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JÉSSICA BARRIQUELO
ORTOTANÁSIA: PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA
SANTA BARBÁRA D’OESTE
2024
JÉSSICA BARRIQUELO
ORTOTANÁSIA: PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Instituição Anhanguera 
Orientador: 
SANTA BARBÁRA D’OESTE
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2024
BARRIQUELO, Jéssica. Ortotanásia: Princípio Da Dignidade Humana. 2024. 20. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Universidade Anhanguera, Santa Barbara D’Oeste, 2024.
RESUMO
Esta monografia aborda a interseção entre o princípio da dignidade humana, a prática da ortotanásia e a legislação brasileira. A ortotanásia, definida como a decisão de não prolongar artificialmente a vida de um paciente em estado terminal, levanta questões éticas, legais e morais relacionadas à autonomia do paciente, respeito à dignidade humana e interpretação das leis brasileiras. O princípio da dignidade humana é fundamental na discussão sobre ortotanásia, pois enfatiza o valor intrínseco de cada indivíduo e sua capacidade de tomar decisões autônomas sobre sua própria vida, inclusive no contexto do fim da vida. A ortotanásia busca respeitar esse princípio, permitindo que o paciente tenha uma morte digna e natural, alinhada com seus desejos e valores. No entanto, a falta de legislação específica sobre ortotanásia no Brasil cria um vácuo jurídico que pode resultar em incertezas e dilemas éticos para profissionais de saúde e familiares. A ausência de diretrizes claras pode dificultar a tomada de decisões no final da vida e expor os profissionais a possíveis repercussões legais. Por fim, esta monografia destaca a importância de considerar o princípio da dignidade humana na discussão sobre ortotanásia e sua relação com as leis brasileiras. É essencial que a legislação seja desenvolvida para fornecer orientações claras e proteção legal aos profissionais de saúde que respeitam a vontade dos pacientes em não prolongar artificialmente suas vidas. Além disso, é necessário promover um diálogo contínuo na sociedade brasileira sobre os valores e direitos fundamentais envolvidos na prática da ortotanásia, garantindo que as decisões no final da vida sejam tomadas com respeito à autonomia e dignidade dos pacientes.
Palavras-Chaves: Ortotanásia. Direitos Fundamentais. Dignidade Humana. Direito Penal
BARRIQUELO, Jéssica. Orthothanasia: Principle of Human Dignity. 2024. 20. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Universidade Anhanguera, Santa Barbara D’Oeste, 2024.
ABSTRACT 
This monograph addresses the intersection between the principle of human dignity, the practice of orthothanasia, and Brazilian legislation. Orthothanasia, defined as the decision not to artificially prolong the life of a terminally ill patient, raises ethical, legal, and moral questions related to patient autonomy, respect for human dignity, and interpretation of Brazilian laws. The principle of human dignity is paramount in the discussion of orthothanasia as it emphasizes the intrinsic value of each individual and their capacity to make autonomous decisions about their own life, including in the context of end-of-life care. Orthothanasia seeks to respect this principle, allowing the patient to have a dignified and natural death aligned with their wishes and values. However, the lack of specific legislation on orthothanasia in Brazil creates a legal vacuum that can result in uncertainties and ethical dilemmas for healthcare professionals and families. The absence of clear guidelines can hinder end-of-life decision-making and expose professionals to potential legal repercussions. Ultimately, this monograph highlights the importance of considering the principle of human dignity in the discussion of orthothanasia and its relationship with Brazilian laws. It is essential for legislation to be developed to provide clear guidance and legal protection for healthcare professionals who respect patients' wishes not to artificially prolong their lives. Furthermore, there is a need to promote ongoing dialogue in Brazilian society about the values and fundamental rights involved in the practice of orthothanasia, ensuring that end-of-life decisions are made with respect for patient autonomy and dignity.
