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2018 Metodologia e Conteúdos BásiCos de língua Portuguesa e MateMátiCa Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini Prof.ª Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof.ª Joseni Terezinha Frainer Pasqualini Prof.ª Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. P284m Pasqualini, Joseni Terezinha Frainer Metodologia e conteúdos básicos de língua portuguesa e matemática. / Joseni Terezinha Frainer Pasqualini, Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 274 p.; il. ISBN 978-85-515-0180-1 1.Leitura – Estudo e ensino – Brasil. I. Pianezzer, Lúcia Cristiane Moratelli. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 372.4 Impresso por: III aPresentação Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa e Matemática! O livro de estudo, que aborda os principais conceitos acerca dos temas, está organizado em dois conjuntos de conteúdos. O primeiro conjunto, contendo três unidades, relaciona-se à Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa; e o segundo conjunto, também contendo três unidades, relaciona-se à Metodologia e Conteúdos Básicos de Matemática. Entendemos que o desafio do professor que trabalha com a disciplina de Língua Portuguesa é completar o conhecimento prévio que o aluno já tem sobre a leitura e a escrita, uma vez que o mesmo chega à escola com conhecimentos diversos. O professor, a partir desse conhecimento prévio, planejará intervenções necessárias no intuito de propiciar a ampliação das habilidades linguísticas. Por sua vez, para ensinar Matemática com excelência é preciso aprender, entender, internalizar os conceitos, para depois ensiná-la, verdadeiramente e naturalmente, às nossas crianças. Partindo desse pressuposto, este livro de estudos lhe trará suporte e embasamento teórico, bem como dicas que poderão contribuir no seu jeito de ensinar e aprender matemática, enquanto educador consciente de seu papel. Diante disso, na primeira unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa, levaremos até você os principais conceitos envolvendo o homem e a sua capacidade de comunicação, através dos gêneros textuais. E na primeira unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Matemática, apresentaremos um pouco da história da matemática, desde sua forma tradicional à atual; abordaremos os documentos norteadores do ensino dessa disciplina na Educação Infantil e nas Séries Iniciais; e teceremos importantes reflexões acerca de aspectos relacionados às formas de aprendizagem e “ensinagem”, com seus fundamentos, teorias e metodologias. Na segunda unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa, você será capaz de compreender a oralidade como uma questão linguística, pois os conteúdos foram organizados de maneira a refletir sobre o processo de fala, escuta, escrita e leitura, desenvolvendo as habilidades necessárias à inserção da criança na condição de igualdade nas relações que estabelece com o seu entorno. IV Na segunda unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Matemática, abordaremos as questões que envolvem o conhecimento lógico- matemático, a construção do conceito de número e os sistemas de numeração, além de compreendermos como se dá o ensinar e o aprender por meio da resolução de problemas. Na terceira unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa, consolidaremos algumas questões teóricas e práticas sobre o ensino da Língua Portuguesa, que contribuirão para que você se torne um professor sempre em busca de conhecimento e aperfeiçoamento. Além disso, reforçaremos a ideia de que a escola é um espaço privilegiado para a formação de leitores. Na terceira unidade de Metodologia e Conteúdos Básicos de Matemática, falaremos sobre os conteúdos fundamentais a serem trabalhados na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental I. Traremos dicas de como ensinar a linguagem matemática na Educação Infantil e os demais conteúdos pertinentes às crianças até o 5º ano, além de abordar questões essenciais, como planejamento e avaliação. Desejamos a você, acadêmico, um ótimo aproveitamento desses conteúdos, que você encontre neste material um estímulo para buscar cada vez mais o conhecimento e que possa utilizar os conceitos aqui aprendidos em sua vida profissional. Bons estudos! V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS ................................................................................................ 1 TÓPICO 1 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO ........................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 EMISSOR, RECEPTOR E CANAL DE COMUNICAÇÃO ........................................................... 3 3 MENSAGEM, CÓDIGO E REFERENTE .......................................................................................... 5 4 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL ....................................................................................... 6 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 9 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 10 TÓPICO 2 – CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO .................................................................. 13 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 2 CONCEPÇÃO DE TEXTO E DISCURSO ........................................................................................ 13 3 GÊNEROE TIPOLOGIA TEXTUAL ................................................................................................. 15 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS TEXTOS QUANTO À TIPOLOGIA ................................................... 17 3.2 O TEXTO NARRATIVO .................................................................................................................. 17 3.3 O TEXTO DESCRITIVO .................................................................................................................. 20 3.4 O TEXTO ARGUMENTATIVO ...................................................................................................... 21 3.5 O TEXTO INJUNTIVO .................................................................................................................... 26 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29 TÓPICO 3 – SUPORTE E GÊNERO TEXTUAL ................................................................................. 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 UMA MULTIPLICIDADE DE SUPORTES PARA UMA INFINIDADE DE GÊNEROS ....... 31 3 ALGUNS GÊNEROS E SUA CARACTERIZAÇÃO ...................................................................... 32 3.1 JORNALÍSTICOS ............................................................................................................................. 33 3.2 CIENTÍFICOS ................................................................................................................................... 34 3.3 HUMORÍSTICOS ............................................................................................................................. 34 3.4 PUBLICITÁRIOS .............................................................................................................................. 35 3.5 LITERÁRIOS ..................................................................................................................................... 36 3.6 A CRÔNICA ..................................................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 40 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41 UNIDADE 2 – A ORALIDADE: UMA INTERAÇÃO LINGUÍSTICA ......................................... 43 TÓPICO 1 – COMUNICAÇÃO ORAL ................................................................................................ 