatuto dos Refugiados 
Provenientes da Alemanha39, cujo artigo 4 tratava dos limites às 
medidas administrativas que resultassem em expulsão. Segundo 
o dispositivo, refugiados que tivessem sido autorizados a residir 
em determinado país não poderiam ser submetidos, por suas au- 
toridades, a medidas de expulsão ou retornados à fronteira, a 
menos que por razões de segurança nacional ou manutenção da 
ordem pública. Em nenhum caso, contudo, poderia a pessoa re- 
fugiada ser enviada à fronteira do Reich40. 
 
38 LAFER, Op. Cit., p. 198. 
39 Cf. LIGA DAS NAÇÕES. Provisonal Arrangement concerning the Status of Refugees 
Coming from Germany. League of Nations Treaty Series, v. CLXXI, n. 3952. Geneva, 
4 jul. 1936. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/3dd8d0ae4.html>. 
Acesso em: 15 set. 2017. Doravante “Acordo de 1936”. 
40 Na versão original, “(1) In every case in which a refugee is required to leave the territory 
of one of the contracting countries, he shall be granted a suitable period to make the 
necessary arrangement. (2) Without prejudice to the measures which may be taken within 
the country, refugees who have been authorised to reside in a country may not be subject 
by the authorities of that country to measures of expulsion of be sent back across the 
frontier unless such measures are dictated by reasons of national security or public order. 
(3) Even in this last-mentioned case the Governments undertake that refugees shall not 
be sent back across the frontier of the Reich unless they have been warned and have 
refused to make the necessary arrangements to process to another country or to take 
advantage of the arrangements made for them with that object.” 
14 
http://www.refworld.org/docid/3dd8d0ae4.html
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Sucedendo ao Acordo de 1936, a Convenção Relativa ao Esta-tuto dos Refugiados provenientes da Alemanha, de 193841, trouxe 
garantias mais robustas aos refugiados alemães, além de ter mar- 
cado a fase de transição entre a abordagem coletivista da proteção 
das pessoas refugiadas e uma centrada na perseguição individua- 
lizada42, a qual tem por base a condição pessoal do indivíduo43. O 
artigo 5 da Convenção de 1938 replicou, em grande parte, o artigo 
4 de sua antecessora44. 
Com o término da Segunda Guerra Mundial e a criação da 
Organização das Nações Unidas, uma nova era para o Direito In- 
ternacional dos Refugiados floresceria. Já nos primeiros anos da 
ONU, a proteção internacional das pessoas refugiadas começa- 
ra a ganhar robustez, e, por consequência, fortificava-se o non- 
-refoulement. Assim, em 1946, a Resolução 8(1) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas aceitou expressamente que refugiados 
ou pessoas deslocadas que tivessem “objeções válidas” a retornar 
 
 
 
41 Cf. LIGA DAS NAÇÕES. Convention concerning the Status of Refugees Coming from 
Germany. League of Nations Treaty Series, v. CXCII, n. 4461, p. 59. Geneva, 10 fev. 
1938. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/3dd8d12a4.html>. Acesso 
em: 15 set. 2017. Doravante “Convenção de 1938”. 
42 ANDRADE, Op. Cit., p. 103. 
43 Assim, a perseguição deve se dar em razão da raça, religião, nacionalidade, opinião 
política ou grupo social ao qual pertence o indivíduo. Essa é a abordagem adotada 
pela Convenção de 1951, como veremos. 
44 Na versão original, “(…) [w]ithout prejudice to the measures which may be taken within 
the country, refugees who have been authorised to reside in a country may not be subject 
by the authorities of that country to measures of expulsion of be sent back across the 
frontier unless such measures are dictated by reasons of national security or public order. 
(…) Even in this last-mentioned case the Governments undertake that refugees shall 
not be sent back across the frontier of the Reich unless they have been warned and have 
refused to make the necessary arrangements to process to another country or to take 
advantage of the arrangements made for them with that object. In such case the identity 
certificates may be cancelled or withdrawn.” 
15 
http://www.refworld.org/docid/3dd8d12a4.html
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
ao seu país de origem não deveriam ser obrigadas a fazê-lo45. Em 
1950, o Comitê Ad Hoc sobre Apatridia e Problemas Correlatos, 
criado em 1949 pelo Conselho Econômico e Social das Nações 
Unidas (ECOSOC), elaborou o que viria a ser o artigo 33(1) da 
Convenção de 1951, considerando-o tão fundamental que nenhu- 
ma exceção foi prevista. In litteris: 
Nenhum dos Estados Partes expulsará ou retornará um 
refugiado, em qualquer hipótese, às fronteiras de território 
em que sua vida ou liberdade seja ameaçada em virtude 
da sua raça, religião, nacionalidade, pertencimento a gru- 
po social ou às suas opiniões políticas.46
 
Os Estados, entretanto, mostraram-se reticentes quanto ao 
caráter absoluto do non-refoulement, razão por que pressionaram 
para que fosse adotada uma exceção à não-devolução. Assim, a 
Conferência de Plenipotenciários, de 1951, formulou o que se tor- 
naria o artigo 33(2) da Convenção de 1951, estabelecendo que o 
non-refoulement não aproveitaria àqueles indivíduos que ameaças- 
sem a segurança nacional do país de acolhida ou que, tendo sido 
condenados em um julgamento definitivo por um crime particu- 
larmente grave, constituíssem um perigo à comunidade do país em 
questão47. A essa altura, as bases do princípio do non-refoulement 
estavam, portanto, azeitadas. 
 
 
 
45 Na versão original, “no refugees or displaced persons who have finally and definitely, 
in complete freedom, and after receiving full knowledge of the facts, including 
adequate information from the governments of their countries of origin, expressed 
valid objections to returning to their countries of origin (…) shall be compelled to 
return to their country of origin.” 
46 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 204. 
47 Ibidem. 
 
16 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
II. O princípio do non-refoulement na 
Convenção de 1951 
Como já indicado no item anterior, a Convenção Relativa ao 
Estatuto dos Refugiados, de 195148, resultou do trabalho do Co- 
mitê Ad Hoc sobre Apatridia e Problemas Correlatos, criado pelo 
ECOSOC, em agosto de 194949. Concebida em meio à Guerra 
Fria, a Convenção de 1951 foi pensada como um instrumento 
voltado a regulamentar um fenômeno que se julgava tempo- 
rário50, mas que se mostrou, na verdade, perene. Dedicou-se à 
proteção de uma parcela de migrantes forçados em situação de 
peculiar vulnerabilidade e sem a proteção de seu Estado pátrio. 
A intenção foi, portanto, fornecer a esse grupo de migrantes uma 
proteção jurídica que compensasse as tormentas infligidas pelo 
exílio forçado e pela falta de proteção nacional51. Ao contrário 
dos acordos que lhe antecederam, a Convenção de 1951 foi am- 
plamente endossada pela comunidade internacional — contam- 
-se mais de 140 ratificações52. 
Uma das grandes inovações adotadas pela Convenção foi a 
incorporação da noção de perseguição individualizada como 
elemento sine qua non para o reconhecimento da condição de 
 
48 Cf. ACNUR. Manual de Procedimentos e Critérios a Aplicar para Determinar o 
Estatuto de Refugiado. Brasília: ACNUR, 2016. pp. 57–71. 
49 Por meio da Resolução 248 (IX), do Conselho Econômico e Social das Nações 
Unidas (ECOSOC). 
50 A Convenção de 1951 estabelecia limitações temporais e geográficas, as quais 
viriam a ser derrogadas pelo Protocolo de 1967. 
51 FOSTER, Michelle.; HATHAWAY, James. C. The law of Refugee Status. 
Cambridge: Cambridge University Press, 2014, p. 17. 
52 ACNUR. States parties to the 1951 Convention relating to the Status of Refugees and the 
1967 Protocol. Disponível em: <http://www.unhcr.org/protection/basic/3b73b0d63/ 
states-parties-1951convention-its-1967-protocol.html>. Acesso em: 15 set. 2017. 
 
17 
http://www.unhcr.org/protection/basic/3b73b0d63/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
refugiado, contrastando com a abordagem coletivista adotada no 
passado. O termo “perseguição”, contudo, não foi definido pela 
Convenção de 1951. Da análise dos travaux préparatoires da Con- 
venção, percebe-se que os seus redatores desistiram intencional- 
mente de defini-lo, reconhecendo a impossibilidade de enume- 
rar, à época, todas as formas de maus-tratos que pudessem im- 
pelir as pessoas a buscar proteção internacional. Na ausência de 
um conceito objetivamente estabelecido, tem-se definido “per- 
seguição” como “persistentes e sistemáticas violações de direitos 
humanos que demonstrem a falha da proteção estatal”53. Com 
efeito, para fins da configuração da perseguição odiosa, as vio- 
lações não podem ser episódicas, devendo protrair-se no tempo. 
Entretanto, há casos em que o requisito da repetição no tempo 
não será necessário, dada a seriedade da violação (e.g., tortura, 
genocídio, execuções sumárias, desaparecimento forçado). Por 
outro lado, violações a priori de menor escala podem resultar em 
perseguição, bastando que sejam reiteradas e que gerem um dano 
cumulativo. Não há, portanto, restrições quanto à natureza dos 
direitos sistematicamente violados, sendo suficiente, para a afe- 
rição da perseguição, a ocorrência de violações não-episódicas a 
direitos econômicos, sociais e culturais54, a exemplo dos direitos 
à saúde, à educação, a um trabalho digno e do direito à alimen- 
tação55. Todavia, tais violações deverão estar ligadas a uma ca- 
racterística que singularize a pessoa, representando, assim, uma 
discriminação odiosa e injustificada. É que a perseguição deverá 
 
 
53 FOSTER e HATHAWAY, Op. Cit., pp. 182–183. 
54 Cf. FOSTER, Michelle. International Refugee law and Socio-Economic Rights: Refuge 
from Deprivation.Cambridge: Cambridge University Press, 2007. pp. 87–156. 
55 MARQUES, Rodolfo Ribeiro Coutinho. Do Refúgio em Razão de Grave e 
Generalizada Violação de Direitos Humanos: (Re)interpretando o Artigo 1º, III, da 
Lei 9.474/97. [Estudo interno realizado no ACNUR], 2016. 20 p. 
18 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
ser individualizada56. Assim, de acordo com o seu artigo 1(A) 
(2), será refugiada a pessoa que, temendo ser perseguida por sua 
raça, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou pertencimen- 
to a determinado grupo social, seja obrigada a deixar seu país de 
origem — ou de residência habitual — em busca de proteção57. 
O status de refugiado possui natureza declaratória58, porquan- 
to se constitui a partir do preenchimento dos critérios esposa- 
dos no já referido artigo 1(A)(2) da Convenção. Portanto, não se 
concede refúgio (ato constitutivo), reconhece-se o refugiado (ato 
declaratório). Desse modo, uma pessoa não é refugiada por ser 
reconhecida como tal, mas é reconhecida como tal por ser refu- 
giada59. A natureza declaratória do ato que atesta a condição de 
refugiado possui efeitos práticos relevantíssimos. Assim, permite- 
-se que o solicitante de refúgio goze de determinados direitos 
 
 
56 Cf., sobre esse tema, ANDRADE, José H. Fischel de. On the Development of the 
Concept of ‘Persecution’ in International Refugee Law. III Anuário Brasileiro de 
Direito Internacional, Belo Horizonte, v. 2, n. 1, pp. 114–136, 2008. 
57 O artigo 1(A)(2) da Convenção de 1951 define como refugiada a pessoa que: “(…) 
temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social 
ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode 
ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não 
tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual 
em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, 
não quer voltar a ele.” 
58 De acordo com o parágrafo 28 do Manual de Procedimentos e Critérios para a 
Determinação da Condição de Refugiado, “[a] person is a refugee within the meaning 
of the 1951 Convention as soon as he fulfils the criteria contained in the definition. 
This would necessarily occur prior to the time at which his refugee status is formally 
determined. Recognition of his refugee status does not therefore make him a refugee but 
declares him to be one. He does not become a refugee because of recognition, but is 
recognized because he is a refugee.” In: ACNUR. Handbook of Procedures and Criteria 
for Determining Refugee Status under the 1951 Convention and the 1967 Protocol 
relating to the Status of Refugees. Geneva: ACNUR, 1992. Disponível em: <http:// 
www.unhcr.org/4d93528a9.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 
59 Ibidem. 
 
19 
http://www.unhcr.org/4d93528a9.pdf
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
inerentes à condição de refugiado — em especial, a garantia de 
não ser expulso ou retornado —, dado que há uma presunção 
juris tantum de que aquela pessoa é refugiada. Ora, toda a pessoa 
refugiada foi, em algum momento, um solicitante de refúgio60. 
Assumir o contrário seria colocar em risco a própria efetividade 
da Convenção, já que bastaria ao Estado remover o indivíduo 
sem ter analisado sua solicitação, para que se visse livre de seus 
compromissos convencionais61. 
Além de definir quem é um refugiado, a Convenção de 1951 
prescreve um extenso rol direitos às pessoas refugiadas: alguns cir- 
cunscritos aos refugiados residentes62, outros garantidos apenas às 
pessoas em situação regular63, ou ainda aqueles condicionados à 
simples presença física do indivíduo no território do Estado64. Há, 
ainda, um outro grupo de direitos que, de tão essenciais, devem ser 
garantidos tão logo o indivíduo esteja submetido à jurisdição — de 
jure ou de facto — do Estado, independendo do reconhecimento 
formal de sua condição de refugiado. É o caso, pois, do artigo 3365, 
o qual veda o refoulement. In litteris: 
 
60 NAÇÕES UNIDAS. General Assembly. Note on International Protection. A/ 
AC.96/815. [New York], 31 ago. 1993, par. 11. Disponível em: <http://www. 
refworld.org/docid/3ae68d5d10.html>. Acesso em: 15 set. 2017. 
61 Neste estudo, sempre que se fizer referência à pessoa refugiada, incluir-se-ão as que 
solicitam refúgio. 
62 Artigo 14 (propriedade industrial e intelectual), artigo 15 (direito de associação), 
artigo 17 (profissões assalariadas), artigo 19 (profissões liberais), artigo 21 
(habitação), artigo 23 (assistência pública), artigo 24 (benefícios trabalhistas e 
previdenciários), artigo 28 (documentos de viagem). 
63 Artigo 18 (exercício de atividade profissional), artigo 26 (liberdade de locomoção), 
artigo 32 (expulsão). 
64 Artigo 4 (liberdade de religião), artigo 27 (documentos de identidade) e artigo 31(1) 
(não penalização pela entrada irregular). 
65 De acordo com o artigo 42(1) da Convenção de 1951, o artigo 33 não está sujeito a 
reservas, dado o seu caráter fundamental. 
 
20 
http://www/
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Art. 33. (1) Nenhum dos Estados Contratantes expulsará 
ou rechaçará (“refouler”), de maneira alguma, um refugia- 
do para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou 
a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da 
sua religião, da sua nacionalidade, do grupo social ao qual 
pertence ou das suas opiniões políticas. 
(2) O benefício da presente disposição não poderá, toda- 
via, ser invocado por um refugiado que por motivos sérios 
seja considerado um perigo para a segurança do país no 
qual se encontre ou que, tendo sido condenado definiti- 
vamente por um crime particularmente grave, constitui 
ameaça para a comunidade do referido país.66
 
Antes de avançarmos na análise do artigo 33, faz-se neces- 
sário esclarecer, preliminarmente, que os métodos interpretati- 
vos de um texto convencional que tem por objeto e propósito 
a proteção da pessoa humana diferem daqueles que orientam a 
leitura das demais categorias de textos convencionais. Assim, 
convenções de essência humanitária — incluindo-se, para esse 
efeito, a Convenção de 1951 — devem ser interpretadas à luz do 
caráter objetivo das obrigações assumidas pelos Estados Partes 
vis-à-vis a proteção da pessoa humana67. Tais obrigações são au- 
tônomas, não possuindo, portanto, exigência de sinalagma. Ade- 
mais, a mise-en-oeuvre das obrigações que se destinam a proteger 
a pessoa humana deve primar pela proteção efetiva das garantias 
individuais, ao passo que as restrições devem ser interpretadas, 
elas próprias, restritivamente68. 
 
 
66 Convenção de 1951, artigo 33. 
67 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. International law for Humankind: 
Towards a new Jus Gentium. 2. ed. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2010. p. 430. 
68 Ibidem, p. 431. 
 
21 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
É seguro afirmar, então, que o artigo 33(1) afiança à pessoa 
refugiada — e àquela que aguarda o reconhecimento formal de 
sua condição de refugiado69 — o direito de permanecer em outro 
Estado porquanto perdure a ameaça que a tenha levado a buscar 
refúgio. Trata-se, com efeito, de uma obrigação negativa, posto 
que o Estado não poderá expor a pessoa refugiada ao risco de per- 
seguição, abstendo-se, pois, de enviá-la a território no qual sua 
vida ou liberdade possam estar ameaçadas. Este é o propósito do 
dispositivo: não retornar, “de maneira alguma”, uma pessoa refu- 
giada aos seus perseguidores, pouco importando se sua exposição 
ao risco dar-se-ia por meio da extradição70, da expulsão71, da de- 
portação72, da rejeição nas fronteiras ou de algum outro método de 
saída compulsória. O artigo 33(1) é claro ao privilegiar o aspecto 
material, finalístico, em detrimento do formal. Cumpre sublinhar, 
a esserespeito, que o termo “non-refoulement” é usado neste estudo 
como uma obrigação que agasalha não apenas a rejeição nas fron- 
teiras73, mas também todas as outras modalidades de saída com- 
pulsória que possam expor o indivíduo ao risco de perseguição. 
 
69 Em razão do caráter declaratório, repise-se. 
70 A extradição caracteriza-se como a entrega, por uma soberania a outra, e a pedido 
desta, de pessoa que em seu território deva responder a processo criminal ou cumprir 
pena. In: REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 10. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2007. p. 197. Em havendo ânimus persequendi, a perseguição 
apenas seria substituída pela prossecução. 
71 A expulsão é definida como a exclusão do estrangeiro, por iniciativa das autoridades 
locais, em razão de condenação criminal, cujo procedimento o torne nocivo à 
conveniência e aos interesses nacionais. In: ibidem, p. 196. 
72 A deportação, por sua vez, pode ser definida como a medida compulsória voltada 
à exclusão do estrangeiro que se encontre no território nacional após uma estada 
irregular, clandestina. In: ibidem, p. 195. 
73 De acordo com Gérard Cornu, o termo “refoulement” pode ser definido como 
“mesure par laquelle un Etat interdit le franchissement de sa frontière à un étranger qui 
sollicite l’accès à son territoire (…).” In: CORNU, Gérard. Vocabulaire Juridique. 10. 
ed. Paris: Presses Universitaires de France, 2014, p. 875. 
22 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Outro ponto que merece ser enfrentado é o da relação entre os 
artigos 33(1) e 1(A)(2), particularmente quanto à dimensão ratione 
personae da obrigação de non-refoulement. Apesar de o artigo 33(1) 
fazer referência apenas ao envio do refugiado a território em que 
tenha sua vida ou liberdade ameaçadas, o non-refoulement protege 
todos os refugiados e solicitantes de refúgio, sem diferenciações74. 
Nesse sentido, a leitura dos travaux préparatoires da Convenção in- 
dica que a intenção dos seus redatores era de que a expressão “vida 
ou liberdade” resumisse as causas que ensejam o reconhecimento 
da condição de refugiado (e.g., fundado temor de perseguição)75. 
Essa é a posição do ACNUR76, bem assim a de boa parte da comu- 
nidade internacional77. 
Não obstante a lucidez desse raciocínio, algumas instâncias — 
incluindo-se a Suprema Corte dos Estados Unidos78 — optam por 
uma abordagem mais conservadora, considerando que o risco ao 
qual se refere a letra do artigo 33(1) é mais gravoso que aquele es- 
posado no artigo 1(A)(2)79. Essa interpretação, contudo, não me- 
rece prosperar, visto que põe em risco o propósito da Convenção 
de 1951, qual seja: a proteção integral da pessoa refugiada. Assu- 
mir o contrário teria um efeito deletério, dado que criaria uma 
 
74 A única hipótese permitida de devolução é aquela que envolve pessoas refugiadas 
que se enquadram nas exceções elaboradas pelo artigo 33(2). 
75 HATHAWAY, James. The Rights of Refugees under International law. Cambridge: 
Cambridge University Press, 2016. pp. 304–305. 
76 Cf. ACNUR. Guidelines for National Refugee legislation, with Commentary. 
Geneva, 9 dez. 1980, section 6(2). Disponível em: <http://www.refworld.org/ 
docid/3ae6b32610.html>. Acessado em: 15 set. 2017. 
77 Cf. GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 234. 
78 Cf. ESTADOS UNIDOS. Supreme Court. Immigration and Naturalization Service v. 
Cardoza Fonseca. 9 mar. 1987, p. 444. Disponível em: <https://supreme.justia.com/ 
cases/federal/us/480/421/case.html>. Acesso em: 17 set. 2017. 
79 HATHAWAY, Op. Cit., p. 307. 
 
23 
http://www.refworld.org/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
lacuna inaceitável entre o status de refugiado e a não-devolução, 
autorizando, por exemplo, a exposição de determinados refugiados 
à perseguição odiosa ao sabor da discricionariedade estatal. 
Sobreleva notar que o non-refoulement não se confunde com o 
direito ao asilo, apesar de aquele princípio contribuir para a forti- 
ficação deste instituto, especialmente no ramo do Direito Interna- 
cional dos Direitos Humanos80. Ressalte-se que o direito ao asilo 
possui diversas faces81: é uma prerrogativa territorial do Estado de 
oferecer proteção e de resistir aos pedidos pela extradição (direito 
de asilar)82; é uma garantia que o indivíduo tem de buscar asilo; ou 
ainda um direito subjetivo de ser asilado83. O direito ao asilo e sua 
relação com o non-refoulement são temas que serão estudados com 
maior profundidade mais adiante; por ora, basta-nos compreender 
que o dever de não-devolução não é o mesmo que o direito ao asi- 
lo, pois este tem natureza positiva, garantindo proteção, residência 
e admissão, ao passo que o non-refoulement é uma obrigação nega- 
tiva, que interdita o envio do indivíduo a território em que possa 
ser exposto ao risco de perseguição84. 
Ademais, uma vexata quaestio que se apresenta quando da aná- 
lise do alcance material do artigo 33(1) é de saber se o princípio 
da não-devolução implica o dever de receber refugiados. Em uma 
 
80 No sistema interamericano, por exemplo, o non-refoulement encontra reforço no 
direito de buscar asilo. Cf. MARQUES, Rodolfo. Non-refoulement under the Inter- 
American Human Rights System. (Working Paper N. 20). RLI Working Paper Series 
Special Edition, London, pp. 65–67, 2017. 
81 BOED, Roman. The State of the Right of Asylum in International Law. Duke 
Journal of Comparative and International law, Durham, v. 5, n. 1, p. 3, 1994. 
82 Ibidem. 
83 BOED, Op. Cit., p. 3. 
84 WEIS, Paul. 1975, p. 92 apud CHETAIL, Vincent. Le Principe de Non-Refoulement 
et le Statut de Réfugié en Droit International. In: CHETAIL, Vincent; FLAUSS, 
Jean-François (Eds.). la Convention de Genève du 28 juillet 1951 relative au Statut des 
Réfugiés 50 ans après: Bilan et Perspectives. Bruxelles: Bruylant, 2001. p. 6. 
 
