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INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA Ana Paula Aquistapase Dagnino Segurança no laboratório e primeiros socorros Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os riscos químicos, físicos e biológicos em laboratórios. � Listar os equipamentos de proteção individual e coletiva e suas funções. � Analisar as medidas de primeiros socorros associadas aos principais acidentes em laboratório. Introdução O profissional de laboratório é, rotineiramente, exposto a riscos bio- lógicos, físicos e químicos. Além dos procedimentos padrões, muitos procedimentos laboratoriais necessitam de instruções específicas, que devem ser seguidas à risca para a manutenção da saúde e a diminuição de exposição a agentes patogênicos. Por isso, a adoção de boas práticas laboratoriais é fundamental. Neste capítulo, você vai estudar os diferentes tipos de risco associados aos acidentes ocupacionais em laboratórios. Também vai conhecer os equipamentos de proteção individual e coletiva utilizados em ambientes laboratoriais e as medidas de primeiros socorros associadas aos principais acidentes em laboratório. Riscos químicos, físicos e biológicos em laboratórios Riscos químicos O trabalho com vários reagentes e solventes é rotineiro em laboratórios. Os agentes químicos são substâncias que podem entrar em contato direto com a pele, ou serem ingeridos e, ainda, penetrar pela via respiratória em diferentes configurações, como poeira, gases ou vapores, neblina, névoa. Assim, a identificação das propriedades dos produtos químicos e dos riscos associados a eles é essencial. Em um laboratório podemos observar diferentes riscos químicos e clas- sificar um resíduo líquido ou gasoso, levando em consideração as seguintes características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. A inflamabilidade de um produto químico é a sua capacidade de com- bustão. Os produtos químicos que apresentam o ponto de fulgor — a tempe- ratura mais baixa que um produto deve atingir para evaporar e formar uma mistura inflamável, quando em contato com uma fonte de calor, como uma chama — mais baixo são os mais perigosos. A manipulação de substâncias que produzam vapores deve ser feita em capela. Algumas das substâncias inflamáveis utilizadas em laboratórios são: metais alcalinos, hidretos metálicos e compostos organometálicos. Poucos líquidos inflamáveis são armazenados em laboratório. Quando são, seu estoque é feito em uma sala específica para o armazenamento dessas substâncias, em armários de metal. A corrosividade é a capacidade de um produto químico de ocasionar irritação e deterioração por meio de seu contato com metais, polímeros ou tecidos. Essas substâncias oferecem risco, principalmente, pelo contato com pele e olhos ou pela sua ingestão, por isso os produtos corrosivos merecem especial atenção. Além dos produtos corrosivos, algumas substâncias apre- sentam alta toxicidade, e, dependendo do período de exposição, podem levar a efeitos agudos ou crônicos, ou até mesmo à morte. Os produtos químicos tóxicos podem causar danos físicos devido ao seu contato com a pele ou com os olhos, ou por inalação ou por ingestão. Alguns resíduos, em decorrência de suas propriedades oxidantes ou redutoras, podem ter alta reatividade, reagindo entre si; por essa razão, devem ser armazenados separadamente. Segurança no laboratório e primeiros socorros2 Com relação ao armazenamento das substâncias químicas, deve ser mantida uma lista dos produtos estocados em laboratório. Todos os frascos devem ser rotulados e conter a data de vencimento (CIENFUEGOS, 2001; MINOZZO, 2004). Riscos físicos Os riscos físicos são decorrentes da presença de agentes físicos como tempe- raturas extremas (calor ou frio intenso), radiações ionizantes e não ionizantes, ruídos, vibrações, pressões anormais, iluminação e umidade. Com relação às temperaturas extremas, o calor é o risco mais comum dentro de um laboratório, pois é