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Processo Penal | Sujeitos Processuais ● Conceitos Fundamentais: No processo penal, é possível identificar diferentes sujeitos que desempenham papéis fundamentais ou acessórios na dinâmica processual. Entre os sujeitos principais, considerados essenciais, estão, de um lado, os sujeitos parciais, representados pelas partes: o autor, que pode ser o representante do Ministério Público ou o querelante, e o réu, também denominado querelado. De outro lado, encontra-se o sujeito imparcial, que é o juiz, responsável por conduzir o processo e representar a figura do Estado, assegurando a aplicação justa da lei. Além desses, existem ainda os sujeitos secundários, de caráter acessório, que podem intervir no processo de maneira acidental. Entre eles destacam-se o assistente de acusação, que auxilia o trabalho do Ministério Público; os auxiliares da justiça, que prestam suporte técnico e administrativo à atividade jurisdicional; e os terceiros intervenientes, que, em determinadas situações, passam a integrar o processo em razão de interesses específicos. ● O Juiz: O juiz, para o exercício de sua função, deve ser devidamente investido de jurisdição, isto é, possuir autoridade legal para atuar em nome do Estado. Sua atuação exige imparcialidade e competência, de modo a assegurar o respeito ao princípio do juiz natural, que possui duplo aspecto: por um lado, a proibição da criação de juízos de exceção; por outro, a garantia de que a causa seja julgada por um juiz previamente competente. No desempenho de sua atividade, o juiz detém diferentes poderes. Entre eles estão os poderes de polícia ou administrativos, voltados a evitar que manifestações das partes ou de terceiros comprometam a regularidade da tramitação processual. Já os poderes jurisdicionais destinam-se a conduzir o processo em direção ao resultado concreto almejado pelas partes. Esses poderes podem se desdobrar em poderes-meio e poderes-fim. Os primeiros englobam os atos ordinatórios, que servem para impulsionar o processo, como os despachos, e os atos instrutórios, voltados à coleta de elementos necessários à formação da convicção do magistrado e à preparação dos atos decisórios. Já os poderes-fim se concretizam 1 nos atos decisórios, que representam a manifestação essencial do juiz, e nos atos executórios, responsáveis por assegurar a efetiva realização da decisão. Para que alguém possa exercer a magistratura, é necessário preencher determinados pressupostos: a investidura, que ocorre mediante aprovação em concurso público; a capacidade processual, indispensável para a prática válida dos atos; e a imparcialidade, que constitui a base da função jurisdicional. Além disso, os magistrados são resguardados por importantes garantias, que visam assegurar sua independência frente a pressões externas. São elas: a vitaliciedade, adquirida após dois anos de exercício; a inamovibilidade, que impede a remoção do juiz sem motivo justificado; e a irredutibilidade de subsídio, que protege sua remuneração contra diminuições arbitrárias. No âmbito processual, é importante distinguir as figuras do impedimento e da suspeição, ambas relacionadas à imparcialidade do juiz. O impedimento ocorre quando há motivos expressamente previstos em lei que obrigam o afastamento do magistrado, uma vez que tais situações comprometem sua imparcialidade objetiva. Nesse caso, entende-se que há uma incapacidade objetiva do juiz, ligada à sua relação direta com o objeto da lide. Trata-se de hipótese de parcialidade absoluta, de modo que, se o juiz atuar no processo, o ato será marcado por nulidade absoluta. Além disso, o rol de causas de impedimento é taxativo, não admitindo ampliações por analogia ou interpretação extensiva. Já a suspeição decorre de motivos que revelam uma relação de proximidade ou de interesse do juiz em relação a uma das partes, caracterizando uma situação de parcialidade subjetiva. Diferentemente do impedimento, a suspeição gera parcialidade relativa, e sua inobservância acarreta nulidade relativa, passível de convalidação caso não seja arguida no momento adequado. O rol de hipóteses de suspeição é exemplificativo, permitindo ao intérprete e ao julgador reconhecer outras situações não previstas expressamente em lei, mas que comprometam a confiança na imparcialidade do magistrado. Cumpre destacar que o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucionais algumas hipóteses de impedimento previstas no Código de Processo Penal, especificamente 2 no artigo 3º-D e no artigo 157, §5º, reforçando a necessidade de observância rigorosa aos princípios constitucionais que regem o devido processo legal e a imparcialidade do julgador. ● O Acusado: No processo penal, o acusado ocupa a posição de sujeito passivo da relação jurídico-processual. Ele pode ser tanto uma pessoa física, que adquire capacidade para figurar como réu a partir dos 18 anos, quanto uma pessoa jurídica, no caso de crimes ambientais, em que a lei permite a responsabilização de empresas. A identificação do acusado cumpre uma dupla finalidade: em primeiro lugar, garantir que o verdadeiro autor do delito seja submetido