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DIREITO CIVIL I 1 A FORMAÇÃO DO CONCEITO DE PESSOA HUMANA E SEU USO RETÓRICO INTERCORRENTE A FORMAÇÃO DO CONCEITO DE PESSOA HUMANA E SEU USO RETÓRICO INTERCORRENTE - Não se trata de conceito que é dado/se extrai da natureza - Não é uma categoria ontológica - Trata-se de conceito com forte marcas culturais e profundas raízes históricas - A questão de quem seria "pessoa" remonta a Grécia Antiga - Sócrates iniciou o exame da pessoa humana (cosmos > anthropos) - A Idade Média tratou de relacionar humano e divino (totalidade cosmoteológica) - É na modernidade que o conceito de pessoa passa a ser relevante e é lapidado da noção de ser racional, livre e responsável por suas ações - Para Kant, pessoa é o ser humano, um fim em si mesmo (pessoa x seres inanimados) - Para Sartre o ser humano está condenado a ser livre - Freud acrescenta a ideia de inconsciência à pessoa, dotando o ser, então racional, de emoção O SUJEITO DE DIREITOS - O Direito se apropria desses elementos culturais e históricos para fortificar sua posição igualando "pessoa" ao "sujeito de direito em plenitude" - Sujeito de direito é todo aquele que tem assegurada a capacidade de adquirir e transmitir direitos e deveres jurídico - O conceito de sujeito de direito é mais amplo que o de pessoa - O sujeito de direitos está sujeito a deveres jurídico - O conceito de Sujeito de Direito e de Pessoa para Kelsen - Trata-se de um conceito auxiliar que facilita a exposição do Direito - Não é um conceito necessário para descrição do Direito - Pessoa é uma unidade personificada por normas jurídicas O SUJEITO DE DIREITOS - O ordenamento jurídico reconhece algo como pessoa e tão logo lhe confere direitos e responsabilidades a partir da concessão de personalidade jurídica - A personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações (Diniz) - Trata-se do conceito básico sem o qual nenhum instituto jurídico produz efeitos contundentemente - Para esse reconhecimento, o ordenamento jurídico estipula critérios bem definidos que dão os contornos do que seria uma pessoa apta a exercer direitos e ser incumbida de deveres jurídicos/obrigações - Pondera-se a respeito da discricionariedade na definição desses critérios e especialmente a quem interessa essa definição - O Direito, ao definir ou modificar a noção de "pessoa", levou/leva em consideração o contexto econômico e a beligerância política - Esses parâmetros levaram até mesmo à criação de uma categoria de pessoas que não possui personalidade, mas somente a aptidão de exercer alguns direitos (entes despersonalizados) O SUJEITO DE DIREITOS - A definição jurídica de pessoa a partir da elaboração de critérios gera a primeira distinção do Direito Civil, demarcando o que interessa e o que não interessa (ou interessa menos) ao Direito Pessoa como ser humano em desenvolvimento no ventre materno Pessoa como embrião concebido in vitro Pessoa como ser humano nascido de mulher Pessoa como ser humano nascido com vida Pessoa como ser humano com condições biopsíquicas de produzir comunicação Pessoa como entidades sem existência tangível Pessoa como coletividade de pessoas O CONCEITO DE PESSOA - O Conceito de pessoa é exclusivamente jurídico (categoria deontológica) - Por ser exclusivamente jurídico, possuo um grande potencial de excludência - O conceito de pessoa não abrange todas as pessoas - Exclusão dos povos originários - Exclusão dos estrangeiros - Prevalência da igualdade entre os nacionais - Estrangeiro como inimigo - Elaboração do princípio da reciprocidade - Exclusão dos escravos (escravizados) - Escravo não era pessoa e nem sujeito de direitos, mas uma "ferramenta animada" - No Brasil, aludiu-se ao escravizado como espécie de propriedade por 388 anos - A noção era de habere personam e não de essere persona - O fim da escravidão traz a conjugação dos conceitos de homem, pessoa e personalidade jurídica - Exclusão das mulheres - Somente com a CF/88 no Brasil é que as mulheres adquiriram expressamente a igualdade conjugal e os direitos foram equalizados (em tese) - Minimização do potencial de excludência a partir da Teoria dos Direitos Humanos - Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) O CONCEITO DE PESSOA - Modificações contemporâneas no conceito de pessoa - Os apátridas/expulsos/exilados - A reprodução assistida - Proteção aos animais - Proteção às Inteligências Artificiais - Classicamente, o Direito define a pessoa que nasce com vida como pessoa física e como pessoa jurídica, todo aquele ente que se reveste, de algum modo, de caracteres de pessoa, ainda que não o seja fisicamente (ficção jurídica) 2 A PESSOA NATURAL/FÍSICA A PESSOA FÍSICA/NATURAL - Pessoa natural é a denominação tradicional para o ser humano nascido com vida e apto a ter direitos e obrigações - Existem, porém, outras denominações mas nenhuma seria boa, como anota Pontes de Miranda - Pessoa natural (denominação do CC/16 e CC/02) - demarcar a diferença entre conceito jurídico e conceito da natureza - Entes de existência visível (Teixeira de Freitas) - oposição a entes de existência ideal (pj) - Adotada pelo direito civil argentino (art. 31 e 32) - A expressão atende apenas à corporalidade do ser humano - Pessoa Física - Designação adotada na França e na Itália - A legislação brasileira utiliza a expressão ao regulamentar o imposto de renda - A expressão realça o aspecto material e não considera qualidades morais e espirituais - Pessoa Individual - Impróprio, diante do reconhecimento de pessoas de existência ideal - Pessoas de existência ideal são, geralmente, coletivas - O conceito constitucional de pessoa (CF/88) - A Constituição atrela o conceito de pessoa humana e de indivíduo ao de cidadania - Não se trata de considerar apenas o indivíduo abstrato Dimensão afetiva Dimensão psicofísica Dimensão social Dimensão política Dimensão cultural Dimensão eletrônica REPERSONALIZAÇÃO DO SUJEITO/INDIVÍDUO - Repersonalização do sujeito/indivíduo (art. 1º, CC) - Por "toda pessoa", o CC/02 faz referência à homens e mulheres, independentemente de raça, credo religioso, tendência política, nacionalidade ou qualquer nota particularizadora - As distinções remanescentes são meramente operacionais(limitações a estrangeiros, participação em certas atividades) - Supressão da partícula "homem" existente no CC/16 - A pessoa definida de acordo com suas aptidões comunicacionais - Ter personalidade (ser pessoa) significa poder estar em uma relação jurídica - O conceito de pessoa só faz sentido em um contexto inter-relacional em que há espaço para interferências - A pessoa traz a reboque um plexo de relações de conduta - Preservar as relações jurídicas entre as pessoas é a tônica do Direito Civil Pessoa é o "ser humano dotado de razão, de inteligência, com capacidade de entender, de portar-se segundo uma lógica e de submeter a si os demais seres do universo." (Arnaldo Rizzardo) Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2. Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil. REPERSONALIZAÇÃO DO SUJEITO/INDIVÍDUO - Preserva-se as relações oferecendo mecanismos de proteção jurídica à pessoa - A proteção jurídica vai além da proteção ao corpo físico - A proteção alcança a realização plena dos interesses (desejos) das pessoas na medida que se constituem legítimos e não ofendem o ordenamento jurídico - Essa proteção expandida alcança a proteção da pessoa em torno de todas as suas dimensões - Assinala-se que o Código Civil traz disposições relativas à ordem privada de interesses e não ao direito público, comercial ou ao processo e sua caracterização instrumental (Beviláqua) INÍCIO DA PERSONALIDADE/PESSOA C R IT ÉR IO S H IS TÓ R IC O S FEIÇÕES HUMANAS (Digesto 1,5, fr. 14) DEFICIÊNCIAS FÍSICAS INATAS DEFICIÊNCIAS MENTAIS/INTELECTUAIS ABANDONO LEGÍTIMO DE BEBÊS MALFORMADOS VIABILIDADE DA VIDA DIREITO FRANCÊS E HOLANDÊS (art. 3º) DIREITO CIVIL ESPANHOL(art. 30) Recém nascido deve ter forma humana Recém nascido deve sobreviver por 24hDIREITO CIVIL PORTUGUÊS (art. 6º) DIREITO CIVIL ARGENTINO (art. 7º) DIREITO CIVIL HÚNGARO (seção 9) O NASCIMENTO COM VIDA (art. 2º, CC/02) DIREITO CIVIL SUÍÇO (art. 31) DIREITO CIVIL ALEMÃO (art. 1º) DIREITO CIVIL ITALIANO (art. 1º) Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. INÍCIO DA PERSONALIDADE/PESSOA [...]