Keywords: Orthothanasia. Fundamental Rights. Human Dignity. Penal Law.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	6
1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA	9
2 DA ORTANÁSIA E DA ORTOTANÁSIA	13
3 ORTOTANÁSIA SOB A ÓTICA DO ORDENAMENTO JURIDÍCO BRASILEIRO	16
4 CONSIDERAÇOES FINAIS	18
REFERÊNCIAS	20
 INTRODUÇÃO
A ortotanásia, do ponto de vista do direito penal, representa um tema de grande complexidade e sensibilidade, permeado por considerações éticas, legais e morais que se relacionam com o fim da vida de pacientes em estado terminal. O conceito de ortotanásia está intrinsecamente ligado à decisão de não estender artificialmente a vida de um paciente em fase terminal, permitindo que a morte ocorra de forma natural, respeitando seus desejos e preservando sua dignidade e autonomia.
Sob a ótica do Direito Penal, a ortotanásia dá origem a uma série de questões intrincadas. Por exemplo, a ortotanásia envolve o que é conhecido como eutanásia passiva, que consiste na suspensão ou na não implementação de procedimentos médicos que poderiam prolongar a vida do paciente. Essas ações ou omissões, por sua vez, podem levantar dúvidas sobre a configuração de crimes de homicídio ou de negligência médica, dependendo da interpretação da legislação vigente.
A autonomia do paciente desempenha um papel fundamental no contexto da ortotanásia no direito penal. O Direito Penaldeve considerar a vontade do paciente, que pode ser expressa por meio de um testamento vital ou de um documento de diretrizes antecipadas de vontade. É essencial que a decisão de não prolongar artificialmente a vida do paciente esteja conforme suas especificações, desde que esteja em conformidade com as leis locais e nacionais.
Além disso, a legalidade da ortotanásia varia de um país para outro e até mesmo dentro das jurisdições de um mesmo país. Em algumas regiões, a ortotanásia pode ser considerada ilegal, enquanto em outras é permitida sob condições específicas pela legislação local. O Direito Penaldeve refletir essas normas e regulamentações em constante evolução, bem como a interpretação da lei pelos tribunais, que pode influenciar significativamente a forma como os casos de ortotanásia são tratados do ponto de vista penal.
Por fim, em certas circunstâncias, a decisão de não prolongar artificialmente a vida de um paciente terminal pode suscitar questionamentos sobre a responsabilidade penal dos profissionais de saúde envolvidos. Essas situações geram debates sobre a linha tênue entre a prestação de cuidados adequados e a omissão criminosa, tornando a ortotanásia um tema jurídico complexo e em constante evolução no campo do direito penal.
Este estudo tem sua importância justificada pela necessidade de analisar a ortotanásia sob a ótica dos direitos fundamentais às profundas implicações que as decisões médicas no final da vida têm na qualidade de vida e na dignidade dos pacientes. quando nos deparamos com o momento crucial em que a vida se aproxima de seu termo, as escolhas sobre a assistência médica prestada tornam-se cruciais, é vital garantir que essas escolhas estejam alinhadas com os princípios fundamentais que regem nossa sociedade.
A ortotanásia, representando a decisão de não prolongar artificialmente a vida de um paciente em estado terminal, está no cerne dessa discussão. com o aumento da longevidade da população e os avanços médicos que permitem uma maior intervenção no processo de morte, a ortotanásia emerge como um tema de grande relevância, complexidade e legal. portanto, compreender como a ortotanásia se enquadrar nos direitos fundamentais é essencial para orientar políticas de saúde, moldar a legislação e influenciar as práticas médicas.
A dignidade e a qualidade de vida do indivíduo no fim de sua jornada são aspectos centrais desta análise.os direitos fundamentais, que incluem a autonomia, a integridade e a liberdade, devem ser considerados durante esse período delicado. a ortotanásia bem fundamentada nos princípios dos direitos fundamentais respeita a vontade do paciente, promove a humanização dos cuidados no final da vida e busca garantir que a passagem para a morte seja acompanhada de respeito e compaixão.
Em um cenário global em que os dilemas éticos e legais em torno da ortotanásia se intensificam, este estudo busca lançar luz sobre como a interseção entre a ortotanásia e os direitos fundamentais pode orientar ações e políticas que promovam o bem-estar e o respeito pelos pacientes durante esse período é sensível. 
