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Sequências discursivas
118. (Enem-2017) Garcia tinha-se chegado ao cadáver, 
levantara o lenço e contemplara por alguns instantes 
as feições defuntas. Depois, como se a morte espiri-
tualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi 
nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assom-
brado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de 
um livro adúltero [...].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o 
cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em solu-
ços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em 
borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. 
Eortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão 
de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.
(ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: . 
Acesso em: 9 out. 2015.)
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acom-
panha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse pro-
cedimento narrativo é o registro do(a)
A) indignação face à suspeita do adultério da esposa. 
B) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
C) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
D) prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio.
E) superação do ciúme pela comoção decorrente da morte.
119. (Enem-2017)
Doutor dos sentimentos
Veja quem é e o que pensa o português António Damásio, 
um dos maiores nomes da neurociência atual, sempre em 
busca de desvendar os mistérios do cérebro, das emoções e 
da consciência
Ele é baixo, usa óculos, tem cabelos brancos penteados para 
trás e costuma vestir terno e gravata. A surpresa vem quando 
começa a falar. António Damásio não confirma em nada o clichê 
que se tem de cientista. Preocupado em ser o mais didático pos-
sível, tenta, pacientemente, com certa graça e até ironia, sempre 
que cabível, traduzir para os leigos estudos complexos sobre o 
cérebro. Português, Damásio é um dos principais expoentes da 
neurociência atual.
Diferentemente de outros neurocientistas, que acham 
que apenas a ciência tem respostas à compreensão da mente, 
Damásio considera que muitas ideias não provêm necessaria-
mente daí. Para ele, um substrato imprescindível para entender 
a mente, a consciência, os sentimentos e as emoções advém da 
vida intuitiva, artística e intelectual. Fora dos meios científicos, o 
nome de Damásio começou a ser celebrado na década de 1990, 
quando lançou seu primeiro livro, uma obra que fala de emoção, 
razão e do cérebro humano.
(TREFAUT, M. P. Disponível em: . Acesso 
em: 2 set. 2014. Adaptado.)
Na organização do texto, a sequência que atende à função 
sociocomunicativa de apresentar objetivamente o cientista 
António Damásio é a
A) descritiva, pois delineia um perfil do professor.
B) injuntiva, pois faz um convite à leitura de sua obra.
C) argumentativa, pois defende o seu comportamento 
incomum.
D) narrativa, pois são contados fatos relevantes ocorridos em 
sua vida.
E) expositiva, pois traz as impressões da autora a respeito de 
seu trabalho.
120. (Enem-2016)
Galinha cega
O dono correu atrás de sua branquinha, agar-
rou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, 
graças a Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou 
mais milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada. 
Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se fartasse. Mas 
não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se apro-
veitaram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que 
seria aquilo, meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada 
na cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum 
moleque da vizinhança, aí… Nem por sombra imaginou que era 
a cegueira irremediável que principiava. 
Também a galinha, coitada, não compreendia nada, ab-
solutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os dias 
luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? 
Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre tão escuro. 
Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é que 
estava a sombra.
(GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de 
Janeiro: Imago, 1976. Fragmento.)
Ao apresentar uma cena em que um menino atira milho às 
galinhas e observa com atenção uma delas, o narrador explora 
um recurso que conduz a uma expressividade fundamentada na
A) captura de elementos da vida rural, de feições peculiares.
B) caracterização de um quintal de sítio, espaço de 
descobertas.
C) confusão intencional da marcação do tempo, centrado na 
infância.
D) apropriação de diferentes pontos de vista, incorporados 
afetivamente.
E) fragmentação do conflito gerador, distendido como apoio 
à emotividade.
121. (Enem-2016)
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pa-
gou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria 
Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha 
e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com 
joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz 
perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia 
e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto – e o 
que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não 
pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi 
embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. 
Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. 
Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se 
um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e 
sentara-se de costas para o caminho. 
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: 
— A senhora deseja trocar de lugar comigo? 
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que 
não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se 
perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, 
espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? 
Perguntou afinal a Angela Pralini: 
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar? 
(LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Fragmento.)
A descoberta de experiências emocionais com base no cotidia-
no é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o 
narrador enfatiza o(a)
A) comportamento vaidoso de mulheres de condição social 
privilegiada.
B) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma 
estação.
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