45 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45 2 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA .................................................................. 45 3 HABILIDADES DE ESCUTA ............................................................................................................. 50 4 POSSIBILIDADES QUE ENVOLVEM A ORALIDADE E A ESCUTA NA SALA DE AULA ................................................................................................................................................ 54 suMário VIII RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................58 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................60 TÓPICO 2 – A LÍNGUA ESCRITA ....................................................................................................61 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................61 2 INTERAÇÃO AUTOR, TEXTO E LEITOR ....................................................................................61 3 A ESCRITA COMO PRÁTICA SOCIAL ........................................................................................65 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................70 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................71 TÓPICO 3 – PROPOSTAS ENVOLVENDO TEXTOS....................................................................73 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................73 2 O ENSINO NA PERSPECTIVA DO TEXTO: ESTRATÉGIAS DE ESCRITA .........................73 2.1 PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA: O QUE CONSIDERAR ..............................................79 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO DE ESTUDOS ...................................81 4 O PROFESSOR E A FORMAÇÃO CONTINUADA: PROGRAMA GESTAR .......................86 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................90 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................94 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................96 UNIDADE 3 – A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES ..............97 TÓPICO 1 – A LEITURA E O LEITOR ..............................................................................................99 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................99 2 LEITOR: UM PRODUTOR DE SENTIDOS ..................................................................................99 3 A INTERTEXTUALIDADE ...............................................................................................................101 4 A LEITURA DE IMAGEM ................................................................................................................104 5 LER E ESCREVER PRÁTICAS QUE SE ARTICULAM ...............................................................105 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110 TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS DE LEITURA ......................................................................................111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 O ATO DE LER COM CRITICIDADE ............................................................................................111 2.1 ETAPAS INERENTES À LEITURA CRÍTICA ...........................................................................112 3 PRÁTICAS DE LEITURA ..................................................................................................................113 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121 TÓPICO 3 – ATIVIDADES COM GÊNEROS TEXTUAIS A PARTIR DE SUPORTES MIDIÁTICOS ...................................................................................................................1231 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 O COMPUTADOR, A INTERNET E A SALA DE AULA ...........................................................123 3 O HIPERTEXTO .................................................................................................................................125 3.1 A WEB E OS GÊNEROS TEXTUAIS ...........................................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................133 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................135 IX UNIDADE 1 – REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DA MATEMÁTICA .......................................141 TÓPICO 1 – DA MATEMÁTICA TRADICIONAL À MATEMÁTICA ATUAL .......................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 O ENSINO DA MATEMÁTICA NO BRASIL ..............................................................................143 3 METODOLOGIAS MAIS COMUNS .............................................................................................145 4 A MATEMÁTICA TRADICIONAL ................................................................................................146 5 A MATEMÁTICA MODERNA E A MATEMÁTICA ATUAL ...................................................147 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................151 TÓPICO 2 – DOCUMENTOS NORTEADORES DO ENSINO DA MATEMÁTICA ..............153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 A LINGUAGEM MATEMÁTICA SUGERIDA NO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ...........................................................................154 3 A MATEMÁTICA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS .........156 4 A MATEMÁTICA E OS TEMAS TRANSVERSAIS ....................................................................157 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161 TÓPICO 3 – O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA .............163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 163 2 PROFESSORES E ALUNOS ENSINAM E APRENDEM JUNTOS ......................................... 163 3 COOPERAÇÃO INVESTIGATIVA: COMUNICAÇÃO E APRENDIZAGEM ..................... 166 4 EM SÍNTESE, O QUE É APRENDER E O QUE É ENSINAR? .................................................. 168 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 171 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 173 UNIDADE 2 – FUNDAMENTOS DA MATEMÁTICA ................................................................ 175 TÓPICO 1 – A ESTIMULAÇÃO DO CONHECIMENTO LÓGICO MATEMÁTICO DESDE A EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................................................... 177 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 177 2 DESENVOLVENDO HABILIDADES OPERATÓRIAS ............................................................ 177 3 A INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMÁTICA............................................................................. 187 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 190 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 191 TÓPICO 2 – A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE NÚMERO................................................ 193 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 193 2 CRIANÇAS ADORAM NÚMEROS .............................................................................................. 193 3 SENTIDO NUMÉRICO .................................................................................................................... 196 4 SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL .................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 199 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 200 TÓPICO 3 – ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA POR MEIO DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ........................................................................................................... 201 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 201 2 A SITUÇÃO-PROBLEMA COMO PONTO DE PARTIDA ....................................................... 