empregado em incubadoras, no preparo de soluções e em procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização. O pro- fissional exposto por um longo período de tempo ou a grandes quantidades de calor pode desenvolver efeitos como fadiga, edema, inchaços, catarata, doenças cardiovasculares e prostração térmica. As radiações podem ser divididas em ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes podem se originar como fonte natural (carbono-14, urânio-238, por exemplo) ou artificial, ou seja, produzida pelo homem. As radiações ionizantes artificiais são produzidas para atender às necessida- des de algumas áreas específicas, como o radiodiagnóstico e a radioterapia. As radiações não ionizantes mais comuns em laboratórios são: infravermelha, ultravioleta e laser. Quando há exposição acima do permitido, o profissional pode ter lesões graves, levando a doenças sérias. A radiação infravermelha é conhecida como calor radiante e pode pro- vocar lesões na retina, catarata ou até mesmo queimaduras. A radiação ultra- violeta é dividida em faixas de espectro: luz negra (400–350 nm), eritemática (350–270 nm), germicida (270–230 nm) e ozona (230–150 nm). Os principais efeitos de exposição excessiva são queimaduras e conjuntivite. A radiação a laser é amplamente utilizada na destruição de tumores, em tratamento cirúrgicos e em equipamentos analíticos. A exposição exacerbada à radiação a laser pode levar a danos nos olhos e a queimaduras. 3Segurança no laboratório e primeiros socorros As radiações produzem efeitos deletérios para o organismo, como lesões nas células germinativas, transmitindo as alterações para os descendentes (efeito hereditário), ou nas células somáticas do próprio indivíduo (efeito somático). Outro risco físico muito predominante em laboratórios são os ruídos. Os profissionais são expostos a este risco, principalmente, no manuseio de equipamentos como autoclaves, centrífugas e exaustores. Os principais efei- tos deletérios estão relacionados a perdas auditivas e, dependendo do grau, da intensidade e do tempo de exposição, além do tipo de ruído, as pertur- bações podem ser reversíveis, irreversíveis, temporárias ou permanentes. O ruído também pode provocar fadiga, irritabilidade, prejuízo na comunicação e alterações no sistema nervoso central (SNC), cardiovascular e digestivo (MASTROENI, 2006). Riscos biológicos Os riscos biológicos têm origem na exposição dos profissionais a microrga- nismos, a agentes do reino animal e vegetal. Os principais agentes de risco biológico são as bactérias, os fungos, os protozoários e os vírus. As fontes básicas para a presença deste risco são os instrumentais, a água, a cultura celular, as amostras (de sangue, urina, escarro, entre outras) e os aerossóis. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2021, documento on-line) classifica os riscos dos agentes biológicos em quatro grandes classes, de acordo com o prejuízo que podem causar ao ser humano, aos animais ou à comunidade: – Classe de risco 1 (baixo risco individual e para a comunidade): agentes biológicos que não causam doenças no ser humano ou nos animais. Exemplos: Lactobacillus spp. e Bacillus subtilis. – Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a co- munidade): agentes biológicos que causam infecções no ser humano ou nos animais, com potencial de propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, e para os quais existem medidas profiláticas e terapêuticas conhecidas eficazes. Exemplos: Schistosoma mansoni e vírus da rubéola. – Classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comunidade): agentes biológicos que possuem capacidade de transmissão, em especial por via respiratória, e que causam doenças potencialmente letais em humanos Segurança no laboratório e primeiros socorros4 ou animais, e para os quais existem, usualmente, medidas profiláticas e terapêuticas. São agentes biológicos que representam risco se disseminados na comunidade e