Este trabalho adotará uma abordagem de pesquisa qualitativa, envolvendo uma análise de literatura, legislação e legislação pertinentes à ortotanásia e direitos fundamentais. Será realizada uma revisão sistemática da literatura para identificar estudos relevantes, seguida de uma análise crítica e síntese dos achados.
 Além disso, serão examinados casos legais e regulamentações em diferentes jurisdições para ilustrar a aplicação dos princípios de direitos fundamentais à ortotanásia. A pesquisa também incluirá análises éticas e considerações sobre políticas de saúde, bem como entrevistas com profissionais de saúde e especialistas no campo.
Será realizada uma revisão sistemática da literatura, com critérios de inclusão que consideram estudos e documentos relacionados à ortotanásia, direitos fundamentais e suas interseções. Os descritores utilizados para a busca incluíram termos como "ortotanásia", "direitos fundamentais", "autonomia do paciente", "dignidade humana" e outros relevantes para a pesquisa.
O objetivo geral deste trabalho é analisar a relação entre ortotanásia e direitos fundamentais, investigando como a prática da ortotanásia é conciliável com princípios fundamentais, como a autonomia do paciente, a dignidade humana e o direito à vida.
Como objetivos específicos tem-se: Analisar a legislação e as barreira; relacionadas à ortotanásia em diferentes jurisdições, com ênfase nas implicações para os direitos fundamentais dos pacientes; Examinar as questões éticas envolvidas na ortotanásia, incluindo a autonomia do paciente, a decisão informada e o papel dos profissionais de saúde na tomada de decisões no final da vida; Avaliar as políticas de saúde e práticas médicas relacionadas à ortotanásia, identificando desafios e boas práticas na implementação da ortotanásia em consonância com os direitos fundamentais dos pacientes
Diante desse contexto, a pergunta problema que norteará esta pesquisa é a seguinte: Como a ortotanásia se enquadra no quadro dos direitos fundamentais, especialmente considerando a legislação e prática médica atual, e quais são os desafios éticos e legais que surgem em relação à autonomia do paciente, à dignidade humana e à extensão da intervenção médica?
1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA 
Temos que entender a expressão dignidade humana visto que existe uma complexa rede histórica que vem desde da antiguidade clássica com passagem pela judaica cristã e a atual pós segunda guerra mundial. 
 São Tomás de Aquino, foi quem, pela primeira vez, cunhou a expressão dignitas humana[footnoteRef:1], afirmando que “a dignidade é inerente ao homem, como espécie; e ela existe in actu[footnoteRef:2] só no homem enquanto indivíduo” (FACHIN, 2009, p.34). [1: Dignidade Humana.] [2: No ato. No momento da ação.] 
Na verdade, é esse potencial de conectar diferentes campos da regulamentação, entre direitos humanos, bioética, direito humanitário, direito da igualdade e outros, que se pode considerar a função mais importante da dignidade humana no Direito. (FACHIN, 2009).
 Esse conceito, decorrente dos discursos e práticas do direito internacional, tem forte relação com a igualdade, a liberdade e o status básico do indivíduo. E, crucialmente, implica uma função intersticial ou conjuntiva em nossos sistemas normativos. É onde o direito, a ética e a política se encontram e são prática e criticamente inter-relacionados. É onde a regulamentação doméstica, regional e internacional encontra um princípio comum (BARROSO, 2013).
É onde o direito positivo e a moralidade se tornam difíceis de distinguir. E é onde normas específicas e princípios gerais estão ligados. Por extensão, este conceito de dignidade humana é o conceito que devemos tratar como o fundamento dos direitos humanos, porque qualquer reconstrução do complexo menu de direitos humanos no direito internacional deve levar em conta suas implicações abrangentes para a governança jurídica, moral e política. (FACHIN, 2009).
E assim com um contexto histórico por volta dos séculos XVII e XVIIi que muitas ideias sobre a dignidade humana começaram a ganhar espaço através do filósofo Immanuel Kant que tinha a ideia de que cada ser humano é um fim em si mesmo e que o valor humanista deveria ser o fundamento indiscutível (BARROSO, 2013).