24 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
leitura apriorística, vê-se que o dispositivo não faz referência a um 
direito subjetivo de ser acolhido, tampouco a uma obrigação, por 
parte dos Estados contratantes, de garantir residência à pessoa re- 
fugiada. Isso não significa, entretanto, que o Estado possua uma 
carte blanche para rejeitar, indiscriminadamente, pessoas refugia- 
das. Significa, sim, que, quando não puderem garantir proteção 
às pessoas refugiadas, os Estados deverão adotar medidas que não 
resultem em refoulement (e.g., refúgio temporário, remoção do in- 
divíduo para um outro país seguro)85. A fortiori, em reverência ao 
propósito do artigo 33(1), sempre que a não-admissão resultar na 
exposição de refugiados ou solicitantes de refúgio à perseguição, o 
dever de não-devolução transmutar-se-á em obrigação de acolher, 
já que o acolhimento será a única forma de evitar o dano à vida e/ 
ou à liberdade do indivíduo86. 
O escopo material da proibição do refoulement também abarca 
o chamado refoulement indireto, i.e., quando uma pessoa refugia- 
da é removida para um país em que sua vida e/ou liberdade não 
estarão diretamente ameaçadas, mas em que ela corra o risco de 
ser expulsa para outro território onde venha a ser perseguida. Essa 
hipótese já havia sido considerada pelos redatores da Convenção 
de 1951, que entenderam desnecessário fazer-lhe menção expres- 
sa, uma vez que a prática já representaria uma ameaça à vida e à 
liberdade da pessoa refugiada87. Nesse caso, o fator de mérito é 
a previsibilidade do resultado final da remoção88, incumbindo ao 
 
 
85 BETHLEHEM, Daniel; LAUTERPACHT, Elihu. The Scope and Content of 
the Principle of Non-refoulement: opinion. In: FELLER, Erika.; TURK, Volker; 
NICHOLSON, Frances (Org.). Refugee Protection in International law. Cambridge: 
Cambridge University Press, 2003. p. 113. 
86 HATHAWAY, Op. Cit., p. 301. 
87 Ibidem, p. 323. 
88 Ibidem. 
 
25 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Estadoo ônus de provar que o território para onde deseja enviar a 
pessoa refugiada é, de fato, seguro89. Portanto, cabe a ele, Estado, 
apurar se as leis e práticas do país em questão podem expor aquela 
pessoa ao risco de devolução. “Segurança” é fator a ser considera- 
do objetivamente, significando que, não obstante possua as mais 
sofisticadas leis, o Estado de destino não será seguro se não for 
capaz de proteger a pessoa refugiada em face do refoulement. 
Um outro aspecto da dimensão ratione materiae do artigo 33(1) 
diz respeito ao local para onde a pessoa refugiada não poderá ser 
enviada. O dispositivo faz referência ao termo “fronteiras de terri- 
tórios”, de modo que não se limita ao país de origem do solicitan- 
te; abarca, portanto, todo e qualquer território em que a pessoa 
refugiada possa ser perseguida. A opção pelo termo “territórios” 
em vez de “Estados” demonstra a abrangência da proibição, a qual 
prioriza, como critério, o risco à pessoa, em detrimento da situação 
jurídica do lugar para onde ela possa ser enviada. 
Bethlehem e Lauterpacht sugerem que a menção a “territórios” 
autoriza, inclusive, a aplicação do non-refoulement a casos em que 
o indivíduo esteja dentro de seu país de origem, porém submetido 
à proteção de outro Estado, a exemplo do que ocorre nas missões 
diplomáticas90. Esse argumento não parece razoável à luz do artigo 
33, visto que o escopo da Convenção de 1951 está circunscrito 
à pessoa refugiada, a qual, por definição, deve estar fora de seu 
país de nacionalidade ou de residência habitual. Diferente seria 
se um refugiado, perseguido, também, no país de refúgio, buscasse 
proteção na embaixada de um terceiro Estado — sendo este últi- 
mo parte da Convenção de 1951. Haveria, pois, uma obrigação de 
acolhida de facto, já que o Estado acreditado não poderia devolver 
o refugiado aos seus perseguidores, sob pena de violar o artigo 33. 
 
89 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 122. 
90 Ibidem. 
 
26 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Por outro lado, apesar de a Convenção de Viena sobre Relações 
Diplomáticas, de 1961, não fazer referência à figura do asilo di- 
plomático, a inviolabilidade das missões diplomáticas, chancelada 
pelo seu artigo 22(1)91, impede que o Estado acreditante invada a 
embaixada para capturar o asilado — ou, nesse caso, o refugiado. 
É válido lembrar, ainda, que o artigo 33 da Convenção de 1951 
beneficia apenas as pessoas refugiadas e as que solicitam refúgio, 
não se aplicando, por consequência, às pessoas que não deixaram 
seus países de origem92. Ora, não há que se falar em “retorno” da 
pessoa ao lugar de onde ela não saiu. Alguns Estados, contudo, 
aproveitam esse fato para perverter suas obrigações internacionais, 
impedindo que potenciais refugiados deixem seus países de origem 
em busca de proteção internacional. Alcunhada de non-entrée, 
essa prática objetiva a repulsa desses indivíduos antes mesmo que 
penetrem na jurisdição do Estado, evitando, assim, que se bene- 
ficiem do princípio do non-refoulement, bem como de outras ga- 
rantias encartadas na Magna Carta dos Refugiados93. Em outras 
palavras, a prática consiste na imposição de barreiras artificiais — 
normalmente, a estipulação de vistos —, obstaculizando o acesso 
 
 
 
 
 
91 O artigo 22(1) da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961, 
apregoa que: “[o]s locais da Missão são invioláveis. Os Agentes do Estado acreditado 
não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão.” 
92 De acordo com o parágrafo 88 do Manual de Procedimentos e Critérios, “[i]t is 
a general requirement for refugee status that an applicant who has a nationality be 
outside the country of his nationality. There are no exceptions to this rule. International 
protection cannot come into play as long as a person is within the territorial jurisdiction 
of his home country.” 
93 Cf. GAMMELTOFT-HANSEN, Thomas.; HATHAWAY, James. C. Non- 
refoulement in a World of Cooperative Deterrence. Columbia Journal of Transnational 
Law, New York, v. 53, n. 235, p. 246, 2014. 
 
27 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
de pessoas migrantes à jurisdição de um Estado, inviabilizando, 
portanto, a solicitação de refúgio94. 
A Câmara dos Lordes teve a oportunidade de se debruçar 
sobre o tema quando da análise do caso European Roma Rights 
Centre et al. v. Immigration Officer at Prague Airport. A demanda 
teve por objeto a política de non-entrée conduzida por autoridades 
britânicas — e endossada por autoridades tchecas — no Aeropor- 
to de Praga, visando a barrar pessoas da etnia Roma que demons- 
trassem interesse em buscar refúgio no Reino Unido95. Na oca- 
sião, determinou-se que essa prática não violaria o artigo 33(1) da 
Convenção de 1951, porquanto a proibição não compreende ações 
que tenham como resultado a permanência do indivíduo do outro 
lado da fronteira96. Não implica dizer, contudo, que os Estados 
não estejam violando outras obrigações internacionais, a exemplo 
de compromissos derivados do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos ou mesmo o princípio interpretativo da boa-fé. Nesse 
diapasão, o artigo 12(2) do Pacto Internacional sobre Direitos Ci- 
 
 
94 Um exemplo curioso é o da política do wet foot/dry foot adotada pela Guarda 
Costeira estadunidense. Sobre essa prática, Seline Trevisanut reproduz o seguinte 
trecho: “[i]f they [sea-borne migrants] touch the US soil, piers or rocks, they are subject 
to US immigration processes for removal. If they are ‘feet wet’, they are eligible for 
return by the Coast Guard in accordance with Executive Order 12.807”. O Decreto 
Executivo 12.807, também conhecido como Kennebunkport Order, foi instituído em 
maio de 1992 pelo então presidente George H. W. Bush, suspendendo a análise 
de solicitações de refúgio de nacionais haitianos em embarcações americanas. O 
Decreto ainda autorizava as autoridades estadunidenses a interceptar haitianos em 
alto-mar e conduzi-los de volta ao Haiti. In: TREVISANUT, Seline. The Principle 
of Non-Refoulement at Sea and the Effectiveness of Asylum Protection. Max Planck 
Yearbook of United Nations law, Leiden/Boston, v. 12, p. 221, 2008. 
95 Cf. REINO UNIDO. House of Lords. Regina v. Immigration Officer at Prague Airport 
and Another, Ex parte European Roma Rights Centre and Others. 9 dez. 2004, par. 2. 
Disponível em: <http://www.refworld.org/cases,GBR_HL,41c17ebf4.html>. Acesso 
em: 17 set. 2017. 
96 Ibidem, par. 31. 
 
28 
http://www.refworld.org/cases%2CGBR_HL%2C41c17ebf4.html
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
vis e Políticos (PIDCP), de 1966, assegura a toda pessoa o direito 
de deixar qualquer país — inclusive o seu próprio97. A liberdade de 
movimento encapsulada no aludido dispositivo independe do pro- 
pósito da viagem, menos ainda da duração da estada do indivíduo 
fora do país98. É certo que, de acordo com o artigo 12(3) do Pacto, 
tal liberdade poderá ser constrangida, se assim o recomendar a 
proteção da segurança nacional e da ordem, da saúde ou da moral 
pública, bem assim a garantia dos direitos e liberdades das demais 
pessoas99. Todavia, não parece ter sido o caso. Portanto, no cas 
d’espèce, ambos — Reino Unido e Tchecoslováquia — violaram 
o artigo 12(2) do PIDCP, além do princípio da igualdade e não- 
-discriminação. Não obstante, não há que se falar em desrespeito 
ao artigo 33 da Convenção de 1951. 
 
1 A responsabilidade do Estado pela 
violação do artigo 33(1) 
O artigo 33(1) obriga todos os Estados que aquiesceram à Con- 
venção de 1951 e ao seu Protocolo de 1967. Espera-se, portanto, 
que as ações desses Estados estejam em harmonia com o princípio 
da não-devolução, sob pena de serem responsabilizados, no plano 
internacional, por haverem cometido um ato internacionalmente 
 
97 O artigo 12(2) do PIDCP apregoa que:“[t]oda pessoa terá o direito de sair livremente 
de qualquer país, inclusive de seu próprio país.” 
98 Cf. NAÇÕES UNIDAS. Human Rights Committee. General Comment n. 27: 
Article 12 (Freedom of Movement), 2 nov. 1999. Disponível em: <http://www. 
refworld.org/docid/45139c394.html>. Acesso em: 17 set. 2017. 
99 O artigo 12(3) do Pacto estabelece que: “os direitos supracitados não poderão ser 
objeto de restrições, salvo quando estas estejam previstas na lei e sejam necessárias 
para proteger a segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou a moral pública, 
bem como os direitos e liberdades de terceiros, que sejam compatíveis com os outros 
direitos reconhecidos no presente Pacto.” 
29 
http://www/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
ilícito. Se, em qualquer sistema jurídico, a violação de uma norma 
importa na responsabilização de seu autor100 (ubi responsabilitas, ibi 
jus), não poderia ser diferente no Direito das Gentes. A responsa- 
bilidade internacional do Estado nasce, assim, como consequência 
jurídica de um ato internacionalmente ilícito, o qual se afigura 
como uma conduta — comissiva ou omissiva — que viola uma 
obrigação internacional e que é imputável ao Estado101. 
A natureza da conduta à qual se refere a definição acima per- 
mite concluir, portanto, que a violação ao artigo 33(1) poderá 
ocorrer pela via omissiva. Seria o exemplo, pois, de quando o Es- 
tado se nega a receber assistência humanitária ou, ainda, quando 
corta suprimentos de água, alimentos e medicamentos às pessoas 
refugiadas, visando a constrangê-las a deixar o país102. 
Além disso, tanto para a Convenção de 1951 quanto para o 
Projeto de Artigos sobre a Responsabilidade dos Estados por Atos 
Internacionalmente Ilícitos (PAREAII), de 2001, o Estado é uma 
entidade complexa, exercendo suas funções e atividades por in- 
termédio de pessoas103. A ação de um indivíduo é, pois, a base da 
conduta internacionalmente ilícita do Estado104. 
Assim, de acordo com as regras do capítulo da responsabilidade 
internacional, a noção de “ato de Estado” deve ser compreendida 
 
100 ZIEGLER, Andreas. Introduction au Droit International Publique. 3. ed. Berne: 
Stämpli Editions, 2015. p. 126. 
101 NAÇÕES UNIDAS. International Law Commission. Draft articles on Responsibility 
of States for Internationally Wrongful Acts. 2001, artigo 2. Disponível em: <http:// 
legal.un.org/ilc/texts/instruments/english/commentaries/9_6_2001.pdf>. Acesso 
em: 15 set. 2017. 
102 HATHAWAY, Op. Cit., pp. 318–321. 
103 CRAWFORD, James. State Responsibility: The General Part. Cambridge: Cambridge 
University Press, 2013. p. 113. 
104 AGO, Roberto. The Internationally Wrongful Act of the State, Source of 
International Responsibility. Year Book of the International law Commission , [New 
York], v. II, p. 96, par. 64, 1972. 
30 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
de forma alargada, abarcando a conduta dos órgãos de um Estado 
(quer exerçam função legislativa, quer executiva ou judicial)105; a 
conduta de órgãos colocados à disposição de um Estado por outra 
soberania106; a conduta de pessoa ou grupo de pessoas que estiver, 
de fato, agindo por instrução ou sob a direção ou controle esta- 
tal107; a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas que estejam 
exercendo atribuições do poder público na falta ou na ausência de 
autoridades oficiais e em circunstâncias que requeiram o exercício 
daquelas atribuições108; ou a conduta reconhecida e adotada por 
um Estado como sua própria109. 
Portanto, para fins de configuração da responsabilidade inter- 
nacional do Estado, pouco importa se a violação ao princípio do 
non-refoulement ocorre por meio da ação de agentes de fronteira 
que conduzem a pessoa refugiada de volta à perseguição, seja atra- 
vés da edição de uma norma constitucional que autoriza o refou- 
lement, seja por uma omissão legislativa que permita a remoção 
de refugiados, ou por intermédio de um grupo não-estatal que, 
sob controle ou incentivo do Estado, envia pessoas refugiadas de 
volta aos seus perseguidores. Em todos os casos, o ato violador será 
atribuível ao Estado e, portanto, implicará a sua responsabilização. 
Com efeito, uma vez configurada a responsabilidade de um 
Estado por um ato internacionalmente ilícito, novas obrigações 
jurídicas serão constituídas com vistas a reparar — ou ao menos 
a atenuar — a violação (e.g., cessação e não-repetição, repara- 
ção, contramedidas). Como o effet utile dessas medidas é remir a 
transgressão, a depender da natureza da regra vilipendiada, umas 
 
105 PAREAII, artigo 4. 
106 Ibidem, artigo 6. 
107 Ibidem, artigo 8. 
108 Ibidem, artigo 9. 
109 Ibidem, artigo 11. 
 
31 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
preferirão às outras. Outrossim, quando a parte vitimada pela vio- 
lação for a pessoa humana — esta titular do direito à reparação 
—, caberá ao Estado delinquente assegurar à vítima o gozo do 
direito violado, restaurando, sempre que possível, a situação que 
antecedeu ao ato ilícito (restitutio in integrum), além de providen- 
ciar uma compensação adequada às consequências da violação 
(direito à reparação)110. Outras medidas também são necessárias, a 
exemplo das desculpas apresentadas publicamente, da garantia de 
não-repetição, da mudança da legislação, além do dever de julgar 
aqueles que perpetraram as violações111. 
No caso de uma violação ao princípio do non-refoulement, di- 
ficilmente a vítima terá condições de reclamar reparações. Isso 
não significa, entretanto, que o direito à reparação perder-se-á. 
A esse respeito, a jurisprudência dos tribunais internacionais de 
direitos humanos tem sedimentado entendimento no sentido de 
que os beneficiários da reparação poderão ser outras pessoas que 
não a vítima direta da violação. A Corte Interamericana de Direi- 
tos Humanos (CrtIDH), por exemplo, passou a considerar como 
beneficiários da reparação não apenas as vítimas diretas da viola- 
ção, mas também os familiares — estes em substituição da vítima 
falecida ou mesmo por direito próprio, em razão do dano infligido 
pela perda daquele ente112. O maior problema reside, entretanto, 
na precariedade do acesso à justiça internacional pelos indivíduos, 
o que inviabiliza, por vezes, a reparação da violação. 
 
110 CANÇADO TRINDADE, Op. Cit., 2010, p. 461. 
111 Cf. NAÇÕES UNIDAS. International Court of Justice. Republic of Guinea v. 
Democratic Republic of the Congo. Separate Opinion of Judge Cançado Trindade, par. 
208. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/files/case-related/103/103-20120619- 
JUD-01-01-EN.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 
112 BURGORGUE-LARSEN, Laurence; TORRES, Amaya Úbeda de. les Grandes 
décisions de la Cour interaméricaine des droits de l’homme. Bruxelles: Bruylant, 2008. 
p. 253. 
 
32 
http://www.icj-cij.org/files/case-related/103/103-20120619-
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
2 Exceções pessoais ao non-refoulement segundo 
o artigo 33(2) 
A proteção inscrita no artigo 33(1) da Convenção de 1951 não 
aproveitará, contudo, àquele refugiado que, por motivos sérios, 
seja considerado uma ameaça à segurança do país em que se en- 
contra ou que, tendo sido condenado, em definitivo, por um crime 
particularmente grave, constitua um risco à comunidade daquele 
país. Essa é a dicção do artigo 33(2), o qual elabora duas exceções 
pessoais — e taxativas — ao non-refoulement, afastando a ilicitu- 
de do ato que conduz certas pessoas refugiadas ou solicitantes de 
refúgio aos seus perseguidores. Vale lembrar que essas exceções 
deverão ser interpretadas restritivamente, à luz do objeto e do pro- 
pósito da Convenção de 1951. 
O aludido dispositivo encarna, como diz François Julien-La- 
ferrière, “o princípio da reciprocidade entre o Estado e a pessoa 
refugiada”, cabendo àquele garantir proteção a esta, na medidaem que esta se conforma às suas leis, de modo a não lhe repre- 
sentar nenhuma ameaça, tampouco à sua população113. Em outras 
palavras, a pessoa refugiada só poderia ser enviada de volta aos 
seus perseguidores na hipótese de representar um perigo de tal 
monta que ameaçasse a própria existência do Estado, bem como a 
integridade de suas instituições e o bem-estar de sua comunidade. 
Seria, por assim dizer, uma espécie de legítima defesa do Estado, 
acionada quando nenhuma outra medida a pudesse substituir. Vê- 
-se, assim, que o non-refoulement, tal qual desenhado pelo artigo 
33(1), não é absoluto. 
Ademais, em razão da natureza dos bens jurídicos tutelados, 
toda e qualquer decisão que implique a devolução da pessoa refu- 
 
 
113 CHETAIL, Op. Cit., 2001, p. 39. 
 
33 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
giada aos seus perseguidores deve se acostar nos princípios da pro- 
porcionalidade e do devido processo legal, oportunizando à pessoa 
refugiada o direito ao contraditório e à ampla defesa. Ainda, caso 
seja decidido que o refoulement tornou-se indispensável, à pessoa 
refugiada deverá ser garantido um prazo razoável para que possa 
solicitar sua admissão em um outro país114 — mesma lógica adota- 
da pelo artigo 32(3) da Convenção de 1951115. 
 
2.1 A relação entre o artigo 33(2) e o artigo 1(F) 
Uma questão que ainda gera muita confusão na literatura 
especializada e que merece ser arrostada, preliminarmente, é a 
da relação entre o artigo 33(2) e o artigo 1(F), ambos da Con- 
venção de 1951. 
Em linhas gerais, o artigo 1(F) obsta o acesso à proteção inter- 
nacional ao solicitante de refúgio suspeito de haver cometido um 
grave crime internacional — delicta juris gentium — (i.e., crimes de 
guerra, crimes contra a paz ou delitos de lesa humanidade)116 ou de 
estar fugindo de persecução ou execução penal legítima — levada 
a cabo em virtude de um crime grave de direito comum que tenha 
cometido fora do país de refúgio e antes de nele ser admitido117. 
Obsta, ainda, o acesso àquele suspeito de ser culpado de atentar 
contra os princípios e propósitos das Nações Unidas118. A exclusão 
 
 
114 Ibidem, pp. 45–46. 
115 De acordo com o artigo 32(3), “[o]s Estados Contratantes concederão a tal refugiado 
um prazo razoável para procurar obter admissão legal em outro país. Os Estados 
Contratantes podem aplicar, durante esse prazo, a medida de ordem interna que 
julgarem oportuna.” 
116 Convenção de 1951, artigo 1(F)(a). 
117 Ibidem, artigo 1(F)(b). 
118 Ibidem, artigo 1 (F)(c). Cf., ainda, os artigos 1 e 2 da Carta da ONU. 
 
34 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
destas três classes de pessoas traduz a preocupação dos Estados, à 
época, de que criminosos que houvessem cometido graves crimes 
— domésticos ou internacionais — pudessem escapar de processo 
ou de execução penal por meio de uma solicitação de refúgio119. 
Ademais, a própria topografia do artigo 1(F) demonstra a sua 
primeira — e mais essencial — característica: inclui-se em meio 
às cláusulas de exclusão, ou seja, aquelas disposições que indicam 
as pessoas que, mesmo preenchendo os critérios arrolados no ar- 
tigo 1(A) da Convenção, não poderão se beneficiar da condição 
de refugiado120, e, por conseguinte, da proteção internacional de- 
senhada para as pessoas refugiadas. Trata-se, outrossim, de uma 
questão preliminar, devendo ser avaliada quando da propositura 
da solicitação de refúgio, e, portanto, precedendo-lhe. A fortiori, 
um indivíduo incapaz de se beneficiar da condição de refugiado 
não gozará da proteção encapsulada no artigo 33(1). 
O artigo 33(2), por sua vez, aplica-se à pessoa que solicita re- 
fúgio, bem assim àquela já reconhecida como refugiada, preser- 
vando-lhe, contudo, o status de refugiado. Assim, o indivíduo 
permanece refugiado, podendo ser, portanto, objeto de assistência 
institucional do ACNUR e da proteção de qualquer outro Estado- 
-parte — desde que, logicamente, não ponha em risco sua segu- 
rança nem a de sua comunidade121. 
Um outro ponto de fundamental importância para a distinção 
entre os aludidos dispositivos diz respeito ao lastro probatório mí- 
nimo requerido e à natureza da ofensa criminal envolvida em am- 
 
 
119 FOSTER e HATHAWAY, Op. Cit., p. 525. 
120 Cf. ACNUR. Handbook of Procedures and Criteria for determining Refugee Status under 
the 1951 Convention and the 1967 Protocol relating to the Status of Refugees. Geneva: 
ACNUR, 1992. [par. 140]. Disponível em: <http://www.unhcr.org/4d93528a9. 
pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 
121 HATHAWAY, Op. Cit., pp. 344–345. 
 