nomeio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa. Exemplos: Bacillus anthracis e vírus da imunodeficiência humana (HIV). – Classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): agentes biológi- cos com grande poder de transmissibilidade, em especial por via respiratória, ou de transmissão desconhecida. Até o momento, não há nenhuma medida profilática ou terapêutica eficaz contra infecções ocasionadas por esses agentes biológicos. Eles causam doenças de alta gravidade em humanos e animais, tendo uma grande capacidade de disseminação na comunidade e no meio ambiente. Essa classe inclui, principalmente, os vírus. Exemplos: vírus do ebola e vírus da varíola. No link a seguir você encontra um vídeo que traz mais informações relevantes sobre a classificação de risco dos agentes biológicos. https://qrgo.page.link/MNhn3 Com relação às infecções bacterianas, algumas bactérias têm importância clínica. Vejamos exemplos: � Bacilus anthracis: dependendo da forma de contaminação, pode acar- retar formação de vesícula e posterior escara e septicemia, dispneia, cianose, sudorese. O contato pode acorrer em acidentes associados à manipulação de perfurocortantes, a equipamentos geradores de aerossóis e ao descarte de materiais. � Staphylococcus aureus: pode causar osteomelite e endocardite. Aciden- tes estão associados com o contato com a enterotoxina estafilocócica ativa em amostras clínicas, fluidos de lesões e secreções respiratórias. � Mycobacterium tuberculosis: ocasiona a tuberculose. As infecções por fungos podem ser divididas em superficial, subcutânea e sistêmica. A superficial é limitada a pele, unhas e couro cabeludo. A sub- cutânea pode afetar a derme, o tecido subcutâneo e os ossos, ocasionando doenças crônicas. A sistêmica pode se disseminar por diferentes órgãos e 5Segurança no laboratório e primeiros socorros serem causadas por microrganismos patogênicos, como Blastomyces der- matitidis, Histoplasma capsulatum e Coccidioides immitis, ou oportunistas, como Aspergillus fumigatus. As infecções ocasionadas por Leishmania spp., Toxoplasma spp. ou Tripanossoma cruzi são decorrentes de acidentes com manipulação de vetores infectados ou de agulhas contaminadas, além do manuseio de amostras e culturas. As infecções por contaminação com vírus ocorrem em função da trans- missão por via aérea ou contaminação por material biológico, ou em acidentes com agulhas e material perfurocortantes contaminados com vírus da hepatite B (HBV) e C (HCV) e com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Equipamentos de proteção individual e coletiva Protocolos devem ser seguidos para a diminuição de acidentes e de contami- nações associados ao laboratório, para a proteção de professores, estudantes e funcionários. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) e os equipamentos de proteção coletiva (EPCs) visam a minimizar ou, até mesmo, a eliminar a exposição a agentes perigosos, quando manipulados. A escolha de EPIs e EPCs é baseada na avaliação do risco, que determina os níveis de biossegurança a serem seguidos para os equipamentos, instalações e práticas. Dois fatores são fundamentais e deverão ser concomitantes para a proteção individual e do meio ambiente: 1. A correta designação dos equipamentos de acordo com a sua função. 2. As boas práticas laboratoriais vinculadas à utilização desses equipamentos. Equipamentos de proteção individual De acordo com Minozzo (2004), um EPI é qualquer dispositivo de uso indi- vidual que seja destinado a proteger a saúde e a integridade física de quem o usa. Um dos principais EPIs utilizados em laboratórios são as luvas. As luvas têm a função de proteger os profissionais que trabalham com a manipulação de agentes patogênicos e de animais experimentais. Também são essenciais em procedimentos de coleta de amostras, manuseio e lavagem de vidrarias, transporte e armazenamento de produtos químicos, além de procedimentos de esterilização e manejo com materiais em altas e baixas temperaturas. Segurança