Nesse segmento que se deu o esforço para reconstrução dos direitos, como referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea e que se manifesta a grande crítica e repúdio à concepção de um ordenamento jurídico positivista indiferente a valores éticos, confinando à ótica meramente formal, tendo em vista que o nazismo e o fascismo ascenderam ao poder dentro do quadro da legalidade e promoveram a barbárie em nome da lei (BARROSO, 2013).
 Sendo assim a concepção dos direitos humanos, portanto, é fruto do movimento de internacionalização dos direitos humanos, o qual é extremamente recente na história, surgindo a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo, levando em consideração que o Estado foi o grande violador dos direitos humanitários (BARROSO, 2013).
Não há dúvida de que um conceito de dignidade da pessoa humana encontra sua expressão mais importante no direito internacional e nos instrumentos constitucionais pós-Segunda Guerra Mundial (a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os Pactos Gêmeas e outros). Como tal, a natureza e a função da dignidade humana na lei podem ser consideradas claras e bem documentadas. (BARROSO, 2013).
Assim, dispõe o art. 170 caput, inciso Vll. Ademais o artigo 266 da Constituição federal também dispõe sobre o princípio da dignidade da pessoa humana em seu §7 o seguinte:
 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
 § 1º O casamento é civil e gratuito a celebração.
 § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
 § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento)
 § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
 § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
 § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. (Revogado).
 § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)
 § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamento
 § 8º O Estadoassegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
No direito brasileiro, o princípio da dignidade humana é um dos pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito, conforme estabelecido no inciso III do artigo 1° da Constituição Federal de 1988. Esse princípio é de extrema importância e tem como objetivo primordial a garantia de uma vida digna para todos os cidadãos brasileiros (BARROSO, 2013).
A Constituição Federal é o documento jurídico supremo do Brasil, e seu preâmbulo afirma que uma de suas finalidades é a de promover o bem-estar de todos, sem qualquer forma de discriminação (BARROSO, 2013).
 O princípio da dignidade humana é a pedra angular desse compromisso, estabelecendo que todas as ações e políticas governamentais devem ser guiadas pela preocupação em garantir que cada indivíduo tenha uma vida digna, com respeito à sua integridade física, moral e psicológica (BARROSO, 2013).
Em termos práticos, o princípio da dignidade humana implica que o Estado e as suas instituições devem garantir o acesso a condições mínimas para uma vida digna, incluindo educação, saúde, segurança, alimentação, moradia e justiça (BARROSO, 2013).
 Além disso, este também princípio tem implicações na área do direito, influenciando decisões judiciais e moldando o tratamento de questões como a tortura, a pena de morte, a prisão e, em um contexto mais amplo, a garantia de direitos humanos (BARROSO, 2013).
Assim, a Constituição Brasileira confirma a dignidade humana como um princípio fundamental e inalienável, que deve ser respeitado e protegido em todas as esferas da sociedade. É uma base para a promoção dos direitos fundamentais e a construção de uma sociedade justa e igualitária (BARROSO, 2013).
Portanto, o Estado e a sociedade brasileira são chamados a trabalhar em conjunto para garantir que cada cidadão tenha a oportunidade de viver com dignidade, de acordo com os valores e compromissos estabelecidos na Constituição (BARROSO, 2013).
Apesar da ausência de delineamento conceitual, o princípio da dignidade da pessoa humana é utilizado como referência em outros dispositivos, e não apenas na indicação dos fundamentos do Estado de Direito do Brasil (BARROSO, 2013).
A ortotanásia é um termo que se refere à conduta médica para permitir que um paciente terminal, em estado irreversível, siga seu curso natural sem prolongar a vida de forma artificial (HERZLICH, 1993).