35 
http://www.unhcr.org/4d93528a9
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
bos os casos. Sem dúvidas, o artigo 33(2) estabelece um patamar 
probatório mais elevado, porquanto a devolução da pessoa refugia- 
da só poderá ocorrer se houver “motivos suficientes” (reasonable 
grounds) para atestar que ela constitui uma ameaça à segurança do 
Estado. Ainda, o Estado não poderá agir arbitrariamente, devendo 
este comprovar, por meio de evidências, que, de fato, o indivíduo 
representa um risco à sua segurança122. Ademais, a segunda parte 
do artigo 33(2) requer que, em virtude da condenação por um 
crime “particularmente grave”, pelo qual haja sido condenada em 
definitivo, a pessoa refugiada constitua um perigo à comunidade 
do país de refúgio. 
Por sua vez, o artigo 1(F) demanda apenas “sérias razões para 
acreditar” (serious reasons for considering) que o indivíduo haja co- 
metido um grave crime — internacional ou doméstico. Não se 
exige, portanto, a realização de um julgamento no país de acolhida 
para a verificação da responsabilidade do indivíduo pelo cometi- 
mento dos crimes que se lhe imputam123. 
Há, ainda, uma diferença substancial entre a segunda parte 
do artigo 33(2) e o artigo 1(F)(b), especialmente quanto ao esco- 
po ratione temporis das ofensas envolvidas. Ao passo que o artigo 
1(F)(b) aplica-se à pessoa suspeita de ter cometido um grave cri- 
me de direito comum fora do país de refúgio — estando, por isso, 
passível de ser julgada — e antes de nele ser admitida, a exceção 
prevista na segunda parte do artigo 33(2) é dedicada à pessoa 
refugiada que, já admitida, cometeu — ou planejava cometer — 
um crime particularmente grave, havendo sido condenada em 
definitivo e que, em razão disso, põe a segurança da sua comuni- 
dade em sério risco. Perceba-se que, ao contrário do artigo 1(F) 
(b), o artigo 33(2) não faz referência ao local do crime, podendo 
 
122 Ibidem, p. 345. 
123 Ibidem, p. 343. 
 
36 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
este ter ocorrido no país de origem, em um país de passagem ou 
mesmo no país de refúgio. 
Pode-se concluir, além disso, que há diferenças significativas 
quanto à finalidade de ambos os dispositivos: enquanto o obje- 
tivo primordial do artigo 1(F) é definir quem não pode gozar da 
condição de refugiado, de modo a garantir que o Direito Inter- 
nacional dos Refugiados não proteja fugitivos, a raison d’être do 
artigo 33(2) é proteger a incolumidade do Estado e de sua comu- 
nidade, nem que para isso precise conduzir a pessoa refugiada de 
volta à perseguição. 
 
2.2 A hipótese do perigo à segurança do estado de refúgio 
A primeira exceção pessoal ao non-refoulement tem por base 
a ameaça que um refugiado possa representar à “segurança” do 
país de refúgio. O objetivo dessa exceção é proteger a unidade do 
Estado, bem como a integridade de suas instituições. Assim, para 
que se autorize a entrega da pessoa refugiada aos seus perseguido- 
res, faz-se necessário que ela, individualmente, ponha em risco a 
segurança do Estado de refúgio. 
Apesar de o termo “segurança” aparecer em diversos dispo- 
sitivos da Convenção de 1951124, não há, no tratado, qualquer 
definição clara, legando-se ao intérprete certa margem de apre-ciação. Essa era a intenção de alguns delegados presentes à Con- 
ferência de Plenipotenciários: a delegação britânica, por exemplo, 
sustentou que caberia ao Estado determinar se, de fato, a pessoa 
refugiada constituiria — ou não — um perigo à sua segurança125. 
Essa discricionariedade, contudo, restou temperada, visto que o 
artigo 33(2) requer “motivos suficientes” para considerar a pessoa 
 
124 E.g., arts. 9, 28, 32 e 33. 
125 CHETAIL, Op. Cit., 2001, p. 40. 
 
37 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
refugiada um risco à segurança do país de refúgio. À luz desse re- 
quisito, deve-se comprovar que há, efetivamente, suspeita razoável 
de que a presença ou a ação daquela pessoa refugiada representa 
um risco substancial e objetivo à integridade do Estado126. Nesse 
sentido, Grahl-Madsen destaca que a noção de “ameaça à segu- 
rança nacional” deve ser compreendida de modo a abarcar atos de 
elevada lesividade que ponham em risco, direta ou indiretamente, 
a coesão do governo constituído, a integridade territorial, a inde- 
pendência ou a paz externa do país em questão (e.g., espionagem, 
sabotagem militar, atividades terroristas, e atos que visem derru- 
bar o governo constituído)127. 
Portanto, ainda que a presença de uma pessoa refugiada con- 
trarie interesses econômicos e financeiros nacionais ou que des- 
gaste a relação do Estado de refúgio com outros países, não será 
hipótese de aplicação do artigo 33(2)128. Também não se incluem, 
a priori, os casos em que o indivíduo representa uma ameaça a 
outros Estados ou à comunidade internacional129 — desde que, 
obviamente, a presença da pessoa refugiada naquele país não gere 
um risco real de uma invasão estrangeira ou mesmo de retaliações 
irresistíveis por parte de outras soberanias. 
 
2.3 A hipótese da ameaça à comunidade do 
país de refúgio 
A segunda exceção inscrita no artigo 33(2) é a do refugiado 
que, tendo cometido um crime particularmente grave — pelo qual 
 
 
126 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 135. 
127 GRAHL-MADSEN, 1963, pp. 407–408 apud CHETAIL, Op. Cit., 2001, p. 44. 
128 HATHAWAY, Op. Cit., p. 346. 
129 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 135. 
 
38 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
foi condenado em definitivo —, representa uma ameaça à comu- 
nidade do país em que se encontra. 
Como pode ser extraído da aludida definição, para que se 
autorize o refoulement, faz-se necessário verificar a presença de 
três elementos cumulativos: primeiro, que a pessoa refugiada 
tenha sido condenada em definitivo (portanto, não podendo 
mais apelar da sentença condenatória); segundo, que o crime 
pelo qual foi condenada seja particularmente grave (e.g., ho- 
micídio, estupro, assalto à mão armada);130 terceiro, que, em 
virtude do cometimento desse crime, seja ela considerada um 
perigo à comunidade do referido país. Portanto, faltando um 
desses elementos, não há que se falar em aplicação da segunda 
hipótese do artigo 33(2). 
Quanto ao aspecto processual/formal, a previsão de uma con- 
denação definitiva significa que a exceção ao non-refulement não 
pode se basear em uma mera suspeita. O termo “condenação de- 
finitiva” deve ser entendido, assim, como uma sentença inapelá- 
vel e que tenha observado as garantias processuais mínimas do 
indivíduo (e.g., ampla defesa, contraditório, duração razoável do 
processo, duplo grau de jurisdição)131. 
Consoante o aspecto material dessa exceção, a infração penal 
tem de ser tão grave que a pessoa refugiada passe a ser uma ame- 
aça à sociedade do país de refúgio. Sobreleva notar, assim, que 
o fator de maior relevância não é a classificação do crime per se, 
mas o perigo que a pessoa refugiada passou a representar àquela 
comunidade, em razão da gravidade do crime cometido132. Como 
 
130 WEIS, Paul. The Refugee Convention, 1951: The Travaux Préparatoires analysed 
with a Commentary by Dr. Paul Weis. Cambridge: Cambridge University Press, 
1995, p. 342. 
131 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 139. 
132 Ibidem. 
 
39 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
bem assinala Grahl-Madsen, “o perigo à comunidade” significa 
um perigo à vida pacífica da sociedade133. Distingue-se, dessa 
maneira, do perigo à segurança do Estado, dado que o foco aqui 
é o bem-estar da população em geral134. Destarte, um indivíduo 
será considerado como um perigo à comunidade quando praticar 
graves crimes (e.g., assassinato, estupro, sequestro, roubo à mão 
armada), em tal escala que passe a ser considerado uma amea- 
ça pública135. Portanto, a aplicação do artigo 33(2) não pode ser 
automática; prescinde, ao contrário, de uma análise pormeno- 
rizada das circunstâncias do caso, pois nem toda a condenação 
por um crime particularmente grave representará um perigo ao 
corpo social do país de refúgio. Ademais, sempre que possível, 
o encarceramento preferirá ao refoulement, já que a devolução 
deverá ser a ultima ratio. 
 
3. O caso dos fluxos em massa e a observância 
do artigo 33 
Apesar de não haver uma definição universalmente aceita de 
“fluxos em massa” (mass influx), o termo é usualmente entendido 
como “um grande número de pessoas deslocadas que vêm de um 
país ou região geográfica específica”136. Também a Resolução nº 
100 (LV), adotada pelo do Comitê Executivo do ACNUR (Ex- 
Com), em 2004, aponta algumas das principais características des- 
se fenômeno: a) um considerável número de pessoas chegando a 
 
133 GRAHL-MADSEN, Atle. Commentary on the Refugee Convention 1951. Geneva: 
ACNUR, 1963, p. 143. 
134 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 140. 
135 GRAHL-MADSEN, Op. Cit., p. 143. 
136 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 335. 
 
40 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
uma fronteira internacional; b) um ritmo acelerado de chegadas; 
c) capacidade precária de absorção e resposta no país de chegada, 
especialmente durante a emergência; d) incapacidade de conduzir 
uma análise individualizada das solicitações de refúgio, em virtu- 
de de sua elevada quantidade137. 
A caracterização de um fluxo em massa não necessaria- 
mente está vinculada a um número absoluto de solicitantes de 
refúgio, mas sim à (in)capacidade do Estado de analisar suas 
solicitações. Portanto, o fluxo em massa passa a ser uma emer- 
gência quando seu tamanho e repentinidade inviabilizam uma 
abordagem individualizada das solicitações de refúgio, afetando 
as instituições e recursos do Estado138. Com efeito, recobrando 
o Estado a sua capacidade, não há mais que se falar em situ- 
ação de urgência, e, por consequência, deverão cessar todas 
as medidas emergenciais, especialmente as que restringem ou 
suspendem direitos139. 
A impossibilidade de analisar individualmente as solicitações 
de refúgio acabou gerando uma série de interpretações equivoca- 
das sobre a não aplicação da Convenção de 1951 às migrações em 
 
137 A seção “a” da Conclusão n. 100 (LV), do Comitê Executivo do ACNUR, adotada 
em 2004, apregoga que “mass influx is a phenomenon that has not been defined, but 
that, for the purposes of this Conclusion, mass influx situations may, inter alia, have 
some or all of the following characteristics: (i) considerable numbers of people arriving 
over an international border; (ii) a rapid rate of arrival; (iii) inadequate absorption or 
response capacity in host States, particularly during the emergency; (iv) individual asylum 
procedures, where they exist, which are unable to deal with the assessment of such large 
numbers (…)”. In: ACNUR. Conclusion on International Cooperation and Burden 
and Responsibility Sharing in Mass Influx Situations. Geneva, 8 ago. 2004, section 
“a”. Disponível em: <http://www.unhcr.org/excom/exconc/41751fd82/conclusion- 
international-cooperation-burden-responsibility-sharing-mass.html>. Acesso em: 
01 ago. 2017. 
138 GOODWIN-GILLe MCADAM, Op. Cit., p. 335. 
139 A Convenção de 1951 não possui uma cláusula de derrogação, diferentemente de 
outros tratados, a exemplo do PIDCP, a CEDH e a CADH. 
41 
http://www.unhcr.org/excom/exconc/41751fd82/conclusion-
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
massa, uma vez que a definição de refugiado, insculpida no artigo 
1(A)(2), depende da verificação da perseguição individualizada no 
cas d’espèce. Entretanto, assumir que a Convenção não se aplica 
nesse contexto pela impossibilidade de se avaliar individualmente 
as solicitações de refúgio seria o mesmo que reconhecer que o in- 
divíduo não existe em grupo140. 
Ademais, mesmo em uma situação emergencial, em razão de 
um fluxo maciço de solicitantes de refúgio, não há que se falar 
em exceção ao princípio do non-refoulement, visto que não há, 
na Convenção de 1951 ou em seus travaux préparatoires, qualquer 
cláusula ou termo afastando sua aplicabilidade nos casos de fluxos 
em massa141. Repise-se, pois, que, em razão do objeto e do pro- 
pósito humanitários da Convenção de 1951, as exceções devem 
ser interpretadas restritivamente. A consequência prática da não 
derrogação do princípio do non-refoulement nos casos de fluxos 
em massa é o instituto da proteção ou refúgio temporário, uma 
medida emergencial e excepcional voltada a proteger solicitantes 
de refúgio que fogem en masse de conflitos armados ou de graves 
violações de direitos humanos142. 
Entretanto, o que a prática dos Estados tem mostrado é que o 
preço da não derrogação do non-refoulement em casos de fluxos 
em massa é a suspensão de facto de boa parte dos direitos estabe- 
lecidos na Convenção de 1951 — em sua maioria, direitos eco- 
nômicos e sociais —, forçando solicitantes de refúgio a viverem 
 
 
 
 
140 DURIEUX, Jean-François; MCADAM, Jane. Non-refoulement through time: 
The Case for a Derogation Clause to the Refugee Convention in Mass Influx 
Emergencies. International Journal of Refugee law, Oxford, v. 16, n. 1, p. 9, 2004. 
141 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 119. 
142 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 343. 
 
42 
43 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
em condições precárias indefinidamente143. Assim, a projeção do 
non-refoulement no tempo, sem a garantia de soluções duradou- 
ras144, poderá ter efeito deletério, deixando essas pessoas em um 
estado crônico de vulnerabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
143 MCADAM, Jane. Complementary Protection in International Refugee law. Oxford: 
Oxford University Press, 2007, p. 200. 
144 Três são as chamadas soluções duradouras ou duráveis: a integração local, a 
repatriação voluntária e o reassentamento em um terceiro país. Sobre o tema, 
recomenda-se a leitura da premiada dissertação de mestrado de André de Lima 
Madureira, intitulada “Direito Internacional dos Refugiados e Soluções Duráveis: 
Instrumentos de Proteção, Abordagens Atuais e a Necessidade de Novas Respostas”, 
apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade Católica de 
Santos, sob a supervisão da Professora Dra. Liliana Lyra Jubilut. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 2 
Das Obrigações de Non-Refoulement 
no Direito Internacional dos 
Direitos Humanos e Além 
 
 
No Direito Internacional dos Refugiados, o non-refoulement é 
princípio145, informando e conformando suas normas. No Direito 
Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), o non-refoulement 
é um dever/obrigação, exprimindo-se como um complemento ao 
direito ao asilo, bem assim como um corolário lógico das proibi- 
ções de natureza cogente (e.g., proibição da tortura e de outras 
penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes), alicer- 
çando-se nas obrigações de respeitar, proteger e realizar os direitos 
humanos. Ademais, nesse último caso, porquanto uma obrigação 
essencial de uma proibição de jus cogens, o non-refoulement não 
comportará exceções. 
 
145 De acordo com o Juiz Cançado Trindade, em seu Voto em Separado no caso 
Pulp Mills, os princípios de Direito Internacional são “guiding principles of general 
content, and, in that, they differ from the norms or rules of positive international law, 
and transcend them. As basic pillars of the international legal system (as of any legal 
system), those principles give expression to the idée de droit, and furthermore to the 
idée de justice, reflecting the conscience of the international community. Irrespective 
of the distinct approaches to them, those principles stand ineluctably at a superior level 
than the norms or rules of positive international law. Such norms or rules are binding, 
but it is the principles which guide them. Without these latter, rules or techniques could 
serve whatever purposes. This would be wholly untenable.” In: NAÇÕES UNIDAS. 
International Court of Justice. Pulp Mills on the River Uruguay (Argentina v. 
Uruguay). Separate Opinion of Judge Cançado Trindade, par. 39. Disponível em: 
<http://www.icj-cij.org/files/case-related/135/135-20100420-JUD-01-04-EN.pdf>. 
Acesso em: 3 abr. 2018. 
 
45 
http://www.icj-cij.org/files/case-related/135/135-20100420-JUD-01-04-EN.pdf
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Além disso, no Direito Internacional dos Refugiados, o escopo 
ratione personae do non-refoulement está circunscrito à condição de 
refugiado — ou à expectativa do seu reconhecimento —, ao tem- 
po que o non-refoulement enquanto norma de direitos humanos 
protege todos, sem distinções quanto à pessoa do beneficiário. É 
que o DIDH tem o fito de proteger a pessoa humana, independen- 
temente de seu status migratório.146 Com efeito, mesmo que o indi- 
víduo não seja reconhecido como refugiado — excluído, portanto, 
da proteção outorgada pela Convenção de 1951 (especialmente 
daquela assegurada pelo artigo 33) —, poderá ele se beneficiar da 
proteção avalizada pelo Direito Internacional dos Direitos Huma- 
nos. Ademais, por não depender do reconhecimento da condição 
de refugiado, a proteção garantida pelo DIDH não está condicio- 
nada à saída do indivíduo de seu país de origem ou de residência 
habitual, significando, pois, que as obrigações de non-refoulement 
devem ser observadas em missões diplomáticas e mesmo em áreas 
controladas por missões de paz147. A afirmação das obrigações de 
non-refoulement no contexto do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos também garante sua observância extraterritorial, repre- 
sentando um grande avanço na proteção internacional das pesso- 
as migrantes, como afirma Ralph Wilde, já que diversas práticas 
relacionadas às migrações forçadas têm ocorrido em alto-mar148. 
 
146 Cf. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CrtIDH). 
Pacheco Tineo Family v. Bolivia, Preliminary Objections, Merits, Reparations, and 
Costs, Judgment of 25 nov. 2013, Series C, n. 272, par. 135. 
147 CHETAIL, Vincent. Are Refugee Rights Human Rights? An Unorthodox 
Questioning of the Relations between Refugee Law and Human Rights Law. In: 
RUBIO-MARÍN, Ruth. Human Rights and Immigration, Collected Courses of the 
Academy of European law. Oxford: Oxford University Press, 2014, pp. 36–37. 
148 WILDE, Ralph. Let them drown: Rescuing migrants at Sea and the Non-refoulement 
Obligation as a Case Study of International Law’s relationship to “Crisis” (Part I). 
EJIl: Talk!, Florence, 2017. Disponível em: <https://www.ejiltalk.org/let-them- 
drown-rescuing-migrants-at-sea-and-the-non-refoulement-obligation-as-a-case- 
46 
http://www.ejiltalk.org/let-them-
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Em síntese, o DIDH serve como safety net149 para aqueles migran- 
tes que não tiverem reconhecida a sua condição de refugiado, 
protegendo-os contra a exposição à perseguição, à tortura, a trata- 
mentos e penas cruéis, desumanos ou degradantes ou a outras cir- 
cunstâncias infringentesdo princípio da dignidade humana150. A 
expansão do non-refoulement para além do Direito Internacional 
dos Refugiados também impactou o seu processo de cristalização 
como norma costumeira, garantindo-lhe aplicação universal. 
Não há que passar despercebido que a ampla positivação das 
obrigações de non-refoulement em tratados de direitos humanos 
contribuiu fortemente para o aperfeiçoamento da proteção inter- 
nacional das pessoas migrantes. Nesse sentido, é possível identifi- 
car uma miríade de tratados de direitos humanos — universais e 
regionais — que proscrevem o refoulement, implícita ou explicita- 
mente, inter alia: Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polí- 
ticos (1966)151; Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e 
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes 
 
 
 
study-of-international-laws-relationship-to-crisis-part-i/>. Acesso em: 14 out. 
2017. Cf., sobre a aplicação das obrigações de direitos humanos no espaço, WILDE, 
Ralph. “The Legal Space” or “Espace Juridique” of the European Convention on 
Human Rights: Is it Relevant to Extraterritorial State Action? European Human 
Rights law Review, London, pp. 115–124, 2005. 
149 Daí se falar em “proteção complementar”. 
150 Inclusive, há quem defenda que o non-refoulement enquanto norma do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos proíbe o envio da pessoa migrante a territórios 
em que ela possa ter seus direitos econômicos, sociais e culturais violados. Cf. 
FOSTER, Michelle. Non-refoulement on the basis of Socio-Economic Deprivation: 
The Scope of Complementary Protection in International Human Rights Law. New 
Zealand law Review, Auckland, Part. II, pp. 257–310, 2009. 
151 O artigo 7 do PIDCP assim dispõe: “[n]inguém poderá ser submetido à tortura, nem 
a penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido sobretudo, 
submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médias ou cientificas.” 
47 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
(1984)152; Convenção Internacional para a Proteção de Todas as 
Pessoas contra o Desaparecimento Forçado (2006)153; Convenção 
Europeia de Direitos Humanos (1950)154; Convenção America- 
na sobre Direitos Humanos (1969)155; Convenção da OUA sobre 
Refugiados na África (1969)156; Convenção Interamericana sobre 
Extradição (1981)157; Convenção Interamericana para Prevenir e 
 
152 Doravante “Convenção contra a Tortura”. O artigo 3 da Convenção contra a 
Tortura é expresso ao proibir o refoulement. In litteris: (1) [n]enhum Estado Parte 
procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado 
quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali 
ser submetida a tortura. (2) A fim de determinar a existência de tais razões, as 
autoridades competentes levarão em conta todas as considerações pertinentes, 
inclusive, quando for o caso, a existência, no Estado em questão, de um quadro de 
violações sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos.” 
153 Doravante “Convenção sobre Desaparecimento Forçado”. O artigo 16(1) da 
Convenção sobre Desaparecimento Forçado estabelece que: “[n]enhum Estado 
Parte expulsará, devolverá, entregará ou extraditará uma pessoa a outro Estado 
onde haja razões fundadas para crer que a pessoa correria o risco de ser vítima de 
desaparecimento forçado.” 
154 Doravante “CEDH”. O artigo 3 da CEDH estipula que: “[n]inguém pode ser 
submetido a torturas, nem a penas ou tratamentos, desumanos ou degradantes.” 
155 Doravante “CADH” ou “Pacto de São José”. Além de poder ser interpretado como um 
elemento do direito à integridade pessoal, previsto no artigo 5, o non-refoulement tem 
um espaço de destaque na CADH, tendo sido previsto expressamente como um direito 
necessário à liberdade de locomoção. Nesse sentido, o artigo 22(8) do Pacto de São José 
assim dispõe: “[e]m nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro 
país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco 
de violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas 
opiniões políticas.” Cf., a esse respeito, MARQUES, Op. Cit., 2017, pp. 65–69. 
156 Doravante “Convenção da OUA”. O artigo II(3) da Convenção dispõe que: “[n] 
inguém pode ser submetido por um Estado-Membro a medidas tais como a recusa 
de admissão na fronteira, o refoulement ou a expulsão que o obriguem a voltar ou 
a residir num território onde a sua vida, a sua integridade física ou a sua liberdade 
estejam ameaçados pelas razões enumeradas no artigo I, parágrafos 1 e 2.” 
157 O artigo 4(5) da Convenção Interamericana sobre Extradição estipula que a 
extradição não será procedente “[q]uando das circunstâncias do caso se possa inferir 
que há propósito de perseguição por considerações de raça, religião ou nacionalidade, 
ou que a situação da pessoa corre o risco de agravar-se por um desses motivos.” 
48 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Punir a Tortura (1985)158; Carta Africana dos Direitos Humanos 
e dos Povos (1981)159; Convenção sobre os Direitos da Criança 
(1989)160, Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia 
(2000)161; e a Carta Árabe de Direitos Humanos (2004)162. 
 