ao processo e, eventualmente, à pena; em segundo lugar, permitir o conhecimento de sua vida pregressa, uma vez que informações dessa natureza influenciam na dosimetria da pena, no regime de cumprimento e em outros aspectos relevantes da condenação. No âmbito de sua autodefesa, o acusado possui direitos fundamentais, como o de estar presente nos atos do processo, de ser ouvido, e ainda de postular pessoalmente em determinadas situações, como ao impetrar habeas corpus ou propor uma revisão criminal. Ao lado do acusado, atua o defensor, que pode ser um advogado constituído ou procurador. O exercício da defesa técnica é obrigatório, sendo considerada indeclinável, de modo que o processo não pode prosseguir sem que o réu esteja devidamente assistido. Essa garantia decorre do princípio da ampla defesa, que se desdobra em duas dimensões: a autodefesa, exercida pelo próprio acusado, e a defesa técnica, assegurada pela atuação do defensor. ● O Ministério Público: O Ministério Público desempenha papel central no processo penal, atuando como parte ativa da relação jurídico-processual e, ao mesmo tempo, como fiscal da lei. É comumente referido pelo termo “parquet”, expressão de origem francesa que remete à sua função institucional. A doutrina reconhece que, embora atue como parte acusadora, o Ministério Público deve manter uma postura de imparcialidade, zelando pelo cumprimento da lei e pela justiça. 3 Quanto à sua organização, o Ministério Público pode se estruturar em âmbito estadual ou da União. Este último se subdivide em quatro ramos específicos: o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Os membros do Ministério Público possuem garantias semelhantes às da magistratura, assegurando sua independência funcional. São elas: a vitaliciedade, adquirida após dois anos de exercício; a inamovibilidade, que impede sua remoção sem motivo legal; e a irredutibilidade de subsídio, que garante a estabilidade de sua remuneração. Além de suas funções acusatórias e de fiscalização, o Ministério Público tem competência para instaurar e conduzir investigações de natureza penal por autoridade própria, atuando de forma ativa na apuração de crimes. Ademais, no que diz respeito à sua atuação, a lei estende aos membros do parquet o mesmo regime de impedimentos e suspeições previsto para os juízes, a fim de assegurar a imparcialidade e a legitimidade de sua atuação. ● O Assistente: O assistente de acusação é o advogado contratado pela vítima com a finalidade de representá-la no curso da ação penal pública movida contra o réu. Sua atuação possui caráter complementar, pois não substitui oMinistério Público, mas visa auxiliar o parquet na busca da efetivação do jus puniendi do Estado, além de preservar eventual direito reparatório da vítima. Em essência, sua função está diretamente vinculada à satisfação do direito de reparação do dano causado pela infração penal. A admissão do assistente pode ocorrer em diferentes momentos do processo. Em regra, ele pode ser habilitado a partir do recebimento da denúncia até o trânsito em julgado da condenação, em qualquer fase da marcha processual. No entanto, em se tratando do Tribunal do Júri, há um prazo específico: o pedido de admissão deve ser formulado até cinco dias antes da sessão de julgamento. Quanto aos seus poderes processuais, o assistente de acusação dispõe de diversas faculdades relevantes. Ele pode propor meios de prova, formular perguntas às testemunhas, indicar assistente técnico e elaborar quesitos. Também lhe é permitido aditar os articulados, participar dos debates orais e complementar memoriais (sem, contudo, poder aditar a 4 denúncia). Além disso, pode arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público e, em determinadas hipóteses, até mesmo interpor alguns recursos de forma autônoma. ● Peritos e Intérpretes: Os funcionários da Justiça exercem papel de apoio essencial à atividade jurisdicional, sendo classificados como órgãos auxiliares. Eles podem ser divididos em duas categorias: os permanentes, que atuam de forma contínua em todos os processos em trâmite perante o juízo, como os oficiais de justiça, escrivães, escreventes, técnicos judiciários e analistas judiciários; e os eventuais, que intervêm apenas em casos específicos, realizando tarefas especializadas, como é o caso dos peritos e intérpretes. Um ponto importante é que os atos praticados por esses auxiliares gozam de fé pública, ou seja, possuem a presunção de veracidade até prova em contrário, conferindo-lhes relevância probatória no processo. No que se refere aos peritos, existem dois tipos principais. Os peritos oficiais são aqueles nomeados pelo juiz para realizar determinada análise técnica ou científica. Já os peritos não oficiais podem ser indicados pelas partes, a fim de acompanhar e contrapor os laudos apresentados, reforçando o princípio do contraditório. A lei também estabelece restrições quanto à escolha do perito. Não pode exercer essa função quem estiver sujeito à interdição de direitos, quem já tenha prestado depoimento no mesmo processo ou emitido opinião prévia sobre o objeto da perícia, bem como quem for analfabeto ou menor de 21 anos. 5