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Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Apg 18- Síndromes cerebelares Objetivos: 1- Revisar a morfofisiologia do cerebelo; 2- Compreender a fisiopatologia e manifestações clínicas das Síndromes Cerebelares; 3- Entender a conduta de tratamento para a intoxicação medicamentosa. O cerebelo, segunda maior estrutura encefálica (perdendo apenas para o telencéfalo [cérebro]), ocupa as regiões inferior e posterior da cavidade craniana. Assim como o telencéfalo (cérebro), o cerebelo tem uma superfície com vários giros que aumenta muito a área do córtex (substância cinzenta), permitindo a presença de um número maior de neurônios. Ele é responsável por cerca de um décimo da massa encefálica, embora contenha quase a metade dos neurônios de todo o encéfalo. O cerebelo se localiza posteriormente ao bulbo e à ponte e inferiormente à parte posterior do telencéfalo (cérebro) . Um grande sulco conhecido como fissura transversa do cérebro, junto com o tentório do cerebelo – que sustenta a parte posterior do telencéfalo (cérebro) – separa o cerebelo do telencéfalo (cérebro). Nas vistas superior e inferior, o cerebelo tem um formato que lembra o de uma borboleta. A área central menor é conhecida como verme do cerebelo, e as “asas” ou lobos laterais, como hemisférios do cerebelo. Cada hemisfério é composto por lobos separados por profundas e distintas fissuras. Os lobos anterior e posterior controlam aspectos subconscientes dos movimentos da musculatura esquelética. O lobo floculonodular da parte inferior contribui com o equilíbrio. A camada superficial do cerebelo, chamada de córtex do cerebelo, é formada por substância cinzenta disposta em uma série de dobras finas e paralelas conhecidas como folhas do cerebelo. Abaixo da substância cinzenta encontram-se tratos de substância branca chamados de árvore da vida, que se assemelham a galhos de uma árvore. Na substância branca estão localizados os núcleos do cerebelo, regiões de substância cinzenta onde se situam os neurônios que conduzem impulsos nervosos do cerebelo para outros centros encefálicos. Três pares de pedúnculos cerebelares conectam o cerebelo com o tronco encefálico. Estes feixes de substância branca são compostos por axônios que conduzem impulsos entre o cerebelo e outras partes do encéfalo. Os pedúnculos cerebelares superiores contêm axônios que se estendem do cerebelo para o núcleo rubro e vários núcleos talâmicos. Os pedúnculos cerebelares médios são os maiores; seus axônios transmitem impulsos para movimentos voluntários dos núcleos pontinos (que recebem informações de áreas motoras do córtex cerebral) em direção ao cerebelo. Os pedúnculos cerebelares inferiores são formados por (1) axônios dos tratos espinocerebelares que trazem informações sensitivas procedentes de proprioceptores no tronco e nos membros; (2) axônios do aparelho vestibular e dos núcleos vestibulares do bulbo que trazem informações de proprioceptores da cabeça; (3) axônios do núcleo olivar inferior que entram no cerebelo e regulam a atividade dos neurônios cerebelares; (4) axônios que se projetam do cerebelo para os núcleos vestibulares do bulbo e da ponte; e (5) axônios que se estendem do cerebelo até a formação reticular. A função primária do cerebelo é avaliar como os movimentos iniciados nas áreas motoras do telencéfalo (cérebro) estão sendo executados. Quando estes movimentos não estão sendo executados corretamente, o cerebelo corrige estas discrepâncias. A seguir, ele envia sinais de retroalimentação para áreas motoras do córtex cerebral por meio de conexões com o tálamo. Estes sinais ajudam a corrigir os erros, tornam os movimentos mais naturais e coordenam sequências complexas de contrações da musculatura esquelética. Além da coordenação de movimentos