2 DA ORTANÁSIA E DA ORTOTANÁSIA
É fundamental distinguir a ortotanásia da eutanásia, onde a morte é provocada deliberadamente para aliviar o sofrimento do paciente. A ortotanásia é muitas vezes considerada um direito do paciente, pois respeita sua autonomia e dignidade, permitindo-lhe morrer de forma mais serena (HERZLICH, 1993).
A ortotanásia é um termo que descreve uma prática médica que envolve permitir que um paciente terminal, cujo estado de saúde é irreversível e sem perspectivas de cura, siga o curso natural de sua doença sem intervenções médicas extraordinárias para prolongar a vida. Esta abordagem visa preservar a dignidade do paciente e evitar tratamentos fúteis ou agressivos que possam causar sofrimento doloroso (HERZLICH, 1993).
Em essência, a ortotanásia busca o respeito à autonomia do paciente, permitindo que ele tome decisões informadas sobre o fim de sua vida. Isso geralmente envolve a interrupção de tratamentos médicos que não trará benefícios prejudiciais, mas apenas prolongará o sofrimento (HERZLICH, 1993).
A ortotanásia é distinta da eutanásia, onde a morte é provocada ativamente com o objetivo de aliviar o sofrimento do paciente. Na ortotanásia, a morte ocorre de forma natural devido à progressão da doença ou da condição terminal (HERZLICH, 1993).
É importante observar que a ortotanásia deve ser conduzida dentro de diretrizes éticas e legais estritas. O paciente deve ser capaz de tomar decisões informadas, e a equipe médica deve garantir que a interrupção dos tratamentos seja feita de maneira ética, respeitosa e de acordo com as leis e regulamentações locais (BARROSO; MARTEL, 2010).
A discussão sobre ortotanásia frequentemente gira em torno de questões éticas, legais e culturais. Em algumas regiões e países, a ortotanásia é legal e regulamentada, enquanto em outras é proibida. O debate sobre o direito à ortotanásia continua evoluindo à medida que a sociedade e a medicina avançam. Além disso, o acesso a cuidados paliativos de qualidade é fundamental para garantir que os pacientes terminais possam enfrentar o fim de suas vidas com dignidade e conforto (BARROSO; MARTEL, 2010).
O princípio da autonomia do paciente é central na discussão sobre a ortotanásia, pois coloca a decisão nas mãos do próprio indivíduo, desde que ele esteja em condições de consentir (BARROSO; MARTEL, 2010).
É importante também considerar a qualidade de vida do paciente, uma vez que prolongar a vida a qualquer custo nem sempre é sinônimo de dignidade. No entanto, a ortotanásia levanta questões sobre a capacidade de decisão do paciente, especialmente em casos de demência ou transtornos mentais graves (BARROSO; MARTEL, 2010).
Além disso, questões culturais e religiosas desempenham um papel importante na forma como a ortotanásia é percebida e aplicada em diferentes sociedades. Muitos países legislaram sobre a ortotanásia, estabelecendo diretrizes e regras para sua prática (CUNHA, 2010).
A Holanda e a Bélgica são exemplos de países onde a ortotanásia é legal, desde que cumpridas certas condições restritas. Nos Estados Unidos, a ortotanásia é regulamentada de acordo com as leis estaduais, com algumas permitindo a prática em determinadas situações (CUNHA, 2010).
Em contrapartida, há países onde a ortotanásia permanece ilegal, independentemente das situações. O debate sobre a ortotanásia continua evoluindo, à medida que a medicina avança e as sociedades recompensam suas atitudes em relação à morte (CUNHA, 2010).
Muitos defensores da ortotanásia argumentam que é uma forma de evitar o sofrimento prolongado e indigno em pacientes terminais. A necessidade de cuidados paliativos adequados também está intrinsecamente ligada à ortotanásia, pois permite que os pacientes enfrentem o fim de suas vidas com dignidade e conforto (CUNHA, 2010).
Críticos da ortotanásia expressam preocupações sobre o potencial abuso ou uso indevido dessa prática, especialmente quando não há um controle rigoroso.É essencial estabelecer seguranças rigorosas e protocolos claros para garantir que a ortotanásia seja realizada de maneira ética e respeitosa. Uma conversa sobre a ortotanásia deve ser fomentada em nível global, para que diferentes perspectivas culturais e éticas possam ser consideradas (AGAMBEN, 2010).