“o fato natural ou artificial, da separação do feto do ventre materno. Com a primeira respiração, tem início o ciclo vital da pessoa, marcando, também, o nascimento, o início da capacidade de direito” (Francisco Amaral) NATIMORTO X NEOMORTO - A figura do natimorto - Aquele que já nasceu morto - Sem personalidade jurídica - A figura do neomorto - A lei não estabelece parâmetros para aferir o nascimento com vida - O conhecimento científico se ocupa de preencher essa lacuna (Resolução n. 1/88 do CNS) Desprendimento do útero materno Corte do cordão umbilical Emissão de vagidos (o choro) Existência de movimentos próprios Existência c circulação sanguínea Indício de respiração Inalação de ar Penetração de ar nos pulmões Pulsação do coração Existência de laudo médico específico e complexo Perícias médicas específicas (docimasias hidrostáticas) SIGNIFICÂNCIA DO REGISTRO DA PESSOA NATURAL - No Brasil colonial, era desnecessário o registro da pessoa natural após o nascimento - Às paróquias católicas era atribuída essa função em razão do batismo - Como a laicidade do Estado na República, adveio a necessidade de organização da um registro civil - Todo nascimento deve ser registrado (art. 9º, CC; art. 29, I, Lei 6015/1973 - Lei de Registros Públicos) - O registro deve ser feito no Cartório de Registro Civil das Pessoas Físicas no prazo de 15 dias ou de 3 meses - Deve haver registro mesmo do natimorto (art. 53, LRP) - O registro de nascimento se destina a identificar o cidadão - A Lei incube certas pessoas do dever de declarar o nascimento (art. 52, itens 1º e 2º, LRP) - Pai e/ou Mãe devem fazer o registro - O parente mais próximo - O médico - A parteira Art.9º o Serão registrados em registro público: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; SIGNIFICÂNCIA DO REGISTRO DA PESSOA NATURAL - A declaração de nascido vivo (DNV) - O registro de nascimento é gratuito e garantido por lei, além de ser obrigatório (arts. 3º, § 2º e 4º, § 4º da Lei 12.662/2012) - Trata-se de direito fundamental (art. 7º da Convenção Internacional dos Direitos da Criança) - Eficácia declarativa do registro (ex tunc) - O registro apenas declara o fato jurídico natural que é o nascimento - Prova do nascimento - A prova do nascimento é a certidão de nasimento - Registro de nascimento da pessoa adotada - Depende de sentença judicial - Não consigna a origem biológica - Retificações no registro (art. 110, LRP) - Reconhecimento jurídico da paternidade socioafetiva e da multiparentalidade (Tema 622, STF/RE 898.060; Resp 1608005/2019; Provimentos 63/2017 e 83/2019, CNJ) - O Cadastro de Pessoas Físicas (art. 28, Lei n. 14.129/2021) ARTIGO 7 1. A criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá direito, desde o momento em que nasce, a um nome, a uma nacionalidade e, na medida do possível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles. 2. Os Estados Partes zelarão pela aplicação desses direitos de acordo com sua legislação nacional e com as obrigações que tenham assumido em virtude dos instrumentos internacionais pertinentes, sobretudo se, de outro modo, a criança se tornaria apátrida. DESCRIÇÃO: Agravo de decisão que não admitiu recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 226, caput, da Constituição Federal, a prevalência da paternidade socioafetiva em detrimento da biológica. TESE: A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. Art. 28. Fica estabelecido o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como número suficiente para identificação do cidadão ou da pessoa jurídica, conforme o caso, nos bancos de dados de serviços públicos, garantida a gratuidade da inscrição e das alterações nesses cadastros. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13431919 https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2975 SIGNIFICÂNCIA DO REGISTRO DA PESSOA NATURAL Dispensados do Registro Civil (Resolução Conjunta CNJ/CNMP n. 3 de 2012) Indígenas não integrados estão dispensados do registro Civil Há, alternativamente o Registro Administrativo de Nascimento do Indígena (RANI) administrado pela Funai É facultado o registro da pessoa indígena não integrada, se feito a seu pedido Inclui-se a etnia, aldeia de origem e a aldeia de seus pais https://www.gov.br/funai/pt-br/arquivos/conteudo/cgpds/registro-civil-de-nascimento-para-povos-indigenas.pdf A SITUAÇÃO DO NASCITURO E DO EMBRIÃO - É nascituro o ser humano em desenvolvimento no ventre feminino - Nascituro tem existência reconhecida desde a implantação uterina efetiva - Contudo, nascituro não é pessoa - Nascituro como "pessoa por nascer" (Teixeira de Freitas) - Nascituro como sujeito de Direitos (controvérsias) - Nascituro e a "ficção de já ter nascido“ - Nascituro e a existência de "direitos sem sujeito“ - Nascituro e a existência se sujeitos sem direitos determinados - Nascituro como pessoa jurídica que antecederia a pessoa física A SITUAÇÃO DO NASCITURO E DO EMBRIÃO •Vida intrauterina (nascituro) •Vida extrauterina (embrião) •Direitos do nascituro assegurados desde a concepção (art. 2º, segunda parte, CC) • Direito à vida (art. 5º, CF/88) • Direito à filiação (art. 1596 e 1597, CC) • Direito à integridade física • Direito à honra • Direito à imagem (Resp 1170239, STJ) • Reconhecimento de indenização por danos morais • Caso de realização de ultrassonografia que indicou erroneamente síndrome de Down • Direito à alimentos (Lei n. 11804/2008) • Direito à assistência pré-natal (art. 8º, ECA) • Direito à representação (arts. 542, 1630, 1633, 1779, parágrafo único, CC) • Direito de receber doação (art. 542, CC) • Receber herança (art. 1799, CC) • Direito de ser adotado (arts. 2º, 28, 45 e 166, ECA) • Direito de ser reconhecido como filho (art. 26, ECA) • Direito de ser parte legítima em investigação de paternidade • O Direito de não nascer (caso Perruche) https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2019/Jurisprudencia-reconhece-direitos-e-limites-a-protecao-juridica-do-nascituro.aspx EM BUSCA DE UMA TEORIA NEGATÓRIA OU CONFIRMATÓRIA TEORIA NATALISTA TEORIA CONCEPCIONISTA TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL “Antes do nascimento, portanto, o feto não possui personalidade. Não passa de uma spes hominis. É nessa qualidade que é tutelado pelo ordenamento jurídico, protegido pelo Código Penal e acautelado pela curadoria do ventre [...] A aquisição de todos os direitos surgidos medio tempore da concepção subordina-se à condição de que o feto venha a ter existência: se tal acontece, dá-se a aquisição; mas, ao contrário, se não houver nascimento com vida, ou por ter ocorrido um aborto ou por se tratar de um natimorto, não há uma perda ou transmissão de direitos, como deverá de suceder se ao nascituro fora reconhecida uma ficta personalidade" (Serpa Lopes) Adotada pelo CC/02 Fértil na jurisprudência 3 A INCAPACIDADE COMO RESTRIÇÃO FUNDADAMENTADA NA PROTEÇÃO: uma incursão pela teoria das incapacidades PRESSUPOSTOS DA CAPACIDADE JURÍDICA - A personalidade gera a possibilidade de aquisição de poderes, direitos, faculdades e prerrogativas de exercício presentes em um determinado ordenamento jurídico - Existem diversos poderes, direitos, faculdade e prerrogativas, é preciso o estabelecimento também de parâmetros para como se dará seu efetivoexercício - É nesse contexto que surge a necessidade de "ajustar" a personalidade através de uma categoria jurídica denominada "capacidade jurídica" - A capacidade é uma medida da personalidade, trata-se de quais direitos podem ser adquiridos e de que forma podem/devem ser exercidos ou não exercidos pela Pessoa - A capacidade atua no campo da expansão da personalidade jurídica - Capacidade é a aptidão para realizar atos da vida civil AMOSTRAGEM DE ATOS -Celebração de contratos -Aquisição e venda de bens -Postular (pedir algo) diante de órgãos públicos -Opor-se a certas determinações -Exigir condutas -Participar da vida pública/política DIMENSÕES/ACEPÇÕES DA CAPACIDADE JURÍDICA DIMENSÕES CAPACIDADE DE DIREITO/GOZO/AQUISIÇÃO EQUIVALÊNCIA À PERSONALIDADE JURÍDICA CAPACIDADE DE FATO/EXERCÍCIO/DE AGIR/NEGOCIAL CRITÉRIOS DE IDADE CRITÉRIOS DE SAÚDE MENTAL ESPÉCIES DE INCAPACIDADE CAPACIDADE PLENA INCAPACIDADE ABSOLUTA INCAPACIDADE RELATIVA CRITÉRIOS DE DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL CAPACIDADE DELITUAL LEGITIMIDADE/LEGIT IMAÇÃO CAPACIDADE DE DIREITO - Aptidão para se tornar sujeito de todos ou de alguns direitos - Há autores que indicam que há congruência entre essa acepção de capacidade e o conceito de personalidade jurídica - A distinção seria meramente teórica - Os direitos da fundamentais/da personalidade fazem parte do conjunto de direitos adquiridos automaticamente - Inexistência de incapacidade de direito (art. 1º, CC) CAPACIDADE DE FATO E LEGITIMAÇÃO - Aptidão para exercer pessoalmente direitos e cumprir pessoalmente obrigações - Pessoalmente/diretamente/sem intermediários - Apenas algumas pessoas possuem capacidade de fato - Alguns podem ter mais capacidade que outros - O ordenamento jurídico concede/reconhece, através da lei, a capacidade de fato de acordo com a análise de certos aspectos da pessoa natural - Há uma "gradação" da capacidade - Se existe a capacidade (plena), sua contraparte também existe: a incapacidade (absoluta) - Incapacidade X Proibição de exercício de direitos/impedimentos - Capacidade de exercício X Legitimação (art. 496; 1647, I; 1814, 580; 1813, CC) INCAPACIDADE COMO RESTRIÇÃO FUNDAMENTADA EM PROTEÇÃO - A incapacidade é uma restrição fundamentada em proteção - A partir da incapacidade desenvolve-se um sistema de proteção dos incapazes - O sistema de proteção é baseado em institutos jurídicos específicos - Há a representação - Há o procedimento de interdição - Há a curatela - Há a assistência - Há a tomada de decisão apoiada - Há normas específicas de proteção - Art. 181, CC - Art. 198, I, CC - Art. 589, CC - Art. 2015, CC - Art. 1691, CC ESPÉCIES DE INCAPACIDADE - A finalidade da distinção é a proteção da pessoa - A incapacidade não deve ser tomada como estigma - Os tipos legais são taxativamente enumerados - Cabe apenas interpretação restritiva (art. 227, CF/88) DISCIPLINAMENTO DA INCAPACIDADE ABSOLUTA - Chamam-se absolutamente incapazes - Não podem realizar atos da vida civil - Pelos critérios estabelecidos, os absolutamente incapazes não possuem nenhum discernimento para decisão de um ato da vida civil - Mesmo que tenham alguma "consciência", ela não é suficiente para atestar discernimento entre o correto ou incorreto - Necessitam de intermediários - Se valem do instituto da representação - A representação se refere à colocação de uma pessoa, plenamente capaz, para atuar em nome (art. 1634, VII; 1747; 1781, CC) - Efeito da inobservância: nulidade do ato (art. 166, CC) ABSOLUTAMENTE INCAPAZES ELENCADOS PELO CC/16 (art. 5º, CC/16) - Superação do critério da puberdade (aptidão para procriar) - Figura do menor impúbere (direito pré-codificado) - Mulheres de até 12 anos - Homens até os 14 anos - Impactos do critério da emissão de vontade no CC/16 - Os "loucos de todo gênero" - Surdos-mudos que não puderem exprimir vontade - Os ausentes ABSOLUTAMENTE INCAPAZES ELENCADOS PELO CC/02 (art. 3º, CC/02) - Elaboração de rol com maior acuidade técnica - Contextualização à luz das reformas operadas pela Lei 13.146/2015 - Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Dec. 186/2008) - Surgimento do Estatuto da Pessoa com Deficiência - Mudança no rol dos absolutamente incapazes - Atenuação da qualificação discriminatória da deficiência - Reforma psiquiátrica brasileira (movimento antimanicomial) - A redução da capacidade fundamentada na incapacidade mental não protegia a pessoa ABSOLUTAMENTE INCAPAZES ELENCADOS PELO CC/02 (art. 3º, CC/02) - Na contemporaneidade, a pessoa com deficiência (PcD) deve ser respeitada de acordo com a sua condição pessoal (art. 2º, EPCD) - Inexiste uma obrigação de normalidade (art. 4º, EPCD) - Retirada de categorias por força da efetivação da dignidade humana (art. 84, EPCD) - A incapacidade por saúde ou por dificuldades intelectuais passou a ser analisada no momento da realização do ato - A eventual interdição e curatela somente serão instituídas em casos excepcionais e pelo menor tempo possível (Resp 1927.423, STJ) - Inexistência de restrições ao direito de constituir família, de trabalhar, de votar, de ser testemunha e de obter documentos oficiais ABSOLUTAMENTE INCAPAZES ELENCADOS PELO CC/02 (art. 3º, CC/02) CAPACIDADE DE FATO CAPACIDADE DE FATO GERAL (CC/02) CAPACIDADE DE FATO ESPECÍFICA (EPCD) A capacidade do PcD é plena para atos existenciais A capacidade do PcD é restringida para atos negociais ABSOLUTAMENTE INCAPAZES ELENCADOS PELO CC/02 (art. 3º, CC/02) - Unicamente os menores de 16 anos permanecem absolutamente incapazes - O critério é o imaturidade/falta de experiência de vida - O menor de 16 anos tende a examinar apenas superficialmente a realidade e os efeitos jurídicos de seus atos - Fala-se em uma "provável" falta de conhecimento - Os menores de 16 anos necessitam de representação - Estão inseridos em um sistema de proteção aos incapazes que envolve a Lei 8069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) - São responsáveis pelos atos os progenitores ou tutores designados (art. 1634, VII; 1728; 1691, CC) DISCIPLINAMENTO DA INCAPACIDADE RELATIVA - Chamam-se de relativamente incapazes - Podem praticar alguns atos da vida civil - Trata-se de uma zona intermediária - Não precisam estar representados - Precisam estar acompanhados/assistidos - A assistência se manifesta na combinação presença do assistente + intervenção do menor - Podem estar assistidos por parentes, pessoas designadas ou àqueles escolhidos pelo magistrado em determinação judicial - Há mediana compreensão dos fatos EFEITO DA INOBSERVÂNCIA: ANULABILIDADE DO ATO (ART. 171, I, CC) •Os atos podem ser convalidados •Usa-se o instrumento da ratificação ou simplesmente não se busca a revisão do ato, estando ausente qualquer impugnação INCAPACIDADE DECORRENTE DE CRITÉRIO ETÁRIO: OS MAIORES DE 16 E MENORES DE 18 ANOS - O indivíduo está intelectualmente amadurecido - O indivíduo consegue distinguir as consequências do ato - O indivíduo não consegue agir com plena autonomia - No CC/16 se considerava o intervalo dos 16 aos 21 anos - O CC/02 reduziu dos 16 aos 18 anos - Desenvolvimento mais precoce das mentalidades - Tendência de reforma para nova redução (temperamentos) a) Aumento da quantidade de informações b) Expansão da possibilidade de acesso e troca de informações c) Aumento biológico do nível cognitivo d) Complementação inorgânica de espaços de armazenamento e processamento de informações OS MAIORES DE 16 E MENORES DE 18 ANOS - Há atos que podem ser exercidos sem assistência (art. 666, CC) - Pode testar (art. 1860, CC) - Pode ser testemunha (art. 45, § 1º, III, CPC) - Pode exercer comércio ou estar em relação de emprego (art. 5º, parágrafo único, CC) - Pode casar (art. 1517, CC) - Podem votar (art. 14, § 1º, II, c, CF/88) - Possibilidade de suprimento judicial do consentimento (caso de recusa injustificada) - Princípio da responsabilidade subsidiária e mitigada dos incapazes(art. 105, 180, 181, 928, 392, I CC) INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE OS ÉBRIOS HABITUAIS E OS VICIADOS EM TÓXICOS - São aqueles que são dominados pelo vício das bebidas alcóolicas e por outros vícios relacionados à tóxicos (Dec.891/1938) - A pessoa passa a ser vista constantemente sob efeito inebriante da bebida - Afasta-se a categoria daqueles que se embriagam eventualmente - Trata-se apenas da embriaguez habitual e inveterada - Há deterioração progressiva da capacidade mental INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE - Há uma redução da capacidade plena que é somente possível através do recurso à interdição e decretação de um estado de curatela - A interdição demanda um procedimento judicial (jurisdição voluntária) - O processo judicial envolve exames médicos que atestem o comprometimento do discernimento - O procedimento judicial, ao fim, indica um curador, responsável pela gestão patrimonial do toxicômano - O curador deve assistir o curatelado em todos os atos ou em apenas alguns deles, todos enumerados em sentença judicial - Há necessidade de assistência mesmo se o ato for praticado em momento de lucidez INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE OS IMPEDIDOS DE EXPRIMIR VONTADE POR CAUSA TRANSITÓRIA OU PERMANENTE - São as pessoas que têm algum comprometimento para emissão da vontade - Pessoas submetidas à anestesia geral - Pessoas em estado de coma - Pessoa sequestrada - Diversas podem ser as causas impeditivas, é preciso analisar com cautela - A pessoa está incapaz, mas não é incapaz - Embriaguez - Hipnose - Desequilíbrio hormonal - Traumatismos de diversas ordens - Choque cardíaco - Supressão circulatória sanguínea - A legislação não diferencia a gravidade do impedimento - Não se trata de uma incapacidade total INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE - Se refere apenas aos atos nomeados em decisão de interdição - Deve-se levar em conta a variação do estado mental da pessoa - O caso da "incapacidade por loucura" no CC/02 - A oscilação entre instantes de loucura e inconstante lucidez - Análise do processo psicopatológico - Configuração de um quadro de morbidez mental - O caso da afasia - Afásicos são os que perdem a capacidade de comunicação - Se tornam impossibilitados de expressar suas ideias - Há incapacidade de compreensão por meio de signos linguísticos - Perdem-se faculdades como a escrita, da audição, da visão e mesmo da inteligência - Não há prejuízos fisiológicos, uma vez que se trata de uma condição mental - O caso dos "deficientes mentais" e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 6º, Lei 13.146/2015) A TOMADA DE DECISÃO APOIADA - Conceito - Institutos legais equivalentes - Evolução da autocuratela (art. 1780, CC; art, 123, VII, EPC, art. 1783-A) - Condição de enfermo ou de deficiente físico + vontade de ter curador - Criação de um terceiro gênero - Critérios estabelecidos (art. 1883-A, § 2º, CC) - Ser pessoa com deficiência - Eleger 2 (duas) pessoas idôneas - Ter vínculos com essas pessoas - Ter confiança nessas pessoas - Absolutamente incapazes: proteção incondicional - Relativamente incapazes: proteção relativa INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE OS PRÓDIGOS - Trata-se daqueles que dissipam o seu patrimônio habitualmente - Os pródigos realizam gastos imoderados injustificáveis - Esse comportamento é o que justifica a instauração de processo de interdição, pois equivale à alienação mental - Manifestações da prodigalidade - Oniomania A pessoa adquire descontroladamente tudo que tiver vontade - Cibomania A pessoa dilapida seu patrimônio em jogos de azar - Imoralidade Há um gasto excessivo em razão de impulsos sexuais - Limita-se a capacidade somente em relação aos atos de