158 Doravante “Convenção Interamericana contra a Tortura”. O artigo 13(4) da 
Convenção estatui que: “[n]ão se concederá a extradição nem se procederá à 
devolução da pessoa requerida quando houver suspeita fundada de que corre perigo 
sua vida, de que será submetida à tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante, 
ou de que será julgada por tribunais de exceção ou ad hoc, no Estado requerente.” 
159 Doravante “Carta de Banjul”. O artigo 5 da Carta de Banjul assim dispõe: “[t] 
odo indivíduo tem direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana e 
ao reconhecimento da sua personalidade jurídica. Todas as formas de exploração 
e de aviltamento do homem, nomeadamente a escravatura, o tráfico de pessoas, 
a tortura física ou moral e as penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes são proibidos.” 
160 O artigo 37(a) da Convenção sobre os Direitos da Criança dispõe que os Estados 
Partes devem zelar para que: “nenhuma criança seja submetida a tortura nem a 
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (...)”. Interpretando 
esse dispositivo, o Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança teve a 
ocasião de estatuir em seu Comentário Geral n. 6 que: “in fulfilling obligations under 
the Convention, States shall not return a child to a country where there are substantial 
grounds for believing that there is a real risk of irreparable harm to the child, such as, but by 
no means limited to, those contemplated under articles 6 and 37 of the Convention, either 
in the country to which removal is to be effected or in any country to which the child may 
subsequently be removed”. In: NAÇÕES UNIDAS. UN Committee on the Rights of 
the Child. General comment n. 6 (2005): Treatment of Unaccompanied and Separated 
Children Outside their Country of Origin, 1 set. 2005. Disponível em: <http://www. 
refworld.org/docid/42dd174b4.html>. Acesso em: 17 set. 2017. Cf., sobre esse tema, 
FARMER, Alice. A Commentary on the Committee on the Rights of the Child’s 
Definition of Non-Refoulement for Children: Broad Protection for Fundamental 
Rights. Fordham law Review Res Gestae, New York, v. 80, pp. 39–48, 2011. 
161 Doravante “CDFUE”. O artigo 19(2) da Carta estabelece que “[n]inguém pode ser 
afastado, expulso ou extraditado para um Estado onde corra sério risco de ser sujeito 
a pena de morte, a tortura ou a outros tratos ou penas desumanos ou degradantes.” 
162 O artigo 13(a) da Carta Árabe de Direitos Humanos assim prescreve: “[t]he States 
parties shall protect every person in their territory from being subjected to physical or 
mental torture or cruel, inhuman or degrading treatment. They shalltake effective 
measures to prevent such acts and shall regard the practice thereof, or participation 
therein, as a punishable offence.” 
49 
http://www/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
A seu turno, o DIDH também apresenta um plano operacio- 
nal, que conta com diversos órgãos universais e regionais de su- 
pervisão. Em âmbito regional, os sistemas de proteção a direitos 
humanos possuem mecanismos jurisdicionais que auxiliam na ob- 
servância e na implementação desses direitos em suas respectivas 
jurisdições, possibilitando que os indivíduos interponham recla- 
mações em face dos Estados, responsabilizando-os internacional- 
mente por violações de direitos humanos. Com efeito, a positiva- 
ção da proibição do refoulement como norma de direitos humanos 
— especialmente nos planos regionais europeu e interamericano 
— outorga aos indivíduos meios de demandar internacionalmente 
contra o Estado, preventiva ou repressivamente163. 
Em suma, o DIDH deu maior musculatura à proteção da pes- 
soa migrante, robustecendo a vedação à devolução, ao tempo que 
alargou seu escopo ratione personae e ofereceu meios de expandir 
seu escopo ratione materiae, além de ter contribuído significativa- 
mente para a cristalização do non-refoulement no costume interna- 
cional, como veremos. 
 
I. Non-refoulement como parte integrante de 
proibições de jus cogens 
1 Jus cogens: natureza, efeitos e 
consequências jurídicas 
Normas de jus cogens (normas “imperativas” ou “peremptó- 
rias”) são aquelas que, no plano internacional, impõem-se aos Es- 
tados independentemente de seu consentimento; contrapõem-se, 
 
163 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos 
Direitos Humanos. v. I. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997. pp. 60–118. 
50 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
assim, às normas do chamado jus dispositivum, i.e., aquelas avença- 
das pelo Estado e passíveis de modificação segundo sua vontade. 
Constituem, portanto, a base de uma ordre public internacional164, 
voltada à salvaguarda dos principais interesses e valores da co- 
munidade internacional, incluindo-se a proteção dos direitos mais 
caros à pessoa humana. 
Apesar de manifestações pretéritas165, o conceito de jus cogens 
internacional foi introduzido no Direito das Gentes por meio da 
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT), de 
1969. Firmou-se, na ocasião, a superioridade hierárquica das nor- 
mas peremptórias em relação às demais. In verbis: 
Art. 53. É nulo um tratado que, no momento de sua con- 
clusão, conflite com uma norma imperativa de Direito 
Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, 
uma norma imperativa de Direito Internacional geral é 
 
164 Não se deve confundir ordre public internacional com jus cogens. Aquela é uma 
noção de direito material, um núcleo duro e intangível do ordenamento jurídico que 
reflete os valores mais caros da comunidade internacional, ao tempo que jus cogens 
é uma categoria jurídica que confere efeito especial a determinadas normas. 
165 A princípio, a teoria do jus cogens internacional começara a se manifestar já na 
primeira metade do século passado, na doutrina do austríaco Alfred Verdross e dos 
franceses Louis le Fur, George Ripert e Georges Scelle. Ademais, podem-se identificar 
manifestações na jurisprudência da Corte Mundial reafirmando o papel das normas 
peremptórias, a exemplo do voto do Juiz Tanaka, no caso Sudoeste da África (1966). 
Na Corte Permanente de Justiça Internacional, cite-se o voto em separado do 
Juiz Schücking, no caso Oscar Chinn (1934). Para uma leitura aprofundada sobre 
a evolução do jus cogens, recomendam-se as seguintes leituras: KOLB, Robert. 
Théorie du Ius Cogens International: Essai de Relecture du Concept. Paris: Presses 
Universitaires de France, 2001. 404 p. ROBLEDO, Antonio Gomez. El Ius Cogens 
International: Estúdio Histórico-Crítico. Cidade do México: UNAM/Instituto de 
Investigaciones Jurídicas, 2003. 195 p. VERDROSS, Alfred. Forbidden Treaties in 
International Law: Comments on Professor Garner’s Report on ‘The Law of Treaties’. 
The American Journal of International law, Cambridge, v. 31, n. 4, pp. 571–577, 1937. 
BIANCHI, Andreas. Human Rights and the Magic of Jus Cogens. The European 
Journal of International law, Florence, v. 19, n. 3, pp. 491–508, 2008. 
51 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
uma norma aceita e reconhecida pela comunidade inter- 
nacional dos Estados como um todo, como norma da qual 
nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser mo- 
dificada por norma ulterior de Direito Internacional geral 
da mesma natureza.166
 
A principal consequência jurídica das normas de jus cogens, no 
universo do direito dos tratados, é a anulação ab initio das regras 
que a elas se contrapõem. A fortiori, tratados que colidam com 
normas cogentes supervenientes serão extintos167. Ademais, basta 
que apenas uma cláusula do tratado contrarie uma norma cogente 
para que ele seja anulado in totum168. 
Destarte, a questão da superioridade hierárquica das nor- 
mas de direito imperativo não se conteve ao direito dos tratados, 
transcendendo esse ramo do Direito Internacional Público para 
se manifestar, por exemplo, no capítulo da responsabilidade inter- 
nacional dos Estados169. Com efeito, a Comissão de Direito Inter- 
nacional das Nações Unidas170 propôs, em seu Projeto de Artigos 
sobre a Responsabilidade Internacional dos Estados, de 1996171, 
a inserção de uma nova categoria de atos internacionalmente 
ilícitos resultantes da violação de “obrigações internacionais es- 
senciais à proteção dos interesses fundamentais da comunidade 
 
166 CVDT, artigo 53. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 
2010/2009/decreto/d7030.htm>. Acessado em: 01 out. 2017. 
167 Ibidem, artigo 64. 
168 Ibidem, artigo 44(5). 
169 DANILENKO, Gennady M. International Jus Cogens: Issues of Law-Making. The 
European Journal of International law, Florence, v. 2, n. 1, p. 42, 1991. 
170 Doravante “Comissão de Direito Internacional” ou “CDI”. 
171 NAÇÕES UNIDAS. International Law Commission. Draft articles on State 
Responsibility. 1996. Disponível em: <http://legal.un.org/ilc/texts/instruments/ 
english/commentaries/9_6_1996.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 
 
52 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
http://legal.un.org/ilc/texts/instruments/
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
internacional”172. Em 2001, na versão mais atualizada do Projeto, a 
CDI deu mais atenção às normas de jus cogens, dedicando todo um 
capítulo às “violações graves de obrigações decorrentes de normas 
imperativas de Direito Internacional geral”173. De acordo com o 
artigo 40(2) do aludido Projeto, considerar-se-ão graves aquelas 
violações que “envolvam descumprimento flagrante ou sistemáti- 
co da obrigação [de jus cogens] pelo Estado responsável”174. Apesar 
da aparente necessidade de um certo nível de gravidade da viola- 
ção, o simples desrespeito a uma norma de ordem pública interna- 
cional será suficiente para a configuração do ilícito175. 
Em se verificando que uma norma de direito imperativo foi 
profligada, uma série de obrigações — comissivas e omissivas — 
emergirão, impondo-se à comunidade internacional vis-à-vis o 
Estado delinquente. Citem-se, aqui, a obrigação de não-reconhe- 
cimento do ato que deu causa à violação176, a obrigação de não- 
 
 
 
 
 
 
172 Ibidem, artigo 43. 
173 No original, “serious breaches of obligations under peremptory norms of general 
international law”. 
174 PAREAII, artigo 40(2). No original, “a breach of such an obligation is serious if it involves 
a gross or systematic failure by the responsible State to fulfil the obligation”. Uma versão 
traduzida do PAREAII foi disponibilizada pelo Professor Aziz Saliba, no seguintesítio: <http://iusgentium.ufsc.br/wp-content/uploads/2015/09/Projeto-da-CDI-sobre- 
Responsabilidade-Internacional-dos-Estados.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017. 
175 CRAWFORD, Op. Cit., p. 381. 
176 A observância dessa obrigação faz mais sentido nos casos de violações ao direito 
à autodeterminação dos povos ou à proibição da agressão. Cf., ibidem, pp. 381– 
385. Sobre a cogência do direito à autodeterminação dos povos, recomenda-se: 
SUMMERS, James. Peoples and International law. 2. ed. Leiden: Martinus Nijhoff 
Publishers, 2014, pp. 78–88. 
53 
http://iusgentium.ufsc.br/wp-content/uploads/2015/09/Projeto-da-CDI-sobre-
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
-assistência na manutenção daquele ato177 ou ainda a obrigação de 
cooperação para pôr fim à grave violação178. 
Note-se, outrossim, que as obrigações ora mencionadas são im- 
putadas à comunidade internacional como um todo, porquanto 
uma violação de uma norma de jus cogens fere a ordem pública 
internacional, vergastando os valores e interesses mais fundamen- 
tais da societas gentium. 
Para além de sua dimensão material, as normas de jus cogens 
irradiam, no plano processual, obrigações erga omnes, as quais 
se manifestam tanto horizontalmente — vis-à-vis a todos os 
integrantes da comunidade internacional — quanto vertical- 
mente, vinculando todos os órgãos e agentes do Estado, dos 
poderes públicos e mesmo particulares em suas relações inte- 
rindividuais (Drittwirkung)179. Desse modo, as normas de jus 
cogens imputam aos Estados obrigações tanto no plano interna- 
cional quanto no doméstico, garantindo a obediência integral à 
autoridade do direito imperativo. 
Assim, a emergência de uma norma peremptória não apenas 
invalidará tratados já existentes, tampouco se limitará à responsa- 
bilização de um Estado por um ato internacionalmente ilícito, mas 
constituirá um dever de adequação por parte dos Estados, os quais 
deverão adaptar-se à norma superveniente nas esferas judiciária, 
administrativa e legislativa. 
 
 
 
 
 
 
177 Não se limita à assistência no cometimento do ato, mas também no dever de não 
assistir na manutenção da situação internacionalmente ilícita. Cf., ibidem, p. 385. 
178 Ibidem, p. 386. 
179 CANÇADO TRINDADE, Op. Cit., 2010, p. 319. 
 
54 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
1.1 Do conteúdo material das normas de jus cogens 
A descrição de jus cogens prevista na CVDT e nos trabalhos 
da CDI não é satisfatória, porquanto se limita a discorrer sobre 
os efeitos jurídicos do direito imperativo sem, contudo, aquilatar 
sua natureza. Como bem observa o jurista uruguaio Jimenez de 
Aréchaga, certas normas são cogentes não por não permitirem 
derrogação, mas não permitem derrogação por serem cogentes180. 
À época dos travaux préparatoires da CVDT, a Comissão de 
Direito Internacional deu exemplos do que, em sua visão, consti- 
tuiria uma violação de uma norma peremptória: um tratado que 
contemplasse o uso ilegal da força nas relações internacionais 
(contrariando, pois, a Carta das Nações Unidas) ou um tratado 
que previsse outros atos criminosos segundo o Direito Internacio- 
nal (escravidão, pirataria ou genocídio)181. Não obstante, coube às 
instâncias internacionais182 o papel de definir o conteúdo material 
das normas cogentes. 
Nessa esteira, as cortes internacionais de direitos humanos e os 
tribunais penais internacionais ad hoc vêm fazendo uso dessa ca- 
tegoria normativa para consolidar direitos essenciais ao indivíduo, 
proscrevendo uma série de práticas que profligavam a dignidade 
humana, e.g., escravidão, trabalhos forçados, genocídio, apartheid, 
desaparecimento forçado, tortura ou outros tratamentos ou penas 
cruéis, desumanos ou degradantes. Esse fenômeno tem contribuído 
para a gradual expansão do conteúdo material das normas de jus 
cogens183, afetando diretamente as obrigações de non-refoulement. 
 
180 ARÉCHAGA, 1978, p. 64 apud CASSESE, Antonio. International law. 2. ed. 
Oxford: Oxford University Press, 2005. p. 201. 
181 SINCLAIR, 1973, pp. 66–69 apud CANÇADO TRINDADE, Op. Cit, 2010, p. 294. 
182 A priori, à Corte Internacional de Justiça. 
183 CANÇADO TRINDADE, Op. Cit, 2010, p. 299. 
 
55 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Ora, ao ser proibida por uma norma peremptória, determinada 
prática passa a ser abolida de forma absoluta, não comportando 
exceções. A fortiori, um Estado não poderá enviar um indivíduo a 
território no qual possa ser submetido a circunstâncias proibidas 
de forma absoluta, sob pena de violar uma norma de jus cogens184. 
Conclui-se, assim, que os limites à saída compulsória da pessoa 
migrante serão alargados pari passu com a emergência de novas 
proibições de jus cogens, tal como ilustrado no tópico a seguir. 
 
2 Obrigações de non-refoulement e o direito 
à integridade física, psíquica e moral na 
jurisprudência dos órgãos universais e regionais 
de supervisão de direitos humanos 
Sem dúvidas, o amplo reconhecimento da natureza peremp- 
tória da proibição da tortura e de outros tratamentos ou penas 
cruéis, desumanos ou degradantes contribuiu decisivamente 
para a expansão das obrigações de non-refoulement. Não são 
poucos os diplomas que proscrevem essas práticas em caráter 
absoluto, nem poucas são as decisões judiciais que lhes reco- 
nhecem a natureza peremptória. 
Em âmbito global, a Convenção contra a Tortura proíbe, em 
seu artigo 3(1), que o Estado expulse, retorne ou extradite uma 
pessoa para outro território em que haja substanciais evidências 
 
 
 
 
184 Cf. CrtIDH. Parecer Consultivo OC-21/14 de 19 de Agosto de 2014 sobre Direitos 
e Garantias da Criança no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção 
Internacional solicitado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, 19 de agosto de 
2014, par. 225. 
 
56 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
para acreditar que ela corra o risco de ser submetida à tortura185. 
Ademais, a própria Convenção contra a Tortura apregoa o ca- 
ráter absoluto dessa interdição, ao estabelecer que o Estado não 
poderá se escusar do cumprimento dessa obrigação mediante 
a alegação de circunstâncias excepcionais, tais como “ameaça 
ou estado de guerra, instabilidade política interna, ou mesmo 
emergências públicas”186. 
Percebe-se que o escopo ratione personae das obrigações de 
non-refoulement derivadas da proibição da tortura é especial- 
mente amplo. Destarte, o artigo 3 é aplicável a todas as pessoas, 
independentemente de sua conduta passada, abarcando-se, in- 
clusive, aquelas excluídas da proteção sob a Convenção de 1951. 
Essa matéria foi aquilatada no cas célèbre Tapia Paez v. Suécia, 
de 1997, perante o Comitê das Nações Unidas contra a Tortura. 
Em síntese, o Sr. Gorki Ernesto Tapia Paez, cidadão peruano e 
militante do grupo Sendero luminoso, não teve seu status de re- 
fugiado reconhecido pelas autoridades suecas, uma vez que havia 
cometido crimes em seu país natal, sendo, portanto, excluído da 
definição de refugiado, por força do artigo 1(F) da Convenção de 
1951. O Comitê entendeu que, mesmo tendo praticado atos cri- 
minosos no passado, o Sr. Tapia Paez ainda seria protegido pelo 
artigo 3 da Convenção contra a Tortura, não podendo, assim, ser 
enviado ao Peru, onde havia evidências robustas de que poderia 
ser submetido à tortura187. 
 
 
185 O dispositivo assim prescreve: “[n]enhum Estado Parte procederá à expulsão, 
devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado quando houver razões 
substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida a tortura.” 
186 Convenção contra a Tortura, artigo 2(2). 
187 Cf. GORLICK, Brian. The Convention and the Committee Against Torture: A 
Complementary Protection Regime for Refugees. International Journal of Refugee 
law, Oxford, v. 11, n. 3, p. 488, 1999. 
57 
 
 
Rodolfo Ribeiro CoutinhoMarques 
 
 
 
Apesar da aparente abrangência da proteção contra o refou- 
lement sob a Convenção contra a Tortura, vale destacar que seu 
escopo material está circunscrito ao conceito de tortura esposa- 
do em seu primeiro artigo188, o qual não abarca, em princípio, os 
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Ainda, 
requer-se que o risco de tortura parta do Estado189. 
Outrossim, também o PIDCP oferece meios de proteger os in- 
divíduos contra o refoulement. Ao contrário da Convenção contra 
a Tortura, o artigo 7 do Pacto não faz distinções entre tortura e 
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, abolin- 
do-os de igual forma. Entretanto, a vedação ao refoulement não 
é expressa, sendo, nesse caso, inferida como um componente da 
proibição absoluta da tortura e de outros maus tratos190. Chega-se 
a essa conclusão a partir da interpretação conjunta dos artigos 7 
e 2(1)191 do Pacto, os quais desautorizam o envio de uma pessoa 
 
188 O artigo 1 da Convenção contra a Tortura define “tortura” como: “(...) qualquer 
ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos 
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, 
informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha 
cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou 
outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer 
natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário 
público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, 
ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as 
dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou 
que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.” 
189 DUFFY, Aiofe. Expulsion to Face Torture? Non-refoulement in International Law. 
International Journal of Refugee law, Oxford, v. 20, n. 3, p. 381, 2008. 
190 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 209. 
191 O artigo 2(1) do Pacto estipula que “[o]s Estados Partes do presente pacto 
comprometem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em 
seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no 
presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, 
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação 
econômica, nascimento ou qualquer condição.” 
58 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
para territórios em que possa sofrer um dano irreparável192. Ade- 
mais, entre os benefícios de se socorrer da proteção outorgada pelo 
PIDCP, há a possibilidade de peticionar perante o Comitê de 
Direitos Humanos das Nações Unidas, cuja competência material 
é consideravelmente mais abrangente do que aquela do Comitê 
contra a Tortura193. 
No caso Kindler v. Canadá, o Comitê de Direitos Hu- 
manos teve a oportunidade de se pronunciar sobre a extensão das 
obrigações de non-refoulement nos casos de pena capital, abolida 
pelo Segundo Protocolo ao PIDCP. A demanda foi proposta pelo 
Sr. Joseph Kindler, que, em 1983, havia sido sentenciado à morte 
por homicídio e sequestro no estado da Pensilvânia, Estados Uni- 
dos. Ocorre que, em setembro de 1984, o Sr. Kindler evadiu-se, 
vindo a ser preso no Quebec, Canadá, em agosto de 1985. To- 
mando conhecimento da detenção, os Estados Unidos requereram 
a sua extradição. Todavia, o artigo 6 do Tratado de Extradição 
entre EUA e Canadá, de 1976, impõe limites à extradição de um 
indivíduo que possa ser submetido à pena capital194. Após vários 
recursos administrativos e judiciais, a querela chegou à Suprema 
Corte do Canadá, que decidiu, em setembro de 1991, pela extra- 
dição do Sr. Kindler. Em face do cumprimento da decisão, o Sr. 
Kindler apelou para o Comitê de Direitos Humanos, ale- gando 
que o Canadá havia violado, inter alia, o artigo 7 do PIDCP. Apesar 
de não ter identificado qualquer violação ao dispositivo no 
 
192 GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 209. 
193 DUFFY, Op. Cit., p. 381. 
194 O artigo 6 do mencionado Tratado de Extradição assim discorre: “[w]hen the offence 
for which extradition is requested is punishable by death under the laws of the requesting 
State and the laws of the requested State do not permit such punishment for that offence, 
extradition may be refused unless the requesting State provides such assurances as the 
requested State considers sufficient that the death penalty shall not be imposed or, if 
imposed, shall not be executed.” 
59 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
cas d’espèce, o Comitê sugeriu, em um célebre obiter dictum, que, 
se um Estado-parte extraditar uma pessoa para um território em 
que seus direitos sob Pacto possam ser vilipendiados, ele, Estado, 
estará violando o Pacto195. 
Em âmbito regional, o artigo 3 da CEDH proscreve, em igual 
medida, a tortura e as penas ou tratamentos cruéis, desumanos 
ou degradantes196. Assim como o artigo 7 do PIDCP, a proibição 
do refoulement constitui um elemento essencial à proteção frente 
àquelas práticas. 
No conhecido caso Soering v. Reino Unido, de 1989, a Corte 
Europeia de Direitos Humanos (CrtEDH) teve a oportunidade de 
se debruçar sobre a amplitude das obrigações de non-refoulement 
sob o artigo 3 da CEDH. O caso envolvia a extradição do Sr. Jens 
Soering, nacional alemão, para ser julgado, no estado da Virgínia 
(Estados Unidos), pelo assassinato dos pais de sua namorada. Em 
sendo condenado, poderia ele ser submetido à pena capital. O Sr. 
Soering apelou, então, para a CrtEDH, alegando que, se o Reino 
Unido lhe entregasse aos Estados Unidos, estaria violando o artigo 
3 da CEDH, uma vez que ele poderia ser exposto a pena ou tra- 
tamento cruel, desumano ou degradante. A Corte então acolheu 
esse argumento para decidir que extraditar o Sr. Soering para um 
território no qual pudesse ser submetido a tais penas ou tratamen- 
tos colidiria com o próprio espírito do artigo 3197. 
 
 
195 DUFFY, Op. Cit., p. 382. 
196 O dispositivo assim estatui: “[n]inguém pode ser submetido a torturas, nem a penas 
ou tratamentos desumanos ou degradantes.” 
197 Cf. CONSELHO DA EUROPA. European Court of Human Rights. Soering v. The 
United Kingdom. 1/1989/161/217, 7 jul. 1989, par. 88. Disponível em: <http://www. 
refworld.org/cases,ECHR,3ae6b6fec.html>. Acesso em: 13 out. 2017. Essa linha de 
raciocínio foi replicada, inter alii, nos casos Cruz Varas v. Suécia (par. 69), Vilvarajah 
v. Reino Unido (par. 102) e T.I. v. Reino Unido (par. 228). 
 