A educação pública sobre a ortotanásia e o planejamento antecipado de cuidados de saúde são igualmente importantes para permitir que as pessoas expressem suas vontades em relação ao final de suas vidas (AGAMBEN, 2010).
Na última análise, a ortotanásia é uma questão profundamente pessoal, ética e social, que requer uma abordagem ponderada e compassiva. Garantir o direito a uma morte digna é uma busca constante pela humanidade, que exige respeito pelos desejos e necessidades dos pacientes terminais, ao mesmo tempo em que se estabelecem padrões rigorosos para sua aplicação (AGAMBEN, 2010).
3 ORTOTANÁSIA SOB A ÓTICA DO ORDENAMENTO JURIDÍCO BRASILEIRO
Diante do ordenamento jurídico brasileiro, A ortotanásia, prática que envolve permitir que um paciente terminal siga o curso natural de sua doença sem intervenções médicas extraordinárias, é um tema que desperta debates e discussões no Brasil. Atualmente, a legislação brasileira não possui uma regulamentação específica que trata diretamente da ortotanásia, deixando a prática em um limbo jurídico. No entanto, diversos dispositivos legais e princípios éticos e morais influenciam a discussão sobre esse assunto no país (AGAMBEN, 2010).
O Brasil é signatário de tratados e convenções internacionais que confirmama importância da autonomia do paciente e do respeito à dignidade no contexto de cuidados de saúde. Isso inclui a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e a Declaração Universal de Direitos Humanos, que enfatizam a importância do direito à vida e à integridade física, bem como o respeito à autonomia e à dignidade da pessoa.
Além disso, a legislação brasileira aborda questões relacionadas ao consentimento informado, o que implica que os pacientes têm o direito de aceitar ou recusar tratamentos médicos, embora isso não esteja diretamente relacionado à ortotanásia. Os profissionais de saúde no Brasil também são orientados pelo Código de Ética Médica, que estabelece princípios que incluem o respeito à autonomia do paciente e a não realização de procedimentos inúteis (AGAMBEN, 2010).
O Supremo Tribunal Federal (STF) já se pronunciou sobre casos envolvendo ortotanásia no país, indicando que a prática pode ser aceitável em situações específicas, desde que haja um consenso médico e familiar, e que a interrupção de tratamentos seja fundamentada na melhoria da qualidade de vida do paciente (CORTINA, 2005).
No entanto, a ausência de uma regulamentação clara torna a ortotanásia um tema delicado no sistema de saúde brasileiro. É importante ressaltar que a legalidade e a ética da ortotanásia são frequentemente debatidas, e a falta de uma legislação específica gera incertezas tanto para médicos quanto para pacientes e familiares (CORTINA, 2005).
Diante desse cenário, a discussão sobre a ortotanásia no Brasil permanece em evolução, e é um tema que requer atenção constante por parte da sociedade, profissionais de saúde e legisladores, a fim de estabelecer diretrizes claras e respeitosas para a prática da ortotanásia no país (CORTINA, 2005).
4 CONSIDERAÇOES FINAIS 
Considera-se que este estudo mergulhou nas complexidades da ortotanásia, examinando-a sob a perspectiva dos direitos fundamentais, especialmente em relação à legislação e prática médica atual. A análise revelou uma interseção intrincada entre a decisão de não prolongar artificialmente a vida de pacientes terminais e os princípios fundamentais, como autonomia do paciente, dignidade humana e direito à vida.
Ao considerar a ortotanásia dentro desses parâmetros, ficou claro que a legislação e as práticas médicas variam amplamente em diferentes jurisdições, apresentando desafios significativos na garantia dos direitos fundamentais dos pacientes. A autonomia do paciente emerge como um princípio fundamental que deve ser protegido e respeitado, mas sua aplicação pode ser complexa, especialmente quando confrontada com interpretações legais divergentes e dilemas éticos.