201 3 DIFERENÇAS ENTRE EXERCÍCIOS E PROBLEMAS .............................................................. 206 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 213 X RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................218 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................220 UNIDADE 3 – CONTEÚDOS FUNDAMENTAIS ..........................................................................221 TÓPICO 1 – A LINGUAGEM MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ..........................223 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................223 2 O QUE NOS DIZ O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL (RCNEI) ...................................................................................................223 2.1 OBJETIVOS .....................................................................................................................................224 2.2 CONTEÚDOS .................................................................................................................................225 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................242 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................243 TÓPICO 2 – CONTEÚDOS FUNDAMENTAIS A SEREM TRABALHADOS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................245 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................245 2 O ENSINO DA MATEMÁTICA NO PRIMEIRO CICLO ..........................................................246 3 O ENSINO DA MATEMÁTICA NO SEGUNDO CICLO ..........................................................248 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................251 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................252 TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO, RECURSOS E AVALIAÇÃO NO ENSINO DA MATEMÁTICA ...............................................................................................................253 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................253 2 PLANEJAMENTO ..............................................................................................................................253 3 RECURSOS DIDÁTICOS PARA A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA ...............................255 3.1 JOGOS ..............................................................................................................................................255 3.2 TECNOLOGIAS .............................................................................................................................259 4 AVALIAÇÃO ........................................................................................................................................262 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................270 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................272 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 273 1 UNIDADE 1 O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Nesta unidade, você será capaz de: • refletir sobre os elementos envolvidos no processo da comunicação; • discutir as noções de texto, discurso, tipologia textual e gênero textual, bem como possíveis diferenças que envolvem tais conceitos; • reconhecer as principais características das tipologias textuais e de alguns gêneros, que fazem parte do cotidiano e devem ser explorados no espaço escolar; • favorecer a criticidade e o desenvolvimento linguístico do educando; • compreender a noção de suporte como base de fixação do gênero. Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um você encontrará atividades para maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO TÓPICO 2 – CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO TÓPICO 3 – SUPORTE E GÊNERO TEXTUAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 1 INTRODUÇÃO A comunicação pode ser concebida como um espaço de interlocução realizada enquanto processo social. O pressuposto dessa concepção prioriza a relação do sujeito com a língua e suas condições de uso, considerando-a não só como instrumento de informação, mas constitutiva do homem, como resultado das interações sociais. De acordo com Bordenave (1986, p. 17), a comunicação se confunde com a vida, comunicamos tanto quanto respiramos ou andamos, “somente percebemos a sua importância quando, por acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar”. Devemos considerar que, em todo ato de comunicação, existe uma intenção e um objetivo por parte de quem expressa uma mensagem. O processo se faz e refaz o tempo todo. Veremos a seguir os elementos que fazem parte dessa dinâmica. 2 EMISSOR, RECEPTOR E CANAL DE COMUNICAÇÃO As pessoas se comunicam o tempo todo de diversas maneiras, por meio de desenho, pintura, escrita, por gestos, telefone, internet, dentre outros. Antes de refletirmos sobre os elementos envolvidos no processo da comunicação, é essencial que recordemos que o linguista russo Roman Jakobson (1974) caracterizou seis funções de linguagem, ligadas a todo o processo comunicativo, quais sejam: a função referencial, cuja ação resulta na objetividade da informação; a emotiva ou expressiva, na qual são encontradas as opiniões ou emoções daquele que profere a mensagem; a função conativa ou apelativa, que possui como principal objetivo influir no comportamento dos participantes; a fática, que, por sua vez, possui como escopo manter acessível o diálogo entre os interlocutores; a denominada função poética, que ocorre quando a construção e a elaboração da mensagem é pensada a partir do literário; e, por último, a função metalingüística, que acontece quando o código explica um elemento do próprio código. Além disso, é importante observar que a linguagem sempre varia de acordo com a situação e as funções de linguagem nunca estão isoladas, mas se mesclam e se combinam. UNIDADE 1O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 4 Quando nos comunicamos, desejamos confirmar algo ou demonstrar sentimentos, persuadir alguém, dentre outros intentos, mas para que a comunicação aconteça são necessários que alguns elementos se relacionem. Observe o esquema a seguir: FONTE: Disponível em: <www.coladaweb.com/img/gallery/linguagem_2.JPG>. Acesso em: 22 set. 2010. FIGURA 1 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Referente Código Mensagem Canal de ComunicaçãoEmissor Receptor Chamamos de emissor quem fala ou escreve a alguém, aquele que emite uma mensagem, considerado como fonte da informação. É denominado de receptor ou destinatário quem ouve ou lê o que foi transmitido pelo emissor. A comunicação efetiva-se quando a mensagem incide de alguma maneira sobre o receptor. Entendida não necessariamente como compreensão, mas recepção. Para tanto, o homem utiliza sinais devidamente organizados de acordo com o espaço físico, o assunto tratado e os meios utilizados para a comunicação. Outro elemento que faz parte desse esquema é o canal ou contato, ou seja, a via de circulação de mensagens. No conjunto da comunicação, deverá ser um elemento comum ao codificador e ao decodificador da informação veiculada. Os órgãos dos sentidos são considerados canais de comunicação. Podemos receber mensagens auditivas por meio de palavras, músicas e sons variados. Também são transmitidas mensagens por meio do tato, como: pressões, trepidações, toque, dentre outros. Os vários aromas, como, por exemplo, um perfume, são mensagens olfativas e as gustativas envolvem temperos e sensações de quente, frio ou morno. Como vimos, os sentidos são os canais físicos pelos quais uma mensagem é transmitida, mas para que se estabeleça a comunicação é necessário alguém para lhe dar sentido. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 5 3 MENSAGEM, CÓDIGO E REFERENTE Para que a comunicação se efetive é imprescindível o emissor, o receptor e o canal. Ligada a esse processo está a mensagem, que se constitui a partir do conteúdo das informações propagadas, ou seja, da combintação de signos destinados a transmitir uma informação específica. A mensagem pode ser entendida como um conjunto de palavras ou frases dispostas numa unidade de sentido coerente para um determinado contexto. O referente ou contexto é também parte integrante do ato de comunicação, entendido como o objeto ou a situação à qual a mensagem se refere. A produção e a recepção de mensagens estão sempre relacionadas às circunstâncias que ocorrem, pois o contexto delimita e precisa os signos, não há texto sem contexto. Há dois tipos de referentes: o situacionale o textual. O primeiro é constituído pelos elementos da situação do emissor e do receptor e pelas circunstâncias de transmissão da mensagem. Ocorre em situações nas quais emissor e receptor estão em contato direto com os referentes. Perceba, caro acadêmico, que, por exemplo, em uma sala de aula, quando a professora se dirige ao aluno e diz “feche o caderno, guarde o material”, a mensagem remete a uma situação espacial, temporal e a objetos reais. O segundo referente, denominado textual, é constituído pelos elementos do contexto linguístico que estabelecem a conectividade e a retomada de ideias, construindo uma cadeia significativa e garantindo a unidade do texto. Analise a frase extraída de Koch (2006, p. 101): “Os caminhoneiros fizeram uma paralisação, bloqueando totalmente as principias rodovias do território nacional. Considere-se que esse meio de transporte é vital para a economia do país”. O pronome demonstrativo esse se refere a caminhões e, nesse caso, é considerado um exemplo de referente textual. Além disso, o contexto desempenha um papel primordial e a ideia de comunicação sem o mesmo se torna insustentável. Van Dijk (apud KOCH, 2006, p. 33) define contexto como o “conjunto de propriedades da situação social que são sistematicamente relevantes para a produção, compreensão ou funcionamento do discurso e de suas estruturas”. Isso significa que, para que um texto seja compreendido e cumpra seu objetivo, deve apresentar os seguintes fatores de textualidade: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. As pessoas aplicam “os fatores ou princípios de textualidade a todo conjunto de palavras com que se defrontam, buscando fazer com que essas palavras possam ser entendidas como um texto – compreensível, normal e com sentido” (BEAUGRANDE; DRESSLER, 1981 apud VAL, 2004, p. 3). UNIDADE 1O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 6 Outro elemento presente no ato da comunicação é o código, um conjunto de signos com regras convencionais, que permite, a um grupo social, a elaboração de uma mensagem. O emissor lança mão do código para elaborar sua mensagem e o receptor, por sua vez, identificará esse sistema de signos. É importante ressaltar que a comunicação se efetivará por meio da linguagem verbal e não verbal. Refletiremos sobre isso no próximo item. IMPORTANT E Caro acadêmico, uma proposta voltada ao ensino da Língua Portuguesa é a de o professor levar o aluno a atentar para esses fatores presentes em textos, pois o sentido não reside tão somente na sua materialidade, está atrelado às condições de produção, ou seja, às condições cognitivas, sociais e interacionais que estão imbricadas nos eventos comunicativos. 4 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL “... é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito”. (Benveniste) O homem dispõe de recursos verbais e não verbais para se comunicar. A linguagem ou código verbal é aquela que comporta a fala ou escrita, que se concretiza numa determinada língua e se manifesta por palavras. Contudo, além dessa, há outras formas de linguagem, como a pintura, a mímica, a dança, a música, sinais luminosos, dentre outros, que são denominadas de linguagem não verbal. Por meio dessas linguagens, o homem representa o mundo, exprime seu pensamento, comunica-se e influencia os outros. Nos dois tipos de linguagem são combinados os signos, de acordo com certas regras, obedecendo a mecanismos de disposição. Há que se considerar que um mesmo fato poderá ser transmitido por meio de um código verbal ou não verbal. A linguagem verbal é linear, ou seja, signos e sons que a constituem ocorrem um após o outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita. Em outras palavras, cada fonema é empregado num momento distinto do outro. O Soneto de Fidelidade de Vinícius de Morais corresponde a um belo exemplo de linguagem verbal, através de palavras. Soneto de Fidelidade “De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 7 Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. (Até um dia meu anjo)” FONTE: Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/de_tudo_ao_meu_amor_serei_atento/>. Acesso em: 20 abr. 2012. Já na linguagem não verbal, vários signos podem ocorrer simultaneamente. Quando contemplamos um quadro, captamos de maneira imediata o conjunto de seus elementos e, depois, por um processo analítico, decompomos essa totalidade. A linguagem não verbal pode estar presentes na literatura, nas histórias em quadrinhos, charges, placas de sinalização, etc ... FIGURA 2 – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS FONTE: Disponível em: <http://painsalgodaodoce.blogspot.com/2012/01/linguagem-nao-verbal. html>. Acesso em: 20 abr. 2012. A pintura de Leonardo da Vinci é um exemplo de linguagem não verbal dentro da pintura. Para cada pessoa será uma mensagem. UNIDADE 1O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 8 FIGURA 3 - LINGUAGEM NÃO VERBAL FONTE: Disponível em: <poeticia.blogspot.com>. Acesso em: 20 abr. 2012. Os textos verbais e não verbais reproduzem a realidade e/ou exploram temas abstratos. Assim, podemos concluir que há inúmeras formas de linguagem verbal e não verbal. Na história em quadrinhos de Maurício de Sousa observamos que pode ocorrer ao mesmo tempo a linguagem verbal e não verbal, chamada de linguagem mista. Em que encontramos palavras e figuras. Parece impossível pensar a humanidade sem essas formas de linguagem, suporte para o compartilhamento de experiências, saberes, sentimentos, cultura e conhecimento. Além disso, a linguagem se materializa em diferentes textos. Sendo assim, no próximo tópico refletiremos sobre as principais diferenças entre tipologia e gêneros textuais. NOTA Para aprimorar seus estudos, leia a síntese sobre as funções da linguagem realizada por Richard Romancini, tendo por base os estudos de Ramon Jakobson. 9 Neste tópico, você aprendeu que: • Chamamos de emissor quem fala ou escreve a alguém. • É denominado de receptor ou destinatário quem ouve ou lê o que foi transmitido pelo emissor. • O canal ou contato é a via de circulação de mensagens. No conjunto da comunicação, deverá ser um elemento comum ao codificador e ao decodificador da informação veiculada. • Os sentidos são os canais físicos pelos quais uma mensagem é transmitida. • O homem utiliza recursos verbais e não verbais para se comunicar. O código verbal é aquele que comporta a fala ou a escrita. A linguagem verbal é linear, ou seja, signos e sons que a constituem ocorrem um após o outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita. • A linguagem não verbal se utiliza de símbolos, pintura, a mímica, sinais luminosos, dentre outros. • Na linguagem verbal e não verbal são combinados os signos, de acordo com certas regras, obedecendo a mecanismos de disposição. Há que se considerar que um mesmo fato poderá ser transmitido por meio de um código verbal ou não verbal. • As formas de linguagem são suporte para o compartilhamento de experiências, saberes, sentimentos, cultura e conhecimento. RESUMO DO TÓPICO 1 10 1 Para que a comunicação aconteça são necessários alguns elementos. Sobre os