no laboratório e primeiros socorros6 Para o uso das luvas, as mãos devem estar limpas e secas. Caso haja algum ferimento nas mãos, é necessário o uso de curativos ou gazes, para proteger a lesão das luvas. As luvas devem ser utilizadas apenas na área laboratorial e nunca reutilizadas, se descartáveis. No contato com pacientes, como na coleta de amostras, a troca do par é obrigatória no momento da assistência a diferentes indivíduos. Nunca se deve atender o telefone ou tocar em maçanetas com luvas. Existem diferentes tipos de luvas, adequados a diferentes riscos ao que trabalhador está exposto. Vejamos as de uso mais comum: � Luvas de látex: adequadas para o manuseio de materiais com potencial infectante, a limpeza de utensílios e a manipulação de álcoois, bases, aldeídos e cetonas. � Luvas butílicas: adequadas para o manuseio de cetonas e ésteres. � Luvas de neoprene: adequadas para o manuseio de solventes leves, ácidos, álcalis, ácidos, oxidantes, fenóis, anilinas e éter glicólico. � Luvas nitrílicas: adequadas para o manuseio e transporte de substâncias químicas perigosas. � Luvas de PVA (álcool polivinílico): adequadas para a manipulação de substância orgânicas. � Luvas de PVC (policloreto de vinil): adequadas para a manipulação de ácidos e bases fortes, além de sais, álcoois e soluções a base de água. � Luvas de vinil: substituem as luvas de látex para profissionais alérgicos à proteína natural do látex. As roupas de proteção, como os jalecos, têm a função de eliminar ou minimizar o contato da pele com agentes danosos que possam originar uma lesão, uma intoxicação ou uma doença. Devem ser confortáveis e permitir mobilidade, podendo ser reutilizáveis ou descartáveis, dependendo da sua confecção. O jaleco é obrigatório em todos os procedimentos que envolvam contato direto com substâncias químicas ou infectantes e com animais e com a manipulação, limpeza e esterilização de materiais de uso laboratorial, como vidrarias. É obrigatório que o jaleco tenha mangas compridas, que cubra o dorso, as costas e as pernas acima do joelho, e tenha fechamento frontal. O jaleco deve ser usado fechado, sem mangas arregaçadas, e sua utilização é permitida somente no ambiente laboratorial. A sua limpeza deve ser periódica, se reutilizáveis. 7Segurança no laboratório e primeiros socorros Os calçados são EPIs destinados à proteção contra danos ocasionados por derramamentos de substâncias biológicas ou químicas ou por impacto de objetos de vidro ou perfurocortantes. Também protegem o profissional de solventes e líquidos solventes. Os calçados requeridos para os procedimentos laboratoriais devem ser fechados, confortáveis, que evitem o suor excessivo e, se possível, antiderrapantes, evitando possíveis quedas. É proibida a utilização de chinelos, tamancos e sandálias, incompatíveis com o ambiente laboratorial. O uso de sapatilhas estéreis é adequado para ambientes que requerem esta especificidade. Em biotérios é interessante a utilização de sapatilhas não estéreis, com o intuito de evitar o carreamento de partículas como poeira ou sujeira para o ambiente de manipulação de animais. Os óculos de proteção protegem os olhos de possíveis respingos de subs- tâncias químicas ou biológicas. Também protegem de procedimentos que se utilizem de radiações infravermelha e ultravioleta. Este EPI deve proteger integralmente os olhos, ser confortável, leve, resistente, sem comprometer o campo de visão. Pode ser utilizado em conjunto com outros EPIs, como máscara e respirador. Existem diferentes tipos de óculos, dependendo de sua aplicação e do risco a que o profissional está exposto, como óculos de proteção contra aerossóis, gases e vapores, produtos químicos e radiação ultravioleta. Além dos óculos de proteção, existem os protetores faciais que protegem contra respingos de material biológico ou químico e vapores de substâncias químicas. Para a proteção dos cabelos contra a poeira e contaminantes,são utilizadas toucas ou gorros. As toucas