60 
http://www/
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Em 1996, no caso Chahal v. Reino Unido, também a Corte 
de Estrasburgo teve a oportunidade de reafirmar a natureza pe- 
remptória da proibição da tortura e das penas ou tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes, bem assim a sua relação com 
o non-refoulement. Tratou-se, com efeito, de uma demanda en- 
volvendo uma ordem de deportação de um separatista Sikh198 em 
razão de uma suposta ameaça à segurança nacional. Na ocasião, 
a Corte reforçou a natureza cogente da proibição prevista pelo 
artigo 3 da CEDH, considerando-a igualmente absoluta nos ca- 
sos de expulsão, independentemente de quão perigoso e indese- 
jado pudesse ser o indivíduo199. 
No corpus juris interamericano, o direito à integridade física 
é compreendido de forma alargada200. Aqui falamos de um di- 
reito à integridade pessoal, no qual estão contidos não apenas o 
direito à integridade física, mas também o direito à integridade 
psíquica e moral da pessoa humana201. Nesse sentido, o artigo 
5(1) da CADH prevê que “toda pessoa tem direito a que se 
respeite sua integridade física, psíquica e moral”, não podendo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
198 Desde a partição da Índia, em 1947, vários Sikh vêmlutando pela independência de 
sua região, o Khalistão. 
199 Cf. CONSELHO DA EUROPA. European Court of Human Rights. Chahal v. The 
United Kingdom. 70/1995/576/662, 15 nov. 1996, par. 80. Disponível em: <http:// 
www.refworld.org/cases,ECHR,3ae6b69920.html>. Acesso em: 15 out. 2017. 
200 Cf. MARQUES, Op. Cit., 2017, p. 67. 
201 Ibidem. 
 
61 
http://www.refworld.org/cases%2CECHR%2C3ae6b69920.html
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
ser submetida à tortura202 ou a penas ou tratamentos cruéis, 
desumanos ou degradantes203. 
No âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos 
(CrtIDH), pode-se identificar uma verdadeira jurisprudence cons- 
tante no sentido de identificar a proibição da tortura como uma 
norma de caráter juris cogentis204. O reconhecimento da proibi- 
ção de penas e tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes 
enquanto normas peremptórias dar-se-ia no caso Caesar v. Trini- 
dad e Tobago205. O contencioso tinha por objeto um ato norma- 
tivo trinitário que submetia a castigo corporal homens maiores 
 
202 A definição de tortura adotada pela Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos e pela Corte de São José é aquela prevista no artigo 2 da Convenção 
Interamericana contra a Tortura, in verbis: “(...) todo ato pelo qual são infligidos 
intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins 
de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como 
medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á também 
como tortura a aplicação sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a 
personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora 
não causem dor física ou angústia psíquica.” 
203 CADH, artigo 5(2). 
204 CrtIDH. De la Cruz v. Peru, Merits, Reparations and Costs, Series C, n. 115, 
Judgment of 18 Nov. 2004, par. 125. CrtIDH. lori Berenson Mejia v. Peru, Merits, 
Reparations and Costs, Series C, n. 119, Judgment of 25 nov. 2004, par. 99. CrtIDH. 
Fermin Ramirez v. Guatemala, Merits, Reparations and Costs, Series C, n. 126, 
Judgment of 20 jun. 2005, par. 117. CrtIDH. Garcia Asto and Ramirez Rojas v. Peru, 
Preliminary Objection, Merits, Reparations and Costs, Series C, n. 137, Judgment 
of 25 nov. 2005, par. 22. CrtIDH. Baldeon Garcia v. Peru, Merits, Reparations, and 
Costs, Series C, n. 147, Judgment of 6 apr. 2006, par. 117. CrtIDH. Penal Miguel 
Castro Castro v. Peru, Merits, Reparations and Costs, Series C, n. 160, Judgment of 
25 nov. 2006, par. 271. CrtIDH. Masacre de la Rochela v. Colombia, Interpretation of 
the Judgment on the Merits, Reparations and Costs, Series C, n. 163, Judgment of 
28 jan. 2008, par. 132. CrtIDH. Buenos-Alves v. Argentina, Merits, Reparations, and 
Costs, Series C, n. 164, Judgment of 11 may 2007, par. 76. 
205 MAIA, Catherine. Le jus cogens dans la jurisprudence de la cour interamericaine 
des droits de l’homme. In: HENNEBEL, Ludovic; TIGROUDJA, Hélène (Org.). le 
particularisme interaméricain des droits de l’homme: en l’honneur du 40e anniversaire de 
la Convention américaine des droits de l’homme. Paris: Editions Pedone, 2009. p. 286. 
62 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
de 16 anos que fossem condenados por determinados crimes. O 
autor da demanda, Sr. Winston Caesar, foi submetido a tal pena 
após ter sido condenado por tentativa de estupro. Em um conhe- 
cido obiter dictum, a Corte de São José então decidiu que aquela 
pena aviltante violava o disposto no artigo 5 da CADH, que 
possuía “o caráter de jus cogens”206. Desde então, a afirmação do 
caráter cogente da proibição da tortura e de outros tratamentos e 
penas cruéis, desumanos ou degradantes veio sendo cristalizada 
na jurisprudência da CrtIDH207. 
Pelo fato de ser uma proibição peremptória, da qual nenhuma 
derrogação é permitida, podemos inferir que o envio de um in- 
divíduo para território no qual possa ser submetido à tortura ou 
a outras penas e tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes 
é igualmente proibido no direito interamericano. Esse é o enten- 
dimento da CrtIDH. Quando da análise do Parecer Consultivo 
nº 21, o qual tinha por tema central os Direitos e Garantias da 
Criança no Contexto da Migração e/ou em Necessidade de Proteção 
Internacional, a Corte de São José reconheceu que há uma rela- 
ção intrínseca entre as obrigações de respeitar, proteger e reali- 
zar os direitos humanos, insculpidas no artigo 1(1) da CADH208, 
 
 
206 CrtIDH. Caesar v. Trinidad y Tobago, Fondo, Reparaciones y Costas, Séries C, n. 
123, Sentencia de 11 de mar. de 2005, par. 100. 
207 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Une ere d’avancees jurisprudentielles 
et institutionelles: souvenirs de la Cour interamericaine des droits de l’homme. 
In: HENNEBEL, Ludovic; TIGROUDJA, Hélène (Org.). le particularisme 
interaméricain des droits de l’homme: en l’honneur du 40e anniversaire de la 
Convention américaine des droits de l’homme. Paris: Editions Pedone, 2009. p. 39. 
208 O artigo 1(1) da CADH assim discorre: “[o]s Estados Partes nesta Convenção 
comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir 
seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem 
discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões 
políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição 
econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.” 
63 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
e os direitos específicos protegidos pela Convenção, impondo-se, 
assim, “deveres concretos que devem ser determinados caso a 
caso e segundo o direito ou liberdade em questão”209. Segundo a 
Corte, um dos deveres associados à proibição da tortura é o de 
non-refoulement, o qual: 
(...) busca, de maneira primordial, assegurar a efetivida- 
de da proibição da tortura em todas as circunstâncias e a 
respeito de todas as pessoas, sem discriminação alguma. 
Sendo uma obrigação derivada da proibição de tortura, 
o princípio de não-devolução neste âmbito é absoluto e 
adquire também o caráter de norma imperativa de Direito 
Internacional Consuetudinário, isto é, de jus cogens.210
 
Com efeito, tendo em mente a conexão entre o direito à 
integridade pessoal (artigo 5) e as obrigações de respeitar, pro- 
teger e realizar os direitos humanos (artigo 1), aos Estados Par- 
tes da CADH se impõe um dever de não deportar, devolver, 
rechaçar, extraditar ou remover de outro modo uma pessoa que 
esteja sob sua jurisdição para territórios não seguros, quando 
houver suficientes razões para crer que ela corre o risco de ser 
submetida a tortura211 ou a tratamentos e penas cruéis, desu- 
manos ou degradantes212. 
Entretanto, no contexto interamericano, o conteúdo do non- 
-refoulement é consideravelmente mais amplo — tanto em sua 
 
209 CrtIDH, Parecer Consultivo OC-21/14, 2014, Op. Cit., par. 225. 
210 Ibidem. 
211 Essa é a ratio do já mencionado artigo 13(4) da Convenção Interamericana contra a 
Tortura, o qual veda a extradição ou devolução da pessoa requerida “quando houver 
suspeita fundada de que corre perigo sua vida, de que será submetida à tortura, 
tratamento cruel, desumano ou degradante, ou de que será julgada por tribunais de 
exceção ou ad hoc, no estado requerente.” 
212 CrtIDH, Parecer Consultivo OC-21/14, 2014, Op. Cit., par. 226. 
 
64 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
dimensão ratione personae quanto em sua dimensão ratione mate- 
riae—, não se limitando à vedação da tortura e de outros trata- 
mentos e penas cruéis desumanos ou degradantes. A Corte tem 
considerado que o non-refoulement é uma das obrigações associa- 
das ao direito de buscar e receber asilo (a ser estudado mais à fren- 
te), consagrado primeiro no artigo XXVII da Declaração Ameri- 
cana de Direitos Humanos (DADH)213e replicado no artigo 22(7) 
da CADH214. Nesse sentido, ao analisar o Parecer Consultivo nº 
21, a CrtIDH percebeu que: 
No âmbito do Sistema Interamericano, este princípio 
[non-refoulement] se vê reforçado pelo reconhecimento do 
direito de toda pessoa de buscar e receber asilo, original- 
mente no artigo XXVII da Declaração Americana e poste- 
riormente no artigo 22(7) da Convenção Americana. Por 
conseguinte, como corolário dos deveres fundamentais de 
respeito e garantia do artigo 1(1) da Convenção, contraí- 
dos em relação a cada um dos direitos protegidos e, neste 
caso, com respeito ao direito de cada pessoa de solicitar e 
receber asilo, decorre o princípio de não-devolução, em 
virtude do qual os Estados se encontram obrigados a não 
devolver ou expulsar uma pessoa — solicitante de refúgio 
ou refugiada — para um Estado onde exista a possibili- 
dade de que sua vida ou liberdade esteja ameaçada como 
consequência de perseguição por determinados motivos 
ou por violência generalizada, agressão estrangeira, con- 
flitos internos, violação massiva dos direitos humanos ou 
outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente 
 
213 Antecedendo a DUDH, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do 
Homem, também de 1948, prevê em seu artigo XXVII que: “[t]oda pessoa tem o 
direito de procurar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de perseguição 
que não seja motivada por delitos de direito comum, e de acordo com a legislação de 
cada país e com as convenções internacionais.” 
214 O artigo 22(7) da CADH replica ipsis litteris o disposto no artigo XXVII da DADH. 
 
65 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
a ordem pública, assim como para um terceiro Estado a 
partir de onde possa ulteriormente ser devolvido ao Esta- 
do onde sofre este risco, situação esta que convencionou- 
-se chamar “refoulement indireto.”215
 
 
A CrtIDH chegou a essa conclusão com base em uma leitura 
integrada dos artigos 1(1), 22(7) e 22(8) da CADH e do item III(3) 
da Declaração de Cartagena. 
A expansão da dimensão ratione personae do non-refoulement 
no corpus juris interamericano decorre de uma interpretação alar- 
gada do artigo 22(8) da CADH, consagrando o direito de qualquer 
pessoa estrangeira, e não apenas de pessoas asiladas e refugiadas, 
à “não-devolução indevida quando sua vida, integridade e/ou li- 
berdade estejam em risco de violação, sem importar seu estatuto 
legal ou condição migratória no país em que se encontre”216. É 
interessante notar que, por força do artigo 1(1) do Pacto de São 
José, os titulares desse direito são todas as pessoas submetidas à 
jurisdição do Estado, não havendo qualquer distinção quanto ao 
status migratório do indivíduo. 
Por outro lado, a ampliação da dimensão ratione materiae da 
proibição do refoulement no sistema interamericano tem o DNA 
da Declaração de Cartagena (1984)217. Mesmo desprovida de força 
vinculante, a Declaração influenciou a legislação de diversos esta- 
dos americanos — entre eles o Brasil218 —, alargando o conceito 
 
215 CrtIDH, Parecer Consultivo OC-21/14, 2014, Op. Cit., par. 212. 
216 CrtIDH, Pacheco Tineo Family v. Bolivia, 2013, Op. Cit., par. 135. 
217 Cf., sobre a Declaração de Cartagena, REED-HURTADO, Michael. The Cartagena 
Declaration on Refugees and the Protection of People Fleeing Armed Conflict and 
Other Situations of Violence in Latin America. legal and Protection Policy Research 
Series, Geneva, PPLA/2013/03, pp. 1–33, 2013. 
218 O artigo 1º, III, da Lei 9.474/97 incorporou a definição expandida de refugiado 
sugerida pela Declaração de Cartagena. Assim, no Brasil, também será considerada 
66 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
de refugiado para agasalhar aquelas pessoas que tenham deixado 
seus países de origem ou residência habitual “porque sua vida, se- 
gurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência gene- 
ralizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação 
maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham 
perturbado gravemente a ordem pública”219. 
Ademais, também a dimensão ratione loci da não-devolução é 
mais abrangente no sistema interamericano, uma vez que o non- 
-refoulement deverá ser garantido a todas as pessoas sob quem o 
Estado exerça autoridade ou que estejam sob seu controle efetivo, 
independentemente de estarem em seu território terrestre, fluvial, 
marítimo ou aéreo220. 
 
II. Obrigações de non-refoulement e o 
direito ao asilo 
“Asilo” deriva do grego “asylon”, que significava “aquilo que 
não pode ser apreendido”. Remetia-se, tradicionalmente, a um 
lugar ou território inviolável, onde a pessoa perseguida encon- 
traria proteção221. O termo foi traduzido para o Direito como 
uma prerrogativa do Estado, passando a ser uma manifestação 
de sua soberania territorial. De fato, a historia juris do asilo de- 
monstra que o instituto foi concebido como uma garantia dos 
Estados de conceder proteção, em seu território ou em outro lu- 
 
 
 
refugiada a pessoa que, “devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, 
é obrigada a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.” 
219 Declaração de Cartagena, item III(3). 
220 CrtIDH, Parecer Consultivo OC-21/14, 2014, Op. Cit., par. 219. 
221 BOED, Op. Cit., p. 2. 
 
67 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
gar sob controle de seus órgãos, a uma pessoa que lhe solicite222; 
em outras palavras, um “direito de asilar”. Portanto, os Estados 
têm, a priori, o direito de garantir ou não asilo às pessoas que se 
encontram abraçadas por suas fronteiras223. Cumpre ressaltar, 
ainda, que, para o Direito Internacional224, “asilo”, em seu sen- 
tido lato, não se confunde com “refúgio”, uma vez que aquele é 
gênero, enquanto este, espécie225. Na América Latina, o asilo, 
que foi amplamente codificado226, possui uma conotação polí- 
tica (entende-se, pois, como ‘asilo político’), voltando-se, por 
isso, à proteção de perseguidos políticos, quer seja no território 
do Estado (asilo territorial), quer seja em missões diplomáticas 
(asilo diplomático) ou mesmo em embarcações militares (asilo 
militar). O refúgio, por sua vez, é um instituto de alcance glo- 
bal, dedicado à proteção de pessoas perseguidas, seja por razões 
 
 
222 O artigo primeiro da Resolução “l’asile en droit international”, do Institut de Droit 
International, estabelece que: “(...) le terme ‘asile’ désigne la protection qu’un Etat 
accorde sur son territoire ou dans un autre endroit relevant de certains de ses organes à 
un individu qui est venu la rechercher.” 
223 BOED, Op. Cit., p. 3. 
224 No Brasil, o termo “asilo” aparece como sinônimo de “asilo político”, espécie com 
regramento próprio no ordenamento jurídico brasileiro. 
225 Cf., inter alii, GIL-BAZO, Maria Teresa. Asylum as a General Principle of 
International Law. International Journal of Refugee law, Oxford, v. 27, n. 1, p. 4, 
2015; RAMOS, André de Carvalho. Asilo e Refúgio: semelhanças, diferenças 
e perspectivas. In: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Gilberto; 
ALMEIDA, Guilherme Assis de (Org.). 60 anos de ACNUR: Perspectivas de futuro. 
São Paulo: ACNUR/CLA Editora, 2011. pp. 15–44. 
226 O primeiro tratado a estipular o asilo foi o Tratado de Montevidéu sobre Direito 
Penal Internacional, de 1889, (arts. 15, 16 e 17). O instituto então passou a ser 
objeto de uma miríade de outros instrumentos convencionais na região, a exemplo 
da Convenção de Havana sobre Asilo, de 1928, da Convenção de Montevidéu sobre 
Asilo Político, de 1933, da Convenção de Montevidéu sobre Refúgio Político, de 
1939, da Convenção sobre Asilo Diplomático, de 1954, e da Convenção sobre Asilo 
Territorial, de 1954. 
68 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
atinentes à nacionalidade, como religiosas, étnicas e sociais, 
seja porrazões políticas. 
Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 
de 1948, o asilo então se traveste como uma norma de direitos 
humanos227. O artigo 13(2) da Declaração consagra o direito de 
sair de um país em busca de asilo, o qual se constitui como uma 
garantia individual oponível ao Estado de origem ou de residên- 
cia habitual228. Esse mesmo direito vem previsto no artigo 22(2)229 
da CADH, no artigo 12(2) da Carta de Banjul230 e no já referido 
artigo 12(2) do PIDCP. Assim, ao indivíduo é garantido o “direito 
de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar”231. 
A ratio essendi desse dispositivo é de que os Estados não podem se 
assenhorar de seus habitantes. O direito em comento, inclusive, já 
 
 
 
 
 
 
227 A DUDH foi o primeiro instrumento internacional de alcance universal a 
reconhecer o direito de buscar e receber asilo enquanto um direito humano. 
Entretanto, como já mencionado, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres 
do Homem, também de 1948, antecedeu a DUDH ao prever o direito de buscar e 
receber asilo em seu artigo XXVII. 
228 BOED, Op. Cit., p. 6. 
229 O artigo 22(2) da CADH apregoa que: “[t]oda pessoa tem o direito de sair livremente 
de qualquer país, inclusive do seu próprio.” 
230 Segundo o artigo 12(2) da Carta de Banjul, “[t]oda pessoa tem o direito de sair de 
qualquer país, incluindo o seu, e de regressar ao seu país. Este direito só pode ser 
objeto de restrições previstas na lei, necessárias à proteção da segurança nacional, 
da ordem, da saúde ou da moralidade públicas.” 
231 O artigo 13 da DUDH estatui que: “(1) [t] odo ser humano tem direito à liberdade de 
locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. (2) Todo ser humano 
tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.” 
69 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
havia sido afirmado por Vitória232, Grócio233, Pufendorf234 e Vat- 
tel235, tal a sua essencialidade. 
A outra face do direito ao asilo é a garantia de que dele se pos- 
sa beneficiar. Nessa esteira, o artigo 14(1) da DUDH dispõe que 
“toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e 
de gozar asilo em outros países”236. Esse direito foi incorporado por 
uma série de tratados de direitos humanos, a exemplo da Carta de 
Banjul237 e da CADH238. Não obstante, tais tratados não estabe- 
leceram uma correlação entre o direito ao asilo e uma obrigação 
de admissão239, limitando-se a declarar um direito de buscar asilo, 
mas não de tê-lo garantido. Outrossim, não há, no Direito das 
Gentes, norma garantindo um direito individual subjetivo ao asilo. 
 
 
232 Para Vitória, a liberdade de locomoção deriva do dever de hospitalidade, prima 
principia do Direito das Gentes. In: CHETAIL, Op. Cit., 2016, a, p. 904. 
233 Em Mare liberum, Grócio reafirma que toda a nação é livre para viajar para 
qualquer outra nação como uma regra incontestável do Direito das Gentes, sendo 
esta regra “autoevidente e imutável”. In: ibidem, p. 907. 
234 Em sua obra De Iure Naturae et Gentium, publicada em 1672, Samuel Pufendorf 
defende que a todos é reservado o direito de emigrar, salvo algumas poucas exceções. 
In: ibidem, p. 910. 
235 Segundo Vattel, o estrangeiro é livre todo o tempo para partir, não tendo o Estado 
“o direito de retê-lo, a não ser que seja temporariamente e por motivos muito 
particulares, como por exemplo, em época de guerra, o temor de que, conhecedor da 
situação do país e de suas fortalezas, transmita informações a respeito ao inimigo.” 
In: VATTEL, Emer de. O Direito das Gentes. Brasília: FUNAG/IPRI, 2004. p. 249. 
236 O artigo 14 da DUDH assim estipula: “(1) [t]odo ser humano, vítima de perseguição, 
tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. (2) Esse direito não pode 
ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito 
comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.” 
237 A Carta de Banjul, em seu artigo 12(3), estabelece que: “[t]oda pessoa tem o direito, 
em caso de perseguição, de buscar e de obter asilo em território estrangeiro, em 
conformidade com a lei de cada país e as convenções internacionais.” 
238 CADH, artigos 22(7) e 22(8). 
239 CHETAIL, Op. Cit., 2014, p. 33. 
 
70 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Com efeito, a afirmação das obrigações de non-refoulement no 
corpus juris do Direito Internacional dos Direitos Humanos con- 
tribuiu para a contenção da discricionariedade dos Estados em 
matéria de asilo.240 Por ser uma obrigação negativa, que impõe 
limites à saída compulsória da pessoa migrante, o dever de não- 
-devolução implicará, em alguns casos, uma “obrigação de asilar”, 
conquanto não haja outras formas de prevenir a exposição da pes- 
soa migrante ao risco de perseguição ou ao perigo da tortura ou 
de outras penas e tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. 
Assim, ainda que não possuam um direito individual subjetivo ao 
asilo, as pessoas migrantes são titulares do direito de não serem 
devolvidas (right not to be refouled)241 ou mesmo de um direito ao 
refúgio242, de modo que, na hipótese de inexistir ou de não ser 
aplicável outra opção para se evitar o refoulement, o Estado es- 
tará obrigado a asilar, mesmo que temporariamente. Trata-se da 
mesma lógica aplicável à obrigação de facto de se admitir pessoas 
refugiadas, estudada no capítulo anterior. 
 
 
 
 
240 No caso Pacheco Tineo Family v. Bolívia, a CrtIDH afirmou que o princípio do non- 
refoulement fortifica o direito de buscar e receber asilo. In verbis: “(...) under the inter- 
American system, the principle of non-refoulement is broader in meaning and scope 
and, owing to the complementarity that exists in the application of international refugee 
law and international human rights law, the prohibition of refoulement constitutes the 
cornerstone of the international protection of refugees or asylees and of those requesting 
asylum. This principle is also a customary norm of international law, and is enhanced in 
the inter-American system by the recognition of the right to seek and to receive asylum .” 
In: CrtIDH, Pacheco Tineo Family v. Bolivia, 2013, Op. Cit., par. 151. 
241 Cf. MARQUES, Op. Cit., 2017, p. 69. 
242 De acordo com Brusil Miranda Metou, esse direito consubstancia-se como uma 
garantia de buscar abrigo em outros países em razão de um perigo iminente e grave 
que, se não for evitado a tempo, poderá gerar um dano irreparável à integridade 
física das pessoas em questão. In: METOU, Op. Cit., p. 564. 
 