mesmos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. ( ) O emissor é aquele que fala ou escreve a alguém; é consideradofonte da informação. ( ) É denominado de receptor quem ouve ou lê o que foi transmitido pelo emissor. ( ) Para a elaboração da mensagem, o homem se utiliza de sinais devidamente organizados de acordo com o espaço físico, o assunto tratado e os meios utilizados para a comunicação. ( ) O canal ou contato é também um dos elementos que fazem parte da comunicação; pode ser entendido como a via de circulação de mensagens. No conjunto da comunicação, deverá ser um elemento comum ao codificador e ao decodificador da informação veiculada. ( ) O referente ou contexto é também parte integrante do ato de comunicação, entendido como o objeto ou a situação à qual a mensagem se refere. A produção e a recepção de mensagens estão sempre relacionadas às circunstâncias que ocorrem, pois o contexto delimita e precisa os signos; não há texto sem contexto. ( ) Outro elemento presente no ato da comunicação é o código, um conjunto de signos com regras convencionais que permite a um grupo social a elaboração de uma mensagem. O emissor lança mão do código para elaborar sua mensagem, e o receptor, por sua vez, identificará esse sistema de signos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - V - V - V. b) ( ) F - V - F - V - V - V. c) ( ) V - F - F - F - V - V. d) ( ) F - F - V - V - F - V. 2 Estudamos que o homem dispõe de recursos verbais e não verbais para se comunicar. Escreva algumas das características que representam cada uma dessas linguagens. 3 Leia, novamente, a Leitura Complementar que se encontra ao final do Tópico 1 e, em seguida, elabore um resumo contemplando as funções da linguagem. AUTOATIVIDADE 11 4 Ramon Jakobson (1974) postulou seis diferentes funções da linguagem. Ainda segundo o mesmo autor, dificilmente uma mensagem possuiria apenas uma função, mas é possível notar uma função predominante em cada mensagem. No que se refere às funções da linguagem, preencha as lacunas e em seguida assinale a alternativa que apresenta as palavras que completam as lacunas corretamente: A _______________ é também denominada de função denotativa ou cognitiva, é aquela cujo foco é a definição, explicitação, caracterização de aspectos do contexto da comunicação. A _______________ visa expressar a atitude de quem transmite a mensagem. A _______________ geralmente possui o vocativo e o modo imperativo como uma de suas características. Uma das características da _______________ é a utilização de diferentes recursos de linguagem tais como a rima, a sinestesia, a aliteração, a metáfora, a metonímia, dentre outras. a) ( ) função referencial - função emotiva - função poética - função metalinguística. b) ( ) função conativa - função poética - função referencial - função fática. c) ( ) função metalinguística - função fática - função referencial - função poética. d) ( ) função referencial - função emotiva - função conativa - função poética. 12 13 TÓPICO 2 CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para nos expressar oralmente, fazemos uso de palavras ou frases, dispostas numa unidade de sentido que denominamos texto. O processamento textual, quer em termos de produção, quer em termos de compreensão, é constituído a partir de estratégias inscritas no enunciado. Assim, em diferentes situações de uso, os enunciados vão sendo organizados em termos de extensão, conteúdo e estrutura, conservando características comuns, daí a serem considerados tipos relativamente estáveis. Bakhtin (1997) denomina gêneros de discurso esses tipos estáveis de enunciado. A seguir, apresentaremos algumas noções de texto, tipologia textual, gênero textual e possíveis diferenças que envolvem tais conceitos. 2 CONCEPÇÃO DE TEXTO E DISCURSO De acordo com Koch (2006), o conceito de texto depende do conceito de língua e sujeito e, por esse motivo, sempre teremos à disposição mais de uma definição de texto. A autora parte da concepção interacional, dialógica, na qual os sujeitos são percebidos atores e construtores, sendo que o texto é lugar de interação ativa. Desse modo, o conceitua como: [...] uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação, de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com as práticas socioculturais (KOCH, 2006, p. 22). Nessa interação, os sujeitos envolvidos constroem uma representação do que querem informar, ativando, para tanto, saberes e conhecimentos prévios e, além disso, aplicam os “fatores ou princípios de textualidade, ou seja, a coerência, a coesão, a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, os quais corroboram para que as palavras possam ser entendidas como um texto inteligível” (BEAUGRANDE; DRESSLER, 1981 apud VAL, 2004, p. 4). UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 14 Quanto à coerência, essa depende significativamente dos conhecimentos do leitor. Os sujeitos envolvidos necessitam partilhar o vocabulário, as características da língua, os tipos e gêneros textuais, a visão de mundo, as crenças, as expectativas e os valores. Outro princípio é a coesão, responsável pela unidade formal do texto. Essa é construída através de mecanismos gramaticais e lexicais. A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a inter-relação semântica entre os elementos do discurso. A primeira faz referência à lógica entre os conceitos, e a segunda, por sua vez, à expressão desse vínculo no plano linguístico. Beaugrande e Dressler (1981 apud VAL, 2004) falam ainda de outro componente de textualidade: a intertextualidade, que concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s). O fator denominado situacionalidade, diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre a situação comunicativa. Além disso, há que se considerar que o interesse do leitor vai depender do grau de informatividade de que o texto é portador. Já a intencionalidade faz menção ao propósito do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A aceitabilidade, por sua vez, diz respeito à expectativa do receptor e constitui a contraparte da intencionalidade. Sendo assim, para elaborar um texto, faz-se uso de estruturas e formas mais ou menos estáveis, conteúdos específicos e utiliza-se fatores de textualidade que, de certo modo, são diretamente influenciados pela história discursiva individual do escritor. Nessa reflexão sobre os fatores de textualidade, a pretensão é mostrar a você, acadêmico, que, na prática da escrita, existem muitos aspectos a serem considerados, pois uma sequência textual se refere à maneira de organizar o texto linearmente, formando uma unidade coesa e coerente, expressando linguisticamente o efeito de sentido. Já as modalidades discursivas são formas de organização dos gêneros textuais com a finalidade de produzir um efeito discursivo específico nas relações entre os usuários de uma língua. A linguística, durante muito tempo, limitou seus estudos às dimensões da frase, como unidade por excelência, com significação autônoma. Com o alargamento dos estudos, ocorre uma mudança de posicionamento, passando a conceber o texto, e não mais a frase, como unidade de sentido. Segundo Fiorin (2006, p. 13), as frases não podem ser consideradas de forma isolada, mas sim dentro do encadeamento que se articula internamente para instituir uma rede de sentidos, pois “Todotexto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais amplo". O ser humano está inserido em um contexto, vive em uma rede de relações sociais, que têm em comum proibições, regras, permissões, que exercem influência direta sobre cada componente do grupo. Segundo Meurer (1997, p. 15), “vivemos em ambientes institucionalmente organizados, [...] as instituições são caracterizadas por práticas e valores específicos e que tais valores são expressos através da linguagem”. O autor em questão define texto e discurso como: TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 15 O discurso é o conjunto de afirmações que, articuladas através da linguagem, expressam os valores e significados das diferentes instituições; o texto é realização linguística na qual se manifesta o discurso. Enquanto o texto é uma entidade física, a produção linguística de um ou mais indivíduos, o discurso é o conjunto de princípios, valores e significados por trás do texto. Todo discurso é investido de ideologias, isto é, maneiras específicas de conceber a realidade. Além disso, todo discurso é também reflexo de uma certa hegemonia, isto é, exercício de poder e domínio de uns sobre outros. A partir dessas características, o discurso organiza o texto e até mesmo estabelece como o texto poderá ser, quais tópicos, objetos ou processos serão abordados e de que maneira o texto deverá ser organizado (MEURER, 1987, p. 45). Sendo assim, os textos são diferentes em função das diferentes instituições que os criam. Por exemplo, um texto criado dentro do discurso da Igreja será diferente de um criado dentro do discurso de partidos políticos, cada qual, em seu discurso, expressará determinadas ideologias, determinadas maneiras de ver e ler o mundo. Os eventos discursivos são as atividades de linguagem efetuadas em determinados ambientes discursivos, através de gêneros textuais, que, por sua vez, são instituídos de modalidades discursivas e de sequências textuais, com objetivos específicos de interação. O uso de gêneros do discurso como o judiciário, o midiático, o escolar, o religioso, o familiar, o político se refere aos ambientes discursivos. No tópico a seguir, abordaremos as principais características, bem como as possíveis diferenças inerentes ao gênero e à tipologia textual. 3 GÊNERO E TIPOLOGIA TEXTUAL A palavra gênero tem sido usada desde Platão, para diferenciar o modo pelo qual os textos se caracterizam como gênero lírico, dramático e épico. Faraco (2003, p. 108), acerca da etimologia da palavra gênero, afirma que “a base indo-europeia - gen- significa ‘gerar’, ‘produzir’. Em latim, ligada a esta base aparece o substantivo genus, generis, genitum, gignere que significa ‘gerar’, ‘criar’, ‘produzir’, ‘provir’”. Ainda segundo Faraco (2003), o termo gênero é usado para designar tipos de textos; é uma extensão da noção de descendência. Dizendo de outro modo, o ser humano é agrupado por descendência de um mesmo ancestral, os escritos possuem certas características ou propriedades comuns e podem, também, a partir das mesmas, serem agrupados. Para Bakhtin (1997), todo o enunciado oral ou escrito corresponde a um gênero, que por sua vez possuem uma estabilidade relativa e são aprendidos na sociedade da qual o sujeito faz parte. O autor classifica os gêneros em primário e secundário. O primário corresponde à linguagem familiar, informal. Os gêneros secundários são mais complexos, sistematizados, tais como o teatro, o romance, os textos científicos, dentre outros. UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 16 UNI Mikhail Mikhailovitch Bakhtin nasceu em 1895. Formou-se em História e Filologia na Universidade de São Petersburgo, mesma época em que iniciou encontros para discutir linguagem, arte e literatura com intelectuais de formações variadas, no que se tornaria o Círculo de Bakhtin. Marcuschi (2002) distingue tipo de gênero textual. De acordo com esse autor, os tipos textuais abrangem a narração, a descrição, a argumentação, a exposição e a injunção. Os gêneros textuais, por sua vez, são inúmeros, tais como: telefonema, carta, romance, dentre outros. Além disso, estabelece outras diferenças, com as quais os tipos textuais constituem os enunciados encontrados no interior de um gênero. Veja o quadro a seguir: TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS 1 constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas; 2 constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados e não são textos empíricos; 3 sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; 4 designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição. 1 realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas; 2 constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3 sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4 exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc. FONTE: Disponível em: <http://www.idadecerta.seduc.ce.gov.br/download/eixo_alfabetizacao_ 10_110809_porto_aldeia/generos_textuais_marcusck.doc.>. Acesso em: 20 jul. 2010. QUADRO 1 – GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE Segundo Marcuschi (2002), os gêneros contribuem para as atividades que envolvem a comunicação, são flexíveis e dinâmicos, ou seja, nas sociedades anteriores à comunicação escrita, o conjunto de gêneros desenvolvido pelas mesmas era limitado. Há que se considerar que com o advento da cultura impressa, da industrialização e, mais recentemente, da tecnologia, ocorreu uma expansão TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 17 de novos gêneros e formas de comunicação. As novas tecnologias favorecem o surgimento de novos gêneros, ao mesmo tempo em que esses possuem marcas de seus antecessores, é o caso do correio eletrônico, que tem nas cartas pessoais ou comerciais e no bilhete os seus antecessores. De acordo com o exposto, a expressão tipo de texto, usada no cotidiano e nos livros didáticos, é empregada de forma equivocada. Uma carta pessoal é um gênero textual e contém em seu interior várias sequências tipológicas. Ao falarmos ou escrevermos, estaremos sempre “arranjados” no interior de algum gênero que são permeados por tipos textuais. DICAS Caro acadêmico, para aprofundar suas reflexões, sugerimos a leitura do livro “Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão”, de Luiz Antonio Marcuschi. O trabalho com gêneros converge para o que preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais, no que se refere ao fazer pedagógico, ou seja, exploração dos mais variados gêneros. Todavia, antes de refletirmos sobre questões que envolvem o texto em sala de aula, aprofundaremos nossos estudos acerca das tipologias textuais e suas principais características. 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS TEXTOS QUANTO À TIPOLOGIA Como vimos anteriormente, os gêneros textuais são inúmeros e os tipos textuais podem ser classificados em textos narrativos, argumentativos, descritivos e injuntivos. A seguir, faremos uma explanação das principais características de cada uma dessas tipologias textuais, por entender que as mesmas fazem parte do cotidiano e devem ser exploradas no espaço escolar, com o intuito de favorecer a criticidade e o desenvolvimento linguístico doeducando. 3.2 O TEXTO NARRATIVO A narração é um tipo de texto real ou ficcional, em que se conta uma história, um acontecimento ou um ato. Na linguagem profissional, seu uso é frequente em relatórios, termos de audiências e atas, dentre outros. É também muito explorada na literatura. Os elementos que fazem parte da narrativa literária são recursos dos quais o escritor lança mão para a dinamização das personagens e do enredo, com o intuito de atrair a atenção do leitor. Nesse sentido, é importante que, na escola, o UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 18 professor atente para esses aspectos, a fim de que esse possa refletir juntamente com os alunos o que engendra uma narração. A narrativa estrutura-se a partir da apresentação, também conhecida como início, na qual o autor apresenta parte do ambiente, algumas circunstâncias e personagens presentes na história. Outro aspecto é o conflito ou a complicação, período em que o aparente equilíbrio dá lugar a transformações expressas em um ou mais episódios que se sucedem. Já no clímax a narrativa atinge seu ponto máximo, que converge para o desfecho e, geralmente, acontecendo a solução do conflito. Observe a narração que segue de Carlos Drummond de Andrade. O furto da flor Carlos Drummond de Andrade Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e a coloquei num copo. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destinava-se a beber, e uma flor não é para ser bebida. Passei-a para um vaso e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo o autor do furto, eu assumia a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí- la ao jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu furtara, eu via morrer. Já murcha e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde nascera. O porteiro estava atento e repreendeu-me: - Que ideia a sua de vir jogar lixo neste jardim! FONTE: ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos Plausíveis. Rio de Janeiro: José Olímpio. (s.d). Nessa narrativa, percebe-se a presença bem distinta da introdução, na qual são expressas as informações necessárias ao entendimento do texto; a complicação, em que as personagens iniciam o desencadeamento do processo e o aparente equilíbrio dá lugar a transformações; o clímax, no qual se verifica o ponto de maior tensão; e, por fim, a conclusão, em que a questão é organizada e o equilíbrio é retomado. Outro elemento da narrativa faz menção à fala das personagens. Essa pode ser marcada pelo discurso direto (reprodução direta das falas das personagens) ou discurso indireto livre, em que a narrativa é permeada pela intervenção do TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 19 narrador e pela fala das personagens. Outro tipo de discurso encontrado é o indireto. Nesse caso, cabe ao narrador a tarefa de contar os fatos que se sucedem com as personagens. Além disso, uma narrativa pode ser conduzida por um narrador não participante, que se situa fora dos acontecimentos, ou por uma personagem que convive com os outros na história narrada e toma parte da mesma. A narrativa, portanto, poderá ser escrita na primeira ou na terceira pessoa do discurso. Veja um exemplo de narrador não participante, ou seja, a ele cabe somente o papel de contar a história: A filha mais amada que qualquer outra Era uma vez um rei que tinha uma filha. Não tinha duas, tinha uma e como só tinha essa gostava dela mais do que qualquer outra. A princesa também gostava muito do pai, mais do que de qualquer outro, até o dia em que chegou o príncipe. Aí ela gostou do príncipe mais do que de qualquer outro. O pai, que não tinha outra para gostar, achou logo que o príncipe não servia. Mandou investigar e descobriu que o rapaz não tinha acabado os estudos, não tinha posição, e o reino dele era pobre. Era bonzinho, disseram, mas enfim, não era nenhum marido ideal para uma filha de quem o pai gosta mais do que de qualquer outra. O rei então chamou a fada madrinha da princesa. Pensaram, pensaram, e chegaram à conclusão de que o jeito melhor era botar a moça para dormir. Quem sabe, no sono sonhava com outro e se esquecia dele. Dito e feito, deram uma batida mágica para a jovem, que adormeceu na hora, sem nem dizer boa-noite. FONTE: COLOSANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979, p. 53-54. Outro aspecto faz alusão ao espaço, ambiente, ou cenário, por onde se desenvolve a trama e circulam as personagens. Seu meio familiar, social, tipo de habitação, clima, vestuário são elementos do espaço que corroboram para a significação e a verossimilhança da narrativa. O tempo também é fator a ser considerado, sendo assim, o narrador pode se posicionar de diferentes maneiras em relação aos acontecimentos. Ele pode narrar os fatos no tempo em que eles estão acontecendo, narrar um fato já concluído ou entremear presente e passado. UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 20 3.3 O TEXTO DESCRITIVO Fazer uso da linguagem para representar a imagem de alguma cena, seres ou objetos é adotar o ato de descrever. Os textos que possuem como estratégia predominante a descrição oferecem a possibilidade de visualizar o cenário, as personagens, os objetos no qual uma determinada ação se desenvolve. Podemos encontrar a descrição em romances, novelas, contos, nos textos de jornais e revistas, nos dicionários, em textos científicos, dentre outros. A reprodução fiel do objeto é uma das características do texto descritivo, para tanto o escritor emprega a linguagem denotativa. Já na linguagem subjetiva, o objeto é idealizado a partir de como ele é visto e sentido, e essa linguagem é comumente encontrada em textos literários e faz uso da linguagem conotativa, das comparações, das metáforas. Além disso, na organização desse tipo de texto, quem escreve capta a realidade a partir de um ponto de vista, organizando as ideias no intuito de informar o leitor, convencê-lo, transmitir impressões, sentimentos e emoções. A descrição também aparece nos textos argumentativos, nesse caso, fornece dados para o desenvolvimento da arguição. Observe o texto que segue do escritor Graciliano Ramos: Entreabriu a porta, mergulhou na faixa de luz que passou pela fresta, correu o trinco devagarinho. Avançou, temendo esbarrar nos móveis. Acostumando a vista, começou a distinguir manchas: cadeiras baixas e enormes, que atravancavam a saleta. Escorregou para uma delas, o coração aos baques, o fôlego curto. Afundou no assento gasto. As rótulas estalaram, as molas do traste rangeram levemente. Ergueu-se precipitado, encostou-se à parede, com receio de vergar os joelhos. Se as juntas fizessem barulho, os moradores iriam acordar, prendê-lo. Achou-se fraco, sem coragem para fugir ou defender-se. Acendeu a lâmpada e logo se arrependeu. O círculo de luz passeou no assoalho, subiu numa cadeira e sumiu-se. A escuridão voltou. Temeridade acender a lâmpada. FONTE: RAMOS, Graciliano. Um Ladrão. In: ______. Insônia. São Paulo: Record, 1947. O texto apresentado é classificado como narração, uma vez que o escritor fez uso de uma das características básicas dessa tipologia textual, qual seja, a sequência cronológica, marcada pela sucessão de ações que são expressas através dos verbos entreabriu, mergulhou, correu, avançou... Note, porém, que a narrativa é interrompida para dar espaço à descrição: cadeiras baixas e enormes, que atravancam a saleta. É como se a cronologia da narrativa parasse para, em seguida, a descrição ser retomada. Pode-se dizer, então, que a descrição apresenta uma suspensão do curso do tempo parasublinhar as características de um objeto, ser ou processo. Além disso, a que se considerar que existem textos descritivos ditos puros, como é o caso das listas, por exemplo. TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 21 3.4 O TEXTO ARGUMENTATIVO Ao consultar o dicionário (HOUAISS; VILLAR, 2009), constatamos que a palavra argumento pode ser entendida como apresentar ideias em objeção a outras ideias; entrar em controvérsia; discutir, disputar. Caracteriza-se por ampliar a discussão de um assunto ou tema, com o objetivo de influenciar, persuadir, conquistar. Um argumento, geralmente, vem acompanhado de provas e técnicas de convencimento, com o intuito de provocar adesão ou mudança de um ponto de vista. Um texto argumentativo pode ser analisado a partir de uma intenção. Segundo Koch (1984), a intenção institui a seleção e a elaboração da estratégia argumentativa, desde a seleção do tema, a estruturação, bem como os recursos linguísticos e estilísticos a serem utilizados para melhor persuadir o leitor. Observe a estrutura de um texto argumentativo. O primeiro exemplo é de argumentação formal, o segundo é de argumentação informal. A nomenclatura é de Garcia. Vejamos, primeiramente, como o autor caracteriza a argumentação formal: 1 Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento. 2 Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos. 3 Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos etc. 4 Conclusão. O texto a seguir contém os elementos da argumentação formal. Gramática e desempenho