também têm a função de proteger um ambiente ou uma amostra estéril. O protetor auditivo é utilizado para a proteção contra ruídos de longa duração ou que sejam danosos em um tempo mínimo, como em protocolos que usam banho de ultrassom. Existem dois tipos de protetores auditivos, o protetor do tipo concha (circum-auriculares) e o de inserção, mais comu- mente utilizado (MASTROENI, 2006). Segurança no laboratório e primeiros socorros8 A Figura 1 mostra exemplos de EPIs. Figura 1. Nesta imagem podemos observar a utilização de cinco EPIs pela laboratorista — touca, óculos de proteção, máscara, luvas e jaleco. Fonte: SeventyFour/Shutterstock.com Equipamentos de proteção coletiva De acordo com Mastroeni (2006), os EPCs protegem o meio ambiente, a saúde e a integridade dos usuários de uma área, diminuindo ou eliminando os riscos provocados pelo manuseio de produtos químicos, principalmente tóxicos e inflamáveis, além de agentes microbiológicos e biológicos. Os EPCs são utili- zados rotineiramente ou em situações de emergência, por isso, os profissionais devem ser treinados para sua utilização, e os equipamentos devem passar por inspeções periódicas para o controle de qualidade de seu funcionamento. A cabine de segurança biológica (CSB) é um equipamento indispensável no laboratório, usado para várias análises, como a manipulação de substâncias químicas ou particuladas. Ela tem um sistema de exaustão e possui diferentes níveis, separados em classes, dependendo da periculosidade do microrganismo manipulado: 9Segurança no laboratório e primeiros socorros � Classe I: adequada para o manuseio de meios e amostras que podem gerar aerossóis contendo agentes infecciosos. Protege o profissional. � Classe II: adequada para a manipulação de agentes dos grupos de risco 2 e 3. Protege o profissional e o interior da cabine de contaminações externas. � Classe III: adequada para a manipulação de agentes biológicos do grupo de risco 4, proporcionando maior proteção para o profissional. A manipulação na cabine de Classe III é realizada por meio de luvas grossas de neoprene, presas na parte frontal da cabine. Protege o pro- fissional, o ambiente e a amostra. O chuveiro de emergência é um EPC designado para a lavagem da pele e das vestimentas dos profissionais que entraram em contato direto com uma quantidade elevada de agentes químicos ou biológicos. Em caso de incêndio, caso as roupas dos profissionais estejam em chamas, este EPC também é empregado. Quando acionado, o chuveiro de emergência expulsa água potável, com jato único, sem dispersão, e com vazão e pressão adequados para retirar de imediato o contaminante da roupa e da pele da vítima. O equipamento deve ser testado periodicamente e, caso não esteja funcionando, medidas corretivas devem ser tomadas imediatamente. O lava-olhos é um EPC com a função de lavagem dos olhos em situações de contato acidental com materiais químicos ou biológico. Este equipamento, assim como o chuveiro de emergência, deve ser testado periodicamente. O lava-olhos pode ser do tipo pisseta ou vir acoplado ao chuveiro de emergência, sendo acionado de maneira manual ou automática. Em casos de incêndio, outros equipamentos são requeridos, como chuveiros automáticos e extintores de incêndio. Os chuveiros automáticos são dispo- sitivos acionados pela elevação de temperatura, e têm a função de projetar água em forma de chuva. Os extintores são divididos em diferentes tipos, rotulados de acordo com a classe de incêndio: água, espuma, gás carbônico, gases halogenados e pó químico seco. É fundamental que os profissionais escolham adequadamente o extintor a ser utilizado, pois a escolha errada pode levar ao efeito contrário, com aumento das chamas. Em casos de início de incêndio, extintores portáteis dever ser empregados, pois são os mais indicados para essa situação, mesmo na presença de chuveiros automáticos. Os locais de instalação dos extintores devem ser de fácil acesso e de visualização nítida — nada pode