71 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
III. Non-refoulement como norma costumeira 
1 Do costume internacional 
O costume internacional — ou direito internacional consue- 
tudinário — é a prova de uma prática geral aceita como sendo o 
direito. Essa é a definição insculpida no artigo 38, b, do Estatuto 
da Corte Internacional de Justiça243. Constitui-se, pois, como uma 
das principais fontes formais do Direito das Gentes. Dessa defini- 
ção podemos extrair dois elementos constitutivos do costume244: 
um objetivo, que cuida da prática reiterada e consistente ao longo 
do tempo (usus ou diuturnitas); e um subjetivo (ou psíquico), qual 
seja a convicção dos Estados de que aquela prática se reveste de 
obrigatoriedade, por decorrer de um comando jurídico; trata-se da 
chamada opinio juris sive necessitatis245. 
O elemento objetivo do costume repousa em uma prática que 
reflete um reconhecimento geral da norma e cuja repetição seja 
 
243 O artigo 38 do Estatuto da CIJ assim dispõe: “[a] Corte, cuja função é decidir de acordo 
com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: 
(a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras 
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; (b) o costume internacional, 
como prova deuma prática geral aceita como sendo o direito; (c) os princípios gerais 
de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; (d) sob ressalva da disposição do 
Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das 
diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. (...).” 
244 Como aponta James Crawford, a fonte do costume pode incluir: correspondências 
diplomáticas, declarações políticas, comunicados de imprensa, pareceres de 
consultores jurídicos do governo, manuais oficiais sobre determinados assuntos 
jurídicos, legislação doméstica, decisões judiciais nacionais e internacionais, tratados 
internacionais, a prática de órgãos internacionais, entre outras manifestações. In: 
CRAWFORD, James. Brownlie’s Principles of Public International law. 8. ed. Oxford: 
Oxford University Press, 2012. p. 24 
245 Apesar de ser amplamente aceita nos dias atuais, a Teoria dos Dois Elementos sofreu 
duras críticas por parte de Kelsen e Guggenheim, para quem a opinio juris seria de 
difícil aferição. 
72 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
constante e substancialmente uniforme246, não sendo necessária 
uma duração particular. 
A uniformidade nada mais é do que a concordância entre 
atos sucessivos do Estado — os quais deverão ser similares em 
sua essência247. O requisito da uniformidade foi analisado pela 
CIJ no célebre caso Direito de Asilo, em que a Corte não reco- 
nheceu os atos invocados pela Colômbia como constitutivos 
de uma norma consuetudinária em razão das inconsistências, 
discrepâncias e contradições248. 
A formação da regra costumeira também prescinde de um 
consensus gentium, eis que um de seus requisitos de existência é 
o da generalidade, ou seja, a repetição da prática no espaço. Esse 
consenso, entretanto, não precisa ser unânime; basta ser geral249. 
Nesse sentido, a Corte Mundial, ao analisar os casos sobre a Pla- 
taforma Continental do Mar do Norte, entendeu que uma parti- 
cipação geral e representativa é suficiente para a formulação de 
uma norma costumeira, desde que dela participem os Estados par- 
ticularmente interessados250. Ademais, não há qualquer óbice à 
cristalização de uma norma costumeira regional ou mesmo local, 
 
 
 
 
 
246 CRAWFORD, Op. Cit., 2012, p. 24. 
247 DAILLIER, Patrick; FORTEAU, Mathias; PELLET, Alain. Droit international 
public. 8. ed. Paris: L.G.D.J., 2009. p. 358. 
248 Cf. NAÇÕES UNIDAS. International Court of Justice. Asylum Case (Colombia 
v. Peru). Merits. ICJ Reports, 1950, p. 277. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/ 
files/case-related/7/007-19501120-JUD-01-00-EN.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2018. 
249 DAILLER, FORTEAU e PELLET, Op. Cit., p. 360. 
250 Cf. NAÇÕES UNIDAS. International Court of Justice. North Sea Continental Shelf 
Cases. Merits. ICJ Reports, 1969, par. 73. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/ 
files/case-related/52/052-19690220-JUD-01-00-EN.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2018. 
73 
http://www.icj-cij.org/
http://www.icj-cij.org/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
desde que a soma das vontades individuais dos Estados em questão 
confirme a existência do costume251. 
Um outro ponto de relevo quando do estudo do costume in- 
ternacional diz respeito à manifestação do consenso, o qual não 
necessariamente se dará por via expressa, podendo se materializar 
como uma abstenção. Cumpre ressaltar, todavia, que o silêncio 
não necessariamente se traduzirá em uma aceitação tácita252. A 
interpretação do silêncio deverá levar em conta as circunstâncias 
do caso concreto, incluindo-se a “consciência de um dever de se 
abster”253. Também os Estados podem se manifestar contra a for- 
mação de uma norma consuetudinária, desde que o façam — com 
persistência — durante o seu processo de gestação, e, portanto, 
antes que ela tenha ganhado vigência; é o que a doutrina chama 
de “objetor persistente”. 
Eis aqui a importância do elemento subjetivo — o sentimento 
de estar cumprindo uma determinação jurídica — para a cristaliza- 
ção da regra costumeira. É esse elemento que distingue o costume 
 
 
 
251 No caso Direito de Passagem sobre o Território Indiano, a CIJ teve a ocasião de estatuir 
que “[o]n voit difficilement pourquoi le nombre des États entre lesquels une coutume 
locale peut se constituer sur la base d’une pratique prolongée devrait nécessairement 
être supérieur à deux. la Cour ne voit pas de raison pour qu’une pratique prolongée et 
continue entre deux Etats, pratique acceptée par eux comme régissant leurs rapports, 
ne soit pas à la base de droits et d’obligations réciproques entre ces deux États.” In: 
NAÇÕES UNIDAS. Cour internacionale de justice. Droit de passage sur territoire 
idien. Fond. CIJ. Recueil, 1960, p. 37. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/files/ 
case-related/32/032-19600412-JUD-01-00-FR.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2018. 
252 CRAWFORD, Op. Cit., 2012, p. 25. 
253 Cf. LIGA DAS NAÇÕES. Permanent Court of International Justice. The Case 
of the S.S. “lotus”. Merits. Publications of the Permanent Court of International 
Justice, Series A, n. 10, 1927, p. 28. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/files/ 
permanent-court-of-international-justice/serie_A/A_10/30_Lotus_Arret.pdf>. 
Acesso em: 3 abr. 2018. 
74 
http://www.icj-cij.org/files/
http://www.icj-cij.org/files/
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
internacional da cortesia internacional (comitas gentium)254. Assim, 
apenas a frequência e a uniformidade dos atos não são suficientes 
para a formação do costume, que também se apoia na convicção 
dos Estados de que estão obedecendo um comando jurídico; não 
obstante, em alguns casos, a existência de uma prática geral que se 
repita no tempo poderá criar a presunção de uma opinio juris255. 
Sobre a emergência da opinio juris, perfeito é o raciocínio espo- 
sado por Josef L. Kunz, para quem o nascimento de uma norma 
costumeira tem por gênese um equívoco jurídico, já que, antes 
mesmo de sua cristalização, os Estados, movidos por uma prise de 
conscience juridique, se comportam como se ela já existisse256. 
 
2 Da cristalização do non-refoulement 
Parte da doutrina257 e o ACNUR258 advogam a tese de que o 
non-refoulement cristalizou-se como norma costumeira, aplicando- 
 
 
254 A cortesia internacional constitui-se como uma prática observada pelos Estados 
dentro de suas relações, mas que é desprovida de caráter jurídico. É o caso, por 
exemplo, da salva de tiros de canhão com que dois navios militares de nacionalidades 
distintas se saúdam. 
255 CRAWFORD, Op. Cit., 2012, p. 26. 
256 KUNZ, 1953, p. 667 apud REZEK, Op. Cit., p. 120. 
257 Cf., inter alii, ALLAIN, Jane. The Jus Cogens Nature of Non-refoulement. International 
Journal of Refugee law, Oxford, v. 13, n. 4, pp. 538–541, 2001; FARMER, Alice. Non- 
Refoulement and Jus Cogens: Limiting Anti-Terror Measures that Threaten Refugee 
Protection. Georgetown Immigration law Journal, Washington, v. 23, n. 1, pp. 1–38, 
2008; BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., pp. 140–164; CANÇADO 
TRINDADE, Op. Cit., 2006, pp. 335–341; GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. 
Cit., pp. 345–354. James Hathaway e Kay Hailbronner possuem uma percepção mais 
restritiva, considerando que não há evidências suficientes para se afirmar que o non- 
refoulement tenha se cristalizado como norma consuetudinária; são minoria. 
258 Cf. ACNUR. The Principle of Non-Refoulement as a Norm of Customary International 
law. Response to the Questions Posed to UNHCR by the Federal Constitutional 
 
75 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
-se não apenas aos Estados que aderiram à Convenção de 1951 e/ 
ou ao seu Protocolo de 1967, mas sim à comunidade internacional 
como um todo, alegando que há um verdadeiro consensus gentium 
no sentido de que pessoas migrantes — entre elas, pessoas refu- 
giadas e solicitantes de refúgio —não podem ser devolvidas à per- 
seguição odiosa e nem retornadas a territórios em que possam ser 
submetidas a tortura ou a tratamentos ou penas cruéis, desumanos 
ou degradantes. Essa assunção se baseia no fato de que o non-re- 
foulement foi replicado em diversas convenções e declarações in- 
ternacionais, nas searas regional e universal, bem como sistemati- 
camente reafirmado pelo Comitê Executivo do ACNUR (ExCom) 
— órgão composto por Estados diretamente afetados por fluxos de 
refugiados259 — em suas conclusões. Nestas, confirmou-se que há, 
de fato, uma prática consistente e uniforme que reconhece que o 
refoulement é inaceitável, bem como a convicção de que sua proi- 
bição decorre de um mandamento jurídico. 
É interessante notar que não há qualquer óbice à convivência 
harmônica entre uma norma estipulada em um tratado e outra 
costumeira de igual essência260. A existência de uma norma po- 
sitivada pode, inclusive, influenciar na cristalização de uma regra 
consuetudinária, apesar de o inverso ser o mais comum. A esse 
respeito, a Corte Mundial, por ocasião do julgamento dos casos so- 
bre a Plataforma Continental do Mar do Norte, teve a oportunidade 
de se debruçar sobre a matéria, estatuindo que, para que uma nor- 
ma de direito convencional se cristalize como consuetudinária, se 
 
Court of the Federal Republic of Germany in Cases 2 BvR 1938/93, 2 BvR 1953/93, 
2 BvR 1954/93. 31 jan. 1994. 
259 O Comitê Executivo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, 
ExCom, foi estabelecido pelo ECOSOC, através da Resolução 672 (XXV), de 1958. 
Compõe-se de 94 membros com demonstrado interesse e devoção à causa dos 
refugiados. Entre suas atribuições está o assessoramento do Alto Comissário. 
260 Desde que, obviamente, não colidam. 
 
76 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
faz necessário o preenchimento de três requisitos: a) a regra positi- 
vada deverá ter um caráter fundamentalmente criador de normas 
(fundamentally norm-creating character), apto à formação de uma 
regra geral de direito261; b) a existência de uma participação geral 
e representativa na convenção que contém a referida norma, desde 
que estejam incluídas as nações cujos interesses sejam os mais sen- 
sivelmente afetados por aquela matéria262; c) a prática dos Estados, 
incluindo-se, em especial, aqueles particularmente interessados, 
deverá ser recorrente e virtualmente uniforme, manifestando-se 
de modo a evidenciar a presença de uma convicção jurídica (opinio 
juris sive necessitatis)263. 
Quanto ao primeiro requisito, é importante pontuar, prelimi- 
narmente, que, ao contrário dos preceitos de natureza contratual, 
as normas orientadas à salvaguarda da pessoa humana possuem 
caráter normativo diferenciado, uma vez que estipulam obriga- 
 
261 Assim estatuiu a Corte Mundial: “[i]t would in the first place be necessary that the 
provision concerned should, at all events potentially, be of a fundamentally norm-creating 
character such as could be regarded as forming the basis of a general rule of law .” In: 
NAÇÕES UNIDAS, International Court of Justice, North Sea Continental Shelf 
Cases, 1969, Op. Cit., par. 72. 
262 Sobre o segundo elemento, assim entendeu a CIJ: “[w]ith respect to the other elements 
usually regarded as necessary before a conventional rule can be considered to have 
become a general rule of international law, it might be that, even without the passage of 
any considerable period of time, a very widespread and representative participation in the 
convention might suffice of itself, provided it included that of States whose interests were 
specially affected.” In: ibidem, par. 73. 
263 Também a Corte teve a ocasião de reafirmar a necessidade dos dois elementos 
clássicos para a cristalização de qualquer norma costumeira, i.e., a prática geral 
dos Estados e a opinio juris: “[a]lthough the passage of only a short period of time is not 
necessarily, or of itself, a bar to the formation of a new rule of customary international 
law on the basis of what was originally a purely conventional rule, an indispensable 
requirement would be that within the period in question, short though it might be, State 
practice, including that of States whose interests are specially affected, should have been 
both extensive and virtually uniform in the sense of the provision invoked; — and should 
moreover have occurred in such a way as to show a general recognition that a rule of law 
or legal obligation is involved.” In: ibidem, par. 74. 
 
77 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
ções de essência objetiva voltadas à proteção efetiva dos direitos 
do indivíduo, transcendendo, assim, os interesses individuais dos 
Estados pactuantes264. Prova disso é a inexigibilidade de sinalagma 
para o implemento dessas obrigações, como já mencionado neste 
estudo. Com efeito, é inegável que as expressões convencionais do 
non-refoulement — em especial, aquela insculpida no artigo 33 da 
Convenção de 1951 e aquelas previstas nos já mencionados tra- 
tados de direitos humanos — possuem aptidão para formar uma 
norma geral de Direito Internacional. 
Nesse sentido, diversas conclusões do ExCom têm confirman- 
do essa vocação normativa do non-refoulement265. A Conclusão n.º 
6 (XXVIII), “a”, do Comitê, reitera que o “fundamental princípio 
do non-refoulement encontra expressão em diversos instrumentos 
internacionais adotados tanto a nível regional quanto universal”, 
além de ser amplamente aceito pelos Estados266. Também a Con- 
clusão n.º 17 (XXXI), “b”, adotada pelo ExCom em 1980, reafirma 
a natureza “fundamental do reconhecido princípio geral do non- 
-refoulement”267. De similar modo, a Conclusão n.º 25 (XXXIII), 
“b”, de 1982, reconhece a importância dos princípios fundamen- 
tais que orientam a proteção internacional, em particular o prin- 
 
 
 
 
 
264 CANÇADO TRINDADE, Op. Cit., 2010, p. 430. 
265 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 143. 
266 No original, “[r]appelant que le principe humanitaire fondamental du non-refoulement 
a trouvé une expression dans divers instruments internationaux adoptés au niveau 
mondial ou régional et est, de façon générale, admis par les Etats.” In: ACNUR. Non- 
refoulement. N. 6 (XXVIII). Genève, 12 out. 1977, section “a”. 
267 No original, “[r]eaffirmed the fundamental character of the generally recognized principle 
of non-refoulement”. In: ACNUR. Problems of Extradition Affecting Refugees. N. 17 
(XXXI). Geneva, 16 out. 1980, section “b”. 
 
78 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
cípio do non-refoulement, que “veio progressivamente adquirindo o 
caráter de norma peremptória de Direito Internacional”268. 
Ademais, o caráter normativo da não-devolução foi igual- 
mente enunciado em diversos instrumentos de natureza decla- 
ratória, a exemplo, inter alia, da Declaração das Nações Unidas 
sobre Asilo Territorial269, adotada pela Assembleia Geral, em 
1967; da Declaração de Cartagena de 1984270; da Declaração de 
San Remo sobre o Princípio do Non-Refoulement, adotada em 
2001271; da Declaração e Plano de Ação do México para Fortale- 
cer a Proteção Internacional dos Refugiados na América Latina 
 
 
 
 
 
268 No original, “[r]eaffirmed the importance of the basic principles of international 
protection and in particular the principle of non-refoulement which was progressively 
acquiring the character of a peremptory rule of international law”. In: ACNUR. 
General Conclusion on International Protection. N. 25 (XXXIII). Geneva, 20 out. 
1982, section “b”. 
269 O artigo 3(1) da Declaração estipula: “[n]o person referred to in article 1, paragraph 1, 
shall be subjected to measures such as rejection at the frontier or, if he has already entered 
the territory in which he seeks asylum, expulsion or compulsory return to any State where 
he may be subjectedto persecution.” 
270 A Declaração de Cartagena, em seu Item 3(5), assim dispõe: “[r]eiterar a importância 
e a significação do princípio de non-refoulement (incluindo a proibição da rejeição 
nas fronteiras), como pedra angular da proteção internacional dos refugiados. Este 
princípio imperativo respeitante aos refugiados, deve reconhecer-se e respeitar-se 
no estado atual do direito internacional, como um princípio de jus cogens.” 
271 A Declaração de San Remo foi adotada em 2001 por ocasião do 50º Aniversário da 
Convenção de 1951, sob os auspícios do prestigioso Instituto Internacional de Direito 
Humanitário (IIDH), em San Remo (Itália). In verbis: “[n]on-refoulement is a very 
important legal and humanitarian principle of international law. This principle is normatively 
established both in treaty and in custom, and thus it constitutes an integral part of customary 
international law. It may be regarded as the cornerstone of international refugee law.” In: 
INTERNATIONAL INSTITUTE OF HUMANITARIAN LAW (IIHL). Sanremo 
Declaration on the Principle of Non-Refoulement. San Remo: IIHL, 2001. 
 
79 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
de 2004272; e da Declaração de Kampala de 2009273. Também a 
forma como a proibição da tortura e de outros tratamentos ou 
penas cruéis, desumanos ou degradantes vem sendo interpreta- 
da, de modo a agasalhar o non-refoulement como componente 
essencial e implícito àquela vedação, contribui para reafirmar 
sua natureza normativa274. 
No que diz respeito ao preenchimento do segundo requisito, 
qual seja o da participação geral e representativa dos Estados 
na convenção que abriga a norma em questão, é seguro afir- 
mar, com base no número de países que ratificaram tratados 
que proscrevem a devolução275, que o non-refoulement possui 
 
272 A Declaração e Plano de Ação do México para Fortalecer a Proteção Internacional 
dos Refugiados na América Latina, adotada em 2004 por 20 países latino- 
americanos, estabeleceu mecanismos e medidas com vistas à identificação 
de soluções duradouras e inovadoras para as pessoas refugiadas que vivem na 
região. Na ocasião, reafirmou-se: “(...) o caráter de jus cogens do princípio da não- 
devolução (non-refoulement), incluindo não rechaçar na fronteira, pedra angular do 
direito internacional dos refugiados, consagrado na Convenção sobre o Estatuto 
dos Refugiados de 1951 e seu Protocolo de 1967, e afirmado assim mesmo no 
artigo 22(8) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e o artigo 3 da 
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes, e o compromisso dos países da América Latina com a manutenção de 
fronteiras abertas para garantir a proteção e a segurança daqueles que têm direito à 
proteção internacional.” 
273 A Declaração de Kampala sobre Refugiados, Repatriados e Deslocados Internos 
na África, adotada em 2009, assim dispõe em seu Item 6: “[w]e undertake to deploy 
all necessary measures to ensure full respect for the fundamental principle of non- 
refoulement as recognised in International Customary law as enunciated in Article 33 
of the 1951 UN Geneva Convention relating to the Status of Refugees and in Article 2 of 
the 1969 OAU Convention Governing the Specific Aspects of Refugee Problems in Africa 
and, through appropriate national mechanisms, ensure that asylum seekers and refugees 
are treated humanely, and that their rights are protected.” In: UNIÃO AFRICANA. 
Kampala Declaration on Refugees, Returnees and Internally Displaced Persons in 
Africa, de 2009. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/4af0623d2.html>. 
Acesso em: 14 abr. 2018. 
274 BETHLEHEM e LAUTERPACHT, Op. Cit., p. 144. 
275 Ibidem. 
 
80 
http://www.refworld.org/docid/4af0623d2.html
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
aceitação universal. Ora, dos 193 membros das Nações Uni- 
das, 148 participam da Convenção de 1951 ou de seu Protocolo 
de 1967276. Cerca de 163 Estados são parte da Convenção das 
Nações Unidas contra a Tortura277, ao passo que 170 são sig- 
natários do PIDCP278. Quanto às demais soberanias, não há 
qualquer indicação de que se oponham ao non-refoulement. 
Voltando-se à análise do terceiro requisito, cumpre notar que a 
adesão global aos principais tratados que proíbem o refoulement — 
bem como sua proclamação em diversos instrumentos internacio- 
nais declaratórios e nas diversas conclusões do ExCom279 — evi- 
 
276 Informações sobre o número que Estados que participam da Convenção de 1951 e/ 
ou de seu Protocolo de 1967 podem ser acessadas no seguinte endereço eletrônico: 
<http://www.unhcr.org/protection/basic/3b73b0d63/states-parties-1951conven 
tion-its-1967-protocol.html>. Acesso em: 7 abr. 2018. 
277 Informações colhidas no seguinte sítio eletrônico: <http://indicators.ohchr.org/>. 
Acesso em: 7 abr. 2018. 
278 Ibidem. 
279 Inter alia, Conclusão n. 1 (XXVI), de 1975; Conclusão n. 3 (XXVIII), de 
1977; Conclusão n. 6 (XXVIII), de 1977; Conclusão n. 11 (XXIX), de 1978; 
Conclusão n. 14 (XXX), de 1979; Conclusão n. 15 (XXX), de 1979; Conclusão 
n. 16 (XXXI), de 1980; Conclusão n. 17 (XXXI), de 1980; Conclusão n. 19 
(XXXI), de 1980; Conclusão n. 21 (XXXII), de 1981; Conclusão n. 22 (XXXII), 
de 1981; Conclusão n. 25 (XXXIII), de 1982; Conclusão n. 29 (XXXIV), de 
1983; Conclusão n. 33 (XXXV), de 1984; Conclusão n. 41 (XXXVII), de 
1986; Conclusão n. 42 (XXXVII), de 1986; Conclusão n. 46 (XXXVIII), de 
1987; Conclusão n. 50 (XXXIX), de 1988; Conclusão n. 52 (XXXIX), de 1998; 
Conclusão n. 53 (XXXIX), de 1988; Conclusão n. 55 (XL), de 1989; Conclusão 
n. 58 (XL), de 1989; Conclusão n. 61 (XLI), de 1990; Conclusão n. 62 (XLI), 
de 1990; Conclusão n. 65 (XLII), de 1991; Conclusão n. 68 (XLIII), de 1992; 
Conclusão n. 71 (XLIV), de 1993; Conclusão n. 71 (XLIV), de 1993; Conclusão 
n. 72 (XLIV), de 1993; Conclusão n. 74 (XLV), de 1994; Conclusão n. 77 
(XLVI), de 1995; Conclusão n. 79 (XLVII), de 1996; Conclusão n. 81 (XLVIII), 
de 1997; Conclusão n. 82 (XLVIII), de 1997; Conclusão n. 85 (XLIX), de 1998; 
Conclusão n. 87 (L), de 1999; Conclusão n. 89 (LI), de 2000; Conclusão n. 91 
(LII), de 2001; Conclusão n. 94 (LII), de 2002; Conclusão n. 99 (LV), de 2004; 
Conclusão n. 100 (LV), de 2004; Conclusão n. 103 (LVI), de 2005; Conclusão n. 
108 (LIX), de 2008. 
 