linguístico Gilberto Scarton 1 Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua. 2 Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estudo de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O “desempenho linguístico”, por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de atualização da competência na produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação. UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 22 3 A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte de escrever”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc. II a.C.: Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos. 4 Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e linguistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sua obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino” (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística, reúne, numa mesma obra convincente, fundamentação para seu combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas: Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício. (p. 99) 5 Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre acima referida, suponha- se que se deva recuperar linguisticamente um jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares..., e estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância, regências..., os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à construção do texto. TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 23 6 Poder-se-á objetar que o ilustração de há pouco é apenas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra-argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PUC-RS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%, ou seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom. 7 Finalmente, pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são os gramáticos, os linguistas - como especialistas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo. 8 Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse significativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática, declarou que nada havia entendido; dificilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam aprovados num teste de português à maneira tradicional (e, no entanto, eles são os senhores da língua!). 9 Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro. O esquema do texto em seus quatro estágios é: • Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia claramente a tese a ser defendida. • Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se definem as expressões “estudo intencional da gramática” e “desempenho linguístico”, citadas na tese.• Terceiro estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos. • Quarto estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão. UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 24 Observe, agora, a caracterização da argumentação informal. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios: 1 Citação da tese adversária. 2 Argumentos da tese adversária. 3 Introdução da tese a ser defendida. 4 Argumentos da tese a ser defendida. 5 Conclusão. Leia o texto de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça. Considerações sobre justiça e equidade Luís Alberto Thompson Flores Lenz 1 Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico e acadêmico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação. 2 Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional. 3 Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização desse entendimento. 4 Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos Arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado. 5 Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: “O magistrado não pode sobrepor os seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso”. 6 Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria, na condição de legislador. TÓPICO 2 | CONCEPÇÃO E TIPOLOGIA DE TEXTO 25 7 A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e amores do juiz de plantão. 8 De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis. 9 Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional. 10 A própria independência do parlamento sucumbiria integralmente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração de suas deliberações. 11 Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização. 12 Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como proceder. 13 Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção. 14 Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto. 15 Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído, independentemente da correspondente com a justiça social”. 16 Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados diretamente pelo povo. 17 Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Legislação. Esquema do texto em seus cinco estágios: ● Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária. ● Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento da tese adversária “... fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional”. UNIDADE 1 | O HOMEM E A CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS GÊNEROS TEXTUAIS 26 ● Terceiro estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese a ser defendida. ● Quarto estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos. ● Quinto estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo da argumentação. FONTE: Adaptado de: <http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php>. Acesso em: 20 set. 2010. Os aspectos sobre os textos argumentativos são assunto amplo e objeto de estudo de áreas diversificadas, tais como Análise do Discurso, Linguística do Texto, Pragmática, dentre outras, o que contribui para melhores resultados pedagógicos, na orientação da leitura e da aprendizagem da escrita. 3.5 O TEXTO INJUNTIVO É um tipo de texto que, geralmente, requer uma resposta direta ou indireta do receptor. É organizado de modo a incidir diretamente sobre os sentidos. Verbos no imperativo, “Investigue e descubra se o rapaz estudou e qual sua posição social”. No presente do indicativo, com sujeito indeterminado: “Chegou- se à conclusão de que o jeito melhor era botar a moça para dormir”, são algumas das marcas dessa tipologia textual. Outro exemplo de tipologia injuntiva pode ser retirado de uma receita. Veja a receita de Massinha de modelar: Material 2 xícaras (cerca de 250 ml) de farinha de trigo; 1 xícara (cerca de 125 ml) de sal; água suficiente para dar consistência de pão à massa (pouco mais do que 1 xícara); 2 colheres de sopa de óleo comestível. Se preferir, o óleo de amêndoa deixa um cheiro agradável nas mãos; Corante comestível de várias cores. Se optar por anilina, verifique se está escrito “comestível” na embalagem. É o mesmo tipo usado para enfeitar bolos. Outra opção é o coloral de origem vegetal ou pó de suco instantâneo. Preparo: Junte a farinha ao sal, obtendo uma mistura homogênea. Adicione corante à água que será usada para dar consistência à massa. Aos poucos, misture a água corada à mistura de farinha e sal, e vá misturando até obter um ponto de massa de pão. Se você quiser obter uma cor mais forte, adicione mais corante à massa. Por fim, adicione aos poucos o óleo e misture bem. FONTE: GREGG, Elizabeth M. Dê uma atividade a seu filho quando ele não tiver o que fazer. Rio de Janeiro: José Olympio, 1988. p. 123 Vimos, com relação ao exposto até aqui, que não podemos considerar gênero como sinônimo de tipo textual, uma vez que cada qual possui especificidades e características que os distinguem. 27 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O texto é um espaço que promove a interação, no qual os sujeitos envolvidos constroem uma representação do que querem informar, ativando, para tanto, saberes e conhecimentos prévios. • Os princípios de textualidade, quais sejam: a coerência, a coesão, a intencionalidade,