estar obstruindo a passagem ou bloqueando o acesso a esse equipamento (HIRATA, M.; HIRATA, R.; MANCINI FILHO, 2012; MINOZZO, 2004). Segurança no laboratório e primeiros socorros10 Acompanhe alguns exemplos de EPCs na Figura 2. Figura 2. (a) Unidade de lavagem ocular (1) acoplada a um chuveiro de emergência (2). (b) Utilização da cabine de fluxo laminar pelo laboratorista. Fonte: (a) Mohd Nasri Bin Mohd Zain/Shutterstock.com; (b) Anamaria Mejia/Shutterstock.com (a) (b) 2 1 Medidas de primeiros socorros associadas aos principais acidentes em laboratório Os acidentes em laboratórios são causados, em sua grande maioria, pelo uso inapropriado dos equipamentos laboratoriais e pelo manuseio incorreto dos reagentes. Muitas vezes, a falta de treinamento e de instruções sobre os procedimentos a serem seguidos levam a um aumento no risco de ocorrência de acidentes. Os principais acidentes dentro do ambiente de laboratório são choques, incêndios, intoxicações e queimaduras. Antes de verificar se o acidentado tem algum ferimento, queimadura, hemorragia, fratura, envenenamento ou está em parada cardiorrespiratória, é essencial que o socorrista permaneça calmo, evitando pânico. Em seguida, deve-se manter o acidentado deitado para investigação da gravidade da le- são. A avaliação da gravidade da vítima é feita por meio da observância de algumas etapas. 11Segurança no laboratório e primeiros socorros Primeiramente, deve-se verificar se o indivíduo está acordado ou incons- ciente, se está conversando, se respira ou não, se tem pulso radial ou na carótida, se a pele está com uma aparência rosada, avermelhada, pálida ou cianótica e, por fim, se existem ferimentos ou hemorragias. Casos de grandes hemorra- gias, paradas cardiorrespiratórias, queimaduras, envenenamentos, choque e inconsciência são prioridade, e seu atendimento deve ser imediato. A chamada do médico e da ambulância deve ser feita o mais rapidamente possível e, sempre que os primeiros socorros forem fornecidos pelos profis- sionais do laboratório, as informações devem ser passadas aos profissionais que cuidarão da vítima de acidente. O incidente deve ser comunicado ao órgão de segurança da unidade e as ações profiláticas, providenciadas. Choque O estado de choque pode ser em decorrência de um choque elétrico, de uma queimadura, de envenenamento ou de ferimentos. Este estado deve-se a uma insuficiência circulatória, decorrente de uma oxigenação carente. A vítima pode estar consciente ou não, e os principais sintomas do estado de choque podem incluir: pele pálida, fria e pegajosa; pulso fraco e rápido; respiração curta, rápida e irregular; transpiração exacerbada; pressão arterial baixa; tonturas; cefaleia; vômitos; fraqueza; perturbação visual; tremores; náuseas; suores frios. Constatado o estado de choque, o primeiro passo a seguir é a prevenção da causa do choque, sempre mantendo a vítima o mais calma possível. Caso não exista qualquer tipo de fratura na vítima, coloque travesseiros, levantando suas pernas. É importante manter a vítima deitada, confortável e com as roupas frouxas. Nunca dê qualquer tipo de líquido e mantenha a temperatura corporal da vítima, agasalhando-a. Retire da boca da vítima dentaduras ou secreção, para evitar o engasgue. Enquanto as providências estão sendo tomadas, chame a emergência médica (CIENFUEGOS, 2001; MINOZZO, 2004). Segurança no laboratório e primeiros socorros12 Ferimentos O tratamento de ferimentos com perfurocortantes (cortes e perfurações) deve ser imediato, pois o rompimento e a penetração da pele podem levar a infec- ções. Os utensílios responsáveis pelo ferimento em laboratórios de análises clínicas, como agulhas, lâminas de bisturi e vidros, devem ser considerados como contaminados e devem ser manuseados com os EPIs necessários. Outros causadores de ferimentos são mordidas de animais, como ratos e camundongos, em laboratórios de pesquisa.Profissionais de laboratório sempre são norteados a realizar a sua imunização por meio