81 
http://www.unhcr.org/protection/basic/3b73b0d63/states-parties-1951conven
http://indicators.ohchr.org/
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
dencia a existência de uma prática consistente e uniforme, além 
de denotar a aceitação geral da norma, revelando, por assim dizer, 
uma verdadeira opinio juris communis em torno do non-refoulement. 
Ademais, a incorporação da não-devolução à legislação nacional 
de mais de uma centena de nações robustece a conclusão de que 
há, de fato, clara convicção de que o non-refoulement decorre de 
uma obrigação jurídica. A esse respeito, Bethlehem e Lauterpacht, 
em uma análise percuciente elaborada em 2001, dão conta que 
cerca de 125 países possuem, em suas legislações domésticas, leis 
que proíbem o refoulement280. 
 
 
 
 
 
 
280 São eles: África do Sul, Albânia, Alemanha, Andorra, Angola, Argélia, Argentina, 
Armênia, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Bahrein, Bélgica, Belize, Benin, 
Bielorrússia, Bolívia, Bósnia e Herzegovina, Botswana, Brasil, Bulgária, Burkina 
Faso, Cabo Verde, Camboja, Camarões, Canadá, Cazaquistão, Chile, China, 
Chipre, Colômbia, Congo, Costa Rica, Croácia, Dinamarca, Djibuti, El Salvador, 
Equador, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Etiópia, Fiji, 
Finlândia, França, Gabão, Gana, Geórgia, Grécia, Guatemala, Guiana, Guiné 
Equatorial, Haiti, Holanda, Honduras, Hungria, Iêmen, Indonésia, Irã, Iraque, 
Irlanda, Itália, Japão, Lesoto, Letônia, Líbano, Libéria, Líbia, Liechtenstein, 
Lituânia, Macedônia, Madagascar, Malaui, Mali, Marrocos, Mauritânia,México, 
Moldova, Mongólia, Moçambique, Namíbia, Nepal, Nova Zelândia, Nicarágua, 
Nigéria, Noruega, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Quirquistão, Reino 
Unido, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República 
Dominicana, República Tcheca, Romênia, Rússia, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, 
Síria, Somália, Suazilândia, Sudão (então unificado), Suíça, Suriname, Suécia, 
Tadjiquistão, Tanzânia, Togo, Tunísia, Turquia, Turcomenistão, Ucrânia, Uganda, 
Uruguai, Uzbequistão, Venezuela, Vietnã, Zâmbia e Zimbábue. In: BETHLEHEM 
e LAUTERPACHT, Op. Cit., pp. 164–177. Para uma análise mais detalhada dos 
países que participam da CADH e, ao mesmo tempo, incorporaram a proibição 
do refoulement em suas legislações, recomenda-se: MARQUES, Rodolfo Ribeiro 
Coutinho. Non-refoulement: a Latin American Perspective. (Poster). In: First 
Annual Conference of the Refugee Law Initiative, 2016, London. 
82 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
No âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, 
essa conclusão é confirmada, já que o non-refoulement é um com- 
ponente implícito e fundamental da vedação consuetudinária e 
peremptória da tortura, bem assim de outros tratamentos e penas 
cruéis, desumanos ou degradantes281. 
Também no Direito Internacional dos Refugiados esse argu- 
mento ganha força, uma vez que não se teve notícia, em mais 
de meio século, de que um Estado tenha devolvido uma pessoa 
refugiada ao risco de perseguição, valendo-se, meramente, do ar- 
gumento de que o refoulement seria permitido282; ao contrário, 
sempre que a norma era violada, recorria-se às suas exceções. É 
importante lembrar, a esse respeito, o famoso dictum da CIJ no 
célebre caso das Atividades Militares e Paramilitares na Nicarágua, 
de 1986, em que a Corte teve a ocasião de estatuir que “se um 
Estado age de forma prima facie incompatível com determinada 
norma, mas defende sua conduta com base em exceções ou jus- 
tificativas contidas na própria norma, ele está lhe confirmando e 
não lhe enfraquecendo”283. 
 
281 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional 
dos Direitos Humanos. v. II. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1999. pp. 
345–358. 
282 Cf. ACNUR, The Principle of Non-Refoulement as a Norm of Customary International 
law, Op. Cit., par. 3. 
283 No original, “[i]n order to deduce the existence of customary rules, the Court deems 
it sufficient that the conduct of States should, in general, be consistent with such rules, 
and that instances of State conduct inconsistent with a given rule should generally have 
been treated as breaches of that rule, not as indications of the recognition of a new rule. 
If a State acts in a way prima facie incompatible with a recognized rule, but defends its 
conduct by appealing to exceptions or justifications contained within the rule itself, then 
whether or not the State’s conduct is in fact justifiable on that basis, the significance of 
that attitude is to confirm rather than to weaken the rule.” In: NAÇÕES UNIDAS. 
International Court of Justice. Nicaragua v. United States of America . Merits. 
ICJ Reports, 1986, par. 186. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/files/case- 
related/70/070-19860627-JUD-01-00-EN.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2018. 
83 
http://www.icj-cij.org/files/case-
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Assim, tendo em vista a metodologia sugerida pela CIJ, pode- 
-se afirmar, com segurança, que o non-refoulement está cristaliza- 
do como norma de direito internacional consuetudinário. Dada a 
convergência e a complementariedade entre o Direito Internacio- 
nal dos Direitos Humanos e o Direito Internacional dos Refugia- 
dos, o seu conteúdo inclui tanto a proibição da devolução de pes- 
soas refugiadas ou solicitantes de refúgio a território em que corra 
risco de ser perseguida quanto a vedação — mais abrangente — 
ao envio da pessoa migrante a locais nos quais possa ser submetida 
a tortura, a tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradan- 
tes284 ou a outras práticas proibidas pelo direito imperativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
284 Cf., inter alii, GOODWIN-GILL e MCADAM, Op. Cit., p. 354; BETHLEHEM e 
LAUTERPACHT, Op. Cit., pp. 149–164. 
84 
 
 
 
 
Capítulo 3 
Ecos do Non-Refoulement no Direito 
Internacional Humanitário 
 
 
I. Direito internacional humanitário: 
essência e escopo 
A preocupação do Direito Internacional Humanitário (DIH) é 
de restringir, ao máximo, o uso da violência em conflitos armados, 
limitando-a ao necessário para a realização de objetivos militares 
legítimos (i.e., o enfraquecimento do potencial militar inimigo)285. 
Isto envolve, por exemplo, a distinção entre civis e combatentes, 
a proscrição do sofrimento desnecessário, a vedação de ataques 
àqueles que não mais combatem e, sobretudo, a abordagem da 
guerra enquanto um fait accompli, significando que tal ramo do 
Direito das Gentes aplicar-se-á a todos os beligerantes, pouco im- 
portando quem tenha dado causa à contenda. 
Apesar da proscrição do uso da força nas relações internacio- 
nais286 e, por consequência, do direito de guerrear287, o DIH (jus in 
bello) não perdeu sua relevância, porquanto os conflitos armados 
 
285 BOUVIER, Antoine A.; QUINTIN, Anne; SASSÒLI, Marco. How Does law 
Protect in War? Cases, Documents and Teaching Materials on Contemporary 
Practice in International Humanitarian Law. v. 1, 3. ed. Geneva: International 
Committee of the Red Cross, 2011, Cap. 1, p. 1. 
286 Cf. Carta das Nações Unidas, artigo 2(4). 
287 Essa proibição não é absoluta, podendo ser excepcionada nos casos de ameaça à paz e 
à segurança internacionais (mediante prévia autorização do Conselho de Segurança 
das Nações Unidas) ou legítima defesa (artigo 51 da Carta das Nações Unidas). 
 
85 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
permaneceram uma realidade. Convém notar que o debate sobre 
a legalidade do conflito não afeta a validade das normas humani- 
tárias, pois, ao contrário do jus contra bellum — que busca crimi- 
nalizar a guerra288 —, o DIH é indiferente à (i)licitude do conflito, 
preocupando-se, em maior medida, com a proteção das pessoas 
por ele afetadas. 
Tem-se que o jus in bello só será aplicado quando a norma 
proibitiva da guerra for violada — ou afastada —, dada a sua 
natureza subsidiária; a sua aplicação depende, portanto, da ino- 
bservância das normas primárias (jus contra bellum)289. Eis aqui 
uma peculiaridade desse ramo do Direito Internacional, já que 
nenhum outro corpus jurídico estipula regras sobre como devem 
se comportar aqueles que violam suas normas primárias, en- 
quanto as estiverem transgredindo290. 
Outrossim, o corpus juris do Direito Internacional Humanitá- 
rio abarca normas internacionais — positivadas ou consuetudi- 
nárias — voltadas a regular a proteção do indivíduo, bem assim 
as condutas, os meios e as táticas militares em tempos de guerra 
ou de ocupação291. No passado, as regras do DIH eram avençadas 
em tratados bilaterais (normalmente regulando o tratamento e a 
troca de prisioneiros de guerra), tendo sido codificadas em con- 
 
 
 
288 O crime de agressão é tema que concerne ao Direito Penal Internacional. Cf., 
sobre esse tema, AKANDE, Dapo; TZANAKOPOULOS, Antonios. The Crime of 
Aggression in the ICC and State Responsibility. Harvard International law Journal, 
Cambridge, v. 58. 2017. Disponível em: <http://www.harvardilj.org/wp-content/ 
uploads/Akande-and-Tzanakopoulos-Formatted.pdf>. Acesso em: 18 set. 2017. 
289 BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., p. 19. 
290 Ibidem, p. 2. 
291 GREENWOOD, Christopher. Historical Development and Legal Basis. In: FLECK, 
Dieter (Org.). The Handbook of International Humanitarian law. 2. ed. Oxford: 
Oxford University Press, 2008. p. 11. 
86 
http://www.harvardilj.org/wp-content/
 
 
O Princípio do Non-Refoulementno Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
venções multilaterais apenas no século XIX292. Desde então, trata- 
dos mais completos substituíram aqueles com menos detalhes, na 
busca incessante por regular inovações militares e se antecipar às 
novas formas de guerra293. Em razão disso, os tratados de Direito 
Internacional Humanitário são exaustivamente detalhados, esta- 
belecendo regras pormenorizadas e objetivas, prontas para serem 
aplicadas pelos combatentes294. 
Pode-se dizer que os pilares normativos do DIH são as Conven- 
ções da Haia de 1899 e 1907295, que restringem meios e métodos 
de guerra (em especial, o uso de certas armas e táticas militares) 
e as Convenções de Genebra de 1949, bem como os seus Proto- 
colos Adicionais, de 1977296, instrumentos dedicados à proteção 
de combatentes feridos, enfermos297 e náufragos298, prisioneiros de 
 
 
 
292 BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., Cap. 4, p. 2. 
293 Ibidem. 
294 Ibidem. 
295 Foi na Haia que nasceu a famigerada “Cláusula Martens”, batizada em homenagem 
ao seu propositor, o jurista e delegado russo Fyodor Fyodorovich Martens (1845– 
1909), e prevista originalmente no preâmbulo da Segunda Convenção da Haia, 
de 1899. A cláusula busca limitar possíveis métodos de guerra, não previstos à 
época, aos “princípios de humanidade” e “imperativos da consciência pública”. 
Para uma análise mais detalhada sobre a Cláusula Martens, recomenda-se a leitura 
de: GILADI, Rotem. The Enactment of Irony: Reflections on the Origins of the 
Martens Clause. The European Journal of International law, Oxford, v. 25, n. 3, pp. 
848–869, 2014. MERON, Theodor. The Martens Clause, Principles of Humanity, 
and Dictates of Public Conscience. The American Journal of International law, 
Cambridge, v. 94, n. 1, pp. 78–89, 2000. 
296 Há, ainda, o Protocolo III, de 2005, que adota um novo emblema para o CICV, o 
“Cristal Vermelho”. 
297 Convenção de Genebra para a Melhoria da Sorte dos Feridos e Enfermos em 
Exércitos em Campanha, doravante “Primeira Convenção de Genebra”. 
298 Convenção de Genebra para Melhoria da Sorte dos Feridos, Enfermos e Náufragos 
das Forças Armadas no Mar, doravante “Segunda Convenção de Genebra”. 
 
87 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
guerra299 e da população civil300. Os mencionados tratados contam 
com o endosso de boa parte da comunidade internacional — as 
Convenções de Genebra, por exemplo, foram ratificadas por 196 
Estados301 —, o que lhes garante uma aplicabilidade universal302. 
Ademais, a aplicação de tais documentos independe da reciproci- 
dade, uma vez que, tal como a Convenção de 1951, suas regras são 
autônomas, não exigindo sinalagma303. 
Também o costume é fonte do DIH, constituindo-se como uma 
de suas primeiras formas de expressão. Boa parte das normas espo- 
sadas nos supracitados instrumentos também possuem um caráter 
costumeiro304 — especialmente aquelas previstas nos dois Proto- 
colos Adicionais às Convenções de Genebra, datados de 1977305. 
Apesar da ampla ratificação dos tratados de Direito Humanitário, 
as regras cristalizadas no costume internacional permanecem rele- 
vantes, ao passo que salvaguardam a pessoa humana em hipóteses 
 
299 Convenção de Genebra relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra, 
doravante “Terceira Convenção de Genebra”. 
300 Convenção de Genebra relativa à Proteção dos Civis em Tempo de Guerra, 
doravante “Quarta Convenção de Genebra”. 
301 COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA (CICV). Treaties, States 
Parties and Commentaries. Disponível em: <https://ihl-databases.icrc.org/applic/ihl/ 
ihl.nsf/vwTreaties1949.xsp>. Acesso em 18 out. 2017. 
302 É importante repisar que algumas das normas avençadas nos tratados somente se 
aplicarão àqueles que os ratificaram (erga omnes partes). Ainda, a aplicação dos 
aludidos tratados dependerá de um conflito armado, aplicando-se aos Estados 
Partes envolvidos no confronto. 
303 Cf., nesse sentido, o artigo 60(5) da CVDT. In litteris: “[o]s parágrafos 1 a 3 não se 
aplicam às disposições sobre a proteção da pessoa humana contidas em tratados de 
caráter humanitário, especialmente às disposições que proíbem qualquer forma de 
represália contra pessoas protegidas por tais tratados.” 
304 Cf. DOSWALD-BECK, Louise.; HENCKAERTS, Jean-Marie. Customary 
International Humanitarian law: Rules. v. 1. Cambridge: Cambridge University 
Press, 2009, p. xxxi. 
305 BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., Cap. 4, p. 4. 
 
88 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
não previstas nos textos convencionais, além de serem aplicáveis 
mesmo àqueles que não pactuam com as Convenções Humanitá- 
rias (especialmente grupos armados não-estatais)306. Segundo um 
estudo realizado pelo CICV307, há cerca de 161 normas humani- 
tárias de natureza consuetudinária, as quais são aplicáveis duran- 
te conflitos armados internacionais (CAI) e não-internacionais 
(CANI), representando, pois, uma significativa expansão308. 
O pilar institucional do Direito Internacional Humanitário é 
o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, entidade sui generis à 
qual incumbe fomentar e supervisionar a aplicação do DIH, além 
de assistir e proteger as vítimas de conflitos armados — presan- 
do pela imparcialidade309, neutralidade310 e independência —, de 
modo a promover uma diplomacia humanitária em favor da pessoa 
humana e em desfavor da barbárie. 
É interessante notar que o escopo ratione materiae para a apli- 
cação do DIH reclama a existência de um conflito armado311 — 
seja ele internacional, seja não-internacional. As Convenções de 
Genebra não definem o que vem a ser um conflito armado, o que 
representa uma omissão deliberada com vistas a dar maior dina- 
 
 
 
306 Ibidem, p. 6. 
307 Trata-se do já referido estudo realizado por Louise Doswald-Beck e Jean-Marie 
Henckaerts. 
308 BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., Cap. 4, p. 6. 
309 Sem discriminar quanto à nacionalidade, à raça, às crenças religiosas, à classe social, 
ou às opiniões políticas dos indivíduos em questão. In: BUGNION, François. The 
International Committee of the Red Cross and the Protection of War Victims. Geneva: 
International Committee of the Red Cross, 2012, p. 373. 
310 Não se deve tomar partido nas hostilidades, muito menos envolver-se em 
controvérsias políticas, raciais, religiosas ou ideológicas. In: ibidem. 
311 Prefere-se o termo “conflito armado” à expressão “guerra”, uma vez que aquele é 
mais amplo que este, não prescindindo de uma declaração formal. 
 
89 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
micidade ao DIH312. Não obstante a carência de uma definição 
legal, tem-se concordado que dois são os elementos comuns aos 
conflitos armados: um elevado grau de violência e a organização 
das partes em combate313. 
À época em que passaram a ser codificadas, as normas jurí- 
dicas humanitárias tinham por foco conflitos que opunham dois 
ou mais Estados — portanto, conflitos internacionais —, mesmo 
nos casos em que um Estado ocupasse o território de outro sem 
qualquer resistência armada314. Assim, inicialmente, o alcance do 
DIH estava circunscrito à existência de uma contenda entre Es- 
tados, não se incluindo os conflitos armados não-internacionais 
(CANI)315. Essa modalidade de confrontação era encarada como 
uma questão doméstica, da alçada do direito interno. Em verdade, 
não há, no Direito das Gentes, norma que proscreva CANI, ca- 
bendo ao ordenamento jurídico nacional proibi-los316. 
Entretanto, com a adoção do artigo 3, comum às Conven- 
ções de Genebra, o DIH começou a demonstrar preocupação 
com os casos de CANI, estabelecendo “parâmetros mínimos de 
 
312 GREENWOOD, Christopher. Scope of Application of Humanitarian Law. In: 
FLECK, Dieter (Org.). The Handbook of International Humanitarian law. 2. ed. 
Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 47. 
313 Ibidem, p. 48. 
314 Cf., a esse respeito,o artigo 2(2) da Quarta Convenção de Genebra, que estipula que: 
“[t]he Convention shall also apply to all cases of partial or total occupation of the territory 
of a High Contracting Party, even if the said occupation meets with no armed resistance .” 
315 Grosso modo, um conflito armado não-internacional é uma confrontação armada no 
território de um único Estado, sem a participação de outras soberanias — quer por 
meio de suas forças armadas, quer por meio de indivíduos sob seu comando — contra 
o poder central constituído. In: IIHL. The Manual on the law of Non-International 
Armed Conflicts, with Commentary. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2006, p. 2. 
316 O ponto nevrálgico da relação entre o direito interno e o Direito Internacional, 
nessa matéria, é que o DIH trata todas as partes de um conflito armado não- 
internacional em pé de igualdade; contudo, não há como obrigar o direito interno a 
fazê-lo. In: BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., Cap. 2, p. 21. 
90 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
humanidade”317 a serem seguidos na condução de hostilidades318. 
Trata-se da espinha dorsal do direito aplicável aos casos de con- 
flitos armados internos, gozando, inclusive, de caráter peremptó- 
rio. Ademais, na busca pelo aperfeiçoamento das regras aplicá- 
veis aos CANI, adotou-se, em 1977, o Segundo Protocolo Adi- 
cional às Convenções de Genebra, o qual se dedica às hipóteses 
de confrontos armados não abrangidos pelos demais tratados de 
direito humanitário319. 
Mesmo com as diferenças substanciais entre as duas situações, 
pode-se afirmar que há, atualmente, meios suficientes para uni- 
formizar o quadro jurídico aplicável aos conflitos armados inter- 
nacionais e aos não-internacionais. A própria cristalização de um 
considerável número de normas humanitárias no costume inter- 
nacional vem pavimentando o caminho para uma aplicação equâ- 
nime do jus in bello a ambos os casos. 
 
II. Proibição de transferências no 
Direito de Genebra 
Chama-se Direito de Genebra o conjunto de convenções e pro- 
tocolos adotados em Genebra, nos anos de 1949 e 1977, dedica- 
dos à preservação da pessoa humana durante conflitos armados; 
contrapõe-se, assim, ao chamado Direito da Haia, o qual abarca as 
Convenções da Haia de 1899 e 1907, dedicadas à regulamentação 
 
 
 
317 Cf., tópico 3.2.2. 
318 BOUVIER, QUINTIN e SASSÒLI, Op. Cit., Cap. 2, p. 22. 
319 Cf. FLECK, Dieter. The Law of Non-International Armed Conflicts. In: FLECK, 
Dieter (Org.). The Handbook of International Humanitarian law. 2. ed. Oxford: 
Oxford University Press, 2008. pp. 603–633. 
91 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
dos métodos e meios de guerra320. O Direito de Genebra encarna 
o imperativo humanitário, dedicando-se às vítimas dos conflitos 
armados, sejam elas civis321, sejam elas combatentes. 
Com efeito, as Convenções de Genebra — adotadas simultane- 
amente — tratam das mais diversas situações que afligem a pes- 
soa humana durante conflitos armados, marcando a primazia do 
princípio da humanidade no DIH322. A Primeira das Convenções 
dedicou-se ao tratamento dos combatentes feridos em campanha, 
ao tempo que a Segunda ocupou-se dos combatentes feridos, en- 
fermos ou náufragos, em batalhas navais; a Terceira Convenção, 
ao seu turno, preocupou-se com a sorte daqueles combatentes 
convertidos em prisioneiros pelas forças inimigas. Nesses três ca- 
sos, a raison d’être dos instrumentos foi proteger a pessoa humana 
que, uma vez combatente, não mais representava uma ameaça. 
Por sua vez, a proteção de civis em tempos de guerra ficou a 
cargo da Quarta Convenção de Genebra. Essa matéria tardou a 
ser regulada pois a imunidade da população civil era encarada, 
até então, como um princípio do direito dos conflitos armados, 
desnecessária sendo a sua positivação323. Contudo, essa realidade 
mudaria drasticamente no decorrer da Primeira Guerra Mundial, 
quando vários civis viriam a ser detidos324. Assim, com o término 
 
320 Note-se, contudo, que essa divisão é essencialmente didática, tendo perdido parte 
de sua relevância com a adoção do Segundo Protocolo Adicional que mesclou 
ambas as vertentes. 
321 São civis aqueles que não compõe as forças armadas e que não participam 
diretamente no conflito. 
322 O princípio da humanidade veda qualquer sofrimento desnecessário ou incompatível 
com os objetivos militares legítimos, i.e., reduzir a capacidade militar inimiga. 
323 PICTET, Jean. S. Commentary to the IV Geneva Convention relative to the Protection 
of Civilian Persons in Time of War. Geneva: International Committee of the Red 
Cross, 1958, p. 3. 
324 Ibidem. 
 