complexos, o cerebelo é a principal região encefálica que controla a postura e o equilíbrio. Estes aspectos da função cerebelar permitem a execução de várias atividades musculares específicas, desde pegar uma bola de beisebol até dançar e falar. A presença de conexões recíprocas com áreas associativas do córtex cerebral sugere que o cerebelo também possa exercer funções não motoras, como a cognição (aquisição de conhecimento) e o processamento da linguagem. Esta teoria é fundamentada por exames de imagem utilizando RM e TEP (tomografia por emissão de pósitrons; em inglês, PET). Alguns estudos também sugerem que o cerebelo tenha um papel no processamento de informações sensitivas. Bruna Melnik Bellandi – 5º Período Distúrbios do cerebelo O cerebelo é uma estrutura localizada na fossa posterior e ligada à ponte, ao bulbo e ao mesencéfalo pelos três pares de pedúnculos cerebelares. Por vezes tem sido referido como a área silenciosa do encéfalo, porque a estimulação elétrica não produz nenhuma sensação consciente e raramente provoca quaisquer movimentos motores. No entanto, a remoção ou danos ao cerebelo provocam grandes anomalias nos movimentos. O cerebelo é especialmente vital durante o desempenho de atividades musculares rápidas, como corrida, escrita e até mesmo a fala. A perda da função cerebelar pode resultar em total falta de coordenação dessas funções, mesmo que não aconteça uma paralisia. As funções do cerebelo são integradas em diversas vias aferentes e eferentes conectadas por todo o encéfalo. Uma extensa e importante via aferente é a via corticopontina cerebelar, que se origina nos córtices motor cerebral e pré-motor, bem como no córtex somatossensorial. Outras vias aferentes importantes ligam o cerebelo aos inputs provenientes do núcleo da base; informações sobre tensão muscular e articular originárias dos receptores de estiramento; input visual dos olhos e sensação de equilíbrio oriundos do sistema vestibular na orelha interna. Existem três vias eferentes gerais que saem do cerebelo: •Via vestibulocerebelar: funciona em estreita associação aos núcleos vestibulares do tronco encefálico, para manter o equilíbrio e a postura •Via espinocerebelar: fornece o circuito para coordenar os movimentos das porções distais dos membros, especialmente as mãos e os dedos •Via cerebrocerebelar: transmite informações de output no sentido ascendente para o encéfalo, funcionando em feedback com os sistemas motor e somatossensorial para coordenar os movimentos sequenciais do corpo e dos membros. Fisiopatologia Os sinais de disfunção cerebelar podem ser agrupados em três classes: distúrbios vestibulocerebelares, ataxia cerebelar ou decomposição do movimento e tremor cerebelar. Esses distúrbios ocorrem do lado do dano cerebelar e são causados por defeito congênito, acidente vascular ou crescimento tumoral. O monitoramento visual de movimento não consegue compensar os defeitos do cerebelo, e a anormalidade nos movimentos acontece tanto com os olhos abertos quanto fechados. Danos na porção cerebelar associada ao sistema vestibular resultam em dificuldade ou incapacidade para manter uma postura firme do tronco, que normalmente requer movimentos constantes de Bruna Melnik Bellandi – 5º Período reajuste. Isso é uma forma de instabilidade do tronco, chamada ataxia do tronco, e pode ser tão grave que impossibilita ao indivíduo ficar em pé. Também pode ser afetada a capacidade de fixar os olhos em um ponto determinado. O resultado é o reajuste conjugado e constante do posicionamento do olho, chamado nistagmo, que torna a leitura extremamente difícil, especialmente quando os olhos são desviados para o mesmo lado em que ocorreu o dano cerebelar. Ataxia e tremor cerebelar são aspectos diferentes de defeitos nas funções de correção contínuas e suaves. A