da vacinação contra hepatite B, tétano e meningite, pois podem estar expostos aos microrganismos em questão. Antes de iniciar o socorro da vítima, lave as mãos, prosseguindo com a lavagem do ferimento com água corrente e detergente. Posteriormente, aplique uma solução antisséptica como álcool 70%, clorexidina ou polivinilpirrolidona (PVP-I). Caso verifique a exposição das mucosas, use água boricada ou soro fisiológico no ferimento. Partículas de vidro não devem ser retiradas, a menos que saiam facilmente, pois podem piorar a lesão, ocasionando até mesmo hemorragia. Em casos de hemorragia, pressione o local para que ocorra a coagulação do sangue. A pressão deve ser feita com gazes ou panos limpos (se possível, estéreis), com uma pressão moderada, sem prejudicar a circulação. Se o ferimento for em algum dos membros, é correto erguer o membro afetado acima da altura do coração, para diminuir o fluxo sanguíneo. Em casos de ferimentos graves, no abdômen, tórax e na cabeça, deixe a vítima em repouso e faça um curativo protetor da região afetada. Feridas na cabeça com sangra- mento pelo nariz e ouvido podem ser indicativos de fratura no crânio (CIENFUEGOS, 2001; MASTROENI, 2006). 13Segurança no laboratório e primeiros socorros Parada cardiorrespiratória A parada cardiorrespiratória ou cardiopulmonar é uma situação de extrema gravidade em que o sangue oxigenado não chega ao cérebro. Pode ser oca- sionada por choque elétrico, insuficiência respiratória ou envenenamento. O socorrista, primeiramente, deve identificar se a parada está acontecendo, verificando se o indivíduo está consciente, se respira e se tem pulso palpável. Constatada a parada, as manobras de ressuscitação devem iniciar. De acordo com Mastroeni (2006), as seguintes manobras devem ser realizadas: � Colocar a vítima deitada de costas sobre uma superfície dura. � Abrir a via aérea, posicionando a cabeça com hipertensão do pescoço; esta manobra somente deve ser realizada caso não haja fratura da coluna. � Verificar se há algum corpo estranho obstruindo a via área, como sangue, prótese dentária ou alimento, e retirá-lo, se possível. � Realizar a ventilação com respiração boca a boca ou com uso de máscara–bolsa. � Fazer a massagem cardíaca. � Verificar a responsividade da vítima, com perguntas simples, gritando ou sacudindo a vítima com cuidado. � Verificar a ventilação, observando, ouvindo e sentindo a respiração. � Solicitar auxílio imediato. � Com ausência de respiração, realizar duas ventilações. � Se não houver reversão da parada, realizar nova ventilação. Repetir quantas vezes for necessário. � Com ausência de pulso, iniciar imediatamente a massagem cardíaca (circulação). As manobras realizadas por apenas uma pessoa devem ser feitas com alternância da ventilação com a circulação. Caso haja dois socorristas, um deve fazer a ventilação e o outro a circulação. As manobras devem ser mantidas em ritmo de aproximadamente 100 compressões por minuto, em uma taxa de 15 compressões para 2 ventilações (15:2). Segurança no laboratório e primeiros socorros14 Veja na Figura 3 uma ilustração das manobras de ventilação e circulação, que devem ser realizadas em casos de parada cardiorrespiratória. Figura 3. Manobras de ventilação e circulação realizadas como primeiros socorros em casos de parada cardiorrespiratória. Fonte: Adaptada de Mastroeni (2006). Pressione para baixo com a base da palma da mão Veri�que se há movimento no tórax 15Segurança no laboratório e primeiros socorros Intoxicação e contato com mucosas As intoxicações em laboratórios ocorrem devido à ingestão ou aspiração de substâncias tóxicas, como produtos químicos e de limpeza, além de gases tóxicos. Os principais sintomas das intoxicações são cansaço, tonturas, dor de cabeça, náuseas, diarreia, perda de memória e coordenação motora, inca- pacidade de concentração e perda de consciência. Em casos de intoxicação por gases ou vapores, a vítima deve ser retirada prontamente do local de exposição e ser