92 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
da guerra, o CICV buscou colmatar essa lacuna, propondo, em 
1921, um anteprojeto de convenção voltado à proteção da popu- 
lação civil em tempos de guerra, com especial ênfase na proibição 
da deportação de habitantes dos territórios ocupados, na veda- 
ção da execução de reféns, na garantia de que civis em território 
inimigo pudessem retornar ao seu país natal e em que detentos 
civis devessem gozar das mesmas condições que prisioneiros de 
guerra325. Os esforços da Cruz Vermelha não encontraram suporte 
da comunidade internacional, uma vez que, à época, temia-se que 
qualquer movimento no sentido de regulamentar o tratamento da 
população civil em tempos de guerra pudesse turbar a frágil paz 
que reinava no período326. O CICV elaborou, então, um projeto 
mais sofisticado, apresentado na Conferência de Tóquio de 1934, 
mas que tardou a ser adotado pelos Estados. O tempo urgia: eram 
as vésperas da Segunda Guerra Mundial327. 
A ausência de regras claras quanto ao tratamento a ser dis- 
pensado à população civil deixou milhares de pessoas expostas à 
barbárie durante o conflito (e.g., deportações e transferências en 
masse de pessoas a campos de trabalhos forçados ou de concentra- 
ção, detenção e execuções de civis, captura de reféns). 
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, comprovou-se que a 
codificação de normas voltadas à proteção da população civil 
era de extrema necessidade. Assim, em 1945, o CICV decidiu 
revisar as Convenções de Genebra à luz dos acontecimentos mais 
recentes, expandindo-as para agasalhar, também, a população 
civil328. O campo estava então aberto para a elaboração de uma 
convenção dedicada à proteção da população civil em tempos de 
 
325 Ibidem, p. 4. 
326 Ibidem. 
327 Ibidem. 
328 Ibidem, p. 6. 
93 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
guerra; um verdadeiro ineditismo, já que não havia, até aquele 
momento, tratados multilaterais dedicados à tutela de civis329. 
Ainda, ao contrário das demais normas do Direito de Genebra, 
que se preocupam em proteger aqueles já vitimados pelos con- 
flitos armados (e.g., prisioneiros de guerra, náufragos, soldados 
enfermos), a salvaguarda da população civil reclama precaução, 
ou seja, medidas preventivas, de modo a evitar que esse grupo de 
pessoas se torne vítima das hostilidades. 
Nessa esteira, a Quarta Convenção de Genebra foi concebida 
como uma forma de blindar a população civil dos efeitos nefastos 
dos conflitos armados, vindo a ser suplementada pelo Primeiro 
Protocolo Adicional (1977). Portanto, o regime jurídico de pro- 
teção às pessoas civis em tempos de guerra é constituído por um 
extenso catálogo de direitos, abarcando não apenas a proibição 
de ataques — defensivos ou ofensivos330 — a alvos civis, como 
também garantindo que a pessoa civil tenha respeitada sua honra, 
seus direitos familiares, suas convicções religiosas, bem como seus 
modos e costumes331. Ademais, a Convenção protege a pessoa civil 
contra “atos ou ameaças de violência” ou mesmo de “insultos” e 
 
 
 
 
329 Ibidem, p. 5. 
330 Cf. Primeiro Protocolo Adicional às Convenções de Genebra, artigo 49(1). 
331 O artigo27 da Quarta Convenção de Genebra assim dispõe: “[p]rotected persons 
are entitled, in all circumstances, to respect for their persons, their honour, their family 
rights, their religious convictions and practices, and their manners and customs. They 
shall at all times be humanely treated, and shall be protected especially against all acts 
of violence or threats thereof and against insults and public curiosity. Women shall 
be especially protected against any attack on their honour, in particular against rape, 
enforced prostitution, or any form of indecent assault. Without prejudice to the provisions 
relating to their state of health, age and sex, all protected persons shall be treated with 
the same consideration by the Party to the conflict in whose power they are, without any 
adverse distinction based, in particular, on race, religion or political opinion. (...)” 
94 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
da “curiosidade pública”, garantindo tratamento especial às mu- 
lheres332 e às crianças333. 
A fortiori, também estará proscrita a exposição da pessoa 
civil aos supracitados tratamentos mediante transferência ou 
deportação, por parte da potência ocupante334 ou da potência 
detentora335. Pode-se identificar, entre os direitos plasmados na 
Convenção, limitações à saída compulsória de civis — tanto no 
caso de CAI (artigo 45) quanto em CANI (artigo 3). Passemos 
agora a auscultar os ecos do dever de non-refoulement no Direito 
Internacional Humanitário. 
 
1 Do artigo 45 da Quarta Convenção de 
Genebra: proibição de transferências 
O artigo 45 da Quarta Convenção de Genebra proíbe qual- 
quer transferência de pessoas protegidas336 a um Estado que não 
respeite a Convenção ou que as persiga337. A vedação, no entan- 
 
332 Cf., ibidem. 
333 Cf., a esse respeito, o artigo 50 da Quarta Convenção de Genebra. 
334 Cf., infra, o artigo 49(1) da Quarta Convenção de Genebra. 
335 Entende-se por potência detentora todo o Estado ou governo que detêm pessoas 
acusadas de terem cometido algum ilícito contra sua jurisdição ou de outra natureza. 
Refere-se, normalmente, aos prisioneiros de guerra. 
336 Cumpre notar, preliminarmente, que o escopo ratione personae do artigo 45 
estende-se a todas as pessoas protegidas sob a guarda de um dos beligerantes, 
independentemente de seu status; sendo, inclusive, uma garantia irrenunciável. In: 
PICTET, Op. Cit., pp. 266–267. 
337 O artigo 45 assim dispõe: “(1)[a]s pessoas protegidas não poderão ser transferidas 
para uma Potência que não seja parte na Convenção. (2) Esta disposição não 
constituirá em caso algum obstáculo à repatriação das pessoas protegidas ou ao 
seu regresso ao país do seu domicílio depois de terminadas as hostilidades. (3) As 
pessoas protegidas não poderão ser transferidas pela Potência detentora para uma 
Potência que seja parte na Convenção senão depois de a Potência detentora estar 
95 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
to, está circunscrita aos CAI. O rationale do dispositivo é evitar 
que a potência detentora se escuse de cumprir suas obrigações 
convencionais vis-à-vis a proteção das pessoas civis, transferin- 
do-as para um Estado que não lhes assegure as garantias pre- 
vistas na Quarta Convenção (em especial, aquelas inscritas nos 
artigos 27–141) ou que as persiga em razão de suas opiniões polí- 
ticas ou crenças religiosas. 
Para fins da interpretação do artigo 45, o termo “transferência” 
deve ser compreendido de forma abrangente, significando qual- 
quer movimentação — individual ou coletiva — de pessoas pro- 
tegidas, levada a cabo pela potência detentora, para o território de 
um outro Estado que não lhes avalize os mencionados direitos fun- 
damentais ou que os exponha à perseguição odiosa338. Incluem- 
-se no termo, portanto, a repatriação, a extradição e o retorno ao 
país de residência339. O artigo 45(5), contudo, ressalva a hipótese 
dos tratados de extradição, que, concluídos antes do início das 
hostilidades, continuarão aplicáveis às pessoas acusadas de terem 
cometido crimes de direito comum. 
 
 
certa de que a Potência em questão tem boa vontade e capacidade para aplicar 
a Convenção. Quando as pessoas protegidas forem transferidas deste modo, a 
responsabilidade da aplicação da Convenção competirá à Potência que resolveu 
acolhê-las, enquanto lhe estiverem confiadas. Contudo, no caso de esta Potência 
não aplicar as disposições da Convenção em qualquer ponto importante, a Potência 
pela qual as pessoas protegidas foram transferidas deverá, depois de notificação 
da Potência protetora, tomar medidas eficazes para remediar a situação ou pedir 
que lhe sejam novamente enviadas as pessoas protegidas. Este pedido deverá ser 
satisfeito. (4) Uma pessoa protegida não poderá ser, em caso algum, transferida para 
um país onde possa temer perseguições por motivo das suas opiniões políticas ou 
religiosas. (5) As disposições deste artigo não constituem obstáculo à extradição, 
em virtude de tratados de extradição concluídos antes do início das hostilidades, de 
pessoas protegidas acusadas de crimes de direito comum.” 
338 PICTET, Op. Cit., p. 266. 
339 Ibidem. 
 
96 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Há, pois, uma diferença substancial quanto ao alcance e à 
finalidade dos artigos 45 e 49(1)340, dado que este, mais amplo, 
se aplica aos casos de ocupação (occupatio bellica), interditando 
transferências ou deportações forçadas341 de civis que habitem o 
território ocupado, independentemente do lugar de destino, bus- 
cando assegurar a manutenção do status quo daquele território ao 
tempo que veda a modificação de sua composição demográfica342. 
Quanto ao escopo ratione materiae, o artigo 45 proíbe o envio 
da pessoa protegida para: a) um Estado que não respeite a Con- 
venção; b) um Estado que possa persegui-la. A primeira hipótese 
encontra-se prevista no artigo 45(3), proibindo a transferência de 
pessoas protegidas343 a um Estado que não respeite a Quarta Con- 
venção e impondo à potência detentora o ônus de averiguar se a 
potência receptora estará disposta e apta a observar os direitos ga- 
rantidos às pessoas civis pela Convenção344. Estes dois elementos 
— “disposição” e “aptidão” — são cumulativos, reclamando uma 
análise conjunta à luz das circunstâncias do cas d’espèce. Deve-se, 
em vista dessa finalidade, levar em conta o histórico da potência 
receptora (e.g., violações anteriores às Convenções de Genebra, 
 
340 O artigo 49(1) assim dispõe: “[a]s transferências forçadas, em massa ou individuais, 
bem como as deportações de pessoas protegidas do território ocupado para o da 
Potência ocupante ou para o de qualquer outro país, ocupado ou não, são proibidas, 
qualquer que seja o motivo.” 
341 O artigo 45 não faz menção à deportação, não obstante, a potência detentora não 
poderá deportar pessoas protegidas arbitrariamente, devendo observar as garantias 
processuais mínimas a que o indivíduo tem direito. Do contrário, o effet utile do 
dispositivo restaria vergastado. Cf. PICTET, Op. Cit., p. 266. 
342 CHETAIL, Vincent. The Transfer and Deportation of Civilians. In: CLAPHAM, 
Andrew; GAETA, Paola; SASSÒLI, Marco (Eds.). The 1949 Geneva Conventions: 
A Commentary. Oxford: Oxford University Press, 2016. p. 1196. 
343 Vincent Chetail nota que há fortes indícios de que o escopo pessoal do artigo 45(3) 
foi pensado para os civis convertidos em prisioneiros. In: ibidem, pp. 1199–1200. 
344 Quarta Convenção de Genebra, artigo 45(3). 
 
97 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
cometimento de violações graves de direitos humanos no passa- 
do), bem assim as condições pessoais do indivíduo em questão 
(e.g., nacionalidade, religião, opiniões políticas, pertencimento a 
determinado grupo social)345. Ainda, mesmo após a transferên- 
cia da pessoa protegida à potênciareceptora, a potência detentora 
terá responsabilidades sobre ela, devendo, acaso verifique o des- 
cumprimento das obrigações convencionais vis-à-vis a proteção da 
pessoa em questão, tomar medidas com vistas a retificar a situa- 
ção, requisitando, se for o caso, o retorno da pessoa transferida 346. 
Assim, o artigo 45(3) cria uma obrigação bifronte: por um lado, 
o Estado receptor será o principal responsável pela proteção da 
pessoa transferida; por outro, o Estado que a transferiu será sub- 
sidiariamente responsável, respondendo quando aquele falhar na 
observância das obrigações convencionais destinadas à proteção 
da população civil347. 
A segunda hipótese, prevista no quarto parágrafo do artigo 45, 
veda a transferência de uma pessoa protegida à perseguição. In 
verbis: “em nenhuma circunstância uma pessoa protegida poderá 
ser transferida para um país em que ela tenha razões para temer 
ser perseguida por suas opiniões políticas ou crenças religiosas”348. 
Portanto, em harmonia com o princípio fundamental da igualdade 
e não-discriminação, inscrito no artigo 27(3) da Convenção, pro- 
íbe-se a transferência de uma pessoa protegida a um Estado que a 
submeta a tratamento discriminatório ou mesmo à perseguição349. 
 
345 CHETAIL, Op. Cit., 2016, b, p. 1199. 
346 Quarta Convenção de Genebra, artigo 45(3). 
347 CHETAIL, Op. Cit., 2016, b, p. 1200. 
348 No original, “[i]n no circumstances shall a protected person be transferred to a country 
where he or she may have reason to fear persecution for his or her political opinions or 
religious beliefs.” 
349 PICTET, Op. Cit., p. 269. 
 
98 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
Assim, ao passo que a raison d’être do artigo 45(3) é assegurar o 
respeito à Quarta Convenção, o parágrafo quarto tem por propó- 
sito prevenir a perseguição das pessoas protegidas350. 
Ademais, tal como ocorre com o non-refoulement no Direito 
Internacional dos Refugiados, a proibição prevista no artigo 45(4) 
não cria, per se, um direito ao asilo. Aplica-se aqui a mesma lógica 
adotada quanto às obrigações decorrentes do artigo 33(1) da Con- 
venção de 1951, i.e., os Estados em questão poderão transferir as 
pessoas protegidas a outros territórios em que não corram o risco 
de serem perseguidas (safe third countries)351. 
Um outro ponto que merece destaque são as formas de perse- 
guição abarcadas pelo artigo 45(4). Aqui, as modalidades de per- 
seguição são mais restritas que aquelas previstas no artigo 33(1) da 
Convenção de 1951, limitando-se à perseguição em razão de opini- 
ões políticas e de crenças religiosas da pessoa. À época, essas eram 
as formas mais comuns de perseguição odiosa; repise-se, ainda, 
por óbvio, que em 1949 a Convenção de 1951 ainda não existia, 
nem a atual definição de refugiado havia sido codificada352. 
Assim, o escopo ratione personae do artigo 33(1) da Convenção 
de 1951 é mais alargado que aquele previsto no artigo 45(4) da 
Quarta Convenção de Genebra, dado que o aludido dispositivo 
da Magna Carta dos Refugiados inclui três novas modalidades de 
perseguição (raça, nacionalidade e pertencimento a grupo social). 
Por outro lado, o artigo 45(4) não possui exceções pessoais à proi- 
bição da transferência, protegendo, a priori, também aqueles que 
não se beneficiariam da proteção contra o refoulement segundo o 
artigo 33(2) da Convenção de 1951353. 
 
350 CHETAIL, Op. Cit., 2016, b, p. 1200. 
351 Ibidem, p. 1201. 
352 Ibidem. 
353 Ibidem, pp. 1202–1203. 
 
99 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
Contudo, a aplicação do artigo 45 — tanto no caso de inob- 
servância da Convenção quanto na hipótese de transferência à 
perseguição — está circunscrita à existência de CAI, sendo essa 
sua maior limitação. 
 
2 Do Artigo 3, comum às Convenções de Genebra: 
considerações elementares de humanidade 
aplicáveis aos casos de conflitos armados 
O artigo 3, comum às Convenções de Genebra, incorpora o 
imperativo humanitário, exprimindo as “considerações elementa- 
res de humanidade”354 relativas à proteção de pessoas não-comba- 
tentes em tempos de guerra. In litteris: 
No caso de conflito armado que não apresente um caráter 
internacional e que ocorra no território de uma das Altas 
Partes contratantes, cada uma das Partes no conflito será 
obrigada aplicar, pelo menos, as seguintes disposições: 
1) As pessoas que não tomem parte diretamente nas hostili- 
dades, incluindo os membros das forças armadas que tenham 
deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas fora de 
combate por doença, ferimentos, detenção, ou por qualquer 
outra causa, serão, em todas as circunstâncias, tratadas com 
humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorá- 
vel baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento 
ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo. 
Para este efeito, são e manter-se-ão proibidas, em qualquer 
ocasião e lugar, relativamente às pessoas acima mencionadas: 
 
354 Cf. NAÇÕES UNIDAS. International Court of Justice. The Corfu Channel Case. 
Merits. ICJ Reports, 1949, p. 22. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/files/case- 
related/1/001-19490409-JUD-01-00-EN.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 
100 
http://www.icj-cij.org/files/case-
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
a) As ofensas contra a vida e a integridade física, espe- 
cialmente o homicídio sob todas as formas, mutilações, 
tratamentos cruéis, torturas e suplícios; 
b) A tomada de reféns; 
c) As ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os 
tratamentos humilhantes e degradantes; 
d) As condenações proferidas e as execuções efetuadas 
sem prévio julgamento, realizado por um tribunal regular- 
mente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais 
reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados. 
2) (...).355
 
 
Esse catálogo de direitos constitui, nas palavras da Corte Mun- 
dial, um parâmetro mínimo a ser observado em qualquer modali- 
dade de conflitos armados356, tendo sido reconhecida a sua crista- 
lização no costume internacional. 
É interessante notar que o escopo ratione personae do artigo 3 
é significativamente mais abrangente que aquele inscrito no artigo 
45, uma vez que agasalha todas as pessoas não-combatentes (civis 
e soldados feridos ou capturados) que estejam sob a guarda da po- 
tência adversária, sem distinção quanto ao seu status. 
Ademais, as obrigações plasmadas no artigo 3, de tão essen- 
ciais, são reconhecidas como normas de jus cogens357, não sendo, 
portanto, derrogáveis. É o exemplo, pois, da proibição da tortura e 
 
 
355 Cf. CICV. Basic Rules of the Geneva Conventions and their Additional Protocols. 
Geneva: International Committee of the Red Cross, 2011. pp. 52–53. 
356 Cf. NAÇÕES UNIDAS, International Court of Justice, Nicaragua v. United States 
of America, 1986, Op. Cit., par. 218. 
357 Cf. MERON, Theodor. The Humanization of International law. The Hague 
Academy of International Law Monographs. v. 3. Leiden/Boston: Martinus Nijhoff 
Publishers. 2006. pp. 204–205. 
101 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
de outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes 
— igualmente vedados em tempos de paz. Assim, apesar de não 
conter uma vedação expressa às transferências ou deportações de 
pessoas, o artigo 3 oferece meios de constranger o envio de uma 
pessoa não-combatente a territórios em que esta possa ter sua in- 
tegridade vergastada; o mesmo raciocínio aplicável às proibições 
de jus cogens plasmadas no Direito Internacional dos Direitos Hu- 
manos e estudadas no capítulo anterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
 
 
 
Reflexões Finais 
 
 
I. Ramos de uma mesma videira 
Apesar do seu aparente processo de fragmentação, o Direi- 
to Internacional é sistema, e como tal deve ser entendido. Com 
efeito,Direito Internacional dos Refugiados, Direito Interna- 
cional dos Direitos Humanos e Direito Internacional Humani- 
tário são ramos de uma mesma videira, partilhando do mesmo 
leitmotiv: a proteção da pessoa humana. Portanto, mais do que 
coexistentes, os três ramos jurídicos de proteção internacional 
da pessoa humana são complementares, devendo ser aplicados 
de forma coordenada, de maneira a salvaguardar, em sua inte- 
gralidade, os direitos mais caros ao indivíduo, nas mais diversas 
circunstâncias. Nota-se, pois, que o princípio interpretativo da 
lex specialis derogat generalis não deve se sobrepor ao princípio 
da proteção integral da pessoa humana, subjacente àqueles três 
ramos. Assim, sempre que houver compatibilidade, aplicar-se-á 
a norma mais benéfica ao indivíduo. 
A partir desta mise-au-point, pode-se afirmar que, apesar de se 
manifestar em diferentes formatos naqueles três ramos, incorpo- 
rando limitações inerentes às especificidades de cada um deles, 
o non-refoulement deverá ser entendido como uma regra comum 
do Direito das Gentes, voltada à proteção da pessoa humana que 
migra — não importa se refugiada, solicitante de refúgio, migrante 
ambiental, deslocada interna ou pessoa civil em conflitos arma- 
dos. Em consequência, o debate sobre qual ramo protegerá a pes- 
soa migrante perde parte de sua força, uma vez que o importante é 
que ela, pessoa humana, seja efetivamente protegida. 
 
103 
 
 
Rodolfo Ribeiro Coutinho Marques 
 
 
 
II. Epílogo: não é lícito relegar hóspedes sem culpa 
O arriscado propósito deste trabalho foi identificar a essência 
e o alcance do non-refoulement no Direito Internacional con- 
temporâneo. Trata-se de um esforço voltado a dar um conteúdo 
mínimo e discernível ao princípio, viabilizando, assim, sua apli- 
cação mais eficaz e coesa na proteção das pessoas desenraizadas. 
Quanto à sua natureza jurídica, o non-refoulement foi aqui carac- 
terizado como uma norma bifronte, cujos destinatários são, por 
um lado, o Estado, que sofre limitações à sua discricionariedade 
em matéria de admissão de pessoas migrantes, e, por outro, a 
pessoa humana desenraizada, que encontra, nessa norma, a base 
de uma garantia essencial que lhe é reconhecida pelo Direito das 
Gentes e oponível ao Estado, anulando qualquer iniciativa que 
implique no seu envio compulsório a territórios em que possa ser 
perseguida ou ter sua dignidade e/ou integridade física violadas. 
Cumpre notar, ainda, que o non-refoulement possui caráter pre- 
ventivo, protegendo a pessoa migrante do risco de ser entregue 
a seus algozes. Contudo, a proteção internacional das pessoas 
migrantes não se esgota na sua dimensão preventiva, carecendo, 
ainda, do implemento de medidas de longo prazo (e.g., soluções 
duradouras), com vistas a restaurar os direitos inerentes à condi- 
ção humana das pessoas desenraizadas. 
Como visto, o non-refoulement tem raízes filosóficas que re- 
montam à clássica doutrina da hospitalidade, concebida na Gré- 
cia358, segundo a qual era contrário à natureza relegar hóspedes 
sem culpa359. O substrato desse costume era justamente um ele- 
 
358 Zeus, também conhecido como Zeus Xênios, era tido como o protetor dos hóspedes, 
punindo aqueles que desrespeitassem a sacrossanta lei da hospitalidade (xênia). A 
Guerra de Troia, pano de fundo da Odisseia de Homero, teve como casus belli a 
violação da lei da hospitalidade, materializada com o rapto de Helena por Paris. 
359 VITÓRIA, Op. Cit., p. 145. 
 
104 
105 
 
 
O Princípio do Non-Refoulement no Direito Internacional Contemporâneo 
 
 
 
mento comum que unia o hóspede e o hospedeiro, uma identida- 
de compartilhada entre todos os seres humanos: uma espécie de 
parentesco, inerente à condição humana. Tendo isso em mente, 
é possível concluir que o perene dever de hospitalidade, propug- 
nado pelos Pais Fundadores do Direito Internacional como base 
da liberdade de locomoção, traduz-se, em nosso tempo, em uma 
obrigação comum de não enviar a pessoa migrante a territórios 
em que possa ser perseguida ou submetida a outras práticas que 
aviltem os mais fundamentais interesses e valores da comunida- 
de internacional (inter alia, escravidão, genocídio, apartheid, de- 
saparecimento forçado, tortura ou outros tratamentos ou penas 
cruéis, desumanos ou degradantes), além de garantir-lhe, na me- 
dida do possível, o exercício pleno de seus direitos fundamentais 
ao longo de sua estada — seja temporária, seja permanente —, 
tal como nacional fosse. 
 
 
*** 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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	Nota do Autor
	R.R.C.M.
	Prefácio
	Profa. Dra. Alessandra Correia lima Macedo Franca
	Apresentação
	Prof. Dr. Ralph Wilde
	Sumário
	Lista de Abreviaturas
	Introdução
	Capítulo 1
	I. Origens e evolução
	1 A responsabilidade do Estado pela violação do artigo 33(1)
	2.1 A relação entre o artigo 33(2) e o artigo 1(F)
	2.2 A hipótese do perigo à segurança do estado de refúgio
	2.3 A hipótese da ameaça à comunidade do país de refúgio
	3. O caso dos fluxos em massa e a observância do artigo 33
	Capítulo 2
	1 Jus cogens: natureza, efeitos e consequências jurídicas
	1.1 Do conteúdo material das normas de jus cogens
	2 Obrigações de non-refoulement e o direito à integridade física, psíquica e moral na
	1 Do costume internacional
	Capítulo 3
	I. Direito internacional humanitário: essência e escopo
	II. Proibição de transferências no Direito de Genebra
	1 Do artigo 45 da Quarta Convenção de Genebra: proibição de transferências
	2 Do Artigo 3, comum às Convenções de Genebra: considerações elementares de humanidade aplicáveis aos casos de conflitos armados
	Reflexões Finais
	I. Ramos de uma mesma videira
	II. Epílogo: não é lícito relegar hóspedes sem culpa
	Referências