distaxia cerebelarou, se grave, a ataxia é caracterizada por uma decomposição do movimento, em que cada componente sucessivo de um movimento complexo se dá separadamente, em vez de ser composto em uma suave sucessão de ações. Como o etanol afeta especificamente a função cerebelar, pessoas embriagadas frequentemente apresentam marcha cambaleante e instável. Movimentos alternados rápidos como supinação-pronação-supinação das mãos são irregulares e realizados lentamente. O movimento de se esticar para tocar um objeto se divide em pequenos componentes sequenciais, cada um deles ultrapassando o limite desejado, seguido de hipercorreção. O dedo se move bruscamente em direção ao alvo, erra, corrige em outra direção e falha mais uma vez, até que o objeto seja finalmente alcançado. Isso é chamado dismetria. A esclerose múltipla (EM) é a causa mais comum de ataxia cerebelar. Em até 26% das crianças em idade pré-escolar, pode ocorrer ataxia cerebelar pós-infecciosa aguda com história prévia de varicela. Tremor cerebelar é um movimento rítmico de vaivém de um dedo da mão ou do pé, que piora à medida que o objeto se aproxima. O tremor resulta da incapacidade do sistema cerebelar danificado de manter a fixação sustentada de uma parte do corpo e de fazer leves correções contínuas na trajetória do movimento; dá-se a correção excessiva do movimento, primeiro para um lado e depois para o outro. Muitas vezes, pode ser detectado o tremor de um braço ou uma perna durante o início de um movimento pretendido. O termo comum para o tremor cerebelar é tremor intencional. É possível avaliar a função do cerebelo à medida que se relaciona com o tremor quando se pede à pessoa que toque com o calcanhar o joelho oposto, que deslize suavemente os dedos dos pés ao longo da parte de trás da perna oposta ou que toque o nariz com o dedo.A função cerebelar é capaz também de afetar as habilidades motoras da mastigação e deglutição (disfagia) e da fala (disartria). A fala normal precisa de um controle suave dos músculos respiratórios e de um controle altamente coordenado dos músculos da laringe, lábios e língua. A disartria cerebelar se caracteriza por fala lenta, arrastada e que varia de intensidade continuamente. Técnicas de fonoaudiologia podem fornecer meios de reabilitação, como aprender a diminuir a velocidade da fala e compensar, tanto quanto possível, pelo emprego de músculos menos comprometidos pela doença. SÍNDROME DO ARQUICEREBELO/VESTIBULOCEREBELO: • Definição: ocorre por lesão flóculo-nodular. É mais frequente em crianças com menos de 10 anos devido a tumores do teto do IV ventrículo que comprimem o nódulo e o pedúnculo do flóculo; • Etiologia: mais comum em meduloblastoma, acidente vascular cerebral. • Apresentação clínica: a. Há somente perda de equilíbrio e não há alteração do tônus muscular; b. Coordenação dos movimentos é praticamente normal; c. Com o indivíduo deitado, movimentos de braços e pernas não são prejudicados; d. Distúrbios oculomotores – nistagmo: perda do controle dos movimentos oculares durante a rotação da cabeça. e. Desequilíbrio: dificuldade em ficar de pé na posição ereta (astasia) e andar (abasia) e a marcha tem base larga e é instável como um indivíduo embriagado (ataxia troncular). f. Limitada capacidade de supressão do reflexo vestíbulo-ocular (um indivíduo normal consegue suprimir esse reflexo fixando o olhar em um objeto). SÍNDROME DO PALEOCEREBELO/ ESPINOCEREBELO/DA LINHA MÉDIA/DO VÉRMIS: • Definição: ocorre por lesão no vermis e no lobo anterior do cerebelo. • Etiologia: o exemplo mais representativo é a degeneração cerebelar alcoólica. • Apresentação Clínica: a. Lesões do lobo anterior e parte superior do vermis na linha média de suas proximidades: I.Ataxia de postura (astasia) e de marcha (abasia), sendo a última mais