disposição patrimonial (art. 1782, CC) - São atos de disposição patrimonial: EMPRESTAR, TRANSIGIR, ALIENAR INCAPACIDADE RELATIVA DECORRENTE DA SAÚDE - Há críticas à inclusão desta categoria como relativamente incapaz desde o CC/16 - Violência contra a liberdade individual - Defeito de personalidade - Em que momento se compromete o patrimônio? - Há prodigalidade sem sofrimento mental? - É suficiente? - Argumentos favoráveis - Proteção de natureza patrimonial - Conservação do patrimônio familiar - Medida de proteção derivada do mínimo existencial - Interesse público - Participação do MP (art. 747, CPC) - Levantamento da interdição do pródigo: impossibilidade no CC/02 (art. 461, CC/16) “A interdição da prodigalidade impede que uma pessoa siga o exemplo de São Francisco de Assis, que se desfez de todos os bens que possuía em benefício dos pobres. Segundo a lei brasileira, esse santo, vivendo hoje, seria relativamente incapaz. Em verdade, a interdição à prodigalidade é resquício da visão prevalentemente patrimonialista do direito civil, do indivíduo proprietário segundo a concepção burguesa de vida, que não concebia pessoa sem patrimônio. Em contrapartida, não há qualquer restrição à avareza, que maior mal causa não só ao avaro, mas também às pessoas que com ele convivem." (Paulo Lôbo) CAPACIDADE CIVIL DOS INDÍGENAS (art. 4º, parágrafo único) - O pressuposto de uma capacidade diferenciada dos indígenas é a pressuposição de falta de assimilação da cultural do "homem civilizado" - O termo adotado pelo CC/16 era "silvícola", se referindo aos habitantes da floresta (art. 6º, III, CC/16) - A capacidade dos indígenas é regulada por lei especial à luz de dispositivos internacionais e normas circunstanciais emitas, por exemplo no período da COVID-19 - Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) - Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU) - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 709 (ADPF 709) Classificação dos indígenas de acordo com a Lei 6001/1973 (Estatuto do Índio) ISOLADOS EM VIAS DE INTEGRAÇÃO INTEGRADOS CAPACIDADE CIVIL DOS INDÍGENAS (art. 4º, parágrafo único) Classificação dos indígenas de acordo com a Lei 6001/1973 (Estatuto do Índio) ISOLADOS EM VIAS DE INTEGRAÇÃO INTEGRADOS - Sujeitos ao regime tutelar de proteção - São tutelados pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) - Mudança na denominação para Fundação Nacional dos Povos Indígenas (MP 1154/2023) - Os atos praticados sem assistência do órgão são anuláveis (art. 8º, EI) - Possibilidade de liberação do regime tutelar (art. 9º, EI) - Pedido processado judicialmente - Oitiva da FUNAI e do Ministério Público - Comprovação dos requisitos - Idade de 21 anos - Conhecimento da língua portuguesa - Habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional - Razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional CASOS ESPECIAIS (fora do rol do art. 4º, CC) CASOS ESPECIAIS OS IDOSOS (IDADE AVANÇADA) Decrepitude corporal X sanidade mental Inexiste presunção de incapacidade em função da idade (art. 8º, Lei 10741/2003) O envelhecimento é um direito personalíssimo Casos de arteriosclerose e reduções na capacidade mental DOENÇAS ESPECÍFICAS Condição de morbidez da pessoa Doenças que importam em sonolência e delírios SURDOS-MUDOS (art. 755, CPC) Análise da possibilidade de comunicação Domínio de LIBRAS Aplicação do art. 1783-A da Lei 13.146/2015 DISCIPLINAMENTO DA PLENA CAPACIDADE CAUSAS DO FIM DA INCAPACIDADE ALCANCE DA MAIORIDADE ANTECIPAÇÃO DA MAIORIDADE (emancipação) CURA DA TOXICOMANIA DESAPARECIMENTO DO IMPEDIMENTO - Necessário de reanálise da curatela - Pedido de levantamento de interdição (art 756, CPC) -O curador e o MP são legitimados para o pedido de levantamento ALCANCE DA MAIORIDADE - A plena capacidade é adquirida ao completar 18 anos (art. 5º, CC) - No direito pré-codificado, os maiores de idade eram os que tinham 25 anos - Dissolução dos laços de subordinação (Beviláqua) - Extinção do poder familiar - Desnecessário qualquer ato judicial Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. ATENCIPAÇÃO DA MAIORIDADE - Oinstituto da emancipação - Não existem requisitos formais - A antecipação da maioridade decorre do arbítrio dos genitores - A antecipação da maioridade pode decorrer de certas circunstâncias - Há rol taxativo de causas de antecipação de maioridade (art. 5º, parágrafo único, CC) Art. 5º, Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. POR CONCESSÃO DOS GENITORES OU ATO DO JUIZ - Concessão de ambos os progenitores (art. 226, § 5º, CF/88) - Apenas um dos progenitores, no caso de falecimento do outro ou de destituição do poder familiar (interpretação extensiva) - Dispensável a concordância do menor - Busca-se a emancipação perante a autoridade judiciária (art. 9º, II, CC) - Ocorre nos casos em que estão ausentes os progenitores, quando são desconhecidos ou quando há negação da concessão (art. 148, parágrafo único, "e", ECA) - Ocorre também a necessidade de decisão judicial nos casos em que o menor está sob tutela - O tutor não pode conceder emancipação Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: [...] e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; EFEITOS DA EMANCIPAÇÃO - A emancipação não desvincula o menor dos responsáveis pelos seus atos - Permanece a solidariedade dos pais pelos atos dos filhos (art. 932, I, 933, CC) - A emancipação não pode ser utilizada como forma de abandono dos deveres em relação ao menor incapaz (Resp 122.573/PR, STJ) - A emancipação não libera da obrigação de prestar alimentos - Não há possibilidade de revogação, após concedida https://processo.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=199700164730&dt_publicacao=18/12/1998 CAUSAS LEGAIS DE EMANCIPAÇÃO - CASAMENTO - Observância da idade nupcial (art. 1520, CC) - A dissolução do vínculo não leva à redução da capacidade - A dissolução pode se dar por morte ou por divórcio - Somente o casamento considerado nulo (e não anulável) pode levar à retroação CAUSAS LEGAIS DE EMANCIPAÇÃO – EMPREGO PÚBLICO EFETIVO - Trata-se da nomeação da pessoa como funcionário público - Não equivale à mera aprovação, embora seja esta usualmente necessária para nomeação posterior - Inclui-se a nomeação em cargo comissionado - Inclui-se a nomeação para função de confiança - Antes do CC/02, até mesmo a eleição para vereador seria suficiente - A nomeação para função em autarquias e em empresas públicas - Não alcança os titulares de emprego público temporário CAUSAS LEGAIS DE EMANCIPAÇÃO – COLAÇÃO DE GRAU - Trata-se da formatura em curso superior - Não alcança os formados em cursos técnicos CAUSAS LEGAIS DE EMANCIPAÇÃO – EXERCÍCIO DE EMPRESA - Mínimo etário de 16 anos - Deve ter no estabelecimento comercial quotas ou ações em quantidades significativas (art. 966, 974, CC) - Não basta somente a participação em Pessoas Jurídicas - Deve exercer função de direção ou de gestão - A participação deve ser preponderante - O mesmo pode ser alcançado a partir do exercício de emprego efetivo (documentado) - Comprovação por existência de registro ou carteira de trabalho - O menor deve subsistir por conta de sua atividade - Leva-se em consideração a existência de bens em nome do menor 4 “SOMOS QUEM PODEMOS SER”: A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA COMO ESTRATÉGIA DE DE REALIZAÇÃO DAS POTENCIALIDADES HUMANAS A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA - É crucial que o ordenamento jurídico tenha condições de traçar elementos que distingam uma pessoa da outra - Cada pessoa conserva traços que demarcam suas peculiaridades - Esses tratos permitem o desenvolvimento de diversas potencialidades humanas - O Direito reconhece essa diferenças e absorve a necessidade de também, por suas regras, pormenorizar os caracteres das pessoas - Trata-se da individualização da pessoa - A individualização é um desdobramento do reconhecimento da personalidade jurídica - É a individualização que possibilita que se demarque a medida de personalidade jurídica de cada um - Em se tratando de obrigações especificamente, individualizar a pessoa com um nome, um estado e um domicílio traz segurança para que se esteja em uma relação jurídica A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA Uma vez individualizada, o Direito tem condições de definir se essa pessoa é ou não capaz de adquirir direitos e estar em obrigações e precisar a forma de exercício da capacidade de direito e de fato O NOME DA PESSOA (art. 16, CC) - Trata-se de um sinal exterior que designa a pessoa - Esse sinal pode ser reproduzido dentro da língua falada por escrito e oralmente [possibilidade de comunicação] - Esse sinal, ainda que tenha a ambição de individualizar, pode não ser único, exclusivo - Esse sinal, mesmo que não possa ser único, não pode ser compartilhado por mais de uma pessoa [caso dos homônimos] - Em função dessa equivalência, o nome "pertence" pessoa - Esse sinal integra a personalidade da pessoa, perfazendo não apenas uma forma de identificação nas relações civis, mas um elemento que corrobora para a formação