levada para local arejado. É de extrema importância que o socorrista esteja equipado com os EPIs obrigatórios nesta situação. Sempre afrouxe as roupas da vítima intoxicada, desobstruindo as vias aéreas. Em casos de ingestão oral de agentes químicos, é aconselhável fazer a vítima beber água. Não é aconselhável a indução do vômito, pois isso pode ocasionar a perfuração de algum órgão ou mucosa. Não tente neutralizar o agente tóxico. É essencial chamar ajuda médica de imediato e ter disponível a Ficha de Informação da Segurança do Produto (FISP) para a resolução de dúvidas quanto ao agente químico. Em casos em que há contato do agente tóxico com a pele ou os olhos, en- xague prontamente a região com água; tome banho no chuveiro de laboratório e lave os olhos com o lava-olhos (MASTROENI, 2006). Queimadura As queimaduras podem ser superficiais, parciais ou profundas, de origem térmica ou química. As vítimas de queimadura são consideradas em estado grave e o socorrista deve estar atendo a potenciais riscos, como explosões, vapores tóxicos, fogo e perigo associado a corrente elétrica. O socorrista sempre deve observar a causalidade e o quão extensa e profunda é a lesão, pois uma lesão mais profunda e extensa é potencialmente grave. As queimaduras podem ser ocasionadas por: � Altas temperaturas: objetos quentes ou fogo, bico de Bunsen, líquidos superaquecidos. � Temperaturas baixas: oxigênio ou nitrogênio líquido. � Substâncias químicas corrosivas: ácidos (ácido sulfúrico, por exemplo) e bases (hidróxido de sódio, por exemplo). � Eletricidade: descargas elétricas. Segurança no laboratório e primeiros socorros16 � Radiação: fontes radioativas, como luz ultravioleta da capela de fluxo laminar. Em casos de comprometimento das vias respiratórias, o socorrista deve estar atento à fuligem em volta da boca e do nariz, chamuscamento nos pelos do nariz, lesões ou feridas na pele e lesão na língua, como inchaço ou quei- madura. Em casos mais graves, nos quais a vítima não consegue respirar, deve-se iniciar o procedimento de reanimação. Quando identificada a queimadura, deve-se proceder com o resfriamento do local com água contínua durante 10 minutos. A área afetada deve ser coberta com pano limpo (se possível, estéril), umedecido com soro fisiológico. Nunca use esparadrapos sobre a pele queimada, ate-os sobre sacos plásticos limpos. As roupas devem ser retiradas apenas nos casos em que não estejam grudadas à pele queimada. A remoção cuidadosa de objetos pessoais, como cintos, anéis e sapatos é indicada, pois a área lesionada provavelmente ficará passível de inchaço. Em nenhuma hipótese deve-se tocar ou passar qualquer produto na lesão ou furar bolhas. A ajuda médica somente é desnecessária em casos de queimaduras muito superficiais e de uma extensão muito pequena; nos demais, chame a emergência. Em situações de incêndio em que o indivíduo possui chamas, evite que o mesmo saia correndo; deite-o com a área queimada virada para cima e apague a chama com água abundante. Outra alternativa é o envolvimento do indivíduo com um cobertor, tapete ou cortina, de tecidos que não tenham origem sintética (MASTROENI, 2006; MINOZZO, 2004). BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 3.398, de 7 de dezembro de 2021. Classificação de Risco dos Agentes Biológicos. Brasília: MS, 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-3.398-de-7-de-dezembro- -de-2021-370619275. Acesso em: 13 jun. 2022. CIENFUEGOS, F. Segurança no laboratório. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. HIRATA, M. H.; HIRATA, R. D. C.; MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2012. MASTROENI, M. F. Biossegurança: aplicada a laboratórios e serviços de saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2006. MINOZZO, R. Manual de biossegurança. Novo Hamburgo, RS: Ed. da Feevale, 2004. 17Segurançano laboratório e primeiros socorros Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Segurança no laboratório e primeiros socorros18