grave; II. Paciente apresenta marcha titubeante de base ampla, tende a desviar para o lado da lesão e cair para esse lado; III. Altera o tônus muscular e lateropulsão (para o lado da lesão); Bruna Melnik Bellandi – 5º Período IV. Paciente pode cambalear para o lado como se estivesse embriagado; V. Quando a lesão está confinada unicamente à parte superior do verme, o teste dedo-nariz e o teste calcanhar-joelho-canela ainda podem ser realizados com precisão. b. Lesões da parte inferior do vermis: I.Ataxia de postura mais grave que ataxia de marcha. O paciente tem dificuldade de ficar sentado ou de pé em equilíbrio e no teste de Romberg, oscila lentamente para frente e para trás, sem preferência de direção. SÍNDROME DO NEOCEREBELO/CEREBROCEREBELO/PONTOCE REBELO/HEMISFÉRICA: • Definição: causado por lesão nos hemisférios cerebelares. É a síndrome cerebelar mais comum. As lesões do cerebrocerebelo não causam paralisia, limitam gravemente a execução dos movimentos voluntários. • Etiologia: as causas comuns de síndrome hemisférica cerebelar são astrocitoma cerebelar, esclerose múltipla e acidente vascular cerebral com acometimento da parte lateral do bulbo. • Apresentação clínica: as manifestações clínicas sempre são ipsilaterais à lesão. a.Decomposição de movimentos voluntários: os movimentos dos membros são atáxicos e descoordenados com dismetria, dissinergia, disdiadococinesia e tremor de intenção. Essas anormalidades são mais pronunciadas nos membros superiores que nos inferiores. b.Dismetria: incapacidade de cessar um movimento dirigido no tempo certo (erros no julgamento da distância); c.Dissinergia/Decomposição: é a perda da cooperação precisa de múltiplos grupos musculares na execução de um movimento específico (cada grupo muscular se contrai, mas os grupos musculares não agem juntos da maneira correta); d.Disdiadococinesia: é uma alteração dos movimentos alternantes rápidos, causada pela decomposição da coordenação no momento preciso de grupos musculares antagonistas (movimentos como a supinação e a pronação rápidas das mãos são lentos, vacilantes e arrítmicos); e.Tremor de intenção:tremor característico que se acentua no final do movimento; f. Rechaço (fenômeno do rebote): o paciente força a flexão do antebraço contra uma resistência que se faz no punho. No indivíduo normal, quando se retira essa resistência à flexão, para imediatamente. Porém, para o doente cerebelar essa coordenação não existe, o levando a quase sempre dar uma tapa no próprio rosto; g. Disartria escandida e disartrofonia: paciente fala de forma lenta e vacilante, com articulação deficiente e com uma ênfase anormal e invariável em cada s laba; h.Hipotonia: em uma lesão aguda dos hemisférios cerebelares, a resistência muscular ao movimento passivo é diminuída e o paciente pode desenvolver posturais anormais (p. ex.: da mão). Os reflexos musculares intrínsecos nos múscu los hipotônicos também diminuem. SÍNDROME CEREBELAR DIFUSA/GLOBAL/PANCEREBELAR: • Definição: ocorre acometimento difuso no cerebelo com alterações da linha média e hemisféricas; • Etiologia: a síndrome pancerebelar pode resultar de doenças genéticas, a exemplo das ataxias espinocerebelares, de intoxicações exógenas ou de fenômenos autoimunes paraneoplásicos. • Apresentação clínica: os sinais de ataxia apendicular são bilaterais e relativamente simétricos e se associam à disartria, ataxia da marcha e anormalidades da movimentação ocular. Intoxicação por medicamentos O suporte vital ao paciente deve ser priorizado. O carvão ativado, a lavagem gástrica e a alcalinização da urina foram as formas de tratamento mais encontradas, sendo a hemodiálise, a hemoperfusão e a infusão de lipídios alternativas terapêuticas. Além disso, listou-se os principais antídotos conhecidos para algumas intoxicações específicas