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<p>4.2.3. Direito civil-constitucional</p><p>Ao tutelar diversos institutos nitidamente civilistas, como a família, a propriedade, o</p><p>contrato, dentre outros, o legislador constituinte redimensionou a norma privada, fixando os</p><p>parâmetros fundamentais interpretativos. Em outras palavras, salientam Cristiano Chaves de</p><p>Farias e Nelson Rosenvald, “ao reunificar o sistema jurídico em seu eixo fundamental</p><p>(vértice axiológico), estabelecendo como princípios norteadores da República Federativa</p><p>do Brasil a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), a solidariedade social (art. 3º) e a</p><p>igualdade substancial (arts. 3º e 5º), além da erradicação da pobreza e redução das</p><p>desigualdades sociais, promovendo o bem de todos (art. 3º, III e IV), a Lex Fundamentalis</p><p>de 1988 realizou uma interpenetração do direito público e do direito privado, redefinindo</p><p>os seus espaços, até então estanques e isolados. Tanto o direito público quanto o privado</p><p>devem obediência aos princípios fundamentais constitucionais, que deixam de ser neutros,</p><p>visando ressaltar a prevalência do bem-estar da pessoa humana”</p><p>26</p><p>.</p><p>Sob essa perspectiva, tem-se anunciado o surgimento de uma nova disciplina ou ramo</p><p>metodológico denominado direito civil-constitucional, que estuda o direito privado à luz</p><p>das regras constitucionais. Como já mencionado no item 4.1, retro, é digno de nota o</p><p>fenômeno que se vem desenvolvendo atualmente da acentuada interferência do direito</p><p>público em relações jurídicas até agora disciplinadas no Código Civil, como as contratuais</p><p>e as concernentes ao direito de família e ao direito de propriedade, reguladas na</p><p>Constituição Federal de 1988, a ponto de se afirmar hoje que a unidade do sistema deve ser</p><p>buscada, deslocando para a tábua axiológica da Carta da República o ponto de referência</p><p>antes localizado no Código Civil.</p><p>O direito civil-constitucional está baseado em uma visão unitária do sistema. Ambos os</p><p>ramos não são interpretados isoladamente, mas dentro de um todo, mediante uma interação</p><p>simbiótica entre eles. Ensina Paulo Lôbo que “deve o jurista interpretar o Código Civil</p><p>segundo a Constituição e não a Constituição segundo o Código, como ocorria com</p><p>frequência (e ainda ocorre)”</p><p>27</p><p>. Com efeito, a fonte primária do direito civil — e de todo o</p><p>ordenamento jurídico — é a Constituição da República, que, com os seus princípios e as</p><p>suas normas, confere uma nova feição à ciência civilista. O Código Civil é, logo após a</p><p>incidência constitucional, o diploma legal básico na regência do direito civil. Ao seu lado, e</p><p>sem relação de subordinação ou dependência, figuram inúmeras leis esparsas, que</p><p>disciplinam questões específicas, como, v. g., a lei das locações, a lei de direitos autorais, a</p><p>lei de arbitragem etc.</p><p>28</p><p>.</p><p>A expressão direito civil-constitucional apenas realça a necessária releitura do Código</p><p>Civil e das leis especiais à luz da Constituição, redefinindo as categorias jurídicas civilistas</p><p>a partir dos fundamentos principiológicos constitucionais, da nova tábua axiológica fundada</p><p>na dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), na solidariedade social (art. 3º, III) e na</p><p>igualdade substancial (arts. 3º e 5º)</p><p>29</p><p>.</p>