da identidade da pessoa Quando falamos de homônimos em relação ao nome de uma pessoa natural, estamos nos referindo a duas ou mais pessoas diferentes que possuem exatamente o mesmo nome. Por exemplo, se houver duas pessoas chamadas João Silva, elas são homônimas em relação ao nome, pois compartilham o mesmo nome, mas são pessoas diferentes. Isso pode causar confusão em algumas situações, como em registros de documentos, correspondências ou comunicações, em que é necessário especificar exatamente qual João Silva é o destinatário ou titular do documento. O NOME DA PESSOA (art. 16, CC) - A doutrina construiu uma série de mecanismos jurídicos para reconhecimento e proteção do nome adotado e utilizado pela pessoa - Fala-se no direito ao nome como direito da personalidade - Há, por primeiro, um reconhecimento público do nome ligado à necessidade de registro da pessoa natural (art. 54 e 55, LRP) mas que alcança também a pessoa jurídica Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. O NOME DA PESSOA (art. 16, CC) - Além de ostentar um nome, somente a pessoa pode dele dispor, nas medidas do ordenamento jurídico (art. 17, CC) - A pessoa pode optar por ser chamada ou não pelo nome que possui em registro - A pessoa pode defender seu próprio nome contra usurpações e abuso - A pessoa pode desautorizar o uso de seu nome em publicações ou representações - A pessoa pode coibir que o seu nome seja usado para expor ao desprezo público ou ao ridículo - Cabe a pessoa autorizar se seu nome pode ser usado em propagada ou ter algum proveito político, artístico, eleitoral ou religioso (art. 18, CC) - A proteção ao nome alcança o pseudônimo (art. 19, CC) Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Um pseudônimo é uma identidade fictícia criada por uma pessoa para se apresentar publicamente de forma diferente de seu nome real. Pode ser usado por diversos motivos, como para proteger a privacidade, evitar perseguições ou preconceitos, ou simplesmente para fins artísticos ou de branding. O ESTADO DA PESSOA - Trata-se do modo particular das pessoasexistirem (Beviláqua) - É a posição jurídica do ser humano na sociedade e seu respectivo destaque - Do restado resulta a definição da situação jurídica da pessoa, de acordo com suas qualidades - A categoria já tinha valência no Direito Romano (predicativos derivados da posição de escravo, estrangeiro ou cidadão) - O estado historicamente cria uma diferença de posição entre os seres humanos (duques, condes, barões e plebeus) - Essa diferença de posição geralmente cria espaço para exclusões, na medida em que se afirma como definidora dos próprios direitos e não somente da forma de seu exercício O ESTADO DA PESSOA - O estado, hoje, se define bastante em função da situação econômica, cultural e familiar - O princípio geral da isonomia se encarrega de instituir uma preocupação legítima com a nivelação das pessoas - Contemporaneamente, convém que o estado possa ser analisado em relação ao aspecto físico/individual, familiar e político, sem eventuais discriminações - A função primordial do estado é de identificação da pessoa O ESTADO DA PESSOA - O estado é indivisível, indisponível e imprescritível (Orlando Gomes) - Ninguém pode ser duplamente casado e solteiro - Não pode ser alienado, mas é mutável (por morte, por divórcio, por separação, por adoção - O estado nasce com a pessoa e desaparece com sua extinção - O estado é protegido por meio de ações de estado - As ações de estado se vinculam à necessidade de criar, modificar ou extinguir uma situação jurídica - São ações de estado a interdição, a separação, a anulação de casamento - As modificações no estado podem ser resultado de sentenças judiciais ou de atos notariais MANIFESTAÇÕES E CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DO ESTADO O CONCEITO JURÍDICO DE DOMICÍLIO - A indicação de um local onde é encontrada habitualmente, um domicílio, permite que se tenha certeza do ambiente em que a pessoa desenvolve sua atividade social - É a sede jurídica da pessoa - É onde ela se presume presente - Trata-se da circunscrição onde exerce, habitualmente, negócios e atos jurídicos - Ninguém pode ser considerado inteiramente nômade ou peregrino - Á sempre um centro de fixação, descanso e exercício de ocupações O CONCEITO JURÍDICO DE DOMICÍLIO Domicílio X Residência X habitação/morada [conceito jurídico X realidade de fato] A habitação/morada é mera relação de fatoLocal onde a pessoa permaneceNão há intenção de ficar propriamente Local onde a pessoa habita Há o interesse de permanecer, mesmo que haja ausência temporária [trabalho, férias] Trata-se de um conceito jurídico (art. 327, 1785, CC) O CONCEITO JURÍDICO DE DOMICÍLIO O CONCEITO JURÍDICO DE DOMICÍLIO - Existe o domicílio civil (art. 70) - Por domicílio civil, não se alude necessariamente à casa - Fala-se sobre o espaço em que o fato da domicilização tem eficácia - O domicílio civil é marcado pela conjunção entre o critério espacial (objetivo) e a intenção de fixar residência (subjetivo) - A intenção de fixar residência se chama de "ânimo definitivo" - O ânimo definitivo não se confunde com a ideia de longa duração - A pluralidade domiciliar (art. 71, 72, CC) - Princípio da indeclinabilidade do domicílio (art. 73, CC) "Ânimo definitivo" é um termo utilizado no direito civil para se referir à intenção de uma pessoa em estabelecer sua residência em um determinado lugar de forma permanente. Essa intenção deve ser acompanhada por uma série de ações concretas que comprovem a mudança efetiva da pessoa para o novo domicílio, como a transferência de documentos, a inscrição em escolas ou universidades locais, o estabelecimento de negócios, dentre outros. O critério para fixação do domicílio é importante para determinar a lei aplicável a determinadas situações jurídicas, como no caso de obrigações contratuais ou de herança, por exemplo. Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. IMPORTÂNCIA PROCESSUAL DO DOMICÍLIO - É a partir do domicílio que se consegue estabelecer a competência das ações judiciais - A competência das relações judiciais se refere ao lugar onde as ações devem/podem ser ajuizadas i. Ações relacionadas a móveis ou imóveis (art. 46, 47, CPC) ii. Ações que envolvem indenizações por acidente de trânsito (art. 53, V, CPC) iii. Ações imobiliárias possessórias (art. 47, § 2º, CPC) iv. Ações relacionadas à herança (art. 1796, CC; art. 48; 96, CPC) v. Ações manejadas por estrangeiros (art. 7º, LINDB) vi. Ações manejadas por incapazes/ausentes (art. 49, 50, CPC) vii. Ações manejadas envolvendo o agente diplomático (art. 77, CC) viii. Ações manejadas pela mulher, alimentando ou devedor (art. 100, CPC) Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. ESPÉCIES DE DOMICÍLIO Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença. O CASO DO DOMICÍLIO ELETRÔNICO De acordo com a LEI Nº 14.129, DE 29 DE MARÇO DE 2021, domicílio eletrônico é o endereço eletrônico único e exclusivo utilizado para a comunicação de atos e documentos processuais pelos órgãos e entidades da administração pública direta, autárquica e fundacional, bem como por seus contratados ou conveniados. O domicílio eletrônico tem como objetivo simplificar e agilizar a comunicação processual, reduzindo a burocracia e os custos envolvidos na tramitação de processos administrativos. Dessa forma, todas as intimações, notificações e comunicações dos órgãos públicos serão realizadas por meio eletrônico, em um ambiente seguro e confiável. DOMICÍLIO NECESSÁRIO/LEGAL 5 “EU VI A CARA DA MORTE E ELA ESTAVA VIVA”: A EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS “[…] minha mãe disse que morrer é tão natural quanto nascer e que é tudo parte do ciclo da vida. Ela diz que nós não entendemos isso de verdade, mas há muitas coisas que não entendemos totalmente e que devemos usar da melhor forma o conhecimento que temos. Acho que faz sentido” A EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE - A personalidade jurídica cessa com a morte (art. 6º, CC) - A morte é o desaparecimento das funções cerebrais e vitais do organismo - A morte é um acontecimento natural - Em termos jurídicos, a morte é um fato da natureza e independe da vontade humana - A morte foi assimilada pelo Direito, sendo marcada, hoje, pelo critério biológico e antropológico - A Lei 9434/1997 utiliza o critério da morte encefálica com declaração médica (atestado de óbito) O CASO DO SR. VALDEMAR – EDGAR ALLAN POE A EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE Inicialmente morre a célula, depois o tecido e a seguir o órgão; trata-se de um fenômeno em cascata. Estabelecido o processo, ele pode atingir os órgãos dos quais depende a vida do indivíduo, os chamados órgãos vitais. Dessa forma, desencadeia-se a parada da respiração,do coração, da circulação e do cérebro” (Rita Maria Paulina dos Santos) A EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE - O atestado de óbito deve ser registrado - Apesar da extinção da personalidade jurídica, a lei mantém proteção à pessoa e ao patrimônio - Tutela-se os restos mortais - Tutela-se a memória - Tutela-se a imagem - Protegem-se os bens legados - Mors Omnia Solvit (a morte tudo encerra) EFEITOS DA MORTE DA PESSOA NATURAL Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: I - pela morte dos pais ou do filho; Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges; Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: [...] II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; Art. 607. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada por força maior. Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694. ESPÉCIES DE MORTE - - Há duas previsões de morte no ordenamento jurídico brasileiro que projetam efeitos nas relações jurídicas intersubjetivas: a morte real e a morte presumida - - Para a constatação da morte real, que tem por critério a morte encefálica (art. 3º da Lei 9434/1997 – Lei de Transplantes), necessita-se de uma declaração médica que ateste esse quadro clínico. A comunidade médica discute a validez desse critério, cujos parâmetros estão fixados na resolução 2173/2017 do Conselho Federal de Medicina - - Outros critérios utilizados foram: a putrefação cadavérica, o estado de rigidez e resfriamento do cadáver, a cessação da respiração e a parada cardíaca Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial de registro do lugar do falecimento ou do lugar de residência do de cujus, quando o falecimento ocorrer em local diverso do seu domicílio, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado demédico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. [...] § 2º A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se o atestado de óbito houver sido firmado por 2 (dois) médicos ou por 1 (um) médico legista e, no caso de morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, Art. 2º - É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para determinação da morte encefálica: a) dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função do tronco encefálico; b) teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios; ESPÉCIES DE MORTE - - O registro do óbito e a correlata certidão de óbito são, respectivamente, ato e documento essenciais para o desenlace, nas relações privadas, dos efeitos da morte e, no âmbito público, para o desenvolvimento de políticas públicas, especialmente na área da saúde - - Veja-se a situação da COVID-19 e a necessidade de se verificar, a fim de melhor combater a proliferação do vírus, quais as causas dos óbitos nas diversas regiões do País - - A partir dos dados colhidos, foi possível definir o repasse financeiro para os Estados e Municípios e a quantidade de medicamentos e de doses de vacina que deveria ser disponibilizada para um combate efetivo da doença - - O mesmo vale para a definição do momento para desenvolvimento de campanhas contra a Dengue, Zika, Malária e outras doenças sazonais, que vulnerabilizam certos setores sociais ESPÉCIES DE MORTE - - O art. 79 da LRP indica quem é legitimado a fazer, obrigatoriamente, o comunicado do óbito e buscar a certidão específica. Caso não seja feita a declaração do óbito, esta omissão pode caracterizar ilícito (uma forma de ocultação do óbito) - - Indica-se que, em certas ocasiões, pode o médico, o sacerdote ou o vizinho podem prestar as informações mais necessárias, sendo também legitimados Art. 79. São obrigados a fazer declaração de óbitos: 1°) o chefe de família, a respeito de sua mulher, filhos, hóspedes, agregados e fâmulos; 2º) a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoas indicadas no número antecedente; 3°) o filho, a respeito do pai ou da mãe; o irmão, a respeito dos irmãos e demais pessoas de casa, indicadas no nº 1; o parente mais próximo maior e presente; 4º) o administrador, diretor ou gerente de qualquer estabelecimento público ou particular, a respeito dos que nele faleceram, salvo se estiver presente algum parente em grau acima indicado; 5º) na falta de pessoa competente, nos termos dos números anteriores, a que tiver assistido aos últimos momentos do finado, o médico, o sacerdote ou vizinho que do falecimento tiver notícia; 6°) a autoridade policial, a respeito de pessoas encontradas mortas. Parágrafo único. A declaração poderá ser feita por meio de preposto, autorizando-o o declarante em escrito, de que constem os elementos necessários ao assento de óbito. A MORTE CIVIL - Trata-se da exclusão das pessoas da sociedade - Implicava na perda de direitos, considerando a pessoa como se morta estivesse, apesar de biologicamente viva - Era aplicada aos condenados a penas perpétuas - Era aplicada aos deportados - Era aplicada a alguns religiosos de ordens monárquicas - Inexiste na legislação brasileira - Persistem, porém, certos efeitos que se assimilam a uma morte civil - O instituto da indignidade no Direito Sucessório (art. 1816, CC) Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. A MORTE PRESUMIDA - Há a possibilidade, em função de situações fáticas, de, mesmo sem cadáver, se obter uma declaração de morte - Fala-se em presunção de morte, já que não é possível se constatar precisamente que ocorreu a morte em si - O que se pode é conferir efeitos de morte a uma situação fática, que é a ausência - A ausência traduz o reconhecimento jurídico do desconhecimento do paradeiro de uma pessoa após um longo período de tempo - A decretação da ausência é um instrumento jurídico que busca solucionar problemas de ordem patrimonial - Com a decretação da ausência, surge a possibilidade de abertura da sucessão - Surgem dúvidas, em função desse lapso temporal, se a pessoa continuaria ou não viva A MORTE PRESUMIDA - - Não é comum que se dependa de qualquer pronunciamento judicial para que possa a morte produzir seus principais efeitos; somente em casos de morte presumida é necessária alguma manifestação do Estado-Juiz no sentido de constituir uma determinada situação jurídica propícia à ocorrência da sucessão - - Em algumas circunstancias, se permite a realização de procedimento denominado justificação de óbito a fim e demonstrar a ocorrência da morte de uma pessoa sem necessitar a exumação do cadáver. Trata-se de uma mera ação declaratória (art. 19, CPC) - - Ocorre no que se chama de morte presumida (morte real sem cadáver/morte presumida sem ausência), prevista ainda na Parte Geral do CC/02 (art. 7º, CC), a necessidade de que, para abertura da sucessão definitiva, sejam seguidas certas etapas que envolvem, em maior ou menor grau, a participação do Estado-Juiz, mas também outras diligências,especialmente no que concerne à produção de provas, documentais ou testemunhais Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II - da autenticidade ou da falsidade de documento. A MORTE PRESUMIDA - - A morte presumida é uma inovação trazida pelo CC/02 já que o CC/16 não previa um procedimento ágil nessas situações - - A morte presumida pressupõe uma extrema impossibilidade de sobrevida, como no caso de grandes catástrofes (art. 7º, I, CC) naturais ou de guerra (art. 7º, II, CC), de maneira que o cadáver dificilmente poderá ser localizado para fins de reconhecimento ou procedimentos legais ordinários - - É preciso comprovar que a pessoa estava no local em que ocorreu a catástrofe ou em que eclodiu situação de conflito armado e que não se encontrou cabalmente nenhuma notícia dela - - Sublinhe-se que o eventual retorno do desaparecido anula a sentença declaratória da morte; de acordo com a literatura especializada, aplica-se o disposto no artigo 39, CC nesses casos Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. A MORTE PRESUMIDA A MORTE PRESUMIDA A LEI DA ANISTIA E O CASO DO DESAPARECIDO POLÍTICO - - Dos períodos tenebrosos do Brasil, a ditatura militar deixou sequelas irreversíveis - - Uma delas repercute particularmente no âmbito do Direito Sucessório: a situação do desaparecido político - - É desaparecido político todos àqueles ativistas políticos que, em atividade no período ditatorial, desapareceram vítimas da forte repressão às manifestações contrárias ao regime imposto - - A Lei da Anistia (Lei nº 6683/1979) trouxe a possibilidade de que os familiares dos desaparecidos obtivessem uma declaração de ausência, formalizando assim uma presunção de morte - - A Lei nº 9140/1995, que foi alterada pela Lei n 10875/2004, reconheceu como mortas as pessoas desaparecidas em decorrência dos acontecimentos do regime - - O período previsto na lei é entre 02 de setembro de 1961 e 05 de outubro de 1988 - - Prevê-se, ainda, indenização para os familiares do desaparecido político Cf. AZEVEDO, Desirée de Lemos. Ausências incorporadas: etnografia entre familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Editora Unifesp, 2021. A MORTE PRESUMIDA COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA - - A outra espécie de morte presumida é a morte presumida com declaração de ausência - - Esta alcunha indica que há necessidade de, antes de se buscar a declaração da morte presumida, se obtenha um pronunciamento judicial (observando o procedimento específico) que evidencie que a pessoa que se pretende suceder se encontra em estado de ausência - - O pronunciamento judicial “cria” a situação jurídica de ausência que gerará, se oportuno for, a sucessão provisória e a sucessão definitiva Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear- lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. A MORTE PRESUMIDA COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA - - Para além do Código Civil, no processo de declaração de ausência (e posteriores sucessão provisória e definitiva) é necessário observar o disposto no Código de Processo Civil, que também define os pormenores do rito - - A declaração de ausência (diferente dos casos de morte presumida), não presume, a rigor a morte; pelo contrário, a expectativa é de preservação dos bens do ausente para que ele os encontre intactos quando retornar. Espera-se o retorno do ausente - - A declaração de ausência, assim, não produz os efeitos da morte real, de modo que a sucessão não é aberta automaticamente por força da principiologia incidente no Direito Sucessório Art. 744. Declarada a ausência nos casos previstos em lei, o juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear- lhes-á curador na forma estabelecida na Seção VI, observando-se o disposto em lei. Art. 745. Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 1 (um) ano, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, durante 1 (um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens FASES DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA Curatela dos bens do ausente Art. 22 ao 55, CC Sucessão provisória Sucessão definitiva Art. 26 a 36 CC Art. 37 a 39, CC FASES DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA - Na fase de curatela dos bens do ausente, cabe ser feita a arrecadação dos bens - Qualquer interessado pode requerer esta intervenção do Estado-Juiz, do cônjuge ao credor, mesmo o Ministério Público - Não foi fixado, nem no CC/02 e nem no CPC/2015, qualquer prazo mínimo de desaparecimento do ausente; é suficiente que se constate (e se prove) o desaparecimento e a consequente falta de notícias - A fase de curadoria se destina à proteção do ausente, considerando que é alta a probabilidade de que o ausente esteja vivo, de modo que somente se enxerga nitidamente a necessidade utilitária de fazer com que o patrimônio e as relações existenciais do ausente sejam tuteladas, de algum modo neste período (breve, longo ou alongado) de ausência física - Ao curador é vedada a prática de qualquer ato de disposição patrimonial; a ele cabe somente administrar os bens que lhe foram confiados em decisão judicial - Haja vista a equiparação do companheiro ao cônjuge, não há óbices para que ele seja nomeado curador (enunciado 97, Jornada de Direito Civil) – art. 25, CCC FASES DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA - É na fase de sucessão promissória que se dá os primeiros passos para se efetivar, em algum nível, a transferência dos bens do ausente aos sucessores (art. 745, § 1º, CPC) - É preciso observar o prazo de 1 (um) ano previsto no edital, conforme dição da norma procedimental para que se possa dar início à sucessão provisória - Caso tenha deixado procurador, esse prazo é estendido para 3 (três) anos contatos da arrecadação dos bens (art. 26, CC) - O fundamento da sucessão reside no fato de que conforme se passa o tempo se torna mais difícil que haja o retorno do ausente e mais provável, em função da falta de notícias, é a sua morte - O que ocorre é uma transmissão precária do patrimônio de modo que os herdeiros somente são investido na posse e administração dos bens do ausente Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. FASES DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA - Com a sentença de sucessão provisória é possível promover a abertura do testamento, se houver, assim como iniciar os preparativos de inventário e da partilha, ao fim - Exige-se, considerando a probabilidade de que haja o retorno do ausente (a morte não foi presumida), que os herdeirosprestem caução, isto é, que apresentem garantias dos bens do ausente - Ascendentes, descendentes e cônjuges (herdeiros necessários), se não tiverem condições, não precisam prestar essas garantias (art. 30, § 2º, CC) - Contudo, no que diz respeito aos credores o pagamento que lhes for feito o é em caráter definitivo Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. FASES DO PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA - Se regressa, deve o ausente formular um pedido de restituição dos bens, de modo a observar o devido processo legal contundentemente - A proteção ao ausente é, inicialmente, incidente sobre o patrimônio, mas as relações pessoais também têm relevância, considerando o Direito Sucessório ser entrecortado pela dignidade da pessoa humana - Há, com a ausência, a possibilidade de dissolução do vínculo conjugal (art. 226, § 6º, CF/88; art. 1571, § 1º, CC) - O cônjuge do ausente, uma vez dissolvido o vínculo, passa a ter o estado civil de viúvo presumido - Há a possibilidade de declaração de ausência mesmo que não haja patrimônio a ser compartilhado - Temperamentos sobre o momento da dissolução (em que fase ocorreria?) - Tese da irreversibilidade dos efeitos A COMORIÊNCIA - Trata-se da presunção de simultaneidade de morte, diante da impossibilidade de constatação de premoriência (art. 8º, CC) - Trata-se de presunção iuris tantum - Pode ocorrer comoriência na morte real - Pode ocorrer comoriência na morte presumida (critério de tempo e não de lugar) - Não há transferência patrimonial entre os comorientes - Inexiste comoriência entre pessoas que não transmitem direitos entre si (art. 792, CC) 2 QUEM SÃO ELES, QUEM ELES PENSAM QUE SÃO?A PESSOA JURÍDICA DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA PESSOA JURÍDICA - Agrupamento e finalidade/ideal - Transcendência das possibilidades individuais - Formação de unidades coletivas - Unidades coletivas como sujeitos de direitos - A substância da pessoa jurídica - Equivalência à pessoa natural - A justaposição Direito-Economia - Entidades a quem a lei confere personalidade - Atuam mediante órgãos que a "presentam" (Pontes de Miranda) DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA PESSOA JURÍDICA - Elementos essenciais do conceito de pessoa jurídica - Abrangência extrapatrimonial (art. 52, CC) DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA PESSOA JURÍDICA - Trata-se da personificação de um grupo de pessoas físicas - Pode se referir a um ente criado por lei - Pode decorrer diretamente da um patrimônio gerido por uma certa quantidade de pessoas - As pessoas jurídicas são realidades de direito, mas não realidade fisiopsíquicas, formadas por varias pessoas que se unem e se organizam em prol da realização de um objetivo comum - A organização se dá a partir de estatutos ou da elaboração de um contrato social - Reconhece-se a essa união de pessoas, a essa massa de bens e a esse amontoado de interesses personalidade jurídica como se pessoa natural fosse DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA PESSOA JURÍDICA - A atribuição de personalidade jurídica serve para que a pessoa jurídica possa agir no universo jurídico - A pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo/passivo nas relações jurídicas que lhe interessarem, conforme seu escopo - Na formação das pessoas jurídicas, não se dispensa a presenta de seres humanos ou, no mínimo, da vontade humana - A necessidade de instituição de uma pessoa jurídica decorreu exatamente das limitações da pessoa natural e foi concebida como uma forma de possibilitar o ajuntamento de recursos para consecução de metas planejadas - A pessoa jurídica reconhece a possibilidade de congregação de forças para a criação de uma unidade orgânica DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DA PESSOA JURÍDICA - Essa congregação de forças tende a adquirir personalidade jurídica, que é distinta da personalidade dos indivíduos que a compõem - A pessoa jurídica, além de personalidade jurídica, possui capacidade plena, porém observada sempre nos limites dos interesses a que está submetida - Geralmente são interesses de natureza econômica, mas a pessoa jurídica pode não se restringir a eles - Há pessoa jurídica também instituída por força de lei para realização de alguma função pública - A pessoa jurídica não é pessoa - A pessoa jurídica é um ente personalizado A AFIRMAÇÃO LINGUÍSTICA DA PESSOA JURÍDICA SOCIEDADES ASSOCIAÇÕES PESSOAS COLETIVAS PESSOAS MORAIS PESSOAS IDEAIS PESSOAS CIVIS PESSOAS SOCIAIS PESSOAS MÍSTICAS PESSOAS ABSTRADAS PESSOAS FICTÍCIAS PESSOAS INTELECTUAIS PESSOAS COMPOSTAS PESSOAS UNIVESAIS COLLEGIUM, CORPUS, UNIVERSITAS Direito Romano França e Suíça Direito Brasileiro pré-codificado Direito Brasileiro pré-codificado A AFIRMAÇÃO LINGUÍSTICA DA PESSOA JURÍDICA - Há expressões flagrantemente inadequadas, como a denominação pessoa moral e pessoa ideal - A expressão pessoa civil pode levar a uma confusão em relação à pessoa natural - A pessoa abstrata leva a pensar em um ente desligado de conteúdo material, quando na realidade é este o conteúdo primordial da pessoa jurídica - Por pessoa