Além disso, a análise ética revelou a importância da decisão informada e do papel dos profissionais de saúde na tomada de decisões no final da vida, destacando a necessidade de diretrizes claras e apoio adequado para enfrentar esses desafios.
Nesse contexto, os desafios éticos e legais que surgem em relação à ortotanásia são evidentes. A linha tênue entre respeitar a autonomia do paciente e garantir uma intervenção médica adequada levanta questões que exigem uma abordagem cuidadosa e multifacetada.
Embora este estudo tenha avançado nossa compreensão da interseção entre ortotanásia e direitos fundamentais, é evidente que há muito trabalho a ser feito. Políticas de saúde mais claras e consistentes, juntamente com uma legislação mais adaptável e sensível, são necessárias para garantir que os pacientes terminais recebam cuidados que respeitem sua dignidade, autonomia e qualidade de vida até o fim.
Portanto, a ortotanásia representa um dos desafios mais prementes no campo da ética médica e do direito penal contemporâneo. À medida que avançamos, é essencial que continuemos a explorar essas questões de maneira a garantir que nossas práticas e políticas reflitam verdadeiramente os valores fundamentais de nossa sociedade e promovam o bem-estar dos pacientes em seus momentos mais vulneráveis.
Em conclusão, a ortotanásia permanece como um tema de grande relevância e complexidade dentro do cenário legal brasileiro. A legislação atual ainda carece de clareza e uniformidade no que diz respeito à permissão e regulamentação da prática da ortotanásia. A ausência de uma legislação específica sobre o assunto deixa uma lacuna que pode gerar incertezas tanto para profissionais de saúde quanto para pacientes e seus familiares.
No entanto, é encorajador notar que a discussão sobre a ortotanásia tem ganhado espaço nos debates legislativos e sociais, refletindo uma crescente conscientização sobre a importância de garantir o respeito à autonomia do paciente e a dignidade no final da vida. Nesse sentido, é fundamental que as autoridades e legisladores brasileiros considerem a implementação de diretrizes claras e abrangentes que reconheçam o direito do paciente de tomar decisões informadas sobre seu próprio tratamento médico, inclusive no que diz respeito ao seu fim de vida.
Além disso, é crucial que sejam estabelecidos mecanismos para garantir a proteção dos profissionais de saúde que optam por respeitar a vontade do paciente em não prolongar artificialmente sua vida, evitando assim possíveis repercussões legais injustas sobre eles.
Enquanto o debate continua e aguardamos avanços na legislação brasileira, é imperativo que a ética médica e os princípios dos direitos fundamentais, como autonomia e dignidade, permaneçam como guias para as práticas médicas no país. Somente assim poderemos garantir que a ortotanásia seja abordada de maneira humanitária e legalmente sólida, respeitando os valores e direitos fundamentais da sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte, Editora UFMG.2010
BARROSO, L. R. & MARTEL, L. C. V. “A morte como ela é: dignidade e autonomia individual no final da vida”, in Tania da Silva Pereira, Rachel Aisengart Menezes e Heloiza Helena Barboza, Vida, morte e dignidade humana. Rio de Janeiro, GZ. 2010.
BARROSO, L. R A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2013. 
BRASIL. Código Civil (1916). Brasília, DF: Senado. 
BRASIL. Código Civil (2002). Brasília, DF: Senado.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Congresso Nacional, 1988.
______. Lei 8.009, de 29 de março de 1990. Brasília: Congresso Nacional, 1990.
 ______. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. (Código Civil). Brasília: Congresso Nacional, 2002.
CORTINA, A. & MARTINEZ, E. (2005), Ética. São Paulo, Loyola.
CUNHA, J. R. “O juiz, a ética e o direito”, in José Ricardo Cunha (org.), Poder Judiciário: novos olhares sobre gestão e jurisdição, Rio de Janeiro, FGV. 2010
FACHIN, Luiz Edson. Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo. Rio de Janeiro: Renovar, 2001
HERZLICH, C. Os encargos da morte. Rio de Janeiro, Uerj/IMS. 1993.
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