coletiva, refere-se apenas a uma sociedade com organização interna desta natureza coletiva - Pessoa Jurídica é o termo mais assertivo, por ser mais abrangente, e é adotado desde o CC/16 para enfatizar que se trata de um ente que se adapta às normas legais e por isso o ordenamento lhe reconhece personalidade para praticar atos EM BUSCA DA NATUREZA JURÍDICA DAS PESSOAS JURÍDICAS - Buscar a natureza jurídica da Pessoa Jurídica é tentar definir sua feição no universo jurídico - Hoje a questão encontra-se pacificada no contexto do ordenamento jurídico brasileiro, embora existam tensões - Há ainda a teoria da equiparação e a teoria da propriedade coletiva - Negam a existência da Pessoa Jurídica - Alguns denominam de teorias individualistas - As pessoas jurídicas não estariam sujeitas a direitos e nem a obrigações - Tiveram prestígio no século XIX TEORIAS DA FICÇÃO - Defendida por Savigny na obra “Sistema do Direito Romano Atual” - Acentua-se a abstração da pessoa jurídica, sendo criação artificial da lei - A Pessoa Jurídica seria um ente fictício ou um mero conceito - Trata-se de uma criação mental proveniente de uma projeção de personalidade que a lei faculta ao grupo de pessoas - Somente a pessoa natural seria sujeito da relação jurídica - A Pessoa Jurídica existe porque o Estado as cria através de uma possibilidade que surge da lei - Há a teoria da ficção doutrinária como variação; ela afirma que a pessoa jurídica tem origem na inteligência dos juristas TEORIAS DA FICÇÃO - Por esta teoria, não existem argumentos que expliquem os atos que realizam as pessoas jurídicas, já que elas os realizam sem depender necessariamente dos indivíduos, uma vez constituída a partir de sua vontade - Outra crítica que se faz é de que as teorias da ficção não explicam o porquê de ser o Estado também Pessoa Jurídica - Ao dizer que o Estado é, como pessoa jurídica, uma ficção legal ou doutrinária, seira o mesmo que afirmar que o Direito, que surge do Estado, é também ficcional TEORIAS DA REALIDADE - As teorias da realidade são reações às teorias da ficção - As pessoas jurídicas seriam realidades vivas, para além da mera abstração - As pessoas jurídicas possuem existência própria como se indivíduos fossem - Há um paralelo formado entre a pessoa natural e a pessoa jurídica, que as faz convergirem - Há diversas formas de apreciar esta realidade e é isso que gera as diversas correntes destas teorias da realidade TEORIAS DA REALIDADE - A pessoa jurídica seria uma realidade sociológica - A pessoa jurídica é um ser com vida própria - A pessoa jurídicanasce por imposição das forças sociais - A vontade, seja ela pública ou privada, dá vida a um organismo, que passa a ser existência própria, com autonomia para prática de atos, distinta de seus membros constituintes - A crítica que se faz é que a vontade é atributo unicamente do ser humano, de forma que não poderia a pessoa jurídica “ter” vontade e “agir” - Por essa teoria, o papel do Estado é reduzido a mero conhecedor de realidades, retirando-lhe o poder criador TEORIA DA REALIDADE OBJETIVA TEORIAS DA REALIDADE - As pessoas jurídicas seriam organizações sociais destinadas a um serviço ou ofício e por isso são personificadas - Analisam-se as relações sociais e não mais somente a vontade humana - O pressuposto é a realização e ideias socialmente úteis - Esta teoria não esclarece a existência de pessoas jurídicas que se organizam sem a finalidade de prestar um serviço ou ofício, como as fundações TEORIA DA REALIDADE JURÍDICA TEORIAS DA REALIDADE - A personificação seria expediente de ordem técnica - Trata-se da forma que o Direito encontrou de reconhecer a existência de grupos de indivíduos (é um meio termo) - O Estado tem papel destacado, pois reconhece a vontade e objetivos próprios e, analisando a conveniência, dota estes grupos de personalidade jurídica própria - A personalidade jurídica, como atributo, é deferida pelo Estado a certas entidades, para que possam agir como pessoa natural - O Estado fornece esse reconhecimento a partir de determinados requisitos - É uma teoria com fortes traços positivistas - É a teoria adotada pelo CC/02 (art.45, 51, 52, VI, 61, 69, 1033, CC) TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA AS EXIGÊNCIAS PARA CONFIGURAÇÃO DE UMA PESSOA JURÍDICA - Às pessoas jurídicas, o ordenamento jurídico empresta personalidade - A personificação surge a partir do instante em que é concedido à pessoa jurídica o poder de realizar atos jurídicos - Para conceder à pessoa jurídica o poder de realizar atos de natureza negocial, é preciso que sejam cumpridos certos requisitos específicos, por força de vigorar no Brasil o sistema de disposições normativas - Os requisitos são fundados na liberdade de associação, na dispensa de autorização do poder público e na existência de alguma finalidade almejada AS EXIGÊNCIAS PARA CONFIGURAÇÃO DE UMA PESSOA JURÍDICA - A finalidade específica encerra na vontade humana concentrada - Todos os integrantes da pessoa jurídica objetivam o mesmo fim que, atingido, aproveita todas elas na forma do aproveitamento da pessoa jurídica - A atividade é dirigida para a pessoa no sentido de beneficiar o ente comum [e, reflexamente, beneficiar também a coletividade/sociedade] - Há, na constituição das pessoas jurídica, uma vontade de cooperar, que toma forma de affectio societatis no caso de alguns grupamentos, como as sociedade e as associações - A affectio societatis representa o requisito psicológico na configuração das pessoas jurídicas - Esse requisito psicológico de matriz coletiva distingue a formação da pessoa jurídica da simples celebração de um contrato ligando as pessoas, como um contrato de arrendamento ou de parceria AS EXIGÊNCIAS PARA CONFIGURAÇÃO DE UMA PESSOA JURÍDICA - Deve-se preservar a harmonia de vontades, evitando, assim, que na gestão da pessoa jurídica se dê margem para a prevalência do dissenso em lugar do consenso em prol da continuidade da atividade e consecução das finalidades - Além da vontade, é preciso que haja obediência dos requisitos legais na formação da pessoa jurídica - Tal obediência compreende a necessidade que sejam seguidos rigidamente os passos indicados na legislação para configuração da pessoa jurídica - Há, exemplificativamente, a depender do tipo de pessoa jurídica diferentes requisitos que precisam ser integralmente cumpridos para permitir a atribuição de personalidade jurídica - Os requisitos são, em sua maioria, de ordem administrativa e se procede perante o registro civil e juntas comerciais, a depender da finalidade almejada, tendo como pressuposto a necessidade de elaboração e registro de um ato constitutivo AS EXIGÊNCIAS PARA CONFIGURAÇÃO DE UMA PESSOA JURÍDICA - A elaboração de ato constitutivo é um requisito formal - Pode tomar a forma de estatutos, no caso das associações - Pode tomar a forma de contrato social, no caso das sociedades (art. 981, CC) - Pode tomar a forma do próprio testamento, no caso de algumas fundações (art. 62, CC) - Na elaboração desse ato constitutivo, é fundamental que se observe a licitude das finalidade pretendidas com a formação da pessoa jurídica - O objeto social da pessoa jurídica não pode vilipendiar direitos - Deve haver um compasso da finalidade, do objeto, com o direito vigente Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. AS EXIGÊNCIAS PARA CONFIGURAÇÃO DE UMA PESSOA JURÍDICA - Não são reconhecidas pessoas jurídicas que pretendam, com sua constituição, explorar atividade ilícitas - Se esta for a intenção, há, outrossim, a configuração potencial de crime, como a chamada associação criminosa (art. 69, CC) - O objeto deve, em essência, ser lícito, possível e determinável (art. 53, 62, parágrafo unico CC) - É fundamental não olvidar que na formação das pessoas jurídicas, há manifesto interesse patrimonial - Grande parte das pessoas jurídicas existentes almejam gerar lucros que serão repartidos entre as pessoas jurídicas que compõem e exploram as atividades - Não é, porém, um requisito formativo LUCRO ASSISTÊNCIA SOCIAL DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDUCAÇÃO SAÚDE SEGURANÇA ALIMENTAR ATIVIDADES RELIGIOSAS PROMOÇÃO DA CIDADANIA Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015) I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX – atividades religiosas; e X – (VETADO). Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. FINALIDADE PATRIMONIAL E RESPONSABILIDADES - Pessoas Jurídicas há que possuem exclusivamente objetivos de ordem espiritual, religiosa ou cultural e que conservam finalidades altruísticas ainda que recolham valores para sua manutenção, o que não as descaracteriza - Mesmo nessas pessoas jurídicas, tem-se a necessidade de constatar que os membros possuem responsabilidades (art. 47, CC) - Nas pessoas jurídicas que geram lucros, a responsabilidade surge tanto no campo dos lucros quanto no das perdas que podem ser sofridas - Em função desse quadro de responsabilização, exige-se, em regra, que as pessoas jurídicas sejam formadas e dirigidas por pessoas
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